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286 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 11

por ordenamento agrário que, infelizmente, não depende apenas do Secretariado de Estado da Agricultura.

Vozes: - Muito bem !

O Orador: - Mas quando se está em face de tão profunda recomposição de estruturas e de hábitos de acção, lícito é esperar que não se deixe por arrumar u própria casa departamental.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E que preços de matérias-primas, de sementes e outros propágulos que a agricultura usa e dos produtos que fabrica, bem como outros factores dominantes da política agrária, possam, de futuro, ser governados por uma única cabeça. E felizmente que o Secretariado de que depende em parte o agrário metropolitano tem boa cabeça a encimá-lo e vontade forte para bem governar a política da terra, política que terá de ser persistente e inflexível de protecção e de assistência, única forma de o País poder competir, com êxito, nos grandes mercados que se rasgam para iniciativas industriais bem fundamentadas. Para tal, haverá que não esquecer, porém, o binário continente-ultramar, pois do equilíbrio resultará, certamente, o mais económico aproveitamento do solo e dos braços. Concorrências salutares são desejáveis como fonte de aperfeiçoamento, mas desgaste de capitais, por inconveniente sobreposição de actividades, é tão indesejável na produção agrícola como o é na industrial ou na dos transportes.

O Sr. Paulo de Mesquita: - Muito bem!

O Orador: - E julgo que todos estaremos de acordo quando afirmo que os braços minhotos ou beirões, trasmontanos ou estremenhos, serão muito mais úteis à Nação trabalhando nos planaltos de Angola, no Congo ou nos territórios de Manica e Sofala e em muitos outros do nosso ultramar, do que acumulando magras economias e sofrimentos, de muito suor e muito frio, no fabrico de prédios para estrangeiro viver. Basta, pois, de emigração descontrolada para a Europa e para as Américas.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Agora, antes de procurar o fecho desta minha intervenção, que V. Ex.ª, Sr. Presidente, me perdoará por haver sido demasiado longa, que eu algo diga, ainda muito pouco, apenas, das terras que aqui represento. Os últimos continuam a ser os primeiros. Essas terras estão, porém, mais próximas de todos nós e por isso os seus problemas mais facilmente nos chegam aos ouvidos.
E quanto a estruturas agrárias não há ainda, de facto, por estas paragens, maleitas mini ou latifundiárias a preocupar, pois a tradição forte das progressivas granjas dos monges de Alcobaça deixou traços bem marcados a governar a gente dos campos. Apenas tem faltado orientação de cima para encaminhar o cultivo de extensas parcelas desta admirável mescla de microclimas estremenhos para uma sábia política arborícola e hortícola. Fruta, uva de mesa que também fruta é, flores, sementes e outros propágulos valiosos, produtos hortícolas vitaminados, lacticínios e tantas outras matérias-primas de inúmeras indústrias rurais que poderiam vir a dar largo contributo para a melhoria das condições de existência destes povos e larga achega à balança comercial, têm sido até hoje apenas desejos expressos em estudos e pouco mais.
O camponês, porém, tradicionalista e agarrado à terra, tem continuado a lutar contra todas as tendências absorventes do capital e da capital. Por isso apenas peço, e faço-o com devoção e fé, que esses grandes espíritos que o grande Mosteiro albergou iluminem direcções-gerais e juntas burocráticas aninhadas no Terreiro do Paço, para esclarecerem e assistirem a essa boa gente, ensinando-lhes como se pode e se deve constituir aqui, nos arrabaldes de Lisboa, uma Califórnia bem portuguesa, capaz de alimentar, com excelentes frutos, preciosas hortaliças, belas flores e ricos lacticínios, esses gélidos países do Norte da Europa.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Vendamos pois o sol e também o azul do céu, em inteligente e progressiva indústria turística, e também esses mesmos dons naturais incorporados em perfumes e sabores de preciosos frutos da nossa terra.
E agora, para terminar, uma pequena história narrando factos, de facto passados, é assim de lenda não se trata, e que bem pode servir de primeiro passo simbólico para a frutuosa campanha de levar de novo aos nossos campos a boa tradição da ruralidade portuguesa. E não olvidemos que ela foi tão sólida e eficaz que alimento durante séculos o esforço sobre-humano que realizámos no Mundo, levando o Ocidente a paragens longínquas, totalmente desconhecidas. E foram esses faróis que acendemos, e que jamais se apagarão, a iluminar o bom caminho, que o rural das nossas terras rudes de Portugal soube alimentar com trabalho duro mas fecundo de séculos.
Vamos então à história que disse iria contar.
Ela foi-me narrada, em agradável colóquio, no seio de uma fértil colmeia que é verdadeiro laboratório de engenharia rural e que será, assim o antevejo, dentro de breves anos, digno emulo do seu parceiro da engenharia civil - trata-se da Junta de Colonização Interna, que eu proporia que se chamasse, por melhor definir os seus propósitos, Junta de Fomento Rural -, laboratório que já condensou em pouco mais de duas décadas inestimável trabalho de prospecção rural, nos seus complexos aspectos económicos e sociais, reflectindo bem, nas inúmeras facetas do trabalho realizado,
as virtudes de uma escola.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - E essa história, que se repetirá, decerto, nestes anos que se vão suceder de intensa campanha de fomento rural, em muitas outras histórias semelhantes, como o pão no milagre dos pães, permitirá que se quebre, de facto, o ciclo vicioso em que se debate há século e meio a agricultura nacional, não permitindo que o habitante dos nossos campos possa usufruir os bens do século.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E essa história, ia dizendo, rezava assim: um modesto mas arguto prior de uma linda aldeia encastoada no precioso viveiro minhoto andava muito preocupado com as desditas do seu povo. Pequenos proprietários ou rendeiros de minúsculas parcelas, elas