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0042 | II Série A - Número 074S | 09 de Julho de 2004

 

habitante o Ermitão da Ermida que Dom Fuas mandou construir para abrigo da imagem, com janelas abertas para o oceano de onde pescadores e mareantes lançavam as vistas e os rogos de protecção. Com a construção da Igreja no século XIV, ao tempo de El-Rei D. Fernando I, já os romeiros ocorriam e a Ermida era escassa. O novo templo abrigava as gentes, mas o Sítio continuava ermo e deserto, varrido pelo vendo e habitado apenas pelo Ermitão de Nossa Senhora, que aos poucos foi levando a família para o local, onde semeavam e colhiam provendo o seu sustento e dando alguma assistência aos peregrinos.
Naturalmente, porque no Sítio de Nossa Senhora não existiam nem água, nem provisões, nem forragens em quantidade para suprir todas as necessidades dos peregrinos, começaram as gentes da Pederneira, por não haver outro povoado na vizinhança, a suprir tais necessidades com alimentos e até água que traziam das fontes da Vila e carregavam para o Sítio para vender. A prática, de início suficiente, acabou com o tempo, por não satisfazer. Diárias eram as visitas dos romeiros e grandes eram as romagens, de tal modo que inviabilizavam as idas e vindas diárias entre o Sítio e a Pederneira, obrigando a montar tenda, primeiro com carácter temporário e mais tarde com permanência. Surgiram assim as primeiras tendas e logo as primeiras casas. E sucessivamente, casas de habitação, de comércio e de pernoita, porque também romeiros e romagens queriam abrigo para a noite, com suas coisas e animais.
Por outro lado, desde a construção da Igreja ordenada por Dom Fernando e que este Rei veio, em pessoa, inaugurar em 1377, as obras no Sítio e no santuário de Nossa Senhora, praticamente não pararam. Foi Dom João I a mandar acrescentar os alpendres; Dom João II a fazer erigir nova capela-mor; Dom Manuel a ordenar novos alpendres; Dona Leonor a mandar levantar torres e campanário; Dom Pedro II a patrocinar completa transformação em todo o edifício de tal modo, que tudo quanto hoje existe na igreja é do século XVII e seguintes. Tudo isto enquanto o Sítio assiste ao crescendo do culto da Nossa Senhora, ao constante aumento da sua população residente e das romagens, ao desenvolvimento imparável de uma povoação a que a permanência dos seus habitantes dá o carácter de estabilidade e fixidez.
O Sítio tinha personalidade totalmente diferente da Praia e da Pederneira. O Sítio de Nossa Senhora foi a face mística da Nazaré, e o centro religioso do País até às aparições de Fátima de 1917 e sua consagração, nos anos que se seguiram. O nascer do sol testemunha o início do devocionário quotidiano que se desenrolava ao longo do dia em missas, cânticos, ladainhas, orações. Missas, matinas, vésperas, tudo anunciado pelo bater dos sinos, levando a mensagem pelos ares, de praia do Norte à vastidão dos matagais, por sobre a copa dos pinheiros, a alertarem as povoações da Praia, da Pederneira e dos casais vizinhos.
O Sítio vivia para o seu Santuário, do seu Santuário e com o seu Santuário. E desta espiritualidade profunda, vivida e sentida, resultou o aparecimento de uma intelectualidade desde logo ali e desabrochar, que ali se sediou, radicou e permaneceu.
Pode dizer-se singelamente que, no século XVIII, a Pederneira tinha a Câmara, os juízes, os vereadores, os oficias e as milícias; a Praia tinha os barcos, os pescadores, o mar, as redes, o peixe e os naufrágios; e o Sítio tinha a Nossa Senhora, os milagres, a fé, o teatro, a musica, o canto, a cultura, arte, os divertimentos, as festas, as touradas, os fogos de artifício, o espírito e o intelecto. O século XIX foi ainda um prolongamento deste quadro, já a deixar antever a profunda mudança que se aproximava. Nos finais do século a Pederneira estava já decadente, a Praia vislumbrava já o filão do turismo e o Sítio sustentava a pompa e circunstância de outros tempos.

Bibliografia: "Nazareth, Pederneira, Sítio e praia, para a história da terra e da gente", 1996 de João António Godinho Granada.

A Real Casa da Nossa Senhora da Nazaré, hoje a Confraria da Nossa Senhora da Nazaré
Em 14 de Setembro de 1182, saiu o Alcaide de Porto de Mós, Dom Fuas Roupinho a caçar por suas terras. Diz-se que o dia estava de nevoeiro e é provável que se tratasse de uma daquelas manhãs de fim de Verão, em que todas as neblinas matinais se acumulam junto à costa para se dispersarem por volta do meio-dia, dando lugar a tardes amenas e soalheiras.
Como quer que fosse, cavalgava o Alcaide pelos matagais que então acompanhavam a zona despovoada da orla marítima, quando um veado se levantou e logo disparou em veloz correria. Atrás dele se foi Dom Fuas, dando de esporas ao cavalo e tão embebido ia na perseguição do antílope e tão cerrado estava o nevoeiro cerca do mar, que só ao ver o animal precipitar-se no abismo, o cavaleiro assumiu consciência de que lhe estaria reservado o mesmo destino, se não alcançasse fazer parar o cavalo nos últimos palmos de terra firme. E daí, como crente que era, invocou o auxílio celestial da Mãe de Cristo, Santa Maria, Nossa Senhora. Em boa hora o fez. O cavalo tomado de súbita firmeza susteve o salto e recuando assentou os pés em terra firme, enquanto que o veado se afundava no abismo em grande queda para o mar.
Depois desta milagrosa intervenção, fez o alcaide questão de manifestar o seu reconhecimento. E para que dúvidas não surgissem no futuro, fez por escrito, disposições de última vontade, declarando querer deixar uma Igreja a Nossa Senhora, para o que mandou homens por Leiria, Porto de Mós e lugares vizinhos para que trouxessem pedreiros e fizessem um templo. E no mesmo instrumento lhe fazia doação de "toda a terra que está entre os rios que vão de Alcobaça, passando por Águas Bellas (actualmente Valado dos Frades), depois entre o mar, e a mata de Pataias". Havia sido com este património que se iniciou a Casa de Nossa Senhora da Nazaré, institucionalizada em Irmandade ou Confraria ou simples Ermida.
A actual Confraria da Nossa Senhora da Nazaré é hoje em dia a responsável por todo o património doado à Santa por Dom Fuas Roupinho na época. A Confraria foi ao longo do tempo valorizando o seu património, sendo hoje a responsável pelos grandes pontos dinamizadores do Sítio, é considerada uma Associação de culto à Nossa Senhora da Nazaré e uma importante Instituição de Solidariedade Social. Tem a seu cargo o hospital utilizado pelos utentes do concelho, um jardim-de-infância, uma creche, uma sala de actividades de tempos livres, um lar para idosos, assim como todo o serviço de apoio ao domicílio e a chamada "sopa dos pobres" para todos os carenciados, isto no âmbito social, porque no âmbito religioso a Confraria é ainda responsável pelo Santuário da Nossa Senhora da Nazaré e toda a zona envolvente, desde o Largo da Nossa Senhora da Nazaré, à Capela, a algumas lojas de artigos