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Sexta-feira, 15 de janeiro de 2021 I Série — Número 38
XIV LEGISLATURA 2.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2020-2021)
REUNIÃOPLENÁRIADE14DEJANEIRODE 2021
Presidente: Ex.mo Sr. Eduardo Luís Barreto Ferro Rodrigues
Secretários: Ex.mos Srs. Diogo Feijóo Leão Campos Rodrigues Duarte Rogério Matos Ventura Pacheco
S U M Á R I O
O Presidente declarou aberta a sessão às 15 horas e 10
minutos. Deu-se conta da entrada na Mesa da Proposta de
Resolução n.º 18/XIV/2.ª e da Proposta de Lei n.º 69/XIV/2.ª. Foi apreciado o Projeto de Resolução n.º 800/XIV/2.ª
(PS) — Concessão de honras de Panteão Nacional a José Maria de Eça de Queiroz, tendo proferido intervenções os
Deputados José Luís Carneiro (PS), João Cotrim de Figueiredo (IL), Ana Rita Bessa (CDS-PP), José Luís Ferreira (PEV), Paulo Rios de Oliveira (PSD), Ana Mesquita (PCP), André Silva (PAN) e Alexandra Vieira (BE).
Foram discutidos, conjuntamente, na generalidade, os Projetos de Lei n.os 606/XIV/2.ª (PSD) — Aprova o regime jurídico da desclassificação de contratos ou outros
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documentos que comprometem o Estado ou outras entidades integradas no perímetro orçamental em setores fundamentais e 634/XIV/2.ª (PAN) — Aprova um regime jurídico de transparência dos contratos, acordos e outros documentos relativos a operações que determinem a utilização ou disponibilização de fundos públicos relativamente a entidades pertencentes a setores estratégicos. Usaram da palavra os Deputados Hugo Carneiro (PSD), André Silva (PAN), João Cotrim de Figueiredo (IL), Cecília Meireles (CDS-PP), António Filipe (PCP), Mariana Mortágua (BE) e Fernando Anastácio (PS).
Foram discutidos, conjuntamente, na generalidade, os Projetos de Lei n.os 571/XIV/2.ª (BE) — Alarga a proteção conferida pela prestação social para a inclusão (4.ª alteração ao Decreto-Lei n.º 126-A/2017, de 6 de outubro), 545/XIV/2.ª (PCP) — Melhora as condições de acesso das pessoas com deficiência à prestação social para inclusão, 623/XIV/2.ª
(CDS-PP) — Melhoria das condições para acesso à prestação social para a inclusão e aumento do valor de acumulação da componente base com rendimentos de trabalho (4.ª alteração ao Decreto-lei n.º 126-A/2017, de 6 de outubro) e 629/XIV/2.ª (PAN) — Majoração da componente base da prestação social para a inclusão. Proferiram intervenções os Deputados José Manuel Pureza (BE), Diana Ferreira (PCP), João Pinho de Almeida (CDS-PP), Inês de Sousa Real (PAN), Carla Madureira (PSD), José Luís Ferreira (PEV) e Marta Freitas (PS).
Foi anunciada a entrada na Mesa dos Projetos de Resolução n.os 851 a 856/XIV/2.ª e dos Projetos de Lei n.os 639, 642 e 643/XIV/2.ª.
Deu-se conta dos Deputados que estiveram presentes, por videoconferência, na reunião plenária.
A Presidente (Edite Estrela) encerrou a sessão eram 17 horas e 9 minutos.
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O Sr. Presidente: — Bom dia, Sr.as e Srs. Deputados, Sr.as e Srs. Funcionários, Sr.as e Srs. Jornalistas, Srs. Agentes da autoridade.
Está aberta a sessão.
Eram 15 horas e 10 minutos.
Vamos dar início à nossa reunião plenária, cuja ordem do dia sofreu algumas alterações. Estava previsto
um debate de atualidade, que não se vai realizar hoje por motivo de doença da Sr.ª Ministra do Trabalho,
Solidariedade e Segurança Social.
Antes de darmos início ao primeiro ponto da nossa ordem de trabalhos, peço ao Sr. Secretário Diogo Leão
que anuncie as várias iniciativas legislativas que deram entrada na Mesa.
O Sr. Secretário (Diogo Leão): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, deram entrada na Mesa, e foram admitidas, a Proposta de Resolução n.º 18/XIV/2.ª (GOV), que baixa à 2.ª Comissão, e a Proposta de Lei n.º
69/XIV/2.ª (GOV), que baixa à 6.ª Comissão.
Sr. Presidente, é tudo.
O Sr. Presidente: — Muito obrigado, Sr. Secretário Diogo Leão. Sr.as e Srs. Deputados, vamos entrar no primeiro ponto da ordem do dia, que consiste na apreciação do
Projeto de Resolução n.º 800/XIV/2.ª (PS) — Concessão de honras de Panteão Nacional a José Maria de Eça
de Queiroz.
Para apresentar o projeto, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Carneiro, do Grupo Parlamentar do PS.
O Sr. José Luís Carneiro (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Sr. Dr. Afonso Reis Cabral, escritor e trineto de Eça de Queiroz, em si cumprimento o Conselho de Administração da Fundação Eça de
Queiroz e a sua família.
A Assembleia da República apreciará e decidirá sobre o projeto de resolução que visa conceder honras de
Panteão Nacional a José Maria de Eça de Queiroz.
As honras de Panteão Nacional destinam-se a homenagear e a perpetuar a memória dos cidadãos
portugueses que, entre outros feitos patrióticos, se tenham distinguido, nomeadamente na expansão da cultura
portuguesa, na criação literária e em prol da dignificação da pessoa humana.
Ora, Eça de Queiroz é superiormente singular e um dos maiores vultos da literatura e da cultura nacional.
Na função diplomática, defendeu com superior inteligência e com coragem a dignificação do ser humano.
A decisão deste Parlamento constituirá um agradecimento à sua família, que, em boa hora, decidiu legar o
seu património material e imaterial à Fundação com o seu nome, sediada em Santa Cruz do Douro, no
concelho de Baião. Hoje, é presidida pelo bisneto do escritor, Afonso Eça de Queiroz Cabral.
É justo e oportuno lembrar Manuel de Castro, seu neto, que presidiu à Câmara de Baião, e Maria da Graça
Salema de Castro, promotora, a par da constituição da própria Fundação, de um projeto de desenvolvimento
cujas sementes foram lançadas às terras daquela região no decénio de 60, com a sua amiga Teresa Avillez,
como gostava de lembrar.
Tantos aqui mereciam ser lembrados e reconhecidos pelo trabalho de edificação da Fundação, como Artur
Carvalho Borges, Manuel Pereira Cardoso e tantas e tantos que, ao longo dos anos, ajudaram a nascer um
dos mais importantes esteios do desenvolvimento regional e de afirmação nacional e internacional da língua e
da cultura portuguesa.
É um reconhecimento ao esforço abnegado de muitos que merecem, num breve futuro, o devido
reconhecimento público. É o caso de Carlos Reis, membro do Conselho Cultural, que presidiu à Associação
dos Amigos de Eça de Queiroz, cujo primeiro objetivo estatutário foi o de criar as condições para a instituição
da Fundação; aos membros do Conselho Cultural, aos Grémios, aos Clubes e Círculos Literários e ao Centro
Nacional de Cultura, na pessoa de Guilherme d’Oliveira Martins, que promovem o seu legado cultural e
literário.
É um reconhecimento ao apoio das autarquias de Baião, Amarante, Cinfães, Resende, Porto, Vila Nova de
Gaia, Matosinhos, Póvoa de Varzim, Coimbra, Aveiro, Lisboa, Sintra e Évora.
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É um reconhecimento aos que, tantos, no Ministério da Cultura e noutras áreas, nos diferentes Governos,
desde Teresa Patrício Gouveia, Santana Lopes, Nunes Liberato e Isabel Pires de Lima, compreenderam a
importância deste projeto cultural. Aos Deputados de todos os partidos. Ao Instituto Camões e aos mecenas.
É também uma homenagem ao povo e a uma região que ele tão eloquentemente soube enaltecer na sua
correspondência, quando, em 29 de maio de 1892, escreveu ao seu amigo Eduardo Prado: «Caríssimo Prado,
esta nossa terra é sem dúvida a obra-prima do grande paisagista que está nos céus. Que beleza! Tudo canta.
Cantam, trabalhando cavadores e ceifeiras. Em toda a parte onde estive não vi um palmo de chão onde se
pudesse assentar o pé sem perigo de esmagar uma semente».
Sr.as e Srs. Deputados, estaremos todos de acordo com os fundamentos literários e culturais expressos no
projeto de resolução. Todos reconhecemos em Eça o brilho de um espírito livre, culto, humanista arguto, que,
com uma escrita de palavras límpidas, de conteúdo fino e de superior ironia, mostrou as contradições da vida
em sociedade e fez luz sobre a tensão entre os mundos da paixão e os mundos da razão. Mostrou-nos ao
espelho, enquanto seres humanos. Fortes e frágeis, feitos de luz e de sombra.
Com as suas personagens, entrou na compreensão da natureza humana. Desse entendimento e da sua
partilha a obra literária abriu-se ao mundo, tornou-se universal. Trata-se mesmo de um escritor que é
apreciado em todas as geografias do mundo. Conheci a sua casa em Paris. Lembro-me de ver, no Real
Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro, os seus manuscritos. Recordo-me bem do culto que lhe é
prestado no café La Columnata Egipciana, na cidade de Havana, em cuja Universidade, em 2016, foi criada a
Cátedra Eça de Queiroz.
Pela atualidade, destaco duas dimensões da sua mensagem, presentes na obra literária e na atividade
diplomática.
Primeira dimensão: a mensagem sobre o desenvolvimento, presente no seu conto «Civilização», editado
primeiramente no Brasil e, depois, em Portugal como A Cidade e as Serras. Para quem não leu, vale a pela
ler. Para quem leu, vale a pena reler. O diálogo entre o urbano e cosmopolita Jacinto e o rural Zé Fernandes
permite-nos, também hoje, como outrora, compreender mais profundamente a «fonte do tédio» que, não raras
vezes, toma conta da dita «classe média alta» e que ameaçou abalar os alicerces da crença no progresso
moral e técnico da humanidade. O Jacinto, de A Cidade e as Serras, deixou para trás «as luzes de Paris»,
declinou o determinismo e, chegado à Quinta de Vila Nova, em Santa Cruz do Douro, no romance que se viria
a chamar Quinta de Tormes, perguntou ao Silvério, com profunda consciência social: «O que eu pergunto é se
aqui em Tormes, na minha propriedade, dentro destes campos, que são meus, há gente que trabalhe para
mim, e que tenha fome. Está mandado, Silvério. E também quero saber as rendas que paga essa gente, os
contratos que existem, para os melhorar. Há tanto para melhorar».
Ainda hoje procuramos vencer as desigualdades. Continuamos a querer equilibrar o crescimento com o
desenvolvimento humano sustentável. Ora, é possível encontrar neste romance toda uma tese sobre o modo
como, individual e coletivamente, vivemos numa tensão permanente entre as conquistas da técnica, que nos
traz a sensação do poder sobre a natureza, por um lado, e, por outro, o sentimento do vazio e da impotência
para fazer face às crises como aquela por que estamos a passar à escala mundial.
Mas aprendamos com o idealismo de Jacinto e façamos, com o realismo do Zé Fernandes, as mudanças
que se impõem fazer: primeiro, nas atitudes e nos comportamentos; depois, nas obras que servem as pessoas
com valores humanistas.
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, peço-lhe para sintetizar a sua intervenção.
O Sr. José Luís Carneiro (PS): — Vou concluir, Sr. Presidente. Segunda dimensão: a sua mensagem sobre o humanismo. Eça de Queiroz partiu para Havana, por missão
que lhe foi dada pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros Andrade Corvo. Aí protegeu as minorias que, vindas
da China e com escala em Macau, eram objeto de exploração na produção da cana-de-açúcar.
Ora, essa proteção às minorias interpela-nos hoje, uma vez que estamos com a presidência da União
Europeia e se pretende atualizar a Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia.
Lembrar essa mensagem humanista é lembrar que a igual dignidade de todo o ser humano deve ser
sempre defendida.
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Confiaram-me, Sr. Presidente, esta responsabilidade, que aceitei. Depois da abertura mostrada por todos
os grupos parlamentares para que se avançasse com esta iniciativa, é o momento para mostrarmos o nosso
apreço por Eça de Queiroz e para que esta responsabilidade passe a ser de todos nós.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado João Cotrim de Figueiredo, da Iniciativa Liberal.
O Sr. João Cotrim de Figueiredo (IL): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: José Maria de Eça de Queiroz merece honras de Panteão Nacional e é estultícia minha tentar evocá-lo em apenas 1 minuto, a
menos que recorra às palavras do próprio.
Eça foi um exímio artífice, às vezes alfaiate, outras vezes espadachim, da língua portuguesa, como nesta
frase: «O pessimismo é excelente para os inertes, porque lhes atenua o desgracioso delito da inércia».
Eça possuía uma fina intuição para a natureza humana, a qual formulava sedutoramente, como aqui: «A
curiosidade, instinto de complexidade infinita, leva, por um lado, a escutar às portas e, por outro, a descobrir a
América».
Eça foi analista impiedoso da política portuguesa e, no exemplo seguinte, foi intemporal: «É assim que há
muito tempo, em Portugal, são regidos os destinos políticos. Política de acaso, política de compadrio, política
de expediente. País governado ao acaso, governado por vaidades e por interesses, por especulação e
corrupção, por privilégio e influência de camarilha».
Eça tinha mundo e podia comparar vivências, identificando os fundamentos do nosso persistente atraso:
«Em Portugal, o público tem ideia de que o Governo deve fazer tudo, pensar em tudo, iniciar tudo; tira-se
daqui a conclusão de que somos um povo sem poderes iniciadores, bons para ser tutelados, indignos de uma
larga liberdade, e inaptos para a independência. A nossa pobreza relativa é atribuída a este hábito político e
social de depender para tudo do Governo».
Eça sabia que o humor foi, e será, a arma mais inteligente das pessoas livres contra a tirania, como nesta
frase que é um autêntico míssil: «Os políticos e as fraldas devem ser mudados de tempos a tempos e pela
mesma razão».
José Maria de Eça de Queiroz merece honras de Panteão Nacional e merece, também, voltar a ser lido por
quem manda neste País.
O Sr. Presidente: — Pelo Grupo Parlamentar do CDS-PP, tem a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada Ana Rita Bessa.
A Sr.ª Ana Rita Bessa (CDS-PP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: «Nunca manipulou negócios, nem dirigiu empresas, nem exerceu espécie alguma de autoridade ou de poder sobre os homens do seu tempo.
Não foi general, nem ministro de Estado, nem Deputado às Cortes, e nunca poderes públicos, nem sociedades
sábias ou recreativas lhe votaram a coroa cívica, de herói, de mártir ou de simples e incaracterizado visconde.
Foi meramente um artista na mais extreme e estrita aceção desta palavra». Isto disse de Eça de Queiroz o seu
amigo Ramalho Ortigão, na inauguração de um monumento em sua honra, em 1903.
Como artista, Eça expôs ao País a sua verdade, eternizou a verdade de um realista, através de uma
imensa constelação de personagens, das suas cartas e das suas farpas.
Uma verdade que se mantém atual, assim nela queiramos deter-nos: «Este é o que devia ser, e creio que
realmente é, o ponto de discussão entre nós. Eu digo que Portugal, nesta época, em que não pode fazer
conquistas, nem tem já continentes a descobrir, deve esforçar-se por ganhar um lugar entre as nações
civilizadas pela sua educação, a sua literatura, a sua ciência, a sua arte — provando, assim, que ainda existe
porque ainda pensa. Fomos grandes pelo que outrora fazia as nações grandes, a força. Procuremos tornar-
nos fortes pelo que hoje faz as nações fortes — a ideia.» Isto escrevia Eça, em 1880, a Pinheiro Chagas, «os
fiéis inimigos», como lhes chamou Maria Filomena Mónica.
E aos parlamentares, um dos alvos preferidos das suas incisivas Farpas, também dedicou longas linhas de
mestra ironia. Com o devido poder de encaixe, aqui partilho um excerto com os Srs. Deputados: «Senão
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vejam: todos os dias aqueles ilustres Deputados se dizem uns aos outros: É falso! É mentira! É falsíssimo! E
não se esbofeteiam, nem se trocam duas balas. Piedosa inocência! Cordura evangélica! Parece um
Parlamento educado por S. Francisco de Sales. (…) Porque é uma escola de humildade o Parlamento. Nunca
em parte alguma como ali o insulto foi recebido com tão curvada paciência, o desmentido acolhido com tão
sentida resignação. É um curso de caridade cristã!».
O Presidente da Fundação Eça de Queiroz, Afonso Eça de Queiroz Cabral — que cumprimento através do
seu filho Afonso Reis Cabral, aqui presente nas galerias —, dizia recentemente serem por demais evidentes
as qualidades literárias que justificam, sem reservas e passados 120 anos da sua morte, a atribuição das
honras de Panteão Nacional à memória material e imaterial do escritor.
No dia em que soube da sua morte, em 20 de agosto de 1900, Ramalho Ortigão escrevia ao seu genro: «A
morte do Eça de Queiroz é uma desgraça enorme. Ele era um inteiramente grande artista, não somente em
relação a Portugal, mas em relação ao mundo».
No Panteão Nacional terá, pois, esse lugar digno, projetado no País e no mundo e a sua memória
eternizada em toda a nossa memória coletiva.
Aplausos de Deputados do PSD.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira, de Os Verdes.
O Sr. José Luís Ferreira (PEV): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O Partido Socialista traz hoje a debate uma proposta para que esta Assembleia conceda honras de Panteão Nacional a José Maria de Eça de
Queiroz.
Como sabemos, o quadro jurídico que define e regula as honras de Panteão Nacional, a Lei n.º 28/2000,
estabelece, de forma muito clara, que essa honras se destinam, e cito, «a homenagear e a perpetuar a
memória dos cidadãos portugueses que se distinguiram por serviços prestados ao País, no exercício de altos
cargos públicos, altos serviços militares, na expansão da cultura portuguesa, na criação literária, científica e
artística ou na defesa dos valores da civilização, em prol da dignificação da pessoa humana e da causa da
liberdade».
Ora, atento o quadro jurídico que define e regula as honras de Panteão Nacional, na perspetiva de Os
Verdes, ao falarmos de Eça de Queiroz falamos de uma pessoa que se enquadra exatamente nos
pressupostos aí definidos, e não é apenas pela sua enorme dimensão de romancista, de escritor.
De facto, Eça de Queiroz, um dos maiores romancistas da história da literatura portuguesa e que olhava
para a arte como um poderoso e transformador instrumento das sociedades, era senhor de uma consciência
humanista invulgar, sobretudo na época, uma consciência social que o levou, inclusivamente, a insurgir-se
contra a escravatura a que naquela altura estavam sujeitos os trabalhadores do engenho do açúcar, em Cuba.
Para além de várias participações em periódicos, sejam portugueses, sejam brasileiros, Eça de Queiroz
deixou-nos, enquanto romancista, obras eternas, como Os Maias, O Crime do Padre Amaro ou O Primo
Basílio. Essas obras foram objeto de inúmeras edições e traduções, adaptações cinematográficas nacionais e
estrangeiras e, inclusivamente, passaram a fazer parte integrante dos programas escolares, o que nos dá uma
ideia da grandeza e da dimensão cultural da sua obra.
Tanto assim é que ninguém contesta o facto de se dizer que Eça de Queiroz marcou indiscutivelmente a
língua portuguesa como poucos o fizeram e contribuiu para a expansão da cultura portuguesa de forma
absolutamente singular.
Perante estes factos, Os Verdes acompanham integralmente os propósitos do Partido Socialista na
proposta que hoje traz a debate e que pretende que esta Assembleia conceda honras de Panteão Nacional a
José Maria de Eça de Queiroz.
O Sr. Presidente: — Pelo Grupo Parlamentar do PSD, tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Paulo Rios.
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O Sr. Paulo Rios de Oliveira (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Começo por cumprimentar o Conselho de Administração da Fundação Eça de Queiroz e os familiares de José Maria de Eça de Queiroz,
aqui presentes.
Ao contrário de outras distinções ou homenagens, a concessão das honras de Panteão é da competência
exclusiva da Assembleia da República e tal ato será sempre fundamentado, revestindo a forma de resolução
da Assembleia da República, conforme hoje fazemos.
Para nós, este não é, nem pode ser, um ato qualquer, nem sequer comum. Se considerarmos que tais
honras se destinam a homenagear e a perpetuar a memória dos cidadãos portugueses que prestaram altos
serviços ao País, e escuso-me de repetir, perceberemos que a singularidade e a relevância desta concessão
estão reservadas a poucos, a muito poucos.
Várias têm sido as iniciativas ou os votos que aspiram a homenagear ou conceder honras várias e que
suscitam, neste Parlamento, reservas ou receio de banalização ou vulgarização do que deve ser raro e
valorizado. Mas, felizmente, não é este o caso, não é o caso de José Maria de Eça de Queirós.
Dos nossos, foi um dos maiores e a sua obra, a sua memória e a frescura e atualidade do seu legado
continuam bem vivas na nossa memória coletiva. Apetece dizer que Eça de Queiroz não foi, Eça de Queiroz é!
Continua a ser único, reconhecido e muito atual.
Embora falecido há 120 anos, manteve até hoje o reconhecimento unânime de ser um dos maiores
romancistas da história da literatura portuguesa. E o tempo passou e Eça continuou a ser Eça, sem que
ninguém lhe faça sombra ou provoque o esquecimento.
A sua forte ligação de nascença à Póvoa de Varzim não pode ser esquecida, pois esse sentimento de
pertença era assumido com orgulho pelo próprio, nomeadamente pela evidência da célebre expressão contida
numa das suas correspondências trocadas com Pinheiro Chagas: «Eu sou apenas e só um pobre homem da
Póvoa de Varzim». Foi, aliás, com origem na Assembleia Municipal da Póvoa de Varzim que foi recentemente
aprovada, por unanimidade, uma notável moção de apoio a esta iniciativa.
Não ignoremos também que Eça de Queiroz está ainda hoje sepultado num jazigo de família em Santa
Cruz do Douro, concelho de Baião, local da sede da Fundação Eça de Queiroz, na Casa de Tormes, e que,
legitimamente, Baião reclama Eça de Queiroz como parte da sua própria história e património imaterial.
Aos baionenses teremos de pedir desculpa por este atrevimento e compreendemos a relutância, mas
ajudem-nos a reconhecer e a perpetuar a dimensão nacional e até internacional desta figura ímpar da nossa
História.
Muito já foi dito sobre o homem e a obra que hoje provoca este debate, mas permitam-se somente realçar
que Eça de Queiroz não foi só — e não era pouco — um romancista único. Foi um humanista consequente em
Cuba e um mordaz e irónico observador dos portugueses, em especial dos poderosos, dos dirigentes e dos
políticos. Por vezes, sinto que me cruzo com algumas das suas personagens, se bem que com diferentes
nomes e roupagens, nesta mesma Assembleia. Além disso, tem um percurso profissional que o levou a
diferentes países, realidades e personagens, o que lhe confere uma mundividência singular. Talvez por tudo
isto não espante que seja um autor tão lido e tão traduzido.
Posto isto, naturalmente, o PSD acompanha e subscreve esta proposta, que, cremos, a todos une, seja na
concessão de honras de Panteão Nacional aos restos mortais de José Maria de Eça de Queiroz, em
reconhecimento e homenagem pela sua obra literária ímpar e determinante na história da literatura
portuguesa, seja na constituição do grupo de trabalho nos termos formulados neste projeto do Partido
Socialista, que saudamos.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra, pelo Grupo Parlamentar do PCP, a Sr.ª Deputada Ana Mesquita.
A Sr.ª Ana Mesquita (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O PCP saúda a propositura de honras de Panteão Nacional no ano em que se assinalam os 175 anos do nascimento e os 120 anos da morte
de um dos grandes escritores da língua e da literatura portuguesas, José Maria de Eça de Queiroz.
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Poveiro de nascimento, Eça de Queiroz está sepultado no jazigo da família, em Santa Cruz do Douro, no
concelho de Baião. E, com o intuito de lançar o repto, a Fundação Eça de Queiroz, que saudamos, propôs-se,
então, este ano, ajudar a promover todas as condições necessárias a que fossem atribuídas as honras de
Panteão Nacional a este escritor.
Assim, podemos dizer que a trasladação é apoiada pela Fundação, que a considera justa e defende tratar-
se da melhor maneira de perpetuar a memória do escritor, que é um dos escritores portugueses mais lidos.
Aliás, o próprio Presidente da Fundação referiu o seguinte: «Numa época em que os índices de leitura, em
particular entre os estudantes, baixam assustadoramente, tenho a esperança, talvez ingénua, de que um
acontecimento como este alerte para a maravilhosa descoberta da leitura». Também o PCP assim o espera,
porque é urgente descobrir e redescobrir a literatura e os escritores portugueses e incentivar à leitura. Esta é,
também, uma ocasião para celebrar este aspeto e assinalar esta urgência. Nós assim o acompanhamos.
Eça participou num movimento transformador da vida literária e intelectual, tendo sido um verdadeiro
ativista neste campo, como noutros campos da vida, nomeadamente nos tempos da Geração de 70, de que
tantas vezes aqui falamos, que agitou Coimbra e o restante País e que gerou polémica com a chamada
«Questão Coimbrã». Nós gostamos de assinalar esta situação porque teve tantas ramificações que ainda hoje
têm impacto na nossa vida cultural. Assinalamos também que, sob o impacto revolucionário da Comuna de
Paris, o alargado grupo do Cenáculo veio a programar as célebres Conferências Democráticas, que foram
realizadas no Casino Lisbonense, e alguns jovens desta geração acabaram mesmo por aderir à Internacional.
Foi o caso não só de Eça, mas também de Antero e de Batalha. Foram tempos muito agitados e muito vivos
que nós aqui relembramos.
Infelizmente, o Governo de Marquês de Ávila acabaria por publicar uma portaria que proibiria as
Conferências e encerraria o Casino, apesar de um protesto dos conferencistas, que também foi subscrito por
Eça de Queiroz, não tendo, nessa altura, deixado de intervir.
Eça era, efetivamente, dono de uma capacidade de fina ironia e de análise crítica da realidade. Evidenciou-
o em múltiplas ocasiões, não só nas personagens, nos cenários e nos contextos que criou, mas também
noutros escritos, como, por exemplo, nas Farpas.
Há um excerto muito giro e muito interessante que gostaríamos de citar e que tem a ver com todas estas
agitações. A certa altura, Eça escreve: «Então indaguei sobre o que realmente o Governo me fazia honra de
supor: chefe republicano, orador de clubes, organizador de greves, agente da Internacional, delegado de Karl
Marx, representante das associações operárias, cúmplice nos incêndios de Paris, ex-assassino do Monsenhor
Darboy, redator secreto das proclamações, receleur de Pretole, enfim, amigo forçado. Nunca como até agora
fui honrosamente acumulado de dignidades. Transbordo de ocupações, sucumbo de importância e, enfim, eu
era sempre seguido por um polícia».
A excelência da obra de Eça de Queiroz foi reconhecida por tantos e merece destaque, entre outros, um
comentário, que achamos muito curioso, de Camilo Castelo Branco, na terceira versão de O Crime do Padre
Amaro, a segunda edição em livro. Diz, então, Camilo Castelo Branco: «É uma obra-prima que há de resistir
como um bronze a todas as evoluções destruidoras da escola e da moda». Acreditamos que assim o seja e,
por isso, reconhecemos a oportunidade deste projeto no sentido de conceder as honras de Panteão Nacional
a José Maria de Eça de Queiroz.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado André Silva, do PAN.
O Sr. André Silva (PAN): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Cumprimento os familiares e membros do Conselho de Administração da Fundação Eça de Queiroz.
Existem inúmeras figuras históricas de merecido renome e reconhecimento, mas são poucas as que
recebem aclamação unânime. Eça de Queiroz é uma delas.
A sua visão, clara e profunda, sobre as mais variadas situações do desenrolar quotidiano da vida permitiu-
lhe trazer, através do seu brilhantismo literário, para as páginas dos seus livros, uma caracterização do ser
humano e da sociedade que é atemporal.
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Dos seus contemporâneos aos admiradores nascidos no século XX e já neste século, Eça tem tocado e
influenciado todas as gerações, demonstrando que as questões que aborda são intemporais e inerentes à
condição que acompanha cada um de nós — sermos humanos.
Eça de Queiroz foi, sem dúvida, um visionário. Conseguiu antever algumas das grandes problemáticas e
modificações da sociedade que iriam influenciar os séculos vindouros. Vejamos o exemplo do romance A
Cidade e as Serras e do conto Civilização. Nestes, Eça narra a vida de um homem, Jacinto, materialista e
consumista, rodeado das mais sofisticadas e recentes inovações tecnológicas e culturais e com acesso total à
cultura. Um modelo do homem civilizado, mas também um paradigma da infelicidade, desanimado e
entediado, apesar do excesso em que vivia. Um homem desenraizado do solo e da cultura, que, ao buscar a
felicidade, empreende uma viagem, simultaneamente exterior e interior, de autoconhecimento. Na serra, no
Douro, junto da natureza, longe da comodidade e dos aparelhos científicos, encontra, então, a felicidade que a
civilização não lhe dava.
Foram muitos os seus contemporâneos que aprenderam a ler pelos seus livros, bem como as gerações
que se seguiram. Com Eça, aprendemos também a sentir e a pensar.
De escrita simples, fina, erudita e incisiva, com uma visão irónica dos políticos e das classes dirigentes,
capaz da observação íntima das paixões e contradições humanas, o legado de Eça de Queiroz não acabou
com a sua morte, é imenso o acervo da crítica da sua obra, são inúmeras as edições e traduções, as
adaptações ao cinema nacional e estrangeiro, ou a inclusão nos programas do ensino secundário.
Eça deixou-nos uma obra universal e de leitura ininterrupta. Escritor maior, marcou a língua portuguesa,
contribuiu para a expansão da cultura portuguesa sob o signo de um forte caráter humanista. No ano em que
se assinalam os 175 anos do seu nascimento e os 120 anos da sua morte, é amplamente justa e consensual a
propositura da concessão de honras de Panteão Nacional.
Aplausos de Deputados do PS e do PSD.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Alexandra Vieira, do Bloco de Esquerda.
A Sr.ª Alexandra Vieira (BE): — Sr. Presidente, começo por cumprimentar os familiares de Eça de Queiroz, a Fundação Eça de Queiroz e também o PS pela iniciativa de conceder honras de Panteão Nacional
ao escritor Eça de Queiroz.
O escritor José Maria de Eça de Queiroz, vulto maior da literatura portuguesa e com projeção internacional
na sua época, foi também jornalista e cônsul, assim como um pensador inconformado e incansável.
É um exemplo do que, nos dias de hoje, poderemos designar por ativista, na senda incansável e de pendor
pedagógico de levar os seus leitores a pensar, usando a sua pena como arma, ou como farpa implacável,
como ele diria, certeira aos usos e costumes, mas também à elite burguesa, onde eram recrutados os
dirigentes políticos e os Deputados da Câmara, numa época em que se viva em Portugal o período da
Regeneração e o rotativismo partidário.
Jovem e recém-licenciado em Direito, em Coimbra, onde integrou a Geração de 70, com Antero de Quental
e Ramalho Ortigão, através da qual é introduzido o realismo, vem viver para Lisboa, onde, como o próprio diz,
traz Proudhon debaixo do braço.
É nessa altura que escreve, com Ramalho Ortigão, As Farpas, durante os anos de 1870 e 1871, que
constituem um registo da sociedade portuguesa, nos anos posteriores, irónico, caricatural, crítico e
pedagógico.
No final do século XX, em Portugal, o neoliberalismo fazia os seus primeiros avanços. Nessa altura, novos
cronistas, podemos dizer que na senda de Eça, faziam a mesma crítica feroz aos hábitos e costumes, desta
vez travestidos de novo-riquismo, preponderante politicamente, insuflado pelos dinheiros a fundo perdido que
vinha de uma Europa para a qual Portugal tinha acabado de entrar.
Enquanto isso, uma jovem professora de História, lia e discutia com os seus alunos passagens da crónica
dedicada à Câmara. Ilustra as fragilidades do rotativismo partidário e permite, ao mesmo tempo, o exercício de
empatia histórica e de, a partir do passado, aprender a ler o presente.
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Passadas muitas décadas, eis que há tentativas de desacreditar a democracia. Que «Farpas» escreveria
Eça, ao assistir a certas intervenções inflamadas nesta mesma Câmara? Embora a pena e a voz de muitos
denunciem o fenómeno populista tentacular dos dias de hoje, faz-nos falta a ironia de Eça para denunciar as
tolices, como dizia, e mostrá-las ao povo.
Seria, hoje, este Eça um homem de esquerda? Bom, ele visava a transformação de um Portugal pobre,
analfabeto, rural, piedoso, conservador, dominado por uma pequena elite burguesa, impreparada
politicamente, intriguista e ciente dos seus interesses.
Eça de Queiroz é, até aos dias de hoje, um autor incontornável. Através da sua obra, gerações de jovens
aprendem, ainda hoje, o gosto pela literatura e, sobretudo, são desafiados a pensar criticamente e a
questionar.
Da importância da leitura como janela para o mundo, como chave para a sua compreensão, já todos
sabemos e esse é o verdadeiro trabalho de educação para a cidadania e para a democracia e em
interdisciplinaridade que tem de ser feito nas escolas.
Termino, dizendo que acompanhamos a iniciativa do PS, que dá continuidade ao desejo da Fundação,
dando-lhe honras de Panteão Nacional, com palavras de Eça: «O Realismo é a negação da arte pela arte, é a
proscrição do convencional, do enfático e do piegas. É a abolição da retórica considerada como arte de
promover a comoção usando da inchação do período, da epilepsia da palavra, da congestão dos tropos. É a
análise com o fito na verdade absoluta (…).
O Realismo é (…) a anatomia do carácter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios
olhos – para nos conhecermos, para que saibamos se somos verdadeiros ou falsos, para condenar o que
houver de mau na nossa sociedade».
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — O Sr. Deputado José Luís Carneiro deveria ter apenas 4 segundos, visto que ultrapassou largamente o seu tempo, mas, vá lá, vou dar-lhe mais 10 segundos, perfazendo 14 segundos,
para encerrar este debate.
Faça favor, Sr. Deputado.
O Sr. José Luís Carneiro (PS): — Sr. Presidente, Eça de Queiroz, ouvindo-nos, vendo-nos e observando-nos, certamente não deixará de ter em consideração este gesto de grandeza do Sr. Presidente da Assembleia
da República.
Risos do PS e do PSD.
Queria, Sr. Presidente, agradecer-lhe a abertura para que este processo se pudesse encetar no diálogo
com todos os grupos parlamentares.
A Assembleia da República deu hoje um grande exemplo de maturidade democrática e de serviço ao País.
E, com a atitude que hoje aqui foi tomada por todos os grupos parlamentares, estamos a homenagear não
apenas um dos maiores vultos da literatura e da cultura do nosso País mas também o povo e uma região onde
o Eça se inspirou para escrever os seus romances.
Eça de Queiroz, que teve contacto com todo o País, não deixou de transpor para a sua criação literária a
sua visão, a sua interpretação do desenvolvimento.
Como alguém que aceitou esta responsabilidade por determinação da Fundação Eça de Queiroz e vivendo
o sentimento profundo do significado desta homenagem, por ter podido conviver com aquela que foi a obreira
da Fundação Eça de Queiroz, Maria da Graça Salema de Castro, com quem pude dialogar durante horas, dias
e noites, durante a minha vida de autarca, queria agradecer às Sr.as Deputadas e aos Srs. Deputados e, muito
particularmente, ao Sr. Presidente da Assembleia da República esta convergência política no reconhecimento
e no modo como estamos a fazer justiça.
Ao seu trineto, escritor, que hoje também já está além-fronteiras a representar no plano cultural e literário o
nosso País, as maiores felicidades e o agradecimento, o justo agradecimento, à família.
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Aplausos do PS e do PSD.
O Sr. Presidente: — Queria também agradecer à Fundação Eça de Queiroz, à família e, designadamente, ao trineto, aqui presente, aliás, romancista de largo presente e de enorme futuro, o apoio que foi dado para
que esta sessão se pudesse realizar.
Concluída que está, assim, a apreciação do Projeto de Resolução n.º 800/XIV/2.ª (PS), vamos passar à
discussão conjunta, na generalidade, dos Projetos de Lei n.os 606/XIV/2.ª (PSD) — Aprova o regime jurídico da
desclassificação de contratos ou outros documentos que comprometem o Estado ou outras entidades
integradas no perímetro orçamental em setores fundamentais e 634/XIV/2.ª (PAN) — Aprova um regime
jurídico de transparência dos contratos, acordos e outros documentos relativos a operações que determinem a
utilização ou disponibilização de fundos públicos relativamente a entidades pertencentes a setores
estratégicos.
Para apresentar o projeto de lei do PSD, tem a palavra o Sr. Deputado Hugo Carneiro.
O Sr. Hugo Carneiro (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Este diploma que agora apresentamos é o diploma da defesa dos contribuintes.
Os portugueses têm assistido, ao longo de muitos anos, à utilização de recursos públicos para solver
responsabilidades de outras entidades, em prejuízo, desde logo, de melhores serviços públicos. E tantas
vezes a informação que legitimamente deveria ser facultada aos portugueses nunca o foi.
Nesta matéria, os casos mais recentes de uso de dinheiro público, a título de socorro, têm colocado o
destaque no setor da banca. Só no Novo Banco, por exemplo, desde a sua resolução, já lá vão mais de 6,5 mil
milhões de euros de dinheiro do Estado. Talvez um dia sejam devolvidos, lá para 2040. Outros bancos tiveram
apoios públicos no passado e reembolsaram-nos, seja feita essa justiça.
Além do setor da banca, poderíamos falar do setor dos transportes, com a TAP (Transportes Aéreos
Portugueses) a perfilar-se como o mais recente caso da necessidade de injeção de dinheiro público. Para a
TAP fala-se em apoios de, pelo menos, 1,7 mil milhões de euros, em apenas dois anos. E quanto mais será
preciso?
A estes setores, juntam-se os da energia, da água ou das comunicações.
As entidades ligadas a setores estratégicos, quando se encontram em momento de aflição, socorrem-se
sempre do Estado. E, regra geral, a prestação de contas ou informação aos cidadãos peca sempre por ser
escassa ou inexistente.
Os contribuintes não conhecem os contratos assinados, ou se a expectativa de recuperar esses fundos,
sempre prometida pelos responsáveis públicos, é mesmo realista ou será apenas uma promessa
circunstancial para um momento televisivo.
Aos contribuintes tudo é exigido, mas muito pouco lhes é dado em termos de prestação de contas ou sobre
a racionalidade dos compromissos que o Estado assume em nome deles.
O PSD apresenta, assim, este projeto de lei, para a aprovação de um regime legal que permita que quase
tudo possa ser conhecido pelos contribuintes, quando se usam dinheiros públicos em setores fundamentais.
O propósito é salvaguardar o direito preponderante dos contribuintes à informação.
Não aceitamos que possam existir armários de segredos menores, como o segredo bancário ou o segredo
comercial, se foi utilizado dinheiro público — normalmente, na medida dos milhares de milhões de euros, como
tem acontecido.
Não é admissível tornar-se evidente a existência de grandes devedores a estas empresas, por exemplo,
bancos, que continuam com vidas folgadas, e os contribuintes são chamados a pagar sempre, sem terem
direito a conhecer os meandros das operações, da desvalorização dos ativos, das negociações feitas.
Sem devassa da vida privada, os contribuintes têm direito a conhecer as operações de valores relevantes
que implicaram dinheiro público, acima de 1 milhão de euros — é o que propomos.
A nossa proposta é respeitadora do segredo de Estado e do segredo de justiça, que, na ponderação dos
interesses, devem prevalecer, em defesa do próprio Estado, da segurança e das nossas relações externas.
Propomos, deste modo, que este Parlamento possa desclassificar esta informação com base na aprovação
de uma resolução da Assembleia da República.
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O Parlamento é o órgão de soberania eleito pelo povo e, no quadro constitucional, deve poder ser chamado
a abrir as portas da opacidade nestes setores, quando em causa esteja o uso de dinheiro público.
Este regime não se confunde com aquele aprovado pela Lei n.º 15/2019, de 12 de fevereiro, nem tem
respaldo na lei de acesso à informação administrativa. É um regime próprio, inovador, que vai para lá
daqueles, e que mantém o trilho, o propósito, o desiderato do reforço da transparência na gestão do Estado.
O PSD não poderia deixar de o apresentar e folgamos em ver que também um outro partido decidiu
associar-se a este movimento, replicando o projeto do PSD.
Neste diploma, impomos também que todos estes documentos tenham uma versão traduzida para
português.
Aprovada a Resolução pelo Parlamento, e salvaguardando-se os elementos mínimos da proteção de
dados, quem ousar bloquear esse acesso poderá ser punido pelo crime de desobediência qualificada.
O PSD está, naturalmente, disposto a ouvir todas as entidades relevantes, para, com os partidos,
prosseguir no aperfeiçoamento da nossa proposta.
Um voto contra este projeto é um voto contra a transparência do uso dos dinheiros públicos e o direito
preponderante à informação dos contribuintes.
Naturalmente, votaremos a favor.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado André Silva, do PAN.
O Sr. André Silva (PAN): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Entre 2008 e 2019, as intervenções no setor bancário custaram ao País quase 21 000 milhões de euros.
Apesar de estes muitos milhões significarem um custo total de 1909 € a cada contribuinte, formalismos e
bloqueios de natureza legal, ligados à proteção de dados ou sigilo bancário, impediram o acesso dos cidadãos
aos contratos e acordos que enquadraram a utilização dos dinheiros públicos para salvar a banca ou a
documentos que lhe estão associados, como é o caso de auditorias ou listas de grandes devedores.
Em alguns casos, nomeadamente no âmbito do Novo Banco, deu-se, inclusivamente, o absurdo de este
Parlamento ver ser-lhe vedado o acesso sem restrições a informação relevante quanto a estas intervenções,
informação essa que acabou exposta em meios de comunicação social ou até em blogs.
Com a TAP verificamos exatamente o mesmo problema: uma intervenção que nos vai custar, nos próximos
anos, pelo menos 3,7 mil milhões de euros, ou seja, 300 € a cada contribuinte. Contudo, tal como na banca, os
contribuintes não têm acesso ao plano de reestruturação da TAP.
Estas operações têm impacto no défice, no equilíbrio das contas e nas opções orçamentais dos sucessivos
Governos. Para salvar bancos, ou salvar a TAP, tivemos de abdicar de investir na educação, na saúde e
noutras áreas e o resultado está à vista de todos: escolas a precisar de obras, sem conforto térmico, e o SNS
(Serviço Nacional de Saúde) a rebentar pelas costuras.
O secretismo não é compatível com o interesse público. Quem paga tem direito a conhecer a fatura do que
paga.
O Parlamento tem de se dar ao respeito: não é aceitável que se negue o acesso dos cidadãos a certos
documentos, que, depois, vêm estampados sem restrições na comunicação social.
A opacidade não pode continuar a ser o caminho e, por isso mesmo, o PAN traz hoje a debate uma
proposta de um regime jurídico de transparência para estes documentos.
Não se trata de alterar as regras de sigilo ou segredo previstas, trata-se, sim, de criar um regime especial
que permita que, em casos muito concretos e delimitados, a Assembleia da República possa deliberar, quando
assim entender e com uma fundamentação adequada, levantar o sigilo ou o segredo que é imposto sobre
certos documentos, de forma a que os cidadãos contribuintes os possam conhecer.
Esta proposta abrange toda a documentação sujeita a sigilo ou segredo, seja ela referente a contratos ou
acordos que estabelecem a utilização de dinheiros públicos, seja ela referente a documentos que lhe estão
associados, como sejam, por exemplo, auditorias. Mas também abrange a divulgação de listas de grandes
devedores à banca que tenham sido responsáveis por perdas superiores a 1 milhão de euros.
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Não queremos que este regime se aplique só aos contratos celebrados no futuro, mas a todos os contratos
relevantes desde 2007, para que nenhuma informação, considerada secreta até aqui, fique de fora e para que
nada fique por conhecer.
Finalmente, deixo uma última nota para dizer que a divulgação pública destes documentos, para o PAN,
tem sido sinónimo de acessibilidade máxima e, por isso, apresentamos três propostas muito simples que o
asseguram.
Em primeiro lugar, propomos que todos os documentos tenham de ser divulgados em português, cabendo
os eventuais respetivos custos de tradução à entidade visada ou ao Governo.
Em segundo lugar, queremos que a divulgação seja feita da forma mais fácil e abrangente possível, através
do sítio da internet da Assembleia da República.
Em terceiro e último lugar, entendemos que, sendo essencial assegurar a divulgação em bruto, o direito à
informação só é plenamente assegurado se essa mesma informação for também divulgada por via de um
sumário-resumo dos documentos e da identificação dos valores de dinheiros públicos associados a essa
intervenção.
O acesso à informação pelos cidadãos é uma preocupação transversal a todas as forças políticas. Este
regime dá resposta a essas preocupações, pelo que contamos com a sua aprovação, na generalidade, e
estamos totalmente disponíveis para discutir melhorias em sede de especialidade.
Entretanto, assumiu a presidência a Vice-Presidente Edite Estrela.
A Sr.ª Presidente: — Boa tarde, Sr.as e Srs. Deputados. O Sr. Presidente pediu-me para transmitir às Sr.as e aos Srs. Deputados a seguinte mensagem: tendo em
conta o que foi decidido hoje em Conferência de Líderes, e mesmo antes de ser conhecida a Súmula ou de a
ata ficar disponível, pede-se aos líderes parlamentares que informem os seus Deputados das regras a
observar, para que entrem em vigor já amanhã e de modo a que haja menos Deputados no Plenário.
Vamos, agora, prosseguir com o debate.
Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João Cotrim de Figueiredo, do Iniciativa Liberal.
O Sr. João Cotrim de Figueiredo (IL): — Sr.ª Presidente e Srs. Deputados: Este minuto liberal vai recorrer à metáfora do carro usado.
Ninguém aceita comprar um carro usado sem o ver, sem saber o preço, sem saber se anda, sem confirmar
que serve para a família ou para o negócio. Não basta o vendedor jurar a pés juntos que o carro é bom e
barato, pois ninguém vai nessa conversa. Ninguém, claro está, a não ser alguém que se assemelhe àquilo que
o Estado acha que é o típico contribuinte português, porque o típico contribuinte português sabe que está a
pagar, vê o dinheiro dos impostos a voar do seu bolso para os cofres do Estado, mas não sabe o que está a
pagar, não sabe o porquê de estar a pagar, não sabe se havia alternativas melhores ou mais baratas. Pedem-
lhe para confiar que o carro é ótimo e nem o deixam dar uns pontapézitos nos pneus para verificar.
Demasiados contratos do Estado são secretos ou opacos, especialmente os dos setores referidos nos
projetos de lei em discussão, como o setor financeiro, o dos transportes ou o da energia.
Por isso, a possibilidade de a Assembleia da República poder desclassificar estes contratos traz óbvias
vantagens. A transparência incentiva o Estado a utilizar cada cêntimo com mais critério e garante ao
contribuinte, cujo dinheiro está a ser gasto, uma possibilidade de escrutínio, pelo próprio ou pelos seus
legítimos representantes, dos atos e omissões dos decisores políticos.
Por outras palavras, as pessoas vão poder responsabilizar aqueles que, por incompetência ou compadrio,
desperdiçam o seu dinheiro. Deve ser por isso que alguns se incomodam com esta iniciativa.
As pessoas têm de poder saber as condições em que estão a comprar os carros. Quem diz carros, diz
aviões.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Tem a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada Cecília Meireles, do Grupo Parlamentar do CDS-PP.
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A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Os projetos que hoje discutimos, um da autoria do PSD e outro da autoria do PAN, vêm, basicamente, propor um regime que
permita a desclassificação dos contratos que tragam encargos para o erário público, ou seja, simplificando,
que tragam ou possam trazer encargos para todos nós, para todos os contribuintes.
Em primeiro lugar, é bom que fique claro — e percebe-se porque é que estas iniciativas aparecem — que a
regra, no que toca aos compromissos assumidos pelo Estado, devia ser a da transparência. A regra devia ser
a de que os contratos e os compromissos fossem conhecidos, apenas excecionalmente devia haver a
classificação dos documentos.
Ora, como todos já percebemos, sobretudo quem tem experiência em contratos e documentos
relacionados com a banca, quer para o Governo, quer para algumas instâncias como o Banco de Portugal, na
dúvida, classifica-se tudo. E é isso que também leva à necessidade da criação de uma legislação que permita
que o Parlamento e, sobretudo, os cidadãos em geral, porque é sobre eles que recaem os encargos, tenham
acesso aos compromissos que estão a ser assumidos.
Srs. Deputados, estamos a discutir um regime que é um regime jurídico de desclassificação dos
compromissos e dos contratos assumidos, mas isto não esgota a discussão do ponto de vista político.
A questão bancária, sobretudo a questão do Novo Banco, é a que tem feito surgir mais dúvidas, mas está,
infelizmente, longe de ser a única. Por isso, gostava de lembrar que, quando uma parte do Novo Banco foi
vendida ao Lone Star, o Governo dizia: «Não resultarão daqui encargos, diretos ou indiretos, para o Estado».
Portanto, a acreditar naquilo que o Governo dizia, este contrato com o Lone Star nem sequer teria de ser
desclassificado, à luz desta legislação. Infelizmente, já percebemos que não foi bem assim.
Obviamente, votaremos a favor das propostas em discussão, sem prejuízo de alterações em sede de
especialidade, mas gostava de dizer que, mais do que a questão jurídica, importa tirar consequências da
questão política, porque os compromissos do Estado são para cumprir, mas são, antes de mais, para assumir.
Em Portugal, o mesmo Governo e o mesmo Primeiro-Ministro ora dizem que não há compromisso nenhum
e não há encargo direto nem indireto para o erário público, ora se dizem indignados, porque os compromissos
são para cumprir e o Estado só tem de pagar ao Lone Star e não se pôr agora a fazer perguntas ou a querer
conhecer contratos. Esta é a questão política de fundo que tem também de ser discutida.
Portanto, votaremos favoravelmente os projetos, esperando que algumas questões possam ser resolvidas
em sede de especialidade, porque temos de ter alguns cuidados, isto é, não queremos falir as empresas por
ser posta toda a sua vida a nu. Certamente, não é essa a intenção dos autores das iniciativas. No que
depender de nós, estes projetos baixam à especialidade, para podermos ter um regime de desclassificação
destes contratos.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado António Filipe, do Grupo Parlamentar do PCP.
O Sr. António Filipe (PCP): — Sr.ª Presidente e Srs. Deputados: Após termos apreciado os projetos de lei aqui apresentados, quer o do PSD quer o do PAN, que, aliás, é praticamente igual, queria dizer que
concordamos com o princípio que está subjacente a eles e parece-nos, efetivamente, estimável.
Colocamos a questão não tanto sob a ótica estrita do contribuinte, como foi colocada pelos proponentes,
mas do ponto de vista do cidadão, porque é um direito de cidadania os cidadãos poderem ter acesso à forma
como os recursos públicos são utilizados, particularmente como os recursos públicos são utilizados em
benefício de particulares, ou seja, como sabemos, em benefício de contribuintes muito especiais, que são os
que têm meios para, por diversas vias de planeamento fiscal ou de engenharia fiscal, como quiserem — ou
mesmo por via das possibilidades abertas pela arbitragem fiscal —, conseguirem ser aqueles que mais
ganham e menos pagam em matéria de contribuição para os recursos públicos.
Portanto, concordamos com tudo o que seja dotar de transparência a utilização de dinheiros públicos. Aliás,
isto vem na linha de um princípio que está consagrado na Constituição portuguesa desde 1989 e na legislação
desde 1993, que é o princípio do acesso dos cidadãos aos documentos administrativos, salvas as exceções
em matéria de segredo de Estado, de segredo de justiça, isto é, quando há legislação especial que protege
determinados documentos para salvaguardar valores constitucionais essenciais.
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O princípio da administração aberta é um princípio que nos é caro, mas o que nos parece é que as
soluções que são aqui apresentadas terão de ser vistas cuidadosamente em sede de especialidade.
Aponto já alguns aspetos que nos parecem que tecnicamente estão menos corretos nestas iniciativas
legislativas, desde logo o facto de recorrerem à figura da desclassificação. Quer-nos parecer que não é isso
que está em causa. Ou seja, a desclassificação pertence a quem classifica, isto é, quem tem poderes de
classificação de documentos, tem poderes para os desclassificar. Portanto, as entidades que têm à sua
guarda documentos públicos, do setor público, terão poder de desclassificação, aliás, é nessa base que
assenta o regime do segredo de Estado. Mas a questão não é essa, a questão não é dar poderes de
desclassificação, porque a Assembleia da República não classificou nada, o que importa salvaguardar é o
direito de acesso da Assembleia da República a esses documentos.
São documentos que não estão na posse da Assembleia da República, mas a que a Assembleia, enquanto
representante dos cidadãos, deve ter o direito de aceder, caso decida fazê-lo. E aí quer-nos parecer que a
utilização da figura da resolução seria por aqui. Ou seja, a Assembleia da República tem todo o direito de
resolver que quer ter acesso a determinados documentos. Porquê? Porque a lei que vamos aprovar o permite.
É essa a habilitação legal que permitirá à Assembleia da República resolver querer ter acesso a
documentos. Não se trata de desclassificar, trata-se de exercer um direito de acesso que a legislação lhe vai
conferir.
Por outro lado, não faz sentido dizer que a Assembleia da República decide por maioria simples, porque
em todas as situações em que a Constituição não exige uma maioria qualificada ou uma maioria absoluta, não
há outra forma de decidir que não seja aquilo a que nós chamamos normalmente a maioria simples e que a
Constituição designa por decisão à pluralidade de votos. E, portanto, não é preciso dizer isso, porque o regime
tem mesmo de ser esse, não pode ser outro.
Por outro lado, há aí uma questão que merece cuidado, que é a questão da retroatividade. Como se sabe,
a retroatividade das leis é um princípio excecional, que obedece também a requisitos constitucionais e há que
ver até onde vai a retroatividade. Vai até ao século XIX? Vai até aos anos 50 do século XX? Ou é à medida? E
não é bom que seja à medida, para não entrarmos naquela discussão eterna…
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Peço-lhe que conclua, Sr. Deputado.
O Sr. António Filipe (PCP): — Vou concluir, Sr.ª Presidente. Falava naquela discussão eterna que é o PSD a dizer que se deve desclassificar aquilo que foi feito pelo
PS e o PS a dizer que se deve desclassificar o que foi feito no PSD.
Como o debate não deve ser esse, temos de encontrar aqui uma forma limpa, de eficácia da entrada em
vigor da produção de efeitos por esta legislação. Iremos viabilizá-la, mas pensamos que, do ponto de vista da
especialidade, há aqui obras importantes a fazer.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Mortágua, do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: «O segredo é a alma do negócio», dizem, sobretudo se esse negócio envolver empréstimos de favor, lavagem de dinheiro,
enriquecimento ilícito, jogos de poder, corrupção, evasão fiscal.
Em Portugal, como no mundo, o princípio do segredo profissional, do segredo bancário, do segredo do
negócio tem-se sobreposto sempre ao princípio da transparência, da redistribuição da riqueza e até do
interesse público. E não falamos aqui apenas do Estado ou dos negócios que envolvem o Estado e os
privados, falamos também de negócios entre privados.
Nós entendemos que o segredo não se pode opor nunca ao interesse público e, por isso, sempre o
procurámos limitar de forma consistente e defendemos sempre a divulgação de auditorias, de contratos, de
informações sobre devedores, de relatórios secretos. Tem sido sempre essa a nossa postura e a nossa
posição no debate público.
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A Assembleia da República não deve depender de comissões parlamentares de inquérito para conseguir
aceder a documentos que interessam a todos. E eu aqui diria mais: a questão não é apenas aceder aos
documentos, é poder divulgá-los, torná-los públicos. Isto porque, depois, se dá o caso de a Assembleia da
República ficar nos braços com centenas de documentos e não os poder divulgar e não poder haver o
necessário escrutínio sobre esses documentos.
Esta obrigação de divulgação em nome do interesse público aplica-se, obviamente, em primeiro lugar, ao
Estado e é no Estado que a falta de dados e a falta de estatísticas e de transparência é gritante. Desde os
dados sobre a utilização de benefícios fiscais, simples dados de execução orçamental e, por exemplo, de
despesa fiscal, mas também de dados fiscais sobre alguns impostos, até ao levantamento dos imóveis ou do
número de trabalhadores do Estado por escalão de rendimento, não temos informações para fazer o debate
público.
E torna-se mais grave quando se trata de relações com os privados. Posso dar-vos alguns exemplos de
documentos que já pedimos e que ainda não recebemos: contratos de privatização da ANA (Aeroportos de
Portuga, SA), da TAP, da REN (Redes Energéticas Nacionais) e da EDP (Energias de Portugal), feitos pelo
PSD e pelo CDS, aos quais nunca tivemos acesso; contratos da venda do Novo Banco foram entregues à
Assembleia da República com uma cláusula de confidencialidade e, portanto, não podem ser divulgados;
contratos de prolongamento das concessões das barragens, na altura do Governo de José Sócrates, não
foram publicados, não foram conhecidos. Tudo isto impede um debate público sobre os grandes negócios do
Estado.
E não é apenas quando o Estado socorre empresas privadas, são negócios de milhões em lucros a
empresas privadas. Não tem de haver um socorro, basta vender recursos públicos que interessam a todos e,
por isso, toda a gente deveria ter acesso às condições em que a venda desses recursos públicos aconteceu.
Porque é que esses contratos são segredo? Será que são segredo para proteger os contribuintes? Não me
parece! Será que são segredo para proteger o Estado? Também não me parece. Parece-me que são segredo
para proteger os ministros e os governantes que os fizeram e também as empresas privadas, que lucram com
esses mesmos contratos e, por isso, não podemos aceitar.
Para além dos contratos de privatização e com privados, há outras preocupações que temos em relação,
por exemplo, a serviços de assessoria jurídica que não vão à base de dados sobre contratação pública e sobre
o qual não há informação do Estado; despachos pelos quais a Assembleia da República luta para ter acesso,
mas que o Governo guarda, nomeadamente o despacho que aprovou a venda, agora, da concessão das
barragens da EDP à Engie.
Mas também negócios entre privados que envolvem bens do Estado, como é o caso da venda da
concessão das seis barragens de Miranda do Douro da EDP à Engie. É um negócio entre privados, mas em
que está em causa não só uma possível fuga aos impostos, mas também a concessão de um bem público.
Devemos ou não ter acesso a esse contrato?
E por isso termino, dizendo que acompanharemos esta proposta, ela aproxima-se, em tudo, daquilo que
sempre defendemos, achamos que ela pode ir mais longe, não só no seu âmbito, mas também na forma de
divulgação. Achamos que ela não deve depender, necessariamente, de uma aprovação na Assembleia da
República, mas deve ser um princípio obrigatório. Há contratos que devem ser, por defeito, públicos, em nome
da transparência. Faremos, com certeza, esse debate na especialidade.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Fernando Anastácio, do Grupo Parlamentar do PS.
O Sr. Fernando Anastácio (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A respeito deste tema, gostaria de começar por fazer uma referência que é a de que o Partido Socialista se revê e está de acordo
com o princípio da transparência e de uma administração aberta.
É deste ponto de partida que começamos este mesmo debate. A administração aberta e o conhecimento
de todos os compromissos do Estado não podem ser construídos com base em pôr entorses na própria
orgânica e no nosso sistema jurídico constitucional — também é importante referi-lo.
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Portanto, a transparência não pode ser evocada para ser um caminho para algum marketing político, em
vez de ser efetivamente transparência — também é preciso termos em consciência isso mesmo.
Sem prejuízo de uma discussão que, com certeza, teremos de ter sobre este assunto e se estamos de
acordo com os princípios, importa focarmo-nos na forma como os tratamos, como os respeitamos e como
encontramos as soluções. Aliás, já houve aqui algumas críticas que foram feitas, sobre as quais o Partido
Socialista não tem nenhum rebuço em acompanhar, uma vez que até se revê nas mesmas.
No entanto, também há uma nota que é importante salientar: os diplomas, conforme foram apresentados,
não questionam, não põem em causa, nem sequer fazem a crítica ao regime que temos em funcionamento,
que é o regime do Decreto-Lei n.º 26/2006, que refere um conjunto de mecanismos que têm a ver com a
transparência. Portanto, acho que há aqui um enfoque distorcido quando se fala de desclassificação, que é o
seguinte: à Assembleia da República não cabe classificar ou desclassificar, à Assembleia da República cabe,
sim, conhecer, exercer o seu mandato de fiscalização e é nesse quadro de transparência perante os cidadãos
que nos colocamos.
O Sr. Afonso Oliveira (PSD): — Como é que votam?
O Sr. Fernando Anastácio (PS): — Ora, por isso mesmo, ao mantermos a questão nos termos em que se encontra, haveria um notório conflito entre a proposta que é apresentada e todo o regime que temos no nosso
ordenamento jurídico sobre a transparência e o acesso a documentos públicos.
Aliás, esse regime também decorre da importação para o direito interno de um conjunto de normas e
diretivas europeias e também de proteção de dados e que nós, de alguma maneira — penso que isso não está
na génese e no pensamento dos propositores —, não podemos, pura e simplesmente, implodir e jogar pela
janela fora de uma assentada, porque esses são também princípios basilares do Estado de direito que a
transparência não põe em causa, antes pelo contrário, reforça.
Portanto, estes projetos, como disse, assentam numa notória confusão de conceitos e, com certeza,
teremos de ter, inclusivamente, a necessidade de os rever e de os colocar no sítio certo.
Tornar documentos administrativos acessíveis, hoje, é possível, é um facto, mas também reconheço que
temos um sistema em que, por vezes — e não me custa muito dizer isso —, ou pelo caminho da CNPD, da
Comissão Nacional de Proteção de Dados, ou pelo caminho da LADA (Lei de Acesso aos Documentos
Administrativos), encontramos dificuldades. Seria, se calhar, melhor — e um pensamento a ter, porque não?
—, à semelhança de muitos países europeus, termos um sistema que agrupe, no quadro da proteção de
dados e também no próprio regime da transparência, uma única entidade que possa fazer esta verificação,
esta classificação, esta desclassificação e garantir o efetivo acesso a documentos. É uma pista que deixo à
reflexão e que poderá e deverá, na minha perspetiva, ser considerada no nosso debate.
A Assembleia da República, a aprovar o que está aqui, estaria hoje a pôr em causa a sua função
parlamentar e estaria, claramente, a entrar naquilo que seria uma função administrativa.
Chamo a atenção para o facto de que já tivemos aqui — e até recentemente, em 2019 — um mecanismo
que aprovámos, que já foi hoje aqui referido, e que nos permite ter acesso a um conjunto de documentação e
de informação, nomeadamente sobre o sistema bancário, que é uma das motivações dos propositores.
Mas, depois, há perguntas que se colocam, por exemplo: para o PSD é importante o sistema bancário? Eu
não concordo. E o sistema de saúde? Os senhores não querem conhecer os contratos das questões de
saúde? Ou essas não fazem parte das vossas preocupações? Ou é um sistema tão caro, mas tão caro, que
merece, para o PSD, o sigilo?
O Sr. Afonso Oliveira (PSD): — Votem a favor!
O Sr. Fernando Anastácio (PS): — São evidentes as contradições destes diplomas, que também importa referir.
Quanto ao projeto do PAN, também gostaria que me dissessem, se fosse possível, porquê 14 anos para
trás? Porque não um, porque não cinco? Se o Sr. Deputado André Silva me conseguir explicar o porquê de 14
anos para trás, eu gostava de perceber.
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Aliás, isto entronca numa outra questão que é a da retroatividade, com a qual acho que também temos de
ter muito cuidado, porque não podemos pôr em causa um conjunto de compromissos, sem prejuízo, até…
O Sr. João Paulo Correia (PS): — Muito bem!
O Sr. Fernando Anastácio (PS): — Não quero discutir se as medidas de confidencialidade que podem estar nesses contratos estão corretas ou não, mas temos um ordenamento jurídico que temos de respeitar.
Portanto, é neste quadro geral de preocupação com a transparência que o Partido Socialista se colocará…
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Peço-lhe que conclua, Sr. Deputado.
O Sr. Fernando Anastácio (PS): — Vou já concluir, Sr.ª Presidente. E, portanto, relativamente a estes projetos, repito a mesma declaração com que comecei: a transparência e
a administração aberta são princípios muito caros ao Partido Socialista.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para a intervenção de encerramento deste debate, tem a palavra o Sr. Deputado Hugo Carneiro, do Grupo Parlamentar do PSD.
O Sr. Hugo Carneiro (PSD): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Antes de mais, quero agradecer todas as intervenções, acho que foram bastante úteis e algumas até deram sugestões e propostas, que agradeço, e
que, efetivamente, se este projeto for aprovado na generalidade, vamos ponderar na especialidade.
Naturalmente, o projeto que hoje trazemos aqui não tem soluções fechadas em tudo, é um ponto de partida
para a discussão na especialidade, conquanto passe na generalidade.
Portanto, sobre o alargamento a outros setores, como, por exemplo, o da saúde, que foi aqui referido,
podemos equacioná-lo, não tomo isso como fechado. Nenhum de nós tomará isso como fechado. Aquilo que
me preocupa é que, efetivamente, os cidadãos/contribuintes, na medida em que há contribuintes que não são,
necessariamente, cidadãos portugueses, mas que também contribuem para o Estado com o pagamento dos
seus impostos, pelo que devem poder aceder a algumas destas informações. É isso que nós propomos.
A nossa solução diz, claramente, que, a partir do momento da dita desclassificação, se pode ter o direito de
acesso à informação. É uma questão de terminologia ou de técnica jurídica, a que não vejo objeções. Mas, a
partir do momento em que isso aconteça, essa informação passa a ser do domínio público, sem qualquer
restrição, tirando as restrições que decorram do segredo de Estado, do segredo de justiça ou da proteção de
dados, que aqui se deva impor.
Há, no entanto, uma conclusão que eu tiro deste debate: há um amplo consenso, neste Parlamento, para
que se avance com uma solução e essa não é uma solução administrativa, não é uma solução que vem
desvirtuar o quadro legal que já hoje existe, precisamente porque o quadro legal existente é um quadro muito
determinístico, relativamente a certas situações. Mas a situação que referi não está prevista em lado nenhum
e nós queremos resolver definitivamente esse problema.
O Sr. Afonso Oliveira (PSD): — Muito bem!
O Sr. Hugo Carneiro (PSD): — Isto, para nós, é claro: há um consenso. Portanto, desafiamos o PS — que nos pareceu ter sido o partido mais hesitante, mas não percebi, exatamente, a posição — para que se junte a
nós, na especialidade, para melhorar os projetos de lei que estão em cima da mesa. Ganhará a transparência,
ganhará a democracia, ganharão os cidadãos. Estamos a falar do uso de dinheiros públicos e, portanto, todos
devem poder conhecer a sua utilização ou o seu comprometimento.
Aplausos do PSD.
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A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Srs. Deputados, terminámos este debate, pelo que passamos ao ponto seguinte da nossa ordem de trabalhos, o ponto 3, que é o da apreciação conjunta, na generalidade, dos
Projetos de Lei n.os 571/XIV/2.ª (BE) — Alarga a proteção conferida pela prestação social para a inclusão
(quarta alteração ao Decreto-Lei n.º 126-A/2017, de 6 de outubro), 545/XIV/2.ª (PCP) — Melhora as condições
de acesso das pessoas com deficiência à prestação social para inclusão, 623/XIV/2.ª (CDS-PP) — Melhoria
das condições para acesso à prestação social para a inclusão e aumento do valor de acumulação da
componente base com rendimentos de trabalho (quarta alteração ao Decreto-lei n.º 126-A/2017, de 6 de
outubro) e 629/XIV/2.ª (PAN) — Majoração da componente base da prestação social para a inclusão.
Para apresentar o projeto de lei do Bloco de Esquerda, tem a palavra o Sr. Deputado José Manuel Pureza.
O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Se há um programa de ação para a inclusão das pessoas com deficiência na sociedade, esse programa só pode ser a Convenção das
Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, aprovada em 2006, e ratificada por Portugal
em 2009.
Inclusão significa reconhecimento da titularidade de direitos e não resignação com qualquer via
assistencialista.
A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência estabelece que «Os Estados Partes
reconhecem o direito das pessoas com deficiência à proteção social e ao gozo desse direito sem
discriminação com base na deficiência e tomarão as medidas apropriadas para salvaguardar e promover o
exercício deste direito».
A prestação social para a inclusão (PSI), criada em 2017, é o instrumento de política de inclusão que
melhor materializa esse reconhecimento, a que Portugal está internacionalmente obrigado.
Na verdade, a prestação social para a inclusão assenta numa filosofia que se afasta de uma abordagem
assistencialista e se funda, antes, numa perspetiva de garantia da efetividade dos direitos destas pessoas, que
se concretiza na cobertura pública dos gastos com que a deficiência onera as pessoas com deficiência e no
combate à pobreza potenciada pela deficiência.
Mas o regime da prestação social para a inclusão tem evidenciado imperfeições e insuficiências que se
impõe colmatar, para permitir alcançar de forma cabal aqueles objetivos, e refiro três.
O Bloco de Esquerda, na linha das observações do mecanismo nacional de monitorização da
implementação da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, identificou justamente esse
conjunto de alterações essenciais, com vista ao aperfeiçoamento e à maior justiça e eficácia daquela que é
uma prestação social tão importante.
Assim, em primeiro lugar, impõe-se responder com justiça e bom senso ao imenso número de situações de
pessoas excluídas do acesso à prestação social para a inclusão, por uma aplicação estrita dos requisitos
legais em vigor sobre percentagens da Tabela Nacional de Incapacidades, mas cuja deficiência gera
dependência agravada.
É essa resposta de justiça e bom senso que este projeto de lei procura acolher, ao alargar, a título
excecional, o acesso à prestação social para a inclusão a pessoas com deficiência inferior a 60%, mas que
estejam, provadamente, em situação de especial incapacidade ou dependência.
Em segundo lugar, é também exigida uma resposta de justiça e de bom senso para as tantas pessoas a
quem a lei atual nega o acesso à PSI, porque adquiriram a sua deficiência depois dos 55 anos, sem que ela
seja o resultado dos processos de envelhecimento natural.
É essa resposta de justiça e de bom senso que este projeto procura acolher na lei, ao incluir no benefício
da PSI quem adquire a deficiência ou incapacidade após os 55 anos e que, comprovadamente, não resulte de
processos degenerativos associados ao normal envelhecimento.
Por fim, o projeto de lei do Bloco de Esquerda amplia o limite da acumulação da prestação social para a
inclusão com os rendimentos do trabalho, fazendo-a corresponder à soma do rendimento mínimo nacional
garantido, no seu valor anual, com o valor de referência anual da componente base da PSI. Esta é uma
alteração que assume a natureza da componente de base desta prestação, porque ela é uma cobertura
pública das despesas acrescidas provocadas pela deficiência, impedindo que estas despesas onerem
discriminatoriamente os rendimentos do trabalho.
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Estamos convictos de que assim se dota a prestação social para a inclusão de um regime mais justo e
mais fiel à sua filosofia.
No debate na especialidade acolheremos as propostas de alteração que reforcem esta finalidade.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para apresentar o projeto de lei do PCP, tem a palavra a Sr.ª Deputada Diana Ferreira.
A Sr.ª Diana Ferreira (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Desde a criação da prestação social para a inclusão que o PCP tem defendido que esta prestação não poderá nunca significar menos proteção social
para as pessoas com deficiência e que esta prestação pode e deve ser um instrumento e uma oportunidade
para melhorar e aprofundar essa proteção social.
Em diversos momentos, o PCP tem intervindo sobre a necessidade de se levar a cabo um processo de
revisão e reforço da proteção social na deficiência, e noutras situações de incapacidade, visando a adoção de
critérios de justiça na atribuição de prestações sociais que permitam compensar os encargos e necessidades
específicas que decorrem das situações de deficiência.
Sabemos que a criação de uma prestação única nesta área corresponde a uma reivindicação antiga das
organizações representativas das pessoas com deficiência, mas importa também que esta prestação
signifique uma efetiva proteção social para estas pessoas. E, por isso, temos defendido que a abrangência da
mesma deveria ser mais ampla e significativa e temos apresentado várias propostas neste sentido. Hoje,
voltamos a fazê-lo.
Temos afirmado que a forma como foi desenhada a PSI, designadamente no que se refere à idade dos 55
anos para reconhecimento da deficiência, exclui muitas pessoas com deficiência do acesso a esta prestação
social. E, por isso mesmo, nesta iniciativa, propomos que a PSI possa ser atribuída a quem adquira deficiência
ou incapacidade após os 55 anos, quando se comprove não resultar de processos degenerativos comuns ou
associados ao normal envelhecimento.
Mas propomos também um reforço da prestação social para a inclusão, com o seu pagamento em 14
meses, considerando, inclusive, que esta prestação substituiu outras que tinham esta modalidade de
pagamento.
Destinando-se esta prestação a pessoas com deficiência igual ou superior a 60% (e, de forma mais
favorável, a pessoas com deficiência ou incapacidade superior a 80%), acaba por deixar de fora situações em
que, não se atingindo os 60% de incapacidade, as pessoas podem sentir obstáculos iguais ou equiparáveis
aos das situações já contempladas em lei. Por isso mesmo, defendemos que, em casos excecionais e
devidamente fundamentados, e de acordo com um parecer favorável do INR (Instituto Nacional para a
Reabilitação), possa ser reconhecido o direito a esta prestação a beneficiários que, tendo um grau de
incapacidade inferior a 60%, estejam também numa situação particularmente incapacitante.
A necessidade do reforço da proteção social das pessoas com deficiência assume especial importância e
urgência no atual momento que vivemos.
Entendemos também que o reforço da prestação social para a inclusão deve ser acompanhado de outras
medidas que garantam um emprego com direitos e uma formação profissional que corresponda à aquisição de
conhecimentos, capacidades e competências para a inclusão na vida ativa. O acesso ao emprego com direitos
é um dos fatores fundamentais para que as pessoas com deficiência construam uma vida autónoma e
independente, permitindo ainda reforçar o seu direito à segurança social.
Sem prejuízo de um conjunto alargado de medidas transversais que importa tomar e efetivar, e com as
quais o PCP continua comprometido, a proteção social, e o acesso à mesma, por parte das pessoas com
deficiência pode traçar um caminho que garanta melhores condições de vida a estas pessoas e às suas
famílias, especialmente considerando as situações de grande vulnerabilidade a que estão sujeitos e sabendo
que este é um dos grupos sociais mais atingido pela pobreza e pela exclusão social.
Hoje, deixamos um contributo para aprofundar a proteção social das pessoas com deficiência, por via da
melhoria da prestação social para a inclusão, alargando a sua abrangência, reforçando os seus valores e
melhorando as condições de atribuição da mesma.
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Aplausos do PEV.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para apresentar o projeto de lei do CDS-PP, tem a palavra o Sr. Deputado João Almeida.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A forma como se integram as pessoas com deficiência numa sociedade e a forma como as prestações sociais são atribuídas
nesse sentido são, claramente, um modo de podermos avaliar o nível de desenvolvimento dessa sociedade e
também o nível de desenvolvimento dos mecanismos sociais que o Estado tem ao seu dispor.
No que diz respeito à prestação social para a inclusão, desde o início que apontamos algumas falhas que
deveriam ser corrigidas. Fizemo-lo não só nessa altura, quando foi criada, mas também em propostas que
apresentámos sucessivamente para que essas matérias fossem avaliadas e pudessem ser corrigidas.
Estamos a falar, essencialmente, de duas questões, a primeira das quais tem a ver com uma discriminação
em função da idade. Como já foi dito, o facto de apenas se permitir que tenham acesso a esta prestação
aqueles que, reunindo os requisitos, naturalmente, apresentem o requerimento até aos 55 anos, embora
possam ver atribuída esta prestação já depois de completarem essa idade, do nosso ponto de vista, e não
apenas do nosso, mas do de todos aqueles que se preocupam com esta matéria e com a inclusão das
pessoas com deficiência, introduz um fator de discriminação inaceitável.
É certo que devem ser ponderadas questões do processo degenerativo e do envelhecimento natural. Mas o
que não se pode presumir é que, a partir dos 55 anos, toda a gente que tenha, efetivamente, um determinado
nível de incapacidade, no caso, igual ou superior a 60%, o deve ao processo de envelhecimento comum ou ao
processo degenerativo natural. Obviamente, isto é totalmente inaceitável, muito mais quando a esperança de
vida evolui, felizmente, em sentido positivo, as pessoas vivem mais e a idade de 55 anos não faz qualquer
sentido como limitação, se bem que entendamos que não deve fazer sentido a idade de 55 anos nem qualquer
outra idade.
O Estado não pode excluir cidadãos do direito de apresentarem o seu requerimento e, naturalmente, tem
de considerar as circunstâncias particulares de cada pessoa e não estabelecer critérios gerais que, à partida,
excluem uma percentagem significativa de pessoas desta possibilidade de apoio. Portanto, entendemos que a
limitação etária deve ser eliminada.
Depois, há a questão do montante da prestação. Não faz sentido ter uma lei que diz que a prestação pode
ser acumulada com a retribuição mínima garantida, com o salário mínimo, e depois estabelecer, anualmente,
como já aconteceu este ano, um valor máximo que é inferior à soma do valor base da prestação e da
retribuição mínima garantida. Ou seja, o Estado acaba por frustrar aquele que é o comando legislativo que
está em vigor e isto é também inaceitável. Devendo o Estado cumpri-lo, se não o cumpre, cabe-nos alterar a
lei, no sentido de impor que, naturalmente, quem, tendo uma situação de incapacidade e ainda assim, queira
trabalhar, e trabalhe, não seja prejudicado por fazê-lo, não deixando de receber o montante da prestação
social a que tem pleno direito por estar a trabalhar.
Isso seria um incentivo exatamente contrário àquele que deve existir numa sociedade desenvolvida, como
referi no início, que valoriza a inclusão das pessoas com deficiência. O ideal é exatamente conseguirmos
atribuir uma prestação por essa deficiência, mas também conseguirmos a inclusão da pessoa e, se ela puder
trabalhar, melhor ainda.
Como disse no início, a forma como alterarmos esta legislação e como aperfeiçoarmos a prestação social
para a inclusão dirá muito sobre a forma como tratamos as pessoas com deficiência e como as conseguimos
incluir na nossa sociedade.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para apresentar o projeto do PAN, tem a palavra a Sr.ª Deputada Inês Sousa Real.
A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Recordamos hoje que a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência começa por definir que «Os Estados Partes
reconhecem o direito das pessoas com deficiência à proteção social e ao gozo desse direito sem
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discriminação com base na deficiência e tomarão as medidas apropriadas para salvaguardar e promover o
exercício deste direito».
Contudo, Sr.as e Srs. Deputados, as pessoas com deficiência e as suas famílias vivem diariamente uma
realidade muito diferente, debatendo-se com inúmeros e impensáveis obstáculos, dificuldades de natureza
diversa e com expressivos custos resultantes da sua condição, sejam eles financeiros ou de saúde.
A proteção das pessoas com deficiência tem de ser, por isso, uma prioridade e exige de nós medidas
integradas e transversais, que garantam a construção de uma vida autónoma e independente, mas também
que previnam que se caia numa situação de pobreza ou de vulnerabilidade e exclusão social.
As pessoas com deficiência estão também expostas a um maior risco e vulnerabilidade social, pelo que
todas as medidas de combate à exclusão e pobreza têm de ser acauteladas pelo Estado.
Não podemos ignorar que o risco de pobreza ou exclusão social destas pessoas é mais elevado do que
nas pessoas sem deficiência ou com algum tipo de incapacidade. E em Portugal o fosso da desigualdade é
mais grave do que na média dos restantes países europeus.
Particularmente preocupante são também as situações de deficiência por exemplo no género feminino ou
entre a população mais idosa que tantas vezes são alvo de múltiplas formas de discriminação. É por isso
fundamental o acesso de todas estas pessoas a programas de proteção social e de redução da pobreza.
A prestação social para a inclusão, tema que nos traz aqui hoje, é uma prestação destinada a apoiar
cidadãos portadores de deficiência da qual resulte um grau de incapacidade igual ou superior a 60% e é
essencial para desagravar as condições de vida destas pessoas, face aos constrangimentos e encargos
resultantes da situação incapacitante que vivenciam.
Tratando-se de uma prestação que, na sua essência, visa minimizar o risco de pobreza, combater a
exclusão social e promover a autonomia, convenhamos, Sr.as e Srs. Deputados, que o atual valor máximo da
componente base, 275 € mensais, é mais do que muitíssimo baixo, este valor é absolutamente indigno.
É por esta razão que o PAN traz hoje a presente proposta, de modo a que o valor desta prestação passe a
ser indexado a 1,15 do IAS (indexante dos apoios sociais), uma medida que pode fazer a diferença para que
esta prestação não se situe abaixo do limiar de pobreza.
Tenhamos, por outro lado, presente que muitas pessoas, cuja deficiência foi adquirida antes dos 55 anos,
não detinham nem requereram à data o atestado médico de incapacidade multiusos, atualmente exigido para
a obtenção desta prestação, pelo que não são abrangidos pela mesma criando uma situação de injustiça.
No nosso entender, esta situação é, de facto, uma grave injustiça de que resulta o indeferimento reiterado
dos pedidos de certificação de deficiência anterior aos 55 anos de idade que são formulados. Consideramos,
assim, que devem ser garantidos todos os mecanismos necessários à avaliação célere e à adequada
atribuição do grau de incapacidade, viabilizando a prestação que daí poderá decorrer.
O PAN acompanha ainda as propostas aqui apresentadas pelas demais forças políticas, na medida em
que, no nosso entender, pretendem melhorar e alargar, também, os apoios às pessoas com deficiência em
Portugal. Defendemos que é importante implementar medidas de maior proteção social às pessoas com
deficiência e entendemos que uma das vias para o conseguir é através da melhoria da prestação social para a
inclusão, reforçando não apenas os seus valores, como melhorando as condições da sua atribuição.
Só através deste caminho poderemos começar a construir uma vida mais digna e a colaborar para que
estas pessoas não sofram de uma privação material ou que não caiam em situação de pobreza, assim como
não sejam excluídas daquela que deve ser uma vida plena e no gozo de todos os seus direitos.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Carla Madureira, do Grupo Parlamentar do PSD.
A Sr.ª Carla Madureira (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Uma sociedade plena e solidária é aquela que inclui todas as pessoas.
Em boa verdade, nas últimas duas décadas, temos feito progressos assinaláveis na integração das
pessoas com deficiência, mas devemos reconhecer que temos ainda um longo caminho a percorrer na sua
autonomia e proteção social, na educação inclusiva, na transição da escola para a vida ativa dos jovens com
limitações de capacidades físicas, motoras ou cognitivas e, entre outros, na integração no mercado de
trabalho.
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A este nível, preocupa-nos a redução das taxas de emprego das pessoas com deficiência e o aumento das
pessoas desempregadas, fazendo com que as taxas de risco de pobreza ou exclusão social neste grupo social
em Portugal seja claramente superior aos valores médios da União Europeia.
Preocupa-nos também que o próprio Estado não cumpra as metas que impõe a si próprio no emprego
desta população.
O Sr. Adão Silva (PSD): — Muito bem!
A Sr.ª Carla Madureira (PSD): — Esta tarde, estão em discussão quatro projetos de lei que vão no sentido de reforçar o alcance da prestação social de inclusão.
Não colocando em causa a bondade que está na base destas iniciativas, não devemos perder de vista,
também, o necessário balanceamento de certas medidas que a capacidade da segurança social tem, neste
momento, e que passa por gravíssimas pressões, nomeadamente financeiras. Mais ainda, quando não
dispomos de estimativas quanto ao universo dos potenciais beneficiários.
Por outro lado, devemos ter alguma ponderação e bom senso, nomeadamente na cronologia das medidas
que se propõem e que se querem postas em prática.
Ora, a matéria dos projetos de lei que hoje estão em análise acabou por ser rejeitada pela Assembleia da
República na discussão e votação do Orçamento do Estado para 2021. Além disso, temos de recordar que a
Portaria n.º 5/2021, de 6 de janeiro, procedeu à atualização do valor de referência anual da componente base
da prestação social para a inclusão e do limite máximo anual de acumulação da componente base com
rendimentos do trabalho. Acresce que uma nova alteração legislativa com aumento de despesa só teria efeitos
práticos no próximo ano, com o novo Orçamento do Estado.
Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, o Governo escreveu no seu Programa que a proteção das pessoas
com deficiência ou incapacidade é uma prioridade e um desígnio nacional.
A Secretária de Estado para a Inclusão das Pessoas com Deficiência anunciou, em novembro de 2020, que
o estudo relativo à reforma antecipada para pessoas com deficiência estava a ser trabalhado e, que até ao
final do ano, chegaria às organizações representativas destes cidadãos.
Na mesma ocasião, a Secretária de Estado referiu, também, que durante o mês de dezembro estava
prevista uma reunião do Conselho Nacional para as Políticas de Solidariedade e Segurança Social e que seria
apresentado o estudo preliminar sobre a reforma antecipada das pessoas com deficiência.
O ano de 2020 já terminou e nem esse estudo, nem qualquer proposta, nesse âmbito, nos foram
apresentados.
Nada que nos surpreenda, num Governo pródigo em anunciar e voltar a anunciar, e que invariavelmente
não cumpre ou tarda a concretizar e a operacionalizar.
Para o PSD, é fundamental que esse estudo conheça a luz do dia.
Por isso mesmo, o Partido Social Democrata apresentou o Projeto de Resolução n.º 844 que incita o
Governo a apresentar com caráter de urgência o estudo relativo à definição das condições de acesso à
reforma antecipada para pessoas com deficiência.
Mais, o PSD pretende que no estudo constem efetivamente, os vários cenários, as diversas combinações
de variáveis, assim como a quantificação financeira das múltiplas possibilidades.
O Governo e o Partido Socialista estão a falhar com os portugueses.
Aplausos do PSD.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira, do Grupo Parlamentar de Os Verdes.
O Sr. José Luís Ferreira (PEV): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Na discussão sobre este importante assunto relativo à necessidade de se proceder ao aperfeiçoamento das condições de acesso das
pessoas com deficiência à prestação social para a inclusão, Os Verdes começam por referir que, tal como o
fizemos na altura do respetivo debate e da sua implementação, consideramos a criação da prestação social
uma medida da maior importância.
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A nosso ver, esta prestação social para a inclusão, que muito valorizamos, representa uma medida ou um
instrumento que, para além de ter constituído uma reivindicação antiga das organizações representativas das
pessoas com deficiência, procura, ainda, ir ao encontro dos objetivos estabelecidos na Convenção dos Direitos
das Pessoas com Deficiência, uma Convenção que o nosso País subscreveu e que a ela está vinculado.
Sucede que apesar da sua importância, esta prestação apresenta algumas fragilidades e insuficiências que
decorrem, nomeadamente de dois fatores: por um lado, o facto de abranger apenas pessoas com deficiência
igual ou superior a 60%, o que excluiu um universo considerável de situações, onde a incapacidade sendo
inferior a 60%, representa obstáculos semelhantes aos sentidos por pessoas com 60% de incapacidade.
E, por outro, ao estabelecer a idade máxima de 55 anos para o reconhecimento da incapacidade, deixa de
fora do seu acesso um universo de pessoas com deficiência ainda maior.
De resto, quando a prestação social para a inclusão foi criada, o próprio Mecanismo Nacional de
Monitorização da Implementação da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência apontou
alguns reparos, tendo inclusivamente sugerido ao Governo um conjunto de recomendações que passavam
nomeadamente por remover as restrições de acesso à prestação, em razão da idade ou grau de incapacidade
atestado, sob pena de se estar a potenciar fatores de desigualdade, quando o objetivo é exatamente o oposto.
Mas mais, se esta prestação tem nos seus objetivos também o apoio a pessoas com deficiência que se
encontrem em situação de pobreza, o Mecanismo Nacional de Monitorização da Implementação da
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência chama ainda a atenção para a necessidade de se
estabelecer um valor distinto para as pessoas com deficiência, considerando os custos acrescidos que
decorrem dessa situação de pobreza.
Para além disso, importa recordar que a nossa Constituição atribui ao Estado a responsabilidade de
realizar uma política nacional de prevenção, tratamento, reabilitação e integração das pessoas com
deficiência, bem como de apoio às suas famílias, devendo o Estado assumir o encargo da efetiva realização
dos seus direitos.
E, portanto, apesar da importância que Os Verdes atribuem à prestação social para a inclusão,
consideramos que é necessário proceder aos ajustamentos que respondam aos problemas que acabei de
identificar e iremos votar a favor das propostas que a nosso ver possam dar essas mesmas respostas.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Marta Freitas, do Grupo Parlamentar do PS.
A Sr.ª Marta Freitas (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Hoje debatemos projetos de lei referentes à prestação social para a inclusão e, antes de mais, importa relembrar que essa prestação foi uma
medida que, em 2017, foi criada pelo Governo do Partido Socialista.
O Governo tem procedido à concretização das fases previstas na sua implementação, segundo o Decreto-
Lei n.º 126-A/2017, de 6 de outubro, permitindo assim o apoio às pessoas com deficiência e responder a
encargos no domínio da deficiência.
Assim, a criação desta prestação social, permitiu englobar antigos beneficiários do subsídio mensal vitalício
e da pensão social de invalidez, e estender a cobertura de proteção social a novos beneficiários. Deste modo,
verificou-se que a PSI permitiu um aumento de 25% a 34% de apoio atribuído, em relação ao subsídio mensal
vitalício, para além de permitir uma cobertura de proteção social a novos beneficiários, que até à data não
tinham qualquer proteção social.
Hoje a PSI, conta com mais de 110 000 beneficiários, permitindo assim a pessoas com deficiência ou com
um grau de incapacidade igual ou superior a 60% terem um apoio face à sua condição, responderem a
constrangimentos financeiros resultantes da deficiência e alcançarem a sua autonomia e a inclusão social.
O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Ah!
A Sr.ª Marta Freitas (PS): — Tem sido para o Partido Socialista, uma prioridade a reformulação das prestações sociais para as pessoas com deficiência e a elaboração de um modelo para prestação única que
respondesse de forma mais simplificada e com maior eficácia ao quadro das prestações sociais na área da
deficiência.
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A PSI é, neste momento, a única prestação não contributiva que permite um rendimento direto aos
beneficiários independente da condição de pobreza.
O Partido Socialista tem marcado avanços em prestações sociais mais modernas e inclusivas e são
exemplo a PSI, o complemento social para o idoso ou até o rendimento mínimo garantido, o atual RSI
(rendimento social de inserção). Não foi o CDS, não foi o PSD, não foi o PSP…
O Sr. José Manuel Pureza (BE): — A PSP não foi!
A Sr.ª Marta Freitas (PS): — … nem foi o Bloco de Esquerda, nem outro partido político…
O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Foi a GNR!
A Sr.ª Marta Freitas (PS): — … foi o Partido Socialista que introduziu estes apoios sociais para que ninguém ficasse para trás, numa perspetiva de cidadania.
A verdade é única: permanece uma vontade do Governo do Partido Socialista em trabalhar continuamente
sobre a prestação social de inclusão, que comprovou ser uma alavanca contra a inatividade, sendo possível
conciliá-la com a atividade laboral, o que não era possível anteriormente, bem como a participação plena da
pessoa com deficiência na sociedade, na medida das suas capacidades, e sem deixar de proteger as
situações de deficiência profunda.
Com a última atualização, o valor médio mensal da componente base da PSI, corresponde a cerca de 275
€, podendo a componente base e complemento, atingir neste momento os 768 €, o que corresponde a
aumentos efetivos de 25% a 34% relativamente ao subsídio mensal vitalício, para além dos aumentos que
foram verificados na bonificação por deficiência e no subsídio por assistência de terceira pessoa.
Ainda no que se refere às propostas que estão aqui a ser colocadas pelos proponentes, destaco o
seguinte: é importante uma reflexão no sentido de não colocarmos em causa a própria PSI, sobrecarregando-
a, nas alterações às condições gerais de atribuição da prestação. Ao introduzir questões que possam não
estar relacionadas com a própria deficiência, poderão canalizar-se recursos para quem tem uma incapacidade
que possa ser decorrente dos processos degenerativos associados ao envelhecimento e não somente para as
pessoas que têm deficiência, que são as pessoas a quem se destina a PSI.
Parece-nos que o que aqui propõem, em muitos casos, possa ser difícil de avaliar e, com certezas,
comprovar. Tal é tão difícil de avaliar e de provar que os próprios proponentes acabam por alargar este
universo de beneficiários da PSI, mas remetem a difícil tarefa para o Governo, para que este regulamente o
que é difícil ou impossível de fazer, técnica e juridicamente, não havendo um entendimento dos especialistas
sobre esta matéria.
Ainda no que respeita à alteração ao limiar de acumulação da componente base, na exposição dos motivos
dos proponentes não se verifica a contabilização do universo de pessoas que podem ser abrangidas e o
impacto orçamental que poderão trazer estas alterações.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — A sério?!
A Sr.ª Marta Freitas (PS): — Como já referi, o Partido Socialista tem todo um legado de Estado social e de medidas de proteção social. O Grupo Parlamentar do Partido Socialista compreende até a natureza das
medidas ou as pretensões propostas, contudo verifica-se que o que é proposto quebra um critério que, até ao
momento, tem sido seguido no que se refere à indexação das prestações sociais ao IAS. Tal requer, então,
uma avaliação mais cuidada para que estas medidas sejam, neste momento, responsáveis e exequíveis.
Assim, o Partido Socialista reconhece que, no que se relaciona com a PSI, esta matéria não está fechada e
selada.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Peço-lhe que conclua, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Marta Freitas (PS): — Estou a terminar, Sr.ª Presidente.
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Mas é intempestivo fazer uma alteração e ajustamentos a uma prestação que ainda está a finalizar a sua
implementação.
Dito isto, estaremos disponíveis para fazer uma reavaliação, uma adaptação e uma evolução, acima de
tudo, sólida da PSI, findada esta fase.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Diana Ferreira, do Grupo Parlamentar do PCP.
A Sr.ª Diana Ferreira (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Dirijo-me especificamente às Sr.as Deputadas Carla Madureira, do PSD, e Marta Freitas, do PS, depois das últimas duas intervenções que
ouvimos no Plenário.
Sr.ª Deputada Carla Madureira, do PSD, gostava de lhe lembrar que invocou o Orçamento do Estado, mas
esta era uma situação que podia ter ficado resolvida neste Orçamento do Estado que acabámos de discutir, se
não tivessem, o PSD e o PS, votado contra a proposta que o PCP apresentou para reforço e alargamento da
prestação social para a inclusão.
Protestos do PSD.
O Sr. José Luís Ferreira (PEV): — Bem lembrado!
A Sr.ª Diana Ferreira (PCP): — Por isso, falar agora do Orçamento do Estado é só calçar, efetivamente, a falta de vontade política do PSD em contribuir para resolver esta situação.
A Sr.ª Carla Madureira (PSD): — Está mal informada!
A Sr.ª Diana Ferreira (PCP): — Sr.ª Deputada Marta Freitas, permita-me lembrar-lhe o seguinte: pese embora o facto de haver um caminho muito positivo na efetivação dos seus direitos, feito ao longo de vários
anos, as pessoas com deficiência, no nosso País, continuam a ter um dia a dia marcado pela negação de
direitos. Há negação do direito à educação, do direito ao trabalho e ao emprego com direitos, o que, aliás, faz
com que uma parte significativa dos beneficiários da prestação social para a inclusão receba, efetivamente,
apenas os 275 €, que é o valor-base desta prestação. Continuamos a ter uma realidade em que as pessoas
com deficiência continuam a ver negados o direito à mobilidade, o direito aos transportes, o direito à saúde.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Sr.ª Deputada, peço-lhe que conclua.
A Sr.ª Diana Ferreira (PCP): — Sr.ª Presidente, mesmo para terminar, gostaria de dizer que estas pessoas continuam a ter tremendas dificuldades no acesso aos produtos de apoio. É desta realidade que afeta as
pessoas com deficiência e suas famílias que estamos a falar!
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Tem de concluir, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Diana Ferreira (PCP): — Temos uma oportunidade para dar um passo que resolve e que contribui para reforçar a proteção social de um grupo que está em tremenda fragilidade, neste momento. O que importa
saber é se o PS quer dar, efetivamente, esse contributo, neste momento.
Aplausos do PCP e do PEV.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para fazer o encerramento deste debate, tem ainda a palavra o Sr. Deputado José Manuel Pureza, do Bloco de Esquerda.
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O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, creio que ficou patente, neste debate breve, que há aqui escolhas, para as quais fomos desafiados pelas várias forças políticas, a fazer.
Creio, também, que tal ficou patente a posição do PSD e, sobretudo, do Partido Socialista, mais
concretamente na intervenção da Sr.ª Deputada Marta Freitas, quando usou a expressão que dizia que a PSI
não estava fechada e selada, só que, na verdade, está.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Exato!
O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Portanto, basicamente o que a Sr.ª Deputada veio dizer foi isto, além de, evidentemente, ter feito um longo panegírico do seu próprio partido, dizendo que «o legado é nosso», que
«fomos nós, somos nós». Com certeza, Sr.ª Deputada, não quer contágios e acho que isso é perfeitamente
natural.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Conhece mal a história da PSI, Sr.ª Deputada, muito mal!
O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Sr.ª Deputada Marta Freitas, vamos ver se nos entendemos. O que está em jogo, essencialmente, tal como disse — e bem —, é não colocar em causa a PSI. Qual é a forma que
temos de não colocar em causa a PSI? Corrigindo os erros que, neste momento, estão em prática e dotando o
seu regime de uma maior justiça e de um maior bom senso. Foi o que tentei dizer, ali de cima.
Tal leva-nos a três escolhas. Em primeiro lugar, devemos ou não, na lei, consagrar a possibilidade de
pessoas cuja deficiência é inferior a 60%, mas em que esta cria um grau de dependência extremamente
gravoso, terem acesso à PSI? Neste momento, isso não é possível e devemos escolher para que sim, para
que isso seja possível.
Em segundo lugar, deve ou não ter possibilidade de aceder à PSI quem tem uma deficiência posterior aos
55 anos de idade? Por que razão tem de haver este critério? Não há nenhuma razão para que seja este o
critério!
Em terceiro lugar, devem as pessoas que auferem a componente base da PSI e que trabalham ser
prejudicadas pelo facto de trabalharem, como muito bem disse o Sr. Deputado João Almeida, há pouco?
Devem ser prejudicadas? Do nosso ponto de vista, não. Não há nenhuma razão para que assim seja, pelo
contrário, isso será uma injustiça.
Ora, insistir nestes três erros é pôr em causa a PSI, ou seja, é aquilo que a Sr.ª Deputada não quer e faz
muito bem! Portanto, estou convencido de que, amanhã, votará favoravelmente nas propostas que,
justamente, têm como propósito reforçar e não deixar pôr em causa a PSI.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Agora, sim, chegámos ao fim do nosso debate e da ordem do dia. A Sr.ª Deputada Maria da Luz Rosinha vai agora proceder à leitura das informações habituais.
A Sr.ª Secretária (Maria da Luz Rosinha): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, muito boa tarde a todas e a todos.
Passo a informar que deram entrada na Mesa, e foram admitidas, várias iniciativas legislativas.
Refiro, em primeiro lugar, os Projetos de Resolução n.os 851/XIV/2.ª (IL), que baixa à 8.ª Comissão,
852/XIV/2.ª (PAN), que baixa à 8.ª Comissão, 853/XIV/2.ª (CDS-PP), que baixa à 9.ª Comissão, 854/XIV/2.ª
(PAN), que baixa à 11.ª Comissão, 855/XIV/2.ª (PSD), que baixa à 7.ª Comissão, e 856/XIV/2.ª (PSD), que
baixa à 11.ª Comissão.
Anuncio, ainda, os Projetos de Lei n.os 639/XIV/2.ª (PEV), que baixa à 11.ª Comissão, 642/XIV/2.ª (IL), que
baixa à 10.ª Comissão, em conexão com a 9.ª Comissão, e 643/XIV/2.ª (Deputada não inscrita Cristina
Rodrigues), que baixa à 10.ª Comissão.
Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, dou ainda conta das presenças nesta sessão plenária, através de
videoconferência, dos seguintes Srs. Deputados eleitos pelo círculo eleitoral da Madeira: Sara Madruga da
Costa e Sérgio Marques, do Grupo Parlamentar do PSD. Em isolamento profilático e a acompanhar a sessão,
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estiveram também presentes, por videoconferência, o Sr. Deputado Norberto Patinho, do Grupo Parlamentar
do PS, e os Srs. Deputados André Coelho Lima e José Silvano, do Grupo Parlamentar do PSD.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Muito obrigada, Sr.ª Secretária Maria da Luz Rosinha. Falta, agora, anunciar a agenda da reunião plenária de amanhã, que começará às 10 horas.
Do ponto 1 consta a discussão do Projeto de Resolução n.º 839/XIV/2.ª (CDS-PP) — Pelo cumprimento da
Resolução da Assembleia da República n.º 201/2019, no sentido da elaboração de um estudo sobre a forma
como poderão ser atribuídos os benefícios constantes na Lei n.º 3/2009, de 13 de janeiro, aos ex-militares do
recrutamento local sem registos de carreira contributiva.
O ponto 2 é composto pela discussão, na generalidade, dos Projetos de Lei n.os 181/XIV/1.ª (PAN) —
Regulamenta a atividade de lobbying e procede à criação de um registo de transparência e de um mecanismo
de pegada legislativa (procede à primeira alteração à Lei Orgânica n.º 4/2019, de 13 de setembro, e à décima
quarta alteração à Lei n.º 7/93, de 1 de março), 30/XIV/1.ª (CDS-PP) — Regulamenta a atividade de
representação profissional de interesses (lobbying), e 253/XIV/1.ª (PS) — Aprova regras de transparência
aplicáveis a entidades privadas que realizam representação legítima de interesses junto de entidades públicas
e procede à criação de um registo de transparência da representação de interesses.
Do ponto 3 consta a discussão do Projeto de Resolução n.º 533/XIV/1.ª (PEV) — Avaliação do Acordo
Ortográfico de 1990.
No ponto 4, iremos apreciar as Petições n.os 78/XIV/1.ª (Júlia Cristina Guerra de Carvalho do Couto e
outros) — Pela integração da Caixa de Previdência dos Advogados e dos Solicitadores na segurança social e
n.º 79/XIV/1.ª (Júlia Cristina Guerra de Carvalho do Couto e outros) — Nacionalização da Caixa de
Previdência dos Advogados e dos Solicitadores por integração na segurança social, juntamente com a
discussão, na generalidade, dos Projetos de Lei n.os 614/XIV/2.ª (BE) — Integração da Caixa de Previdência
dos Advogados e dos Solicitadores na Segurança Social, 612/XIV/2.ª (Deputada não inscrita Cristina
Rodrigues) — Garante aos advogados, solicitadores e agentes de execução a possibilidade de escolha do
regime de contribuições entre a CPAS e a segurança social, 637/XIV/2.ª (PS) — Criação de uma comissão
para a eventual integração da Caixa de Previdência dos Advogados e dos Solicitadores (CPAS) no regime
geral da segurança social, bem como dos Projetos de Resolução n.os 829/XIV/2.ª (PAN) — Recomenda ao
Governo que elabore e apresente à Assembleia da República um estudo sobre a viabilidade da integração da
Caixa de Previdência dos Advogados e dos Solicitadores na segurança social, 642/XIV/2.ª (PAN) —
Recomenda ao Governo que garanta aos advogados, advogados estagiários e solicitadores uma remuneração
condigna e justa pelos serviços que prestem no âmbito da proteção jurídica, 735/XIV/2.ª (Deputada não
inscrita Cristina Rodrigues) — Recomenda ao Governo que dialogue com a CPAS, Ordem dos Advogados e
Ordem dos Solicitadores e dos Agente de Execução, no âmbito da fixação do fator de correção do indexante
contributivo para 2021, 818/XIV/2.ª (PSD) — Recomenda ao Governo que assegure que a reflexão e
ponderação sobre a possibilidade de integração da Caixa de Previdência dos Advogados e dos Solicitadores
(CPAS) na segurança social, a ser equacionada pelo Governo, seja necessariamente feita em estreita
articulação com a CPAS, com a Ordem dos Advogados e com a Ordem dos Solicitadores e Agentes de
Execução.
O ponto 5 diz respeito à apreciação da Petição n.º 25/XIV/1.ª (Sérgio Tavares da Silva e outros) —
Diabetes: Alargamento do acesso gratuito a dispositivos de PSCI (bombas de insulina) para indivíduos
maiores de 18 anos, juntamente com a discussão, na generalidade, do Projeto de Lei n.º 642/XIV/2.ª (IL) —
Repõe a atribuição da bonificação, por deficiência, do abono de família para crianças e jovens com idade igual
ou inferior a 24 anos e dos Projetos de Resolução n.os 764/XIV/2.ª (CDS-PP) — Comparticipação dos
dispositivos de perfusão subcutânea contínua de insulina, 768/XIV/2.ª (BE) — Alargamento do acesso gratuito
a dispositivos de perfusão subcutânea contínua de insulina — bombas de insulina — para indivíduos maiores
de 18 anos, 824/XIV/2.ª (PEV) — Regulamentação da comparticipação de bombas de insulina e melhoria dos
procedimentos de colocação e distribuição dos dispositivos, 830/XIV/2.ª (PAN) — Regulamentação do regime
de comparticipação dos dispositivos de perfusão contínua de insulina, 756/XIV/2.ª (PS) — Recomenda ao
Governo a concretização de um registo nacional de diabetes tipo 1, e 838/XIV/2.ª (PCP) — Pelo reforço dos
cuidados ao doente com diabetes.
O ponto 6 é o das votações regimentais, que terão lugar no final do debate.
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Srs. Deputados, desejo a todos um bom resto de dia.
Está concluída a sessão.
Eram 17 horas e 9 minutos.
Presenças e faltas dos Deputados à reunião plenária.
———
Retificação solicitada pelo Deputado do IL João Cotrim de Figueiredo à intervenção relativa ao Projeto de
Resolução n.º 800/XIV/2.ª (PS) — Concessão de honras de Panteão Nacional a José Maria de Eça de
Queiroz, discutido na presente reunião plenária.
Na pág. 5, l. 25, a citação «Os políticos e as fraldas devem ser mudados de tempos a tempos e pela
mesma razão» foi por lapso atribuída a Eça de Queiroz.
———
A DIVISÃO DE REDAÇÃO.