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5 DE MARÇO DE 1998

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PROJECTO DE LEI N.º 494/VII

CRIAÇÃO DO MUNICÍPIO DE CANAS DE SENHORIM

Exposição de motivos

1 — Aspectos históricos e culturais

Antes da monarquia, a região de Canas foi centro da civilização romana, como o demonstram alguns vestígios históricos. Durante a conquista árabe e a reconquista cristã as lutas obrigaram as populações a Fixar-se longo tempo no Casal (bairro mais antigo de Canas), local que permitia a sua defesa.

Em 1196, por foral assinado pelo rei D. Sancho I, Canas foi incultada em benefício pessoa) do bispo de Viseu, D. João Pires. Por esta declaração ficou Canas desintegrada das Terras de Senhorim, assim se explicando o determinativo «Senhorim» ao nome de Canas.

Com o segundo foral concedido em 1514 por D. Manuel I, Canas de Senhorim passou para concelho pertencente à Coroa e apenas sujeita ao cabido de Viseu pelo pagamento de oitavos de pão, vinho e linho. Esta situação manteve-se por mais de 300 anos, e em meados do século xix, aquando das invasões francesas, acompanhadas de períodos de agitação, este concelho foi também fustigado por instabilidades — isto no reinado de D. Miguel.

Em 1820 foi criada nova organização administrativa, que juntou a Canas o concelho de Aguieira, que já desde 1527 abrangia Moreira.

Em 1852 os antigos concelhos de Aguieira, Canas, Folhadal e Senhorim fundem-se, dando origem ao concelho de Nelas.

Em 1857, com a nova divisão do País em distritos, Canas volta a ser sede de co'ncelho, com a maior área de sempre. Beijos, Cabanas de Viriato e Oliveira do Conde faziam parte da sua área até 1873, ano em que, com o movimento revolucionário da Janeirinha, Nelas passou a ser sede do concelho, ficando então Canas de Senhorim sede de freguesia até aos dias de hoje.

No início deste século dois factores marcaram positivamente esta região. Particularizando, em 1900, e num espaço a norte da vila, já a caminho de Viseu — na Urgeiriça —, foram detectadas manchas no terreno denunciando a existência de minério de urânio. Inicialmente exploradas por particulares e passando depois pelo Banco Fonsecas & Burnay, tiveram o apogeu da sua exploração com uma empresa inglesa, a CPR — Companhia Portuguesa de Rádio. No início da década de 60, o Estado Português acaba por explorar o urânio, passando aquela a fer a designação de Junta de Energia Nuclear.

Para acompanhar esta empresa com os meios humanos foi ali construído um espaço habitacional ainda hoje existente e dotado de algumas infra-estruturas, nomeadamente: casa de espectáculos com projecção de filmes, campo de futebol e área de lazer. Também o conhecido Hotel da Urgeiriça teve, como base da sua construção, o alojamento dos técnicos e famílias inglesas que por lá passavam largos espaços de tempo na exploração desta empresa e apreciando muito o espaço arborizado, onde ainda hoje está instalado.

O outro factor foi a fundação da CPFE, isto sensivelmente no ano de 1924. Produzia então carboneto de cálcio e cianamida cálcica. Só uns anos mais tarde começou a produzir gusa, ferro-silicio e recentemente silício-metal. Estas duas empresas tiveram os chamados «anos de ouro»' nos anos 60, 70 e até 80, altura em que

começa a registar-se algum declínio e o ponto de ruptura na CPFE aparece em 1986.

Quanto à ENU, abalada pelos custos de produção, iniciou o seu período de agonia económica há alguns anos, encontrando-se, de momento, em fase de encerramento.

Não nos podemos alhear da parte cultural que, através do contacto de mão-de-obra especializada de quadros técnicos das empresas com toda a população que, por si só, já tinha fortes tradições culturais, elevou este lugar a um plano de destaque a nível distrital.

No aspecto desportivo, foram criados dois campos de futebol, onde a prática desportiva quase era obrigatória, dado o empenho de todas as partes. O facto de Canas de Senhorim não ser sede de concelho, o aumento da tarifa de energia, a queda da procura de urânio devido ao desarmamento nuclear e a falta de planos a longo prazo do Governo, e da sua política actual no que respeita a empresas deste tipo, sem qualquer tentativa de recuperação ou de implementação de novas empresas nesta vila, fez com que se chegasse a uma situação de ruptura, que em nada contribui para um desenvolvimento equilibrado da região, já que cerca de 600 trabalhadores e suas famílias ficaram abruptamente privados do seu sustento.

Na comunidade canense podemos encontrar alguns pontos relevantes, que continuam a caracterizar esta vila. A actividade comercial tem crescido de uma forma lenta, não se perspectivando uma mudança desta situação. Por sua vez, a agricultura mantém um peso significativo junto das povoações limítrofes, sendo o cultivo da vinha o mais importante, embora perdure em toda a freguesia uma agricultura de subsistência.

Ao longo dos últimos 25 anos, a escola secundária exerceu uma acção educativa fundamental. Os cursos nela ministrados têm respondido, na medida do possível, às necessidades dos jovens para se inserirem no mundo do trabalho. Os cursos nocturnos têm possibilitado a continuidade dos estudos aos que, por força das circunstâncias, tiveram de ingressar mais cedo na sua actividade profissional.

Apesar das vicissitudes referidas, não podemos esquecer que as actividades culturais se apresentam ainda com o vigor de anos anteriores, nomeadamente através do Grupo de Teatro Amador de Canas de Senhorim, que consegue levar aos palcos algumas peças características da região beirã e que retratam bem o espólio deixado por antepassados recentes.

Com tradições muito mais antigas, o Carnaval de Canas de Senhorim é um autêntico cartaz nacional. A sua singularidade proporciona a milhares de visitantes um espectáculo inesquecível, que convida a ser vivido todos os anos.

Esta freguesia acompanhou a «onda» de rádios locais, sendo uma das pioneiras na região. Hoje a Expresso FM já é considerada um veículo importante na divulgação dos anseios da população. Sendo a charneira de quase todas as actividades culturais e desportivas, divulgando o concelho por toda a região beirã, esta constitui assim um dos factores relevantes para que Canas de Senhorim seja o centro cultural do concelho.

Uma riqueza ainda não referenciada e que, em termos reais, não sofreu alterações é o património histórico--cultural. Existem várias casas solarengas do século xvi, hoje vocacionadas para o turismo de habitação e várias ruas onde o granito é predominante.

Canas de Senhorim continua a ser a freguesia do concelho com mais população e onde a comunidade jovem ocupa um lugar de destaque. O desporto amador não está,

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