O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

15 DE JANEIRO DE 1986 735

O José, que tem 13 anos e já atravessou o mar azul e subiu ao cimo das montanhas verdes, acrescentou: a paz é uma flor que cresce nos olhos das crianças.
Eles têm razão, Sr. Presidente e Srs. Deputados. Eles sabem que a paz é o bem mais precioso e o direito mais importante do homem.

O Sr. João Amaral (PCP): - Muito bem!

O Orador: - Mas isso não aconteceu quando a primeira bomba atómica deflagrou sobre Hiroshima, libertando o monstruoso cogumelo radioactivo, que incinerou centenas de milhares de vidas, corrompeu para sempre milhares de corpos e feriu profundamente a consciência de toda a condição humana. Desde aí, um espectro terrível tem pairado sobre a nossa existência - a ameação de um holocausto nuclear.
Em todo o mundo, atravessamos um momento da história em que é altamente preocupante a crescente corrida aos armamentos e à proliferação de armas nucleares. Os depósitos de explosivos em bombas de hidrogénio existentes bastariam para exterminar, várias vezes, tudo o que é vivo na Terra.
Daí que nos preocupemos que os extraordinários conhecimentos tecnológicos, património de toda a humanidade, capazes de solucionar os mais graves problemas que atingem o homem - potenciais técnicos e criadores suficientes para restabelecer e proteger a natureza - sejam desviados e usados por uns poucos contra todos. E que a corrida aos armamentos consome meios e forças intelectuais, tão necessários à solução dos problemas ecológicos que hoje tanto nos preocupam.
A defesa da paz é hoje uma questão que se nos coloca com toda a premência, pois a "guerra deixou de ser um momento da história, para passar a ser a ameaça do fim da história", e se a "guerra sempre foi a falência da inteligência, a guerra nuclear em vista será o fim da inteligência".
Mas se a hecatombe nuclear se configura como a irracionalidade suprema, a paz deve afirmar-se como a razão dos povos.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: É preciso acreditar nas crianças!
Isto porque no século nuclear não existe tarefa mais imperiosa que a defesa da vida na Terra e a edificação de uma sociedade liberta da violência. Uma sociedade onde a violência exercida por seres humanos sobre os seus semelhantes e sobre a natureza seja abolida. É que a continuidade da vida no nosso planeta só poderá estar assegurada, se todas as mulheres e homens se envolverem na constituição de uma comunidade mundial, orientada para a preservação deste imenso ecossistema que é a Terra.
Se o desafio nuclear ameaça a humanidade no seu conjunto, a ideia de paz deve tomar a humanidade e transformar-se numa ideia universalista.
Os Verdes estão profundamente empenhados na causa da paz e do desarmamento aos níveis nacional, continental e mundial. Opomo-nos, como sabeis, activamente à corrida armamentista e apoiamos tudo o que se faça no sentido do desarmamento geral, eliminando da superfície do planeta os artefactos de morte: nucleares, biológicos, químicos e mesmo os chamados armamentos convencionais.
A paz e a sua manutenção interessam a todos os homens!
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Sejamos partidários da vida e de "aquilo que há de mais comum entre um planeta que gira na sua órbita e um homem que pensa", assumamo-nos com determinação e empenho na divulgação da ideia de que a ameaça nuclear é mais iminente do que se julga e de que essa ameaça nos reduziu a todos à mais absurda igualdade.
Se para alguns a paz não passa de "um belo sonho", uma ideia vã e irreal, temos neste Ano Internacional da Paz, através de acções concertadas e unificadoras, de difundir a certeza de que a paz não designa uma ideia ou uma condição entre muitas outras, mas define-se como objectivo da vontade humana.
E porque estas questões não têm fronteiras, tanto nos deve preocupar a passagem e estacionamento frequente de armas nucleares no rio Tejo ou nos Açores, como a instalação de mísseis na Europa, a nuclearização da Península Ibérica ou os acordos para a instalação de uma estação de rastreio em Almodôvar.
Durante os últimos anos, a acção dos movimentos a favor da paz e do desarmamento propiciou uma maior consciencialização para os perigos da guerra. Governos e partidos políticos foram influenciados por esta acção. No entanto, ainda não foram tomadas as decisões políticas concretas que ponham fim à corrida armamentista e consigam o desarmamento.
A Assembleia Geral das Nações Unidas declarou 1986 Ano Internacional da Paz, cujos objectivos estão expressos no programa aprovado por consenso.
Nós, Os Verdes, pensamos que o Parlamento Português tem o dever de defender a paz, tomando as posições que melhor sirvam os interesses do povo, não permitindo que o nosso território se transforme num alvo militar de importância estratégica.
Nós, deputados, temos o dever de agir a favor da vida.
Por isso devemos, neste Ano Internacional da Paz, manifestar a nossa total identificação com a resolução das Nações Unidas, sejam quais forem as nossas posições religiosas e filosóficas, as nossas preferências ou as nossas angústias, pois a defesa da paz é uma realidade que constitui para os indivíduos, para as sociedades e para as civilizações um desafio fundamental.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Os Verdes trouxeram aos homens e mulheres da Assembleia da República Portuguesa a paz vista pelas crianças. Saibamos nós, como adultos, respeitar e honrar estas verdades. Vamos buscar à arca da nossa infância os nossos floridos sonhos de futuro e com as nossas mãos do presente façamos a paz - essa grande capacidade de vivenciar o relacionamento que respeite a diferença e promova o equilíbrio harmonioso entre os indivíduos, as comunidades e todas as espécies vivas que connosco partilham o planeta.
Quero que tudo o que amo fique vivo. E a paz eu amei sobre todas as coisas. Que fique sempre a paz florescendo florida, Para que saibam a razão do nosso canto.
Aplausos do PSD, do PS, do PRD, do PCP, do CDS e do MDP/CDE.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, nos termos regimentais, a Sr.ª Deputada Maria Santos fez chegar à Mesa um voto de saudação que, segundo informação de que disponho, tem o consenso por parte de todos os grupos parlamentares para ser votado na sessão de hoje.

Páginas Relacionadas
Página 0737:
15 DE JANEIRO DE 1986 737 Sr. Presidente, Srs. Deputados: A situação existente caracteriza-
Pág.Página 737
Página 0738:
738 I SÉRIE - NÚMERO 22 seu decidem a não criação de quadros privativos, reclamando a discu
Pág.Página 738