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1848 | I Série - Número 46 | 08 de Fevereiro de 2001

 

empenhamento na fundação daquilo que seria o grande movimento sindical unitário em Portugal.
Por isso nos associamos ao voto de pesar, expressando ao Partido Socialista e à família de Marcelo Curto o nosso mais profundo sentimento de pesar e de solidariedade.

O Sr. Presidente (Manuel Alegre): - Tem a palavra o Sr. Deputado Narana Coissoró.

O Sr. Narana Coissoró (CDS-PP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados, foi com mágoa que tomei conhecimento, no último fim-de-semana, da notícia da morte de um bom amigo, Marcelo Curto.
Conheci Marcelo Curto nos princípios dos anos 60, quando ele era advogado do Sindicato dos Electricistas, tendo-nos encontrado frequentemente no Tribunal de Trabalho, a propósito de questões laborais relacionadas com as trabalhadoras do ramo de centrais telefónicas e semi-condutores, que, em Portugal, eram as mais mal pagas de todo o País, principalmente as empregadas das chamadas multinacionais estrangeiras que para aqui mantinha deslocalizadas algumas das suas fábricas para tirarem o maior proveito possível não só da docilidade como da arte da mão-de-obra feminina portuguesa, que então trabalhava nos trabalhos quase de bordado de fios nos chamados semicondutores sem grande formação e também prestava trabalho na construção das centrais telefónicas.
Devo dizer que, independentemente da sua ideologia, que todos conheciam ser socialista, o empenhamento de Marcelo Curto, como advogado, como político e como humanista, ao tratar dos assuntos dos trabalhadores com as entidades patronais era sempre para melhorar a vida dos trabalhadores, mesmo dentro do quadro de então, e foi notável o seu próprio labor.
Lembro-me de que, quando eu era director de serviços de pessoal na Standard Eléctrica, foi por acção e empenho dele que, pela primeira vez, e após a aprovação, pela administração desta empresa, foi introduzido o pequeno-almoço gratuito a todos os trabalhadores que entravam às 8 horas na fábrica. O trabalho começava às 8 horas e 20 minutos, porque os 20 minutos eram destinados à primeira refeição, pois as empregadas e os empregados chegavam dos arredores de Lisboa, de onde saíam às 6.30 horas, trazidos em camionetas, quase sempre em jejum.
Esta pequena nota de humanidade de servir o que directamente interessava fazer e sem grandes estardalhaços, com a clara noção de que isso se faz por dever da humanidade e por exigência das convicções profundas, foi o que sempre marcou Marcelo Curto.
Ao contrário do que agora se diz, de que ele era um grande idealista e um grande utópico, Marcelo Curto soube sempre lutar, ser realista e sabia obter aquilo que queria.
Conheci-o depois como Ministro do Trabalho, convivi com ele aqui nesta Casa como Deputado, depois como um político já desgarrado da política activa - não sei porquê -, vi nele sempre um amigo. Depois, como enfermo, visitei-o algumas vezes, pela solidariedade de muitos anos que a ele me ligava e pela admiração que por ele tinha e, por isso mesmo, sinto a sua morte como também a de um grande colaborador nas causas de direito laboral, políticas e humanistas.
Um grande humanista laico acaba de nos deixar. O minuto de silêncio que V. Ex.ª pedirá à Câmara será, naturalmente, da nossa parte, o tempo de oração.

Vozes do CDS-PP: - Muito bem!

O Sr. Presidente (Manuel Alegre): - Tem a palavra a Sr.ª Deputada Helena Neves.

A Sr.ª Helena Neves (BE): - Sr. Presidente, a morte de Francisco Marcelo Curto constitui uma perda lamentável, não só para o Partido Socialista, para cuja emergência a sua acção foi fundamental, mas também para todos os democratas. Quer os democratas que o acompanharam na luta unitária antifascista, como foi o meu caso a partir de 1970, quer aqueles que, em diferentes configurações partidárias, se empenham no processo de democratização no pós-25 de Abril.
O Bloco de Esquerda apresenta, pois, o seu sentido de pesar à mulher, aos filhos e à restante família, assim como à direcção do PS e a todos os seus militantes.

O Sr. Presidente (Manuel Alegre): - Tem a palavra o Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares.

O Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares (José Magalhães): - Sr. Presidente, Srs. Deputados, o Governo associa-se com pesar a este voto e à homenagem que a Assembleia da República presta hoje a Francisco Marcelo Curto.
Destacou-se não só como eminente juslaborista, que sem dúvida foi, mas como um eminente lutador por uma outra concepção do trabalho, uma concepção de trabalho inserido em sociedades libertas de exploração. Bateu-se por esse ideal ao longo de toda a sua vida. Sabemos que levantou a sua voz bem alto nas mais diversas tribunas das instituições da República democrática que ajudou a criar e a fundar, como membro do governo, como destacado parlamentar, como cidadão ilustre que sempre foi.
O seu precioso arquivo, que quis doar à Fundação Mário Soares, revelará até que ponto foi persistente, constante e rico este empenhamento cívico de Marcelo Curto e como nunca desistiu, em qualquer circunstância, de batalhar por ideais que ajudou a delimitar entre nós.
Muitos dos que aqui se sentam foram, em diversas circunstâncias, testemunhas da sua invulgar coragem, que manifestou do princípio até ao fim.
A mágoa que hoje aqui é expressa, também pelo Governo, é uma mágoa genuína e partilhada. Privados que fomos da sua presença, não fomos nem seremos privados da sua memória, e estamos constituídos no dever de a honrar condignamente.

O Sr. Presidente (Manuel Alegre): - Srs. Deputados, como Presidente em exercício, é com muita emoção que me associo a este voto de pesar pelo falecimento do meu grande amigo pessoal que foi Francisco Marcelo Curto, companheiro de muitos e decisivos combates antes do 25 de Abril, no movimento estudantil, na oposição democrática à ditadura e, depois, na construção do Partido Socialista e da democracia.
Recordo especialmente um momento que seria decisivo, quer para o Partido Socialista quer para o futuro da demo

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