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0201 | II Série A - Número 010 | 01 de Junho de 2002

 

Actualmente, ficaram para trás os almocreves, e Baltar é uma freguesia de grande movimento, comercial e industrial. Uma vasta diversidade de estabelecimentos comerciais é acompanhada pelas inúmeras oficinas e pequenas fábricas de mobiliário.
É, sem dúvida, uma freguesia moderna e progressista. O "Kartódromo" construído recentemente (1994) simboliza, o progresso e o grau civilizacional que atingiu a freguesia.

Baltar e as invasões francesas...

Foi em Paredes que, em 1809, aquando da sua retirada, o exército francês "largou o fogo à pólvora e encravou a artilharia que não podia conduzir".
Na cruzada que opôs o exército napoleónico ao resto do mundo, Portugal acabou também por se ver envolvido. A recusa em colaborar com o Império Gaulês, contra Inglaterra, significou três invasões ao nosso país, entre 1807 e 1810. A Segunda Invasão, comandada por Soult, é aquela que nos interessa mais, porque nela se viu envolvido o concelho de Paredes.
Junot havia sido expulso do País em 1808, após o grito de revolta da cidade do Porto, que ecoou por todo o país e motivou as vitórias da Roliça e Vimeiro.
No ano seguinte, Soult, que tentara entrar em Portugal por Caminha e Vila Nova de Cerveira, sem sucesso, interna-se no nosso país por Trás-os-Montes. Apesar da forte resistência das populações, e muito sangue derramado, os franceses conseguem avançar até Braga.
Aqui chegadas, as tropas gaulesas dividiram-se em três colunas, com um único destino: o Porto. A primeira coluna, comandada por Franceschi e Mermet, tomou a estrada velha de Guimarães para Santo Tirso. A segunda coluna, comandada pelo próprio Soult, dirigiu-se à Barca da Trofa. A terceira, dirigida por Lorge, seguiu por Barcelos em direcção à Ponte do Ave.
Chegaram então os franceses à cidade-invicta e dela se apoderaram. Tudo parecia definitivamente decidido, mas numa manhã, o Duque da Dalmácia, que passara a noite no sumptuoso Palácio das Carrancas, recebe a notícia de que decorria uma violenta troca de tiros entre as sentinelas do general Foy, postadas no alto do Bonfim e Nova Sintra, e alguns destacamentos das tropas portuguesas e inglesas, que atravessavam o rio de Quebrantões. Soult fora apanhado de surpresa. Sempre pensara que o contra-ataque dos portugueses iria acontecer, sim, mas a partir da zona da Foz, e afinal tudo se passou exactamente do lado contrário. A tropa conjugada de Wellesley e Hill avançara durante a noite anterior até Vila Nova de Gaia.
Ao amanhecer, as tropas já estavam no sopé de Campanhã, com a ajuda de alguns barqueiros que os ajudaram a atravessar o rio Douro.
Graças ao nevoeiro, os primeiros destacamentos subiram a monte e surpreenderam as vigilâncias francesas. A situação era de tal forma irreversível que Soult decidiu bater em retirada, largando em enfermarias improvisadas o meio milhar de feridos registados nas batalhas contra os portugueses. Eram nessa altura uns 12 mil homens, que fugiam de forma desordenada pela chamada estrada de Amarante. O destino da fuga era incerto. Soult ainda não decidira, porque todas as soluções tinham os seus inconvenientes. Sant´Anna Dionísio, em "Ares de Trás-os-Montes", descreveu superiormente esses momentos em que Soult ansiava por uma solução ideal:
"O problema a resolver, nessa marcha apressada, não podia ser mais grave. Sentindo a superioridade das forças atacantes, Soult reconhecera a necessidade de evitar a todo o transe um confronto regular, pois não só conhecia o grau de fadiga das suas tropas, acossadas pouco antes da linha do Vouga, como não podia esquecer a grande falta de municiamento com que lutava, devida à ruptura de comunicações tanto para os lados da Galiza, como de Salamanca.
Aquele maldito Trant, com as suas incansáveis guerrilhas - e aquele amaldiçoado Silveira, com as suas astúcias e pertinácias de transmontano, haviam-lhe estragado todos os planos. Agora, que fazer? Seguir, para onde e por onde? Para o Douro ou para o Marão? Para Barroso ou para Vila Pouca?
A decisão impunha-se com extrema urgência para o silencioso e narigudo cabo-de-guerra, ainda há poucas horas tão bem instalado na moradia apalaçada dos Carrancas e agora à testa daquela melancólica centopeia, de soldados bigodosos, de solípedes mal-tratados, de carripanas com bagagens de toda a sorte, algumas carretas de artilharia bastante cambada e sem munições. Desde Valongo até Penafiel (enquanto Wellesley terminaria o almoço que lhe deixara e beberia aos tragos lentos, alguma garrafa de velho Porto oferecido pela Feitoria) era preciso decidir. A ponte de Amarante, embora um pouco escalavrada pelas recentes refregas aí travadas, dia e noite, entre os soldados franceses e os milicianos de Silveira, estava livre. Mas como seria a subida ou a transposição da montanha? Onde estaria Silveira, com os seus duros destacamentos saídos de Chaves, mancomunados com os não menos duros guerrilheiros, armados de fundas, chuços e bacamartes?"
Ainda indeciso, tomou Soult uma decisão inesperada: depois de todos os destacamentos se juntarem, partiram pela estrada de Margaride, para as bandas da serra da Cabreira. Chegados ao cume da encosta de Baltar, Soult ordenou que ali fossem abandonadas todas as bagagens pesadas e destruídas as carripanas. A própria artilharia seria sacrificada.
Saíram os franceses da estrada para Amarante e foram por atalhos, verdadeiros "caminhos de cabras" só frequentados "pelos porqueiros que iam ou vinham das feiras".
De Baltar até à Galiza, percorreram 20 léguas, ao longo de 80 horas, conseguindo assim escapar à perseguição lusitana. Baltar foi ponto fulcral da estratégia francesa, que embora de forma humilhante, logrou a fuga vitoriosa de Portugal.

Património histórico-cultural

- Dólmen do Padrão
Monumento megalítico com motivos ondulados ou serpentiformes, onde se pode ver também uma figura antropomórfica estilizada com braços e pernas arqueados.
A decoração apresenta-se bicolor, vermelha e negro, ao contrário de outros dólmens encontrados noutras regiões.
- Cruzeiro
Localizado na serra de Baltar, foi construído em 1940, com o objectivo de comemorar o centenário da Independência de Portugal.
- Igreja Paroquial
A data de construção é de 1745. A frontaria foi totalmente revestida a azulejo, inclusivamente a torre sineira. Um painel também de azulejo, acima do porta, representa o Orago da Freguesia, São Miguel.