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4900 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 205

pre minha intenção retirar-me após os seta anos que hoje precisamente findaram. Completei já setenta anos de vida e poucos períodos de ócio conheci durante ela. Habituei-me ao trabalho árduo e na Chefia do Estado continuei seguindo a mesma linha de conduta, coerente com o meu passado. E se em tão alto cargo tive a suprema consolação de conquistar a geral simpatia popular, é igualmente certo não me ter eximido a qualquer esforço, por maior que fosse a sua violência.
Onde foi pedida a minha presença o ela se justificava não deixei de estar presente, e muitas foram as terras que em mim viram o primeiro chefe do Estado que as visitava. A saúde e o vigor físico permitiram sete anos de dedicação completa a causa pública e sem essa dedicação completa não é legítima a meu ver, a presença em cargo de tão grande responsabilidade.
Por isso hesitei muito e resisti largo tempo às pressões que de tanto lodo e tão simpàticamente se exerceram. E só as razões derivadas das circunstâncias especiais de guerra em que o País vive me convenceram. Por isso nenhuma gratidão me é devida Apenas cumprirei mais uma vez e com toda a devoção o meu dever para com a Pátria. Em servi-la, não há sacrifícios que contem mas só servindo-a exemplarmente se justificará continuar.
Não se afiguram fáceis os sete anos que hoje começam Durante eles poderão surgir problemas da maior gravidade, a exigirem decisões prontas e firmes, mas que terão de ser consentâneas com os reais interesses da grei portuguesa. E se ao Chefe do Estado cabe sempre estar atento, compete-lhe sobretudo estar preparado para as emergências que possam surgir, pois é na sua consciência que pesará a responsabilidade das decisões a tomar.
Quero crer só haja, por enquanto, que continuar enfrentar as dificuldades internas e externas que de diversos modos, afligem também todos os outros povos português tais dificuldades quase se os problemas internos criados à Nação são sobretudo os que, tendo origem internacional, se desenvolvem no ultramar português. Mas a sucessão de acontecimentos internacionais, os constantes insucessos da política ocidental e a crescente expansão dos comunismos russo e chinês em África têm ajudado a esclarecer na opinião pública internacional, ainda que com lentidão, as posições tomadas pelos Portugueses. E, no entanto, os sacrifícios que estas comportam não se traduzem em vantagens; exclusivas da Nação Portuguesa Antes e ao mesmo tempo se destinam a salvaguardar interesses essenciais do Ocidente. Não é de mais afirmar que estamos trabalhando e lutando sobretudo em benefício alheio.
E na luta que se está travando em Angola, na Guiné e em Moçambique, junto das fronteiras de Estados recém-nascidos, de onde parte o terrorismo que nos tem assolado, deve-se às Forças Armadas o maior reconhecimento pelo seu abnegado e total esforço na defesa intransigente do torrão pátrio, contra inimigos insidiosos, instruídos principalmente pelos que odeiam o Ocidente e a sua civilização.
A luta teia de continuar ate à nossa vitória final, que uma compreensão mais realista do Ocidente pode apressar. Mal tal determinação da nossa parte não obsta a que manifestemos sempre o nosso espírito e o nosso desejo de colaboração com todos os países, especialmente os que, sendo vizinhos em África mais necessitam do nosso entendimento, de auxílio e apoio e não de lutas.
E não podemos duvidar de que o Mundo, em muitas partes envolvido em guerras anseia por ter paz, embora pareça não saber já procurar os caminhos que a ela podem conduzir. A ambição é, no plano externo, a principal causa da guerra, sobretudo quando alimentada por certas ideologias que, sendo universalistas, em si mesmas contem germes de agressão. E no plano interno sucede naturalmente o mesmo. A espécie de angústia espiritual do nosso tempo não se curará através da permanente e sôfrega procura de gozos e bens materiais, nem se curará com mutações políticas a cada momento procuradas, ainda que as instituições tendam a evolucionar à medida que as circunstâncias da vida económica e social apresentem alterações profundas. O optimismo criador que impulsiona a vida económica dos nossos dias tem de ser aproveitado para o bem comum, na criação e distribuição da riqueza.
Fala-se hoje muito de um mundo novo, de uma sociedade nova e de um homem novo em gestação nos nossos dias mas a evolução do ser humano é de si extraordinariamente lenta, e daí os muitos, mais ou menos duros entre o homem e o meio em que é obrigado a viver. Sejamos por isso modestos, não ambicionando alterar em décadas a constituição do Mundo, mas trabalhemos antes por melhorá-lo em cada momento no que de nós dependa e o progresso da técnica, em certas épocas como a nossa mais aceleradamente permita. Esta tem sido, aliás, a orientação que temos seguido, pois não podemos esquecer não sermos ricos e que há quarenta anos nos encontrávamos em confrangedor atraso. O que se tem conseguido justifica que comemoremos, no próximo ano, as primeiras quatro décadas do regime em que vivemos. Temos usufruído, ao longo delas, uma quase contínua paz interna, que pôs termo a muitas outras de lutas políticos constantes e improdutivas. E tem sido possível, apesar de graves e demorados acontecimentos internacionais terem repercutido intensa e desfavoravelmente na vida nacional um progresso económico e social muito além do que há anos atrás era possível ambicionar. Largas tarefas no entanto, terão ainda de ser executadas, mediante completos e bem estruturados planos de fomento, para elevar os níveis de vida, de habitação, de educação e de saúde do nosso povo Para tanto, porém, há que continuar usufruindo a mesma paz interna que o regime nascido em 28 de Maio de 1926 assegurou. E não pode afirmar-se, com seriedade, que tal regime só existe mantido pela força e contra a vontade do povo. Dificilmente, em qualquer época, houve força capaz de impor e manter em paz, um mesmo regime durante quarenta anos. Hoje isso tornou-se impossível e a verdade é pois outra se o nosso