12 DE JANEIRO DE 2018
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O Sr. Presidente: — Sr.as e Srs. Deputados, Sr.as e Srs. Funcionários, Sr.as e Srs. Jornalistas, está aberta a
sessão.
Eram 15 horas e 5 minutos.
Peço aos Srs. Agentes da autoridade para abrirem as galerias ao público.
Uma vez que não há expediente para ser anunciado, vamos entrar no primeiro ponto da ordem do dia, que
consta da discussão, na generalidade, dos projetos de lei n.os 726/XIII (3.ª) — Regula a utilização da planta,
substâncias e preparações de canábis para fins medicinais (BE) e 727/XIII (3.ª) — Pela admissibilidade de
utilização de canábis para fins medicinais (PAN) juntamente com o projeto de resolução n.º 1221/XIII (3.ª) —
Recomenda ao Governo que analise a evolução dos impactos na saúde do consumo de cannabis e da sua
utilização adequada para fins terapêuticos e tome as medidas necessárias à prevenção do consumo desta
substância psicoativa (PCP).
Para apresentar o projeto de lei do Bloco de Esquerda, tem a palavra o Sr. Deputado Moisés Ferreira.
O Sr. Moisés Ferreira (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A legalização da canábis para fins
medicinais é uma questão de saúde e é unicamente isso que discutimos com a proposta do Bloco de Esquerda
— saúde.
A proposta do Bloco de Esquerda permite que um médico possa prescrever canábis, que a mesma possa
ser dispensada em farmácia, que possa haver autorização para o autocultivo e que o Infarmed regule e controle
todo o processo.
É uma proposta baseada na evidência científica e na experiência internacional. Os estudos têm mostrado —
tal é sublinhado, aliás, em parecer da Ordem dos Médicos — que a canábis é eficaz como complemento de
tratamentos oncológicos, reduzindo a náusea e aumentando o apetite, que a canábis é útil para o alívio da dor
crónica, que a canábis traz benefícios para os doentes com esclerose múltipla e com outras doenças
neurodegenerativas e neuromusculares, que a canábis pode ser utilizada para melhorar a qualidade de vida de
muitas e muitos doentes. Perante a evidência, vários países já permitem a sua prescrição e dispensa, outros
permitem o autocultivo — a Itália, a Holanda, a República Checa, a Alemanha, o Canadá, para nomear apenas
alguns deles. Nestes países, a legalização para fins medicinais tem-se provado segura e benéfica.
Perante isto, a evidência científica e a experiência internacional acumulada, estranho seria não legalizarmos
a canábis para fins medicinais,…
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Muito bem!
O Sr. Moisés Ferreira (BE): — … estranho seria continuarmos a adiar uma decisão que é sensata, estranho
seria continuarmos a estudar o que está estudado e, dessa forma, protelarmos a entrada em vigor de uma
medida que ajudará doentes oncológicos, doentes em tratamento de VIH/SIDA (vírus da imunodeficiência
humana/síndrome da imunodeficiência adquirida), doentes com dor crónica.
Aplausos do BE e da Deputada do PS Maria Antónia Almeida Santos.
Se Portugal já autoriza a sua produção para exportação, porque não autorizar a sua prescrição por parte de
médicos?
A proposta do Bloco de Esquerda corresponde a um consenso cada vez maior na sociedade. A carta aberta
de mais de uma centena de profissionais da saúde, de doentes e de associações de doentes é disso um
exemplo: todos eles apelam à legalização. O ex-Presidente do Infarmed José Aranda da Silva apela à
legalização, o Presidente do SICAD (Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências)
diz que não tem objeções à sua utilização para fins medicinais, a Ordem dos Médicos, o ex-Presidente da
República Jorge Sampaio, todos eles apelam à legalização. Os próprios partidos políticos, como o PS ou o PCP,
ainda em março do ano passado diziam não ter objeção à sua legalização desde que houvesse evidência
científica. Pois ela aí está, a evidência científica.