I SÉRIE — NÚMERO 88
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No Alqueva, a agricultura intensiva e superintensiva, sobretudo de olival e amendoal, suga e esgota os
recursos, de forma totalmente insustentável. Em nome do lucro rápido e do curto prazo, compromete-se a saúde
da população e os ecossistemas.
Na Batalha e em Pombal insiste-se nos furos para prospeção de petróleo e gás como se o futuro do País
pudesse continuar a passar pelo passado, como se não tivéssemos percebido ainda que o paradigma caduco e
destrutivo de energias fósseis é para ser ultrapassado e não reproduzido.
Por outro lado, os interesses extrativos de grandes multinacionais pairam sobre o nosso País com a intenção
de se apropriarem do lítio sem quaisquer regras, mesmo que para isso seja preciso ignorar as populações,
desrespeitar zonas protegidas e a sustentabilidade dos territórios.
Sr.as e Srs. Deputados, o tempo não é de fechar os olhos a tudo isto só porque no imediato nos dá dinheiro.
Os modelos do passado não servem a transição energética, e sem transição energética não há futuro para
ninguém.
Ainda hoje pagamos os custos da exploração de minerais que nos legaram tantas feridas que ainda não
conseguimos sarar, como a dos depósitos tóxicos no Cabeço do Pião, isto só para dar um exemplo.
Continuamos, apesar disso, a insistir nos erros do passado e a ignorar esta coisa simples: vivemos num
tempo de emergência.
Como é possível continuarmos a ignorar os alertas? A justificar, com desculpas esfarrapadas ou com
argumentos económicos, intervenções como as que estão em curso no Sado ou no Porto de Leixões? Não
conhecemos já o impacto da artificialização da orla costeira? Não vemos como a nossa costa diminui a passos
largos?
Sr.as e Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo, a preocupação com o clima e com o ambiente não é uma
política setorial. Ela atravessa tudo o que fazemos, diz respeito a cada decisão que tomamos.
Aplausos do BE.
Como é possível continuarmos a ter políticas tão contraditórias? O Ministro do Ambiente propõe medidas de
redução da produção pecuária. Ao mesmo tempo, os Ministros da Agricultura e da Economia iniciam a produção
e exportação de milhares de porcos para a China.
O Ministro do Ambiente vangloria-se de Portugal não ter nenhuma extração ativa de hidrocarbonetos. Ao
mesmo tempo, o Ministro Santos Silva negoceia com Trump, o maior irresponsável do planeta, o aumento da
importação de gás de Fracking.
Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Ministro, há um movimento mundial que exige a ação climática, um grito de alerta
que não reclama apenas mudanças individuais de comportamento, mas uma mudança de sistema, uma
transformação total de paradigma no modo de produção e de consumo; que reclama o fim de uma economia
capitalista velha e destrutiva, baseada nos combustíveis fósseis, no plástico, na obsolescência programada e
no descartável que provoca catástrofes naturais, migrações em massa, refugiados climáticos, agravamento das
desigualdades e um grau inédito de sofrimento à escala mundial.
Perante este grito, não dá mais para o business as usual, não dá mais para o «quem sai no fim que feche a
porta». No entanto, enquanto os jovens fazem greve climática e se rebelam contra esta marcha tranquila rumo
à catástrofe, os governos de todo o mundo terão entregue em 2017 o equivalente a 6,5% do PIB mundial em
dinheiros públicos às petrolíferas e ao carvão. Só a União Europeia terá entregue 289 000 milhões.
Por muito que digam que não há dinheiro, as escolhas são simples: o dinheiro de todos nós está a ser
utilizado para promover o colapso climático.
É contra isto que nós estamos e é também por isto que é preciso declarar a emergência climática.
Aplausos do BE.
Não, não é apenas uma causa bonita. É, de facto, uma medida simbólica, na exata medida em que a
Declaração Universal dos Direitos Humanos é simbólica, ou a Constituição é simbólica, ou a Declaração da
República. As mudanças mais importantes começaram sempre com gestos simbólicos e ao Parlamento
propomos que reconheça, agora, a gravidade da situação para poder agir em consonância.
Vivemos uma emergência climática.