57 | I Série - Número: 085 | 17 de Maio de 2008
alteração das políticas até hoje seguidas, não só no âmbito cultural mas também no que se refere às relações 
com os países de língua portuguesa, aprofundando os laços existentes e promovendo uma verdadeira 
cooperação. 
Por outro lado, entendemos que o Governo português deve promover a renegociação do Acordo 
Ortográfico, procedendo às correcções dos erros e insuficiências existentes, atendendo às críticas feitas ao 
longo dos anos por especialistas em linguística, professores universitários, escritores e editores. Tendo em 
conta a moratória de seis anos que a presente proposta de resolução prevê, consideramos que o Governo 
português dispõe de todas as condições para levar a cabo essa tarefa. 
O Deputado do PCP, João Oliveira. 
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A história deste acordo define o teor da sua importância. 
Adoptado em 1990, nunca foi possível a sua entrada em vigor e os dois Protocolos Modificativos tiveram 
um só objectivo. 
Perante as dificuldades e o desinteresse, limpou-se a data e diminui-se o número de Estados necessários à 
ratificação para a entrada em vigor do Acordo. 
Agora passam a ser só três os Estados que precisam de ratificar o texto para que ele entre em vigor. 
Não tenho sobre esta matéria a visão irrealista e superficial que este passo é fundamental à promoção e 
defesa da língua e cultura portuguesas. Também não subscrevo as avaliações conspirativas de outros. 
Considero que as questões são outras, e essas, sim, parecem-me preocupantes. 
Em primeiro lugar, as incorrecções científicas e técnicas do acordo desde 1990, e em nome delas as 
decisões erradas. 
Em segundo lugar, a facilidade com que o poder político produz legislação com um grau de 
desconhecimento de matéria tão especializada e secularmente estudada. 
Em terceiro lugar, os conceitos retrógrados, as conservadoras leituras sobre um organismo vivo e com 
dinâmicas próprias a que se chama língua, e neste caso a portuguesa 
Ficámos a saber que, segundo os responsáveis por este titubeante processo, ele constitui uma estratégia 
de expansão e afirmação de poder à escala mundial. 
Não querendo traduzir estas afirmações, não posso deixar de as considerar repletas de saudosismo e de 
tom imperial. 
Considero que a divulgação da cultura e da língua é um dever por parte dos governos e uma necessidade 
de cooperação e vivência pacífica entre os povos e que os recursos financeiros nesta área constituem um 
importante investimento quer no reforço do ensino do português no estrangeiro, quer no apoio à 
internacionalização da criação artística, quer no apoio à divulgação das políticas culturais. 
No entanto, estes são objectivos de permanente retórica e sem medidas políticas, essas sim ao dispor dos 
governos, para as concretizar. E estes problemas não se resolvem com a uniformização da grafia como diz 
Mia Couto. 
Quanto às consequências desta ratificação, estou convicta que o futuro dirá da sua inoportunidade em 
termos internacionais e da sua negatividade no sistema educativo nacional. 
Quanto à aproximação das diversas variantes do português, ao contrário do que é dito, pouco ou nada 
acontecerá. 
A riqueza linguística que decorre desta diversidade assumida pelos falantes irá de facto continuar e a 
consagração das diferenças — na sintaxe — na semântica e no vocabulário terá o seu aprofundamento de 
acordo com as dinâmicas dos respectivos povos. E nenhum acordo nem nenhum governo poderá impedir os 
percursos naturais da vida das línguas e dos traços essenciais que distinguem as variantes. 
Por todas estas razões votei contra.