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15 DE JANEIRO DE 2021

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Confiaram-me, Sr. Presidente, esta responsabilidade, que aceitei. Depois da abertura mostrada por todos

os grupos parlamentares para que se avançasse com esta iniciativa, é o momento para mostrarmos o nosso

apreço por Eça de Queiroz e para que esta responsabilidade passe a ser de todos nós.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado João Cotrim de Figueiredo, da Iniciativa Liberal.

O Sr. João Cotrim de Figueiredo (IL): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: José Maria de Eça de Queiroz merece honras de Panteão Nacional e é estultícia minha tentar evocá-lo em apenas 1 minuto, a

menos que recorra às palavras do próprio.

Eça foi um exímio artífice, às vezes alfaiate, outras vezes espadachim, da língua portuguesa, como nesta

frase: «O pessimismo é excelente para os inertes, porque lhes atenua o desgracioso delito da inércia».

Eça possuía uma fina intuição para a natureza humana, a qual formulava sedutoramente, como aqui: «A

curiosidade, instinto de complexidade infinita, leva, por um lado, a escutar às portas e, por outro, a descobrir a

América».

Eça foi analista impiedoso da política portuguesa e, no exemplo seguinte, foi intemporal: «É assim que há

muito tempo, em Portugal, são regidos os destinos políticos. Política de acaso, política de compadrio, política

de expediente. País governado ao acaso, governado por vaidades e por interesses, por especulação e

corrupção, por privilégio e influência de camarilha».

Eça tinha mundo e podia comparar vivências, identificando os fundamentos do nosso persistente atraso:

«Em Portugal, o público tem ideia de que o Governo deve fazer tudo, pensar em tudo, iniciar tudo; tira-se

daqui a conclusão de que somos um povo sem poderes iniciadores, bons para ser tutelados, indignos de uma

larga liberdade, e inaptos para a independência. A nossa pobreza relativa é atribuída a este hábito político e

social de depender para tudo do Governo».

Eça sabia que o humor foi, e será, a arma mais inteligente das pessoas livres contra a tirania, como nesta

frase que é um autêntico míssil: «Os políticos e as fraldas devem ser mudados de tempos a tempos e pela

mesma razão».

José Maria de Eça de Queiroz merece honras de Panteão Nacional e merece, também, voltar a ser lido por

quem manda neste País.

O Sr. Presidente: — Pelo Grupo Parlamentar do CDS-PP, tem a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada Ana Rita Bessa.

A Sr.ª Ana Rita Bessa (CDS-PP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: «Nunca manipulou negócios, nem dirigiu empresas, nem exerceu espécie alguma de autoridade ou de poder sobre os homens do seu tempo.

Não foi general, nem ministro de Estado, nem Deputado às Cortes, e nunca poderes públicos, nem sociedades

sábias ou recreativas lhe votaram a coroa cívica, de herói, de mártir ou de simples e incaracterizado visconde.

Foi meramente um artista na mais extreme e estrita aceção desta palavra». Isto disse de Eça de Queiroz o seu

amigo Ramalho Ortigão, na inauguração de um monumento em sua honra, em 1903.

Como artista, Eça expôs ao País a sua verdade, eternizou a verdade de um realista, através de uma

imensa constelação de personagens, das suas cartas e das suas farpas.

Uma verdade que se mantém atual, assim nela queiramos deter-nos: «Este é o que devia ser, e creio que

realmente é, o ponto de discussão entre nós. Eu digo que Portugal, nesta época, em que não pode fazer

conquistas, nem tem já continentes a descobrir, deve esforçar-se por ganhar um lugar entre as nações

civilizadas pela sua educação, a sua literatura, a sua ciência, a sua arte — provando, assim, que ainda existe

porque ainda pensa. Fomos grandes pelo que outrora fazia as nações grandes, a força. Procuremos tornar-

nos fortes pelo que hoje faz as nações fortes — a ideia.» Isto escrevia Eça, em 1880, a Pinheiro Chagas, «os

fiéis inimigos», como lhes chamou Maria Filomena Mónica.

E aos parlamentares, um dos alvos preferidos das suas incisivas Farpas, também dedicou longas linhas de

mestra ironia. Com o devido poder de encaixe, aqui partilho um excerto com os Srs. Deputados: «Senão

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