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12 DE MARÇO DE 1999 2155

Vou muito rapidamente analisar alguns aspectos da sua intervenção. Primeiro, não sou eu que digo que há atrasos, quem o diz é um senhor que se chama Martins Alves, Presidente do Conselho Directivo do Centro Regional de Segurança Social do Norte, que disse, conforme constava no Público de terça-feira: «Foi preciso fazer a passagem de toda a informação que constava na aplicação anterior, mas penso que o novo sistema está concluído e que, agora, é só recuperar os atrasos». Mesmo assim, Martins Alves adianta que não é possível saber o momento em que o processamento estará definitivamente normalizado.

O Sr. José Junqueiro (PS): - Pode ser amanhã!

O Orador: - Não sou eu quem o diz, é ele!
Segundo aspecto, Sr. Deputado, se eu já estava preocupado com o atraso de que as pessoas estão a ser vítimas, agora, fiquei muito mais, pois esperava que V. Ex.ª estivesse também preocupado com tal facto, mas, afinal, está é preocupado em justificar a burocracia, a incapacidade e a inacção do Governo socialista para responder a esta questão.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Mas deixe-me que lhe diga, Sr. Deputado, que há algo mais grave: é que, no debate do Ornamento, o Sr. Ministro Ferro Rodrigues foi questionado sobre eventuais problemas que poderiam resultar do chamado «bug do ano 2000». Sabe qual foi a resposta dele? Recorda-se da resposta, Sr. Deputado? A resposta do Sr. Ministro foi: «Não há problema algum! Está tudo previsto e devidamente tratado»! Vá dizer isso, agora, às pessoas do Porto que, há três meses, não recebem as suas prestações.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, vamos passar à discussão e votação, para o que há consenso, do voto n.º 148/VII - De pesar pelo falecimento de Luís Villas-Boas (PS, PSD, CDS-PP, PCP e Os Verdes), importante e ilustre cidadão,que teve um grande papel na difusão da música jazz, e não apenas, que será lido pelo Sr. Secretário.

O Sr. Secretário (Artur Penedos): - Sr. Presidente e Srs. Deputados, o voto é do seguinte teor:
Morreu ontem, com 74 anos, Luís Villas-Boas, o fundador do jazz em Portugal. A ele se deve, como pioneiro, e ao longo de décadas, a introdução e a divulgação, fundamentalmente, da música negra no nosso país.
Fúncionário de uma companhia de aviação, a KLM, cedo começou a voar para Nova Iorque, onde, à noite, se aventurava sozinho no Harlem para ouvir jazz ou para assistir anualmente ao Festival de Newport, onde conheceu e se tornou amigo das maiores figuras do jazz das últimas décadas.
Tudo isso trouxe e implantou em Portugal, a par de milhares de discos, hoje autênticas raridades.
Fundou, em Lisboa, na Praça da Alegria, o Hot Club de Portugal, actualmente o mais antigo clube de jazz da Europa. Ao longo de décadas realizou milhares de programas de rádio e, depois de 1957, foi também ele que levou o jazz e os músicos portugueses à RTP.
A partir de 1971, organizou o Festival de Jazz de Cascais - o Cascais Jazz -, por onde passaram músicos como Duke Ellington, Miles Davis, Ornette Coleman, Dexter

Gordon, Keith Jarrett, Phil Woods, Charlie Hayden ou cantoras como Ella Fitzgerald ou Sarah Vaughan.
Luís Villas-Boas dedicou também à música popular portuguesa, sobretudo a partir dos anos 60, uma grande parte da sua paixão e experiência, tendo tido uma influência determinante na evolução de cantores e compositores.
Como democrata e homem de esquerda que sempre foi, já não poderá comemorar e festejar os 25 anos do 25 de Abril, que o « sew> jazz também ajudou a construir.
Na sua campa do cemitério do Alto de S. João, onde hoje foi a enterrar, ficaria bem o epitáfio «Aqui jazz Luís Villas-Boas.»

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Isabel Castro.

A Sr.ª Isabel Castro (Os Verdes): - Sr. Presidente, Sr.ªs e Srs. Deputados: Penso que a morte de Villas-Boas significa a perda, para o nosso país, daquele que é, indiscutivelmente, o pai do jazz em Portugal. Tal facto tem a ver com a sua história pessoal e o seu percurso, o qual se confunde, ele próprio, com o jazz e com a energia imensa que ele dedicou, no nosso país, à sua divulgação.
É bom lembrar que o jazz, no início, era, de algum modo, uma música marginal, uma música maldita, tendo sido Villas-Boas quem teve a capacidade de trazer, para o nosso país, os sons novos que vinham do outro lado do Atlântico: os sons de uma música que era rebelde, os sons de uma música que era de liberdade, os sons de uma música que era de uma imensa criatividade.
Julgo que é essa enorme capacidade de Villas-Boas de criar o Hot Club de Portugal, que tem um papel pioneiro na formação de músicos de jazz do nosso país, a sua capacidade de organizar, em condições que não foram fáceis, o primeiro festival internacional de jazz, em Cascais, o modo intenso e entusiasta com que ele, das mais diversas formas (na sua escrita, nos seus programas de rádio e de televisão), comunicou e fez partilhar o amor pela música de jazz, a forma sempre entusiasmante como apoiou os novos músicos, as suas carreiras e como os acarinhou e, no fundo, aquilo que foi a sua capacidade de transmitir a outras pessoas, durante gerações, o imenso prazer que é a descoberta da música jazz e a partilha desse gosto e dessa imensa descoberta, que é permanente e constante, que demostra o significado da perda desse homem de cultura.
É isso o que a sua morte significa, para Os Verdes. Mas é uma morte que, de algum modo, deixa uma semente: uma escola de jazz e muitos, muitos amantes, que através dele, descobriram, também, esta forma de música.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado José Niza.

O Sr. José Niza (PS): - Sr. Presidente, Sr.ªs e Srs. Deputados: Como disse a Sr.ª Deputada Isabel Castro, Villas-Boas foi o pai do jazz em Portugal. Mas eu diria mais: foi também a alma do jazz em Portugal, porque implantou o jazz numa altura em que, como foi dito também, era música considerada maldita.
Recordaria um episódio que se passou nos anos 60 ou no final dos anos 50, em Coimbra, quando um grupo de estudantes, no qual me incluía, fundou o clube de jazz do Orfeon Académico e pretendeu fazer um concerto de jazz no anfiteatro da Faculdade de Letras. Quando fui falar com o director, um professor catedrático de quem não me recordo o nome, porque a minha memória rejeitou-o, ele

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