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16 DE JUNHO DE 1994 2563

felicite em especial os cabeças de lista, desta vez institucionalizados enquanto tais, o que constituiu uma das originalidades destas eleições. De entre eles, o meu camarada e particular amigo António Vitorino, um jovem que ainda não atingiu a "ternura dos quarenta" e que, já portador de um curriculum invejável e de uma maturidade que só usa atingir-se mais tarde, se converteu, num ápice, de "líder de segunda escolha" em "líder de primeira água".

Aplausos do PS.

Noutras oportunidades, e a outros títulos, ouviremos falar dele.
Quero também realçar a correcção por que, como regra, se pautou a campanha eleitoral. As excepções, felizmente, raras que, apesar disso, se lamentam, não foram exclusivo de nenhum partido e só em casos contados não se contiveram na vivacidade inerente ao debate político. Uma campanha eleitoral não é propriamente uma procissão do Senhor dos Passos!
Mas que a indisfarçável alegria do PSD não passe em julgado! Ela representa, com efeito, o melhor elogio que, na noite da contagem dos votos, poderia ter sido feito ao meu partido. Esse elogio traz implícito, da parte de quem o fez, o reconhecimento de que o PS, no entender do PSD, valia mais do que o resultado concreto obtido. 0 grau de surpresa exprime a dimensão da mais-valia e o eleitorado pôde corrigir assim, no caso, para menos, o elevado apreço eleitoral em que o PSD tem o PS.
Significativo é também que, em duas eleições sucessivas, uma delas, de nível nacional, o PSD que, nas últimas eleições legislativas, averbou o resultado quase hegemonizador de 51 %, baixou para a linha de água de uns inexpressivos 30 "e poucos" %. Em dois momentos sucessivos, o eleitorado cortou na confiança depositada no PSD uma suculenta fatia de 17 %, cerca de 1,8 milhões de eleitores, como foi dito.
Não sendo assim fácil de compreender o também repetido contentamento do PSD, só posso concluir que entrou em crise de desambição. Passou - como disse o Deputado Manuel Alegre -, lá sabe porquê, a contentar-se com pouco ou talvez com um pouco menos!
Contra o anúncio em sentido contrário, o líder do PSD empenhou-se o mais que pôde na campanha eleitoral das primárias locais e europeias, jogando nelas todo o seu peso e o do seu Governo, por vezes, sem clara distinção sobre a qualidade em que intervinham. Empenhou o seu nome, a sua qualidade de Primeiro-Ministro, a sua experiência europeia, as suas políticas e até as suas promessas de última hora; só não empenhou as barbas porque as não tem! De igual modo, o estatuto da oposição, que exige tratamento igual para o partido do Governo e os partidos nele não representados, nomeadamente nos órgãos de comunicação social do sector público, foi mais uma vez sacrificado a critérios de conveniência hegemónica. Mas chegou a ser agradável ver o jovem Ministro dos Negócios Estrangeiros, de seu hábito tão discreto em atitudes e decibéis, anunciar em voz encorpada que o eleitorado ia mostrar ao PS um cartão vermelho! Tomou-se manifesto que havia por momentos regressado ao tempo em que via tudo dessa cor!...

Risos do PS.

Ou ouvir o venerável cabeça de lista do PSD, que, tal como eu, já só tem passado, chamar "Velho do Restelo" ao jovem António Vitorino, este, sim, portador de futuro! Ou ouvir o Primeiro-Ministro (ou líder do PSD, vá-se lá saber) chamar-nos miserabilistas por denunciarmos a miséria que se recusa a reconhecer e que, por isso, não cuidou de prevenir nem de combater; ou profetas da desgraça, já depois de ocorrida a desgraça profetizada; ou pessimistas, como se, dado o seu Governo como facto, as suas políticas como dado, e os respectivos resultados como purgatório, fosse possível ser optimista sem ser de todo burro. Tudo isso em relação de contemporaneidade com a redução do preço da gasolina em 10 tostões (é viajar, vilanagem!) ou com o aumento do abono de família em l20$(com um litro de leite a mais por mês, os condenados a morrer de fome já não morrem à segunda-feira; só no sábado seguinte).
Voltou o Primeiro-Ministro a fazer o número, de que tanto gosta, e de que aparentemente tanto fia, consistente em perguntar o que seria do nosso País se viesse a ser governado pelo PS! A insinuação implícita era a de que, com tal Governo, os eleitores encomendavam uma verdadeira desgraça! Uma hecatombe! Um apocalipse! E, para não deixar à imaginação de cada um a figuração desse inferno de Dante, o Primeiro-Ministro não se eximiu a exemplificar: baixariam as pensões sociais, se é que não acabariam de todo! É de vidente!
Como se isso não bastasse, para ilustrar o apocalipse, vá de inculpar o PS e o seu líder António Guterres por uma próxima e eventual desvalorização do escudo! Tal como as outras, essa manobra parou perto. Mas não faltaram maledicentes a lembrar que, se Guterres fosse por isso responsável, estaria, nessa qualidade, na boa companhia do ex-Ministro das Finanças e do próprio Primeiro-Ministro!...
E não é que o eleitorado, ao invés de se tomar de susto, votou no apocalipse, no inferno, nos miserabilistas, nos pessimistas e nos profetas da desgraça? Vá lá o Primeiro-Ministro entender este eleitorado! Ele a julgá-lo assustadiço e o eleitorado a julgá-lo a ele fora dos hábitos, dos valores e da normalidade democrática, que, como se sabe, não pactua com Governos insubstituíveis nem com chefes providenciais. Que, se pactuasse, teríamos então de queixar-nos da Providência, que nos teria enviado um "salvador" que, em vez de nos salvar, nos afunda.
Esperava eu que tivesse acabado de vez a cantata de que o PS e o seu líder António Guterres não são alternativa ao PSD e a Cavaco Silva! A sua retoma, tão fora de contexto, colocaria - assim pensava - sob suspeita irreprimível o democratismo de quem a retomasse. Mas eis que ontem à noite, ao assistir ao telejornal, ouvi o Secretário-Geral do PSD afirmar, alto e bom som, que o PS, com o resultado que teve, perdeu a última oportunidade de se afirmar como alternativa! Mau perder, Nossa Senhora! Pois o PS perdeu como? Ganhando?!...
Confesso, Srs. Deputados, que por pouco não duvidei da minha própria sanidade mental. Mas, passada a hesitação, concluí que o PSD vê a realidade de pernas para o ar - a Caverna de Platão é na Rua de S. Caetano à Lapa.

Aplausos do PS.

Quind inde para que o PS seja alternativa? Uma terceira vitória, agora nas legislativas? Lembro aos que perfilhassem semelhante disparate que, neste caso, quem passará a ser alternativa, será o próprio PSD. 0 actual Primeiro-Ministro talvez nem isso!...
Eis-nos, pois, confirmados, em toda a tipicidade do modelo, num sistema quadripartido, com dois partidos de vocação maioritária - o PSD e o PS - ambos na primeira linha da grelha de partida para as eleições legislativas, e dois "meios partidos", na conhecida qualificação de Duverger,

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