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Quinta-feira, 25 de setembro de 2014 I Série — Número 4
XII LEGISLATURA 4.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2014-2015)
REUNIÃOPLENÁRIADE24DESETEMBRODE 2014
Presidente: Ex.ma Sr.ª Maria da Assunção Andrade Esteves
Secretários: Ex.mos
Srs. Duarte Rogério Matos Ventura Pacheco Jorge Manuel Capela Gonçalves Fão
S U M Á R I O
A Presidente declarou aberta a sessão às 15 horas e 6
minutos. Deu-se conta da apresentação dos projetos de lei n.
os
652 a 665/XII (4.ª), do projeto de resolução n.º 1114/XII (4.ª) e das apreciações parlamentares n.
os 104 a 116/XII (4.ª).
Foi aprovado um parecer da Comissão para a Ética, a Cidadania e a Comunicação relativo à substituição de um Deputado do CDS-PP.
Em declaração política, o Deputado José Junqueiro (PS) condenou a política do Governo nas áreas da justiça, com a reforma judiciária, e na da educação, pelos problemas havidos na abertura do ano escolar. No fim, respondeu a pedidos de esclarecimento dos Deputados Luís Montenegro (PSD), António Filipe (PCP), Cecília Honório (BE), Nuno Magalhães (CDS-PP) e José Luís Ferreira (Os Verdes).
Em declaração política, o Deputado Hélder Amaral (CDS-PP) congratulou-se pela melhoria dos indicadores económicos, nomeadamente no turismo, e saudou os empresários do setor. Respondeu, depois, a pedidos de esclarecimento dos Deputados Bruno Dias (PCP), Mariana Mortágua (BE), Nuno Encarnação (PSD) e Hortense Martins (PS).
Em declaração política, o Deputado Jorge Machado (PCP) acusou o Governo de querer prolongar o pagamento pela metade do trabalho extraordinário e em dias de feriado
e defendeu o aumento do salário mínimo nacional. Respondeu, depois, a pedidos de esclarecimento dos Deputados Pedro Roque (PSD), Sónia Fertuzinhos (PS) e Pedro Filipe Soares (BE).
Em declaração política, a Deputada Helena Pinto (BE) contestou a privatização da Empresa Geral do Fomento (EGF) e manifestou preocupação pelos seus trabalhadores bem como pela entrega ao setor privado, através do consórcio SUMA, da recolha e tratamento dos resíduos sólidos urbanos. No final, respondeu a pedidos de esclarecimento dos Deputados Bruno Coimbra (PSD), Pedro Farmhouse (PS), Miguel Tiago (PCP) e Heloísa Apolónia (Os Verdes).
Em declaração política, a Deputada Heloísa Apolónia (Os Verdes) lembrou a recente Cimeira do Clima, realizada em Nova Iorque, e incitou o Governo a combater as causas antropogénicas da mudança do clima e a promover adaptação às alterações climáticas. Deu, depois, resposta a pedidos de esclarecimento dos Deputados Ramos Preto (PS), Miguel Tiago (PCP) e Pedro Filipe Soares (BE).
Em declaração política, o Deputado Luís Leite Ramos (PSD), face ao abandono do interior do País e ao congestionamento do litoral, defendeu a aposta no desenvolvimento equilibrado do território e numa efetiva igualdade de oportunidades, tendo depois respondido a
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pedidos de esclarecimento dos Deputados Hélder Amaral (CDS-PP), Agostinho Santa (PS), Paula Santos (PCP) e Cecília Honório (BE).
Foram discutidos, em conjunto, na generalidade, os projetos de lei n.
os 647/XII (3.ª) — Altera o Código Penal,
criminalizando a perseguição e o casamento forçado (PSD e CDS-PP), 659/XII (4.ª) — Procede à alteração do Código Penal, criando os crimes de perseguição e casamento forçado em cumprimento do disposto na Convenção de Istambul (PS), 661/XII (4.ª) — Cria o tipo legal de assédio sexual no Código Penal (BE) e 663/XII (4.ª) — Cria o tipo legal de perseguição no Código Penal (BE). Intervieram os Deputados Carla Rodrigues (PSD), Isabel Alves Moreira (PS), Cecília Honório (BE), Teresa Anjinho (CDS-PP) e Rita Rato (PCP).
Procedeu-se ainda ao debate conjunto, na generalidade, dos projetos de lei n.
os 632/XII (3.ª) — Procede à alteração
do Código Penal, permitindo a declaração de indignidade sucessória, como efeito da pena aplicada, no âmbito de sentença condenatória pela prática do crime de homicídio (PS), 653/XII (4.ª) — Altera o Código Penal e o Código Civil em matéria de indignidade sucessória (PSD e CDS-PP) e 662/XII (4.ª) — Procede à alteração do Código Penal em matéria de indignidade sucessória (BE). Intervieram, a diverso título, os Deputados Catarina Marcelino (PS), Carlos Peixoto (PSD), Cecília Honório (BE), Teresa Anjinho (CDS-PP) e António Filipe (PCP).
O Presidente (Ferro Rodrigues) encerrou a sessão eram 18 horas e 57 minutos.
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A Sr.ª Presidente: — Srs. Deputados, Srs. Jornalistas, está aberta a sessão.
Eram 15 horas e 6 minutos.
Srs. Agentes de autoridade, podem abrir as galerias.
Antes de entrarmos na ordem do dia, o Sr. Secretário vai proceder à leitura do expediente.
O Sr. Secretário (Duarte Pacheco): — Sr.ª Presidente, deram entrada na Mesa e foram admitidos os
projetos de lei n.os
652/XII (4.ª) — Primeira alteração ao Decreto-Lei n.º 49/2014, de 27 de março, que procede
à regulamentação da Lei n.º 62/2013, de 26 de agosto (Lei da Organização do Sistema Judiciário), e
estabelece o regime aplicável à organização e funcionamento dos tribunais judiciais (PS), que baixa à 1.ª
Comissão; 653/XII (4.ª) — Altera o Código Penal e o Código Civil em matéria de indignidade sucessória
(PSD/CDS-PP), que baixa à 1.ª Comissão; 654/XII (4.ª) — Pelo aumento imediato do salário mínimo nacional
para 545 € (BE), que baixa à 10.ª Comissão; 655/XII (4.ª) — Altera o Código do Registo Civil, tendo em conta
a procriação medicamente assistida, a adoção e o apadrinhamento civil por casais do mesmo sexo (BE), que
baixa à 1.ª Comissão; 656/XII (4.ª) — Eliminação da impossibilidade legal de adoção por casais do mesmo
sexo (Primeira alteração à Lei n.º 9/2010, de 31 de maio, e segunda alteração à Lei n.º 7/2001, de 11 de maio)
(BE), que baixa à 1.ª Comissão; 657/XII (4.ª) — Conselho das Comunidades Portuguesas (Primeira alteração
à Lei n.º 66-A/2007, de 11 de dezembro, que define as competências, modo de organização e funcionamento
do Conselho das Comunidades Portuguesas) (PCP), que baixa à 2.ª Comissão; 658/XII (4.ª) — Recusa a
privatização da Empresa Geral de Fomento, SA (EGF), e revoga o Decreto-Lei n.º 45/2014, de 20 de março
(PCP), que baixa à 11.ª Comissão; 659/XII (4.ª) — Procede à alteração do Código Penal, criando os crimes de
perseguição e casamento forçado em cumprimento do disposto na Convenção de Istambul (PS), que baixa à
1.ª Comissão; 660/XII (4.ª) — Estabelece um número máximo de alunos por turma e por docente nos
estabelecimentos de educação pré-escolar e dos ensinos básico e secundário (BE), que baixa à 8.ª Comissão;
661/XII (4.ª) — Cria o tipo legal de assédio sexual no Código Penal (BE), que baixa à 1.ª Comissão; 662/XII
(4.ª) — Procede à alteração do Código Penal em matéria de indignidade sucessória (BE), que baixa à 1.ª
Comissão; 663/XII (4.ª) — Cria o tipo legal de perseguição no Código Penal (BE), que baixa à 1.ª Comissão;
664/XII (4.ª) — Altera a previsão legal dos crimes de violação e coação sexual no Código Penal (BE), que
baixa à 1.ª Comissão; e 665/XII (4.ª) — Altera a natureza do crime de violação, tornando-o crime público (BE),
que baixa à 1.ª Comissão.
Deu ainda entrada na Mesa o projeto de resolução n.º 1114/XII (4.ª) — Recomenda ao Governo o
reconhecimento da categoria de enfermeira/o especialista bem como a sua integração na carreira especial de
enfermagem (BE).
Deram igualmente entrada na Mesa as apreciações parlamentares n.os
104/XII (4.ª) — Decreto-Lei n.º
123/2014, de 11 de agosto, que estabelece as regras aplicáveis à realização das Inspeções de Segurança
Rodoviária (ISR), no que respeita ao exercício da atividade, à composição das equipas de inspeção, às
competências dos inspetores e ao quadro fiscalizador e sancionatório; 105/XII (4.ª) — Decreto-Lei n.º
106/2014, de 2 de julho, que procede à primeira alteração ao Decreto-Lei n.º 235/2009, de 15 de setembro,
que cria o sistema multimunicipal de triagem, recolha, valorização e tratamento de resíduos sólidos urbanos do
Norte Central e à alteração dos estatutos da sociedade RESINORTE — Valorização e Tratamento de
Resíduos Sólidos, SA; 106/XII (4.ª) — Decreto-Lei n.º 101/2014, de 2 de julho, que procede à primeira
alteração ao Decreto-Lei n.º 114/96, de 5 de agosto, que cria o sistema multimunicipal de triagem, recolha
seletiva, valorização e tratamento de resíduos sólidos urbanos do Vale do Lima e Baixo Cávado e à alteração
dos estatutos da sociedade RESULIMA — Valorização e Tratamento de Resíduos Sólidos, SA; 107/XII (4.ª) —
Decreto-Lei n.º 102/2014, de 2 de julho, que procede à primeira alteração ao Decreto-Lei n.º 166/96, de 5 de
setembro, que cria o sistema multimunicipal de triagem, recolha seletiva, valorização e tratamento de resíduos
sólidos urbanos do Litoral Centro e à alteração dos estatutos da sociedade ERSUC — Resíduos Sólidos do
Centro, SA; 108/XII (4.ª) — Decreto-Lei n.º 98/2014, de 2 de julho, que procede à primeira alteração ao
Decreto-Lei n.º 319-A/2001, de 10 de dezembro, que cria o sistema multimunicipal de triagem, recolha
seletiva, valorização e tratamento de resíduos sólidos urbanos da Cova da Beira, e à primeira alteração ao
Decreto-Lei n.º 128/2008, de 21 de julho, que constitui a sociedade RESIESTRELA — Valorização e
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Tratamento de Resíduos Sólidos, SA, bem como à alteração dos estatutos desta sociedade; 109/XII (4.ª) —
Decreto-Lei n.º 103/2014, de 2 de julho, que procede à primeira alteração ao Decreto-Lei n.º 113/96, de 5 de
agosto, que cria o sistema multimunicipal de triagem, recolha seletiva, valorização e tratamento de resíduos
sólidos urbanos do Vale do Minho, e à alteração dos estatutos da sociedade VALORMINHO — Valorização e
Tratamento de Resíduos Sólidos, SA; 110/XII (4.ª) — Decreto-Lei n.º 99/2014, de 2 de julho, que procede à
primeira alteração ao Decreto-Lei n.º 89/96, de 3 de julho, que cria o sistema multimunicipal de triagem,
recolha seletiva, valorização e tratamento de resíduos sólidos urbanos do Sul do Douro e à alteração dos
estatutos da sociedade SULDOURO — Valorização e Tratamento de Resíduos Sólidos Urbanos, SA; 111/XII
(4.ª) — Decreto-Lei n.º 100/2014, de 2 de julho, que procede à primeira alteração ao Decreto-Lei n.º 116/96,
de 6 de agosto, que cria o sistema multimunicipal de triagem, recolha seletiva, valorização e tratamento de
resíduos sólidos urbanos da Alta Estremadura e à alteração dos estatutos da sociedade VALORLIS —
Valorização e Tratamento de Resíduos Sólidos, SA; 112/XII (4.ª) — Decreto-Lei n.º 107/2014, de 2 de julho,
que procede à primeira alteração ao Decreto-Lei n.º 109/95, de 20 de maio, que cria o sistema multimunicipal
de valorização e tratamento de resíduos sólidos urbanos do Algarve e à alteração dos estatutos da sociedade
ALGAR — Valorização e Tratamento de Resíduos Sólidos, SA; 113/XII (4.ª) — Decreto-Lei n.º 122/2014, de 11
de agosto, que estabelece o regime jurídico aplicável à realização das auditorias de segurança rodoviária
(ASR); 114/XII (4.ª) — Decreto-Lei n.º 108/2014, de 2 de julho, que procede à primeira alteração ao Decreto-
Lei n.º 68/2010, de 15 de junho, que cria o sistema multimunicipal de triagem, recolha seletiva, valorização e
tratamento de resíduos sólidos urbanos das regiões de Lisboa e do Oeste e à alteração dos estatutos da
sociedade VALORSUL — Valorização e Tratamento de Resíduos Sólidos das Regiões de Lisboa e do Oeste,
SA; 115/XII (4.ª) — Decreto-Lei n.º 105/2014, de 2 de julho, que procede à primeira alteração ao Decreto-Lei
n.º 11/2001, de 23 de janeiro, que cria o sistema multimunicipal de triagem, recolha, valorização e tratamento
de resíduos sólidos urbanos do Norte Alentejano e à alteração dos estatutos da sociedade VALNOR —
Valorização e Tratamento de Resíduos Sólidos, SA; e 116/XII (4.ª) — Decreto-Lei n.º 104/2014, de 2 de julho,
que procede à primeira alteração ao Decreto-Lei n.º 53/97, de 4 de março, que cria o sistema multimunicipal
de valorização e tratamento de resíduos sólidos urbanos da margem sul do Tejo e à alteração dos estatutos da
sociedade AMARSUL — Valorização e Tratamento de Resíduos Sólidos, SA.
Temos ainda um relatório e parecer da Comissão para a Ética, a Cidadania e a Comunicação sobre a
substituição do mandato de Deputado, ao abrigo do n.º 5 do artigo 9.º do Estatuto dos Deputados, com efeitos
a partir do dia 24 de setembro, inclusive, do Grupo Parlamentar do CDS-PP, de Fernando Barbosa Alves
Pereira (círculo eleitoral do Porto) por Vera Lúcia Alves Rodrigues.
O parecer é no sentido de que a substituição do mandato ser de admitir, uma vez que se encontram
verificados os requisitos legais.
Em termos de expediente é tudo, Sr.ª Presidente.
A Sr.ª Presidente: — Srs. Deputados, está em apreciação o parecer.
Pausa.
Não havendo pedidos de palavra, vamos votá-lo.
Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.
Srs. Deputados, antes de mais, quero dar as boas-vindas à Sr.ª Deputada Vera Lúcia Rodrigues e
agradecer ao Sr. Secretário Duarte Pacheco a longa leitura do expediente.
Vamos entrar no primeiro ponto da nossa ordem do dia, que será preenchido com declarações políticas
que têm hoje a seguinte ordem: PS, CDS-PP, PCP, BE, Os Verdes e PSD, sendo que, em nome destes
partidos, intervirão, respetivamente, os Srs. Deputados José Junqueiro, Hélder Amaral, Jorge Machado,
Cecília Honório, Heloísa Apolónia e Luís Leite Ramos.
Para a primeira declaração política, tem a palavra o Sr. Deputado José Junqueiro.
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O Sr. José Junqueiro (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: No início desta sessão legislativa o
Governo está à deriva. Acontece com a coordenação do Executivo e em setores estratégicos decisivos como
sejam os da justiça e da educação.
O Sr. António Braga (PS): — É bem verdade!
O Sr. José Junqueiro (PS): — Na justiça, a Ministra, depois de um surto inicial de enorme arrogância, tem
vindo a admitir, por força dos factos, que os erros são muitos e prejudicaram o normal funcionamento dos
tribunais. E foi neste contexto que fez um teatral, mas mal ensaiado, pedido de desculpas pelos
constrangimentos que provocou.
Depressa se arrependeu, no entanto, e veio ao Parlamento, ontem precisamente, insistir — imagine-se! —
no sucesso da reorganização judiciária, que não se deveria confundir com os problemas do Citius, como
referiu.
Ora, para pôr as coisas no sítio, é necessário lembrar que, independentemente de qualquer plataforma
informática, o que temos no terreno é um acesso mais difícil das pessoas à justiça, mais caro para essas
pessoas e mais caro para o Estado, mais injusto e mais moroso.
Aplausos do PS.
Em 2008, estava em marcha uma reforma dos tribunais que racionalizava o número de comarcas e
introduzia a especialização e uma nova forma de gestão. Já existiam três comarcas novas e mais duas
estavam em instalação. No memo da troica de maio de 2011 ficou estabelecido concretizar essa reforma até
dezembro de 2012. Já lá vão dois anos e nada aconteceu a não ser esta confusão que vivemos.
Em finais de 2011, o Governo PSD/CDS, com a troica, unilateralmente, sem que ninguém soubesse,
alterou o programa e veio a ser definida uma reforma dos tribunais, ou o mapa judiciário, com diferenças
substantivas face à que estava em curso.
E as diferenças são substantivas e são claras: passagem de 39 para 23 comarcas, encerramento de 47
tribunais, implementação não faseada mas conjunta, em todo o País, em 1 de Setembro de 2014, originando o
caos judiciário, do qual, como referiu o Deputado socialista Luís Pita Ameixa, «Paula Teixeira da Cruz é a mãe
desse caos judiciário» e que a ministra «deve a sua demissão ao País». E deve mesmo!
Aplausos do PS.
Na educação, Nuno Crato não fez melhor. O início do ano letivo foi um dos piores de sempre. Escolas sem
professores e professores sem escola marcam o dia-a-dia de muitos alunos e encarregados de educação.
Tal como a Ministra da Justiça, Nuno Crato, depois de um surto inicial de enorme arrogância, pela força
dos factos, veio também à Assembleia da República fazer a sua parte do teatro, ensaiar um pedido de
desculpas, para que a «salsicha educativa» do Primeiro-Ministro fosse salvaguardada, seja lá o que isso for.
Aplausos do PS.
Percebeu-se que o Governo adotou uma estratégia: a representação de uma falaciosa humildade.
Foi muito o que correu mal a nível da colocação inicial de professores. Foi tardia e, uma semana após o
início do ano escolar, existiam erros por todo o lado, com colocações em duplicado ou professores retirados do
concurso sem o seu conhecimento. Ninguém sabe como é que numas escolas os professores tiveram os seus
contratos renovados e noutras não, em iguais circunstâncias.
A verdade é que os grupos parlamentares da maioria, pelo menos muitos dos seus Deputados, foram
apanhados de surpresa, sobretudo os do PSD. De facto, ao terem agendado para esse dia um debate de
atualidade tinham a ideia de possuírem razões mais do que suficientes para arrasar a oposição,
nomeadamente o PS, que tão duras críticas fez ao Governo e ao Ministro.
Eis senão quando o Ministro da Educação, ao arrepio de todas as expetativas, lança o tal pedido de
desculpas aos professores, aos pais e aos alunos, pelos constrangimentos que estava a causar a todos eles.
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Afinal, o PS tinha razão e a maioria PSD/CDS ficou em estado de choque, que, aliás, prolongou nos
corredores. Com efeito, não tinha sido, dizia, para esta desautorização pública que agendaram um debate de
atualidade. Foi a cereja no cimo do bolo para um problema que ainda não foi resolvido.
Um exemplo: neste momento, o Governo tenta tapar os lugares vagos existentes trocando de escolas os
docentes mal colocados. Apesar de colocados indevidamente na BCE (Bolsa de Contratação de Escola),
esses docentes estão a ser mandados para ocupar lugares noutras escolas e com isso a impedir que esses
mesmos docentes — que deveriam ter sido colocados — fiquem com os lugares que lhes pertencem. Não é
uma forma leal de esconder tamanho erro.
Como se isso não fosse suficiente, o Primeiro-Ministro, pelos motivos conhecidos, introduziu na opinião
pública a ideia de que se poderia ir embora. Nada pior para um Governo do que uma instabilidade ao mais alto
nível. Nada pior para o País do que um Governo perdido na confusão dos seus dias.
Ora, podendo até compreender, sinceramente, que num primeiro momento a memória de anos não
estivesse ativa, já não é tão fácil aceitar que decorridos estes dias a mesma não tivesse sido recuperada
através de esforço pessoal e voluntário.
O Primeiro-Ministro é um cidadão com responsabilidades acrescidas e se ninguém deve ver o seu bom
nome posto em causa, muito menos um Primeiro-Ministro deve sujeitar-se a isso. É, assim, necessário que o
próprio, rapidamente, venha dilucidar as dúvidas existentes e resta saber, mais uma vez, se o Sr. Presidente
da República tem agora melhor informação e continua a pensar que no País está tudo bem.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Sr. Deputado, tem cinco inscrições para formularem perguntas, a saber: Srs.
Deputados Luís Montenegro, do PSD, António Filipe, do PCP, Cecília Honório, do BE, Nuno Magalhães, do
CDS-PP, e José Luís Ferreira, de Os Verdes.
O Sr. Deputado José Junqueiro já informou que pretende responder um a um, pelo que dou desde já a
palavra ao Sr. Deputado Luís Montenegro.
O Sr. Luís Montenegro (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado José Junqueiro, todos ouvimos com muita
atenção a declaração política que acabou de proferir. Percebemos que tenha andado a tergiversar sobre
vários assuntos, terminando querendo insinuar, mais uma vez, algumas coisas relativamente ao Sr. Primeiro-
Ministro, mas já lá vou.
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. Luís Montenegro (PSD): — Mas, sobretudo, há uma ausência que não pode deixar de ser notada: a
declaração política do Partido Socialista fala de tudo menos daquilo que é o centro da ação política do Partido
Socialista hoje, que é o seu debate interno e as ideias que podem dimanar desse debate para ajudar a
resolver os problemas do País. Sobre isso, nem uma palavra, embora possamos perceber porquê, a julgar
pelas demonstrações que têm sido dadas pelos dois candidatos a Primeiro-Ministro por parte do Partido
Socialista.
Aliás, ainda ontem foram bem evidenciadas num debate que considero deprimente do ponto de vista
político, que não prestigia os dois candidatos, não prestigia o PS,…
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
…mas, sobretudo, não prestigia a política, porque a essência da política não é que os seus agentes façam
ataques pessoais uns aos outros, a essência da política é que os políticos digam às pessoas, aos destinatários
da sua ação, aquilo que entendem ser as suas soluções para resolver os seus problemas. E sobre isso zero!
Protestos do Deputado do PS João Galamba.
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Não sabemos o que é que pensam o Dr. Seguro e o Dr. Costa sobre o Serviço Nacional de Saúde e a sua
sustentabilidade. Tivemos três debates e nem por uma ocasião soubemos aquilo que pensam os candidatos,
e, portanto, o Partido Socialista, sobre a questão fundamental de saber como é que o sistema de pensões e da
segurança social pode ser sustentável, para aqueles que hoje são reformados, mas, sobretudo, para aqueles
que podem ser os reformados de amanhã. Não sabemos o que é que o Partido Socialista pensa das questões
fundamentais do País.
O Sr. Deputado falou da reforma judiciária e falou da colocação de professores.
A Sr.ª Presidente: — Sr. Deputado, queira concluir.
O Sr. Luís Montenegro (PSD): — Com certeza, deve ter-se esquecido de que esta reforma judiciária era
há muito reivindicada por todos os agentes da justiça e também pelas pessoas, que querem uma justiça mais
eficiente.
Aliás, o Partido Socialista tentou fazer essa reforma mas não conseguiu. Essa é uma grande diferença para
aquilo que hoje está em execução. É verdade que nem tudo correu bem e o Governo assumiu as suas
responsabilidades, e também é verdade que não correu tudo bem na colocação de professores. Há 1% das
colocações que foram atingidas, muito longe da confusão que eram os concursos que VV. Ex.as
tiveram de
gerir e programar na altura em que eram governo.
A Sr.ª Presidente: — Sr. Deputado, queira concluir.
O Sr. Luís Montenegro (PSD): — Mas é verdade e assumimos essa responsabilidade.
Sr. Deputado José Junqueiro, não vale a pena porque V. Ex.ª andou, andou, andou e aquilo que queria
fazer era adensar as especulações e as suspeitas acerca do que tem sido a postura do Primeiro-Ministro.
Sobre isto queria dizer, de uma forma muito clara, o seguinte: nesta bancada, no PSD, temos total
confiança num Primeiro-Ministro que já deu múltiplas provas de seriedade e de idoneidade para desempenhar
todas as funções em que tem sido investido, nomeadamente aquela que desempenha hoje como Primeiro-
Ministro.
A Sr.ª Presidente: — Sr. Deputado, queira concluir.
O Sr. Luís Montenegro (PSD): — Não alinhamos nessa baixa política de tentar apanhar a onda mediática
com especulações que não têm, até ver, fundamento, bem pelo contrário.
Termino, Sr.ª Presidente, dizendo ao Sr. Deputado que há uma suprema especulação que perpassou na
sua intervenção que vai ficar aqui definitivamente desmentida: não há nenhum cenário de fuga às
responsabilidades do Primeiro-Ministro e do PSD. Não, os senhores querem eleições antecipadas desde o
primeiro dia desta legislatura mas não as vão ter, vamos cumprir a legislatura até ao fim, vamos cumprir o
nosso programa, vamos prestar contas por aquilo que fizemos e vamos pedir aos portugueses a confiança
para continuar a transformar Portugal nos próximos quatros anos,…
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Sr. Deputado, queira concluir.
O Sr. Luís Montenegro (PSD): — … com estes Deputados, com estes partidos e com a liderança firme e
honesta de Pedro Passos Coelho.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Peço aos Srs. Deputados o favor de respeitarem o tempo regulamentar ou, pelo
menos, de não se distanciarem muito dos limites desse tempo.
Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado José Junqueiro.
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O Sr. José Junqueiro (PS): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Luís Montenegro, começo por lhe agradecer
as questões que colocou e dizer o seguinte: falámos aqui sobre dois problemas importantes para o País e para
a vida real das pessoas, problemas esses que dizem respeito à justiça e à educação.
Em função desses problemas e do caos criado no País, os respetivos ministros, teatralmente, vieram
ensaiar um pedido de desculpas.
Sr. Deputado, ficava-lhe bem que, em vez de tentar fugir ao tema, tivesse também pedido desculpa por
suportar um Governo que fez do início do ano judicial e da educação um caos.
Aplausos do PS.
Segunda nota: como sabe, sou seu amigo, e se eu soubesse que o ia incomodar tanto com esta
intervenção, eventualmente, iria ponderar os termos, porque não gosto de o ver mal disposto.
Queria ainda referir-lhe o seguinte: acho que as acusações qualquer um as pode fazer; as insinuações são
um ato vil, não devem ser feitas, porque as pessoas não se podem defender.
O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Foi o que o senhor fez, ali, da tribuna!
O Sr. José Junqueiro (PS): — Aquilo que fizemos aqui foi constatar uma realidade pública e desejar que o
Primeiro-Ministro, o mais rapidamente possível, porque também tem direito ao seu bom nome, e até por isso,
venha publicamente esclarecer essas mesmas dúvidas.
Isto, Sr. Deputado, não é insinuação, isto não é acusação, isto é uma exigência da República, que quer
transparência e qualidade na democracia.
Aplausos do PS.
Para terminar, quero dizer o seguinte: em primeiro lugar, agradeço-lhe as suas preocupações com o
Partido Socialista. Fica-lhe bem preocupar-se connosco, mas devia era preocupar-se com a ação do seu
Governo, realmente, com os assuntos que focou, com a saúde, com a segurança social, com a Administração
Pública, com os reformados, com os pensionistas, relativamente aos quais os senhores, desde início,
ensaiaram uma política inconstitucional de cortes, que querem continuar, querem perpetuar, mas ficam a
saber que, com o Partido Socialista, os senhores não terão desconto, não terão descanso e essa política não
seguirá por diante.
A Sr.ª Presidente: — Sr. Deputado, queira concluir.
O Sr. José Junqueiro (PS): — Por isso, Sr. Deputado Luís Montenegro, lamento muito que tenha ficado
tão incomodado mas espero que, agora, fique mais esclarecido.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Para uma pergunta, tem a palavra o Sr. Deputado António Filipe.
O Sr. António Filipe (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado José Junqueiro, o senhor trouxe aqui ao
debate três questões relevantes da vida política nacional, que, evidentemente, dizem respeito à vida do nosso
País, à forma como o nosso País é governado e ao dia-a-dia dos portugueses, no que se refere à justiça e à
educação.
O Sr. Deputado Luís Montenegro, há pouco, dizia que esta reforma da justiça era muito reivindicada. Não
sei se o Sr. Deputado viu alguma manifestação a pedir este mapa judiciário, nós não vimos, vimos o contrário.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
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O Sr. António Filipe (PCP): — Pela primeira vez, vimos uma manifestação de advogados de todo o País,
aqui, junto à Assembleia da República, para que o Governo não avançasse com esta desastrosa reforma do
mapa judiciário.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Bem lembrado!
O Sr. António Filipe (PCP): — A Sr.ª Ministra lá pediu desculpa, mas nesta questão, Sr. Deputado, não há
desculpas, porque o Governo sabia perfeitamente — e se não sabia tinha mais do que obrigação de saber —
que condições é que tinha para fazer avançar esta reforma do mapa judiciário, tanto mais quanto o Governo e
a maioria se opuseram a propostas, inclusivamente vindas do PCP, de que a reforma do mapa judiciário, fosse
ela qual fosse, não entrasse em vigor em setembro de 2014.
Fizeram questão absoluta de que entrasse em vigor e agora o Governo passa pela vergonha de a justiça,
em Portugal, não estar a funcionar. A Sr.ª Ministra minimiza, diz que se trata apenas de um percalço, diz que o
programa Citius é uma ferramenta informática; o que sucede é que os operadores judiciários não têm outra,
têm mesmo de utilizar o programa Citius e não o podem fazer.
Portanto, aquilo com que o País está confrontado é com uma situação de quase total paralisia da máquina
judiciária, dos tribunais. Isto é gravíssimo e não há desculpas para um Governo que é responsável por uma
situação destas.
Sr. Deputado, ao nível da educação, o ano letivo começou inacreditavelmente mal, com falta de tudo,
designadamente com falta de professores, com erros grosseiros na colocação de professores,…
O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Isso nem parece seu!
O Sr. António Filipe (PCP): — … com falta de funcionários, com falta de apoios educativos…
O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Nem parece seu!
O Sr. António Filipe (PCP): — O Sr. Deputado Hugo Soares está muito indignado comigo, mas o Sr.
Deputado devia era ficar indignado com o Sr. Ministro da Educação. Sabe porquê, Sr. Deputado? Porque o Sr.
Ministro da Educação obrigou a maioria a passar pelo maior enxovalho deste ano,…
O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Não é verdade!
O Sr. António Filipe (PCP): — … que foi o seguinte: a maioria propôs um debate sobre a abertura do ano
letivo,…
O Sr. Luís Montenegro (PSD): — Foi bem útil!
O Sr. António Filipe (PCP): — … a maioria passou aqui todo o debate a defender o Governo, dizendo que
estava tudo normal, no melhor dos mundos, e o Sr. Ministro deixou a maioria espalhar-se ao comprido e, na
última intervenção, antes de se ir embora, veio pedir desculpa e dizer que, afinal, estava tudo mal.
Aplausos do PCP.
O Sr. Luís Montenegro (PSD): — Já estava combinado! Não percebeu?!
A Sr.ª Presidente: — Queira concluir, Sr. Deputado.
O Sr. António Filipe (PCP): — Vou concluir, Sr.ª Presidente.
O Sr. Ministro pediu imensa desculpa e foi-se embora.
Portanto, os senhores deviam era estar ofendidos com o vosso Ministro.
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Vou concluir, Sr.ª Presidente, com a questão do Sr. Primeiro-Ministro. Sobre esta questão, nós próprios,
Grupo Parlamentar do PCP, já solicitámos à Assembleia da República, quer à Comissão para a Ética, a
Cidadania e a Comunicação, quer à Sr.ª Presidente, que os serviços da Assembleia da República recolham a
informação relevante acerca das questões e das suspeições que envolvem o comportamento do Sr. Primeiro-
Ministro enquanto exerceu o mandato parlamentar e quando saiu dele, com o subsídio de reintegração.
O Sr. Primeiro-Ministro vem dizer que a Procuradoria-Geral da República irá esclarecer, mas, Sr. Deputado
José Junqueiro, não acha que, em primeira linha, quem tem a obrigação estrita de esclarecer o País sobre a
situação é o próprio Primeiro-Ministro?!
O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Os senhores suspeitavam! Assim, não restam dúvidas!
A Sr.ª Presidente: — Tem de concluir, Sr. Deputado.
O Sr. António Filipe (PCP): — Concluo, Sr.ª Presidente.
Não lhe parece que é o Sr. Primeiro-Ministro que, em primeira linha, tem de esclarecer e tem de ser ele
próprio a evitar estar sob uma situação de suspeição que, obviamente, só o enfraquece enquanto
governante?!
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado José Junqueiro.
O Sr. Miguel Santos (PSD): — Lá vai o José Junqueiro chafurdar mais um bocado!
O Sr. José Junqueiro (PS): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado António Filipe, agradeço as questões que
colocou e quero dar nota do seguinte: também, como o Sr. Deputado, embora tivesse feito um grande esforço
nesse sentido — visitei muitos concelhos e muitas comarcas —, não me consegui aperceber de um
movimento reivindicativo que exigisse, de facto, esta reforma — mas será, eventualmente, defeito meu —,
pelo contrário, em todo o lado, todas as pessoas contestaram aquilo que estava a ser feito.
Penso que, dentro de alguns anos, a Sr.ª Ministra, ao olhar para o passado, não sentirá grande orgulho de
uma transformação em que as pessoas, que têm assegurado o seu direito à justiça — é um direito inalienável
—, viram esse acesso mais difícil, mais penoso e mais caro. Esta maioria da direita, o PSD e o CDS,
insensíveis ao problema das pessoas, introduziram uma distorção forte naquilo que é a democracia e os
direitos das pessoas à justiça, ao limitarem o acesso aos tribunais. Foi algo de absolutamente insensato! Aliás,
gostaria também de dizer que a paralisia em que os tribunais se encontram transforma tudo. Tudo ficará mais
caro, mais moroso, mais difícil, um caos!
Na educação, gostava de referir que o incómodo desta maioria de direita é pelo facto de o Sr. Ministro ter
repetido aqui o número da Ministra da Justiça durante um agendamento de atualidade. A maioria não estava
preparada para isso! Qual não foi o seu espanto que ficaram de boquinha aberta a dizer: «O quê? Pedido de
desculpas? Então, nós estamos aqui para defender o Ministro, a dizer que correu tudo bem e o senhor
apresenta um pedido de desculpas?!». Por isso é que nos corredores surgiu esse desencanto.
Por último, Sr. Deputado António Filipe, não posso estar mais de acordo: a mim e ao Partido Socialista
parece-nos que é ao Primeiro-Ministro que compete a iniciativa de esclarecer o que tiver de ser esclarecido. E
também me parece que é à Assembleia da República que compete obter o esclarecimento daquilo que tiver de
ser esclarecido. O que está aqui em causa não é qualquer acusação nem qualquer insinuação, o que está em
causa é um facto concreto relativamente ao qual o Primeiro-Ministro sabe o que deve fazer e nós sabemos o
que devemos exigir.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem, agora, a palavra a Sr.ª Deputada Cecília Honório.
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A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado José Junqueiro, quero saudá-lo pela
importância dos temas que aqui trouxe, na sua declaração política, destacando a crise que se vive em dois
dos mais importantes pilares do sistema democrático. Estamos a falar do sistema de justiça, estamos a falar
do direito fundamental de acesso ao direito e aos tribunais e estamos a falar da educação, da turbulência que
se viveu na escola pública, com todos os problemas, nomeadamente as falhas na colocação de professores.
São problemas muito graves, pelo que fez bem em trazê-los a debate. E fez bem, também, do nosso ponto de
vista, em retomar esta saga do «perdoem-me».
É facto que a Sr.ª Ministra da Justiça, perante um sistema praticamente paralisado, perante tribunais e
operadores de mãos atadas, aquilo que fez, em vez de anunciar medidas urgentes e um plano b para resolver
todos os problemas, foi dizer: «Desculpem lá! Desculpem lá este transtorno».
É facto que o Sr. Ministro da Educação, perante a instabilidade criada nas escolas, perante a angústia de
pais e mães, perante as crianças, que não sabiam muito bem qual iria ser a sua vida, perante a angústia
tremenda de professores e professoras, injustiçados de várias formas, nomeadamente com os erros de
colocação do Sr. Ministro da Educação, pelos quais ele é responsável, o que fez foi dizer: «Desculpem lá este
mau jeito».
Ainda hoje estamos à espera de uma solução, ainda hoje se aguarda pelas soluções para a justiça e para a
educação, e eles já pediram desculpa há dois ou três dias.
Porventura, estaremos ainda à espera de um pedido de desculpas do Primeiro-Ministro — logo veremos —,
mas o nosso ponto de vista é este: a responsabilidade é a de um esclarecimento urgente desta matéria. Não
nos chegará se o Primeiro-Ministro vier aqui, um dia, dizer: «Desculpem lá o mau jeito, mas eu, afinal, até me
esqueci de que estava em regime de exclusividade».
A verdade é que o Primeiro-Ministro deve esclarecimentos ao País — «quem não deve, não teme» — e
aguardamos que o faça, em vez de descartar para a Procuradoria-Geral da República. Parece-nos que a
responsabilidade assim o exige e a dignidade das funções assim o impõe.
Em todo o caso, no final desta discussão, quero só perguntar-lhe como é que o PS consegue perspetivar a
salvaguarda dos serviços públicos fundamentais, nomeadamente na educação e na justiça. O PS tem, do
passado, um compromisso com a reabertura de todos os tribunais que ora foram encerrados e continua a
reivindicar-se do direito à defesa da escola pública. Isto exige uma enorme clareza com a rutura das políticas
de austeridade. Não é mantendo os cortes de milhões e milhões, que estão anunciados,…
A Sr.ª Presidente: — Queira concluir, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Concluo, Sr.ª Presidente.
Como estava a dizer, não é mantendo os cortes de milhões e milhões, que estão anunciados, que o PS vai
resolver o problema. Portanto, digam-nos, de uma vez por todas, qual é o vosso compromisso, de forma a
poderem defender, em coerência, estes serviços fundamentais.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado José Junqueiro.
O Sr. José Junqueiro (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Cecília Honório, os nossos compromissos
na educação e na justiça, aqueles que referiu, são para cumprir, porque desde o início transmitimos ao País
que não podíamos dizer nada que, no futuro, não pudéssemos verdadeiramente assumir, e este é um
compromisso de honra. Está em jogo a credibilidade da política e da democracia, está em jogo o facto de as
pessoas terem pouca confiança naquilo que os políticos interpretam como promessa — e isto é sentido por
nós —, porque, no final das eleições, surge sempre uma realidade diferente.
Portanto, o nosso compromisso é este: fazer da educação, novamente, uma prioridade, aliviar os cortes,
porque o investimento na educação tem sempre um valor acrescentado na qualidade do País e da sua
competitividade. Só quem sabe o que custou, no regime anterior, a aposta no analfabetismo é que pode
compreender que nunca é demais termos, como prioridade, o investimento na educação.
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Na justiça, Sr.ª Deputada, sucede a mesma coisa, porque um país onde a justiça demora, onde a justiça
não acontece, onde a justiça é mais difícil, não é um país que, democraticamente, seja qualificado. E as
pessoas, em democracia, não votam em nós para terem piores serviços, para terem pior justiça, votam em nós
exatamente para obterem o contrário, uma melhor justiça e uma maior qualificação.
É por isso que esta política austeritária cega não pode continuar, e não pode continuar porque, sem
crescimento, não há emprego, não há consolidação das contas públicas, não há maneira nenhuma de cumprir
as funções sociais do Estado. Daí o Partido Socialista estar contra este ritmo alucinante de privatizações que
tem sido desenvolvido, porque têm sido alienados setores e ativos estratégicos do Estado, sem os quais
temos muita dificuldade em enfrentar o futuro.
Por isso, Sr.ª Deputada, termino, dizendo-lhe: os nossos compromissos, aqueles que referiu, na educação
e na justiça são compromissos para assumir e cumprir.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Ainda para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Nuno Magalhães.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado José Junqueiro, com estima e
franqueza, nós já cá andamos há alguns anos e todos conhecemos os truques parlamentares que o Sr.
Deputado acabou de fazer.
O Sr. Deputado faz uma espécie de revista de imprensa dos últimos dias, vai buscar os temas que
estiveram na ordem do dia, que são, sem dúvida alguma, importantes, que foram objeto de debates na
Assembleia da República, em Plenário, com a presença do Ministro da Educação, e em comissão, com a
presença da Ministra da Justiça, que foram objeto de várias declarações políticas, de contraditório, por parte
da maioria,…
O Sr. João Oliveira (PCP): — O chumbo de audições, hoje…
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — … e, para utilizar um termo futebolístico, «queima tempo» até chegar
àquilo que lhe interessa.
Sr. Deputado, em relação à justiça e à educação, só tenho a dizer uma coisa muito simples: nós, no CDS e
na maioria, não ocultamos problemas, enfrentamo-los e tentamos resolvê-los. É o que está a acontecer!
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
O Sr. João Oliveira (PCP): — Mas, primeiro, criam os problemas!
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Mas quanto a tudo isto, que não passou de meios que, no entender
de V. Ex.ª, justificam os fins, ficámos, de resto, a saber que justiça, educação e até o prestígio da Assembleia
da República são um mero meio para o Partido Socialista chegar àquilo que quer. E aquilo que o Sr. Deputado
quis aqui fazer foi, de facto, uma insinuação sonsa.
Sr. Deputado, em relação a isso, para ser curto e claro, e já o disse ontem mas repito-o hoje, o CDS tem
confiança na palavra do Primeiro-Ministro.
Dito isto, Sr. Deputado José Junqueiro, e porque também anda cá há muito tempo, deixe-me que lhe
recorde uma doutrina firme e muito antiga do CDS: não comentamos suspeições, notícias ou alegações, seja
em que caso for, seja em que momento for, seja de que partido for.
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — É o que faz a diferença!
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — E digo-lhe mais: em nome de outra doutrina também muito antiga do
CDS, não comentamos a vida interna de outros partidos. E havia tanto…
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Sr. Deputado, digo-lhe apenas isto: foi lamentável e, por isso, não tenho qualquer pergunta a fazer.
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado José Junqueiro.
O Sr. José Junqueiro (PS): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Nuno Magalhães, agradeço muito a sua
questão…
Vozes do PSD: — Qual questão?!
O Sr. José Junqueiro (PS): — … e percebo a incomodidade, mas, de facto, não foi feita nenhuma
insinuação, direta ou indiretamente, objetiva ou subjetivamente, nem foi feito nenhum comentário, nem foi feita
nenhuma acusação.
Aquilo que aqui nos traz sobre essa matéria é apenas a constatação de um facto público comentado pelo
Primeiro-Ministro, que para o esclarecimento do mesmo já ensaiou diferentes soluções. E aquilo que dizemos,
em nome da estabilidade da democracia e do funcionamento qualificado da democracia, é que esse
esclarecimento deve vir o mais rapidamente possível e deve ser o próprio a fazê-lo.
Não percebo porque é que o Sr. Deputado colocou tanta ênfase nesse aspeto, até porque coloquei
questões que são igualmente relevantes.
Quanto à educação e à justiça percebo o incómodo. E por isso o Sr. Deputado está a utilizar o antigo
truque parlamentar de enfatizar a questão do Sr. Primeiro-Ministro para tentar esconder que na justiça e na
educação vivemos um mau momento, por incompetência dos respetivos ministros deste Governo. Só lhe
ficava bem reconhecer que o pedido de desculpas que aqui foi feito foi o último recurso que os próprios
tiveram para não pedir a demissão, porque era isso que deveria ter acontecido depois de terem assegurado o
que asseguraram, e que não correspondia à verdade, e de terem feito aquilo que fizeram. E o que fizeram foi
uma distorção enorme na justiça e na educação, em Portugal.
Para terminar, embora o Sr. Deputado não tenha dado importância a este aspeto, quero dizer-lhe que me
lembro dos professores que estão sem escola, dos professores que foram colocados de forma deficiente, dos
professores que não foram colocados, dos alunos que não tiveram aulas, da instabilidade das escolas, das
famílias e dos alunos. Mas eu sei que para os senhores isto não interessa, aliás, bastava só recordar o
historial do CDS em matéria de pensões e de reformas e em matéria fiscal para se ficar a saber que um dos
partidos com atitudes mais cruéis para os reformados desde o 25 de Abril foi exatamente o CDS e os seus
responsáveis no Governo.
Aplausos do PS.
Protestos da Deputada do CDS-PP Cecília Meireles.
A Sr.ª Presidente: — Para um último pedido de esclarecimento, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís
Ferreira, de Os Verdes.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado José Junqueiro, de facto, o
Governo perdeu o norte — acompanhamos a leitura que faz.
Já não nos bastava um Governo que passa a vida a cortar salários, a aumentar impostos, a diminuir o
rendimento disponível das famílias, a impor austeridade, a semear desemprego, ainda por cima sem resolver
nenhum dos nossos problemas, ainda por cima piorando o acesso aos serviços públicos, como agora ainda
constatamos que o Governo está à deriva. E esta deriva é visível, sobretudo, como o Sr. Deputado referiu, na
justiça e na educação, o que, aliás, obrigou os respetivos ministros a pedirem desculpas, como se isso
resolvesse alguma coisa, como se isso melhorasse a vida das pessoas.
De facto, a imposição da extinção de tribunais e a teimosia em implementar o novo mapa judiciário a 1 de
setembro não mostra apenas a irresponsabilidade do Governo, mostra também a importância que as pessoas
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têm para este Governo. É que avançar com uma reforma desta dimensão e desta natureza, contra tudo e
contra todos, e sobretudo sem preparar a sua entrada em vigor, acabando, aliás, por impor por decreto a
paralisação completa da justiça e dos tribunais, só tem uma palavra: irresponsabilidade. E esta
irresponsabilidade é de tal ordem que não fica resolvida apenas com um pedido de desculpa, exige muito
mais.
O mesmo se diga relativamente ao arranque do ano letivo. A irresponsabilidade também não se
compadece com um pedido de desculpas porque é claramente insuficiente, é muito pouco.
Sobre o clima de suspeição a que se referiu, Sr. Deputado, a nosso ver, a única forma de sacudir este
clima de suspeição seria o Sr. Primeiro-Ministro fazer um esforço, puxar pela memória e explicar-se aos
portugueses, dizendo: foi assim e não foi assim. Mas o Sr. Primeiro-Ministro, pelos vistos, prefere remeter-se a
esta espécie de silêncio por amnésia que só temos de lamentar.
Sr. Deputado José Junqueiro, o Sr. Primeiro-Ministro disse que tiraria conclusões em função do resultado
da análise que a Procuradoria-Geral da República vai fazer. Gostaria que o Sr. Deputado nos explicasse que
leitura faz desse comentário do Sr. Primeiro-Ministro.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado José Junqueiro.
O Sr. José Junqueiro (PS): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado José Luís Ferreira, agradeço as suas
questões.
Sobre a última parte da sua intervenção, gostaria de lhe dizer que é ao próprio que compete dar as
explicações necessárias sobre a matéria, se assim o entender. O Partido Socialista não tem de dizer a
ninguém o que deve fazer, nem tem de fazer acusações, repito, se não houver fundamento para as mesmas,
nem tem de fazer nenhum tipo de insinuação, pelos motivos que, aliás, já aqui apontei; a única coisa que
fizemos foi constatar publicamente um facto que todo o País constatou. Quanto a isso não diremos mais nada,
porque não nos compete dizer mais nada sobre essa matéria. A única coisa que todos queremos, tal como o
Sr. Deputado, é que essa verdade seja esclarecida pelo próprio e na Assembleia da República.
No que toca à justiça e à educação estamos totalmente de acordo.
Quando alguém num concelho do interior, por exemplo em Castro de Aire, passa a ter se de deslocar a
Viseu, a S. Pedro ou a Lamego para tratar daquilo que tem a tratar, quando não há transportes para o efeito,
quando 80% do apoio judiciário é feito pelo Estado, quando as causas da sua génese têm de ser julgadas no
local e o juiz tem de se deslocar, ninguém pode perceber, na sua boa-fé, como é que isso foi feito. E a Sr.ª
Ministra também não percebe. Se a Sr.ª Ministra tivesse ido ao terreno entendia que era assim, porque teria
ouvido os magistrados, os advogados, os autarcas e os partidos políticos.
O problema é que esta reforma, ou assim chamada, foi feita nas costas de toda a gente. E como foi feita
nas costas de toda a gente, sem consultar ninguém, sem ir ao terreno, o que temos de facto é isto: menos
justiça, mais dificuldade de acesso, uma justiça mais cara para as pessoas e uma justiça mais cara para o
Estado.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Concluída a declaração política do PS, passamos ao CDS-PP.
Então, para uma declaração política, tem a palavra o Sr. Deputado Hélder Amaral.
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, bem sei que poderá parecer
surpresa para alguns, mas, mesmo assim, vou dizer: a economia portuguesa está a crescer. Em termos
homólogos, já cresce há três trimestres consecutivos.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Bem lembrado!
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — O emprego está a aumentar. Se compararmos os valores do segundo
trimestre de 2014 com os do segundo trimestre de 2013, observamos um aumento, em termos líquidos, de 90
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000 pessoas empregadas. Este aumento foi explicado, em grande medida, pelo aumento do número de
contratados a tempo indeterminado, o que pode ser confirmado em fontes do Instituto Nacional de Estatística
A competitividade do País está a crescer. De acordo com o Fórum Económico Mundial, Portugal subiu 15
lugares no ranking mundial da competitividade, e não me alongarei mais neste tema porque ele já foi aqui
discutido.
Para quem tenha dúvidas, Portugal está a fazer bem aquilo que lhe compete, basta olhar para os elogios
feitos, este ano, pelos Estados Unidos, pela OCDE, pela Comissão Europeia, pelo Financial Times, pelo
Banco Central Europeu (BCE) e até pelo socialista Presidente do Parlamento Europeu Martin Schultz.
Mas eu não quero negar a evidência e, por isso, gostaria de falar-vos do setor que, neste contexto, mais
contribui para os dados positivos, ou seja, o turismo, que comemora no próximo sábado o seu dia mundial.
Em 2013, o contributo deste sector para o PIB foi de 5,8% e para o emprego direto de 7,2%, enquanto a
nível mundial a média foi de apenas 2,9% e de 3,4%, respetivamente. Na realidade, o turismo em Portugal
vale hoje mais para a economia, emprego, exportações e investimento do que no resto da Europa e até
mesmo no mundo. Este é, assim, um dos principais setores da economia portuguesa.
Mas se pensávamos que, em 2013, o turismo em Portugal já tinha atingido o seu máximo, os números
acumulados até julho de 2014 evidenciam o contrário: o número de hóspedes aumentou 11,6%; o número de
dormidas aumentou 10,8%; os proveitos aumentaram 11,8%; as receitas aumentaram 10,3%; o saldo da
balança turística aumentou 12,9%; o RevPar, ou seja, o rendimento por quarto, aumentou 9%; e a taxa de
ocupação por quarto aumentou 3,1 pontos percentuais. Estas são, de facto, realidades incontornáveis e que
deviam deixar todos, mas todos, os Srs. Deputados satisfeitos e a aplaudir.
Aplausos do CDS-PP.
Já no que respeita aos três principais mercados que procuram Portugal como destino turístico, gostava de
salientar o seguinte: em relação ao Reino Unido, o crescimento em hóspedes acumulado até julho de 2014 foi
de 14,8%; no que respeita à Alemanha, mercado sempre difícil, o crescimento em hóspedes acumulado até
julho de 2014 foi de 8,3%; já no que diz respeito a Espanha, nosso principal mercado e que alguns achavam
impossível crescer mais, o crescimento em hóspedes acumulado até julho de 2014 foi de 18,9%.
Mas há também mercados novos que estão a chegar ao País, e a repetir, dos quais destaco três: Angola,
no qual o crescimento em dormidas acumulado até junho de 2014 foi só de 43,2%; China, no qual o
crescimento em dormidas acumulado até junho de 2014 foi só de 59,9%; e Luxemburgo, no qual o
crescimento em dormidas acumulado até junho de 2014 foi 32,1%.
Srs. Deputados, podem voltar a aplaudir, porque é mérito das empresas e dos empresários portugueses.
Aplausos do CDS-PP.
Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Estes resultados por parte deste sector, que está a puxar pela
economia, encontram a sua explicação em alguns fatores, mas evidentemente no esforço dos empresários e
dos trabalhadores.
O destino é bom e diversificado, o que permite ter vários produtos para vários turistas — já não somos
fortes apenas no Algarve. Agora, com quotas de mercado relevante, temos as regiões do Algarve, como é
evidente, de Lisboa, da Madeira e do Porto e Norte, o que compreende uma razoável cobertura do território.
Temos empresas e trabalhadores dinâmicos e competentes, que responderam bem ao desafio. Como
exemplo temos o setor da animação turística, em que o ritmo de criação de emprego destas empresas mais do
que duplicou após a liberalização feita por este Governo, qualificando o destino e criando emprego.
Temos um parque hoteleiro de muita qualidade, repito, de muita qualidade. Não queria deixar de dar uma
palavra de apreço ao Governo socialista, que foi fundamental na requalificação da oferta. Portanto, esta é uma
matéria de consenso, não de disputa política.
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
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O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — A desburocratização e a redução de custos de contexto da atividade do
turismo que este Governo tem vindo a fazer, e dos quais são exemplos a animação turística e a legislação
relativa às agências de viagens, cuja autora é a minha amiga e colega de bancada Cecília Meireles, têm
também aqui uma parte de responsabilidade.
As alterações feitas por este Governo no setor da promoção, que é um aspeto fundamental, passaram
decisivamente com sucesso. Passou a olhar-se para a promoção como uma matéria técnica e não política, o
que equivale a dizer que passou a ser mais eficaz, mais certeira e mais simples.
Permitam-me dar alguns exemplos para melhor clarificar este último fator, que visou aproximar a promoção
da cadeia de distribuição de valor, estando agora o turismo, nas suas várias fases — planeamento, reserva,
experiência e partilha —, muito mais próximo do consumidor.
Foi lançado um programa intenso de captação de imprensa internacional para vir a Portugal e escrever
sobre Portugal, visitar Portugal e tirar as suas conclusões. Foram realizadas, pelo menos, duas viagens de
jornalistas, criadas e organizadas pelo Turismo de Portugal. Os resultados, obviamente, estão à vista: a
notoriedade de Portugal é hoje muito maior e a perceção é muito melhor.
Intensificou-se um programa de captação de rotas aéreas e operadores turísticos, em parceria com a ANA,
de forma a haver mais voos para Portugal e os resultados estão à vista, nomeadamente em Lisboa e no Porto.
Entrou-se no marketing digital, que permite que hoje tenhamos promotores de motores de busca nas redes
sociais, na Internet, onde andam os turistas, onde andam novos mercados, onde andam novos consumidores
e, obviamente, essa matéria até foi alvo de elogio da Organização Mundial do Turismo.
Em suma, os dados do turismo em Portugal são extremamente positivos, prevendo-se que esse setor
continue a crescer ainda mais. Para isso têm contribuído, repito, as empresas, os agentes turísticos, mas
também o próprio Governo, que, com medidas muito concretas e com um diálogo muito concreto e muito
permanente com o setor, tem tido bons resultados.
É que a nível do reconhecimento internacional, Portugal também conseguiu conquistar — tomem atenção,
Srs. Deputados — 15 prémios no World Travel Awards, evento que distingue a excelência do setor da indústria
do turismo. O evento galardoou, por exemplo, a cidade do Porto, a de Lisboa, as ilhas da Madeira, a TAP, o
Turismo de Portugal, a empresa Douro Azul e oito hotéis portugueses.
Sr.as
e Srs. Deputados, o turismo é, de facto, um setor que merece ser acarinhado, é, de facto, um setor
importante, e foi por essa importância que quis fazer a declaração de hoje.
Aplausos do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Para pedirem esclarecimentos, inscreveram-se os Srs. Deputados Bruno Dias, do
PCP; Mariana Mortágua, do BE; Nuno Encarnação, do PSD, e Hortense Martins, do PS.
Entretanto, o Sr. Deputado Hélder Amaral informou a Mesa que pretende responder em conjuntos de dois
pedidos de esclarecimento.
Tem a palavra o Sr. Deputado Bruno Dias.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Hélder Amaral, falou dos bons resultados do
setor do turismo registados até agora, este ano, e principalmente este verão, e o que quero dizer, em primeiro
lugar, é que ainda bem que há bons resultados neste setor.
Quando o turismo ganha, ganhamos todos, dirá V. Ex.ª. Pois é, o problema é que uns ganham quase tudo
e outros ganham quase nada. Aliás, não admira que V. Ex.ª tenha vindo outra vez com o andor do Fórum da
competitividade, que é, afinal, o inquérito ao patronato, que dirá, certamente, que em Portugal se está muito
bem com a concentração de riqueza, em que a parte dedicada aos salários e aos trabalhadores é cada vez
menor face à riqueza que é gerada e obtida.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — E é essa, exatamente, a questão incontornável que se coloca, que é sobre a
tradução concreta dos resultados que aqui referiu.
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Sr. Deputado, não considera que está mais do que na hora de que os bons resultados em setores como o
do turismo, que se verificaram agora, se devem traduzir, finalmente, na compensação, na atualização e nos
aumentos dos salários que os trabalhadores devem exigir e merecer no setor do turismo, ao contrário do que
tem acontecido, até com salários em atraso, situação que fomos acompanhando ao longo destes meses, em
determinadas cadeias hoteleiras e em determinadas empresas que continuam a tratar os seus trabalhadores
de uma forma indigna?
De resto, Sr. Deputado, há algo de errado no retrato que procurou trazer aqui. Os senhores, que durante
estes anos têm falado tanto do modelo de crescimento assente nas exportações, deviam, porventura, ter
menos foguetório, mais prudência e mais respeito pelas dificuldades que o País continua a atravessar.
É que, Sr. Deputado, sabe o que se passou nos primeiros sete meses deste ano? Eu digo-lhe: a balança
de bens e serviços agravou-se em 847 milhões de euros face ao período homólogo do ano passado. Mesmo
com os resultados positivos do turismo, as outras componentes evoluíram negativamente na balança, de tal
maneira que quase engoliram esses indicadores. Esta realidade concreta, em que as importações de bens
crescem três vezes mais do que as exportações, deve dar que pensar e fazem desabar, com estrondo, a
propaganda do Governo.
Para terminar, Sr. Deputado, uma última questão que o senhor ignorou completamente, mas que não pode
deixar de abordar na sua resposta: o IVA da restauração.
Quando os empresários da restauração, de Norte a Sul do País, enfrentam dificuldades crescentes porque
incorporam o aumento do IVA, este aumento brutal de impostos, esta carga fiscal que está a ser aplicada por
este Governo e que, não aumentando os preços, acabam por assumir, com o seu próprio prejuízo, a asfixia
fiscal que este Governo tem vindo a fazer, era muito importante que o autoproclamado partido do contribuinte
tivesse aqui uma palavra contra esta indigna política que tem vindo a ser levado a cabo neste setor
fundamental da economia, que também tanto contribui para o turismo e para os números que V. Ex.ª
apresentou.
É uma boa oportunidade que V. Ex.ª tem para fazer justiça, corrigindo o silêncio tão ensurdecedor que
dirigiu à restauração deste País.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Tem agora a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, Sr. Deputado Hélder Amaral, já
perdi as contas ao número de vezes que aqui discutimos o turismo. É isso que o CDS faz quando não quer
falar de mais nada.
Percebo que, se eu apoiasse este Governo, também não quereria ver, não quereria ouvir; não quereria
saber da justiça, que está um caos; não quereria lembrar-me do Ministro da Educação, que foi aqui obrigado
pelos parlamentares, em direto, a pedir desculpa; não quereria aperceber-me dos 80% de enfermeiros que
estão em greve lá fora por causa das condições das políticas que o Governo implementou no setor da saúde;
não quereria também, já agora, tomar consciência da falta de memória do meu Primeiro-Ministro, que é
sempre bastante indesejável e incómoda nos dias que correm.
E isto é só hoje. Isto são só as coisas de que o CDS tem de fugir, não querer ver, de não se querer lembrar
hoje. Mas há mais coisas, há todo o pano de fundo em que faz esta declaração política. Basta abrirmos a
página do INE e olhar para os indicadores económicos mais recentes: o indicador de atividade económica
desacelera, as exportações — o porta-aviões deste Governo — até sobe qualquer coisa, mas, que azar, as
importações ultrapassam as exportações. Portanto, o grande superavit comercial, que era o grande sucesso
da política económica deste Governo, está a desaparecer, já nem sequer existe, continuamos a acrescentar
mais dívida externa à conta das importações, que são maiores do que as exportações.
Quando olhamos para os dados do desemprego, reparamos que a taxa de desemprego diminui, mas
devido a vários fatores, e só um deles é a criação de emprego, os outros são a emigração. Aconselho-o, mais
uma vez, a olhar para a página do INE e ver o número de pessoas que vivem em Portugal, que decresce a
cada dia que passa.
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Há os estagiários, pagos com dinheiro do próprio Estado e dos contribuintes, que depois têm empregos
precários — nem são empregos precários, são estágios sem nenhumas garantias.
Há os desencorajados que desistiram de procurar emprego. Esta é uma economia que não cria
investimento, não tem investimento líquido nenhum; tem algum crescimento económico que se aproxima muito
mais de uma estagnação, de uma economia fantasma do que de um cenário de crescimento e de recuperação
que o Sr. Deputado aqui veio apresentar.
E este pouco crescimento que acontece depende do consumo. Ninguém sabe como, depois do que o
próprio partido do contribuinte castigou os consumidores e as pequenas empresas, com uma carga fiscal
inimaginável há dois anos ou há três anos, quando o CDS não estava no Governo e vinha defender os direitos
dos contribuintes.
No meio disto tudo, no meio de todo este cenário, encontramos o turismo, que é uma variável que vai
crescendo a contraciclo — tem toda a razão o Sr. Deputado —, mas que também tem dentro dela todos os
problemas da economia, a precariedade — é um setor cheio de precariedade, é onde grassam os baixos
salários, as poucas condições laborais, e sobre isso não conseguimos ainda ouvir uma palavra.
Nós já percebemos que este Governo tornou este País muito atrativo para quem vem de fora. A nossa
pergunta é: quando é que este Governo vai tornar este País atrativo para quem vive cá?
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Hélder Amaral.
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados, queria agradecer as perguntas do Sr.
Deputado Bruno Dias e da Sr.ª Deputada Mariana Mortágua não sem antes registar dois aspetos.
O primeiro aspeto é que tenho de pedir desculpa à Deputada Mariana Mortágua porque ainda sou eu e a
minha bancada que escolhemos o tema das nossas declarações políticas e não o Bloco de Esquerda. Um dia
hei de acertar com o tema do agrado e do gosto de V. Ex.ª, mas terá de esperar um pouco mais.
Depois, registo o incómodo da Sr.ª Deputada e o do Sr. Deputado Bruno Dias. Se há setor onde não há o
grande empresariado, os grandes lobbies, as grandes fortunas, é exatamente o do turismo.
Sabe, Sr.ª Deputada, no turismo há donos de restaurantes, pequenas e microempresas familiares,
empresas de animação turística, taxistas, guias, ou seja, é o maior setor da economia, é o setor mais
empregador, porque é completamente transversal à sociedade portuguesa e tem muita gente, muito português
que investe, que arrisca, que cria o seu próprio emprego. E esse resultado incomoda VV. Ex.as
.
Sr.ª Deputada, se o País é um País agradável para quem nos visita, é por uma razão muito simples: é
porque quem cá está sente-se muito confortável com o País que tem e tem muito orgulho no País.
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Vou dar-lhe mais dados deste setor para perceber que, de facto, é
importante. São dados de 2013: impacto direto no PIB — em Portugal, 5,8%, na Europa 3,1%, no mundo
2,9%: emprego direto — 7,2% em Portugal, 3,1% na Europa, 3% no mundo; emprego total — 18,2% em
Portugal.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Por que é que o emprego não aumenta?
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Respondendo também ao Deputado Bruno Dias, as exportações
continuam a ser um fator importante. Sempre dissemos que é preciso exportações, mercado interno e
financiamento. Estamos a tratar dos vários aspetos. Exportações — 19,6% em Portugal, 5% na Europa e 5,4%
no mundo; investimento, outro pilar — 12,5% em Portugal, 4,6% na Europa e 4,4% no mundo.
Percebo que são, de facto, números arrasadores, que mexem com aquela tentação, às vezes obsessão, de
os partidos, nomeadamente o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista Português, quererem apenas apostar
no quanto pior, melhor. E qualquer boa notícia incomoda e fazem o desafio para que, de facto, possamos falar
de coisas laterais.
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Para terminar, Sr. Deputado Bruno Dias, não quero fugir à sua pergunta sobre o IVA na restauração. A
melhor solução para os empresários da restauração é aquilo que o atual Secretário de Estado e o Governo
está a fazer, que é licenciamento zero, deixar a vida dos empresários entregues ao mercado e a si próprios e
não sempre com a interferência do Estado.
Sabe qual é a melhor resposta para a dificuldade que existe — porque logo que haja contas consolidadas
ou largas condições, nós queremos baixar a carga fiscal, disso não tenha dúvidas —, a melhor ajuda que se
dá aos empresários da restauração? Mais turistas, mais visitantes, mais gente a consumir e a comprar
refeições. É isso que está a acontecer e esse é o caminho que vamos fazer, que é promover melhor, promover
com segurança, promover virado para o mercado, trazer mais visitantes, aumentar os rendimentos.
Sr. Deputado, repare bem no rendimento que estamos a ter por cada turista, pelo número de refeições e
pelo valor pago por cada refeição, pelas compras. Tudo isso mexe com a economia e, como digo, mexe com
toda a economia e não com aqueles papões nem com aqueles fantasmas que tanto gostam de assinalar e
que, de facto, são todos eles derrotados pelos dados do turismo.
Aplausos do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Seguidamente, para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Nuno
Encarnação, do PSD.
O Sr. Nuno Encarnação (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Hélder Amaral, congratulo-me e dou-lhe
os parabéns por abordar este tema, que muitas vezes é esquecido nesta Casa, mas também dou os parabéns
sobretudo aos empresários e a cada uma das pessoas que trabalham neste setor.
Cada uma dessas pessoas é responsável pelo nosso sucesso, pelo sucesso dos números que trouxe hoje,
pelo sucesso deste País, pela qualidade do turismo em Portugal, pela maneira como nós recebemos os
turistas em Portugal e pela maneira como eles saem satisfeitos com o turismo neste País, ao qual futuramente
regressarão com mais e mais pessoas. Esta é uma maneira simples e singela de agradecer a todos estes
responsáveis — eles, sim, são os grandes responsáveis — destes números que o Sr. Deputado acabou de
referir.
Mas queria voltar a frisar a importância que este setor tem no nosso PIB, o crescimento de dois dígitos nos
dados daa captação de turistas, todo um novo paradigma de fazer mais com menos, com menos recursos,
evidentemente, o paradigma da promoção que também mudou.
Sr. Deputado, queria também deixar esta questão: como é que nós podemos continuar a crescer, de que
forma e quais são os novos rostos da promoção que este Governo também tem apresentado nos últimos
tempos?
A quebra da sazonalidade é importantíssima. Este País mudou, e muito. Vale a pena continuar a apostar
da maneira como este Governo tem apostado neste setor, não esquecendo também que é uma política que
tem obtido consensos a nível parlamentar e a nível geral e vale a pena perceber que, quando há consensos
amplos, a economia ganha, a economia cresce e o País fica mais rico.
Aplausos do PSD.
A Sr.ª Presidente: — Ainda para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Hortense Martins,
do PS.
A Sr.ª Hortense Martins (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, Sr. Deputado Hélder Amaral,
muito obrigada por ter trazido este tema ao Plenário.
Como todos sabem, este setor é relevante e o PS, desde há muito, que o considera estratégico para o
nosso País. E o Dia Mundial do Turismo está próximo.
Mas, Sr. Deputado, tenho de dizer-lhe que estes resultados existem apesar do Governo, apesar das
políticas do Governo.
Vozes do PS: — Exatamente!
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A Sr.ª Hortense Martins (PS): — Vou apontar-lhe alguns exemplos em que demonstro isso mesmo. E até
reconheço que é uma atitude correta do Sr. Deputado — e do Sr. Secretário de Estado do Turismo — ter
reconhecido que estes resultados não se devem ao atual Governo, mas que vêm de políticas anteriores,
porque, como se sabe, este é um setor em que os resultados não aparecem logo, mas as medidas negativas,
essas, repercutem-se no imediato e também se vão repercutir no futuro.
Entenda isto como uma intervenção positiva e como alertas que têm de ser tomados em consideração.
Senão, vejamos: política em relação à promoção, contratualização.
Sr. Deputado, sabe perfeitamente que estamos a acabar o ano, estamos em outubro. E qual é a
contratualização para o próximo ano? Os empresários nada sabem — zero! A única coisa que sabemos é que
há promoção com os jornalistas, com os meios na Internet. Mas onde é que está a verdadeira política de
contratualização? A não ser que agora o Governo decida prescindir dela, e isso não encontra em nenhum
país.
Em relação à questão da sustentabilidade do próprio turismo, todos os países, ainda mais os países
concorrentes do nosso, inclusivamente até os países dos Balcãs, que hoje em dia se assumem como destinos
turísticos, apostam na sustentabilidade do turismo e no chamado turismo sustentável: criação de produtos,
diversificação em termos ambientais, valorização do produto cultural, histórico, etc. O que é que está a ser
feito em relação à política do Governo para este setor? Nada! Pelo menos que se saiba, porque continuamos à
espera do plano estratégico nacional do turismo, que finda agora e continua sem ser apresentado. Penso que
é fundamental que isso seja do conhecimento de todos.
A Sr.ª Presidente: — Queira concluir, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Hortense Martins (PS): — Concluo já, Sr.ª Presidente, chamando a atenção para algo que também
não é de somenos.
Os números que referiu revelam crescimento, sim senhor, mas ainda estamos longe de atingir os números
de 2008.
E que dizer daquela invenção da fiscalidade verde? Que mais taxas recairão sobre o setor do turismo ao
nível das taxas aeroportuárias, das viagens, das dormidas? Isto é que é promover a competitividade do
turismo? Quando o turismo, que se revela um setor resiliente, começa a apresentar bons resultados no sentido
da sua repercussão no emprego e no PIB, qual é a ideia do Governo? Lançar imediatamente mais taxas, mais
impostos. Isso viu-se agora com esta reforma, com as taxas aeroportuárias. É esta a promoção da
competitividade de um setor? Não, Sr. Deputado, não é promover a competitividade do setor. E sabe
perfeitamente que é necessário investimento público.
A região Norte foi desenvolvida com forte investimento público ao nível do turismo, mas a região Centro,
por exemplo, não — o Sr. Deputado sabe-o muito bem, uma vez que é a sua região —, e está muito longe
ainda de apresentar os resultados desejáveis. E este é apenas um exemplo.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Hélder Amaral.
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, queria agradecer aos Srs. Deputados Hortense Martins
e Nuno Encarnação as perguntas que me colocaram.
Permitam-me que comece por responder à Sr.ª Deputada Hortense Martins.
Sr.ª Deputada, por uma questão de rigor, tenho de dizer que quando fala em fiscalidade verde fala de uma
proposta de um grupo de trabalho, não fala de nenhuma medida ou proposta do Governo ou de alguma das
bancadas da maioria. Portanto, não vale a pena precipitar-se ou ficar assustada. Tenha calma, porque quando
houver propostas do Governo ou da maioria estaremos disponíveis para as discutir. As propostas de um grupo
de trabalho são isso mesmo: propostas de um grupo de trabalho.
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Sr.ª Deputada, percebo por que é que o Partido Socialista, apesar de eu lhe ter feito um elogio em relação
àquilo que foi um bom trabalho na qualificação da oferta, não conseguiu melhores resultados. E a pedra de
toque chama-se «promoção».
Fiz um elogio à anterior Secretária de Estado, que teve a coragem de fazer o que nunca ninguém tinha
querido fazer, que foi uma alteração racional, pondo o dinheiro disponível onde ele é necessário e dando
competências necessárias às regiões do turismo, fazendo a reforma administrativa do turismo e dando, até,
capacidade para que haja promoção interna no tal mercado alargado, que inclui Espanha, que é o nosso
principal mercado. A Sr.ª Deputada ficou presa ao antigo regime despesista, que duplicava funções, que
multiplicava atividades e que, pura e simplesmente, vivia de acordo com o Orçamento do Estado e sem
nenhum retorno para o turismo.
Protestos da Deputada do PS Hortense Martins.
Ao encontrar governantes que resolvem libertar os empresários, libertar o setor para andar por si muito
mais vezes, a Sr.ª Deputada até deveria estar de acordo. E sabe porquê? Nós tínhamos 1% de quota do
mercado da Alemanha e a Sr.ª Deputada, tal como eu, assistiu a uma reunião da Associação das Agências de
Viagens com o presidente do turismo alemão no sentido de captarmos mais mercado alemão. Isso aconteceu
sem nenhuma interferência do Governo; é o setor a fazer por si, sem precisar de ajuda do Governo.
E o Sr. Deputado Nuno Encarnação disse bem: a pedra de toque chama-se «promoção». Enquanto os
governos socialistas tinham uma visão ideológica e política sobre a promoção — criou-se o Allgarve, criou-se
um conjunto de marcas que não tinham nada a ver com a procura nem com a necessidade dos turistas que
visitavam Portugal (e vou ficar-me por aqui, para ser assertivo) —,…
Protestos da Deputada do PS Hortense Martins.
… o que este Governo fez foi uma coisa mais simples: promoção focalizada no mercado; promoção junto
de quem tem influência na tomada de decisão dos turistas; promoção junto dos operadores turísticos
estrangeiros e promoção, por isso mesmo, mais barata, menos ideológica, virada para a procura e virada,
obviamente, para conseguir mais quotas de mercado.
Consequências: aumentámos significativamente a quota de turistas. Quer queira, quer não, ultrapassámos,
até, Espanha e fomos para lá do que diziam que eram as primaveras árabes.
Protestos da Deputada do PS Hortense Martins.
Sr.ª Deputada, vou dizer-lhe algo que a deveria deixar satisfeita e com muita esperança para o futuro. Sabe
o que é? Repare no que vai acontecer a nível do alojamento local; repare quem são os empresários; repare no
que vai acontecer com a utilização das novas ferramentas informáticas; veja quantos jovens vão criar o seu
próprio emprego no setor; veja quanta gente nova, quanto sangue novo nós vamos injetar no setor.
E vou dizer-lhe algo que a deveria deixar contente: o rendimento por cada turista/quarto/noite aumentou. O
rendimento pelo que cada turista gasta no País aumentou. E sabe onde é que aumentou mais? No setor de
cinco estrelas. Ou seja, aquela ideia de que Portugal é um país para turismo low cost, pobrezinho, é rebatida e
combatida pelos dados que aqui trouxe.
Nós estamos a vender melhor turismo, com melhor qualidade, para mais turistas, e estamos a ganhar
dinheiro com isso. E isso deveria ser elogiado e não apoucado.
Aplausos do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — A próxima declaração política, do PCP, vai ser proferida pelo Sr. Deputado Jorge
Machado, a quem dou a palavra.
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O Sr. Jorge Machado (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Bem podem o PSD, o CDS e o
seu Governo falar do fim da troica, repetir até à exaustão o discurso da recuperação e do novo ciclo, sempre
de olho nas eleições que se aproximam.
O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — É mentira, não?!
O Sr. Jorge Machado (PCP): — A verdade é que este discurso não bate certo com a realidade, não reflete
o que são as opções deste Governo de desgraça nacional, que insiste no agravamento da exploração de
quem trabalha.
É caso para dizer «olha para o que eles fazem, não olhes para o que dizem».
A verdade é que o Governo insiste no caminho do agravamento da exploração, mesmo sem a desculpa da
troica, o que comprova que, mais do que uma obrigação decorrente de uma qualquer imposição estrangeira, a
exploração de quem trabalha faz parte do ADN do PSD e CDS.
Depois do ataque aos salários e aos direitos, nomeadamente a facilitação e embaratecimento dos
despedimentos, a redução do pagamento do trabalho suplementar, a redução dos feriados e, entre outras
medidas, o ataque à contratação coletiva de trabalho, as recentes declarações das organizações
representativas dos patrões, exigindo o prolongamento do corte pela metade no pagamento das horas
extraordinárias e do trabalho em feriados, é mais uma manobra e uma mistificação.
O objetivo é, para o PCP, claro. Patronato e Governo querem usar a redução pela metade do pagamento
do trabalho extraordinário e do trabalho em dias de feriado ou a redução da taxa social única como moeda de
troca e/ou propaganda no processo de discussão do salário mínimo nacional.
Para o PCP, o aumento do salário mínimo nacional é da mais elementar justiça. Impõe-se por uma questão
de justiça na distribuição da riqueza e não pode servir como moeda de troca num processo que visa prolongar
no tempo os cortes dos salários no setor privado. Isto é, o aumento do salário mínimo nacional não é, nem
pode ser, compensado com medidas que visam a redução generalizada dos salários ou que comprometem as
receitas da segurança social.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Hoje, fruto das opções políticas de sucessivos governos PS, PSD e CDS,
o salário mínimo nacional vale muito menos do que quando foi criado. Se o salário mínimo nacional tivesse
acompanhado a evolução da inflação desde que foi criado, hoje teria que ser aumentado em 100 €, ficando
assim nos 585 € e não nos atuais 485 € que, na realidade, significam 432 € líquidos por um mês inteiro de
trabalho.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Bem lembrado!
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Em vez de valorizar salários também por via do aumento do salário
mínimo nacional, sucessivos governos, ora PS, ora PSD, com ou sem o CDS, alteraram profundamente a
estrutura da distribuição da riqueza no nosso País.
Se, em 1975, fruto da Revolução de Abril e da consequente valorização dos salários, 73% da riqueza
nacional se destinava ao pagamento de salários, em 2013 os salários representavam apenas 37% da riqueza
nacional. Já os rendimentos de capital sofreram o processo inverso: em 1975, representavam 27%; em 2013,
já representavam mais de 62% da riqueza nacional.
Para que se perceba a dimensão do processo de concentração da riqueza nacional, importa referir que 1%
da população detém cerca de 25% da riqueza nacional e 5% da população nacional acumula
escandalosamente 50% da riqueza produzida.
É este processo de concentração da riqueza, agravamento das injustiças e da exploração de quem
trabalha que importa travar com medidas de aumento geral dos salários, em que se integra o aumento do
salário mínimo.
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Mais: queremos afirmar que o hipotético aumento do salário mínimo nacional não é uma dádiva do
Governo PSD/CDS. O aumento do salário mínimo decorre da luta dos trabalhadores e é imposto ao Governo
contra a sua vontade.
Na verdade, o Governo não tem feito outra coisa senão protelar, adiar o aumento do salário mínimo
nacional e não temos dúvidas em afirmar que, se dependesse exclusivamente da sua vontade, o salário
mínimo nacional não seria aumentado.
A primeira desculpa foi a troica, afirmando que era esta e o dito Memorando de Entendimento que
impediam o aumento do salário mínimo. Depois de esgotada esta desculpa, veio a necessidade de um acordo
de concertação social.
É de referir que o Governo adiou quanto pôde o início da discussão do aumento do salário mínimo e
mesmo quando foi obrigado a discuti-lo tudo fez para adiar o dito acordo. Importa ainda denunciar que o
Governo sabe muito bem que já existe um acordo de concertação social, de 2006, que estipulou o aumento do
salário mínimo para os 500 € em 2011, que nunca foi cumprido.
Assim, estamos face a desculpas e mais desculpas, umas mais esfarrapadas do que as outras, para não
aumentar o inaceitavelmente baixo salário mínimo nacional.
Para o PCP, é claro que a intenção do Governo não é, nunca foi, nem será aumentar salários, valorizar
direitos e diminuir a exploração de quem trabalha.
Sabemos que foi e é a luta dos trabalhadores, e não a vontade do Governo, que irá determinar o aumento
do salário mínimo nacional. Tal como em 2006, serão os trabalhadores, por via da luta, que vão conquistar o
aumento dos salários, pelo que saudamos as jornadas de luta promovidas e já agendadas pela CGTP-IN para
a quinzena de 23 de setembro a 5 de outubro.
Por outro lado, as ditas medidas de compensação não são do Governo, para as poder dar ou trocar. Os
cortes dos salários, por via da redução para metade do montante pago por trabalho extraordinário e dias
feriado, são inaceitáveis e o Governo não tinha, nem tem, legitimidade para os aplicar. O mesmo se diga de
uma eventual descida da taxa social única, que, na verdade, representaria pôr a segurança social a pagar uma
parte do aumento do salário mínimo, ou seja, retirando aos trabalhadores por outra via o valor do próprio
aumento.
Assim, o Governo não pode oferecer algo que não é seu, nem tão-pouco pode usar o fim dos cortes do
trabalho extraordinário como propaganda. Também aqui é a luta dos trabalhadores que irá impedir que o
agravamento da exploração, por esta via de cortes nos salários, se torne definitivo.
O PCP rejeita assim, e determinantemente, este caminho de chantagem e uso do aumento do salário
mínimo nacional como moeda de troca e reafirma que se impõe o aumento dos salários e a eliminação de
todas as medidas tomadas no âmbito e sob a desculpa da troica.
Preocupados com as eleições, PSD e CDS tudo farão para continuar a tentar enganar os milhões de
portugueses, cujos interesses traíram depois de terem recebido o seu voto.
Que a propaganda, as mistificações, o uso e abuso da mentira por parte do Governo não permitam que se
baixe a guarda ou se dê um segundo que seja de folga a este Governo de desgraça nacional. Cada minuto ou
segundo que seja a mais deste Governo significa o agravamento das injustiças, o definhamento do País e o
aumento da exploração de quem trabalha, e não há rebuçados eleitorais, estratégias de comunicação ou de
propaganda que consigam sequer disfarçar esta realidade.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Inscreveram-se, para pedir esclarecimentos, os Srs. Deputados Pedro Roque, do
PSD, Sónia Fertuzinhos, do PS, e Pedro Filipe Soares, do BE.
O Sr. Deputado Jorge Machado responderá separadamente a cada Sr. Deputado.
Tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Roque.
O Sr. Pedro Roque (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Jorge Machado, começo por felicitá-lo por ter
escolhido e nos ter trazido aqui hoje o tema do salário mínimo nacional. Fê-lo hoje, precisamente no dia em
que irá ser assinado um acordo de concertação social que adotará aquela que foi a proposta negocial da UGT
de aumento do salário mínimo nacional para 505 € a partir do dia 1 de outubro e durante o prazo de 15 meses.
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Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Estaria até tentado, se tal fosse possível — mas o devir do tempo não o permite —, a não lhe colocar estas
questões e o senhor retiraria a sua intervenção. É que, de facto, a sua intervenção, no dia em que vai ser
assinado o acordo, cai, desde logo, pela base.
Protestos do PCP.
O Sr. Deputado veio aqui falar-nos na exploração de quem trabalha no dia em que Governo e parceiros
sociais, parceiros sindicais e parceiros patronais assinam um acordo de concertação social que aumentará o
salário mínimo nacional.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
E onde V. Ex.ª fala em luta dos trabalhadores, nós falamos em diálogo social.
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. João Oliveira (PCP): — Propaganda!
O Sr. Pedro Roque (PSD): — E dizemos que esse diálogo é construtivo e que é esse diálogo que permite
avançar.
Recordamos que o salário mínimo nacional ficou congelado, desde 2011, em virtude do Memorando de
Entendimento. Neste momento, em que o País conseguiu vencer essa difícil provação, que foi o resgate
económico, e em que o País apresenta sinais de crescimento económico e de redução do desemprego, o
Governo cumpre a sua promessa, é fiel aos seus compromissos,…
O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Muito bem!
O Sr. Pedro Roque (PSD): — … negoceia na concertação social e assina um acordo de concertação
social que adotará a proposta da UGT e que atualizará o salário mínimo nacional.
E onde VV. Ex.as
dizem CGTP-IN e funcionam como uma espécie de arauto de publicidade institucional das
formas de luta agendadas no início do ano dessa central,…
O Sr. Miguel Santos (PSD): — Essa é que é a verdade!
O Sr. Pedro Roque (PSD): — … nós dizemos UGT, parceiros sociais, Governo, concertação social e
aumento do salário mínimo nacional.
A pergunta que lhe deixo, Sr. Deputado Jorge Machado, é se não acha que, de facto, a concertação social,
mais uma vez, funcionou neste País, se não acha que os parceiros sociais, de forma construtiva, e
naturalmente com a exceção da CGTP, estabeleceram um acordo que é positivo para os trabalhadores deste
País.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Machado.
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Pedro Roque, sabemos da manobra de
propaganda em curso.
Protestos do PSD e do CDS-PP.
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E reafirmamos aqui que o aumento do salário mínimo nacional, ao contrário do que o Sr. Deputado afirma,
não resulta do diálogo social. O Governo viu-se obrigado a aumentar o salário mínimo nacional por causa da
luta dos trabalhadores. Poder-se-á dizer que há um outro argumento, que aqui também avançámos, que é o
calendário eleitoral. Mas sabemos que, no fundo, o que obrigou o Governo a aumentar o salário mínimo
nacional foi a luta dos trabalhadores e, portanto, este aumento não é uma dádiva do Governo.
Protestos do PSD.
Mais: nós sabemos, Sr. Deputado Pedro Roque, que o Governo tentou adiar, até ao limite, o aumento do
salário mínimo nacional. Sr. Deputado, a maioria PSD/CDS-PP, que é tão rápida — é de um dia para o outro
— a aumentar o corte dos salários, a promover o corte dos direitos, é a mesma maioria que andou mais de um
ano em concertação social a adiar o aumento do salário mínimo nacional.
Sabemos que esta maioria, que é tão diligente a cortar nos salários e a promover as injustiças, demorou
tanto e tanto tempo a aumentar o salário mínimo nacional.
Não se gabe de uma coisa que não tem legitimidade, o Governo não queria. Se dependesse
exclusivamente da sua vontade, este Governo não aumentaria nunca o salário mínimo nacional. Foi a luta dos
trabalhadores que o obrigou a aumentar o salário mínimo nacional.
Mais, a desculpa do acordo de concertação social, Sr. Deputado, é completamente esfarrapada.
Protestos do CDS-PP.
O Sr. Deputado sabe — e a maioria PSD/CDS-PP sabe-o muito bem — que já havia um acordo de
concertação social de 2006 que obrigava a aumentar o salário mínimo nacional para 500 € em 2011. Agora,
em 2014, depois de três anos de Governo, vêm dizer que, afinal, o aumento do salário mínimo nacional é para
os 505 €, mais 5 € do que estava estipulado desde 2006! Mas com uma agravante, Sr. Deputado: é que este
aumento do salário mínimo nacional não vem sem contrapartidas para os patrões — e é pena que não tenha
abordado essa matéria.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Não quer!
O Sr. Jorge Machado (PCP): — É que, ao mesmo tempo que aumentam, nestes valores, inaceitavelmente
baixos, o salário mínimo nacional, a verdade é que vêm mais descontos na taxa social única para o patronato.
Isto é, o Governo está a utilizar a segurança social, o dinheiro que as empresas entregam para a segurança
social, que é património dos trabalhadores, para financiar aquilo que deveriam ser os patrões a pagar.
No fundo, estão a descontar naquilo que são os direitos dos trabalhadores, a segurança social, o pequeno
esforço que vai ser pedido aos patrões.
A Sr.ª Presidente: — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Portanto, esta medida, Sr. Deputado, tem muita «perna curta»
relativamente ao que foi aqui anunciado.
Protestos do PSD.
Efetivamente, o que o Governo se está a preparar para fazer é mais um golpe nas receitas da segurança
social, fazendo, à custa dos trabalhadores, o pagamento do aumento do salário mínimo nacional.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Sónia Fertuzinhos.
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A Sr.ª Sónia Fertuzinhos (PS): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Jorge Machado, vamos dizê-lo de forma
clara e com todas as letras: aumentar o salário mínimo nacional hoje é uma decisão que o Governo toma tarde
e de forma claramente oportunista.
Vozes do PS: — Muito bem!
A Sr.ª Sónia Fertuzinhos (PS): — Aproximam-se as eleições e há que começar a dar as boas notícias.
Vozes do PS: — Claro!
A Sr.ª Sónia Fertuzinhos (PS): — O Sr. Deputado Pedro Roque disse: o diálogo social é, afinal, produtivo
e permite avançar. Mas o Sr. Deputado esqueceu-se de completar a frase, dizendo: é produtivo e permite
avançar quando o Governo quer e como o Governo quer.
O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Quando pode!
A Sr.ª Sónia Fertuzinhos (PS): — É que, Sr. Deputado e Srs. Deputados da maioria, há muito tempo que
há um consenso na concertação social, acompanhado de um consenso em toda a sociedade portuguesa,
sobre a necessidade de aumentar o salário mínimo nacional. E o Sr. Primeiro-Ministro disse de tudo. Disse
que era uma profunda irresponsabilidade, disse que estava tudo ensandecido quando se propunha aumentar o
salário mínimo nacional. E os Srs. Deputados da maioria podem dizer: sim, mas agora a economia está
pujante e fulgurante. Mas não está, Srs. Deputados! Os sinais de incerteza de ontem mantêm-se hoje. E a
única razão por que o Governo, agora, concede à concertação social o aumento do salário mínimo nacional é
porque lhe começa a dar jeito.
Vozes do PS: — Claro!
A Sr.ª Sónia Fertuzinhos (PS): — E é absolutamente imperativo, como o PS disse muitas vezes, e diz há
muito tempo, estabilizar rendimentos — e estabilizar rendimentos depois dos cortes e aumentos de impostos a
que os portugueses assistiram nos últimos três anos.
Por isso, Sr. Deputado Jorge Machado, a minha pergunta é esta: o que é que a economia e os
trabalhadores já poderiam ter beneficiado se o Governo tivesse sabido acompanhar a concertação social
assim que a concertação social declarou aceitar e concordar com o aumento do salário mínimo nacional?
E não venham dizer que não era o Governo que tinha de determinar, porque, sim, Srs. Deputados, é o
Governo que tem, por lei, a capacidade de determinar o aumento do salário mínimo nacional. Agora, o
Governo determina, porque lhe dá jeito. Mais vale tarde do que nunca. Mas a verdade, Srs. Deputados, não é
que o Governo aumenta porque quer. A verdade é que o Governo aumenta porque lhe dá jeito.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Machado.
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Sónia Fertuzinhos, agradecemos o pedido
de esclarecimento, como não pode deixar de ser. Para nós é claro que se perspetiva um aumento do salário
mínimo nacional com duas condicionantes, que são determinantes. Uma primeira condicionante, claramente
oportunista, é a condicionante do período eleitoral — e o Governo faz uma gestão inaceitável e vergonhosa do
aumento do salário mínimo nacional, aproximando-o do calendário eleitoral e ignorando completamente o
sofrimento que é viver com 432 € líquidos por mês. Portanto, adiaram o aumento para o aproximar das
eleições, o que determina, é claro, uma visão oportunista daquilo que é a gestão do salário mínimo nacional.
A segunda condicionante, não menos determinante, é a condicionante da luta dos trabalhadores. O
Governo sabia, e sabe muito bem, que há ações de luta que aconteceram no passado e há já uma quinzena
de luta promovida pela CGTP, precisamente em torno do salário mínimo nacional.
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Portanto, foi a luta que determinou, em 2006, o acordo que visava o aumento do salário mínimo nacional. E
foi a luta que determinou, agora, o aumento do salário mínimo nacional, importando aqui referir que, ainda por
cima, ele fica muito aquém daquilo que era necessário para os trabalhadores portugueses.
O PCP apresentou um projeto de resolução, que aqui queríamos destacar, que implicava o aumento do
salário mínimo nacional para 515 €, com efeitos retroativos a junho de 2014, e com aumentos sucessivos que
visavam consagrar o salário mínimo nacional nos 600 €, no início de 2015.
Queremos aqui destacar este simples facto: se o salário mínimo nacional tivesse acompanhado aquilo que
é a evolução da inflação, então, o salário mínimo nacional, hoje, teria de estar nos 585 €, e não nos 485 €, que
significam 432 € — 585 € e não 505 €!
O Sr. João Oliveira (PCP): — 585 €!
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Queremos também referir o seguinte: efetivamente, há um acordo de
concertação social. Portanto, desde 2006, o acordo sobre o salário mínimo nacional — salário que, em 2011,
já deveria estar nos 500 € — não tem vindo a ser cumprido. E nisso há responsabilidades, Sr.ª Deputada, por
parte quer do Governo PS quer do Governo PSD/CDS-PP.
Consideramos é que esta manobra de propaganda é de uma enorme hipocrisia. O salário mínimo nacional
já deveria estar nos 500 €, em janeiro de 2011. Este Governo andou a protelar e a adiar o aumento do salário
mínimo nacional. Fizeram uma utilização política e propagandística do aumento do salário mínimo nacional.
Ora, queríamos aqui destacar que, nesta matéria, não deveríamos ter em consideração o calendário
eleitoral. Hoje, há cada vez mais portugueses que, trabalhando e recebendo o salário mínimo nacional,
empobrecem enquanto trabalham.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Não foi isso que o PSD disse!
O Sr. Jorge Machado (PCP): — E o Governo adiou, adiou, adiou o aumento do salário mínimo nacional.
Manteve em sofrimento milhares de portugueses com salários que são inaceitáveis para, agora, encostar esse
aumento ao calendário eleitoral.
A Sr.ª Presidente: — Queira concluir, Sr. Deputado.
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Isto é uma vergonha! É uma vergonha brincar com a vida das pessoas.
Não queríamos deixar de fazer essa mesma denúncia, que, para o PCP, é bastante clara, de que foi a luta dos
trabalhadores que efetivamente obrigou ao aumento do salário mínimo nacional. Pena é que não tenha sido
mais cedo.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Filipe Soares.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Jorge Machado, cumprimento-o pela
intervenção que fez.
A maioria anunciou — e já o sabíamos pela comunicação social — que hoje estamos a assistir a esse
passo final da negociação para o aumento do salário mínimo nacional. Creio que a primeira pergunta que
qualquer trabalhadora e que qualquer trabalhador fará é: onde é que andou o Governo durante três anos em
que manteve o salário mínimo congelado? Onde andou o Governo que, durante três anos, retirou aos
trabalhadores aquele que era o resultado de um acordo na concertação social e agora apresenta um valor que
não dá sequer para mais do que um café por dia? É exatamente disso que estamos a falar: dá um café por dia
às trabalhadoras e aos trabalhadores e não repõe aquilo que, durante três anos, o Governo retirou aos
trabalhadores com o congelamento do salário mínimo.
É a maior demagogia, porque sabemos que se todos os anos houvesse eleições todos os anos este
Governo aumentaria o salário mínimo. Mas, como só há eleições no próximo ano, neste momento, em que já
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cheira a eleições, chegou a propaganda. Por isso, as pessoas dizem, e com razão: chegassem as eleições
mais cedo e mais cedo teria chegado o aumento do salário mínimo.
Protestos do PSD.
Vozes do BE: — Muito bem!
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr.as
e Srs. Deputados, acalmem-se, não se enganem. Não fiquem
satisfeitos com este valor, porque se tivessem cumprido o acordo de contratação coletiva de 2006, onde
Governo, patrões e sindicatos estiveram de acordo, chegava-se, este ano, ao valor de 545 €, muito mais do
que aquilo que este Governo aceitou, e sem os descontos para os patrões. É que já sabemos o que vem a
seguir: o Governo diz que aumenta o salário mínimo com uma mão, mas retira com a outra no pagamento das
horas extraordinárias, retira, depois, porque — como disse que faria — não repõe os feriados que disse que
seriam retirados por dois anos e que seriam novamente dados para as pessoas os poderem gozar por direito
delas, pois é fruto do seu trabalho.
Também não ouvi a maioria falar, com toda a transparência, de como vão reduzir o pagamento da TSU,
porque o que está em causa é que, deste valor, desaparecem 5 € para a segurança social, porque é esse o
desconto que a maioria está a fazer aos patrões.
Ora, é exatamente por este e por outros motivos que os trabalhadores devem lutar. Devem lutar porque
não estão a ser respeitados por este aumento, que não é justo, é injusto, porque devia ser muito maior do que
o que é hoje. É injusto também porque o Governo continua a dar benesses aos patrões enquanto retira aos
trabalhadores.
A Sr.ª Presidente: — Queira concluir, Sr. Deputado.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Por isso, creio que, tendo em conta as posições políticas assumidas na
Assembleia, mas também no País, todas e todos nós sabemos bem que os trabalhadores continuarão a lutar
para ver aquilo que é seu por direito e que não ficam contentes com estas migalhas que o Governo lhes dá.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Machado.
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Pedro Filipe Soares, quero agradecer os
seus pedidos de esclarecimento e dizer que o PCP entende que este aumento do salário mínimo nacional é
claramente insuficiente e decorre das imposições da luta dos trabalhadores e do calendário eleitoral que aqui
já foi referido.
Entendemos que o salário mínimo nacional devia ser — e o PCP apresentou um projeto de resolução
nesse sentido — de 415 €, com efeitos retroativos a junho de 2014, isto é, pagando o que não foi aumentado
desde junho de 2014, e devia haver um aumento progressivo do salário mínimo nacional para que ele atinja,
em janeiro de 2016, o valor de 600 €.
Como disse, se o valor do salário mínimo nacional acompanhasse a inflação, ele já teria de estar, hoje, em
585 € e, portanto, este aumento do salário mínimo nacional para os 505 € é claramente insuficiente.
Queríamos também destacar que o Governo está efetivamente empenhado na concentração de riqueza.
Não está no seu programa político, não está no ADN político do PSD e do CDS-PP combater as injustiças e a
exploração de quem trabalha. Antes pelo contrário, PSD e CDS estão empenhados num processo de
concentração de riqueza. Deixo os dados concretos: em 1975, fruto da Revolução da de abril, 73% da riqueza
nacional destinava-se a salários; em 2013, apenas 37% da riqueza nacional se destina a salários. É esta
magnitude da distribuição da riqueza de que estamos a falar. O PSD, o PS e o CDS tomaram medidas que
agravaram a exploração, retiraram riqueza nacional dos salários e transferiram-na para as receitas de capital,
para a dita concentração de riqueza.
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Ainda por cima, este aumento não vem sem qualquer tipo de contrapartida, isto é, o PSD e o CDS-PP não
aumentam o salário mínimo nacional sem qualquer contrapartida, e a contrapartida vai precisamente no
sentido de aumentar a injustiça e a exploração e promover esse processo de concentração da riqueza. Ao
mesmo tempo que anunciam o aumento do salário mínimo, dizem que é preciso compensar as empresas,
coitadinhas, que não conseguem suportar um aumento tão parco do salário mínimo nacional! Então, a medida
que apresentam é ou prolongar a redução do pagamento do trabalho extraordinário ou diminuir os descontos
das empresas para a segurança social.
Entretanto, assumiu a presidência o Vice-Presidente Ferro Rodrigues.
O Sr. Presidente: — Peço-lhe que conclua, Sr. Deputado.
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Concluo, Sr. Presidente, para dizer que o Governo não pode dar o que
não é seu. Os descontos para a segurança social são património dos trabalhadores, não são património do
Governo, não são património dos patrões. Os descontos são património dos trabalhadores, é riqueza criada
pelos próprios trabalhadores, pelo que não pode servir como moeda de troca neste processo de aumento do
salário mínimo nacional.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para uma declaração política, tem a palavra a Sr.ª Deputada
Helena Pinto.
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Sr. Presidente. Sr.as
Deputadas e Srs. Deputados: O Governo escolheu o
consórcio SUMA, do Grupo Mota-Engil, no processo de privatização da Empresa Geral de Fomento (EGF).
Importa, mais uma vez, denunciar os motivos desta privatização, que entrega aos privados mais uma
empresa pública, lucrativa, que garante um serviço de alto interesse público, extremamente sensível no
contexto social, e que garante uma atividade fundamental para as populações, para o ambiente e para a
saúde pública.
Desde 1976 que o Estado e os municípios investiram na EGF e revolucionaram o sector de recolha e
tratamento dos resíduos urbanos. Foram atingidos níveis de excelência. Muitos problemas foram resolvidos e
a vida das populações melhorou de forma significativa.
O património do grupo EGF é também muito valioso: 1000 milhões de euros. Só em 2012 foram investidos
45 milhões de euros. São décadas de investimento público que o Governo quer agora desbaratar.
A EGF é uma empresa lucrativa, disso ninguém tem dúvidas. Nos últimos três anos, teve lucros
acumulados de 62 milhões de euros e movimenta, anualmente, 170 milhões de euros. Nesta privatização a
empresa é avaliada em 149,9 milhões de euros.
Se tivermos em conta o seu lucro anual, o seu património e a sua natureza monopolista, percebemos que a
privatização da EGF é um mau negócio e é negativa do ponto de vista económico.
A EGF faz parte do Grupo Águas de Portugal e tem a participação maioritária em 11 sistemas
multimunicipais, de norte a sul do País.
Através destas participações, a EGF domina 65% do setor de resíduos urbanos em Portugal e serve 6,4
milhões de pessoas de 174 municípios. É este universo que o Governo quer privatizar.
Estamos a falar da entrega a privados de um monopólio numa área essencial. O sector de recolha e
tratamento de resíduos é fundamental para a vida em sociedade, é mesmo considerado um fator de coesão
social. Basta imaginar os problemas e os riscos para a saúde pública e para o ambiente resultantes do seu
mau funcionamento. Ainda está na memória de todos o que sucedeu no sul da Itália, com a exploração dos
privados neste setor. Nápoles é um exemplo a reter, Sr.as
e Srs. Deputados.
Por outro lado. a experiência ensina-nos que a privatização de serviços públicos implica sempre a subida
de tarifas.
Sejamos claros: a privatização da EGF não é para sanar as contas da Águas de Portugal. O valor a obter
pela venda de 95% da EGF corresponde apenas a uma ínfima parte do passivo da Águas de Portugal.
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É um mau negócio, mas faz parte da opção política e ideológica que marca a ação deste Governo e da
maioria.
O objetivo puramente ideológico deste Governo está patente nas medidas que estabeleceu para as
autarquias neste processo. Os municípios apenas podem vender a sua parte na EGF, não podem comprar
participações na EGF.
A recolha e tratamento de resíduos são uma competência dos municípios, são mesmo considerados
serviços públicos essenciais, cuja manutenção importa assegurar, mesmo em caso de rutura financeira do
município, como ficou consignado em lei da autoria do Governo e da maioria.
Privatizar, privatizar, privatizar aquilo que foi construído e desenvolvido com investimento público, ao
mesmo tempo que subalterniza o papel dos municípios — é a prática do Governo.
Os municípios, quando aceitaram integrar os sistemas multimunicipais de gestão de resíduos sólidos
urbanos, tinham a garantia de que teriam como parceiro a Administração Central, através da EGF/Águas de
Portugal. O princípio da confiança é, assim, traído, quando são confrontados com a imposição de um parceiro
privado maioritário nos sistemas multimunicipais.
Preocupa-nos ainda, e muito!, a situação dos 2000 trabalhadores e trabalhadoras da empresa. A
experiência também nos diz como as privatizações são amigas dos despedimentos e não podemos permitir a
destruição de emprego, neste caso emprego público, que também levará a menor qualidade do serviço
prestado.
O processo de privatização da EGF e a escolha de um consórcio da Mota-Engil decorre no exato momento
em que a Mota-Engil está sob suspeita em negócios que realizou com a Câmara Municipal de Gaia,
precisamente na área dos resíduos. Dizem os auditores do Tribunal de Contas que esses negócios foram
realizados por verbas 30% a 40% superiores às de outras autarquias. Palavras para quê, Srs. Deputados?!
A privatização não serve o interesse público. Um estudo financiado pela União Europeia diz, aliás, que o
modelo privado de gestão de resíduos não apresenta quaisquer vantagens ao nível da eficiência face à gestão
pública.
O Bloco de Esquerda sempre se opôs à privatização da EGF.
Juntamos a nossa voz aos autarcas, aos trabalhadores e trabalhadoras, às associações de defesa do
ambiente que não pactuam com a entrega a privados de uma empresa lucrativa, com um imenso património
que resultou do investimento público.
Este serviço público essencial às populações deve ficar na esfera pública. Essa é a garantia da sua
qualidade, universalidade e da aplicação de tarifas justas.
Ainda estamos a tempo de reverter esta decisão e este processo pode e deve ser travado, em nome do
interesse público!
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Inscreveram-se, para pedir esclarecimentos, os Srs. Deputados
Bruno Coimbra, do PSD, Pedro Farmhouse, do PS, Miguel Tiago, do PCP e Heloísa Apolónica, de Os Verdes.
A Sr.ª Deputada Helena Pinto acaba de informar a Mesa que responderá dois a dois, pelo que tem a
palavra o Sr. Deputado Bruno Coimbra.
O Sr. Bruno Coimbra (PSD): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada, o Bloco de Esquerda trouxe-nos, hoje,
novamente, o tema da privatização da EGF. Sejamos claros em relação a esta matéria: o Bloco de Esquerda
não tem razão, hoje, naquilo que diz, como nunca teve razão ao longo de todo este processo. Senão vejamos:
a Sr.ª Deputada disse que a EGF ia ser vendida ao desbarato. Ora, ambas as propostas, que estão em fase
final, estão colocadas acima do preço, do valor pelo qual foi avaliada a empresa.
Disse também que se tratava de um processo de privatização que era precursor da privatização do grupo
Águas de Portugal. Sabe-se, hoje, que a totalidade da receita vai ser utilizada para amortizar a dívida do grupo
Águas de Portugal e que, assim, vai contribuir para a sua manutenção na esfera pública.
Para além disso, também disse — e não tinha razão — que o processo não iria chegar ao fim, mas o
processo, pelos vistos, era sólido do ponto de vista jurídico.
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Não teve razão quando disse, ainda, que a melhor solução seria a manutenção da EGF na esfera pública,
porque ignorou todas as limitações que isso acarreta, nomeadamente o que se prende com a falta de
capacidade para investimentos futuros, com a perpetuação das ineficiências existentes e com a pressão sobre
as contas públicas.
O Bloco de Esquerda, na verdade, não tem argumentos a não ser os ideológicos e, quanto a esses,
frontalmente divergimos. Para o Bloco, o Estado faz tudo, tem de fazer tudo, mesmo que faça pior.
Para este Governo e para esta maioria, o Estado pode não ter todo o espetro de funções, mas pode
regular, conceder e fiscalizar, exigindo melhor serviço público e metas ambientais mais ambiciosas.
Quanto à Mota-Engil, a verdade é que houve um concurso público internacional, que tem regras e são
claras. Houve duas propostas que foram as melhores e que estão ambas acima do valor de avaliação da
empresa, mas não houve um empate, houve um vencedor.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Já ultrapassou o tempo de que dispunha, Sr. Deputado.
O Sr. Bruno Coimbra (PSD): — Termino, Sr. Presidente.
A verdade é que o Bloco mostra, mais uma vez, que a sua tática é sempre a mesma: espalhar o medo.
Prova acabada disso é o facto de comparar este processo e os seus concorrentes com os processos do sul de
Itália, o que mostra bem que, efetivamente, o Bloco não tem mais nada a dizer.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro
Farmhouse.
O Sr. Pedro Farmhouse (PS): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Helena Pinto, agradeço-lhe por ter trazido
este tema que diz respeito à EGF, Empresa Geral do Fomento, que faz a gestão de mais de 60% da recolha e
tratamento de resíduos, em Portugal.
Não posso deixar de começar por dizer que este é mais um exemplo de obsessão do Governo de tudo
querer privatizar. Tem uma obsessão ou um preconceito, acima de tudo, contra tudo o que é público, porque
entendeu, apesar de a empresa ser lucrativa, proceder a um processo de privatização.
Para o Partido Socialista, o que está aqui em causa é saber se o interesse público e a defesa dos
consumidores estão devidamente assegurados neste processo.
Gostaria de colocar uma questão sobre isso, porque todo este processo foi uma embrulhada. Primeiro,
porque não havia plano estratégico dos resíduos e para ele existir só foi aprovado na véspera do Conselho de
Ministros. Segundo, porque a taxa de gestão dos resíduos ainda não está clarificada, aliás, está metida no
pacote chamado «Reforma da Fiscalidade Verde» — pelos vistos, é só a proposta do PSD que aparece neste
momento — e ela é importante para definir a tarifa daquilo que cada consumidor vai ter de pagar.
Isto foi feito contra os municípios, porque a grande maioria dos 174 municípios, que são parceiros da
Empresa Geral do Fomento, achava que não devia ser feita a privatização e que nem era este o processo
ideal para a continuação da prestação de um bom serviço.
Por isso, a pergunta que tenho de colocar à Sr.ª Deputada é a seguinte: estando ainda a entidade
reguladora com um novo estatuto que entrou em vigor no dia 1 de abril e estando ainda o seu próprio conselho
diretivo coxo, está em condições de acompanhar este processo na garantia do interesse dos consumidores e
na garantia do interesse público?
Pergunto também se a Sr.ª Deputada acha que este processo de privatização não é mais do que mais um
passo nesta fúria privatizadora deste Governo que tudo quer privatizar, mesmo o que é equilibrado, é de
qualidade e tem um escrutínio democrático que é feito através dos municípios. São estas as questões que lhe
coloco, Sr.ª Deputada.
Para o Partido Socialista, o essencial é a defesa do interesse público, a defesa dos consumidores e o
escrutínio democrático de poder ter este tipo de serviços que são públicos, essenciais e tão importantes para a
qualidade de vida dos nossos concidadãos, aliás, serviços que devem ter uma tarifa justa e não o que o
privado entender praticar.
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Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Helena Pinto.
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Sr. Presidente, Srs. Deputados Bruno Coimbra e Pedro Farmhouse, agradeço
as questões que me colocaram.
Começo, desde já, por responder a este repto que o Sr. Deputado Pedro Farmhouse colocou, no sentido
de saber a nossa opinião em relação a este processo, que caracterizou como fúria privatizadora por parte do
Governo — acompanho-o nesse sentido —, e de que modo é que o interesse público está ou não garantido.
Não está, é verdade.
É verdade, Sr. Deputado, o interesse público não foi acautelado e muito menos defendido em todo este
processo. Não foi por falta de aviso ao Governo, não foi por falta de debate e, inclusivamente aqui, nesta
Assembleia da República, por várias vezes o dissemos, aliás, acompanhados pelos partidos da oposição, que
também se têm manifestado contra esta privatização.
De facto, não existem garantias, ao nível da autoridade reguladora, de que todo o processo poderá ser
acompanhado e controlado. Aliás, o que sabemos, neste momento, é que a Autoridade da Concorrência, ela
própria, põe em causa a forma como a privatização foi feita. Esse dado já temos, mas com certeza que o Sr.
Deputado Bruno Coimbra o ignora. Deveria olhar e ler o parecer que a Autoridade da Concorrência entregou
ao Governo,…
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — … onde diz que, inclusivamente, concentrar as concessões numa só entidade
prejudica a eficiência do regime tarifário. Aliás, coisa que o senhor, no seu pedido de esclarecimento, pouco
falou. Portanto, convinha consultar toda essa matéria.
Sr. Deputado, compreendo a posição incómoda da bancada do PSD para sustentar esta privatização, mas
não podem…
Protestos do PSD e do CDS-PP.
Calma, Srs. Deputados! Calma! Isto é um debate, têm de ouvir os argumentos. Vamos com calma!
O Sr. Deputado Bruno Coimbra disse que o Estado não tem de fazer tudo mesmo que o faça pior. Sr.
Deputado, fale da EGF, fale da recolha e tratamento de resíduos, porque neste âmbito o Estado tem feito bem!
O Estado tem feito bem, tem tido lucro e tem ido ao encontro dos interesses das populações.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Exatamente!
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Convinha dizer isto, porque temos de partir da realidade.
Sr. Deputado, uma empresa como a EGF, que foi construída ao longo de décadas, com investimento
público, uma parte da administração central e uma parte significativa na administração local, que tem
municípios que foram completamente traídos neste processo, esta empresa construída, repito, com
investimento público, ao longo de décadas, que tem um património avaliado em 1000 milhões de euros, que
anualmente tem lucros de 170 milhões de euros, não é vendida ao desbarato?
Vozes do BE: — Muito bem!
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Não é vendida ao desbarato? Então o que é isto?
Protestos do PSD.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Esgotou o seu tempo, Sr.ª Deputada.
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A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Sr. Deputado, devolvo-lhe, com toda a frontalidade, a acusação que tentou
fazer ao Bloco de Esquerda. Tem razão só numa coisa: esta é uma questão ideológica. Mas não aponte para
nós, aponte para o seu Governo, porque a única justificação para a privatização da EGF é a sanha do
Governo em entregar a privados tudo o que dá lucro. Tudo! E isso é ideológico, sim senhor!
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Miguel
Tiago, do PCP.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Helena Pinto, em primeiro lugar, em nome do
Grupo Parlamentar do Partido Comunista Português, saúdo-a pelo tema que trouxe a debate. Aproveito
também o momento, nesta primeira linha da minha intervenção, para saudar os trabalhadores, os autarcas, as
populações, que têm mantido a luta em defesa do carácter público das empresas multimunicipais e da EGF.
Sr.ª Deputada, o conjunto de privatizações que se tem verificado até aqui é um autêntico crime contra a
economia nacional. A pretexto do combate ao endividamento, a pretexto do combate à dívida pública,
privatizações atrás de privatização vão sendo feitas e todas elas sem justificação, na nossa opinião, ou com
uma justificação muito aquém do que seria necessário para justificar uma privatização, se é que alguma vez é
necessário abdicar de instrumentos económicos e do interesse público para favorecer interesses privados.
Vozes do PCP: — Muito bem!
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — No caso da EGF, é mais grave por ser mais gritante; é mais grave porque é
mais evidente; é mais grave porque as populações estão satisfeitas com o serviço; é mais grave porque os
autarcas estão a ser traídos de acordo com os compromissos que tinham sido assumidos pelo Estado perante
eles próprios e, através dos autarcas, as populações; é mais grave porque os trabalhadores veem os seus
postos de trabalho, como, aliás, em muitas das privatizações, postos em causa; e é mais grave porque aquele
lucro que a EGF é capaz de gerar para o Estado e o conjunto dos benefícios que entrega às populações não é
minimamente ressarcido com o valor pelo qual a empresa supostamente está a ser privatizada.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Motivos, Sr.ª Deputada? Da parte do PCP, queria perguntá-los ao PSD, já
que, da parte do PSD, o Sr. Deputado foi incapaz de dar um único motivo político que fosse para justificar a
privatização da EGF, recorrendo apenas aos chavões ideológicos habituais.
O Sr. David Costa (PCP): — É uma vergonha!
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Sr. Deputado Miguel Tiago, já esgotou o tempo de que dispunha.
Faça favor de concluir.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — O motivo é claro e é só um, e também foi por isso que o PCP apresentou,
novamente, um projeto de lei, já nesta Sessão Legislativa, para impedir a privatização da EGF.
O motivo é só um: este Governo, apesar de ter sido eleito pelas populações, não está ao seu serviço,
comporta-se como uma autêntica comissão de serviço aos grandes grupos económicos.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Sr. Deputado, tem de concluir.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Mais do que manter a EGF no âmbito do Estado, deve manter-se a gestão
de resíduos no âmbito público, porque votamos nos autarcas, votamos nas maiorias, mas não votamos nos
conselhos de administração das empresas privadas.
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Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa
Apolónia.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Helena Pinto, em nome do Grupo
Parlamentar «Os Verdes», quero saudá-la por, mais uma vez, ter trazido à discussão, neste Parlamento, a
questão da privatização da EGF.
Julgo que, por todas as discussões que já foram feitas e todos os argumentos que ouvimos aduzidos da
parte da maioria PSD/CDS, percebemos que a razão fulcral que está na base desta opção de privatização se
prende, de facto, com razões ideológicas. Estes senhores, até ao final da Legislatura, privatizarão tudo o que
puderem. Tudo o que puderem!
De facto, é uma matéria ideológica que deve ficar clara e que é perigosa para o País, porque estes
senhores tentam dar a entender que tudo o que é público é mau e que tudo o que é privado é magnífico.
O Sr. David Costa (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Ora aqui está uma empesa a provar que não é assim. Uma
empresa, como a Sr.ª Deputada disse, lucrativa e que estes senhores vão dar de bandeja, como bem aqui foi
dito, ao setor privado.
Sabe, Sr.ª Deputada, o que mais me incomoda é quando estes senhores e o próprio Sr. Ministro do
Ambiente começam a utilizar argumentos falsos para tentar justificar o que não é justificável. E quando dizem
que agora, na mão dos privados, esta empresa vai fazer milhões e milhões e milhões de investimento. Diz o
Sr. Ministro que é, a curto prazo, para além dos 300 milhões de investimento, quando sabemos que,
eventualmente, mais de 200 milhões são fundos comunitários — públicos, portanto — e que a empresa não
fará, provavelmente, mais do que 100 milhões de investimento.
O Sr. David Costa (PCP): — Bem lembrado!
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Quando o Sr. Ministro diz: «Não se preocupem, porque as tarifas
vão baixar», sabemos que não é assim, porque, designadamente nos sistemas que têm mais população,
sabemos que as tarifas vão aumentar e, quando é assim esmiuçada a questão, o Sr. Ministro do Ambiente não
responde, diz só, em termos gerais, que eventualmente vão baixar.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Sr.ª Deputada, já concluiu o tempo de que dispunha.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Termino, Sr. Presidente, dizendo que, quando se começa a usar
a mentira para justificar o que não é justificável, está tudo explicado. Não acha, Sr.ª Deputada?
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Helena Pinto.
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Miguel Tiago e Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia,
agradeço as questões que colocaram.
Partilhamos, no essencial, o ponto de vista sobre o que significa esta privatização e o seu impacto futuro,
quer na economia, quer no funcionamento dos municípios, inclusivamente, e junto das populações. Como os
Srs. Deputados evidenciaram, estamos preocupados com essas consequências e com o que pode vir a
acontecer.
Sobre o que disseram, gostaria apenas de referir três aspetos.
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Primeiro, não é preciso fazer um grande esforço de memória para nos lembrarmos como é que se fazia a
recolha do lixo, não dos resíduos mas do lixo, porque era assim que se dizia, e o tratamento desses resíduos
há 20, 30 ou 40 anos. Sabemos bem como é que isso era feito, sabemos bem as dificuldades que existiam,
sabemos bem a forma artesanal como isso era feito.
Por isso — e chamo a atenção dos Srs. Deputados e das Sr.as
Deputadas do PSD para este aspeto —,
todas as melhorias, todo o trabalho, algum dele classificado de excelência, foi construído pelas autarquias e
também pela administração central através do investimento público. São décadas e décadas a construir uma
coisa que funciona, a construir uma empresa e a construir sistemas que respondem às necessidades das
populações. É, pois, preciso ter isso em mente!
O segundo aspeto que gostaria de referenciar e de evidenciar é o papel dos municípios. É atribuição dos
municípios e não dos privados a questão da recolha e tratamento dos resíduos. Nos municípios, existe o
controlo democrático. Os municípios, que estão perto das populações, podem ser e são confrontados quando
o serviço não é bem prestado, havendo assim controlo democrático; não é entregar à Mota Engil e depois
vamos fazer o quê? Manifestações à porta da Mota Engil?! Não, Srs. Deputados! Isto é controlo público.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Por último, um aspeto que não é de somenos importância: o setor dos
resíduos é um setor extremamente lucrativo e por isso é que verificamos os consóricos, as empresas, todos, a
quererem confluir para estes negócios. E isto — e o Sr. Deputado Pedro Farmhouse alertou na sua
intervenção para este aspeto — está no início e não parou aqui, porque nós conhecemos bem qual é o plano
da direita: a privatização dos resíduos e da água.
O Sr. Pedro do Ó Ramos (PSD): — Outra vez?!
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Sim, outra vez, Sr. Deputado, e não nos cansaremos de o dizer. Mas os
senhores sabem por que é que não vão privatizar a água?
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Já ultrapassou o tempo, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Terminarei, Sr. Presidente.
Sabem porquê? Sabem por que é que não vão privatizar a água? Porque os senhores já não vão ser mais
Governo,…
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — … porque os senhores vão ser corridos do Governo e, por isso, não vão
privatizar mais nada!
Aplausos do BE.
O Sr. Pedro do Ó Ramos (PSD): — Quem vai ser corrido é o Bloco de Esquerda!
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para uma declaração política, tem a palavra a Sr.ª Deputada
Heloísa Apolónia.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Ocorreu mais uma cimeira
do clima, agora em Nova Iorque. Para aqueles que se consolariam com discursos que relevassem a
importância de combater as alterações climáticas foi, certamente, uma cimeira positiva, porque os discursos
têm-se, nesta matéria, demonstrado muito mais hábeis do que as ações.
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Para aqueles que exigiriam passos sérios que demonstrassem que as próximas cimeiras do clima trarão
resultados concretos, confirmou-se a ausência das expetativas já inexistentes naquela que foi intitulada «Uma
cimeira especial sobre o clima».
Muitos cidadãos marcharam um pouco por todo o mundo a clamar que importa deter a mudança climática,
no que depende da ação humana, a clamar que só temos um planeta e que é preciso intervir seriamente sobre
as alterações do clima. São os povos do mundo a clamar avidamente por soluções perante líderes mundiais
alheados dessa urgência.
Em 2013, a concentração de gases com efeito de estufa atingiu novos máximos históricos e, em particular,
as emissões de dióxido de carbono galoparam nas últimas décadas. Foi justamente esse o alerta que os
primeiros relatórios do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) fizeram, referindo que, caso não se
movessem processos eficazes de mitigação das causas antropogénicas que motivam as alterações climáticas,
a tendência seria o agravamento da situação.
Nada que não se soubesse antes, durante e depois da Conferência de Copenhaga, em 2009, que
constituiu uma das cimeiras mais frustrantes e demonstrou como os líderes mundiais dos países mais ricos
davam prioridade à recapitalização da banca e descuravam a harmonização da relação da economia com a
natureza.
De adiamento em adiamento, os olhos estão agora postos na cimeira das Partes, que se realizará em Paris
no próximo ano, mas as negociações mostram-se difíceis devido à falta de vontade política de governantes,
designadamente dos países que mais contribuem para as emissões de gases com efeito de estufa,
ameaçando, num ponto de partida, resultados necessários em Paris.
Entretanto, o aquecimento global não espera nem por 2015, nem por Paris, nem tão-pouco por acordos
mundiais. Os seus efeitos estão aí, a ser sentidos em todo o mundo, incluindo em Portugal, de uma forma
muito visível.
O verão de 2014 foi o mais quente ao nível global, apesar de não ter assim parecido em Portugal, onde o
mês de setembro está a revelar um tempo marcadamente tropical.
As variações metereológicas extremas, as chuvas intensas, as consequentes inundações graves que
ameaçam vidas, destroem lares e economia, são exemplos claros de que, para além do esforço sério de
mitigação a realizar, há um esforço de medidas de adaptação a fazer que não podem esperar muito mais.
E o problema é que, em Portugal, passamos a vida a remendar o que o clima e a natureza vão afetando,
designadamente em relação ao litoral, quando é preciso, de uma vez por todas, entender que a palavra de
ordem na adaptação ao fenómeno climático é recuar no território e reconhecer que não temos engenho que
trave a força do mar e dos céus.
E, fundamentalmente, o que é preciso é deixar de cometer erros tão disparatados quanto perigosos, como
o Programa Nacional de Barragens, cujas consequências sobre o litoral não foram estudadas e que trava a
chegada de sedimentos ao litoral, intensificando uma erosão que desgasta a faixa costeira, ou erros como a
construção de urbanizações às portas do mar, tal como a que foi aprovada para Carcavelos e que
representará mais um confronto com esse mar.
Estes são exemplos de opções políticas erradas, que depois geram problemas gravíssimos.
Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: O que o Governo português, bem como os líderes de todo o mundo,
precisam de entender, cada um à medida das suas responsabilidades, é que combater as causas
antropogénicas da mudança do clima e promover adaptação às alterações climáticas não é um despesismo.
É, antes, salvaguardar vidas humanas, preservar a biodiversidade, defender a economia e as condições para
o seu desenvolvimento. É preservar o único planeta que nos acolhe, como tantos cidadãos clamaram na
Marcha pelo Clima.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Ramos
Preto.
O Sr. Ramos Preto (PS): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, quero agradecer-lhe a
circunstância de, num dia tão importante como o de hoje, ter trazido este tema, que é revelante e importante
não só para Portugal mas para toda a Humanidade.
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A Sr.ª Deputada, na sua intervenção, fez-me lembrar, perante algum burburinho que ocorria aqui, neste
Parlamento, o que John Stuart Mill dizia sobre o seu pai. Dizia que era um homem que amava a Humanidade
em geral mas que detestava cada pessoa em particular. Ora, vejo nestas bancadas parlamentares muita gente
que fala nas alterações climáticas mas que, depois, pouco faz para as combater.
E, como dizia Nicholas Stern, num relatório mundialmente conhecido, a menos que se provocam ações
conducentes, há uma alta probabilidade, dentro de aproximadamente um século, de que o mundo seja em
média 4o C mais quente do que era em finais do século XIX, portanto antes do processo de industrialização.
Este aumento da temperatura em média e outras alterações climáticas com ele relacionados alterarão a
relação dos humanos com o Planeta, incluindo de onde e como vivem.
Portanto, o que nos deve preocupar não é o problema da sobrevivência do planeta Terra mas a
sobrevivência dos humanos. E, Sr.ª Deputada, nós, hoje, estamos confrontados, como aqui referiu, com a
circunstância de ser necessário existir um tratado internacional que substitua o Tratado de Quioto e que já
devia estar em vigor a partir de janeiro de 2013.
Cada dia que passa estamos a adiar um problema que é gravíssimo. Os grandes países emissores de CO2
e que provocam um aumento exponencial de CO2 estão a ter políticas que, hoje, consideramos já razoáveis,
tendo em vista atuar este grande problema do qual não temos perceção imediata mas é uma perceção para
futuro.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Sr. Deputado, já ultrapassou o tempo de que dispunha.
O Sr. Ramos Preto (PS): — Termino já, Sr. Presidente.
Espero, como a Sr.ª Deputada disse, que, em Paris, consigamos o acordo internacional que tão necessário
é, mas também penso que se não se fizer o trabalho de casa, se cada país não tiver políticas públicas no
quadro da eficiência energética, no quadro das energias renováveis, no quadro das substituição da energia
fóssil, então não será possível resolver o problema.
Portanto, primeiro é preciso que façamos o trabalho de casa para que, depois, a nível global possamos
resolver o problema.
Sr.ª Deputada, queria ouvir a sua opinião.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — A Sr.ª Deputada Helóisa Apolónia tem mais dois pedidos de
esclarecimento.
Pretende responder já ou no final dos dois pedidos de esclarecimento?
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Respondo em conjunto, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Então, tem a palavra, para pedir esclarecimentos, o Sr. Deputado
Miguel Tiago.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, em primeiro lugar, gostava
de saudar a Sr.ª Deputada e o Partido Ecologista «Os Verdes» por, a pretexto da cimeira climática, trazer este
tema a debate na Assembleia da República, até porque importa fazer uma reflexão cada vez mais
aprofundada que vá além da manifestação de preocupações, principalmente, daqueles que a expressam nas
cimeiras e que, depois, não as corporizam em nada, mas também daqueles que aqui, sucessivamente, as
utilizam para apresentar reformas de fiscalidade verde, para apresentar um conjunto de elementos de
propaganda governativa, que depois, na prática, acabam por se traduzir sempre e apenas na penalização dos
consumidores, na penalização dos trabalhadores, em geral, e no alívio dos grandes grupos económicos, que
continuam a apropriar-se dos serviços que a natureza presta ao ser humano e a vendê-los, depois, aos
restantes seres humanos.
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Sr.ª Deputada, sobre a cimeira climática, por parte do PCP, desde já lhe digo que não só não nos sentimos
satisfeitos como também não alimentámos nenhumas ilusões, nem relativamente a esta Cimeira nem quanto
às restantes.
É que cada vez mais se torna claro que, ao invés de estarem a ser tomadas medidas concretas de
adaptação e mitigação implantadas no território, ao invés de se tomarem medidas de ordenamento territorial
que prevejam ou antevejam situações de conflito entre o Homem e as alterações morfológicas da natureza,
provocadas, eventualmente, por ação do Homem, ao invés de tudo isso, aquilo que vemos é uma única opção:
a do mercado de licenças de emissão de gases com efeito de estufa, nomeadamente CO2, como se o simples
facto da existência de um mercado de transação internacinal, seja através de mecanismos de leilão seja
através de quaisquer outros, das licenças de emissão resolvesse o problema de emissão de CO2 no Planeta.
Ora, isso não só já se mostrou errado como se tem vindo a demonstrar, inclusivamente, que, em alguns
momentos, aumentaram as emissões de CO2 concomitantemente com a existência desse mercado.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Ultrapassou o tempo de que dispunha, Sr. Deputado.
Faça favor de concluir.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Portanto, Sr.ª Deputada, de certa forma, o que lhe pergunto é se, à
semelhança da reforma da fiscalidade verde em discussão em Portugal, o ambiente também não é utilizado,
muitas vezes, para impor políticas e se, na verdade, não estamos cada vez mais, mesmo no que toca a estas
cimeiras, perante uma farsa para legitimar, apenas e afinal de contas, uma só opção: a do mercado de
emissões, em detrimento das adaptações necessárias a que a Humanidade e os Estados deveriam estar a
proceder.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro
Filipe Soares.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, em primeiro lugar,
quero dar-lhe conta de que acompanhamos as preocupações que expressou na sua declaração política.
Sr.ª Deputada, permita-me começar por uma saudação a todas e a todos que, pelo mundo fora, sairam às
ruas pedindo que existisse uma preocupação dos líderes mundiais, dos governos, dos dirigentes políticos para
mudarmos este sistema que está a destruir o nosso mundo, a nossa Terra, porque, de facto, essa é a questão
fundamental: ou mudamos o modelo de desenvolvimento económico ou estaremos permanentemente a ver
populações aflitas com as alterações climáticas, vidas a serem perdidas perante esta luta e sempre os países
mais ricos a terem aqui um papel de depredação dos recursos económicos e de atacar os países com maiores
fragilidades.
Por isso, nesta saudação inicial, gostaria de dizer que é necessário mais do que aquilo que saiu desta
Cimeira. Saíram boas intenções, reconhecemos isso dos discursos que foram feitos, mas «de boas intenções
está o inferno cheio», como diz o nosso povo, e bem.
Por isso, se não passarmos das palavras à prática, não é por a China ou os Estados Unidos terem tido
discursos interessantes que nós acabamos por ter alguma transformação verdadeira que afete positivamente a
vida das pessoas.
É certo que não acompanhamos aquilo que está em cima da mesa, por exemplo sobre a mercantilização
do mercado de carbono, apesar de reconhecermos que a taxa que se prevê seja um passo correto.
A pergunta que lhe deixo é mesmo nesse sentido: o caminho que apenas tem pela mercantilização do
mercado de carbono uma possível solução é, em si, uma conclusão para o problema ou é mais uma panaceia
que temos em cima da mesa?
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia.
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A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Ramos Preto, falou em ações
conducentes com os objetivos a que nos propomos. Queria dar o exemplo da necessidade urgente de se
alterar o paradigma da mobilidade em Portugal, designadamente nos grandes centros urbanos, que é transpor
a mobilidade do carro individual para o transporte coletivo.
Curiosamente, hoje de manhã, estivemos numa comissão a discutir o documento sobre a fiscalidade verde,
um documento que poderia contribuir para a alteração desse paradigma da mobilidade, e verificamos que
nesse documento não há qualquer contributo nesse sentido. Ou seja, dá um contributo para a alteração do
automóvel, não dá um contributo para a alteração do paradigma da mobilidade.
São pequenos exemplos que, de facto, demonstram que, muitas vezes, não caminhamos no caminho
certeiro. E porquê? Porque isso implica investimento, que o Estado não está disposto a fazer.
Respondendo aos Srs. Deputados Miguel Tiago e Pedro Filipe Soares, gostaria de dizer que é verdade,
muitas vezes agarram-se nos problemas ambientais, arreda-se a capacidade de os Estados investirem e
procura-se perceber como é que aquele problema pode gerar um negócio para alguém. E isso é, talvez, um
dos maiores problemas ambientais com que os países se confrontam. É esta tentativa de ver sempre e
permanentemente os problemas como áreas de negócio e não pensar formas de solução para esses
problemas.
Sr.as
e Srs. Deputados, vou dizer uma coisa relativamente aos discursos que foram feitos nesta Cimeira de
Nova Iorque: as cimeiras onde os discursos são sempre mais fáceis e mais atrativos são aquelas cimeiras
onde, à partida, já se sabe que não se vai chegar a conclusão nenhuma, e os discursos são sempre
absolutamente brilhantes. Vai uma aposta, Sr.as
e Srs. Deputados, em como, em Paris, os discursos vão
mudar? Em 2015, cá estaremos para ver!
Portanto, cuidado, não sejamos ingénuos e, sim, merecem um louvor todos os povos, todos os cidadãos,
que marcharam pelo clima, rogando, pedindo soluções urgentes para a Humanidade e para o Planeta.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para uma declaração política, tem a palavra o Sr. Deputado Luís
Leite Ramos.
O Sr. Luís Leite Ramos (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Portugal viveu, durante os
últimos três anos, um tempo de exceção e emergência, um tempo de dificuldades e sacrifícios marcado por
um objetivo nacional e um desafio patriótico: recuperar a soberania financeira e a credibilidade de Portugal.
Recebemos das mãos do anterior Governo do Partido Socialista um País à beira da bancarrota, sem
dinheiro para pagar salários, sem dinheiro para assumir os seus compromissos mais básicos, pondo em risco
o Estado social.
O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Muito bem!
O Sr. Luís Leite Ramos (PSD): — Três anos depois temos um País melhor. Não só recuperámos a
soberania financeira e a credibilidade internacional de Portugal como colocámos o País, de novo, na rota do
crescimento da economia e da criação de emprego. Um resultado que é, sobretudo, o prémio dos sacrifícios e
do esforço notável que as famílias e as empresas fizeram em nome de Portugal e do seu futuro coletivo.
Infelizmente, o contributo dos partidos da oposição, e muito em particular do Partido Socialista para
resgatar Portugal da situação de pré-bancarrota onde o tinha deixado, foi nulo.
Vozes do PSD: — Bem lembrado!
O Sr. Luís Leite Ramos (PSD): — O Partido Socialista não só não ajudou a resgatar o País como parece
não ter aprendido com os erros do passado, pois está preparado e disponível para os repetir e aprofundar.
Sr.as
e Srs. Deputados, agora que iniciamos uma nova etapa da governação, chegou o tempo de o Governo
concentrar a sua atenção e as suas energias noutros problemas e desafios. Um deles, creio, fundamental e
estruturante, é a promoção de um novo modelo de desenvolvimento que contribua para o reforço da coesão
territorial.
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Ao longo dos últimos meses, o Governo tem afirmado e inscrito na sua orgânica e nas suas políticas uma
preocupação crescente com os problemas do desenvolvimento territorial. A saber: criou o Ministério do
Desenvolvimento Regional, a equipa interministerial dos assuntos do território e o Conselho de Concertação
Territorial, estruturas que garantem uma maior articulação e coordenação dos diferentes agentes na
implementação das políticas públicas territoriais; implementou o programa Valorizar, um programa de
valorização económica dos ativos de desenvolvimento e geração de riqueza e emprego dos territórios;
desenvolveu os programas Descentralizar e Aproximar para aprofundar a descentralização de competências
para a administração local e a reorganização da rede de serviços públicos, numa perspetiva de equidade e
equilíbrio territorial; lançou o programa Portugal Porta a Porta para alargar o transporte público nos territórios
de baixa densidade, através de uma oferta de serviços complementares de transporte público flexível e a
pedido; aprovou o Código Fiscal do Investimento, que reforça os diversos regimes de benefícios fiscais ao
investimento produtivo nas regiões menos favorecidas; lançou o Programa +Superior, para atrair alunos do
litoral para as instituições de ensino superior do interior; e apresentou, recentemente, o Compromisso para o
Crescimento Verde, que contribuirá para a valorização dos recursos naturais, da biodiversidade e dos serviços
dos ecossistemas dos territórios de baixa densidade.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Sr.as
e Srs. Deputados, os problemas com que se debatem os territórios da faixa interior do País são
problemas transversais, complexos e estruturais e a sua resolução exige políticas públicas abrangentes,
integradas e persistentes.
É por isso necessário que o Governo, este e os vindouros, vão mais longe em matéria de desenvolvimento
territorial.
O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Muito bem!
O Sr. Luís Leite Ramos (PSD): — Os sintomas são conhecidos: esvaziamento e envelhecimento
demográfico; despovoamento rural; uma economia frágil e dependente; bacias de emprego reduzidas e mão-
de-obra pouco qualificada; baixa capacidade de iniciativa, empreendimento e investimento endógeno. Mas não
nos equivoquemos nem no diagnóstico, nem nas prescrições ou nos remédios. Estes problemas são ditados
por um conjunto de fatores geográficos, sociais e económicos e não podem ser associados, de modo direto, à
escassez de equipamentos ou serviços públicos, cuja redução é, antes, uma consequência e não uma causa
do esvaziamento populacional.
E não é expectável, digamo-lo com toda a frontalidade, pelo menos a médio prazo, reverter as perdas
demográficas e o despovoamento rural. Apenas será possível abrandar os ritmos e mitigar os seus efeitos,
desde que consigamos promover um modelo de desenvolvimento que valorize economicamente os recursos
dos territórios do interior, criando e fixando valor e emprego.
A correção das assimetrias territoriais é uma preocupação com várias décadas. Desde o início dos anos 80
que têm sido implementados vários programas e estratégias de desenvolvimento territorial com esta finalidade.
Os impactos destes programas foram, indiscutivelmente, positivos, gerando ou induzindo transformações
nas condições e na qualidade de vida das populações ou nas estruturas e dinâmicas produtivas dos territórios,
mas falharam na concretização da sua principal ambição: estancar a hemorragia demográfica, o
despovoamento, a dinamização económica geradora de riqueza e emprego. Em grande parte porque tem-se
procurado combater o problema do declínio populacional com uma abordagem que, por economia de meios,
se pode classificar de infraestrutural, corretiva e assistencialista.
Portugal necessita de um novo paradigma de desenvolvimento e de coesão territorial que privilegie a
redução das assimetrias pela via da criação de riqueza e valor em cada território. Sem a criação e fixação de
riqueza não há criação de emprego, mas emprego produtivo e qualificado, e sem a criação de emprego não há
fixação da população.
O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Muito bem!
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O Sr. Luís Leite Ramos (PSD): — Estes territórios têm recursos próprios que são necessários e relevantes
para o todo nacional e que podem e devem ser mais valorizados e capitalizados no desenvolvimento local.
A valorização económica destes recursos reclama uma estratégia de desenvolvimento que estimule uma
interação da economia com o território; o reforço da atratividade e da competitividade territorial e urbana; o
reforço e a valorização do capital e dos recursos humanos; o reforço do modelo de prevenção e proteção
social; a criação de condições que assegurem a igualdade de oportunidades no acesso a bens e serviços
públicos fundamentais.
Sr.as
e Srs. Deputados, termino reafirmando que o reforço da coesão territorial é um objetivo nacional e
europeu.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Sr. Deputado, peço-lhe que termine.
O Sr. Luís Leite Ramos (PSD): — Quatro décadas depois do 25 de abril, Portugal tem de prosseguir e
acelerar o combate por um desenvolvimento mais equilibrado do seu território e por uma efetiva igualdade de
oportunidades a todos os seus cidadãos. Um combate que permita conter e minimizar a regressão
demográfica, social e económica de uma parte significativa do seu território e que afaste do horizonte o
cenário inaceitável de um país polarizado entre um interior abandonado e um litoral congestionado.
Mas só será possível contrariar este cenário com um modelo de desenvolvimento que valorize
economicamente os recursos e as competências destes territórios, criando e fixando valor e emprego e
devolvendo às suas populações a esperança no futuro.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Sr. Deputado, para pedir esclarecimentos, inscreveram-se os Srs.
Deputados Hélder Amaral, do CDS-PP, Agostinho Santa, do PS, Paula Santos, do PCP, e Cecília Honório, do
Bloco de Esquerda.
Uma vez que responderá a grupos de dois, tem, desde já, a palavra o Sr. Deputado Hélder Amaral.
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Luís Leite Ramos, começo por felicitá-lo
pelo tema que aqui trouxe. Se há preocupação que devemos ter é, de facto, com o nosso território, com a
forma como o ocupamos, a forma como olhamos para ele, a forma como somos capazes de perceber as suas
potencialidades e como conseguimos, ou não, ser eficazes com as políticas que possam fazer a inversão
daquilo que temos identificado.
O Sr. Deputado disse, e bem, que é matéria que leva tempo, que precisa de ponderação, que precisa de
responsabilidade e que precisa de consensos.
Poderemos todos estar de acordo ou em desacordo com as políticas feitas até agora, mas há uma coisa
que não podemos permitir: é que não haverá sucesso em políticas do território sem responsabilidade e sem
consenso. E ter o maior partido da oposição, antes mesmo de discutir as propostas e as políticas, a dizer:
«Bom, se um dia…» — e queira Deus que seja muito tarde ou mesmo nunca! — «… elegermos o Primeiro-
Ministro, a primeira coisa a fazer é reverter tudo o que está a ser feito, abrir serviços que estão a ser
fechados», e isto sem nenhuma ponderação, sem nenhuma explicação, sem nenhuma avaliação, é
demagogia e irresponsabilidade, as quais devem ser afastadas desta discussão. É importante deixar esta
nota.
O Sr. Deputado disse uma coisa importantíssima, talvez mais cara para as populações do interior: o interior
é solidário com o bem comum do País como um todo.
O processo e as concessões de exploração de recursos, nomeadamente recursos energéticos minerais,
têm sido, muitas vezes, uma penalização para o interior, ou seja, o interior apanha com as limitações
ambientais, com as restrições da requalificação do território, recuperação urbana, etc., e depois o benefício
desses recursos vem, normalmente, para o litoral. Eu não digo que não tenha de ser assim, tem é que haver
uma repartição justa, equilibrada e equitativa para que quem sofre com os problemas e as consequências da
exploração desses recursos possa também beneficiar, nomeadamente em termos de distribuição equitativa
fiscal.
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O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Já ultrapassou o tempo de que dispunha, Sr. Deputado.
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — É sobre esta matéria que o questiono, felicitando-o, mais uma vez, e
pedindo-lhe que diga algo sobre a necessidade de consenso nesta matéria, pois não podemos estar
sistematicamente a avançar e a recuar nestes assuntos porque quem perde é o território, é o País e é,
obviamente, o interior.
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado
Agostinho Santa.
O Sr. Agostinho Santa (PS): — Sr. Presidente, de transmontano duriense para transmontano duriense
cumprimento o Sr. Deputado Luís Leite Ramos e quase me apetecia aliar a este cumprimento um aplauso pela
teorização daquilo que fez aqui sobre um assunto que nos é tão caro, como é o da problemática dos territórios
de baixa densidade e todos os problemas que lhe estão agregados. Mas esse aplauso ficar-se-ia apenas pela
teorização do problema. É que, realmente, é necessária uma estratégia global de combate às situações que
referiu, mas soa a falso, soa a estranho, no final de três anos de um Governo apoiado pela maioria na qual o
Sr. Deputado se insere, de um Governo que ajudou a criar o lastro social e económico que agudizou este
problema, que o faça da forma como o fez, ainda para mais acusando erros do passado e da oposição.
É preciso que se assuma que o problema destes territórios, o problema do seu despovoamento e da
dificuldade de fixação das pessoas, tem a ver com as políticas que não foram seguidas, e as políticas que não
foram seguidas tinham de ser políticas de crescimento e de combate à verdadeira desertificação. Era
fundamental que esses territórios tivessem condições de fixação, através da criação de emprego; era
fundamental que tivessem condições de sustentabilidade social, familiar e económica; era fundamental que
não lhes fossem criadas condições de maior empobrecimento; era fundamental, e disse-o em passo largo, que
se mantivessem os serviços de proximidade, de modo a permitir que as pessoas continuassem a querer viver
em sítios onde é realmente difícil viver neste momento.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Sr. Deputado, já ultrapassou o tempo de que dispunha.
O Sr. Agostinho Santa (PS): — Termino, Sr. Presidente.
Era fundamental encontrar políticas de discriminação positiva, de que falou, mas também é fundamental
dizermos que este Governo e esta maioria não aceitaram medidas de discriminação positiva propostas, tanto a
nível fiscal quanto a nível dos investimentos e da aplicação de fundos, designadamente, comunitários.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Tem de concluir, Sr. Deputado.
O Sr. Agostinho Santa (PS): — Era isto que era fundamental ser discutido e a pergunta que lhe faço é
esta: não lhe parece que as variáveis que aqui referi devem fazer parte do diagnóstico, para que as soluções
sejam efetivamente reais, operativas e votadas ao sucesso?
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Luís Leite Ramos.
O Sr. Luís Leite Ramos (PSD): — Sr. Presidente, cumprimento, naturalmente, os Srs. Deputados Hélder
Amaral e Agostinho Santa, agradecendo as questões que colocaram e, de uma forma breve, procurarei
responder a essas questões e às considerações que foram tecidas.
Relativamente à valorização dos recursos, estamos inteiramente de acordo. Julgo que é fundamental,
nesta nova abordagem da problemática do desenvolvimento territorial e da coesão, que haja uma valorização
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efetiva dos recursos, e valorização efetiva dos recursos produtivos, mas também dos recursos e serviços que
estes territórios prestam ao País no seu conjunto.
Claramente, no caso da energia, há uma repartição que não é equilibrada, que não é justa, entre as mais-
valias geradas ou o valor acrescentado gerado na produção energética e aquilo que é retido nestes territórios.
Deste ponto de vista, julgo que é importante, e o PSD tomará a iniciativa de desenvolver uma proposta no
sentido de que haja uma repartição equilibrada, quer nos recursos minerais, quer nos recursos energéticos,
relativamente aos valores, nomeadamente, da derrama. Não faz sentido absolutamente nenhum que a
derrama das empresas que exploram os recursos hidroelétricos das regiões do interior continue a ser paga em
Lisboa e não nos territórios onde esse recurso é explorado e onde esse valor é aproveitado.
Quanto ao que foi dito pelo Sr. Deputado Agostinho Santa, julgo que há um equívoco: não podemos
confundir o remédio com a doença. E o remédio que aplicámos nos últimos três anos, que os senhores
prescreveram, juntamente com a troica, e que nós, no interesse nacional, apoiámos, é um remédio para
combater e resolver um problema que foi criado pela forma como o País foi governado nos últimos anos.
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. Luís Leite Ramos (PSD): — Portanto, não tenhamos equívocos relativamente a essa questão.
Aplausos do PSD.
Face às políticas, há um aspeto que é fundamental: o pior que nos pode acontecer é enveredarmos por um
debate demagógico e hipócrita sobre estas matérias. Repare que, entre 1995 e 2011, o Partido Socialista
esteve um largo período de tempo no Governo, aplicou medidas de discriminação positiva, fez investimentos
em betão e infraestruturas. Quais foram os resultados obtidos? O êxodo continuou a um ritmo constante,
prolongado e acentuado. Isto quer dizer que essas políticas não resolveram o problema do interior, não
resolveram o problema essencial, que é a falta de emprego, esse, sim, pode ajudar a fixar população.
Penso que esta matéria é muito importante, muito relevante e só com um consenso alargado, só com uma
forma de encarar o problema de modo diferente podemos combater e, de alguma forma, mitigar os efeitos
tremendos que estão a sentir-se nesses territórios.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Também para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª
Deputada Paula Santos.
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Luís Leite Ramos, cumprimento-o pela sua
declaração política e pelo tema que aqui trouxe, mas, Sr. Deputado, veio falar de coesão territorial, de
pretensas preocupações e passou uma borracha por tudo aquilo que o seu Governo fez nestes três anos, em
que só contribuiu para agravar as assimetrias regionais, as condições de vida e o desenvolvimento nas
regiões de baixa densidade.
O Sr. Deputado falou na necessidade de promoção da igualdade de acesso a bens e serviços públicos. Ó
Sr. Deputado, mas, então, como é que pretende assegurar essa igualdade, quando aquilo que o seu Governo
tem previsto é continuar a encerrar e a reduzir serviços públicos para as populações em todo o nosso País?! O
Sr. Deputado falou na preocupação com o interior e com o desenvolvimento territorial, mas, Sr. Deputado,
diga-nos lá como é que pretende atingir a coesão territorial, quando o seu Governo introduz portagens nas
SCUT. É isto que contribui para essa coesão?! Quando o seu Governo encerra centenas e centenas de
escolas pelo País, isto ajuda a fixar as populações?! Quando o seu Governo encerrou postos e extensões de
saúde, postos de correios e, mais, até extinguiu freguesias, como é que pode vir aqui falar de pretensas
preocupações?! Tudo o que fazem é exatamente no caminho oposto!
Este discurso, de facto, esta sua declaração política teve um único propósito: foi eleitoralista! Esta é a
verdade dos factos!
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O que queremos dizer é que não é com essas políticas nem com este Governo que o País pode ter,
efetivamente, um desenvolvimento mais equilibrado e que podemos contribuir para a eliminação das
assimetrias. É seguramente com investimento público, é seguramente com uma aposta…
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Tem de concluir, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Vou concluir, Sr. Presidente.
É seguramente com uma aposta nos serviços públicos, garantindo o acesso aos serviços públicos a todas
as populações, descentralizado e de proximidade, e não com o que este Governo diz, mas, depois, na prática,
faz exatamente o oposto.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Tem de terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Para terminar, Sr. Presidente, o País pode ter um desenvolvimento mais
equilibrado e podemos contribuir para a eliminação das assimetrias, garantindo os direitos que estão
consagrados a todos os portugueses.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Ainda para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada
Cecília Honório.
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Luís Leite Ramos, quero saudá-lo pela sua
declaração política, pelas suas preocupações em torno das assimetrias territoriais, da coesão territorial, do
drama da interioridade.
O Sr. Deputado queixou-se de uma herança, mas a verdade é que a maioria tem uma mão cheia de nada.
Até poderia subscrever o diagnóstico que aqui fez — o problema do empobrecimento, a falta de recursos, o
despovoamento, o envelhecimento da população —, não fosse o Sr. Deputado considerar como vetor
importante para a correção das gravíssimas assimetrias o acesso aos serviços públicos.
Quero perguntar-lhe como é que pode fazer este discurso. Como é que sustenta este argumento? É que o
Sr. Deputado sabe que esta maioria deixou as autarquias financeiramente exauridas, este Governo mais não
fez do que fechar centros de saúde, postos de correios, finanças, escolas e, ao mesmo tempo, tribunais.
Quero perguntar-lhe se o Sr. Deputado é capaz de ir fazer este discurso a Viseu, se é capaz de ir dizer às
populações de Viseu que está muito preocupado com a interioridade, quando os tribunais são encerrados e
elas perdem, objetivamente, o acesso ao direito e aos tribunais. Ou se é capaz de o ir fazer, por exemplo, ao
distrito de Faro, se é capaz de ir a Monchique dizer às populações das aldeias do interior que vão ter de se
deslocar de véspera para poderem ir aos tribunais.
Portanto, explique-se, Sr. Deputado, porque, realmente, nós entendemos que os senhores estão num
percurso de pré-campanha eleitoral, mas não faz sentido vir falar em correção de assimetrias e em
preocupação com a interioridade, quando os senhores têm desfalcado o acesso das populações do interior
aos bens e serviços públicos que, afinal, tanto o preocupam.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Luís Leite Ramos.
O Sr. Luís Leite Ramos (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as
Deputadas Paula Santos e Cecília Honório,
agradeço muito as vossas questões.
Julgo que, nesta matéria, se partilhamos alguma análise dos sintomas, estamos, claramente, longe nos
diagnósticos e nas soluções para os problemas. E vou explicar-me.
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Relativamente ao diagnóstico, nunca o interior foi tendo, como ao longo das últimas décadas, tantos
serviços e nunca a melhoria das condições de vida foi tão efetiva. Mas estes factos não inviabilizaram, não
contiveram, não modificaram o êxodo rural e o esvaziamento demográfico.
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Ah! A culpa é das pessoas?!
O Sr. Luís Leite Ramos (PSD): — Sr.ª Deputada, nas últimas três décadas, o interior perdeu mais de 30%
da sua população, num período em que as condições de vida melhoraram, havia infraestruturas públicas,
havia equipamentos, havia escolas. Naturalmente, esta é a prova elementar de que não são os serviços que
fixam população no interior.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Ainda acredita em tudo o que ouve nas reuniões do PSD?!
O Sr. Luís Leite Ramos (PSD): — Não estamos a dizer que o acesso e a igualdade de oportunidades não
são importantes…
O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Muito bem!
O Sr. Luís Leite Ramos (PSD): — … e que não é preciso defendê-los — não é isso que está em causa! —
, mas não podemos inverter a causa e a consequência, nas dinâmicas que provocaram o esvaziamento
demográfico do interior.
Nos locais onde há tribunais há mais de 100 anos, onde há abastecimento público há mais de 30 anos,
onde há escolas, onde há equipamentos culturais e desportivos, as populações continuaram a fugir, pela
simples razão de que aquilo que as faz ficar num território é o facto de terem ou não emprego. Este é o
problema! Durante muitos anos, pensámos que bastava melhorar as acessibilidades, criar melhores condições
de vida, porque isso levava o desenvolvimento aos territórios do interior, mas as pessoas foram-se embora
unicamente porque o emprego não aparecia e as suas condições de vida não eram satisfeitas.
A Sr.ª Deputada se acha que manter escolas primárias com 10 alunos é garantir a igualdade de
oportunidades para uma educação e uma escola pública de qualidade, como defendeu o Partido Socialista? É
que o Partido Socialista que, no passado, teve um Primeiro-Ministro que dizia ser criminoso não encerrar
escolas com menos de 20 alunos é o mesmo que agora critica o Governo…
O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Já esqueceram!
O Sr. Luís Leite Ramos (PSD): — … por continuar a fazer a reforma e a reorganização dos serviços da
Administração Pública.
Aplausos do PSD.
Nós entendemos que é fundamental e importante garantir a igualdade no acesso aos serviços, mas isto
não quer dizer que tem de ficar tudo na mesma. Esta reorganização pode e deve ser feita, garantindo,
essencialmente, que as pessoas tenham acesso a esses serviços. Foi por isso que o Governo criou, por
exemplo, o programa Portugal Porta a Porta para resolver um dos maiores problemas na acessibilidade, que é
o problema da mobilidade. Se for garantida mobilidade às populações que estão nas aldeias mais isoladas, o
acesso fica garantido. Não é preciso ter um tribunal, um centro de saúde, uma escola em cada aldeia, o que é
preciso é garantir que as pessoas têm acesso a esses serviços.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Já ultrapassou o tempo de que dispunha, Sr. Deputado.
O Sr. Luís Leite Ramos (PSD): — Mas, ou nós conseguimos ganhar este combate pela criação de
emprego e de riqueza, a partir dos recursos que existem, ou, qualquer que seja a política de manutenção de
serviços, infraestruturas ou equipamentos, vai ser votada ao fracasso, como sucedeu nos últimos 20 anos.
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Aplausos do PSD e do CDS-PP.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Srs. Deputados, chegámos, assim, ao fim do primeiro ponto da
nossa ordem de trabalhos, o longo ponto de declarações políticas.
Vamos passar ao ponto 2, que consiste na apreciação conjunta, na generalidade, dos projetos de lei n.os
647/XII (3.ª) — Altera o Código Penal, criminalizando a perseguição e o casamento forçado (PSD e CDS-PP),
659/XII (4.ª) — Procede à alteração do Código Penal, criando os crimes de perseguição e casamento forçado
em cumprimento do disposto na Convenção de Istambul (PS), 661/XII (4.ª) — Cria o tipo legal de assédio
sexual no Código Penal (BE) e 663/XII (4.ª) — Cria o tipo legal de perseguição no Código Penal (BE).
Para apresentar o projeto de lei n.º 647/XII (3.ª), em nome do PSD, tem a palavra a Sr.ª Deputada Carla
Rodrigues.
A Sr.ª Carla Rodrigues (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: É de direitos humanos que hoje
quero falar. Do direito à vida, à liberdade, à autodeterminação, à segurança pessoal, à reserva da vida privada,
à proteção do domicílio, do direito à livre escolha do marido ou da esposa, do direito a casar ou a não casar,
do direito à dignidade pessoal, todos direitos consagrados, há mais de 60 anos, na Declaração Universal dos
Direitos Humanos e tantas vezes e tão ostensivamente violados, perante o silêncio e passividade de muitos.
Incumbe aos Estados promover o respeito universal e efetivo dos direitos humanos. Foi no cumprimento
desta obrigação que o Estado português ratificou a Convenção do Conselho da Europa para a Prevenção e o
Combate à Violência contra as Mulheres e a Violência Doméstica. Porque, repito, é de direitos humanos que
estamos a falar.
Vozes do PSD: — Muito bem!
A Sr.ª Carla Rodrigues (PSD): — E permitam-me que expresse o orgulho que sinto, não só enquanto
Deputada mas, sobretudo, enquanto mulher e cidadã deste País, pelo facto de Portugal ter sido o primeiro
país da União Europeia a ratificar esta convenção. Aliás, Portugal é reconhecido internacionalmente pelas
suas boas práticas, concretizadas em políticas públicas de promoção da igualdade de género e de prevenção
e combate à violência doméstica e de género. Isto é fruto do trabalho de muitos, mas sobretudo do empenho
deste Governo e, em especial, da Sr.ª Secretária de Estado dos Assuntos Parlamentares e da Igualdade, que
aqui gostaria de reconhecer.
A ratificação desta convenção, designada como Convenção de Istambul, trouxe para Portugal obrigações
acrescidas, que se traduzem, não só mas também, no projeto de lei ora em discussão, apresentado pelo PSD
e pelo CDS, de criminalização autónoma da perseguição e do casamento forçado.
As vítimas destes crimes são, sobretudo, mulheres e meninas e a sua proteção não se encontra
plenamente assegurada no atual quadro penal. Este foi, aliás, o entendimento generalizado das entidades
ouvidas no grupo de trabalho para averiguação das implicações legislativas da Convenção de Istambul.
Saudamos as iniciativas legislativas do PS e Bloco de Esquerda sobre esta temática, que demonstram ter
havido efetivamente um consenso generalizado em torno da criação destes novos tipos legais de crime. Este
combate é de todos, para além das divergências ideológicas.
Gostaria de realçar que a criminalização da perseguição visa não só a punição dos perseguidores mas,
sobretudo, a prevenção e proteção das vítimas, nomeadamente através da consagração de penas acessórias
de proibição de contacto com a vítima pelo período de seis meses a três anos, incluindo o afastamento da
residência ou do local de trabalho, e de obrigação para o arguido de frequência de programas específicos de
prevenção de condutas típicas da perseguição. A proteção das vítimas é uma prioridade face aos efeitos
nefastos que este tipo de crime produz na vida da vítima, não só no momento da prática do crime mas durante
toda a sua vida.
Quanto ao crime de casamento forçado, punem-se não só os casamentos forçados como a união
equiparável à do casamento, bem como os atos preparatórios, incluindo a atração da vítima para fora do
território nacional com o intuito de a constranger a contrair casamento. Não há costume ou tradição que se
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sobreponha aos valores que enformam a nossa sociedade ou que se sobreponha aos direitos fundamentais de
mulheres e meninas que se veem condenadas a vidas de sofrimento, de servidão e de dependência.
A liberdade pessoal de cada um, o seu direito à autodeterminação, à reserva da vida privada, à proteção do
domicílio, o direito de ir à escola e de brincar na idade própria para o fazer, o direito de escolher casar ou não
casar, e de o fazer de forma livre e consciente com a pessoa escolhida e de preferência com a pessoa amada,
são direitos fundamentais do ser humano, assentes na sua dignidade.
Com estes projetos entendemos dar mais um passo na proteção destes direitos, porque é efetivamente de
direitos humanos que estamos a tratar.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para apresentar o projeto de lei do PS, tem a palavra a Sr.ª
Deputada Isabel Alves Moreira.
A Sr.ª Isabel Alves Moreira (PS): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Como já aqui foi dito, estamos,
de facto, a falar de direitos humanos, de direitos que podem ser resumidos ao livre desenvolvimento da
personalidade, que, por este mundo fora, tem vindo a ser negado a mulheres e a raparigas de uma forma
ultrajante.
Sabemos todos que uma coisa é a lei, outra coisa é a implementação da lei, o diálogo intercultural e as
medidas administrativas, e que o caminho para a conquista da igualdade de género e para o fim da violência
de género é um caminho duro, que não acaba na aprovação destes projetos de lei.
E se, nos últimos anos, Portugal e, muito especialmente, as mulheres portuguesas têm vindo a beneficiar
de importantes medidas que reforçaram a sua proteção face a diferentes tipos de discriminação e violência, se
são de referir, evidentemente, os cinco planos nacionais de prevenção e combate à violência doméstica e de
género aplicados desde 1999 no nosso País, bem como as várias melhorias introduzidas legalmente, numa
lógica de continuidade, pelos vários Governos, se é de referir também, repetindo o que já aqui foi dito, o facto
de Portugal ter sido pioneiro no plano internacional no desenvolvimento de políticas nesta área, tendo sido o
primeiro a ratificar a Convenção do Conselho da Europa conhecida como Convenção de Istambul, que entrou
em vigor no passado dia 1 de agosto, a verdade é que ainda falta fazer muito.
De facto, ainda falta fazer muito, como ressaltou no âmbito do grupo trabalho. Aproveito para saudar a
Deputada Carla Rodrigues, que presidiu ao grupo de trabalho criado para pôr em prática as obrigações
decorrentes da Convenção de Istambul, leia-se as obrigações penais decorrentes da Convenção de Istambul,
porque muito mais obrigações decorrem desta convenção. Queria, portanto, saudá-la, Sr.ª Deputada, nessa
qualidade, pelo excelente trabalho que levou a efeito.
A verdade é que nos concentrámos em fazer um trabalho relativamente à matéria penal, mas foi nossa
preocupação não ter um espírito de hiperpenalização. Isto é, há comportamentos que não têm de ter dignidade
penal, e a Convenção de Istambul, do nosso ponto de vista, é clara, por exemplo, relativamente ao assédio, e
há comportamentos que têm dignidade penal, como são os casos da perseguição e do casamento forçados,
que, como já aqui foi, dito, é uma prática absolutamente monstruosa. No que respeita à perseguição, saíram
hoje notícias sobre esta matéria, mas nós já tínhamos números absolutamente assustadores, nomeadamente
por parte da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV).
Assim, na presente iniciativa, propõe-se a criminalização da prática de perseguição, identificada como as
situações em que alguém, de modo persistente e indesejado, perseguir ou assediar outra pessoa, por
qualquer meio, direta ou indiretamente, de forma adequada a perturbar, constranger ou afetar a sua dignidade
— foi retirada do assédio esta expressão —, provocando medo, inquietação ou prejudicando a sua liberdade
de determinação. Ou seja, aquela parte do assédio que é tão forte que tem dignidade penal já está coberta
pelo tipo criminal de perseguição previsto quer no projeto de lei do PS, quer no projeto de lei do PSD e CDS.
Penso que deve ser entendido assim. O restante assédio está coberto pela lei laboral e não deve entrar no
Direito Penal.
A natureza específica e complexa deste novo crime, que é assumido, por isso, como semipúblico, justifica,
não obstante, à semelhança do que sucede, por exemplo, no crime de violência doméstica, e a par da moldura
principal, a previsão das penas acessórias que já aqui foram referidas e que são as mesmas.
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Em relação ao casamento forçado, fazemos um enquadramento penal semelhante ao que está previsto no
projeto de lei do PSD e do CDS, com algumas diferenças que, penso, na especialidade serão certamente
dirimidas, sendo que poderemos também chegar a acordo facilmente.
Por fim, queria também saudar as iniciativas do Bloco de Esquerda.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para apresentar os projetos de lei do Bloco de Esquerda, tem a
palavra a Sr.ª Deputada Cecília Honório.
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: É de direitos humanos que hoje
aqui falamos, como bem disse a Sr.ª Deputada Carla Rodrigues, que quero também saudar pelo trabalho que
fez no grupo de trabalho sobre esta matéria.
A Sr.ª Deputada invocou aqui o facto de Portugal ter sido o primeiro país a assinar a Convenção de
Istambul. É nosso entendimento que há muito trabalho para fazer, é nosso entendimento que os
compromissos com a Convenção de Istambul pelo combate a todas as formas de violência contra as mulheres
não acabam aqui, com a aprovação, ou não, das iniciativas em debate. Esse trabalho é mais profundo e, pela
nossa parte, será continuado.
Neste sentido, quero saudar também as iniciativas legislativas trazidas a debate pelo PSD e CDS e pelo
PS. O Bloco de Esquerda acompanha estas iniciativas, sem prejuízo de, nomeadamente no que ao casamento
forçado diz respeito, haver alguma articulação entre o artigo 154.º-C e o artigo 160.º do Código Penal, que tem
a ver com o tráfico de pessoas, e de, porventura, ser necessário fazer um ajustamento. Em todo o caso, tal
como aconteceu no âmbito deste grupo de trabalho, a nossa disponibilidade é total para encontrarmos as
melhores soluções.
O Bloco de Esquerda traz a debate uma proposta relativa ao crime de perseguição. Fá-lo atendendo à
necessidade de reconhecer que é um comportamento reiterado e intencional; fá-lo, simultaneamente,
apoiando-se em algumas advertências, nomeadamente da APAV, quanto à necessidade de se fazer um
elenco relativo de comportamentos que podem ser integrados neste crime, pela simples razão de que isso
criará maior segurança jurídica. Estou certa de que atender-se-á à necessidade de fazer esse debate.
Ao mesmo tempo que prevemos medidas de afastamento, há igualmente a previsão do agravamento da
moldura penal quando as vítimas são menores de 16 anos ou pessoas particularmente vulneráveis. Como já
aqui foi dito, são maioritariamente mulheres, e muitas vezes mulheres jovens, as principais vítimas deste
crime. É preciso que possamos consagrá-lo, dar-lhe a dignidade penal que lhe assiste e que possamos
desenvolver os meios para defender estas vítimas.
Ao mesmo tempo, o Bloco de Esquerda reconhece a necessidade de autonomização do crime de assédio
sexual. Fá-lo seguindo o exemplo de tantos outros países, como o Brasil, a Espanha ou a França; fá-lo por
respeito às associações que trabalham com as vítimas de assédio sexual; e fá-lo em nome do fim da
normalização do assédio sexual. Desse ponto de vista, acolhemos o conselho daqueles que nos dizem que é
melhor, que é mais importante dar-lhe dignidade penal porque é assim que acabamos com este clima de
normalização.
E fazemo-lo reconhecendo que este comportamento é também um comportamento reiterado com vista à
obtenção de favores sexuais, tantas vezes, como bem sabemos, de pessoas que têm uma relação de
superioridade hierárquica sobre outras, ou ainda quando os comportamentos de teor sexual em causa atentam
contra a dignidade da pessoa humana, em razão de situações de provocam particular humilhação, particular
hostilidade e comportamentos degradantes para as pessoas.
Como falamos de direitos fundamentais, consideramos que todo este debate é importante, com tudo o que
ainda estará por fazer. Em outras iniciativas e em tantos outros campos, o Bloco de Esquerda não desistirá de
um caminho que é para continuar.
Aplausos do BE.
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O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Teresa
Anjinho, do CDS-PP.
A Sr.ª Teresa Anjinho (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Antes de falar do conteúdo
concreto destas iniciativas, e abordando apenas algumas delas, tendo em conta a escassez do tempo,
permitiam-me dirigir uma palavra muito especial de saudação a todas as Sr.as
Deputadas que integraram o
grupo de trabalho que, durante longas semanas, estudou e, hoje, propôs iniciativas associadas às implicações
penais da Convenção de Istambul.
Reconhecendo que nem sempre coincidimos com o diagnóstico do problema, ou até mesmo com a
solução, a verdade é que a simples constatação comum de que a violência continua a fazer parte
excessivamente, desproporcionalmente, da vida de muitas mulheres, permitiu consensos, permitiu
conhecimentos, debates construtivos e, acima de tudo, permitiu a procura construtiva de soluções.
As presentes iniciativas são fruto disso, exatamente. E permitam-me, aliás, depois de todas as
intervenções, prestar uma atenção muito particular ao crime de perseguição, até pelas implicações que este
crime tem, por não ser efetivamente muito conhecido.
Começo por dizer que os fenómenos de perseguição não são novos, mas são, de facto, pouco conhecidos.
Na verdade, até há pouco tempo, eram encarados com normalidade. Contudo, dada a sua natureza criminal,
que, é importante que se entenda, compreende atitudes de ameaças, injúrias, difamações, devassa da vida
privada, gravações e fotografias ilícitas, coação, homicídio, estes comportamentos não são, nem pode ser,
aceites como comportamentos normais. São, sem dúvida alguma, comportamentos violentos, que restringem a
liberdade pessoal nas suas mais diversas dimensões, correspondendo a sua aceitação pela sociedade à
validação da violência.
Brevemente, a perseguição define-se como um comportamento de assédio — e aqui a linha que separa o
crime de perseguição do assédio, até mesmo do assédio sexual, é muito ténue — ou perseguição obsessiva,
persistente e indesejada, com reiterada violação da privacidade, imposição de comunicações, vigilância e
monitorização.
O stalking implica, portanto, a título de exemplo, a perseguição da vítima, para ver onde vive, como vive,
que lugares frequenta, com que pessoas se encontra, onde trabalha. Implica a sua vigilância, monitorização da
casa, interceção do correio, telefonemas, emails, web page, facebook, twitter, o chamado cyberstalking.
Implica assédio através de presentes, telefonemas, cartas, mensagens persistentes e indesejadas, impondo
um contacto e uma pseudorelação com a vítima, implicando, também injúrias, difamação, ameaças, como
forma de obter o controlo emocional sobre a vítima. E, nos casos mais graves, chega a haver ofensas físicas,
sexuais e até mesmo homicídio.
A característica da persistência torna o comportamento num ato continuado e não isolado, assumindo,
normalmente, um efeito de escalada, quer na frequência, quer na severidade dos comportamentos. Tem,
maioritariamente, sido definido como uma forma de violência relacional, mas é importante perceber que esta
também pode não existir. O que caracteriza o stalking como comportamento de perseguição insidiosa e
obsessiva é um conjunto padronizado de comportamentos, repetido, que surge na tentativa de exercer poder
sobre as outras pessoas, seja qual for o tipo de relação que exista ou que inexista.
A comunidade jurídica e os estados só começaram a reconhecer o relevo destes fenómenos, infelizmente,
após situações trágicas. As consequências, Sr.as
e Srs. Deputados, são as mais variadas: baixa autoestima,
sintomas psicossomáticos físicos e mentais, depressão, isolamento social, ansiedade, insegurança,
isolamento, frustração, culpa, vergonha, medo, raiva, perda de interesse, distúrbios, desconcentração,
síndrome de stress pós traumático.
Mais, a vitimação afeta não apenas aquela que é a sua vítima direta, pode também afetar pessoas
próximas, como companheiros, amigos e familiares, não apenas como uma forma de pressionar e de
constranger a vítima mas também como possíveis alvos de represálias.
Qualquer comportamento de perseguição, persistente e obsessiva, com a intenção de importunar, de
achincalhar, de devassar, pode corresponder a um tipo de stalking. Mas é importante perceber que há aqui
dois aspetos essenciais: a reiterada vitimação e o impacto que esses comportamentos causam na vítima.
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Uma atenção particular — e, Sr. Presidente, irei terminar — em relação ao cyberstalking, porque não
podemos desvalorizar que este tipo de perseguição por meios, sem recurso ou com recurso a tecnologias, é
sempre ameaça, é sempre invasão e é sempre a devassa da privacidade.
A criminalização da perseguição que hoje aqui se propõe vai ao encontro desta realidade, e a mesma
lógica se aplica à criminalização do casamento forçado, onde Portugal cumpre, efetivamente, o seu papel de
combate, num combate que é mundial.
Termino, dizendo que a realidade, Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, é uma realidade muito complexa
e difícil de sintetizar. As soluções não são simples mas os valores reclamam, sem dúvida, que sejam
alcançáveis.
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Rita Rato.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Sr. Presidente, Sr. Deputados: A Convenção de Istambul, ratificada por Portugal
em 2013, condena todas as formas de violência contra as mulheres e reconhece que mulheres e raparigas
estão expostas a formas graves de violência que constituem uma violação dos seus direitos humanos.
Esta Convenção insta os estados a tomar medidas com o objetivo de prevenir todas as formas de violência.
Consideramos que é cada vez mais premente a necessidade de uma abordagem integrada à Convenção de
Istambul, por nos parecer desadequada a opção de discutir isoladamente alterações a leis penais ou a criação
de novos crimes.
Sobre o objetivo das propostas em discussão, designadamente quanto à autonomização do crime de
perseguição, importa dizer que este crime tem algumas fronteiras com outros crimes já tipificados no Código
Penal, integrados no Código como crimes contra as pessoas.
Ainda assim, e mesmo considerando tal, parece-nos adequado que os mesmos tenham consagração penal
e sejam, por isso, aditados ao Código, pois decorrem de uma realidade específica a que importa responder.
A perseguição, muitas vezes, não constitui um ato isolado mas, sim, uma conduta decorrente de outras
situações, algumas já criminalizadas, como a violência doméstica. Admitindo, contudo, que ocorra
isoladamente, parece-nos adequada a sua consideração de crime semipúblico.
Importa também clarificar, porque a redação suscita ambiguidades, se estamos perante um crime de perigo
ou de resultado. Isto é, exige-se que a vítima tenha tido efetivamente medo ou inquietação, que tenha
efetivamente sofrido prejuízos ou limitações na sua liberdade, ou basta que a atuação seja suscetível, em
abstrato, de causar aqueles, apesar de aquela pessoa não ter sofrido medo, inquietações ou limitações?
No entanto, importa assegurar que a integração destes crimes no Código não possa ocorrer desligada da
sua efetiva prevenção e acompanhamento, pelo que se torna adequado que, para proteção concreta das
vítimas, seja acompanhada de legislação complementar e da garantia das condições económicas, sociais e
culturais que a concretize.
Sr. Presidente, Sr. Deputados, de acordo com a UNICEF, a pobreza é um dos principais motores do
casamento infantil. Em muitos países e comunidades pobres, casar uma filha representa menos uma boca
para alimentar e o dote pode representar um benefício para famílias desesperadas.
Os filhos de meninas jovens e pouco instruídas tendem a ter um pior desempenho na escola e salários
mais baixos, perpetuando, assim, o ciclo de pobreza.
Tal como a UNICEF define, o casamento infantil configura-se como um elemento de negação de direitos
básicos das crianças e jovens, sendo um grande entrave para a redução da mortalidade infantil e materno-
infantil, o combate ao HIV ou à garantia de educação primária universal.
Esta não é uma realidade generalizada na sociedade portuguesa, existindo, ainda assim, em algumas
comunidades. Concordando que é necessário tomar medidas para prevenir e eliminar esta prática, o PCP
alerta para a necessidade de evitar que tais medidas se constituam em elementos de estigmatização, de
xenofobia ou que promovam segregação social.
Consideramos ainda que também no âmbito dos processos tutelares e das comissões de proteção de
crianças e jovens se deveriam considerar linhas de intervenção que, com seriedade, contribuíssem para pôr
fim a esta realidade.
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Para o PCP, mais uma vez o afirmamos em sede de discussão destas propostas, a luta pelos direitos das
mulheres é uma luta inseparável por um futuro de progresso e de justiça social para todos e é esse o caminho
que temos de construir.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Como não há mais inscrições para este ponto da ordem do dia,
passamos para o próximo, o ponto 3, que consiste na discussão conjunta, na generalidade, dos projetos de lei
n.os
632/XII (3.ª) — Procede à alteração do Código Penal, permitindo a declaração de indignidade sucessória,
como efeito da pena aplicada no âmbito de sentença condenatória pela prática do crime de homicídio (PS),
653/XII (4.ª) — Altera o Código Penal e o Código Civil em matéria de indignidade sucessória (PSD e CDS-PP)
e 662/XII (4.ª) — Procede à alteração do Código Penal em matéria de indignidade sucessória (BE).
Para apresentar o projeto de lei n.º 632/XII (3.ª), do PS, tem a palavra a Sr.ª Deputada Catarina Marcelino.
A Sr.ª Catarina Marcelino (PS): — Sr. Presidente, Sr.
as e Srs. Deputados: Em novembro de 2012, no
âmbito do Dia Internacional de Erradicação da Violência contra as Mulheres, o Departamento Nacional das
Mulheres Socialistas sugeriu à Câmara Municipal de Lisboa que, em parceria com o Observatório das
Mulheres Assassinadas da UMAR, descerrasse uma placa invocativa com o nome das mulheres que tinham
sido mortas na cidade de Lisboa às mãos dos seus maridos, companheiros ou namorados.
Para que este gesto simbólico fosse levado a cabo era necessária a autorização dos herdeiros legais
dessas mulheres.
E foi numa rua de Lisboa, à conversa com um vizinho de uma destas mulheres, que nos confrontámos com
o facto de que aquele que podia dar a autorização para a utilização do nome na placa de homenagem era o
próprio homicida, porque, não havendo outros familiares próximos, ninguém tinha intentado uma ação a
solicitar a indignidade sucessória, o que levava a que neste caso, este homem, a cumprir pena por ter
assassinado a mulher, estivesse a receber uma pensão de sobrevivência por morte da vítima.
E foi assim, em novembro de 2012, através de várias notícias na comunicação social, que todos e todas
nos confrontámos com esta indignidade moral, que ultrapassa a violência em vida e se perpetua num ato de
violência sobre a memória de mulheres mortas às mãos dos maridos, companheiros ou namorados.
Hoje, estamos na Assembleia da República a procurar resolver um problema de aplicação da lei que,
apesar de estar contemplado no Código Civil desde 1966, não se aplica a todas as situações. Continua a
haver maridos, companheiros e namorados com direitos sobre bens, pensões e seguros e com o poder
discricionário de decidir sobre o nome e a memória daquela que mataram.
Para além das audiências que as mulheres socialistas, acompanhadas pelo Grupo Parlamentar do PS,
solicitaram, em 2012, à Procuradora Geral da República e ao Bastonário da Ordem dos Advogados, hoje
podemos contar com o parecer da Ordem dos Advogados e do Conselho Superior de Magistratura no âmbito
da proposta de lei do Partido Socialista, mas também de outras propostas, que quero aqui saudar, de autoria
da maioria, PSD e CDS, e do Bloco de Esquerda.
Julgo que para além da solução a que iremos chegar, porque acredito que todos os grupos parlamentares,
sem exceção, estão disponíveis para acabar com uma injustiça que não tem classificação numa sociedade
decente, num Estado de direito moderno, progressista, em pleno séc. XXI, o que hoje aqui fica escrito na
História deste Parlamento, na História dos direitos, liberdades e garantias, na História da cidadania e da justiça
social, é que todos e todas daremos o nosso melhor para que, quer na vida quer na morte, a lei portuguesa
proteja as cidadãs e os cidadãos.
Apelo aos grupos parlamentares que trouxeram iniciativas legislativas para que as propostas baixem à
especialidade e que, de forma construtiva, procurando uma solução consensual, possamos voltar a Plenário e
votar, por unanimidade, uma mudança na lei, que será de todos nós, contra a violência doméstica e em prol
dos direitos humanos, inalienáveis e indivisíveis das mulheres e das raparigas.
Que os nomes inscritos no memorial que se encontra no jardim em frente à Maternidade Alfredo da Costa
simbolizem um propósito bem maior do que uma simples invocação da sua memória, no passado 25 de
novembro.
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Aplausos do PS, da Deputada do CDS-PP Teresa Anjinho e da Deputada do BE Helena Pinto.
O Sr. Presidente: — Para apresentar o projeto de lei n.º 653/XII (3.ª), em nome do PSD, o Sr. Deputado
Carlos Peixoto.
Faça favor, Sr. Deputado.
O Sr. Carlos Peixoto (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Não falarei, naturalmente, em nome
dos homens sociais-democratas, porque este debate e estes projetos que são aqui apresentados não podem
confinar-se a retóricas sexistas, em que se fala de homens e em que se fala de mulheres. Não é nada disto
que aqui estamos a discutir!
Naturalmente que há muitos homicídios contra mulheres — e temos todos de os repudiar —, mas também
há homicídios contra homens, em que mulheres matam os maridos, também há homicídios entre pais e filhos
e entre filhos e pais.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — E?!…
O Sr. Carlos Peixoto (PSD): — Do que estamos a falar é algo de muito mais transversal a isto tudo, de
muito mais abrangente.
Meus Caros Colegas, Srs. Deputados, o que está aqui em causa é apenas o seguinte: como é sabido, já
existe na lei a incapacidade sucessória por motivo de indignidade, por, entre outros casos, haver situações em
que alguém seja condenado por um crime de homicídio doloso contra o autor da sucessão ou contra o seu
cônjuge, descendente, ascendente, adotado ou adotante.
Este pedido da incapacidade — e aqui é que bate o ponto —, na atual lei, tem de ser feito pelos herdeiros,
que são os interessados, e através de uma ação cível. O que o Partido Socialista veio propor, e muito bem, foi
dar eficácia e tornar mais efetiva esta possibilidade de incapacidade através da introdução de um novo artigo
no Código Penal que previsse a possibilidade de o juiz, na sentença penal, declarar logo a incapacidade
sucessória.
Só que este projeto do Partido Socialista tem um bom pressuposto, um bom princípio, mas não atinge o
fim. Não atinge o fim por uma razão: imaginem que o juiz, por esquecimento — o que, aliás, é humano — ou
porque não tem o acervo factual suficiente no processo-crime — não conhece, por exemplo, a classe de
sucessíveis do condenado, do arguido —, não decreta logo a incapacidade sucessória por indignidade.
Numa situação como esta, o que é que acontece, segundo o projeto do Partido Socialista? Nada, tudo volta
ao início e ressurge o problema.
O que é que o PSD, juntamente com o CDS-PP, fez para obviar a esta questão? Fez uma coisa muito
simples, uma boa ponte entre o Código Penal e o Código Civil: para além de introduzir uma nova alínea no
Código Penal, o artigo 69.º-A, muito parecido com o do Partido Socialista, faz mais do que isso, isto é, altera o
Código Civil por forma a que seja dada possibilidade — aliás, nem é uma possibilidade, é um dever— ao
Ministério Público de, ele próprio, propor a ação quando o único sucessor do arguido condenado seja ele
próprio. Nesse caso, tem de ser o Ministério Público a propor a ação para se decretar a indignidade
sucessória, para que o infrator — que é o condenado, o autor do homicídio — não beneficie, ele próprio, do
património do falecido, por via da herança.
Portanto, o PSD faz bem esta ponte. O Partido Socialista, honra lhe seja feita, deu o mote, e fez bem,
devendo ser saudado por isso, e o PSD e o CDS tiveram o mérito de tornar exequível e eficaz uma ideia
original, que peca por defeito, por ser inconsequente e não resolver o que, naturalmente, queria prever. Por
isso, também se deve saudar a posição que o PSD e o CDS acabaram por tomar, sendo certo que o Bloco de
Esquerda, mais vírgula menos vírgula, segue um pouco a lógica do Partido Socialista, que está correta, mas
está incompleta e é imperfeita.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para apresentar o projeto de lei do Bloco de Esquerda, tem a
palavra a Sr.ª Deputada Cecília Honório.
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A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: O Bloco de Esquerda quer saudar
esta iniciativa do PS e todo o trabalho que a sustentou, reconhecendo, também, a importância da iniciativa do
PSD e do CDS, alargando a algumas questões que são relevantes neste caminho que, penso, mais uma vez
reunirá o consenso possível em torno de uma matéria tão importante. E se o Sr. Deputado Carlos Peixoto me
estivesse a ouvir neste momento saberia que a distinção fundamental do projeto de lei do Bloco de Esquerda
não é tanto uma questão de vírgulas, mas uma questão de verbo — é o verbo que muda.
Mas do que é que estamos a falar?
Quando alguém morre, é aberta a sucessão e há — é verdade, já aqui foi invocado — situações que já
estão obviamente previstas no Código Civil para a declaração da indignidade sucessória.
Mas estas situações, já previstas no Código Civil, não chegam. É preciso, como também aqui bem
lembrou, que os herdeiros intentem a ação. Ora, pode acontecer que o único herdeiro seja o cônjuge que
matou o outro cônjuge. É disto que hoje falamos.
A situação é mais abrangente do que esta, mas é importante trazer a realidade das vidas das pessoas a
este debate.
Até julho deste ano, morreram, que nós saibamos, 24 mulheres. Foram assassinadas pelos seus
companheiros, no quadro da violência doméstica. Imaginemos que alguns destes homens puderam, ou
poderão, ficar com os bens destas mulheres. É disto, é muito disto, também, Sr. Deputado, que nós hoje aqui
tratamos.
O Sr. Carlos Peixoto (PSD): — Não.
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — E porque entendemos que este debate é muito importante, e considerando
que as soluções aqui apresentadas podem e devem ser aprofundadas para a melhor solução possível, o Bloco
de Esquerda junta-se também ao debate.
Entendemos que quando a sentença condena por crime de homicídio deve, desde logo, declarar a
indignidade sucessória do condenado. Esta situação é tão grave, tão intolerável, que o juiz deve declarar,
desde logo, a indignidade na própria sentença. Não é possível que elas continuem a morrer às mãos deles e
que eles possam continuar a ficar com os bens destas mulheres.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Teresa Anjinho, do CDS-PP, para
uma intervenção.
A Sr.ª Teresa Anjinho (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Ao longo das várias sessões
legislativas, seja em Plenário, seja em comissão, seja na Subcomissão da Igualdade, muitas foram as vezes
em que o problema da violência doméstica foi debatido com preocupação e com uma enorme seriedade.
O Governo tem sido ouvido, temos ouvido inúmeras entidades com responsabilidade na área, têm sido
realizadas conferências, jornadas, têm sido propostas iniciativas. O compromisso e o empenho desta Casa
merece ser destacado e, neste contexto, naturalmente, o compromisso e o empenho do CDS-PP.
Da direita à esquerda, não há qualquer timidez na abordagem do problema, bem como no reconhecimento
da necessidade de continuarmos a trabalhar para encontrar soluções.
A violência doméstica, como tenho dito, de privado a público, de invisível a visível, subsiste. E muito tem
sido feito, é verdade, tendo especial incidência sobre as mulheres. Discriminação, impunidade e complacência,
muitas vezes tolerada através da indiferença, da ignorância e do medo. E é para mim evidente — tenho-o dito
repetidamente — que governos e organizações relevantes devem ser, de forma coordenada e integrada,
firmes na atuação, aproveitando sinergias nacionais e internacionais, como é claramente o caso da
Convenção de Istambul, seja ao nível da prevenção, da repressão e, muito particularmente, do apoio à vítima.
Sendo esta a nossa visão e a nossa estratégia, a presente iniciativa centra-se exatamente no
reconhecimento de uma situação de injustiça social, particularmente gritante nos casos de homicídio conjugal,
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que é certo que abrange mulheres e homens, mas também é certo que desproporcionalmente continua a
afetar mais as mulheres.
No limite, o que acontece, é que o homicida, por ausência de ação de indignidade que, como sabemos,
está prevista no Código Civil e, muitas vezes, exatamente porque ele próprio é o único herdeiro, pode vir a
herdar os bens da vítima.
Assim, atribui-se, por esta iniciativa, ao juiz criminal a possibilidade de declarar na sentença condenatória,
nos casos de homicídio doloso — e isto de forma coerente com o que está previsto no quadro do Código Civil
— a indignidade sucessória do condenado.
Ora, reconhecendo que o juiz poderá não o fazer — é uma mera possibilidade, nomeadamente se não
estiver munido de factos que o levem a esse fim —, procede-se a uma alteração coerente, articulada, ao nível
do Código Civil, exatamente no sentido de manter aberta a porta à via de ação cível para esse efeito.
Portanto, nos casos em que a indignidade não tenha sido decretada, estabelece-se, assim, a
obrigatoriedade de que tal condenação seja comunicada ao Ministério Público, por um lado, enquanto que, por
outro, se confere ao Ministério Público legitimidade para intentar a ação de indignidade, nos casos em que o
único herdeiro seja o sucessor afetado pela indignidade.
Naturalmente que a central motivação subjacente a estas iniciativas — o crime de homicídio em casos de
violência doméstica — não se compraz apenas com iniciativas desta ordem, que, no fundo, vão ao encontro
de uma necessidade de justiça social, como muito bem referiu a Sr.ª Deputada do Partido Socialista.
Por isso mesmo, e não obstante ser o meu dever reconhecer que muito está a ser feito e todos nós bem o
sabemos, é fundamental, no mesmo sentido e com o mesmo grau de preocupação, reconhecer aqui a
necessidade de se aprofundar o estudo deste fenómeno, de identificar as suas causas, as suas motivações,
não apenas a título de curiosidade científica, mas pela real necessidade de acrescentar pesquisa e informação
útil em tarefas de ordem prática da maior importância, como seja a avaliação do risco, o trabalho com os
agressores — muito importante —, a maior capacidade de proteger a vítima, pela efetiva necessidade de
garantir uma maior eficácia na sua prevenção.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado António Filipe,
do PCP.
O Sr. António Filipe (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Em breves palavras, queríamos, em
primeiro lugar, saudar as iniciativas legislativas aqui apresentadas sobre esta matéria e, naturalmente, saudar
os autores por terem, tomado estas iniciativas com que nós, evidentemente, estamos de acordo. Quer-nos
parecer que se trata da reparação de injustiças que podem ocorrer.
De facto, não faz o mínimo sentido admitir que alguém que tenha sido condenado por homicídio possa vir a
beneficiar, por via sucessória, desse mesmo homicídio que cometeu. Portanto, tem todo o cabimento que se
consagrem na lei mecanismos de reconhecimento da indignidade sucessória, para além dos casos que já
estão previstos no Código Civil, que dependem, evidentemente, da ação cível por parte de outros sucessíveis
que estejam interessados em invocar a indignidade sucessória de alguém.
Esse mecanismo é hoje manifestamente fraco para prevenir o que deve ser prevenido e para reparar essa
flagrante injustiça que pode ocorrer.
Quer-nos parecer que as iniciativas legislativas que estão apresentadas merecem consideração, mesmo
também, evidentemente, o aditamento constante do projeto de lei do PSD e do CDS relativamente ao projeto
que tinha sido anteriormente apresentado pelo Partido Socialista e que, do nosso ponto de vista, faz todo o
sentido que seja discutido porque, de facto, existe essa possibilidade. Está prevista no projeto de lei a
incumbência do Ministério Público de atuar na ação cível em situações em que não haja outros sucessíveis
que possam atuar e, portanto, ser o Ministério Público a fazê-lo, impedindo que haja a possibilidade de o
homicida vir a suceder, em termos patrimoniais, à vítima.
Também compreendemos que esta medida seja apresentada, tendo fundamentalmente em atenção os
casos de violência doméstica. Dir-se-á que não é o único caso, que há outras situações. Seguramente haverá.
Poderá haver também homens que sejam vítimas, poderá haver. Poderá haver casos em que vítima e
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homicida não sejam cônjuges, pode. Mas as estatísticas esmagam-nos. De facto, quando verificamos que a
grande maioria dos casos resultam de violência contra as mulheres, de violência doméstica, não podemos
deixar de considerar esta iniciativa como algo que tem fundamentalmente em atenção essa realidade. Não
exclui nem desvaloriza outras, mas nós também não podemos desvalorizar o drama terrível que a violência
doméstica tem vindo a assumir na sociedade portuguesa e, nesse sentido, é muito justo que as iniciativas
sejam apresentadas, visando intervir, de forma radical, sobre essa trágica realidade que afeta a nossa
sociedade.
A Sr.ª Elza Pais (PS): — Muito bem!
A Sr.ª Isabel Moreira (PS): — Muito bem!
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para uma segunda intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada
Catarina Marcelino. Ainda dispõe de 8 segundos.
A Sr.ª Catarina Marcelino (PS): — Sr. Presidente, vou ser muito sintética.
Queria apenas dizer ao Sr. Deputado do PSD que lamento, de algum modo, que o Sr. Deputado trate de
forma tão redutora a violência doméstica…
O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Não foi nada disso!
A Sr.ª Catarina Marcelino (PS): — … um fenómeno que afeta gravemente a sociedade portuguesa.
Parece-nos que o importante nesta questão é encontrarmos uma solução que permita que todos nós,
independentemente do grupo parlamentar a que pertencemos, possamos contribuir para uma melhoria
legislativa em nome de quem, na morte, tem o direito de ser protegido e protegida nos seus direitos mais
elementares.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Sr. Deputado Carlos Peixoto, pediu a palavra para que efeito?
O Sr. Carlos Peixoto (PSD): — Sr. Presidente, pedi a palavra para exercer a defesa da honra, porque a
Sr.ª Deputada disse que eu tratava de forma redutora os casos de violência doméstica. Isso é, naturalmente,
uma ofensa.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Se o Sr. Deputado se considera ofendido, faça favor de defender,
então, a sua honra.
O Sr. Carlos Peixoto (PSD): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada, como compreende — e acho que me deve
conceder esse benefício —, o monopólio da defesa das vítimas da violência doméstica não assenta só a si
nem só ao Grupo Parlamentar do Partido Socialista.
É óbvio que eu nunca desvalorizei as vítimas da violência doméstica. Aquilo que eu disse, até depois de
um debate na 1.ª Comissão onde a Sr.ª Deputada não esteve — e deveria ter estado —, foi que a exposição
de motivos do vosso projeto de lei só falava do crime de homicídio.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Tem de terminar, Sr. Deputado. Penso que já ficou clara a sua
defesa da honra.
O Sr. Carlos Peixoto (PSD): — Sr. Presidente, só para concluir, gostaria de dizer que foi o próprio Partido
Socialista, pela voz do Sr. Deputado Pita Ameixa, que concordou, na altura, que a abrangência do projeto de
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lei era demasiado grande para se confinar apenas aos casos de violência doméstica, que, naturalmente, são
aqueles que estatisticamente mais nos preocupam.
Mas não é legítimo que a Sr.ª Deputada diga que desvalorizo os crimes de violência doméstica. Não
desvalorizo.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Peço-lhe que conclua, Sr. Deputado.
O Sr. Carlos Peixoto (PSD): — É isso que a Sr.ª Deputada tem de me conceder e tem a oportunidade de o
corrigir nas explicações que poderá dar a seguir, se o Sr. Presidente permitir.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Sr.ª Deputada Catarina Marcelino, pretende dar explicações?
A Sr.ª Catarina Marcelino (PS): — Não, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Srs. Deputados, está, assim, concluída a discussão conjunta, na
generalidade, dos projetos de lei n.os
632/XII (3.ª) (PS), 653/XII (4.ª) (PSD e CDS-PP) e 662/XII (4.ª) (BE) e,
com isto, a ordem do dia de hoje.
A próxima sessão plenária terá lugar amanhã, às 15 horas, da qual constarão seis pontos.
Num primeiro ponto, far-se-á a discussão, na generalidade, da proposta de lei n.º 240/XII (3.ª) — Procede à
vigésima primeira alteração ao Decreto-Lei n.º 15/93, de 22 de janeiro, que aprova o regime jurídico aplicável
ao tráfico e consumo de estupefacientes e substâncias psicotrópicas, aditando a substância alfa-
fenilacetoacetonitrilo à tabela anexa V.
O segundo ponto consta do debate, na generalidade, da proposta de lei n.º 241/XII (3.ª) — Aprova o regime
jurídico específico aplicável ao Centro de Análise e Operações Marítimas – Narcóticos, estabelecido por
Acordo aprovado pela Resolução da Assembleia da República n.º 2/2009, de 2 de fevereiro, nomeadamente
no que respeita às prerrogativas atribuídas às suas instalações em território português.
Faremos, num terceiro ponto, a discussão conjunta, na generalidade, da proposta de lei n.º 243/XII (3.ª) —
Procede à primeira alteração à Lei n.º 66-A/2007, de 11 de dezembro, que define as competências, modo de
organização e funcionamento do Conselho das Comunidades Portuguesas, e o projeto de lei n.º 657/XII (4.ª)
— Conselho das Comunidades Portuguesas (Primeira alteração à Lei n.º 66-A/2007, de 11 de dezembro, que
define as competências, modo de organização e funcionamento do Conselho das Comunidades Portuguesas)
(PCP).
Segue-se um quarto ponto, com a apreciação conjunta, na generalidade, dos projetos de lei n.os
634/XII
(3.ª) — Primeira alteração ao Decreto-Lei n.º 49/2014, de 27 de março, que regulamenta a Lei n.º 62/2013, de
26 de agosto (Lei da Organização do Sistema Judiciário), e estabelece o regime aplicável à organização e
funcionamento dos tribunais judiciais (PCP) e 652/XII (4.ª) — Primeira alteração ao Decreto-Lei n.º 49/2014, de
27 de março, que procede à regulamentação da Lei n.º 62/2013, de 26 de agosto (Lei da Organização do
Sistema Judiciário), e estabelece o regime aplicável à organização e funcionamento dos tribunais judiciais
(PS).
Num quinto ponto, discutiremos, na generalidade, o projeto de lei n.º 654/XII (4.ª) — Pelo aumento imediato
do salário mínimo nacional para 545 € (BE).
Finalmente, um sexto ponto constará da apreciação, em conjunto, da petição n.º 323/XII (3.ª) —
Apresentada por José Alberto Pires Galrinho e outros, solicitando à Assembleia da República que reconheça a
necessidade da categoria de Enfermeiro Especialista na Carreira Especial de Enfermagem, e do projeto de
resolução n.º 1114/XII (4.ª) — Recomenda ao Governo o reconhecimento da categoria de Enfermeira/o
Especialista bem como a sua integração na carreira especial de enfermagem.
Está encerrada a sessão.
Eram 18 horas e 57 minutos.
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Presenças e faltas dos Deputados à reunião plenária.
A DIVISÃO DE REDAÇÃO E APOIO AUDIOVISUAL.