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I SÉRIE — NÚMERO 43

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Sabemos que sem ferrovia não há coesão territorial, sem ferrovia não se fixa população, sem ferrovia não

há combate às alterações climáticas, sem ferrovia, o Estado não tem instrumentos para mitigar o aumento do

preço dos combustíveis.

Ainda assim, quando se esperaria que a ferrovia fosse o progresso e o futuro, ela foi perdendo investimento,

foi encolhendo, foi desaparecendo até representar só 5% de toda a mobilidade nacional.

Em vez de transportes públicos, o grande projeto de futuro de sucessivos Governos do PSD e do PS foi o

alcatrão e o transporte individual. Mas quando falo em alcatrão não falo em Beja, porque Beja nem teve o

privilégio de ser beneficiária dos excessos do alcatrão.

Se andarmos por esse País fora vamos encontrar exemplos deste abandono, um abandono que não é

resolvido empurrando as pessoas para fora de Lisboa e que não é resolvido só com benefícios fiscais.

O Alentejo é um exemplo deste abandono: são povoações com enormes distâncias entre elas, em que as

deslocações são essenciais. Para um estudante ir de sua casa à escola pode ter de percorrer 40 km ou mais,

para uma pessoa se deslocar todos os dias para o trabalho pode ter de fazer 40 km ou mais.

Quando eu estava na escola havia dois Intercidades por dia — dois Intercidades por dia! — entre a minha

vila e Beja. O resto eram automotoras sem aquecimento ou ar condicionado. Hoje continua a haver muito poucos

comboios, mas não há Intercidades.

A situação hoje é pior do que aquela que estudantes e habitantes do Alentejo, do Baixo Alentejo, que

frequentam a Linha de Beja enfrentavam há 10, 15 ou 20 anos. É verdade que há um Intercidades que faz o

trajeto Lisboa-Casa Branca, mas a partir daí só há a automotora, que tem aquecimento, mas avaria no inverno,

tem ar condicionado, mas avaria no verão, porque não aguenta o calor.

Há, sim, um meio de transporte alternativo, muito conhecido e usado entre os alentejanos, chama-se boleia!

Eu diria que, enfim, é um método para desenrascar algumas situações, passe a expressão, mas não é a solução

que os alentejanos merecem e de que precisam.

O Governo é, neste momento, tributário desta enorme dívida que o País tem para com o Alentejo: garantir

acessibilidades aos maiores distritos do interior do País, onde elas não existem. É por isso que o projeto de

resolução que o Bloco de Esquerda apresenta tem algumas condições básicas, que são o mínimo do que

deveríamos estar a falar num país desenvolvido.

É o mínimo ter uma linha eletrificada entre Casa Branca e Beja e também no troço Beja-Funcheira. Não se

pede muito, Srs. Deputados, só uma linha eletrificada que ligue Lisboa à capital de distrito e a capital de distrito

a outros municípios importantes. E, já agora, é preciso garantir também uma linha entre o aeroporto de Beja e

Beja e outras acessibilidades.

Gastaram-se milhões de euros a construir o aeroporto de Beja, abandonou-se o projeto e nunca mais se

olhou para aquele território!

Portanto, Srs. Deputados, não se pede uma grande revolução, pedem-se os investimentos mínimos para que

o Alentejo tenha também condições mínimas para começar a encarar o futuro com outras condições e com outra

esperança, que bem merece.

Aplausos do BE.

A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para apresentar o projeto de resolução do PAN, tem a palavra a Sr.ª

Deputada Inês de Sousa Real.

A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Começo por cumprimentar

também os peticionários e saudá-los pela iniciativa, que traz um apelo à eletrificação e modernização da Linha

do Alentejo como sendo uma prioridade de interesse nacional.

Hoje já falámos aqui da coesão social e territorial, sendo que o PAN considera a mobilidade, nomeadamente

a ferroviária, absolutamente fundamental para cumprir esse desiderato, para mais numa região que tem sido

deixada ao abandono no que respeita às infraestruturas de desenvolvimento nacionais.

A Sr.ª Deputada Mariana Mortágua falou ainda agora das condições das carruagens, mas as próprias

estações acabam por também estar completamente ao abandono, assim como estão completamente

esquecidas as populações nos seus arredores. Portanto, basta-nos circular na linha ferroviária para

percebermos as discrepâncias que existem das áreas metropolitanas para o interior do País.

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