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3414 I SÉRIE-NÚMERO 95

O Sr. Rui Namorado (PS): - Isso é a vossa especialidade!

O Orador: - Não se perderam no caminho, Srs. Deputados! A estrada é que pura e simplesmente não existe, apesar de oficialmente anunciada para datas que já passaram há muito, às vezes duas e três vezes. Pior do que não existirem é, em regra geral, não terem sequer ainda começado!

Aplausos do PSD.

Mas não é só nas estradas que o panorama é desolador, o que se passa no caminho de ferro é igualmente espantoso. Aí a paragem é total, e até com mais responsabilidades para o Governo. É que, como faço questão de recordar a todos, este Governo anunciou, há quatro anos, uma nova opção para contrapor à mania de betão do Governo anterior: a célebre opção ferroviária, a preferência pelos comboios.
Segundo dizia, apostar nos comboios é que era necessário, estradas já havia bastantes. Bem sei que a partir dessa proclamação não lançou nem mais um metro de electrificação de via e não lançou a construção de nem mais um metro de via férrea, mas parece que nem pestanejou e que não se preocupa nem por um segundo com a contradição.
Este Governo parece convencer-se de que os portugueses engolem tudo!

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Por mim, acho que a verdadeira opção ferroviária deste Governo foi pura e simplesmente ter andado quatro anos a «ver passar os comboios»!

Aplausos do PSD.

Não vão conseguir, Srs. Deputados, vir do Porto a Lisboa de comboio em menos de duas horas! Isto porque a obra de remodelação da linha se atrasou, parou, e agora já nem se sabe quando acaba. Parece que está tudo a olhar, à espera que ela se acabe sozinha.
Mas se durante o percurso do Porto para Lisboa forem ultrapassados por qualquer coisa vertiginosa, que tenham até dificuldade em identificar, não há razão para sobressaltos. Eu digo o que é: trata-se do TGV do ano 2015 em viagem experimental.

Risos do PSD.

Sr. Presidente e Srs. Deputados, estamos em época de balanço final. O Governo está a escassos três meses do final do mandato. Já lhe é impossível, porque o tempo lhe fugiu, continuar agora a fazer promessas que toda a gente já sabe que são ocas.
Agora, é a altura de sermos, nós a pedir responsabilidades ao Governo e de confrontar, com objectividade, o que foi prometido com o que, na realidade, foi executado.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Agora, já não é tempo de promessas, é tempo de prestar contas.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Este «Governo Mandrake» esgotou definitivamente a técnica da ilusão a que desgraçadamente recorreu durante quatro anos.

O Sr. Luís Marques Guedes (PSD): - Muito bem!

O Orador: - O que foi prometido foi público e notório. Rara foi a deslocação feita pelo Sr. Primeiro-Ministro ou por qualquer membro do Governo que não fosse abrilhantada de uma retumbante promessa de obra pública. Era esse o título antecipado e desejado do jornal do dia seguinte.
Nisso, enquanto durou, este Governo foi exímio. Prometeu sempre, prometeu a torto e a direito, que ia fazer isto e que ia fazer aquilo, mas como as promessas, se usadas abusivamente, acabam por causar habituação, as doses começaram a ter de ser cada vez maiores para poderem ainda produzir algum efeito.
Ao princípio, eram simples e modestos troços de construção de estrada que se prometia. Quando se verificou que essas promessas já não excitavam ninguém, o Governo foi aumentando a parada. Em breve, arrebatado já por uma incontrolada fúria prometedora, anunciava coisas extraordinárias, como, por exemplo, aquela famosa, dita e repetida nesta Assembleia, de que os itinerários principais estariam todos concluídos em 2000.

O Sr. Luís Marques Guedes (PSD): - Uma vergonha!

O Orador: - Ou o anúncio de que tinha milhares de quilómetros de auto-estrada em construção, pulverizando tudo o que anteriormente se tinha feito cá dentro e julgo que também lá fora.
Neste vórtice alucinante, a espiral das promessas abriu--se irresponsavelmente e sem contenção. Foi fácil chegar ao novo aeroporto de Lisboa e ao famosíssimo TGV.

Risos do PSD.

O caso do aeroporto de Lisboa é notável. Ao fim de quatro anos de ser anunciado, o Governo ainda nem sequer, foi capaz de decidir a coisa mais elementar de todas, que é dizer onde fica! Quatro anos! Alguém se espanta que, desta maneira, tantas obras tenham ficado por fazer?

O Sr. Luis Marques Mendes (PSD): - Muito bem!

O Orador: - Por outro lado, à medida que o público foi verificando que nenhuma das promessas se cumpria - nenhuma - e que as obras nunca passavam de mera propaganda para os jornais, a solução encontrada pelo Governo foi, outra vez, mais do mesmo, ou seja, recorrer a mais promessas.
Tudo o que manifestamente e escandalosamente se não fazia, era disfarçado pelo engodo de anunciar realizações 10 vezes mais importantes, sempre, claro, para o futuro. O Governo passou, assim, a usar as promessas como expediente para encandear a opinião pública, para ver se as pessoas se esqueciam de pedir contas por tudo aquilo que antes não tinha sido capaz de fazer.
Entrou, assim, o Governo, em descontrolada fuga para a frente: quanto mais prometia e não cumpria mais tinha, afinal, de prometer.
Tudo isto, como é evidente, não poderia vir a ter um epílogo feliz.