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15 DE DEZEMBRO DE 1969 127

lores morais, que não têm, nem podem ter, a expressão algébrica ou numérica.
Se gastamos com essa luta, não é por vontade própria.
Se o dinheiro que havia para comprar o tractor se emprega na aquisição de aparelhos de guerra, não é por prazer e gosto. Mas qual o valor do tractor se não podemos em paz sulcar a terra?
Não buscamos a luta, repito, nem a impusemos, nem a impomos, a ninguém.
Mas não podemos permitir é que os bandoleiros destrocem as vidas dos nossos irmãos, procurando um clima de instabilidade, a satisfação de inconfessáveis apetites que ali nem são próprios!
Pois apesar da real exactidão de essa luta se determinar, motivar e alvejar por sagrados direitos imateriais, a verdade é que venho reparando que se tem falado muito dela nesta Assembleia em termos de estatística económica.
Economia da guerra, se disse, para logo se interpretar a expressão como de apologia a que a guerra seria, em certa medida e até, um factor de desenvolvimento económico.
Creio, porém, mal compreendido o pensamento. Pois estou em crer que a alusão não era uma apologia da guerra como factor de desenvolvimento económico, mas uma resposta aos que sustentam que as despesas de guerra resultam em pura perda para a economia do País. Quando o que se pretendeu significar é que nem todas as despesas de guerra se perdem, pois muitas delas reentram no circuito económico, e se procurou assim explicar que o que se perdia era de diminuto valor e importância em relação ao que se defendia.
E também logo se vem por outra banda a sustentar a negatividade da economia da guerra, porque tudo resultaria em pura perda, pois só em paz é que se progride. Ora a isto há que obtemperar, para já, que é a paz exactamente que se procura para se poder trabalhar e progredir. E que sem paz não pode haver progresso, e que não desejamos a luta, nem esta é desejável ou indesejável, mas uma fatalidade. E perante essa fatalidade que nos caiu em casa só se antolham três soluções: o abandono, com a marca ignominiosa da traição, a negociação (como há quem preconize), com os grupos que nos atacam, ou aceitar a luta e tentar resolvê-la, do mesmo passo que se defende a retaguarda fomentando e desenvolvendo.
Vejamo-las:
O abandono.
A ignomínia do abandono. O abandono seria a traição dos nossos irmãos de todas as etnias, pois ao falar em irmãos longe está de mim a ideia das pigmentações. Seria a traição ao nosso passado, o espezinhar do generoso sangue português que exuberantemente aduba as terras do ultramar. O abandono seria a vergonha, a ignomínia.
Quem no-lo perdoaria?
E, porque assim, então dir-se-á: pois negoceie-se, encontrando-se uma solução política.
Mas negoceie-se com quem se os grupos que nos impõem a luta, repito o que já disse, despidos de qualquer nacionalismo, são antes só instrumento de desnacionalismo e de subversão? Negociar com quem? Com os próprios, ou com aqueles que os estimulam, que lhes pagam e que os incentivam? E com qual dos grupos, se tantas eles são e tão coloridos se nos apresentam?
Mas há ainda aqui um factor determinante que importa considerar.
Ao sugerirem-se negociações, com qualquer desses grupos, esquece-se que isso poderia ser determinante a uma guerra bem maus feroz e bem mais fratricida. Seria uma guerra com os homens de Angola, de todas as etnias, que não se dispõem a ser objecto de contrato, que não autorizam que o seu portuguesismo se negoceie, que não assentem que se disponha da sua permanência na terra. Serram então os homens de Angola e de todo o ultramar que empunhariam armas e se manteriam pela força do canhão, regando o solo com mais o seu sangue, com o sangue dos seus filhos e dos filhos dos seus filhos.
Srs. Deputados, não estamos no ultramar de passagem e apenas para explorar as suas riquezas. Fomos e estamos paira ficar, com vontade ou sem vontade seja de quem for, pois aí só a nossa vontade conta. E assim só resta a alternante da última solução: procurar restabelecer a paz, lutando sem olhar a esforços ou sacrifícios, do mesmo passo que se cura. da defesa da retaguarda, ocupando, desenvolvendo e fomentando.
Pode discutir-se se os processos utilizados na luta são ou não os melhores, são ou não os mais eficazes, mas não pode é discutir-se a legitimidade dos ideais por que se luta.
Mas uma coisa é discutir os meios, outra, os fundamentos.
Há coisas a modificar? Sem dúvida, e tantas são, pois em matéria humana não há soluções definitivas.
Há erros, defeitos e vícios a corrigir? Gasta-se mal ou do mais? Pois estudem-se os processos de eliminar os vícios. E depressa.
Mas o que se não pode equacionar, porque se. não tem o direito de equacionar, é a determinante da luta.
Mas, se isto assim é, e não vi alguém que, ainda que remotamente, o tivesse posto em dúvida, eu não vejo que utilidade possa ter a discussão da economia da guerra.
A luta que contra nós desencadearam e a que respondemos de pronto motiva-se para nós em valores imateriais, sem qualquer cálculo ou expressão contabilística. Mas trazer à colação a economia da guerra, quer quando se defende, quer quando se ataca, é desvirtuar a questão, dando-lhe o amargo sabor de demagogia, sem qualquer utilidade prática para a Nação e arrastando consigo todos os inconvenientes daí derivados. E é muito mais e mais perigoso que isso: é dar armas aos nossos detractores, ora dizendo que procuramos a guerra como uma solução económica, ora que arruinamos o País, desviando-lhes as suas receitas, que se deveriam gastar antes no desenvolvimento do território, que assim, e por isso, ficam inteiramente perdidas para a economia, com prejuízo irrecuperável do povo.
Meus senhores: Eu quero crer que haja nesta Casa quem esteja mal elucidado. Não há muito ainda, um ilustre colega lamentava-se de não conhecer o ultramar.
Pelo menos, a luta que nos impõem já possibilitou esse conhecimento a milhares de portugueses.
Pois eu acho que exactamente um dos defeitos a corrigir é evitar que pessoas responsáveis não conheçam o que é o ultramar, que ali se não desloquem, acompanhando ao vivo a realidade dos seus problemas, habilitando-se então à propriedade de uma discussão proveitosa. É grave pecha que o ultramar não seja conhecido de todos os portugueses. E, pelo menos, ia guerra, repito, já o proporcionou a alguns milhares de homens, que hoje sentem e vêem o problema, como o confessam, à luz de prismas diferentes.
Pois para discutir o ultramar é mister que se conheça o ultramar. Assim, e no uso da faculdade que se me concede na alínea e) do artigo 22.º do Regimento da Assembleia Nacional, daqui recomendo ao Governo que propicie esse conhecimento subsidiando a respectiva viagem aos Srs. Deputados que o não conheçam, que o