56 | I Série - Número: 085 | 17 de Maio de 2008
Todavia, não é nesse domínio e patamar que se deve colocar um Acordo Ortográfico relativo à língua que 
desejamos cada vez mais falada, muito para além das nossas fronteiras, mas que é e continuará a ser, para 
todo o sempre, a língua de Portugal! 
Foi, pois, com reserva e pelos motivos institucionais enunciados, que votei favoravelmente a proposta de 
resolução n.º 71/X. 
O Deputado do PSD, Guilherme Silva. 
——— 
Desde 1990 que o PCP tem bem clara a sua posição sobre o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. 
Por um lado, consideramos que a existência de um Acordo pode ser um factor positivo se integrado no 
contexto mais global e exigente de uma verdadeira política da língua. Uma política que promova maior 
cooperação com os países de língua portuguesa, nomeadamente os países africanos, que assuma a 
necessidade de promoção e difusão do livro e dos autores portugueses, que integre uma intervenção 
diplomática promotora e valorizadora da língua portuguesa enquanto factor de aproximação e cooperação 
entre povos. 
Por outro lado, o Acordo Ortográfico assinado em 1990 entre todos os Estados membros da CPLP não é 
um bom acordo. Apesar de ter sido objecto de fortes críticas por parte de alguns dos mais qualificados 
utilizadores da língua portuguesa — escritores, linguistas, editores, jornalistas —, o Acordo mantém as 
«numerosas insuficiências e deficiências científicas e técnico-linguísticas» assinaladas em 1989 pelo parecer 
da Comissão Nacional da Língua Portuguesa (CNALP), coordenado pelo Professor Victor Aguiar e Silva e que 
contou com contributos tão qualificados como o do Professor Óscar Lopes. 
Passados 18 anos da aprovação para ratificação do Acordo pela Assembleia da República, a situação é 
sensivelmente a mesma em que nos encontrávamos em 1990. 
O Acordo não entrou em vigor, uma vez que não foi ratificado por todos os Estados signatários, não se 
conhecendo as razões que justificam essa falta de ratificação pelos Estados de Angola, Moçambique e Guiné-
Bissau ou, mais recentemente, Timor-Leste. 
Nenhuma das críticas feitas às Bases do Acordo em 1990 obteve até hoje resposta, pelo que mantêm 
inteira actualidade. Nenhum erro foi corrigido, nenhuma insuficiência foi ultrapassada. 
O vocabulário comum de terminologias técnicas e científicas previsto no Acordo de 1990 continua por 
elaborar, sem perspectivas de que o possa vir a ser nos próximos anos. 
Continuam por avaliar os impactos da entrada em vigor do Acordo Ortográfico no sector editorial e livreiro 
português, desconhecendo-se por conseguinte as medidas a adoptar pelo Governo português no sentido da 
minimização desses impactos. 
O processo político do Acordo Ortográfico é um processo marcado pela inércia e pela hesitação. 
Apesar da discussão pública do Acordo não ter sido pacífica nem em Portugal nem no Brasil, a verdade é 
que não houve por parte de nenhum governo a iniciativa de proceder à renegociação das Bases do Acordo ou 
à adopção das correcções necessárias. 
Não se conhecem quaisquer iniciativas dos governos portugueses no sentido de identificar os obstáculos à 
ratificação do Acordo por todos os Estados membros da CPLP, muito menos de tentativas para que tais 
obstáculos fossem ultrapassados. 
Ao invés, o Governo português propõe apenas que a Assembleia da República ratifique uma alteração às 
condições de entrada em vigor do Acordo com o objectivo de que este possa entrar em vigor mais 
rapidamente. Não obstante esta intenção, a proposta de resolução prevê uma moratória de seis anos para a 
entrada em vigor do Acordo no território nacional, contrariando a intenção do Segundo Protocolo Modificativo 
ao Acordo Ortográfico. 
O PCP continua a entender que Portugal não se pode alhear de um processo como este, em que se 
promove uma aproximação das normas ortográficas da língua portuguesa. Continuamos a entender que o 
Estado português deve assumir as responsabilidades que lhe cabem na elaboração de um Acordo Ortográfico 
da Língua Portuguesa que sirva de facto a valorização da língua portuguesa e a sua promoção e difusão no 
mundo. Esta exigência impõe, no entanto, que o Governo português assuma a necessidade de uma profunda