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I SÉRIE-NÚMERO 58 2156

disse-me: «Não quero aqui, na Faculdade, música de pretos!». Nessa altura, já Luís Villas-Boas fazia programas de rádio e tinha criado o Hot Club.
O jazz é uma música que, hoje, finalmente, singrou por todo o mundo e que se implantou muito cedo em Portugal devido ao Luís Villas-Boas.
Ele começou por criar o Hot Club que é, hoje, o clube de jazz mais antigo da Europa. Por aquele pequeno espaço passaram as grandes figuras da música mundial e eu próprio passei lá muitas noites, ouvindo música e, também, tocando.
Ele fez milhares de programas de rádio, durante décadas, sobretudo com base nos discos que trazia do estrangeiro, pois, como era funcionário de uma companhia de aviação, tinha facilidades nas viagens e sempre regressava a Portugal abastecido de discos.
Aliás, Luís Villas-Boas tem um património incalculável, que ele próprio não conhecia, porque os discos que acumulava em sua casa, numa sala enorme, eram amurados ao contrário do que é habitual,, isto é, eram empilhados, portanto, o disco que estava por baixo, por exemplo, o 157.º, não era acessível. Trata-se, pois, de um património que está perfeitamente inexplorado.
Ignoro qual irá ser o destino desse património que, talvez mesmo a nível mundial, contém raridades espantosas e desconhecidas.
A partir de 1971, Luís Villas-Boas organizou o maior festival de jazz da Europa, o Festival de Jazz de Cascais, a que trouxe todas as grandes personalidades do jazz, passando por Duke Ellington, Ella Fitzgerald, Miles Davis, Keith Jarrett, etc. Só cá não veio o Bill Evans, mas veio, também, o Louis Armstrong. O Festival de Jazz de Cascais realizou-se durante muitos anos e trouxe muitos estrangeiros a Portugal porque, nessa altura, Cascais, mais do que Paris ou Londres, era o centro do jazz na Europa.
Luís Villas-Boas participou e produziu imensos-programas para a RTP na área do jazz.
Mas há um outro papel que ele assumiu e que é pouco recordado. Na verdade, ele teve uma influência decisiva na evolução da música popular portuguesa a partir dos anos 60, designadamente, orientando e acompanhando cantores, como, por exemplo, Fernando Tordo, Carlos Mendes, Duarte Mendes, Paulo de Carvalho, Carlos do Carmo e, também, compositores da minha geração. Ele teve um papel decisivo na produção de discos, na divulgação deste tipo de música, numa altura em que a música popular portuguesa, que contou também com José Afonso e com Adriano Correia de Oliveira, teve um enorme boo»:. Foi, portanto, uma personalidade de grande relevo do ponto de vista musical.
Como cidadão, Luís Villas-Boas foi, como é dito no voto de pesar que apreciamos, um homem de esquerda, um democrata que muito festejou o 25 de Abril mas que, infelizmente, não terá a possibilidade de festejar, este ano, o 25.º aniversário da revolução.
Luís Villas-Boas era um homem que tinha muitos amigos, que morreu pobre mas que foi muito rico e que muito enriqueceu o nosso país em matéria cultural.
(O Orador reviu.)

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Vieira de Castro.

O Sr. Vieira de Castro (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Tive o privilégio de conhecer pessoalmente Luís

Villas-Boas. Tenho dele as melhores recordações no plano pessoal, mas são, seguramente, o que, agora, menos importa.
O que verdadeiramente releva é lembrarmos que Luís Villas-Boas tem, indiscutivelmente, um lugar na cultura portuguesa. Ele foi um verdadeiro promotor da difusão da música jazz através da rádio, da televisão, da criação do Hot Club e da organização das sucessivas edições do Festival de Jazz de Cascais.
Ele possibilitou a milhares de portugueses ouvirem aqueles que serão, até hoje, dos melhores intérpretes da história da música jazz. Por essa via, ele criou em milhares de portugueses o gosto pela música jazz que, antes dele, era pouco ouvida e pouco amada.
Neste momento em que lembramos a sua memória, pouco me importa se Luís Villas-Boas era de esquerda ou de direita. O que me importa é que Luís Villas-Boas era um homem de cultura.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Luís Queiró.

O Sr. Luís Queiró (CDS-PP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Para uma pessoa que não travou conhecimento pessoal com Luís Villas-Boas e que, ainda por cima, é «duro de ouvido» podia pensar-se não ser fácil manifestar solidariedade por alguém que desaparece. Mas, curiosamente, apesar destas duas circunstâncias, sinto pesar e quero manifestar a minha solidariedade, sobretudo á família enlutada.
Porquê? Por que é que entrou no imaginário de todos nós uma música que já aqui foi classificada como «rebelde» e «marginal», música de liberdade que veio dos Estados Unidos, como disse a Sr.ª Deputada Isabel Castro? Por que é que entrou no nosso imaginário aquele programa 5 Minutos de Jazz?
Na verdade, o jazz, género musical que parece não pertencer ao nosso quotidiano, não é uma música que pertença a toda a gente, mas toda a gente a conhece. E toda a gente a conhece por causa do Luís Villas-Boas.
Recordo perfeitamente a sua cara nos seus programas de televisão, a simplicidade, a familiaridade com que nos entrava pela casa dentro, explicando-nos um género de música de que afinal até acabei por gostar.
É esta dedicação a uma causa estética que penso que deve ser realçada hoje, aqui. Por isso mesmo, nós, Grupo Parlamentar do CDS-PP, associamo-nos ao voto de pesar e manifestamos à família a expressão da nossa solidariedade e do nosso pesar. '

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Octávio Teixeira.

O Sr. Octávio Teixeira (PCP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Também nós nos associamos a este voto de pesar pelo falecimento de Luís Villas-Boas. Depois do que já foi referido, pouco mais haverá a acrescentar.
Para além de Villas-Boas ter sido a pessoa que «abriu as portas de Portugal» ao jazz, de ter sido o grande divulgador do jazz em Portugal, julgo que, pelo menos para as pessoas da minha geração, há algo que nunca poderá ser esquecido: é que foi Villas-Boas que nos mostrou o jazz, a mim a aos da minha geração, que nos disse o que é o jazz e que nos levou a gostar do jazz.

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