O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

1847 | I Série - Número 46 | 08 de Fevereiro de 2001

 

tica, a natureza dos seus ideais, a firme determinação em tudo fazer para que a luz da liberdade viesse a vencer as trevas da ditadura.
Com o advento do regime democrático, empenhou-se a fundo, e em especial, na defesa dos direitos dos trabalhadores. Responsável pelo sector do trabalho, na direcção do PS, promoveu a constituição de inúmeras comissões de trabalhadores nas empresas e distinguiu-se, na Constituinte, pelos contributos dados aos artigos da Constituição que consagram os direitos dos trabalhadores.
Regressado à vida profissional, depois de assumir responsabilidades governativas e parlamentares nas instituições da nossa 2.ª República, continuou ligado ao mundo sindical e do trabalho como advogado especializado no direito laboral, fiel, até ao último dia da sua vida, aos ideais da liberdade, da igualdade e da fraternidade.
A Assembleia da República exprime a sua profunda mágoa pelo falecimento de Francisco Marcelo Curto, inclinando-se perante a sua memória e prestando-lhe sentidamente uma derradeira homenagem».
O voto está em apreciação.
Para uma primeira intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado António Reis.

O Sr. António Reis (PS): - Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Como escreve hoje Mário Soares no Diário de Notícias, num belo e sentido artigo de homenagem à memória de Francisco Marcelo Curto, na morte de um amigo a memória reacende-se.
Também a minha memória se reacendeu com a morte de Francisco Marcelo Curto, com quem partilhei tantos momentos, tantas lutas, tantos combates, antes como depois do 25 de Abril, na sua candidatura, pelas listas da oposição democrática, às «eleições farsa» de 1969 e 1973, na fundação do Partido Socialista - como esquecer as reuniões que tivemos em Paris com os exilados do Partido Socialista Mário Soares, Jorge Campinos, Ramos da Costa, Tito de Morais, debatendo o que viria a ser o primeiro programa do Partido Socialista?
Curiosamente, poucos saberão que Francisco Marcelo Curto, nessa altura, publicava também na Seara Nova alguns artigos sobre a obra de Franz Kafka. Com efeito, a ditadura tinha, em Portugal também, em muitos aspectos, contornos kafkianos, e ele servia-se igualmente de Kafka para denunciar a nossa ditadura.
Depois do 25 de Abril, como esquecer o empenhamento de Francisco Marcelo Curto na Assembleia Constituinte? Como esquecer o empenhamento de Francisco Marcelo Curto na luta por aquilo que se afigurou logo, a muitos de nós, como a utopia auto-espionária, mas em que ele acreditou firmemente com convicção? Como esquecer o empenho de Francisco Marcelo Curto, como dirigente do Partido Socialista, na luta pela liberdade, sem dúvida, mas também na luta pela defesa dos trabalhadores?
Como advogado, dedicou às causas laborais o melhor do seu esforço profissional, aliando ao seu profissionalismo o culto de interesses espirituais e culturais, até ao final da sua vida.
Homem livre, homem bom e generoso, homem coerente com os seus ideais ao longo de toda uma vida, homem com quem se podia divergir, mas de quem não se podia ser inimigo, é ele, Francisco Marcelo Curto, que hoje aqui comovidamente invocamos, convidando todas as bancadas desta Casa a associarem-se a este último acto de homenagem à sua memória.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Sr. Presidente (Manuel Alegre): - Tem a palavra o Sr. Deputado António Capucho.

O Sr. António Capucho (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados, a bancada do PSD quer associar-se a este voto de pesar, reconhecendo todo o trabalho político desenvolvido por Francisco Marcelo Curto no pós-25 de Abril, mas não apenas.
Depois do 25 de Abril é do domínio público a prestação que ele teve não apenas como Deputado constituinte, também como governante, mas, essencialmente, como homem ligado ao mundo sindical, na defesa dos direitos dos trabalhadores. Deixa aí uma marca indelével na construção do regime democrático que hoje vivemos.
Tive o privilégio e a honra de o conhecer mesmo antes do 25 de Abril, e, imaginem, de com ele conviver quando, em conjunto com outros opositores ao regime, designadamente com Júlio Castro Caldas, fizemos o serviço militar durante três longos anos no mesmo estabelecimento militar. Nessa ocasião, durante a prestação do serviço militar, pude testemunhar a forma como, abnegadamente, com uma enorme coragem política, pôde, de dentro do regime, construir a oposição ao regime, que já se desfazia.
É por todas estas razões que junto a minha voz à da minha bancada para me associar a este voto, manifestando a nossa sentida homenagem a Francisco Marcelo Curto e endereçando à sua família e também ao Partido Socialista, partido a que sempre pertenceu, os nossos sentidos de pêsames.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Sr. Presidente (Manuel Alegre): - Tem a palavra o Sr. Deputado Lino de Carvalho.

O Sr. Lino de Carvalho (PCP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados, também o PCP quer associar-se a este voto de pesar pelo falecimento de Francisco Marcelo Curto.
A morte de Marcelo Curto marca-nos a todos, particularmente aqueles que, por uma razão ou por outra, com ele conviveram, que é, se me permitem este testemunho, também o meu caso. Merece, sem dúvida, um momento de recolhimento e de profundo pesar da Câmara.
Marcelo Curto foi um «companheiro de estrada» na luta contra a ditadura, comigo e com outros Deputados que estão nesta Sala, como é o caso de António Reis. Convivemos e lutámos juntos num movimento de oposição, que construímos, em particular a partir de 1969 até ao 25 de Abril, nas eleições de 1969 e de 1973, no terceiro congresso da oposição democrática e em todas as movimentações sociais e sindicais a que Marcelo Curto deu o seu melhor, estando, por isso mesmo, na fundação da Intersindical nacional.
Nesse sentido, Sr. Presidente, e sem prejuízo dos diversos percursos políticos e ideológicos que entretanto tivemos - nalguns casos opostos -, não posso deixar de recordar todo este seu percurso político, esta sua dedicação à causa da democracia e da liberdade e também o seu

Páginas Relacionadas
Página 1861:
1861 | I Série - Número 46 | 08 de Fevereiro de 2001   nuição da capacidade d
Pág.Página 1861