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28 | I Série - Número: 072 | 7 de Abril de 2011

O seu temperamento irreverente e iconoclástico não o impediu de ter fortes convicções cívicas e políticas: combateu sem tibiezas o anterior regime e foi, na actual República democrática, mandatário, pelo Porto, de Jorge Sampaio, nas presidenciais de 1995.
Morreu Ângelo da Sousa; viva Ângelo de Sousa!

O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, vamos proceder à votação do voto que o Sr. Deputado Jorge Strecht acabou de apresentar.

Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.

É o seguinte:

Voto n.º 114/XI (2.ª) De pesar pelo falecimento do pintor e artista plástico Ângelo de Sousa

Da obra plástica de Ângelo de Sousa esperava-se sempre o inesperado. Estudioso da luz e da cor, nenhum suporte, material ou objecto lhe foi estranho, não recusou nenhuma textura, nenhuma forma, nenhuma superfície, organizando o caos da natureza e da matéria através da pintura, da escultura, da gravura, do desenho, da fotografia, da cenografia e do vídeo, num afã criativo inexcedível, num «comércio inocente e magnífico de figurações e símbolos», nas palavras de Eugénio de Andrade escritas para o catálogo da primeira exposição individual do amigo, em 1963. Contava 73 anos quando nos deixou anteontem, dia 29 de Março.
Ao excesso e à exuberância preferiu o caminho da depuração, e daí o minimalismo, do qual foi o introdutor em Portugal, nos anos 60. Teve um papel decisivo na construção da arte portuguesa da segunda metade do século XX — na renovação dos seus códigos, na invenção das suas linguagens —, ao mesmo tempo que olhava com reserva as polémicas em torno da figuração e da abstracção, às quais se referia com o desprendimento, a ironia е о humor desconcertante que o caracterizavam. Carismático e impulsivo, aproximou-se por vezes de uma arte «bruta», ou elementar, porque lhe interessava a rudeza primitiva, e o fascinaram as fulgurações do subconsciente, tendo bebido nas mais diversas fontes, da arte oriental ao expressionismo, das artes exóticas á Ор Art e á Pop Art. Nascido em Maputo, em 1938, chegou a Portugal com 17 anos de idade. Partilhou a sua primeira exposição, em 1959, com Almada Negreiros, no Porto, cidade que escolheu para viver, trabalhar e criar, e em cuja Escola de Belas-Artes, actual Faculdade de Belas-Artes, se matriculou em 1955, nela tendo depois leccionado ao longo de 38 anos até se jubilar como Professor Catedrático em 2000. A sua história pessoal é inseparável da história recente dessa prestigiada instituição portuense, desde que aí se licenciou com média de 20 valores, a mesma que obtiveram Armando Alves, Jorge Pinheiro e José Rodrigues, o que valeu aos quatro artistas plásticos o epíteto de «Os quatro vintes». No ano de 1964 esteve entre os fundadores da Cooperativa Árvore, que marcou de forma indelével a vida artística e cultural do Porto. Foi bolseiro do British Council na State School of Art e na Saint Martin's School of Art, em Londres, entre 1967 e 1968. Em 1975, foi galardoado com о Prçmio Internacional da 13. a Bienal Internacional de Arte de São Paulo, e, em 2007, com o primeiro Prémio Gulbenkian na categoria Arte, tendo sido ainda distinguido com o Prémio EDP e o Prémio Amadeo de Souza-Cardoso. Com Eduardo Souto de Moura representou Portugal na XI Mostra Internacional de Arquitectura de Veneza, em 2008.
O temperamento irreverente, a espaços iconoclasta, não o impediu de ter fortes convicções cívicas e políticas, tendo sido mandatário de Jorge Sampaio, no Porto, nas eleições presidenciais de 1995.
A Assembleia da República, reunida em Plenário a 6 de Abril de 2011, manifesta o seu pesar pelo falecimento de Ângelo de Sousa e expressa a todos os familiares e amigos do grande pintor e artista plástico as suas condolências.

O Sr. Presidente: — Agora, vamos apreciar o voto n.º 116/XI (2.ª) — De pesar pelo falecimento do pintor Ângelo de Sousa (PCP).
Tem a palavra para apresentar o voto o Sr. Deputado Jorge Machado.

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