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15 DE DEZEMBRO DE 1953 95

grande escolho dos regimes políticos da natureza daquele em que estamos vivendo presentemente.
Morto Sidónio, o espirito público e a organização militar, criada um pouco automaticamente e sem quaisquer ideias reservadas, naturalmente e sem esforço, manifestaram-se no sentido que se lhes afigurava mais próprio para evitarem o regresso da demagogia. E foi precisa a inabilidade dos chefes políticos e militares dos revolucionários monárquicos de Monsanto e do Norte para que fracassasse uma tentativa armada baseada em meios tão vastos, como há muitas dezenas de anos não se tinham visto em Portugal. Aquele ano de cesarismo só por acaso deu origem ao regresso da demagogia!
Enfim, sintetizemos e concluamos:
No campo constitucional, Sidónio, primeiro que ninguém, lançou e realizou a ideia do Estado antiliberal e corporativo, ideia que foi adoptada posteriormente por outros países e reposta em vigor, anos depois, em Portugal.
No campo religioso, a sua política de entendimento com Roma foi inclusivamente respeitada pelos seus inimigos após a sua morto e ampliada anos depois pela situação criada pelo 28 de Maio.
No campo económico, financeiro e social, os escassos doze meses que governou não lhe permitiram projectar e realizar toda uma série de obras que constituem o orgulho daqueles que há vinte e sete anos vem assistindo a tantas e tão valiosas iniciativas; mas certas das medidas tomadas então nesse campo, como o alargamento do crédito à economia agrícola e às classes mais necessitadas, frutificaram largamente logo a seguir.
No campo propriamente administrativo são numerosas as medidas iniciadas que têm hoje um desenvolvimento que é a melhor prova da inteligência e sabedoria com quo foram concebidas e postas em prática.
Enfim, da comparação do que se pensou e executou naquele ano de 1917 e do que se vem fazendo neste quarto de século ressalta a conclusão de que nós, os velhos sidonistas, temos razão para estar contentes com a justeza dos pontos de vista que há trinta anos nortearam a nossa actuação política. E tudo quanto fica exposto, e visando os diversos aspectos da administração, foi executado num período catastrófico, em que o Pais suportava o fardo esmagador da guerra em França e em África, o das privações alimentares delas resultantes, o duma epidemia devastadora, como há muito não havia memória, e o das conspirações diárias, que obrigavam Sidónio -como ele dizia- a dormir com a espada sob o travesseiro.
Tantas calamidades ocorridas, e em tão poucos meses -a fome. a peste e a guerra, os velhos flagelos bíblicos-, longe de diminuírem o prestigio de Sidónio, antes o aumentavam, em virtude da natureza das suas resoluções. Por isso o Pais revia-se com orgulho no seu chefe, possuidor de atributos excepcionais e ao qual abrira um ilimitado crédito do confiança.
O talento político de um autêntico estadista, a bravura indómita do soldado e a bondade do homem, que, incógnito, visitava de noite os tugúrios dos pobres, tudo isso se reunia no Presidente, numa síntese maravilhosa.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-Ele possuía, como poucos, a difícil arte de saber agradar. Tão sedutor era no grande mundo como na rua, e ele tinha aquela verdadeira grandeza a que se refere La Bruyère: livre, doce, familiar, popular, que nada perde em ser vista de perto, pois quanto mais se conhece mais se admira.
Quando existe nos príncipes - diz o autor de Des Caractères -, ela faz com que eles nos pareçam grandes, sem nos fazerem sentir que somos pequenos.

É a tudo isso que temos de ir buscar a explicação do acontecimento emocionante que representou o enterro de Sidónio, acompanhado a Belém pelas maiores grandezas o pelas maiores misérias : por velhos diplomatas vestidos de fardas douradas e por crianças envoltas em farrapos.
A descrição do tal enterro, feita pela pena de um dos seus piores inimigos, mas dos mais inteligentes, merece ser transcrita, para que se não diga que exageramos :

À sua morte, uma loucura se apodera de quase toda a gente, em especial das mulheres, raro sendo o marido a quem elas não pretendam convencer da beleza do herói. Velhas o moças cobrem-se de crepes, e lá vão em procissão pelas ruas fora, visitar o catafalco, onde entre flores odoríferas repousa o cadáver do que em vida fora o seu sonho. Algumas, em presença do cadáver, são sacudidas por contorções epiléticas e outras ululam a sua dor. Breve se esgotam coroas, fitas, crepes, ramos e mais artigos que glorificam os mortos, e nós, os seus inimigos. ao ouvirmos troar o canhão de meia em meia hora. perguntamos u nós próprios, em presença da demência nacional: terá morrido um semideus?

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador fui muito cumprimentado.

O Sr. Presidente : - Vou dar a palavra ao Sr. Deputado Almeida Garrett. Pergunto a S. Ex.ª se o assunto de que vai ocupar-se é o mesmo de que tratou o Sr. Deputado Teófilo Duarte.

O Sr. Almeida Garrett: - Sim, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: - Então convido V. Ex.ª a falar da tribuna.

O Sr. Almeida Garrett: - Sr. Presidente: antes de mais, apresento a V. Ex.ª os meus respeitosos cumprimentos e faço-o, não somente por obrigação protocolar, mas para testemunhar a V. Ex.ª a admiração que tenho pelas altas qualidades que o exumam, constante e inalteràvelmente postas ao serviço do Estado Novo, que o mesmo é dizer ao serviço da Nação.

Vozes : - Muito bem !

O Orador: - Aos meus colegas da Assembleia dirijo cordiais saudações, afirmando-lhes que podem estar certos de que encontrarão em mim um camarada leal, respeitador de todas as opiniões e devotado, como todos, à defesa do bem comum, para honrar o mandato que a Nação nos conferiu.
Pedi a palavra para, também como velho sidonista, exprimir emocionada satisfação e entusiástico louvor pela comovedora cerimónia que esta manhã se realizou nos Jerónimos.
Ela fez-me acudir à memória um tumultuar de recordações da quadra histórica em que se moveu a figura de Sidónio Pais, do amigo desaparecido e do patriota sacrificado.
Poucos somos já os que n viveram intensamente. Nesta Câmara creio haver só cinco. Estão aqui Carlos Borges, Proença Duarte e Botelho Moniz, meus ilustres colegas no Parlamento de 1018, e Teótilo Duarte, fidelíssimo companheiro do glorioso Presidente, cujas inteligentes e sentidas palavras acabamos de ouvir.

Vozes : - Muito bem !