O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Página 1

Quinta-feira, 6 de julho de 2017 I Série — Número 105

XIII LEGISLATURA 2.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2016-2017)

REUNIÃOPLENÁRIADE5DEJULHODE 2017

Presidente: Ex.mo Sr. Eduardo Luís Barreto Ferro Rodrigues

Secretários: Ex.mos Srs. Duarte Rogério Matos Ventura Pacheco Idália Maria Marques Salvador Serrão António Carlos Bivar Branco de Penha Monteiro Sandra Maria Pereira Pontedeira

S U M Á R I O

O Presidente declarou aberta a sessão às 15 horas e 4

minutos. Deu-se conta da entrada na Mesa da proposta de lei n.º

91/XIII (2.ª), dos projetos de lei n.os 565 a 567/XIII (2.ª) e dos projetos de resolução n.os 955/XIII (2.ª) e 957 a 962/XIII (2.ª).

Procedeu-se ao debate do projeto de resolução n.º 959/XIII (2.ª) — Recomenda ao Governo que proceda à denúncia do contrato com a Sociedade SIRESP, SA, resgatando para o Estado o Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal, em nome do interesse público e garantindo a segurança e a proteção das populações (BE), que foi rejeitado. Usaram da palavra, a diverso título, os Deputados Sandra Cunha (BE), Carlos Abreu Amorim (PSD) — que, em interpelação à Mesa, solicitou a distribuição de documentos —, Jorge Machado

(PCP), André Silva (PAN), Filipe Neto Brandão (PS) — que também interpelou a Mesa para solicitar a distribuição de documentos —, Telmo Correia (CDS-PP), José Luís Ferreira (Os Verdes), José Silvano (PSD), José Manuel Pureza (BE), Fernando Anastácio (PS), José Miguel Medeiros (PS), Sara Madruga da Costa e Carlos Peixoto (PSD), João Oliveira (PCP) e Pedro Filipe Soares (BE).

Entretanto, a Câmara saudou a presença, na tribuna do Corpo Diplomático, uma delegação do Grupo Parlamentar de Amizade Irão-Portugal.

Deu-se ainda conta da entrada na Mesa da apreciação parlamentar n.º 39/XIII (2.ª) e do projeto de resolução n.º 963/XIII (2.ª).

O Presidente encerrou a sessão eram 17 horas e 16 minutos.

Página 2

I SÉRIE — NÚMERO 105

2

O Sr. Presidente: — Sr.as e Srs. Deputados, Sr.as e Srs. Funcionários, Sr.as e Srs. Jornalistas, vamos dar

início à sessão.

Eram 15 horas e 4 minutos.

Peço aos Srs. Agentes da autoridade para abrirem as galerias.

Antes de entrarmos no período da ordem do dia, dou a palavra ao Sr. Secretário Duarte Pacheco, que,

lamentavelmente para ele, irá proceder à leitura do expediente.

Faça favor, Sr. Secretário.

O Sr. Secretário (Duarte Pacheco): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, deram entrada na Mesa, e

foram admitidas pelo Sr. Presidente, as seguintes iniciativas legislativas: proposta de lei n.º 91/XIII (2.ª) —

Estabelece o programa de regularização extraordinária dos vínculos precários, que baixa à 10.ª Comissão;

projetos de lei n.os 565/XIII (2.ª) — Direitos das pessoas doentes em fim de vida (CDS-PP), 566/XIII (2.ª) —

Alarga o período de licença parental exclusiva do pai e estabelece a igualdade na parentalidade em caso de

adoção, incluindo a adoção por casais do mesmo sexo, e de utilização das técnicas de PMA (BE), que baixa à

10.ª Comissão, em conexão com a 1.ª Comissão, 567/XIII (2.ª) — Assegura às pessoas com deficiências visuais

a faculdade de exercerem o direito de voto por via do sistema de braille (PAN), que baixa à 1.ª Comissão, em

conexão com a 10.ª Comissão; projetos de resolução n.os 955/XIII (2.ª) — Deslocação do Presidente da

República à Grécia e a Andorra (Presidente da AR), 957/XIII (2.ª) — Aprofundar o Estatuto de Ultraperiferia

(PCP), que baixa à 4.ª Comissão, 958/XIII (2.ª) — Pela reabertura do serviço de urgência básica no Hospital de

Espinho (PCP), que baixa à 9.ª Comissão, 959/XIII (2.ª) — Recomenda ao Governo que proceda à denúncia do

contrato com a Sociedade SIRESP, SA, resgatando para o Estado o Sistema Integrado de Redes de Emergência

e Segurança de Portugal, em nome do interesse público e garantindo a segurança e a proteção das populações

(BE), 960/XIII (2.ª) — Recomenda ao Governo a adoção de medidas rápidas e urgentes para a descontaminação

das casas das Minas da Urgeiriça (BE), que baixa à 11.ª Comissão, 961/XIII (2.ª) — Substituição dos edifícios

da Escola Básica 2,3 Avelar Brotero, do Agrupamento de Escolas Adelaide Cabette, em Odivelas (BE), que

baixa à 8.ª Comissão, e 962/XIII (2.ª) — Isenção de pagamento de taxa moderadora em casos de surto de

legionella (Os Verdes), que baixa à 9.ª Comissão.

É tudo, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: — Muito obrigado, Sr. Secretário Duarte Pacheco.

Vamos dar início à ordem do dia, que consiste no debate do projeto de resolução n.º 959/XIII (2.ª) —

Recomenda ao Governo que proceda à denúncia do contrato com a Sociedade SIRESP, SA, resgatando para

o Estado o Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal, em nome do interesse público

e garantindo a segurança e a proteção das populações (BE).

Para a intervenção de abertura do debate, tem a palavra a Sr.ª Deputada Sandra Cunha, do Bloco de

Esquerda.

A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr.as Deputadas: O SIRESP, Sistema

Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal, foi criado com a finalidade de responder às

exigências das missões operacionais de proteção e segurança das populações.

Por isso, dotou as forças de segurança, as forças de proteção e de emergência de um serviço, a nível

nacional, de cobertura de uma rede de comunicações que coloque todas estas entidades ligadas entre si em

situações de operações de proteção e segurança. Trata-se de um serviço de cobertura nacional, com

características específicas: a interoperabilidade, a confidencialidade da operação e a qualidade das

comunicações.

Como disse, o objetivo primordial é o de permitir a comunicação em rede dos diversos atores em operações

de segurança e proteção, atores estes que são vários: o Serviço Nacional de Proteção Civil, o Serviço Nacional

de Bombeiros, os Bombeiros Voluntários das Associações Humanitárias, a Cruz Vermelha Portuguesa, a

Guarda Nacional Republicana, a Polícia de Segurança Pública, a Polícia Judiciária, o Exército, a Marinha, a

Força Aérea, o Instituto Nacional de Emergência Médica, entre tantos outros.

Página 3

6 DE JULHO DE 2017

3

Trata-se, portanto, para o País, do sistema mais importante para a proteção e segurança das populações.

Mas, Srs. Deputados, Sr.as Deputadas, é um sistema que tem sistematicamente falhado. É um sistema que, ao

longo dos anos, tem ficado aquém das necessidades do País e tem ficado, também, aquém daquilo a que o

consórcio que o implementou e gere teria obrigação de fazer.

As falhas das comunicações, entendamo-nos, não são de agora e não se reportam aos trágicos

acontecimentos que ocorreram em Portugal ainda há poucos dias. Há relatos cíclicos, ao longo dos anos, desde

a sua implementação, de falhas, de problemas, de intermitências, ocorridos com o SIRESP, e quem o afirma

são os responsáveis da cadeia de proteção civil e os vários operacionais que estão no terreno.

Nos simulacros de Santarém, de Lisboa e de Setúbal foram reportadas insuficiências, fragilidades e falhas

de comunicação e na gestão da informação.

Em 2013, nos incêndios que trouxeram também consequências trágicas para a vida de dois bombeiros de

Carregal do Sal, foram reportadas, registadas e criticadas várias falhas e intermitências…

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — É verdade!

A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — … e no simulacro, a propósito dos 25 anos do incêndio nos Armazéns do

Chiado, em Lisboa, foram, mais uma vez, relatadas dificuldades de comunicação, num incêndio, desta vez em

meio urbano, em plena capital.

Sabemos também que existem várias chamadas «zonas sombra» do SIRESP, locais onde este não funciona:

dentro de elevadores, em garagens subterrâneas ou nas localidades mais remotas do País, precisamente

aquelas onde um sistema de comunicações de emergência em rede é absolutamente crucial, por serem também

as mais afetadas ou as mais suscetíveis de serem afetadas por incêndios florestais.

Mas ainda em 2016, no incêndio do Sardoal, foram também registadas falhas e, segundo os registos, foram

necessárias mais de 11 horas para a rede nacional de emergência e segurança estar de novo operacional.

Não são, portanto, caso único os problemas reportados e relatados em relação ao incêndio de Pedrógão

Grande, ainda há uns dias. São, antes, múltiplos e distribuídos no tempo e no espaço os relatos das populações,

mas também das autoridades e dos vários operacionais.

A casuística do funcionamento do SIRESP não pode continuar a ser normalizada nem pode ser prática

corrente.

Um sistema concebido para colocar em rede todas as entidades e todos os operacionais com

responsabilidades na proteção e na segurança das populações não pode de forma alguma falhar nos momentos

mais críticos — não podemos admitir, não podemos aceitar! —, precisamente onde esse sistema é mais

imprescindível para a proteção das populações.

Srs. Deputados, Sr.as Deputadas: Volvida mais de uma década desde a implementação do SIRESP,

consideramos que este é o tempo de fazer um balanço sério e rigoroso sobre esta gestão privada do Sistema

Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal.

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!

A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — Da análise cronológica e aprofundada dos objetivos fundamentais da

constituição e implementação do SIRESP resulta uma conclusão fundamental e óbvia: é que a gestão privada

do SIRESP se tem revelado ineficaz e incompetente…

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — É verdade!

A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — … e é, portanto, incapaz de garantir a segurança e a proteção das populações,

em claro prejuízo destas e do Estado.

Aplausos do BE.

Face a estas circunstâncias e face aos desafios que o País tem pela frente — fruto, aliás, das alterações

climáticas, com fenómenos climatéricos extremos e inesperados que nos aguardam —, é fundamental agir já. E

Página 4

I SÉRIE — NÚMERO 105

4

é absolutamente estratégico para o nosso País garantir que a gestão privada e incompetente do SIRESP seja

substituída por uma gestão competente e que se paute unicamente pela defesa dos interesses dos portugueses

e das portuguesas, e sabemos que essa garantia só pode ser assegurada pelo Estado.

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!

A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — A implementação e a gestão do SIRESP tem sido orientada pelos privados

mais pelo negócio do que pelo serviço de proteção e segurança às populações, o que não é de estranhar.

Trata-se de uma parceria público-privada, que, aliás, custou ao Estado cinco vezes mais do que aquilo que

era inicialmente previsto e do que aquilo que custou a montar.

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Um roubo!

A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — Os custos somam-se em muito mais do que os tais «oitenta e tal milhões» ou

«à volta dos oitenta milhões» que o Sr. Oliveira e Costa reconheceu, nesta mesma Casa, ter custado o SIRESP,

ou dos tais «100 a 150 milhões de euros» inicialmente previstos pelo grupo de trabalho que estudou a

implementação deste sistema, que acabou por custar cerca de 500 milhões, custou cinco vezes mais aos cofres

públicos do que o que deveria ter custado. E todos os anos está a render lucros para o privado, todos os anos

está a render também lucros de milhões de euros para os acionistas deste consórcio privado: foram 3,749

milhões de euros em 2015 e quase 7 milhões em 2016.

O Estado não pode continuar a pagar e a dar lucro a privados por uma gestão que se revelou incompetente

e por um serviço que não serve os objetivos principais para os quais foi concebido e contratualizado.

Aplausos do BE.

Numa matéria desta importância não pode haver lugar para o negócio. O objetivo, único e primordial, só pode

ser a salvaguarda das populações e do interesse público.

O Bloco de Esquerda apela, portanto, ao Governo e a todos os grupos parlamentares para a defesa

intransigente deste interesse público e da garantia essencial que é a proteção e a segurança das populações e

que nos acompanhem nesta necessidade e nesta urgência, que é a de resgatar das mãos dos privados um

sistema de comunicações de emergência absolutamente crucial e estratégico para o nosso País.

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente: — Há seis inscrições para pedidos de esclarecimento à Sr.ª Deputada Sandra Cunha, aos

quais, segundo a informação chegada à Mesa, vai responder em conjuntos de dois.

No primeiro grupo de duas questões, tem a palavra, em primeiro lugar, o Sr. Deputado Carlos Abreu Amorim,

do PSD, e, depois, o Sr. Deputado Jorge Machado, do PCP.

Tem, pois, a palavra o Sr. Deputado Carlos Abreu Amorim.

O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, o PSD encara este e todos os

debates sobre a tragédia de Pedrógão Grande, de Castanheira de Pera e de outros concelhos com grande

apreensão pela tragédia que aconteceu mas com a maior tranquilidade.

Estamos disponíveis para qualquer solução, para qualquer medida, para qualquer iniciativa que vise melhorar

o sistema de prevenção e de combate aos incêndios florestais.

Foi, aliás, por causa disso que o PSD propôs a esta Assembleia — e viu essa sua iniciativa ser aprovada —

uma comissão técnica independente para apurar as responsabilidades técnicas e o PSD apurará, seguidamente,

as responsabilidades políticas, doa a quem doer.

Mas o que nós não conseguimos compreender é a posição ambígua, diria mais, quase que politicamente

dissimulada, do Bloco de Esquerda.

O Bloco de Esquerda, mais uma vez, veio hoje aqui a Plenário fingir que é um partido da oposição, mas não

é. É uma tentativa quase patética, Sr.ª Deputada Sandra Cunha!

Página 5

6 DE JULHO DE 2017

5

O Bloco de Esquerda, juntamente com o PCP — mas o Bloco de Esquerda, sobretudo —, é o suporte mais

fiel desta geringonça, deste Governo. Este Governo também é o vosso.

Sr.ª Deputada, sejamos claros: os erros, as falhas, os falhanços deste Governo são os vossos erros, são as

vossas falhas e são os vossos falhanços. E até este SIRESP, após dois anos de Governo da geringonça,

também é o vosso SIRESP.

Aplausos do PSD.

Por isso, Sr.ª Deputada, não faz qualquer sentido estarem a dissimular ser oposição quando são o

sustentáculo mais firme desta geringonça.

Para além disso, este projeto de resolução transpira a obsessão ideológica. Como é que é possível —

pergunto, Sr.ª Deputada —, numa altura em que as populações temem pelas suas vidas, em que os portugueses

se interrogam se o sistema de prevenção e combate aos incêndios está à altura de defender as suas vidas e os

seus bens, o Bloco de Esquerda vir levantar uma questão ideológica, a de saber qual é propriedade do SIRESP,

se deve ser privada, se deve ser pública?

Ó Sr.ª Deputada, faz algum sentido, acha coerente, acha compreensível dizer do SIRESP aquilo que Maomé

não disse ou não ousou dizer do toucinho e depois querer resgatar o SIRESP para o Estado? Então, a Sr.ª

Deputada diz que o SIRESP não funciona, não serve e quer passá-lo para a titularidade do Estado? Por que é

que não perguntou isso ao Sr. Dr. António Costa nos debates quinzenais?

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Nós perguntámos! Não estava cá?!

O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Por que é que o Bloco de Esquerda, até agora, tem estado sempre

em silêncio sobre essa matéria?

Aplausos do PSD.

Sr.ª Deputada e Srs. Deputados da maioria de esquerda, há uma coisa que tem de ser dita, também, de uma

forma completamente clara: este sistema de comunicações tem uma linha de paternidade bem defendida. O seu

contrato tem uma assinatura, que é a do atual Primeiro-Ministro António Costa. Foi o atual Primeiro-Ministro que

rejeitou o contrato anterior…

O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Daniel Sanches, diz-lhe alguma coisa?

O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — … e, em 2005, proporcionou um novo contrato que veio a

consubstanciar-se, faz agora exatamente 11 anos.

As valências, as funcionalidades, as obrigações, os deveres e os direitos do Estado e do SIRESP estão

consignados no contrato que foi assinado pelo, então, Ministro da Administração Interna António Costa, que é o

rosto, o verdadeiro rosto do atual modelo do SIRESP.

E, repito, acho lamentável que existam tantas críticas em relação ao SIRESP dentro da mecânica interna, da

circularidade interna da geringonça, e que o Bloco de Esquerda não tenha tentado fazer valer as suas razões,

em vez de vir para aqui fingir que é um partido da oposição quando é um partido do Governo.

Os senhores são Governo. Se acham que o SIRESP não serve, então, mudem-no. Não têm mais desculpas.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para pedir esclarecimentos, o Sr. Deputado Jorge Machado, do Grupo

Parlamentar do PCP.

O Sr. Jorge Machado (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr.ª Deputada Sandra Cunha, ao contrário

do que acabou de ser dito pela bancada do PSD, para o PCP não faz qualquer sentido que o Sistema Integrado

de Redes de Emergência e Segurança de Portugal, que serve todos os serviços de segurança e agentes da

Página 6

I SÉRIE — NÚMERO 105

6

proteção civil, esteja nas mãos de privados. Não faz sentido, atendendo à natureza das comunicações de que

estamos a falar, pela sua sensibilidade,…

O Sr. João Oliveira (PCP): — Muito bem!

O Sr. Jorge Machado (PCP): — … mas também não faz sentido na medida em que os privados condicionam

a sua intervenção em função dos lucros que pretendem obter e não em função do serviço público que aquele

sistema presta.

Nesse sentido, entendemos como positiva a intenção de garantir que o SIRESP esteja nas mãos do Estado,

de onde, diga-se de passagem, nunca deveria ter saído.

Sr.ª Deputada, sob a forma de pergunta, gostaria de lhe colocar duas preocupações para percebermos

também o posicionamento e a perspetiva do Bloco de Esquerda relativamente a esta matéria.

A primeira preocupação diz respeito à necessidade de não interromper o sistema de comunicações. Apesar

de insuficiente, de todas as insuficiências, de todos os problemas que iremos abordar mais à frente, é o único

sistema integrado de comunicações que existe e, portanto, a reversão do contrato tem de garantir a não

interrupção das comunicações num período que é, particularmente, crítico.

A segunda preocupação é que não basta reverter a propriedade para o Estado. Como está, o SIRESP não

funciona e necessita, efetivamente, de intervenção, de medidas concretas. Há zonas concretas do território onde

não existe, não funciona, há problemas de funcionamento no dia a dia, há situações mais perigosas de

calamidade pública a que o SIRESP, comprovadamente, não responde.

Portanto, reverter para o Estado sim, mas não este SIRESP. Naturalmente que temos de ter um melhor

sistema de comunicações, mais eficaz, que responda num cenário da pior situação possível, do ponto de vista

da proteção civil, e que responda também em todo o território nacional. Mas isto exige, naturalmente, medidas.

Colocava-lhe estas duas preocupações para perceber a perspetiva do Bloco de Esquerda sobre estes

problemas que identificamos.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Sandra Cunha.

A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Carlos Abreu Amorim, este debate não é sobre

a tragédia de Pedrógão Grande.

O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Não aconteceu?!

A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — Como eu disse, as falhas que se registaram, as falhas que o SIRESP registou

têm acontecido desde a sua implementação, desde há uma série de anos. Há mais 10 de anos que se registam

estas falhas do SIRESP: falhas de comunicação, intermitências, fragilidades, problemas vários.

Em relação ao SIRESP e a estas falhas, o Bloco de Esquerda aguarda por todas as análises, por todos os

estudos e pelo apuramento de todas as responsabilidades e, portanto, não condenamos nem ilibamos o SIRESP

nesta matéria muito concreta.

Mas este debate vai muito além daquilo que se passou há uns dias, dos acontecimentos trágicos que todos

conhecemos. Estas falhas aconteceram, como eu disse, em 2013, em 2008, em 2014, em 2016, não são de

agora. Todos os operacionais no terreno, todos os responsáveis em matéria de proteção civil, as várias

entidades da proteção civil reportam estas fragilidades. Portanto, Sr. Deputado Carlos Abreu Amorim, custa-me

perceber que ignore completamente estas afirmações, as queixas destes profissionais.

Consideramos que os portugueses merecem toda a proteção e toda a segurança e todas estas falhas, desde

há 10 anos, têm dado provas mais do que suficientes para se perceber que esta gestão privada não é eficaz, é

incompetente e não tem estado a garantir a segurança e a proteção que as populações merecem.

Sr. Ministro,…

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Ainda não!

Página 7

6 DE JULHO DE 2017

7

A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — Peço desculpa. Sr. Deputado, estava a pensar no Ministro, por isso é que

disse «Sr. Ministro».

Estava a pensar no Sr. Ministro Daniel Sanches,…

O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, peço algum silêncio para ouvirmos a resposta da Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — … que foi quem que deu início a todo este processo e foi Ministro do Governo

PSD/CDS.

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Quem é que assinou?

A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — Aliás, o Sr. Secretário de Estado Fernando Alexandre, antigo Secretário de

Estado do Governo do PSD, defendeu, precisamente, a gestão pública deste sistema de comunicações.

Defendeu-a publicamente!

O Sr. José Manuel Pureza (BE): — É uma obsessão ideológica! O Fernando Alexandre tem uma obsessão

ideológica!

A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — Portanto, consideramos que o Sr. Deputado Carlos Abreu Amorim, da bancada

do PSD, tem uma barreira ideológica que não lhe permite ir além da sua conceção e defesa dos interesses

privados e que o impede de ver, realmente, a realidade, incluindo quando ex-Secretários de Estado da sua

administração falam destas questões.

Sr. Deputado Jorge Machado, fez uma boa síntese das dificuldades e dos problemas do SIRESP e daquilo

que é preciso alterar, melhorar e corrigir. Se isso é feito e de que forma é feito, é uma matéria que deve ser

estudada, mas em sede do Estado, com gestão pública. Deve partir-se da base que existe e que é um sistema

que coloca em rede, em comunicação, todos os atores que intervêm nestas matérias, mas esta garantia de

proteção só pode ser, efetivamente, garantida pelo Estado. É, aliás, da responsabilidade do Estado a proteção

e a segurança das populações.

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem, agora, a palavra, o Sr. Deputado André Silva, do PAN,

e depois o Sr. Deputado Filipe Neto Brandão, do PS.

O Sr. André Silva (PAN): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr.ª Deputada Sandra Cunha, o SIRESP,

em vez de apoiar na resolução de catástrofes, tem tido o efeito inverso. Agudiza-as, pois, em momentos em que

é mais preciso, falha às instituições e às pessoas.

Em 2014, já um relatório do Ministério da Administração Interna apontava para falhas técnicas na cobertura

de rede e na resiliência deste sistema de comunicações.

Agora, e na sequência do incêndio que deflagrou em Pedrógão, surge um relatório governamental que conclui

que «não houve interrupção no funcionamento da rede SIRESP, nem houve nenhuma estação base que tenha

ficado fora de serviço».

Porém, esta conclusão é contrária às afirmações feitas pela proteção civil, pelos bombeiros e pelos autarcas,

que deram conta de falhas graves ao nível das comunicações no terreno.

Por último, Sr.ª Deputada, já sabemos que o Estado manterá a parceria público-privada para a gestão do

SIRESP, mas, após várias falhas, como as detetadas no grande temporal do inverno de 2013 e nos extensos

incêndios florestais do verão de 2016, e depois de 485 milhões de euros gastos, fará sentido continuarmos a

investir na gestão privada e ineficiente deste sistema? Passados 10 anos, que garantia terão os portugueses de

que o sistema, finalmente, servirá o seu propósito e que os interesses públicos não serão suprimidos pelos do

lucro?

Página 8

I SÉRIE — NÚMERO 105

8

É que se tivermos em conta todas as garantias políticas dadas pelos sucessivos governos em todo o processo

do SIRESP, estamos certos de que daqui a 10 anos estaremos outra vez a falar deste tema.

O Sr. Presidente: — Tem, agora, a palavra, o Sr. Deputado Filipe Neto Brandão, do Grupo Parlamentar do

PS.

O Sr. Filipe Neto Brandão (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr.ª Deputada Sandra Cunha, o

Bloco de Esquerda agendou o tema da cessação contratual da parceria público-privada com o SIRESP para

esta reunião plenária, que é a primeira subsequente à aprovação, por este Plenário, de uma comissão técnica

independente para apuramento dos factos relativos aos trágicos acontecimentos do passado dia 17 de junho, à

qual caberá, como sabe, entre outras competências, proceder à análise e avaliação de todas as entidades

envolvidas e, nomeadamente, e cito, «dos sistemas de comunicação».

Seria, pois, avisado e coerente, Sr.ª Deputada, aguardar por essa pronúncia técnica independente, ao invés

de ceder à tentação de dar por assente matérias — como o cumprimento ou incumprimento contratuais — que

são objetivamente controvertidas, sendo certo que, ao fazê-lo, antecipa conclusões pelas quais ainda

esperamos.

Não se trata apenas da comissão técnica independente, Sr.ª Deputada. Não ignora que, na sequência desses

funestos acontecimentos, há também o despacho da Sr.ª Ministra da Administração Interna, de 26 de junho, que

entrega ao Instituto de Telecomunicações precisamente a avaliação do funcionamento do SIRESP e, portanto,

uma apreciação técnica de que estamos ainda à espera.

Para além dessa circunstância, também não ignora, Sr.ª Deputada, que se poderia questionar se a entidade

gestora, que é pública — é bom recordar que o SIRESP é gerido por uma entidade pública, a Secretaria-Geral

do MAI (Ministério da Administração Interna) —, estaria a cumprir com zelo as suas obrigações de fiscalização.

Precisamente para ter resposta a esta pergunta, importa, até para termos conhecimento integral do que

estamos a falar, ter também em conta o despacho da Sr. Ministra da Administração Interna que determina que,

no prazo de 30 dias, a Inspeção-Geral da Administração Interna se pronuncie sobre o grau de cumprimento da

Secretaria-Geral do MAI relativamente à gestão, manutenção e fiscalização do SIRESP. Estamos, portanto, a

apenas 15 dias de saber o resultado dessa apreciação, fundamental para sabermos em que situação estamos

no que diz respeito ao cumprimento das obrigações da entidade operadora, a SIRESP, SA.

A Sr.ª Deputada, na sua intervenção e também no texto do projeto de resolução, faz uma historiografia do

processo contratual e, nessa medida, faz aquilo que é uma mistura entre o histórico de uma relação contratual

e o presente grau de cumprimento de um contrato.

Ora, é certo que esse histórico nos suscita perplexidades e acompanhamos algumas das perplexidades do

Bloco de Esquerda, nomeadamente como responder que, perante um negócio desta dimensão, há 14 anos

tenha sido dado, pelo XVI Governo Constitucional — o Sr. Deputado Carlos Abreu Amorim esqueceu-se de o

referir —, um prazo de apenas dois meses, no verão, para apresentação da proposta. Essa é, obviamente, uma

perplexidade, mas, valha a verdade, nenhuma dessas perplexidades é suscetível de bulir com a apreciação

atual, presente, do grau de cumprimento deste contrato.

A Sr.ª Deputada traz uma matéria que é relevante mas para a qual, para podermos decidir de modo

fundamentado, carecemos de respostas urgentes às questões que foram colocadas.

Por isso, coloco duas questões.

Primeira, desconheço integralmente as consequências financeiras de uma denúncia contratual desta

natureza, mas elas estão fixadas contratualmente, pelo que pergunto se tem alguma estimativa sobre o montante

em que elas orçariam.

Segunda, se não seria — como eu creio que é — muito mais razoável aguardar pelo resultado dos relatórios

que estão ordenados e solicitados para, como já disse o Sr. Primeiro-Ministro nesta mesma Sala, alterarmos

aquilo que, em função desses estudos, seja de alterar.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, o Bloco de Esquerda solicitou que a resposta fosse dada em conjunto

aos quatro Srs. Deputados que se inscreveram para pedir esclarecimentos e não dois a dois.

Página 9

6 DE JULHO DE 2017

9

Assim sendo, tem a palavra o Sr. Deputado Telmo Correia, do CDS-PP.

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr.ª Deputada Sandra Cunha, a

primeira reflexão que queria fazer neste debate é muito óbvia.

Eu já tinha lido as declarações do líder parlamentar do Bloco de Esquerda, o Sr. Deputado Pedro Filipe

Soares, que cumprimento, dizendo a um jornal que este debate não era sobre Pedrógão Grande, que não tinha

nada a ver com isso, nem tinha a ver com nada do que decorre dessa tragédia. Ouvi agora a Sr.ª Deputada,

numa outra versão, repetir mais ou menos a mesma ideia.

Srs. Deputados do Bloco de Esquerda, deixem-me que vos diga que se isto não tem a ver com Pedrógão

Grande, se não tem nada a ver com essa tragédia, se é trazido aqui, hoje, um debate sobre o SIRESP, depois

do que tem sido o debate público nos últimos 15 dias, então, se não tem nada a ver com Pedrógão Grande, só

pode ser um exercício de oportunismo político. Não vejo outra explicação para esta intervenção.

Aplausos do CDS-PP e do PSD.

É que, Sr.ª Deputada Sandra Cunha, em Pedrógão Grande, morreram 64 pessoas. Trata-se de uma tragédia

praticamente sem par num País que todos os anos é fustigado por milhares de fogos florestais. Aquilo que já

sabemos hoje, independentemente da comissão e do que ela venha a apurar — comissão cuja criação, aliás, o

Bloco de Esquerda subscreveu —,…

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — O CDS também!

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — … independentemente disso, o que já sabemos hoje é que houve

desorganização grave, houve descoordenação no terreno, houve alterações de comandos operacionais, que

não se perceberam e que sucediam, de resto, a mudanças recentes nesses mesmos comandos operacionais,

estiveram bombeiros, sem comunicações, perdidos no meio daquela tragédia, estiveram homens da GNR, para

quem se tentou «sacudir a água do capote», sem saberem como poderiam lidar com uma situação daquela

gravidade… Aconteceu tudo isto.

Para além disso, todas as explicações que conhecemos, incluindo as das comunicações e do SIRESP, são

contraditórias — é o SIRESP a atirar para a Proteção Civil e é a Proteção Civil a atirar para o SIRESP —, o

Governo é incapaz de coordenar até uma leitura e uma resposta e, no meio disto tudo, o que é que quer o

Bloco? Quer discutir só o SIRESP e, mesmo assim, não quer discutir o SIRESP, quer só discutir se ele deve ser

público ou privado.

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Exatamente!

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — O Bloco de Esquerda está a branquear uma gravidade que é de

responsabilidade política óbvia e evidente.

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Jorge Duarte Costa (BE): — Vamos lá ver quem é que branqueia!

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Srs. Deputados, com grande à vontade, pergunto-vos: onde é que está

agora o Sr. Deputado Pedro Filipe Soares que, em 2015, afirmava perentoriamente, perante uma situação que

não teve sequer a gravidade desta nem demonstrou a descoordenação que vimos, o seguinte: «Incompetência

do Governo não pode encontrar justificação na meteorologia»?

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Por acaso, não era eu mas o Deputado Pedro Soares!

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — O que nos disse agora a Sr.ª Deputada Catarina Martins? Que venha a

chuva. É assim que está o Bloco de Esquerda! É assim que está a vossa coerência!

Página 10

I SÉRIE — NÚMERO 105

10

Protestos do BE.

Os senhores querem discutir se o SIRESP deve ser público ou privado. Sobre o SIRESP, há muita coisa a

discutir. Logo à partida, como aqui já foi dito, deve saber-se o seguinte: quem é que fez o contrato e quem é que

o assinou? Por que é que não foram garantidas comunicações que não fossem só por via terreste, mas também

por satélite? Por que é que não foi cumprido o relatório do SIRESP, que dizia que o investimento a nível das

antenas era absolutamente indispensável? Por que é que este Governo, o vosso Governo, terá omitido

renegociações em relação ao SIRESP? Há muita coisa a discutir sobre o SIRESP, como é evidente.

Saber se fica no público ou no privado não é, obviamente, a questão essencial. Serve unicamente para

sabermos que o Bloco de Esquerda, que foi sempre tão lesto, foi sempre tão rápido, a exigir demissões até por

delitos de opinião — no passado, pediam demissões —, agora, perante isto, sobre pedido de demissões zero,

sobre responsabilidade política zero, designadamente em relação a uma Ministra que, já todos percebemos, e

o CDS já o disse claramente, não tem condições de continuar e não teria sequer condições de renegociar o

SIRESP como os senhores pretendem que ele seja renegociado. Não teria sequer condições para isso, tal é a

fragilidade.

Aplausos do CDS-PP.

Já agora, Srs. Deputados, permitam-me uma nota de boa disposição em relação às vossas propostas, ainda

que tudo isto seja muito trágico.

Olhando para a vossa proposta e desconstruindo-a até do ponto de vista ideológico, gostaria de vos dizer

que os senhores têm uma resposta simples para tudo: é público e está resolvido. Nacionalizamos tudo,

nacionalizamos o País, tudo passa a ser público e tudo está resolvido. Está garantida a competência, está

garantida a eficácia.

Srs. Deputados, quase que vos sugeria o seguinte: se é assim, então por que é que não nacionalizamos os

paióis do Exército?

Risos do CDS-PP.

É que, se viermos a nacionalizar os paióis do Exército, se calhar, não desaparecem os milhares mais

granadas e de explosivos e a incompetência já não existe.

O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Teve muita graça.

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Srs. Deputados, isto não está no ser público ou privado. Isto está no ser

mal ou bem gerido, ser competente ou incompetente. Os senhores sabem isso tão bem como eu.

Aplausos do CDS-PP.

E já vamos falar sobre se deve ser público ou privado, porque também em relação a essa matéria não temos

complexos.

Protestos da Deputada do BE Sandra Cunha.

Mas, se passasse a ser tudo público, sabe o que é que a Sr.ª Deputada vem dizer a seguir? Que falta

investimento público. Se passasse a ser tudo público, a seguir, a Sr.ª Deputada dizia que o que faltava era

investimento público.

Pergunto: os senhores não eram aqueles que vinham para conciliar as exigências do País, para conciliar a

recuperação de rendimentos com o investimento público? Não era a isto que vinham? Não era isto que os

senhores iam resolver quando estivessem no Governo? Quem é que está no Governo há quase dois anos?

Página 11

6 DE JULHO DE 2017

11

Vozes do CDS-PP: — Muito bem!

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Há quanto tempo existe, por exemplo, videovigilância em Tancos, senão

há dois anos? Quem é que fez e quem é que aprovou os dois últimos Orçamentos do Estado? Se era um

problema de falta de investimento público, por que é que os senhores não puseram, até hoje, o investimento no

Orçamento do Estado, como tinham de pôr?

Os senhores não estão a fingir que isto deve ser público ou privado, os senhores estão a fingir que existem,

os senhores estão a fazer uma prova de vida inútil, porque, de facto, o Bloco de Esquerda, tão aguerrido no

passado, hoje em dia, este debate bem o demonstra, é uma inutilidade.

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira, de Os

Verdes.

O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr.ª Deputada Sandra

Cunha, como muito bem referiu da tribuna, o SIRESP resulta de uma parceria público-privada e, como sucede

nas parcerias público-privadas, também nesta o interesse público ficou para trás.

Neste caso, aliás, basta constatar que os portugueses vão pagar cinco vezes mais do que o valor despendido

pelo consórcio nesta rede de comunicações de emergência.

Portanto, é um bom negócio para os privados, mas é um negócio desastroso do ponto de vista financeiro,

mas não só, para o Estado e para os contribuintes.

Mas o processo do SIRESP é ainda um processo com muitos sobressaltos, desde a sua criação ou, até

mesmo, antes da sua criação. É um processo pouco transparente, obscuro e com muitos elementos estranhos

à mistura.

Tratou-se de uma parceria público-privada criada por um governo de gestão do PSD/CDS, com pareceres

da Procuradoria-Geral da República a dizer que um governo de gestão não tinha competência para aprovar um

negócio com a importância do SIRESP.

Mais: tratou-se de um processo com atos que foram anulados, com o Tribunal de Contas a duvidar da

legalidade do concurso e a criticar o prazo dado pelo Governo de Durão Barroso para a apresentação das

propostas a concurso, que foi de apenas 52 dias. Foi um concurso em que só apareceu um concorrente — a

Motorola, em parceria com a Sociedade Lusa de Negócios —, um concurso em que o Governo de Durão Barroso

permitiu que o único concorrente reformulasse a sua proposta, porque, inicialmente, era inadequada ao interesse

público a prosseguir.

Tratou-se, portanto, de um processo muito estranho.

Sr.ª Deputada, para além disso, temos ainda as fragilidades que o SIRESP tem vindo a demonstrar ao longo

do tempo. Infelizmente, toda a gente conhece o SIRESP, mas conhece-o, sobretudo, por causa das suas falhas,

das suas fragilidades e das suas insuficiências.

Nós também consideramos que, dada a importância que o sistema integrado das redes de emergência

representa para o País, é necessário trazer o interesse público para a equação e, nesse sentido, acompanhamos

o Bloco na necessidade de o Estado chamar a si as responsabilidades que atualmente estão entregues ao

consórcio que gere o SIRESP.

Mas, Sr.ª Deputada Sandra Cunha, quando olhamos para todo o processo do SIRESP, nomeadamente para

o curto prazo dado para a entrega das propostas a concurso no tempo do Governo de Durão Barroso —

provavelmente, até para afastar outros concorrentes —, quando olhamos para a faculdade que esse mesmo

Governo acabou por dar ao concorrente para reformular a sua proposta, em vez de abrir um concurso novo,

ficámos com a ideia de que esse concurso ou esse negócio foi exatamente feito à medida da Motorola e da

Sociedade Lusa de Negócios e não à medida do interesse público, como se impunha e como deve ser.

O Sr. João Oliveira (PCP): — É um facto!

Página 12

I SÉRIE — NÚMERO 105

12

O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Ora, esta situação desvirtua tudo o que se pretende salvaguardar

com os concursos públicos, nomeadamente a transparência dos contratos, mas afasta, ainda, o interesse

público, que devia ser a premissa maior nestes contratos e também nestes concursos.

O que pergunto à Sr.ª Deputada Sandra Cunha é se partilha da leitura que fazemos relativamente ao

concurso que deu origem ao SIRESP.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Sandra Cunha.

A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — Sr. Presidente, Srs. Deputados José Luís Ferreira e André Silva, concordamos

em absoluto com aquilo que disseram e registamos também o entendimento que fazem — e que é semelhante

ao que o Bloco faz — em relação a esta problemática da gestão do SIRESP. Evidentemente que concordamos

também com a análise que foi feita relativamente à origem do SIRESP e ao negócio que é este sistema de

comunicações, tão crucial para Portugal.

Sr. Deputado Filipe Neto Brandão, mais uma vez, esta questão que estamos a debater aqui hoje não tem a

ver com Pedrógão Grande. Tem a ver com todas as situações que relatámos, que exemplificámos e que existem

nas várias notícias ao longo dos tempos, de vários anos, que são os vários problemas que o SIRESP tem

revelado ao longo da última década.

A avaliação que a comissão técnica independente fará em relação aos acontecimentos de Pedrógão Grande

é muito importante e, evidentemente, deverá trazer consequências. Agora, este projeto que o Bloco de Esquerda

aqui traz não tem a ver só com a tragédia de Pedrógão Grande, mas tem a ver com todos os problemas que se

têm revelado nos últimos anos em vários contextos, em vários incêndios, florestais ou não, dos quais Pedrógão

Grande foi, de facto, mais um.

Consideramos sempre que a segurança e a proteção da população não podem ficar reféns de negócios nem

de estimativas financeiras. Se tivéssemos realmente em conta os custos financeiros, o interesse do Estado e o

interesse público, o SIRESP não teria custado ao Estado mais cinco vezes do que custou.

O Sr. JoséManuelPureza (BE): — Muito bem!

A Sr.ª SandraCunha (BE): — O SIRESP não teria custado ao Estado cerca de 500 milhões de euros, em

vez de 100 milhões, ou seja, teria custado cinco vezes menos.

Não é de agora que o Bloco de Esquerda se preocupa com estas questões e não é de agora que o Bloco de

Esquerda fala nestes problemas do SIRESP e na necessidade de a gestão passar das mãos dos privados para

as mãos do público.

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Mas agora há um contexto!

A Sr.ª SandraCunha (BE): — Sr. Deputado Telmo Correia, depois de Pedrogão — e sabemos que tragédias

destas podem acontecer no futuro e é provável que acontecerão cada vez mais —, não tirar nenhum tipo de

consequência é que seria realmente dramático.

Vozes do BE: — Muito bem!

A Sr.ª SandraCunha (BE): — Por isso, apresentámos o projeto de resolução que está em discussão.

Sr. Deputado, o ex-Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Administração Interna, Fernando Alexandre,

que também defende a gestão pública e o SIRESP nas mãos públicas, foi do Governo PSD/CDS e foi do CDS.

Como o Sr. Deputado bem disse, trata-se precisamente de o SIRESP ser mal gerido ou bem gerido e, de

facto, tem sido mal gerido nas mãos dos privados.

A direita e o Sr. Deputado esbracejaram sobre todos os temas para que tudo fique na mesma e, na verdade,

para não se mexer, mais uma vez, nos negócios e nos lucros dos privados.

Página 13

6 DE JULHO DE 2017

13

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, encontra-se na tribuna destinada ao Corpo Diplomático uma delegação

do Grupo Parlamentar de Amizade Irão-Portugal, presidida pelo Deputado Mostafa Kavakebian.

Peço aos Srs. Deputados que saúdem a delegação, tal como eu já fiz nesta manhã.

Aplausos do PSD, com Deputados de pé, do PS, do BE, do CDS-PP, do PCP e de Os Verdes, de pé, e do

PAN.

Vamos, pois, continuar os nossos trabalhos.

Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado José Silvano, do PSD.

O Sr. JoséSilvano (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados: O Bloco de Esquerda, com

este agendamento potestativo, pretende centrar o debate sobre o modelo de parceria público-privada do

SIRESP num preconceito ideológico de que só o que é público defende as populações e tudo o que é privado é

negócio.

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Muito bem!

O Sr. JoséSilvano (PSD): — Uns dirão que é oportunismo, eles dirão que é oportunidade.

Interessa referir, a propósito desta parceria público-privada, que existe uma entidade pública, a Secretaria-

Geral do Ministério da Administração Interna, que é a entidade gestora. É a esta entidade que cabe garantir o

seu funcionamento. É ao Estado, portanto, que compete sempre garantir o seu funcionamento e fiscalização.

Sr.as e Srs. Deputados, a discussão deste projeto de resolução, numa altura em que sabemos que as

consequências catastróficas causadas pelo incêndio de Pedrógão Grande levaram a que 64 pessoas morressem

e mais de duas centenas ficassem feridas, é uma manobra dilatória que pretende discutir o acessório e não o

essencial.

O Sr. CarlosAbreuAmorim (PSD): — Muito bem!

O Sr. JoséSilvano (PSD): — Ao contrário de estar preocupado em saber o que é que falhou com este

sistema de comunicações, que causou uma total descoordenação de meios que eventualmente conduziram à

destruição total daqueles territórios — hoje, em todos os relatos feitos, quer na comunicação social, quer nas

entidades, perpassam dois dados objetivos, a falha de comunicação e a descoordenação, e, para isto, não são

precisos relatórios nem comissões de avaliação, porque são os dados objetivos que temos à frente —, a

prioridade do Bloco de Esquerda é a de discutir o modelo ideológico e a titularidade do SIRESP.

Ora, Sr.as e Srs. Deputados, o que preocupa os portugueses é saber o que aconteceu no terreno durante os

dias em que decorreu o incêndio, principalmente nas primeiras horas, o que falhou para o tornar único nas

consequências catastróficas que teve e o que está a ser feito para evitar, em futuros incêndios, tais

consequências trágicas. Em suma, restabelecer a confiança no Estado, um Estado que falhou naquele incêndio.

Aplausos do PSD.

Sr.as e Srs. Deputados, passados 18 dias, ainda não temos respostas concretas das entidades a nenhuma

questão, apenas contradições e um passar de culpas de entidade para entidade, de organismo para organismo

e de responsável para responsável. É caso para dizer: basta!

Queremos respostas e não desculpas. Exigimos autoridade e coordenação. Não precisamos que os

responsáveis se vitimizem, porque as verdadeiras vítimas foram as que pereceram e as que ficaram feridas no

incêndio.

Por tudo isto, importa, sim, analisar os factos e as evidências que ocorreram no teatro das operações para

percebermos quem é que fez, o que fez e a que horas fez.

Página 14

I SÉRIE — NÚMERO 105

14

Se analisarmos a fita do tempo, fica claro, no nosso entendimento, que as primeiras horas de combate ao

incêndio foram dominadas pela falta de organização, descoordenação e confusão nas comunicações.

Nos últimos dias, tem sido dado conta de que o SIRESP falhou durante várias horas, embora a Sr.ª Ministra

tenha declarado que não houve falha total do sistema, mas, sim, intermitências.

Em 23 de junho, no jornal i pôde ler-se que o SIRESP deixou de funcionar entre as 19 horas de sábado e as

9 horas e 30 minutos de domingo e que, nesse período, bombeiros, GNR e Proteção Civil não conseguiram

comunicar entre si.

A Autoridade Nacional de Proteção Civil admite apenas falhas do SIRESP num curto período. O Comandante

Operacional que estava no terreno garantiu, durante as conferências de imprensa, que as falências da rede

eram muito curtas, inferiores a 1 minuto, meio minuto, e que, por isso, nunca comprometeram as operações.

Por seu lado, o relatório do SIRESP diz que não houve falhas nas comunicações, apenas saturação da rede.

A Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna, ou seja, a entidade gestora do Sistema, diz que

ocorreram falhas nas comunicações e que é preciso analisar e verificar essas falhas.

Sr.as e Srs. Deputados, afinal, em que ficamos?

Srs. Deputados do Bloco de Esquerda, não será mais importante discutir o que falhou no funcionamento

deste sistema de informação e o porquê desta descoordenação total entre entidades e o que tem de ser feito

para que em futuros incêndios — ainda estamos no início da fase crítica —não aconteçam mais problemas com

estas consequências trágicas do que centrarmos a discussão no modelo de aquisição desta tecnologia? É isso

que, de certeza absoluta, os portugueses querem saber.

Sobre o encerramento da chamada «estrada da morte», continua a descoordenação total, com o Primeiro-

Ministro, numa entrevista à televisão, a afirmar que a estrada não estava encerrada, com o Secretário de Estado

a informar uma rádio de que a via estava fechada e com a GNR a afirmar que não recebeu quaisquer instruções

para a fechar.

O que importa aos portugueses é dar respostas concretas sobre os motivos que levaram a que tal estrada

não tenha sido encerrada.

O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Muito bem!

O Sr. JoséSilvano (PSD): — As confirmações do número de mortos e feridos foi outra completa

descoordenação, com entidades, bombeiros, Proteção Civil, GNR e| Secretário de Estado a darem versões

completamente contraditórias.

Esta é mais uma prova da total descoordenação que ocorreu no teatro de operações.

O que importa, portanto, Sr.as e Srs. Deputados, é também dar respostas urgentes e concretas às

necessidades das populações e aos problemas que enfrentam no terreno.

Temos de encontrar meios expeditos, conforme disse ainda hoje o Presidente do PSD, Pedro Passos Coelho,

para resolver as situações urgentes e, se for preciso, criar mecanismos legais para que dispensem as

averiguações para, no terreno, dar resposta concreta às pessoas.

Aplausos do PSD.

A prova de que o sistema de comunicações falhou e que o SIRESP não deu resposta às solicitações feitas

no teatro de operações é a apresentação, nesta altura — repito, nesta altura —, desta iniciativa do Bloco de

Esquerda.

Com esta iniciativa, parece que o Bloco de Esquerda quer, de alguma forma, expor motivos que justificam,

de facto, a falha, no terreno, do SIRESP, senão este sistema de informação e este problema não seriam

discutidos nesta altura.

Mesmo os argumentos de caráter ideológico sobre o modelo público ou privado não disfarçam — antes pelo

contrário, acentuam — o não funcionamento das comunicações no referido incêndio e a respetiva

descoordenação.

Podemos afirmar que a primeira conclusão fundada do não funcionamento dos meios e respetivo plano de

comunicação é tirada por um dos partidos que suportam o Governo — o Bloco de Esquerda, com a apresentação

deste tema hoje de forma potestativa.

Página 15

6 DE JULHO DE 2017

15

Sr.as e Srs. Deputados, o que é verdade e está objetivamente comprovado é que o SIRESP falhou. Se falhou

durante 14 horas e 30 minutos, como uns dizem, ou se falhou intermitentemente, como dizem outros, não

podemos desvalorizar o facto. Falhando poucas ou muitas horas, ou intermitentemente, ou com saturação, o

que é verdade é que o SIRESP falhou.

Àqueles que ainda querem atribuir responsabilidades a governos anteriores, do PSD e do CDS-PP, sobre a

aquisição do SIRESP, relembro um facto objetivo que aconteceu no tempo do Governo do Eng.º José Sócrates,

cujo Ministro da Administração Interna era o atual Primeiro-Ministro.

Este Governo decidiu declarar a nulidade do negócio.

Pergunto: tendo em conta que havia um sistema que tinha tantas vicissitudes, que estava tão mal, que tinha

sido tão mal negociado, que tinha tantos interesses na sua génese, porque é que nesta altura, quando foi

denunciado e quando foi anulado, o novo Governo e o Primeiro-Ministro, que era na altura o Ministro da

Administração Interna, não fizeram um novo SIRESP, um novo concurso e um novo modelo? Antes pelo

contrário, optaram por renegociar o contrato.

Aplausos do PSD.

Dessa negociação, em 5 de maio de 2006, a comissão de avaliação desta PPP registou três alterações:

foram eliminados módulos não essenciais e procedeu-se à extinção dos centros do Porto, Madeira e Açores; foi

eliminada a funcionalidade de gestão de faturação; e, mais importante — é a esta alteração que me quero referir

—, foi eliminada a etapa de arranque, ou seja, foi feita uma simplificação do procedimento de aceitação do

sistema por se considerar que os testes e verificação do desempenho previstos, bem como o sistema de

penalização por falhas que foi desenhado, acautelavam, de forma adequada, os objetivos definidos para a rede

SIRESP. Isto está escrito num acórdão do Tribunal de Contas.

Tudo isto para poupar cerca de 50 milhões de euros.

Sr.as e Srs. Deputados, contra factos não há argumentos.

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Muito bem!

O Sr. JoséSilvano (PSD): — O PSD em todo este processo está de consciência tranquila, tanto quando

falamos dos incêndios, como da fita do tempo, como deste contrato, e está disponível para o discutir em todas

as suas formas.

Se o Partido Socialista quiser mudar este modelo e aperfeiçoá-lo, tem aqui os seus parceiros para isso, não

precisa do PSD. Mas nós não iremos ser obstáculo.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: — Sr. Deputado José Silvano, a Mesa registou a inscrição, para pedir esclarecimentos,

dos Srs. Deputados José Manuel Pureza, do BE, e Fernando Anastácio, do PS.

Entretanto, o Sr. Deputado José Silvano informou a Mesa de que pretende responder em conjunto.

Tem a palavra, em primeiro lugar, o Sr. Deputado José Manuel Pureza.

O Sr. JoséManuelPureza (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Deputado José Silvano, falou

de preconceito ideológico. Vamos, então, falar de preconceito ideológico.

Sr. Deputado, gostava que ouvisse com toda a atenção o que vou passar a ler: «O SIRESP é uma daquelas

ruinosas PPP em que o Estado nos enfia de tempos a tempos. Talvez a pior de todas elas. É um clássico: na

maioria das PPP, o lucro fica nos privados e o prejuízo passa para o público. O risco está todo do lado público,

é verdade, mas ao menos há um serviço prestado ao País. Não no caso do SIRESP. Aqui, o contribuinte paga,

tem todo o risco do seu lado e nem sequer tem direito ao serviço. O SIRESP é um consórcio de falidos. PT,

BPN, BES… estão todos lá». Estas palavras, Sr. Deputado José Silvano, são de alguém que seguramente tem

um enorme preconceito ideológico — chama-se Carlos Carreiras e é um dos mais importantes dirigentes do

Partido Social Democrata.

Página 16

I SÉRIE — NÚMERO 105

16

Aplausos do BE.

Sr. Deputado José Silvano, relembro-o de que aquilo que aqui estamos a falar não é, na verdade, preconceito

ideológico, é de um contrato celebrado pelo Estado e que tem de dar todas as garantias de segurança a todas

as pessoas.

Queria perguntar-lhe, Sr. Deputado, se tem toda a confiança num consórcio que tem a Sociedade Lusa de

Negócios como o seu principal acionista, que tem a Espírito Santo Segurança como um dos seus principiais

acionistas, que tem a Motorola como um dos seus principais acionistas e é, ao mesmo tempo, fornecedor deste

mesmo serviço.

É preconceito ideológico, ou é bom senso, ou é razoabilidade, Sr. Deputado?

Já agora, que estamos a falar de preconceito ideológico, Sr. Deputado, na verdade, os estudos realizados

por economistas absolutamente insuspeitos nesta matéria revelaram que se este serviço tivesse sido prestado

pelo Estado teria custado, na altura do início deste contrato, cerca de 120 milhões de euros.

Este contrato foi celebrado por um Governo presidido por Pedro Santana Lopes ao consórcio privado, que

há pouco enunciei, por cerca de 450 milhões de euros.

Protestos do PSD.

Pergunto, Sr. Deputado, se se trata de preconceito ideológico, se há aqui algum viés de natureza ideológica

do Governo presidido por Pedro Santana Lopes, através do Ministro da Administração Interna, Daniel Sanches,

ele próprio administrador da SLN, se tudo isto é, afinal de contas, uma cabala ideológica em matéria de parcerias

público-privadas.

Aplausos do BE.

Finalmente, Sr. Deputado José Silvano, queria perguntar-lhe algo que é muito concreto e que é notícia dos

últimos minutos: soubemos agora — e os senhores, certamente, também souberam — que a sociedade SIRESP,

o consórcio, aprovou a distribuição de dividendos no valor de 4,2 milhões de euros um dia depois da falência da

Galilei/SLN, que é, aliás, como já disse, o maior acionista deste consórcio.

Queria, então, perguntar-lhe, Sr. Deputado José Silvano, se está contra esta distribuição de dividendos, ou

se, pelo contrário, está a favor. Se estiver a favor, é mesmo puro preconceito ideológico.

Aplausos do BE e da Deputada do PS Gabriela Canavilhas.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado Fernando Anastácio.

O Sr. Fernando Anastácio (PS): — Sr. Presidente, muito obrigado.

O Sr. Deputado José Silvano inicialmente caracterizou a sua intervenção pela necessidade de respostas,

mas, depois, não resistiu à tentação de, em todo o seu texto, em todo o seu discurso, falar de conclusões.

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Haja alguém que tira conclusões!

O Sr. Fernando Anastácio (PS): — Ou seja, o Sr. Deputado José Silvano, que também faz parte daquele

PSD que há uns dias, de uma forma muito sensata, de uma forma preocupada, queria conhecer, por peritos

técnicos independentes, tudo aquilo que tinha acontecido, uns dias depois faz parte do outro PSD, daquele PSD

que não precisa de resultados técnicos, porque já tem conclusões, pois basta-lhe as notícias de jornal.

Aplausos do PS.

Este é o ponto a que chegou a coerência ideológica e a coerência da oposição relativamente a estas

questões.

Página 17

6 DE JULHO DE 2017

17

Sr. Deputado, é sempre um perigo fazer uma intervenção com base em notícias de jornais, porque em

notícias de jornais temos opiniões não comprovadas e o Sr. Deputado, hoje, não resistiu à tentação de tirar as

conclusões em função das notícias de jornais e de pôr de lado, de jogar para o caixote do lixo o que há poucos

dias considerava essencial: um relatório elaborado por peritos independentes, independentes de toda a gente,

que pudesse trazer a este Parlamento e aos portugueses a resposta àquilo que aconteceu.

Sr. Deputado, assim, de facto, as oposições não ajudam, porque para o País também é preciso uma oposição

responsável e o PSD, de facto, não mostra esse exemplo.

Sr. Deputado, já que falamos de história e já que trouxeram aqui à colação e à discussão a história do

SIRESP, não vamos reescrever a história, porque toda a gente que tentou reescrever a história, no passado,

nunca se deu muito bem.

E, já agora, que estamos a falar de paternidade, não fica bem enjeitar os nossos filhos! Sr. Deputado, o

concurso do SIRESP foi lançado por um governo sem, no verão de 2003, teve 11 estações a trabalhar no

Europeu de 2004, ainda sem contrato, e, depois, o seu Governo deu dois meses no verão para se apresentarem

propostas — aliás, o Sr. Deputado já se deve ter esquecido disso.

Por outro lado, o Sr. Deputado deve lembrar-se do relatório e do parecer do Conselho Consultivo da

Procuradoria-Geral da República, que refere, claramente, no ponto 2 das conclusões que não havia condições,

do ponto de vista da conceção, da gestão, de todo o concurso, para suscitar qualquer ato de impugnação; o que

estava em causa era o despacho de adjudicação feito pelo Governo três dias depois de ter perdido as eleições,…

Aplausos do PS.

… Governo esse com um Ministro que se chama Daniel Sanches, que veio diretamente da SLN e que voltou

à SLN com um contrato de adjudicação na bagagem. Foi isto que aconteceu!

Protestos do PSD.

E o Governo do Partido Socialista, através do Ministro da Administração Interna, António Costa, o que fez foi

revogar o despacho de adjudicação.

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Não diga isso! Assinou! Está lá a assinatura!

O Sr. Fernando Anastácio (PS): — Revogou o despacho de adjudicação, seguindo os princípios e a

recomendação do parecer. Isto é que é importante que se saiba!

Portanto, Sr. Deputado, não vale a pena reescrever a história! A história está lá, a paternidade está lá e o

SIRESP e o PSD são duas coisas que nunca vão separar-se uma da outra, porque têm um cordão umbilical

para o resto da sua história.

Aplausos do PS.

Entretanto, assumiu a presidência o Vice-Presidente Jorge Lacão.

O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado José Silvano.

O Sr. José Silvano (PS): — Sr. Presidente, Srs. Deputados José Manuel Pureza e Fernando Anastácio,

muito obrigado pelas perguntas que me colocaram, porque me permitem esclarecer estas questões com

objetividade. E digo com objetividade, porque a forma de esclarecer é com factos e não com juízos subjetivos.

Eos factos são perfeitamente claros: o atual contrato do SIRESP, quer queira quer não, tem um rosto — e digo

isto com tranquilidade —, que é o do atual Primeiro-Ministro.

Aplausos do PSD e do Deputado do CDS-PP Telmo Correia.

Repito calmamente: o contrato do SIRESP, que está em vigor, tem um rosto: António Costa.

Página 18

I SÉRIE — NÚMERO 105

18

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Muito bem!

O Sr. José Silvano (PSD): — E vou explicar porquê e sem subjetividade: se o contrato era tão mau, se,

como diz, se reescreveu a história anterior, por que é que António Costa, Ministro da Administração Interna, no

Governo de José Sócrates, quando teve oportunidade, porque o próprio Tribunal de Contas anulou o contrato,

não fez novo procedimento e novo contrato? Por que é que negociou este? Não percebo!

Aplausos do PS.

Vamos ser claros: se um Ministro da Administração Interna e um Governo quiseram negociar, renegociar, ou

começar do zero durante um ano uma negociação com este contrato é porque havia coisas neste contrato com

as quais o Governo concordava. E tanto concordava que as alterações propostas pelo Ministro da Administração

Interna desse Governo foram apenas três, as que acabei de referir na minha intervenção, conseguindo uma

poupança de 50 milhões de euros. São três condições: duas perfeitamente acessórias e uma que pode ser

essencial, que é dispensar o período de prova, o período de treinos deste tipo de situação.

Aplausos do PSD.

É esta a questão e é este o facto objetivo e — vamos deixar-nos de coisas — todos teremos culpas no

cartório! Mas este contrato que está em vigor só tem um rosto, que é o de António Costa. Foi ele que negociou,

foi ele quem fez as alterações.

Aplausos do PSD.

Em relação às questões técnicas referidas pelo Sr. Deputado Fernando Anastácio, é muito simples: eu só

falei de factos objetivos.

É evidente que a comissão nomeada vai tirar as conclusões técnicas e mais específicas que são necessárias

para perceber toda a mecânica, mas há conclusões óbvias que se podem tirar e não é preciso a comissão

técnica, basta ver a «fita do tempo», que o próprio Ministério da Administração Interna distribuiu e que está na

sua página oficial, para perceber que nas primeiras horas ninguém se entendeu, nem em comunicações nem

em coordenação. Isto está claro e objetivo!

Aplausos do PSD.

Acho que isto toda a gente entende — aliás, os portugueses já colocam essa questão.

Portanto, trata-se de conclusões políticas e eu, como Deputado, tenho necessidade, tenho a obrigação e

tenho o direito de as poder tirar aqui.

Aplausos do PSD e do Deputado do CDS-PP Telmo Correia.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Machado.

O Sr. Jorge Machado (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: As comunicações entre forças e serviços

de segurança e os agentes de proteção civil são vitais para o normal funcionamento dos nossos mecanismos

de segurança e proteção civil.

Sendo vitais para o normal funcionamento dos serviços de segurança e proteção civil num cenário de

emergência, calamidade ou desastre natural, as comunicações assumem uma importância ainda maior,

podendo muito bem fazer a diferença entre a vida e a morte.

Assim, é óbvio para o PCP que este sistema de comunicações de emergência não pode estar condicionado

à lógica do lucro privado. Logo o Estado deve assegurar um sistema autónomo e independente de terceiros.

Página 19

6 DE JULHO DE 2017

19

Acontece que o SIRESP nasceu torto e, como diz o nosso povo, «o que nasce torto tarde ou nunca se

endireita». O SIRESP é uma parceria público-privada, é um contrato assinado por um Governo de gestão

PSD/CDS-PP por um ministro com ligações ao Grupo SLN/BPN, que é, por acaso, uma das empresas que

constitui o SIRESP, e custou ao Estado 485 milhões de euros.

Hoje sabemos, por via de uma pergunta colocada pelo PCP a Oliveira e Costa, na comissão de inquérito ao

BPN, que, como ele admitiu, o SIRESP custou no máximo 80 milhões de euros, isto é, sabemos que o Estado

pagou cinco vezes mais por um sistema do que ele, efetivamente, custou.

Mais: continuamos a pagar por ano cerca de 40 milhões de euros.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Uma vergonha!

O Sr. Jorge Machado (PCP): — Portanto, o SIRESP tem uma palavra: negócio.

Para o PCP não faz qualquer sentido que o sistema integrado de comunicações esteja nas mãos de privados,

sujeito à lógica do lucro e não sujeito à lógica de serviço público de vital importância.

Não deixa de ser irónico que no SIRESP, sendo constituído por um grupo de empresas onde assume

particular importância a SLN/BPN e a ESEGUR do Grupo BES, dois bancos intervencionados pelo Estado, em

que, por opção do PSD, CDS e PS, tivessem sido «nacionalizados» os prejuízos sem tocar nos ativos destas

empresas. Se se tivessem «nacionalizado» também os ativos, como propôs o PCP, hoje teríamos o controlo

público do SIRESP e estaríamos a discutir que medidas teríamos de adotar para que ele funcionasse e

respondesse de forma eficaz.

Não foi essa a opção do PSD, do CDS e do PS, pelo que, ainda hoje, como resultado disso mesmo, estamos

a pagar 40 milhões de euros por ano por um sistema que, objetivamente, tem graves lacunas.

Sr. Presidente, Srs. Deputados: Para o PCP é necessário repensar o sistema de comunicações de

emergência do nosso País e, para além de garantir que o Estado tenha, sem dependência de terceiros, um

sistema integrado de comunicações, é preciso pensar se partimos para uma base SIRESP ou para uma outra

solução tecnológica.

Recordo aqui que há outras opções no nosso País: por exemplo, os Açores optaram por uma solução

tecnológica distinta, mais barata e, pelos vistos, mais eficiente; as Forças Armadas desenvolveram capacitação

própria para responder às comunicações de emergência.

É, pois, preciso repensar o sistema de comunicações e saber se mantemos ou não um sistema-base

SIRESP.

Entretanto, é preciso resolver os vários problemas que o SIRESP tem, nomeadamente as zonas cinzentas

sem cobertura que existem e que são inaceitáveis, os problemas de funcionamento e as fragilidades em cenários

de calamidade que, objetivamente, existem.

Tenho aqui, Sr. Presidente e Srs. Deputados, uma mensagem de correio eletrónico, que recebemos hoje, do

sistema de gestão do SIRESP, que informa um conjunto de elementos da proteção civil de que numa estação-

base do SIRESP se irá promover uma manutenção, referindo que a manutenção será entre as 10 horas e as 18

horas e que a mesma só ocupará duas horas. É um bocadinho como aqueles operadores privados de televisão

que dizem: «nós vamos aí a casa resolver o problema entre as 10 horas da manhã e as 10 horas da noite.

Aguardem.» A mesma lógica funciona no SIRESP, ou seja, dizem: entre as 10 horas e as 18 horas (não sabemos

quando) vamos fazer a manutenção.

Claro que não estamos contra a manutenção, e até admitimos que ela possa demorar as duas horas, mas é

inaceitável que os agentes de proteção civil estejam condicionados neste período de tempo pela gestão privada

que diz: «vamos lá quando nos apetecer, entre as 10 horas e as 18 horas». Não podemos continuar assim!

Temos de mudar o sistema de comunicações de emergência!

Entendemos que, para além de termos de discutir a questão da propriedade pública que o SIRESP deve ter

— e isso é fundamental —, é também essencial, no imediato, garantir que não haja interrupções da rede SIRESP

neste período que se avizinha, proceder ao levantamento imediato das capacidades existentes junto dos

bombeiros e das Forças Armadas para criar canais mais ágeis de comunicação, caso o SIRESP falhe, ou seja,

no fundo, temos de melhorar os sistemas redundantes que hoje existem.

Página 20

I SÉRIE — NÚMERO 105

20

Em segundo lugar, é preciso adotar as medidas necessárias para que o Estado tenha um sistema autónomo

e independente de comunicações de emergência com total cobertura do território nacional e que funcione nos

piores cenários possíveis.

Nessa medida, Sr. Presidente e Srs. Deputados, queríamos aqui dizer que, ao contrário do que o PSD e

CDS-P insinuam, o SIRESP não é o sintoma da falência do Estado; é, sim, a comprovação da falência das

opções políticas do PSD e do CDS-PP, é a falência do sistema das PPP, da degradação da capacidade do

Estado para promover negócios privados, sempre regado com a ideia de que os privados é que sabem gerir. O

SIRESP é a falência da política de direita, não é a falência do Estado.

Aplausos do PCP.

O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Peço a palavra, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para que efeito, Sr. Deputado?

O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Sr. Presidente, é para fazer uma interpelação à Mesa sobre a

condução dos trabalhos.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem a palavra, Sr. Deputado.

O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Muito obrigado, Sr. Presidente.

Para que não se torne um adágio parlamentar de que uma mentira muitas vezes repetida se torna verdade,

gostaria de pedir ao Sr. Presidente que distribuísse a todos os grupos parlamentares A fotocópia da Resolução

do Conselho de Ministros n.º 74/2006, em que é adjudicado o atual contrato do SIRESP, no Governo de José

Sócrates e sendo Ministro da Administração Interna o Dr. António Costa.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Sr. Deputado, faça favor de fazer chegar o documento à Mesa.

Srs. Deputados, a Mesa, neste momento, não regista nenhum pedido de palavra.

O Sr. Filipe Neto Brandão (PS): — Peço a palavra, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Sr. Deputado Filipe Neto Brandão, pede a palavra para que efeito?

O Sr. Filipe Neto Brandão (PS): — Sr. Presidente, para uma interpelação à Mesa sobre o andamento dos

trabalhos.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Sr. Deputado, faça favor.

O Sr. Filipe Neto Brandão (PS): — Sr. Presidente, solicito que, através de V.ª Ex.ª, seja distribuído a todos

os grupos parlamentares o parecer da Procuradoria-Geral da República que se pronuncia sobre a adjudicação,

por parte do ex-Ministro, Daniel Sanches, do contrato do SIRESP.

O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Não está em vigor!

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Peço aos Srs. Deputados o favor de entregarem a documentação que

referiram para que a Mesa proceda à sua distribuição.

Volto a dizer que a Mesa não regista nenhum pedido de palavra.

O Sr. Filipe Neto Brandão (PS): — Peço a palavra, Sr. Presidente.

Página 21

6 DE JULHO DE 2017

21

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Sr. Deputado Filipe Neto Brandão, pede a palavra para que efeito?

O Sr. Filipe Neto Brandão (PS): — Sr. Presidente, para inscrever o Sr. Deputado José Miguel Medeiros para

uma intervenção.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Apelo aos grupos parlamentares que diligenciem no sentido de proceder

às demais inscrições que entendam.

Tem, então, a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado José Miguel Medeiros.

O Sr. José Miguel Medeiros (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Discutimos hoje, por iniciativa

do Bloco de Esquerda, o projeto de resolução n.º 959/XIII (2.ª), que recomenda ao Governo a denúncia do

contrato com a sociedade que opera o Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal,

também designado abreviadamente por SIRESP.

Analisemos, então, a situação. A criação deste sistema de comunicações começou a ser trabalhada ainda

no final dos anos 90 do século XX, pelo XIII Governo Constitucional, no quadro de uma profunda reestruturação

e modernização das forças e serviços de segurança e da proteção civil e foi objeto de uma resolução do

Conselho de Ministros em julho de 1999.

Com efeito, este é o primeiro diploma que se refere às necessidades de modernização das redes de

comunicações de emergência e segurança que estavam em funcionamento junto das forças e serviços de

segurança e emergência, naquela época, as quais se encontravam, em regra, obsoletas.

O sistema de comunicações caracterizava-se, então, por uma multiplicidade de redes de comunicações,

baseadas em equipamentos muito diversos, de várias gerações tecnológicas, com diferentes níveis de cobertura

do território e sem possibilidades de operarem entre si.

Neste quadro, esta foi uma decisão adequada às circunstâncias, atenta a importância vital de garantir a

criação, instalação e utilização de uma infraestrutura única que servisse as diferentes entidades que operam

nos domínios da emergência e da segurança nacionais, recorrendo a tecnologias mais avançadas e modernas.

Foi assumida, desde logo, a opção por um sistema desenvolvido pelo Instituto Europeu de Normas de

Telecomunicações (ETSI), no quadro da União Europeia, designado por TETRA (Terrestrial Trunked Radio) e

que, à época, era considerado como sendo a norma europeia que melhor cumpria as necessidades operacionais

das forças de segurança e dos serviços de emergência e que, por essa razão, já estava a ser utilizado, com

êxito, em diversos países da União Europeia.

Tratava-se, e trata-se ainda hoje, de um sistema vocacionado para comunicações entre grupos fechados de

utilizadores, envolvidos nos domínios em causa e que permite, simultaneamente, a interoperabilidade entre

todas as entidades que partilham a infraestrutura.

Falamos de uma tecnologia de ponta, que o Estado não dominava, razão pela qual se compreende o recurso

à figura da parceria público-privada que encontra justificação acrescida na complexidade do sistema que se

pretendia construir e operar.

Neste sentido, foi cometida ao Ministério da Administração Interna a coordenação do processo tendente ao

estabelecimento e fornecimento da futura rede móvel nacional de emergência e segurança, a implementar de

acordo com a tecnologia TETRA e com as especificações técnicas do então Instituto das Comunicações de

Portugal (ICP). A este instituto foi atribuída a missão de propor os instrumentos legislativos e regulamentares

necessários ao concurso para a seleção do operador da rede de suporte e outras questões de natureza técnica

e de coordenação.

Em janeiro de 2001, o Governo, através do Secretário de Estado Adjunto e da Administração Interna, exarou

um despacho que criou o grupo de trabalho com a missão de proceder aos estudos e à elaboração das propostas

necessárias para a arquitetura do sistema de suporte à rede.

O estudo efetuado permitiu a caracterização da infraestrutura física, da morfologia e dos requisitos de

operação e a equação de cenários alternativos para a sua implementação no território e definiu a sua execução

temporal.

Com este objetivo, foram analisadas todas as experiências existentes em projetos desta natureza, em

execução ou funcionamento nos diversos países da União Europeia, tendo inclusive sido feitas várias visitas a

diversos países pela equipa de peritos do grupo de trabalho.

Página 22

I SÉRIE — NÚMERO 105

22

Em 2002, depois de ponderadas todas as questões de natureza técnica e os constrangimentos legais que

delas poderiam resultar em sede de concorrência, caso fosse avaliado apenas o sistema TETRA, foi considerado

adequado que deveriam ser ponderadas outras tecnologias equivalentes, nos termos da Resolução do Conselho

de Ministros n.º 26/2002.

A rede passou a receber a designação SIRESP, Sistema Integrado das Redes de Emergência e Segurança

de Portugal, como sistema único nacional, partilhado que assegurasse a satisfação das necessidades de

comunicações das forças e serviços de segurança e emergência, satisfazendo a intercomunicação e a

interoperabilidade entre forças e serviços e permitindo a centralização do comando, sempre que tal se

justificasse.

Foi, também, determinado que seria aplicado o princípio do utilizador-pagador na exploração e utilização do

sistema e que este seria implementado em duas fases. Em 2003 e 2004, uma primeira fase e de 2005 a 2007,

uma segunda fase, para atingir, nessa altura — esperava-se —, a cobertura total do território nacional.

Nesta altura, foram definidos os níveis de cobertura e redundância dos elementos essenciais da rede, bem

como a atribuição ao Ministério da Administração Interna e ao Instituto de Comunicações de Portugal, enquanto

autoridade nacional de comunicações, a coordenação de todo o processo de implementação do SIRESP, bem

como a migração tecnológica das redes existentes.

O Conselho de Ministros determinou ainda a constituição de duas entidades distintas para assegurar a

exploração do sistema, a saber: um conselho de utilizadores, integrando os representantes de todos os

utilizadores da rede e presidido pelo Ministro da Administração Interna, que em simultâneo presidiria também à

entidade operacional de segurança; e uma entidade empresarial tendo por base uma PPP, respeitando o

princípio do utilizador pagador e prosseguindo as regras de gestão visando o autofinanciamento do projeto.

Em 2003, o XV Governo Constitucional, portanto, Governo liderado pelo Dr. Durão Barroso, aprovou uma

nova resolução que, para além de reafirmar os pressupostos que estiveram na base das resoluções do anterior

Governo, acrescentam um conjunto de especificações de natureza técnica e procede a ajustamentos do

calendário, o qual passa a prever o ano de 2008 como o momento para a concretização da cobertura nacional

generalizada e assumindo a necessidade de elaboração de um plano específico para as regiões autónomas.

Em síntese, a resolução do Conselho de Ministros, de março de 2003, estabelece as condições de instalação

de todo o sistema e cria os instrumentos para o lançamento da parceria, incluindo o programa de procedimentos

e o caderno de encargos, o que viria a acontecer em julho desse mesmo ano.

A alegada urgência, invocada pelo Governo de então, para lançar o concurso com um prazo para a

apresentação de propostas na ordem dos 60 dias foi fundamentada na necessidade de ter o sistema a funcionar

no campeonato europeu de futebol que Portugal organizou em 2004.

No entanto, esta opção veio a revelar-se inútil, em face da demora da apreciação, que só ficaria concluída

em janeiro de 2004, quatro meses após o fecho do prazo de candidatura e, também, pelo facto de a comissão

de avaliação ter considerado, já nessa altura, que a única proposta apresentada não cumpria os requisitos

necessários, especialmente no domínio económico-financeiro, tendo o Governo de então optado por abrir uma

negociação direta com o consórcio proponente com o argumento de tentar melhorar os aspetos considerados

negativos.

Na sequência desta negociação, em janeiro de 2005, o XVI Governo Constitucional, já em funções de gestão

corrente, decidiu, através dos Ministros das Finanças e da Administração Interna, proceder à adjudicação do

contrato de gestão para a conceção, projeto, fornecimento, montagem, construção, gestão e manutenção do

SIRESP ao único consórcio concorrente pelo valor global de 538,2 milhões de euros.

Apesar de se encontrar apenas em funções de gestão corrente, o Governo considerou ser este um ato

legítimo e fundamentou a sua decisão no carácter urgente da mesma, tendo em consideração a aproximação

do período crítico dos incêndios e o facto de, desde 1999, esta rede ser considerada um investimento prioritário

do Estado português.

Em face das dúvidas que se levantaram logo sobre a legitimidade de um Governo em funções de gestão

para proceder a uma adjudicação desta envergadura e com os compromissos que lhe estão associados, o XVII

Governo Constitucional, logo que entrou em funções, entendeu pedir um conjunto de esclarecimentos e

pareceres à Inspeção Geral de Finanças, ao Instituto de Telecomunicações, à ANACOM (Autoridade Nacional

de Comunicações) e ao Conselho Consultivo da Procuradoria-Geral da República, tendo em vista o cabal

esclarecimento de todas as dúvidas jurídicas, técnicas e financeiras levantadas.

Página 23

6 DE JULHO DE 2017

23

Os pareceres do Instituto de Telecomunicações e da ANACOM referem a adequabilidade técnica do projeto,

deixando, no entanto, dúvidas acerca da falta de um projeto-base, prévio ao concurso e, também, sobre o facto

de algumas normas do caderno de encargos poderem ser limitativas do aparecimento de mais concorrentes,

uma vez que cada empresa fornecedora apenas podia concorrer associada a um consórcio.

Ora, atendendo a que alguns dos fornecedores de equipamentos poderiam também ser fornecedores de

outras soluções técnicas e tecnológicas compatíveis, impedi-los de suportarem outras propostas e de se

associarem a diferentes consórcios, obviamente, limitou a possibilidade de aparecimento de mais concorrentes,

com todos os inconvenientes que se conhecem, designadamente a limitação da concorrência, ainda que por via

indireta.

Este facto é ainda mais limitativo, se atentarmos na circunstância de os convites terem sido endereçados

exclusivamente a fornecedores de equipamentos.

Apesar destes reparos e de alguns outros entendidos como menos relevantes,…

Protestos do Deputado do PSD Jorge Paulo Oliveira.

Tenha calma, Sr. Deputado.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Sr. Deputado, peço-lhe o favor de deixar o orador continuar no uso da

palavra e, ao orador, peço o favor de continuar.

O Sr. José Miguel Medeiros (PS): — Muito obrigado, Sr. Presidente.

Apesar destes reparos e de alguns outros entendidos como menos relevantes, os pareceres técnicos

consideraram que o processo tinha seguido, na generalidade, procedimentos regulares no plano técnico e

jurídico, com a relevante exceção do despacho de adjudicação, que foi considerado nulo pelo Conselho

Consultivo da Procuradoria-Geral da República e não pelo Tribunal de Contas, ainda que ressalvando a

regularidade dos procedimentos anteriores ao ato de adjudicação.

Neste contexto, o Governo, recentemente em funções, decidiu-se pela homologação do parecer da

Procuradoria-Geral da República e pela anulação do ato de adjudicação.

No entanto, e tendo em consideração que os restantes atos jurídicos, anteriores à adjudicação, foram

considerados regulares, manteve-se válido o procedimento do concurso e os respetivos resultados.

Assim, e atentas as circunstâncias, colocavam-se ao Governo de então duas hipóteses.

Primeira: anular os procedimentos anteriores e reiniciar todo o processo que, nesta altura, já registava um

atraso considerável em relação ao calendário previsto, com todas as consequências jurídico-legais e financeiras

e outras não menos relevantes, como era o caso da vertente operacional, sobretudo tendo em consideração

que várias entidades utilizadoras já tinham começado a fazer a migração dos seus sistemas aquando do Euro

2004, ainda antes da própria adjudicação, vá-se lá saber porquê.

Em alternativa, a segunda hipótese que foi aquela que foi seguida, era abrir negociações com o consórcio

vencedor, uma vez que o concurso não tinha sido considerado nulo, e renegociar as condições, tentando corrigir

os aspetos técnicos, jurídicos e económicos apontados e sinalizados nos diferentes pareceres emitidos,

evitando-se, assim, o reinício de todo o processo, com tudo o que isso significaria em termos de mais atrasos e

mais custos.

Após um período de negociações intensas, o sistema foi finalmente adjudicado, em julho de 2006, pelo,

então, Ministro da Administração Interna, António Costa.

Protestos do PSD.

Tenham calma, Srs. Deputados! Tenham calma! Nós não temos vergonha das nossas funções. Não temos

nada a temer e quem não tem nada a temer não tem nenhum problema!

Aplausos do PS.

Página 24

I SÉRIE — NÚMERO 105

24

É a diferença, Srs. Deputados! Não ficamos perturbados! Eu pertenci a esse Governo com muita honra e

desafio-vos a apontarem o que quer que seja ao trabalho do Ministério da Administração Interna.

Aplausos do PS.

Protestos do PSD.

Como estava a dizer, após um período de negociações intensas, o Sistema foi finalmente adjudicado, em

julho de 2006, sete anos após o início dos primeiros trabalhos preparatórios, tendo sido reduzidos cerca de 55

milhões de euros aos custos totais do projeto e corrigidas várias questões do foro técnico e jurídico.

Na sequência de todo este processo e das negociações que implicou, o Sistema começaria a funcionar

apenas em janeiro de 2010, com o objetivo de cobrir progressivamente todo o território nacional até 2013.

Mais recentemente, em 2014, o XIX Governo Constitucional — não vou dizer o nome do Primeiro-Ministro,

porque os Srs. Deputados já sabem — abriu um novo processo de renegociação financeira do Sistema,

concluído em 2015, tendo sido aprovado o respetivo aditamento ao contrato SIRESP em dezembro desse ano,

sendo essa a versão contratual em vigor. Desta renegociação, resultou uma redução de custos na ordem dos

25 milhões de euros — isto é para verem que sou imparcial nas minhas análises.

Desde o início do seu funcionamento, o Sistema tem sido questionado no que respeita à cobertura e à

qualidade do serviço da rede, sobretudo em momentos críticos, precisamente aqueles em que se espera que o

Sistema demonstre a sua eficiência.

De acordo com a mais recente avaliação externa conhecida, efetuada em 2014 pela empresa KPMG,

contratada pelo Governo de então, e que se debruçou sobre quatro indicadores-chave relativos à qualidade de

serviço da rede SIRESP, o que se verificou foi que, em relação a esses indicadores avaliados, concretamente

no que respeita à cobertura, ao grau de serviço, à segurança e à resiliência,…

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Sr. Deputado, peço desculpa por o interromper, mas, apesar de ainda

dispor de tempo, chamo a sua atenção para o tempo já usado na sua intervenção.

O Sr. José Miguel Medeiros (PS) — Mas porquê?! Já esgotei o tempo de que dispunha, Sr. Presidente?!

Peço desculpa se já esgotei o tempo.

Risos.

Como eu estava a dizer, em relação aos indicadores avaliados, concretamente no que respeita à cobertura,

ao grau de serviço, à segurança e à resiliência, esse relatório refere a existência de algumas lacunas,

designadamente a falta de formalização de um «plano de continuidade de serviço», mas salienta que,

globalmente, o Sistema cumpre os níveis de serviço contratados.

Acresce que a própria Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna, enquanto entidade gestora e

fiscalizadora do cumprimento do contrato, nos sucessivos relatórios de acompanhamento, tem referido

sistematicamente que o serviço está de acordo com o contratado, não tendo, até ao momento do incêndio de

Pedrógão Grande, reportado anomalias significativas que o pudessem pôr em causa ou que permitissem

antecipar qualquer colapso do Sistema.

Mais recentemente, após os incêndios de Pedrógão Grande e, particularmente, os trágicos acontecimentos

a eles associados, surgiram afirmações contraditórias acerca do desempenho do SIRESP. De um lado, o

relatório da operadora SIRESP, que garante que a rede correspondeu, que esteve à altura das exigências do

teatro de operações e que tudo o que se passou foi a decorrência da saturação do Sistema. Do outro lado, a

Proteção Civil e os bombeiros acusam o Sistema e responsabilizam a rede por um conjunto de falhas de

comunicações que terão tido consequências graves no teatro de operações, especialmente no que diz respeito

à disponibilidade dos equipamentos móveis de substituição das torres fixas atingidas pelo fogo.

Com o objetivo de esclarecer com rigor estas circunstâncias e perceber como é possível ultrapassar esta

completa contradição, a Sr.ª Ministra da Administração Interna determinou uma auditoria urgente, salvo erro,

com o prazo de 15 dias,…

Página 25

6 DE JULHO DE 2017

25

O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Determinou a quem?!

O Sr. José Miguel Medeiros (PS) — … para que a Inspeção-Geral da Administração Interna possa apurar,

efetivamente, o que se passou e quem tem razão, perante estas duas posições. E, bem assim, a Assembleia,

na passada sexta-feira, como já aqui foi dito, aprovou uma comissão para extrair conclusões e para nos permitir

tomar as medidas que se justifiquem.

Por isso, parece-nos desde já evidente, na linha de algumas recomendações já conhecidas e que também

foram apresentadas nos relatórios que têm vindo a público,…

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Sr. Deputado, esgotou o tempo de que dispunha.

O Sr. José Miguel Medeiros (PS) — … que é necessário reforçar a rede e os níveis de serviço.

Não nos parece, no entanto, que, pela natureza das queixas, este seja um problema que resulte do facto de

estarmos perante uma parceria público-privada, na qual assenta a gestão operacional do Sistema.

De facto, se se vier a confirmar que as falhas detetadas são o resultado de uma deficiente cobertura

contratada, esse é um problema técnico que terá de ser resolvido, mas que não depende da natureza, pública

ou privada, da entidade que faz a gestão operacional.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Sr. Deputado, tem de fazer o favor de concluir.

O Sr. José Miguel Medeiros (PS) — Por isso, e para terminar, Sr. Presidente, o Partido Socialista quer dizer

aqui que, naturalmente, não corroborando a ideia de avançar para uma nacionalização do Sistema, pelo menos

no imediato, não deixa de acompanhar as preocupações manifestadas pelo Bloco de Esquerda e, portanto, na

altura própria e em tempo oportuno, estamos disponíveis para discutir, votar e aprovar aquilo que for relevante

para que, doravante, as populações do nosso País sintam a segurança e a tranquilidade necessárias, sempre

que acontecerem tragédias como esta.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira.

O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Como hoje já tive

oportunidade de recordar, o processo do SIRESP está rodeado de singularidades, desde o concurso público

que lhe deu suporte, passando pelo prazo para a entrega das propostas, até à faculdade que o Governo de

Durão Barroso deu ao único concorrente para corrigir a sua proposta inicial, em vez de fazer um novo contrato

ou um novo concurso. Tudo isto mostra bem os contornos deste contrato e, também, as preocupações com o

interesse público, que, normalmente, ficam de fora nas negociações das parcerias público-privadas, como

aconteceu no caso do SIRESP.

O percurso não só da formação do contrato do SIRESP mas também do seu desenvolvimento é pouco claro,

ou mesmo obscuro, repleto de elementos estranhos. A estes factos temos ainda de somar as próprias

fragilidades que o SIRESP tem vindo a demonstrar ao longo do tempo, no que diz respeito à prossecução das

responsabilidades que decorrem do contrato, fragilidades que não começaram apenas com a tragédia de

Pedrógão Grande, remontam, pelo menos, a 2014, logo após os trágicos acontecimentos de Carregal do Sal. E

não são apenas os relatos das populações que indiciam falhas no SIRESP, são também as próprias autoridades

que nos dão conta das falhas nas comunicações não só durante o combate aos incêndios mas também em

operações de simulacro.

O pior é que o Estado não tem o poder de, por exemplo, exigir ao consórcio um tempo máximo de reposição

da rede de emergência, se esta deixar de operar numa determinada zona. Ou seja, numa situação de

emergência, se a rede falha, o Estado fica de pés e mãos atados, mas, numa situação de emergência, isto não

pode acontecer.

Página 26

I SÉRIE — NÚMERO 105

26

Para terminar, quero dizer que Os Verdes também consideram que o SIRESP se tem mostrado ineficaz e,

portanto, incapaz de garantir a segurança e a proteção das populações, motivo pelo qual, e em nome do

interesse público, também entendemos que o Estado deve chamar a si o Sistema Integrado das Redes de

Emergência e Segurança de Portugal.

Aplausos de Os Verdes.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem, agora, a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada Sara

Madruga da Costa.

A Sr.ª Sara Madruga da Costa (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Os portugueses já

perceberam que esta é uma tentativa clara de desviar as atenções do que é essencial.

O rosto do SIRESP já é conhecido de todos e chama-se António Costa.

Bem podem as Sr.as Deputadas e os Srs. Deputados do PS e do Bloco de Esquerda continuar a dizer que

esta discussão é sobre os incêndios. Mas, se assim o é, o que justifica discutir agora a propriedade do SIRESP

e não o apoio às vítimas dos incêndios?! Será que é mais importante discutir agora o SIRESP do que discutir o

rápido apoio às vítimas dos incêndios?!

O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Muito bem!

A Sr.ª Sara Madruga da Costa (PSD): — Após dias de dor, luto e sentido pesar pelos trágicos

acontecimentos dos incêndios de Pedrógão Grande, os portugueses assistem com espanto a uma inexplicável

e inédita sequência de contradições entre as entidades com responsabilidade na prevenção e combate aos

incêndios.

A Secretaria-Geral da Administração Interna acusa a Autoridade Nacional de Proteção Civil de falhas graves;

a Autoridade Nacional diz que a culpa é do SIRESP; o SIRESP diz que nada falhou e que o Sistema esteve à

altura; o relatório preliminar da GNR diz que não existem quaisquer responsabilidades.

Para além de nenhuma dessas entidades assumir até à data qualquer responsabilidade, Sr.as e Srs.

Deputados, qual é o fio condutor desta história, de todo este triste espetáculo? É o facto de que todas estas

entidades dependem, direta ou indiretamente, da Sr.ª Ministra da Administração Interna.

O BE, com esta iniciativa, pretende discutir a propriedade do SIRESP. O PSD entende que esta discussão é

importante, mas mais importante é apurar, tecnicamente, as responsabilidades pelo sucedido.

Mais importante do que saber se o SIRESP é público ou privado é restabelecer a confiança dos cidadãos

nas forças de autoridade, é garantir que o Estado não volte a falhar, é assegurar a proteção e a tranquilidade

das pessoas e bens, é garantir uma rápida ajuda às vítimas, é garantir, ainda, que o Estado não voltará a falhar

na fiscalização do Sistema.

Sr.as e Srs. Deputados, desde que este Governo tomou posse nunca houve uma única reunião do conselho

de utilizadores do SIRESP.

O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Ora, lá está!

A Sr.ª Sara Madruga da Costa (PSD): — Não é estranho?! A culpa é do anterior Governo?! Não nos parece!

Sr.as e Srs. Deputados, é hora de apurar as responsabilidades, mas, mais importante do que isso, é hora de

ajudar rapidamente as vítimas dos incêndios de Pedrógão Grande. O Estado falhou na catástrofe, mas não pode

falhar na ajuda e nos apoios às vítimas. O Governo, até à data, nada fez a este respeito.

O Bloco de Esquerda, pelos vistos, está mais preocupado com a propriedade do SIRESP do que em garantir

uma rápida ajuda às vítimas.

É por isso, Sr.as e Srs. Deputados, que o PSD pretende criar um fundo de indemnizações rápidas para as

vítimas dos incêndios, de modo a garantir uma rápida ajuda às vítimas.

Sr.as e Srs. Deputados, a esta altura do debate há uma coisa que podemos concluir: aquela máquina de

nome «geringonça», que todos diziam que funcionava, parece estar a ter, aos olhos de todos, as primeiras

falhas.

Página 27

6 DE JULHO DE 2017

27

Aplausos do PSD.

Protestos do PS.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Telmo Correia.

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Em nome do CDS, nesta

intervenção final, queria dizer que há, de facto, elementos neste debate que são surpreendentes e, diria mesmo,

surreais, e um deles é evidente, passa pela derivação dos Srs. Deputados, designadamente das bancadas mais

à esquerda. Passamos a vida a ouvir «é o Governo de Durão Barroso», «é o Governo de Santana Lopes», mas

nunca ouvimos falar do Governo que assinou, que administrou, que geriu, que fez os contratos e que tinha a

liderança de José Sócrates e como Ministro da Administração Interna António Costa.

Aplausos do CDS-PP e de Deputados do PSD.

Ó Sr. Deputado, concedo que o processo anterior, até porque, como sabemos, não funcionou para o Euro

2004, que era o seu objetivo — o Sr. Deputado José Miguel Medeiros fez-nos aqui um relatório discriminado de

todas as situações, que já conhecíamos, porque tínhamos lido os cadernos especializados sobre a matéria,

mas, enfim… —, que tenha ido abaixo, que tenha caído. Mas, se foi abaixo, se caiu, foi porque realmente houve

um problema com ele.

Portanto, até podemos admitir isto, mas sabemos quem fez este contrato. E esta é a primeira coisa que os

senhores omitem.

A segunda coisa que os senhores omitem, o que ainda é mais grave e daí a pergunta, é: há quanto tempo é

que os senhores estão no Governo?!

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Ora!

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Os senhores estão no Governo há dois anos! Tiveram mais do que tempo!

Tiveram Orçamentos, tiveram relatórios, tiveram informação do próprio SIRESP e não resolveram nada! Esse é

o problema!

Os senhores fazem isto tudo para quê? Os senhores fazem isto por uma razão muito simples: para esconder

aquele que é o ponto essencial, que é aquele que o CDS tem sublinhado. O ponto essencial é que, nesta

tragédia, houve problemas com o SIRESP, houve descoordenação, houve entidades a atirarem as culpas umas

para as outras, houve incapacidade de resposta do Governo e houve uma Ministra que, claramente, não tem

condições para continuar o seu mandato…

Vozes do CDS-PP: — Muito bem!

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — … e que, por isso mesmo, já deveria ter sido demitida pelo Sr. Primeiro-

Ministro. É isto que os senhores querem esconder!

O Bloco de Esquerda, que, no passado, pedia a demissão de um ministro por ter tido uma frase menos feliz,

que queria cabeças por tudo e por nada, agora, quer discutir o SIRESP. E já se percebeu que o SIRESP vai

ficar órfão, que não vai ter pai, porque este Governo nunca assumirá a paternidade.

O que os senhores querem, o que o Bloco de Esquerda, de facto, está a fazer com este debate é a concentrar-

se num aspeto dos múltiplos falhanços e das múltiplas descoordenações; só querem discutir o SIRESP e as

comunicações. Ou seja, querem discutir uma «árvore» e, com isso, excluir completamente a «floresta» de

falhanços e de falta de coordenação que existem. E não querem sequer discutir essa «árvore», querem discutir

um detalhe, que é o de quem deve ser o seu dono, isto é, se devem ser os privados ou o Estado. Ó Srs.

Deputados, que forma mais fora da lógica de tentar fugir a uma discussão séria!

Página 28

I SÉRIE — NÚMERO 105

28

Srs. Deputados, a terminar, há pouco, a Sr.ª Deputada Sandra Cunha dizia-nos: o que os senhores querem

são os negócios privados, os interesses privados! Srs. Deputados, nesta matéria, até vos vou surpreender,

porque, para nós, é absolutamente indiferente que seja público ou privado.

Vozes do CDS-PP: — Ora bem!

O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Claro!

Protestos do BE.

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Para nós, é indiferente! Nós não somos contra que seja público, nós

queremos é responsabilidades e é isso que os senhores querem esconder, é isso que os senhores querem

omitir, é isso que os senhores não querem assumir.

Aplausos do CDS-PP e de Deputados do PSD.

Para nós, é indiferente! Se é público, que seja público, não temos qualquer problema com isso, mas, como

lhe disse e demonstrei há pouco, o ser público não resolve o problema, porque se resolvesse o problema os

hospitais não estariam como estão, não desapareciam armas de um paiol do Exército, não diziam que tinham

desaparecido… Olhe, por exemplo, da Administração Interna — e a Sr.ª Deputada acompanhou isto comigo —

não teriam desaparecido 57 pistolas da direção da PSP. O ser público não resolve, o ser do Estado, por si

próprio, não resolve.

Dizia o Sr. Deputado do PC, há pouco…

O Sr. João Oliveira (PCP): — Do PCP!

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Certo, do PCP. Mas o Sr. Deputado Jorge Machado é mais PC do que

PCP, faça-me essa justiça.

Protestos do Deputado do PCP Jorge Machado.

Dizia há pouco o Sr. Deputado do PCP que não queria a falência do Estado. Digo, Srs. Deputados, não

queremos a falência do Estado. Queremos é que alguém assuma uma pose de Estado e assuma a

responsabilidade política que tem.

Vozes do CDS-PP: — Muito bem!

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — E isto só pode ser feito por este Governo. Não está a ser feito e o Bloco

de Esquerda está a branquear este facto.

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Carlos Peixoto.

O Sr. Carlos Peixoto (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados: Também em jeito de nota

final, queríamos deixar aqui bem vincado que o PSD está totalmente à vontade neste debate. Já foi aqui dito e

até já foi aqui comprovado documentalmente. E eu receio que os Srs. Deputados que aqui intervieram sobre

este assunto, Deputados desta bancada do meu lado direito, que é a bancada do lado esquerdo do Parlamento,

não tenham lido o relatório anual, página 16, das PPP (parceria público-privada) da Unidade Técnica de

Acompanhamento de Projetos (UTAP), versão de junho de 2016. É insuspeito.

Os Sr. Deputados sabem quem em junho de 2016 era Primeiro-Ministro? O Dr. António Costa! O que se diz

nessa página desse relatório é que o contrato original, aquele que estamos a discutir e não outro, aquele que o

Página 29

6 DE JULHO DE 2017

29

PS discutiu aqui, num sonho absolutamente esotérico, é um contrato de 12 de julho de 2006. Quem era o Ministro

da Administração Interna em 12 de julho de 2006? O Dr. António Costa!

Vozes do PSD: — Bem lembrado!

Protestos do Deputado do CDS-PP Nuno Magalhães.

O Sr. Carlos Peixoto (PSD): — Mais, nesta mesma página, da autoria do atual Governo, diz-se que a

renegociação desse contrato foi aprovada em minuta do Conselho de Ministros, em 29 de dezembro de 2015.

Quem era o Primeiro-Ministro em 29 de dezembro de 2015?

Vozes do PSD: — Bem lembrado!

Protestos do Deputado do PS Filipe Neto Brandão.

O Sr. Carlos Peixoto (PSD): — O Dr. António Costa!

Protestos do Deputado do PS José Miguel Medeiros.

Este contrato tem a epígrafe, a conclusão, o seu teor, todo atribuído ao Dr. António Costa, ao Governo e ao

Partido Socialista. Deixem-se, por favor, de demagogias, temos de ser sérios de uma vez por todas.

Vozes do PSD: — Muito bem!

Protestos do PS.

O Sr. Carlos Peixoto (PSD): — Não vale a pena continuarem a bater naquilo em que não devem bater,

porque estão a reincidir numa mentira.

Srs. Deputados, o Bloco veio para este debate, como também já aqui foi dito, comportando-se como um

partido avesso ao poder, como um partido da oposição. Mas estão enganados, Srs. Deputados. Toda a gente,

lá fora e cá dentro, sabe que os senhores são o andarilho predileto deste Governo.

Protestos do Deputado do BE Pedro Filipe Soares.

São o aliado predileto deste Governo. E, portanto, estão colados a ele que nem uma lapa, para aquilo que é

bom e para aquilo que é mau. É que se os senhores, quando acontecem coisas boas, quando vêm notícias

boas, se colocam logo no pódio para receberem as medalhas, é normal, é justo — e, aliás, faz parte da decência

democrática — que também apanhem os cacos daquilo que é mau. Isto é que é solidariedade política e é isto

que os senhores deveriam prestar ao Partido Socialista. Mas não, não fazem isto.

O que é que vêm aqui dizer? Avançam com uma iniciativa que tinha um objetivo. O objetivo era levar a

discussão para a história remota, onde os senhores não estavam, para branquear a história mais recente, onde

os senhores estão de corpo e alma.

O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Muito bem!

O Sr. Carlos Peixoto (PSD): — Esta é que é a grande questão. Mas deixem lá as calendas, os tempos idos,

vamos lá falar deste tempo, que é o vosso tempo. Vamos falar deste tempo.

Onde é que andou o Bloco de Esquerda nestes dois anos de poder?

A Sr.ª Deputada Sandra Cunha diz que o SIRESP já acusa deficiências desde 2008. Em 2012, onde é que

os senhores estavam nesta altura? O que é que os senhores fizeram? O que é que propuseram? Por que é que

não agiram antes do desastre de Pedrógão Grande e vêm agora reagir?

Página 30

I SÉRIE — NÚMERO 105

30

Protestos do Deputado do BE Pedro Filipe Soares.

Vêm agora reagir a reboque deste mediatismo, dizendo que são uns ases a reagir após esta tragédia.

Srs. Deputados, como bem aqui foi dito, não interessa nada se isto é público ou se é privado.

Risos do BE, do PCP e de Deputados do PS.

Não é isso que interessa!

O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Não interessa, não!

O Sr. Carlos Peixoto (PSD): — Srs. Deputados, eu já ouvi o Bloco de Esquerda… Reparem na ironia:…

Protestos do BE.

… imaginem que a investigação que agora se vai iniciar até acaba por concluir que houve falhas de entidades

públicas. O que é que os senhores propõem? Que essas entidades passem a ser privadas?! É isto que vão

propor?!

Srs. Deputados, há falhas e coisas boas quer no público quer no privado. Não sabemos, sinceramente não

sabemos, o que aconteceu verdadeiramente neste incêndio, mas há uma coisa que nós sabemos: quer o Partido

Socialista,…

Risos do Deputado do PS João Galamba.

… quer o Bloco de Esquerda nada disseram quando o Governo, argumentando que queria fazer uma nova

abordagem, e vá-se lá saber o que isso é, fez uma revoada, mudou tudo ou quase tudo em cadeia para pôr tudo

na mão do comando da Autoridade Nacional de Proteção Civil, com a conivência e a anuência do Bloco de

Esquerda.

Vejam só: na Autoridade Nacional de Proteção Civil só em 2016 mudaram 20 dos 36 comandos distritais;…

O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Ora, lá está!

O Sr. Carlos Peixoto (PSD): — … em abril de 2017, movimentaram 17 pessoas nestes cargos, nas funções

de topo mudaram sete pessoas em oito. Só que estas mudanças tiveram particularidades muito canhestras.

Uma delas foi o facto de um comandante do norte do País, por exemplo, não aparecer no despacho de

nomeação com alguma experiência profissional, nem na Autoridade Nacional de Proteção Civil, nem em

qualquer outro comando operacional, sendo — vá-se lá perceber — da área do desporto e do lazer.

Mas, em 15 de abril de 2017, um mês antes do início das fases mais agudas de incêndio, a Autoridade

Nacional de Proteção Civil prescindiu de um homem com provas dadas, um homem chefe de divisão de

comunicações e informática, e também mexeu no CDOS (Comando Distrital Operações de Socorro) de Leiria,

sabendo-se agora que o comando das operações em Pedrógão, em 17 e 18 de junho, esteve confiado a um

advogado recém-nomeado para o lugar e, já agora, muito ligado ao Partido Socialista.

O Sr. José Miguel Medeiros (PS): — Um advogado?!

O Sr. Carlos Peixoto (PSD): — Sr. Presidente e Srs. Deputados, para terminar, acho que podem ficar duas

conclusões deste debate. A primeira é a que o Dr. Costa e o PS foram, seguramente, os pais do SIRESP. É

uma paternidade que já tem anos e o Bloco de Esquerda, habilmente, conseguiu hoje envenenar politicamente

o Partido Socialista,…

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Peço-lhe que conclua, Sr. Deputado.

Página 31

6 DE JULHO DE 2017

31

O Sr. Carlos Peixoto (PSD): — … trazendo-o para este tipo de embuste.

A segunda conclusão é a que o País, ao contrário daquilo que se possa pensar, pode também intuir que a

descoordenação notada no terreno de Pedrógão Grande poderá ter tido uma causa muito mais distante do

SIRESP e muito mais próxima da ação do Governo, que mexeu no que não devia e quando não devia.

O PSD, Sr. Presidente, e para terminar, está mobilizado e espero que todos os outros partidos e grupos

parlamentares também estejam mobilizados…

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem mesmo de concluir, Sr. Deputado.

O Sr. Carlos Peixoto (PSD): — … para acudir às vítimas e para resolver definitivamente os seus problemas.

É isto que nos mobiliza e é isto que nós pedimos que mobilize também a Assembleia da República.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

O Sr. Presidente: — Tem agora a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado João Oliveira.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Nas intervenções que foram feitas ao

longo deste debate pelo meu camarada Jorge Machado já ficou clara a posição do PCP.

Não estamos de acordo com soluções que deixam as comunicações de emergência e de segurança do

Estado nas mãos de empresas privadas, porque estas são comunicações que não podem estar à mercê dos

interesses económicos e dos objetivos do lucro, que nortearão qualquer empresa privada, mas que não podem

ser critério de gestão de redes de segurança e de emergência. Preocupa-nos a situação em que está hoje

Portugal com a existência de um sistema, como o SIRESP, no estado em que ele está e com o enquadramento

que tem.

Preocupa-nos e não estamos de acordo com soluções que desconsideram em absoluto a utilização de

dinheiros públicos para servir objetivos de lucro, deixando completamente desprotegida a prestação do serviço

público e as garantias do funcionamento do serviço de comunicações com a importância e a relevância que tem

o Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal. E, obviamente, não estamos de acordo

com soluções que, depois de tudo isto constatado, depois de falhas, falhas e falhas consecutivas deste Sistema,

parecem querer deixar tudo na mesma.

Portanto, Sr.as e Srs. Deputados, a posição do PCP foi muito clara, quer em relação àquilo com que não está

de acordo, quer em relação àquilo que o PCP entende dever ser a solução para este problema. A solução que

entendemos que deve ser assumida para este problema não pode, obviamente, implicar uma rutura do sistema

de comunicações, porque, se é verdade que o SIRESP tem falhas, se é verdade que o SIRESP não cobre todo

o território nacional, é deste Sistema que se tem de partir para se ultrapassarem as suas insuficiências no

imediato e assegurar, em particular neste verão, que os nossos serviços de proteção civil e de forças de

segurança não fiquem sem sistema de comunicações. Portanto, é deste Sistema que tem de se partir para se

garantirem respostas imediatas que assegurem a manutenção e a cobertura de todo o território nacional do

sistema de comunicações. Mas é obviamente necessário pôr fim à parceria público-privada que já demonstrou,

por um lado, não assegurar o sistema de comunicações quando ele é preciso e, por outro, ser uma ruína para

o interesse público.

Mas, Sr.as e Srs. Deputados, em particular do PSD e do CDS, aquilo que é inadmissível é que, perante a

constatação do que tem sido o SIRESP ao longo destes anos, a resposta do PSD e do CDS seja a de que,

apesar de haver problemas, de haver falhas de comunicações em cenários de catástrofe, não é preciso mexer

no SIRESP.

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Já está a inventar!

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Atingiu o limite do seu tempo, Sr. Deputado. Faça favor de terminar.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Se há populações que ficaram sem socorro, porque em algumas

circunstâncias falharam as comunicações, para o PSD e para o CDS não importa, não vale a pena mexer no

Página 32

I SÉRIE — NÚMERO 105

32

SIRESP. Se o INEM (Instituto Nacional de Emergência Médica) não conseguiu contactar os comandos

operacionais e se os próprios bombeiros não conseguiram contactar no terreno, não há problema, não se mexa

é no SIRESP.

Sr.as e Srs. Deputados, isto não é resposta aos problemas das populações,…

Aplausos do PCP.

… nem é resposta aos problemas que, em situação de calamidade, não podem voltar a ocorrer.

Aplausos do PCP.

Protestos do Deputado do CDS-PP Telmo Correia.

Termino, Sr. Presidente, dizendo que é verdade que este sistema integrado de comunicações, de segurança

e de emergência foi criado por um Governo já em gestão, do PSD/CDS.

Protestos do Deputado do PSD Carlos Peixoto.

É verdade que o contrato foi refeito pelo Governo…

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Queira concluir, Sr. Deputado.

O Sr. João Oliveira (PCP): — … do Partido Socialista, que iniciou funções a seguir.

Também é verdade que durante os quatro anos em que PSD e CDS estiveram no Governo não mexeram

uma palha para que aquele contrato fosse alterado ou para que as suas condições de operacionalidade se

alterassem.

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — E agora, nos dois últimos anos?

O Sr. João Oliveira (PCP): — E é verdade, Sr.as e Srs. Deputados, que os problemas se continuam a manter.

A resposta a isto tem de ser aquela que o PSD e o CDS não querem assumir…

Protestos do CDS-PP.

… e, pelos vistos, o Partido Socialista também não está disponível para assumir.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Sr. Deputado João Oliveira, peço-lhe o favor de concluir.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Concluo, Sr. Presidente, dizendo que esta é a resposta que se impõe: pôr fim

à PPP, assegurar a autonomia do Estado em matéria de comunicações de emergência e de segurança e que

possamos ter, a partir das capacidades que existem já hoje nos bombeiros e nas Forças Armadas, a resposta

imediata que assegure que as comunicações não ficam postas em causa em cenário de catástrofe.

Aplausos do PCP.

Esta é a resposta que tem de ser assumida,…

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Não pode continuar, Sr. Deputado João Oliveira. Tem mesmo de concluir.

O Sr. João Oliveira (PCP): — … com as opções políticas que daí advêm.

Aplausos do PCP.

Página 33

6 DE JULHO DE 2017

33

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem a palavra, para uma intervenção, no encerramento da apreciação

do projeto de resolução n.º 959/XIII (2.ª), o Sr. Deputado Pedro Filipe Soares.

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE) — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O debate de hoje, já o dissemos

e repito, não é sobre o que aconteceu em Pedrógão Grande. Foi uma tragédia e esperamos que tudo seja

cabalmente esclarecido e todas as responsabilidades devidamente assacadas. Mas é porque devemos aprender

que tragédias como a de Pedrógão Grande podem acontecer que não dormimos descansados enquanto não se

fizer uma alteração de fundo no funcionamento do SIRESP.

Este é verdadeiramente o debate que, percebemos, várias bancadas não quiseram ter.

Pergunto: algum Deputado ou alguma Deputada garante aqui o cabal funcionamento do SIRESP? Nenhum!

Ninguém aqui disse que estamos salvaguardados com o atual funcionamento do SIRESP.

Pergunto: alguém aqui rejeita a indicação de que o SIRESP é, acima de tudo, um grande negócio para os

privados? Ninguém! Repito: ninguém rejeitou aqui esta afirmação. Foi até curioso ver a dança do passa-culpas

entre PS, PSD e CDS sobre quem era o pai da criança, tal era a situação em que ninguém queria admitir as

responsabilidades naquilo que é, de facto, uma negociata que tem fragilizado o País.

O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Muito bem!

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Face a estas afirmações, face às conclusões que delas decorrem, a

votação que faremos de seguida é uma votação de imensa importância.

Sobre ela já sabemos o que é que o PSD diz. O PSD diz que não interessa se o SIRESP é público ou se é

privado e o CDS disse mesmo: «Há muita coisa a discutir sobre o SIRESP, mas se deve ser privado ou público

não é uma delas».

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Essa não é a questão essencial!

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Ora, percebemos bem: a negociata é que não pode ser nunca discutida

pelo PSD e pelo CDS.

O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Muito bem!

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Aí é que está o problema a que eles querem fugir: a negociata! Isso é

que não aceitamos.

Aplausos do BE.

Quem é que teve responsabilidade na criação do SIRESP? Há um nome, Sr.as e Srs. Deputados. Chama-se

Daniel Sanches, Ministro da Administração Interna de um Governo PSD/CDS.

Protestos do PSD e do CDS-PP.

Quando o Deputado Telmo Correia diz que o Bloco de Esquerda está agora no Governo, devo responder-

lhe que parece haver alguma dúvida sobre essa matéria, porque só na sua imaginação é que tal acontece.

O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Ai é?!

O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Oiçam, oiçam!

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Mas, à pergunta se o CDS estava no Governo quando Daniel Sanches

assinou para se decidir pelo SIRESP, a resposta é inequívoca: estava no Governo e na Administração Interna

Página 34

I SÉRIE — NÚMERO 105

34

até estava o seu colega Deputado Nuno Magalhães, Sr. Deputado Telmo Correia. Esta é que é a resposta

inequívoca!

Aplausos do BE.

Mas se há negociata de PSD e CDS, o PS, através de António Costa, poderia ter dito não? A resposta

também é clara e inequívoca. Poderia e deveria ter dito «não» na altura em que assinou o contrato! Não o fez,

não teve a coragem devida para defender o que era público.

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — E agora?! E neste Governo?

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Agora, 10 anos depois, tantas trapalhadas depois, tantas intermitências

depois e tantas falhas depois, era de esperar que o PS já tivesse aprendido a lição. E essa é a resposta que

vamos ver daqui a minutos.

Que o PSD só agora, na oposição, é que deixou de acreditar no SIRESP, já percebemos.

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — E o Governo?!|

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Há notícias públicas de que, na altura do Governo de Passos Coelho e

de Paulo Portas, havia uma pressão para que o SIRESP chegasse a todo o País. Veja-se, por exemplo, o caso

da Região Autónoma dos Açores, onde havia a pressão para lá chegar, com o patrocínio do PSD e do CDS!

Esperava-se que o PS que governava e governa a Região Autónoma dos Açores dissesse: «Não, nem

pensar, porque isso não garante a segurança das nossas populações»! Mas, agora, no Governo, o PS diz que

sim e que tem de se manter. Isso é que não é compreensível, Sr.as e Srs. Deputados. Isso é que não é

compreensível!

O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Muito bem!

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Vou citar um texto que não é de alguém do Bloco de Esquerda, nem é,

sequer, de alguém de esquerda e que diz o seguinte, num artigo com o título O País numa rede de interesses:

«A opção por uma parceria público-privada (PPP) foi um excelente negócio para os privados envolvidos. Os

privados desta parceira são os suspeitos do costume: SLN/BPN, PT e BES. Entregar uma rede de emergência

e segurança do Estado a privados levanta muitas dúvidas. Para atingir os seus objetivos de coordenação tem

de incluir todas as forças e serviços de segurança». No entanto, até 2014 a Polícia Judiciária não integrava esta

rede, porque não confiava na segurança desta rede.

Ora, quem fez estas declarações foi tão-só o Secretário de Estado do PSD e do CDS que, em 2013/2014,

estava a renegociar esta PPP. E conclui tão simplesmente com o seguinte: «A única forma de termos uma

verdadeira rede estratégica a servir o interesse público é com o Estado a gerir».

Srs. Deputados do PSD e do CDS, já percebemos que não ouvem o Bloco de Esquerda, consideram que há

uma deriva ideológica sobre esta matéria. Pergunto-lhes, então, se ouvem Fernando Alexandre, Secretário de

Estado da Administração Interna do vosso Governo, naquilo que ele conhece e que os senhores o mandataram

para negociar.

Aplausos do BE.

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — E este Primeiro-Ministro? Nada?

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Escutam este Secretário de Estado? Então veremos como votam a

seguir!

Sr. Presidente, termino com uma ideia: o que está aqui em debate é parte de um problema muito mais

profundo sobre como os diversos governos, particularmente os da direita, depauperam o Estado para depois

entregar a segurança a privados.

Página 35

6 DE JULHO DE 2017

35

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — E sobre a Ministra? Nada?

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Vemos isso no SIRESP, mas também vemos isso quando funções

estratégicas da soberania do Estado estão entregues a empresas de segurança privada.

Pergunto, Sr.as e Srs. Deputados, que mais surpresas não teremos sobre esta matéria num futuro próximo.

Aplausos do BE.

O Sr. Amadeu Soares Albergaria (PSD): — É este Governo que tem de responder!

Entretanto, reassumiu a presidência o Presidente, Ferro Rodrigues.

O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, chegámos ao fim do primeiro ponto da ordem do dia, que foi uma

marcação do Bloco de Esquerda. O ponto dois refere uma eventual votação deste projeto no final do debate,

tendo a Mesa sido informada de que a votação será efetivamente feita agora.

Antes de passarmos à votação, peço ao Sr. Secretário Duarte Pacheco para dar conta do expediente

entretanto entrado na Mesa.

O Sr. Secretário (Duarte Pacheco): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, deram entrada na Mesa, e

foram admitidos, a apreciação parlamentar n.º 39/XII (2.ª) — Decreto-Lei n.º 66/2017, de 12 de junho, que

Estabelece o Regime Jurídico de Reconhecimento das Entidades de Gestão Florestal (BE) e o projeto de

resolução n.º 963/XIII (2.ª) — Apreciação do Relatório sobre Portugal na União Europeia 2016 (Comissão de

Assuntos Europeus).

É tudo, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: — Vamos, então, proceder à verificação do quórum de deliberação, utilizando o sistema

eletrónico.

Os Srs. Deputados que, por qualquer razão, não o puderem fazer terão de o sinalizar à Mesa e depois fazer

o registo presencial, para que seja considerada a respetiva presença na reunião.

Pausa.

O quadro eletrónico regista 193 presenças, às quais se acrescentam as dos Deputados Ascenso Simões,

João Torres e Luís Soares, do PS, e Assunção Cristas e Filipe Anacoreta Correia, do CDS-PP, perfazendo 198

Deputados, pelo que temos quórum para proceder à votação.

Vamos proceder à votação do projeto de resolução n.º 959/XIII (2.ª) — Recomenda ao Governo que proceda

à denúncia do contrato com a Sociedade SIRESP, SA, resgatando para o Estado o Sistema Integrado de Redes

de Emergência e Segurança de Portugal, em nome do interesse público e garantindo a segurança e a proteção

das populações (BE).

Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PS, votos a favor do BE, do PCP, de Os Verdes e

do PAN e abstenções do PSD e do CDS-PP.

Protestos do PSD e do CDS-PP.

Srs. Deputados, chegamos, assim, ao fim dos nossos trabalhos de hoje.

Reuniremos amanhã, às 15 horas com a seguinte ordem do dia: no ponto um, por marcação do CDS-PP,

será apreciado o projeto de lei n.º 565/XIII (2.ª) — Direitos das pessoas doentes em fim de vida (CDS-PP); no

ponto dois, teremos a apreciação da Conta Geral do Estado de 2015 e, no ponto três, haverá a eventual votação,

no final do debate.

Página 36

I SÉRIE — NÚMERO 105

36

Antes de encerrar a sessão, relembro que vai haver agora a inauguração da exposição sobre os 150 anos

da abolição da pena de morte.

Desejo a todos o resto de uma boa tarde e até amanhã.

Eram 17 horas e 16 minutos.

Presenças e faltas dos Deputados à reunião plenária.

A DIVISÃO DE REDAÇÃO E APOIO AUDIOVISUAL.

Páginas Relacionadas
Página 0025:
6 DE JULHO DE 2017 25 O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Determinou a quem?!
Página 0026:
I SÉRIE — NÚMERO 105 26 Para terminar, quero dizer que Os Verdes tamb

Descarregar páginas

Página Inicial Inválida
Página Final Inválida

×