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1273 | I Série - Número 031 | 17 de Junho de 2005

 

Vivemos tempos conturbados que não cessam de nos assombrar os dias. Razão para também recordar outros eixos que sempre percorreram a poesia do autor de As Mãos e os Frutos, seja a pulsão cívica ou o amor à liberdade que tão fundo se encontram nas suas Homenagens e Outros Epitáfios dedicados a figuras como Che Guevara, José Dias Coelho, Pasolini e Chico Mendes; ou então noutras homenagens com que quis sublinhar "o gesto vital de Catarina" ou a dimensão ética do General-Soldado que também nos deixou no passado fim-de-semana.
"Ao Miguel, no seu 4.º aniversário, e contra o nuclear, naturalmente", assim começa o poema dirigido a Miguel, seu afilhado, em que Eugénio de Andrade enuncia uma atitude antibelicista que, depois, amplia e reforça na rejeição da "sociedade mercantil" que se descobre no texto com que abre a antologia Coração Habitado e que ganha, nos dias de hoje, acrescida actualidade.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, permitam-me que termine citando José António Gomes, crítico literário do Jornal de Notícias desta terça-feira: "Quiseram os deuses (sempre cruéis mas tantas vezes certeiros nas suas disposições) que Eugénio de Andrade, um dos poetas mais lidos por aqueles que o fascismo perseguiu e encarcerou, nos deixasse no preciso dia em que partiu também essa figura ímpar do combate à ditadura salazarista-marcelista e da luta pelos direitos dos mais pobres que foi Álvaro Cunhal".
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Neste momento em que, do poeta, deveremos guardar para os dias futuros o fulgor da escrita que nos legou, o Grupo Parlamentar do Partido Comunista Português associa-se às manifestações de pesar pela perda que a sua morte representa para a cultura e para a literatura portuguesas e apresenta sentidas condolências à família.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra a Sr.ª Deputada Teresa Caeiro.

A Sr.ª Teresa Caeiro (CDS-PP): - Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Eugénio de Andrade deixou-nos. Com a perda de um génio, a Humanidade só não fica mais pobre porque lhe deixou a sua extraordinária obra em herança.
Neste momento de tristeza para Portugal e para a cultura, o CDS faz questão de se curvar, em sentida homenagem, perante a memória bem presente de um dos mais extraordinários poetas portugueses de todos os tempos.

O Sr. Paulo Portas (CDS-PP): - Muito bem!

A Oradora: - Disse, em tempos, o próprio: "Sou filho de camponeses, (…) desde pequeno, de abundante só conheci o sol e a água. Nesse tempo, (…) aprendi que poucas coisas há absolutamente necessárias. São essas pequenas coisas que os meus versos amam e exaltam". E foi exactamente no seio desta abundância que surgiu uma personalidade grandiosa da literatura contemporânea mundial.
Todos os portugueses devem hoje inclinar-se respeitosamente perante o raro talento e a excepcional qualidade de uma obra e de um percurso de permanente entrega à literatura e à poesia de Portugal. Grandioso, também, pelas suas características pessoais de modéstia, de humildade, de sobriedade absoluta, sempre alheio às inúmeras homenagens e actos de reconhecimento público.
Como o próprio Eugénio de Andrade dizia, escrever poesia "exige muito trabalho e disciplina, ao contrário do que muitas pessoas pensam". E foi este trabalho e esta disciplina a que o poeta sempre se obrigou, como que relegando para um segundo plano o seu extraordinário génio.
Considerado como um dos autores de culto, no actual contexto europeu, Eugénio de Andrade ficará para sempre na História da Literatura Portuguesa. Depois de mais de meio século de edições, e de mais de 20 títulos lançados, o mais lido e mais traduzido dos poetas portugueses sempre dizia ter cumprido o que lhe era exigido.
Quão reconfortante é saber que, em Portugal, no meio de uma mera abundância de "sol e água", surgem personalidades como a de Eugénio de Andrade. Quão reconfortante é saber que o seu talento e mérito próprio foram reconhecidos em vida. Que privilégio termos sido contemporâneos de um tamanho talento. Que privilégio podermos usufruir do seu legado literário na versão original.
Cuidemos, enquanto sociedade, para que todos os talentos possam desenvolver-se como o de Eugénio de Andrade, sobretudo aqueles que nascem na mera abundância de "sol e água".
Damos graças, por isso, à "fatalidade" - nas próprias palavras do autor - que o levou a escrever sem parar desde os 19 anos, quando publicou o seu primeiro livro de poemas, livro que deu origem a uma das mais brilhantes e profícuas obras poéticas que Portugal conheceu nas últimas décadas.
Eugénio de Andrade deixou-nos com serenidade, elevação e em paz com a vida. Que descanse em paz.
O CDS-PP associa-se à sua família em profundas condolências e respeito.

O Sr. Paulo Portas (CDS-PP): - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Tem a palavra a Sr.ª Deputada Teresa Portugal.

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