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I SÉRIE — NÚMERO 54

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Aplausos do PS.

Não resisto a contar o seguinte: os «chumbos» do Tribunal Constitucional pouparam-nos o conhecimento

em toda a sua extensão do projeto «austeritário» preconizado pelo nosso Governo. Mas, inesperadamente,

geraram uma subida de 0,9% do PIB, que foi o suficiente para fazer cair em 30% o glorioso saldo da balança

externa, saldo com que contamos não apenas pagar a dívida, mas também sobreviver até lá.

Esta desgraça entra pelos olhos dentro de todos, incluindo do novo Presidente da Comissão Europeia, que,

não sendo corresponsável pelos ineptos e cruéis planos de ajustamento, e em contraciclo com toda esta

inanidade, confrontado com a lapidação pública da Grécia, disse o que pensava e que passo a citar: «Temos

de aprender as lições do passado e não repetir os mesmos erros. As instituições que formam a troica

cometeram pecados contra a dignidade dos portugueses, irlandeses e gregos, o que impõe uma revisão dos

modelos dos resgates financeiros na Europa». «Revisão dos resgates financeiros na Europa»: nos

portugueses acendeu-se uma luz de esperança. No Governo português acendeu-se a luz vermelha de alarme.

Em Berlim ouviram-se sirenes.

Impunha-se defender a honra da troica e do seu Governo exemplar. Impunha-se esclarecer que a

dignidade dos portugueses estava no seu melhor. Veja-se a dignidade com que emigraram às centenas de

milhares ou como tombaram nas salas de espera das urgências.

Foi, então, destacado o Ministro da Presidência, que considerou «infeliz» a declaração de Juncker sobre o

atentado à dignidade, mais dizendo que, em momento algum, a dignidade dos portugueses foi posta em causa

pela troica ou — subentende-se — pelos executantes do Governo PSD/CDS.

Em ligeira desarticulação com o mundo exterior, ainda apareceu o Ministro de Estado e dos Negócios

Estrangeiros português a alvitrar a possibilidade de serem exigidas reparações à troica, eventualidade que

nem ao Syriza tinha ocorrido.

O facto é que o princípio da austeridade estava em risco. O radical Draghi iniciou um programa de

quantitativ easing. O Sr. Juncker inventou um pacote europeu de apoio ao investimento e falou de uma leitura

inteligente do PEC e, para cúmulo, sugeria ainda que as políticas europeias ditadas pela Alemanha,

declamadas pela Comissão e servilmente acatadas pelos governos do sul, eram contrárias à dignidade dos

povos.

Aplausos do PS.

A austeridade e o seu trágico legado económico e social estavam em queda, desacreditados pelos

resultados, e algo de novo estava a fazer o seu caminho na política europeia, com ênfase no crescimento e na

repartição mais equitativa das vantagens da união monetária.

Afinal, o problema grego era parte de um problema europeu mais vasto, insuscetível de ser reconduzido a

recriminações morais ou ao abuso de estereótipos primários. Boas notícias para Portugal e para o castigado

povo português, mas péssimas notícias para o Governo Passos/Portas. Era o reconhecimento, pelo FMI e pela

Comissão, da estupidez intrínseca, da austeridade fanática e descontrolada, indiferente aos seus cruéis ou

contraproducentes efeitos.

A Grécia, que sacrificou um terço do seu produto interno para alcançar um magro excedente primário, ao

fim de oito anos de recessão pediu tréguas e a renegociação dos termos do ajustamento. Mas as direitas

alemã, portuguesa e espanhola tinham outras prioridades: não deixar desacreditar a austeridade porque

funciona, recusar a ideia de um problema europeu, reduzindo-o a um problema grego, vacinar a Europa contra

futuras leviandades democráticas, prevenir o aparecimento de outros Syriza, intimidar e neutralizar os partidos

socialistas e, por último, criar condições para os governos de direita, vassalos da Alemanha de Schäuble,

ganharem as respetivas eleições legislativas, respaldados no fantasioso sucesso da austeridade

expansionista.

Para este efeito, foram os governos de Portugal e Espanha mobilizados para atacar, humilhar, sabotar os

esforços gregos que, a terem sucesso, serviriam seguramente a portugueses e espanhóis, mas prejudicariam

os interesses eleitorais do PSD e dos PP ibéricos.

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