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5660 | I Série - Número 136 | 26 de Junho de 2003

 

Mas embora grande parte dos meninos portugueses e europeus vejam mais do que 3 horas de televisão por dia, como disse, o tempo que gastam a ver emissões infantis, esse, não se altera há bastantes anos, o que significa que as crianças passam um tempo importante a ver programas que não são preparados para crianças.
Já aqui hoje foi dito por outros Deputados, e os estudos têm demonstrado (volto a referir Benedita Monteiro), que os jovens que vêm mais televisão são os que têm mais probabilidades de vir a adoptar práticas violentas para solucionar conflitos e a aceitar como bons atitudes e comportamentos agressivos. Isto não significa, obviamente, que a televisão por si só torne as pessoas violentas ou produza crianças emocionalmente desajustadas, mas há um grande consenso de que uma "dieta" pesada e contínua de imagens violentas, em particular se for associada a outros factores de risco, não faz nada de positivo pelo desenvolvimento das crianças.
No entanto, e em sentido contrário, a televisão pode ser um extraordinário orientador de atitudes pró-sociais. Numerosas pesquisas demonstram que o controlo dos espectadores sobre as imagens pode ser grande e que é possível aprender a ver televisão de forma activa e crítica.
Com efeito, é a maneira como as pessoas usam as suas capacidades para pensar, para sentir e para julgar que determina ou não o efeito negativo dos media, daí que seja necessário melhorar as nossas competências para aprender a ver televisão, e é aqui que cabe lembrar o papel dos pais, da escola e do Estado.
Sabemos, por exemplo, que quase todos os pais protegem as crianças de situações emocionalmente muito fortes, como, por exemplo, a morte de um parente, no entanto, há um grande número de pais que permite que essas mesmas crianças vejam todo o tipo de programas através da televisão.
A televisão, aliás, é hoje um outro membro da família. Num inquérito recente a meninos dos 12 países da União Europeia, citado pelo referido relatório inglês, perguntava-se às crianças de entre os 16 media que tinham ao dispor, incluindo o computador, a Internet, etc., de qual sentiriam mais falta. A resposta unânime foi a televisão. Muitas crianças confessam, aliás, que não conseguiriam viver sem televisão.
No Reino Unido, conclui esse mesmo estudo, é nas casas com crianças que se instalam mais depressa as novas tecnologias: 59% das casas com crianças têm televisão por cabo, contra 49% das que não têm crianças; 49% das casas com crianças têm Internet, contra 39% das que não têm crianças. Vale a pena, sequer, lembrar que esta realidade muda totalmente a forma como as crianças ocupam os tempos livres e vêm televisão?
Nesse mesmo inquérito apurou-se que 57% das crianças têm televisão no quarto, sendo essa percentagem de 79% para os meninos que têm entre 10 a 15 anos.
Serão esses números muito diferentes dos de Portugal? Talvez um pouco, mas sabemos que dois terços dos portugueses têm mais do que um televisor em casa e ainda recentemente, numa reportagem feita em diversas escolas de todo o País por uma televisão privada, numerosos testemunhos iam no mesmo sentido.
É frequente os pais darem aos filhos, como prenda de anos ou recompensa por terem passado nos exames, uma televisão para o quarto.
Muitas mães ou pais admitem pôr no vídeo um filme de que o filho gosta para a criança adormecer, o mesmo se passando ao sábado e ao domingo de manhã, quando os pais, que trabalham toda a semana, deixam as crianças entregues à televisão enquanto tratam das numerosas tarefas da casa. É a televisão usada como a menos dispendiosa das baby-sitters.
Mais uma vez o problema não é propriamente da televisão mas, sim, da ocupação dos tempos livres dos meninos, que quase exclusivamente a ver televisão, numa posição passiva, não treinam outras capacidades. Ora, quando a televisão se torna no monopólio do cérebro, os meninos exercitam menos a sua capacidade simbólica de fantasiar, de criar, de sonhar, atributos que dão, todos eles, consistência ao seu equilíbrio emocional.
Infelizmente, são poucos os pais que vêem televisão com os filhos e muito pouco também, como já aqui foi dito, o tempo que dedicam a comunicar com os filhos. Aliás, convirá lembrar que Portugal é um dos países da Europa onde os pais menos conversam com os filhos, estando os países nórdicos entre os primeiros.
As famílias, devido ao crescimento demográfico, são cada vez mais pequenas e o urbanismo das grandes cidades conduz a um isolamento cada vez maior. Aumenta também o número de famílias monoparentais, o que em si mesmo não teria necessariamente efeitos negativos, mas é um factor que diminui as possibilidades de comunicação.
Entregues à televisão, aos jogos de computador, à Internet e à troca de mensagens por telemóvel, as crianças treinam-se em níveis de comunicação falsos, com um baixo nível de relacionamento afectivo. Na vida real, é através da relação com o outro que aprendemos a relacionar-nos com os nossos desejos, mas também com as nossas ansiedades e frustrações.
Uma referência ainda à importância da televisão no desenvolvimento da sexualidade.
Como já aqui foi dito, enquanto nos padrões clássicos a sexualidade era exposta de forma gradativa, no contexto afectivo, hoje, ela é exposta cada vez mais de forma fragmentada, sem qualquer elaboração psíquica, o que resulta particularmente perturbante para crianças e adolescentes em formação, com uma vivência ainda confusa do seu próprio corpo.
A questão da sexualidade tornou-se muito importante desde que a comunicação social denunciou a existência da alegada rede de pedofilia ligada à Casa Pia. Com demasiada frequência, as televisões parecem ter confundido informação com exposição. Quando se entrevista um menino com a cara tapada, embora pareça esconder-se a identificação principal, ficam de fora elementos como as mãos, os braços, a postura e inúmeros outros sinais que permitem o reconhecimento desse menino justamente por aqueles que melhor o conhecem, expondo-o assim a toda a espécie de comentários, se não mesmo de ameaças.

O Sr. Luís Marques Guedes (PSD): - Muito bem!

A Oradora: - Creio, pois, que é chegado o tempo de todos assumirmos de forma adulta as nossas responsabilidades

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