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Quarta-feira, 23 de março de 2016 II Série-A — Número 61

XIII LEGISLATURA 1.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2015-2016)

S U M Á R I O

Decretos (n.os 17 a 20/XIII):

N.º 17/XIII — Elimina a requalificação de docentes, procedendo à quarta alteração ao Decreto-Lei n.º 132/2012, de 27 de junho, à décima quarta alteração ao Decreto-Lei n.º 139-A/90, de 28 de abril, e à primeira alteração à Lei n.º 80/2013, de 28 de novembro.

N.º 18/XIII — Aprova as Grandes Opções do Plano para 2016-2019.

N.º 19/XIII — Aprova o Orçamento do Estado para 2016. (a)

N.º 20/XIII — Aprova o Quadro Plurianual de Programação Orçamental para os anos de 2016-2019.

(a) É publicado em Suplemento.

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DECRETO N.º 17/XIII

ELIMINA A REQUALIFICAÇÃO DE DOCENTES, PROCEDENDO À QUARTA ALTERAÇÃO AO

DECRETO-LEI N.º 132/2012, DE 27 DE JUNHO, À DÉCIMA QUARTA ALTERAÇÃO AO DECRETO-LEI N.º

139-A/90, DE 28 DE ABRIL, E À PRIMEIRA ALTERAÇÃO À LEI N.º 80/2013, DE 28 DE NOVEMBRO

A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea c) do artigo 161.º da Constituição, o seguinte:

Artigo 1.º

Objeto

A presente lei elimina a requalificação de docentes, procedendo às seguintes alterações:

a) Quarta alteração ao Decreto-Lei n.º 132/2012, de 27 de junho, que estabelece o novo regime de

recrutamento e mobilidade do pessoal docente dos ensinos básico e secundário e de formadores e

técnicos especializados;

b) Décima quarta alteração ao Decreto-Lei n.º 139-A/90, de 28 de abril, que aprova o Estatuto da Carreira

dos Educadores de Infância e dos Professores dos Ensinos Básico e Secundário (Estatuto da Carreira

Docente);

c) Primeira alteração à Lei n.º 80/2013, de 28 de novembro, que estabelece o regime jurídico da

requalificação de trabalhadores em funções públicas visando a melhor afetação dos recursos humanos

da Administração Pública.

Artigo 2.º

Norma revogatória

São revogados:

a) Os artigos 47.º-G a 47.º-I, que integram a secção IV do capítulo IV, do Decreto-Lei n.º 132/2012, de 27 de

junho, alterado pelo Decreto-Lei n.º 146/2013, de 22 de outubro, pela Lei n.º 80/2013, de 28 de novembro,

e pelo Decreto-Lei n.º 83-A/2014, de 23 de maio;

b) O artigo 64.º-A do Decreto-Lei n.º 139-A/90, de 28 de abril, alterado pelos Decretos-Leis n.os 105/97, de

29 de abril, 1/98, de 2 de janeiro, 35/2003, de 27 de fevereiro, 121/2005, de 26 de julho, 229/2005, de 29

de dezembro, 224/2006, de 13 de novembro, 15/2007, de 19 de janeiro, 35/2007, de 15 de fevereiro,

270/2009, de 30 de setembro, 75/2010, de 23 de junho, 41/2012, de 21 de fevereiro, 146/2013, de 22 de

outubro, e pela Lei n.º 80/2013, de 28 de novembro;

c) O artigo 44.º da Lei n.º 80/2013, de 28 de novembro.

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Artigo 3.º

Salvaguarda de direitos

Todos os docentes abrangidos por um processo de requalificação, independentemente da fase em que se

encontre, devem regressar às funções que desempenhavam à altura da colocação em situação de

requalificação, sem que os efeitos decorrentes deste processo importem, para os mesmos, qualquer perda ou

diminuição de direitos, nomeadamente no que se refere à retribuição, à progressão na carreira e à contabilização

de contribuições referentes ao regime contributivo.

Artigo 4.º

Entrada em vigor e produção de efeitos

1- A presente lei entra em vigor no dia seguinte ao da sua publicação.

2- Exceciona-se do disposto no número anterior a revogação dos artigos 47.º-G a 47.º-I do Decreto-Lei n.º

132/2012, de 27 de junho, alterado pelo Decreto-Lei n.º 146/2013, de 22 de outubro, pela Lei n.º 80/2013,

de 28 de novembro, e pelo Decreto-Lei n.º 83-A/2014, de 23 de maio, e do artigo 64.º-A do Estatuto da

Carreira Docente, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 139-A/90, de 28 de abril, alterado pelos Decretos-Leis

n.os 105/97, de 29 de abril, 1/98, de 2 de janeiro, 35/2003, de 27 de fevereiro, 121/2005, de 26 de julho,

229/2005, de 29 de dezembro, 224/2006, de 13 de novembro, 15/2007, de 19 de janeiro, 35/2007, de 15

de fevereiro, 270/2009, de 30 de setembro, 75/2010, de 23 de junho, 41/2012, de 21 de fevereiro, e

146/2013, de 22 de outubro, e pela Lei n.º 80/2013, de 28 de novembro, cujos efeitos retroagem a 29 de

janeiro de 2016.

Aprovado em 12 de fevereiro de 2016.

O Presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues.

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DECRETO N.º 18/XIII

APROVA AS GRANDES OPÇÕES DO PLANO PARA 2016-2019

A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea g) do artigo 161.º da

Constituição, o seguinte:

Artigo 1.º

Objeto

São aprovadas as Grandes Opções do Plano para 2016-2019, que integram as medidas

de política e os investimentos que as permitem concretizar.

Artigo 2.º

Enquadramento estratégico

As Grandes Opções do Plano para 2016-2019 enquadram-se nas estratégias de

desenvolvimento económico e social e de consolidação das contas públicas consagradas

no Programa do XXI Governo Constitucional.

Artigo 3.º

Grandes Opções do Plano

As Grandes Opções do Plano para 2016-2019 integram o seguinte conjunto de

compromissos e de políticas:

a) Aumentar o rendimento disponível das famílias para relançar a economia;

b) Resolver o problema do financiamento das empresas;

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c) Prioridade à inovação e internacionalização das empresas;

d) Promover o emprego, combater a precariedade;

e) Melhorar a participação democrática e a defesa dos direitos fundamentais;

f) Governar melhor, valorizar a atividade política e o exercício de cargos

públicos;

g) Garantir a Defesa Nacional;

h) Segurança interna;

i) Política criminal;

j) Administração da Justiça;

k) Simplificação administrativa e valorização das funções públicas;

l) Regulação e supervisão dos mercados;

m) Valorizar a autonomia das regiões autónomas;

n) Descentralização, base da reforma do Estado;

o) Defender o Serviço Nacional de Saúde, promover a saúde;

p) Combater o insucesso escolar, garantir 12 anos de escolaridade;

q) Investir na juventude;

r) Promover a educação de adultos e a formação ao longo da vida;

s) Modernizar, qualificar e diversificar o ensino superior;

t) Reforçar o investimento em ciência e tecnologia, democratizando a inovação;

u) Reagir ao desafio demográfico;

v) Uma nova geração de políticas de habitação;

w) Mar: uma aposta de futuro;

x) Afirmar o interior;

y) Promover a coesão territorial e a sustentabilidade ambiental;

z) Valorizar a atividade agrícola e florestal e o espaço rural;

aa) Liderar a transição energética;

bb) Investir na Cultura;

cc) Garantir a sustentabilidade da segurança social;

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dd) Melhor justiça fiscal;

ee) Combater a pobreza;

ff) Construir uma sociedade mais igual;

gg) Um Portugal global;

hh) Promover a língua portuguesa e a cidadania lusófona;

ii) Uma nova política para a Europa.

Artigo 4.º

Enquadramento orçamental

As prioridades de investimento constantes das Grandes Opções do Plano para 2016-

2019 são contempladas e compatibilizadas no âmbito do Orçamento do Estado para

2016.

Artigo 5.º

Disposição final

É publicado em anexo à presente lei, da qual faz parte integrante, o documento das

Grandes Opções do Plano para 2016-2019.

Aprovado em 16 de março de 2016

O Presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues.

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ANEXO

APROVA AS GRANDES OPÇÕES DO PLANO PARA 2016-2019

Sumário Executivo

Diagnóstico Económico e Social

1. AUMENTAR O RENDIMENTO DISPONÍVEL DAS FAMÍLIAS PARA

RELANÇAR A ECONOMIA

2. RESOLVER O PROBLEMA DO FINANCIAMENTO DAS EMPRESAS

3. PRIORIDADE À INOVAÇÃO E INTERNACIONALIZAÇÃO DAS EMPRESAS

4. PROMOVER O EMPREGO, COMBATER A PRECARIEDADE

5. MELHORAR A PARTICIPAÇÃO DEMOCRÁTICA E A DEFESA DOS

DIREITOS FUNDAMENTAIS

6. GOVERNAR MELHOR, VALORIZAR A ATIVIDADE POLÍTICA E O

EXERCÍCIO DE CARGOS PÚBLICOS

7. GARANTIR A DEFESA NACIONAL

8. SEGURANÇA INTERNA

9. POLÍTICA CRIMINAL

10. ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA

11. SIMPLIFICAÇÃO ADMINISTRATIVA E VALORIZAÇÃO DE FUNÇÕES

PÚBLICAS

12. REGULAÇÃO E SUPERVISÃO DOS MERCADOS

13. VALORIZAR A AUTONOMIA DAS REGIÕES AUTÓNOMAS

14. DESCENTRALIZAÇÃO, BASE DA REFORMA DO ESTADO

15. DEFENDER O SERVIÇO NACIONAL DE SAÚDE, PROMOVER A SAÚDE

16. COMBATER O INSUCESSO ESCOLAR, GARANTIR 12 ANOS DE

ESCOLARIDADE

17. INVESTIR NA JUVENTUDE

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18. PROMOVER A EDUCAÇÃO DE ADULTOS E A FORMAÇÃO AO LONGO DA

VIDA

19. MODERNIZAR, QUALIFICAR E DIVERSIFICAR O ENSINO SUPERIOR

20. REFORÇAR O INVESTIMENTO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA

DEMOCRATIZANDO A INOVAÇÃO

21. REAGIR AO DESAFIO DEMOGRÁFICO

22. UMA NOVA GERAÇÃO DE POLÍTICAS DE HABITAÇÃO

23. MAR: UMA APOSTA DE FUTURO

24. AFIRMAR O INTERIOR

25. PROMOVER A COESÃO TERRITORIAL E A SUSTENTABILIDADE

AMBIENTAL

26. VALORIZAR A ATIVIDADE AGRÍCOLA E FLORESTAL E O ESPAÇO

RURAL

27. LIDERAR A TRANSIÇÃO ENERGÉTICA

28. INVESTIR NA CULTURA

29. GARANTIR A SUSTENTABILIDADE DA SEGURANÇA SOCIAL

30. MELHOR JUSTIÇA FISCAL

31. COMBATER A POBREZA

32. CONSTRUIR UMA SOCIEDADE MAIS IGUAL

33. UM PORTUGAL GLOBAL

34. PROMOVER A LÍNGUA PORTUGUESA E A CIDADANIA LUSÓFONA

35. UMA NOVA POLÍTICA PARA A EUROPA

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SUMÁRIO EXECUTIVO

As Grandes Opções do Plano 2016-2019 do XXI Governo Constitucional traçam um

caminho alternativo, gerador de melhores resultados económicos e sociais.

A crise das dívidas soberanas, que também se abateu sobre Portugal, resultou, no nosso

caso, de um acumular de desequilíbrios estruturais – público, demográfico, institucional

e financeiro – para o qual as políticas subsequentes não souberam dar uma resposta

adequada, que evitasse o empobrecimento do país. As políticas adotadas foram sempre

justificadas com a consideração de que não existia uma alternativa. Só a resiliência dos

funcionários públicos, a perseverança dos trabalhadores e das empresas do sector

privado e a melhoria do desenho das instituições europeias geraram algum alívio ao

processo de ajustamento da economia portuguesa.

Encontrar o caminho do crescimento económico sustentado requer um conjunto de

medidas social e economicamente coerentes e, ao mesmo tempo, compatível com a

preservação das condições de sustentabilidade da despesa pública. É este princípio que

guia as opções do XXI Governo. À luz deste princípio, o Governo definiu cinco

prioridades que consubstancia nas Grandes Opções do Plano para o período de 2016 a

2019. De um ponto de vista económico e social, o Governo pretende gerar mais

crescimento, com melhor emprego e mais igualdade.

Estas Opções visam retomar princípios fundamentais que têm de ser reafirmados na

ação governativa:

● Garantir o respeito pelos direitos fundamentais dos cidadãos à luz da Constituição

e dos princípios consagrados numa democracia europeia (assistência na infância,

velhice e desemprego), repondo a credibilidade do Estado enquanto parte do

contrato social;

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● Reforçar a credibilidade e a qualificação do Estado nas suas funções exclusivas de

soberania (funções soberanas, regulação, salvaguarda de interesses estratégicos

nacionais), bem como nas funções de prestação de serviços com relevância para a

sociedade (educação e saúde) e no seu insubstituível papel de redistribuição de

riqueza e proteção contra os riscos. Este reforço decorre da rejeição de novas

concessões ou privatizações assentes no preconceito de que a gestão pública é

menos eficaz e menos competente;

● Promover uma gestão eficiente e responsável dos recursos públicos, garantindo

que as instituições públicas cumprem funções essenciais para o crescimento

económico, como o combate à pobreza e à exclusão e o reforço das qualificações e

da capacidade científica e tecnológica;

● Respeitar e estimular a iniciativa privada, limitada pelas regras da concorrência,

proteger os direitos dos trabalhadores, a saúde pública e o ambiente, e trabalhar no

sentido de que as instituições públicas criem condições que promovam o

investimento privado e a internacionalização das empresas portuguesas;

● Dignificar e requalificar a presença internacional portuguesa, quer no espaço

institucional europeu, quer com terceiros países, defendendo ativamente a agenda e

os interesses nacionais.

O relançamento de um crescimento forte e com uma base sólida e sustentável é

essencial para garantir a solvabilidade financeira do país e para melhorar as condições

de vida dos portugueses. A governação económica deve devolver Portugal a um

caminho de crescimento económico, com igualdade de oportunidades e equidade, e num

diálogo social compatível com uma democracia madura e transparente.

Para um crescimento económico sustentado revela-se essencial a aposta na

competitividade das empresas, criando as condições para o investimento, a inovação e a

internacionalização, ao mesmo tempo que se promove a criação de emprego e se

combate a precariedade.

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Abandonando de vez a ideia de reforço da competitividade centrado na compressão

salarial, a estratégia passa antes pela valorização da capacidade científica nacional e o

reforço da cooperação entre empresas, centros de conhecimento e instituições de

transferência de tecnologia.

O crescimento económico inclusivo requer, por sua vez, uma Administração Pública

capaz de cumprir as suas funções de soberania, para melhorar a qualidade da

democracia, da segurança interna e da defesa, mas também da justiça e da regulação

económica e uma Administração Pública forte, que valorize o exercício de funções

públicas, rejeitando os atuais regimes de requalificação e mobilidade especial.

Na base desse crescimento estão as pessoas, que constituem o mais importante ativo do

país. Apostar na valorização do capital humano é condição primeira para um país mais

próspero, o que implica proporcionar a todos oportunidades de qualificação, através da

educação e da formação profissional. Neste contexto, e considerando o atual desafio

demográfico, será dada também prioridade a políticas que promovam a natalidade e a

parentalidade, que permitam o regresso dos emigrantes e contribuam para o melhor

acolhimento dos imigrantes, sem esquecer novas políticas de habitação e de reabilitação

urbana.

A inovação constitui outro fator-chave para o aumento da competitividade e do

crescimento pela criação de valor. Propõe-se um aumento de recursos para a área de

transferência de tecnologia, com um reforço dos incentivos à maior integração do

conhecimento nas cadeias de valor. As universidades e os centros de investigação

devem ser integrados, reforçando o papel de desenvolvimento empresarial que já hoje

têm.

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Importa tirar partido pleno do nosso território, aproveitando todas as suas

potencialidades, promovendo um desenvolvimento económico equilibrado, harmonioso

e ecologicamente sustentável, mediante um aproveitamento racional dos nossos recursos

endógenos. A estratégia de desenvolvimento territorial terá duas frentes – a atlântica e a

peninsular – igualmente dignas, que abrem ambas para vastos mercados, com inúmeras

oportunidades por explorar. Os níveis de pobreza, de precariedade e de desigualdade

atualmente existentes em Portugal constituem não somente uma clara violação dos

direitos de cidadania que põe em causa a nossa vivência democrática, mas constituem

igualmente um obstáculo ao desenvolvimento económico. Neste contexto, o Governo

assume o compromisso de defender e fortalecer o Estado Social, de implementar uma

estratégia de combate à pobreza e à exclusão social, de garantir a sustentabilidade da

Segurança Social e a reposição dos mínimos sociais, de conduzir Portugal no caminho

do crescimento e do desenvolvimento sustentado.

Portugal deve projetar uma filosofia clara na ordem internacional, promotora da paz,

defensora dos Direitos Humanos, da Democracia e do Estado de Direito, a par com uma

atitude consentânea no âmbito das políticas de cooperação e desenvolvimento. O

Governo colocará um destaque particular na afirmação da língua portuguesa, na

implantação de uma cidadania lusófona e no estreitamento da ligação às comunidades

portuguesas no estrangeiro.

Defender Portugal exige, por parte do Governo português, uma atitude diferente no

quadro da União Europeia (UE) e da União Económica e Monetária (UEM). É preciso

defender mais democracia na UE, maior solidariedade entre os diferentes estados-

membros e o aprofundamento da coesão económica e social da UE.

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DIAGNÓSTICO ECONÓMICO E SOCIAL

No quadro da programação de políticas públicas assume relevância crucial a

identificação da real situação da economia e sociedade portuguesas para sobre elas atuar

de forma adequada.

A economia portuguesa exibe uma preocupante redução no investimento, a que não é

alheia a redução da taxa de poupança que se observou desde o período anterior à entrada

na área do euro. A economia portuguesa não conseguiu evitar uma desaceleração lenta,

mas sustentada, da produtividade total dos fatores, que se iniciou em finais da década de

80. A queda da taxa de poupança atingiu valores preocupantes no auge da atual crise.

Em 2012, perante o aumento galopante do desemprego, a taxa de poupança das famílias

caiu para 6,9 % do rendimento disponível. Os valores mais recentes divulgados pelo

Instituto Nacional de Estatística, I. P. (INE, I. P.), para o 3.º trimestre de 2015, colocam

a taxa de poupança das famílias em apenas 4% do rendimento disponível.

Na década anterior à crise internacional (2007/2008) verificou-se uma retração do

crescimento económico em todos os países da Organização para a Cooperação e

Desenvolvimento Económico (OCDE). Em resultado da emergência asiática, verificou-

se uma maior concorrência para as exportações de produtos industriais e uma subida dos

preços das matérias-primas no mercado internacional. Portugal, com uma especialização

marcada por uma estrutura de produção próxima da dos países emergentes, foi

particularmente afetado. Num período inicial o país beneficiou do choque positivo da

entrada de fundos europeus e do acesso preferencial a um mercado de 400 milhões de

consumidores, que beneficiava de alguma proteção. Contudo, Portugal assistiu à gradual

degradação da sua posição, com a progressiva abertura do mercado único aos novos

países membros da União e aos grandes produtores mundiais, em particular nos sectores

tradicionais de especialização do país. A adoção do Euro, que se revelou uma moeda

particularmente forte, reforçou os problemas de competitividade das exportações

nacionais. Hoje, Portugal tem de reafirmar a sua competitividade num mercado mais

aberto e exposto à concorrência global.

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As dificuldades económicas do país não são um exclusivo da primeira década deste século. A desaceleração da produtividade começou no final da década de 80, após o

impacto inicial da abertura à UE com os fluxos comerciais e de fundos europeus. A

economia portuguesa entrou na UE com importantes atrasos estruturais, ao nível das

qualificações, intensidade capitalística, infraestruturas, capacidade tecnológica e

funcionamento das instituições e mercados. Apesar do progresso realizado nas duas

primeiras décadas de integração, os resultados foram insuficientes e muitos destes

atrasos persistiam e contribuíram para fragilizar a situação portuguesa face à crise

internacional. A esta situação, acresciam outros problemas, como a quebra de natalidade

e o envelhecimento.

Na atual fase, os dois maiores instrumentos competitivos da economia portuguesa

decorrem de investimentos materializados antes da crise financeira de 2008: o capital

humano disponível e as infraestruturas e instituições. Nenhum destes ingredientes

estava disponível nos anos 80. Em 1980 apenas 2 % dos trabalhadores das empresas

privadas tinham licenciatura. Em 2010 já eram cerca de 16%. Entre os mais jovens a

percentagem de licenciados aproximou-se dos padrões europeus. A qualidade da

educação tem também vindo a aumentar, fruto dos investimentos realizados na última

década, tal como demonstram os instrumentos comparativos internacionais, como os

testes PISA, ainda que alguns destes progressos tenham sido postos em causa no

período recente, como demonstram os indicadores de insucesso escolar.

Não se pode correr o risco de voltar a perder a corrida da tecnologia. No passado, a

ausência do País dessa corrida contribuiu para a baixa produtividade e custou-lhe

sucessivas vagas de emigração e um aumento enorme da desigualdade entre

portugueses.

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Num espaço económico aberto ao mundo, como é hoje o europeu, o sucesso da

sociedade portuguesa tem que passar por um crescimento sustentado no aumento das

qualificações. Esta aposta permitirá que Portugal deixe de ser o país da UE com uma

maior proporção de indivíduos entre os 10% com menores rendimento salariais. Apenas

a educação e a criação de emprego permitirão ultrapassar situações como esta.

Os últimos 10 anos expuseram a desadequação das instituições portuguesas às

perturbações a que a economia foi sujeita. Por um lado, a globalização, que pode ser

entendida como uma alteração da distribuição internacional da produção, para a qual

Portugal não estava preparado, nomeadamente em termos de formação da força de

trabalho, mostraram as debilidades do modelo de crescimento seguido. Por outro lado, a

entrada no euro decorreu num quadro institucional que não facilitou uma adequada

afetação dos recursos e talentos nacionais aos seus fins mais produtivos. A

modernização que se verificou no tecido produtivo e no padrão de especialização foi

claramente insuficiente face aos desafios externos colocados à economia portuguesa.

A baixa das taxas de juro e a falta de enquadramento institucional adequado induziu

uma excessiva concentração de investimento em sectores de bens não-transacionáveis.

A redução dos custos de financiamento não promoveu um crescimento saudável de

empresas competitivas a nível internacional e, pelo contrário, favoreceu estratégias de

descapitalização, de tal forma que o sector empresarial não-financeiro se encontra

fortemente debilitado, com elevados níveis de endividamento e uma dimensão média

das empresas inferior à da generalidade dos países da UE.

Tendo por base este quadro geral descrevem-se em seguida as principais linhas de força

da evolução verificada nos últimos anos.

Desempenho macroeconómico

A economia portuguesa registou nos últimos anos uma evolução macroeconómica

claramente negativa.

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Desde 2010, o produto interno bruto (PIB) diminuiu em termos reais 6%, um

desempenho pior em cerca de 9 pontos percentuais ao registado na UE28 e 7,2 pontos

pior do que o verificado na Zona Euro, agravando assim de forma significativa a

divergência face ao espaço onde Portugal está inserido.

No mesmo período, a produtividade total dos fatores permaneceu quase constante,

registando também um desempenho pior do que o verificado quer na Zona Euro, em que

aumentou 0,5%, ou no conjunto da UE28, em que aumentou 1,2%.

Este desempenho traduziu-se numa diminuição, em mais de 7%, do rendimento

disponível bruto das famílias no mesmo período, provocando uma regressão

significativa neste indicador.

O reequilíbrio das contas externas foi um dos grandes objetivos do programa de

ajustamento implementado, pois só essa correção permitiria aumentar a capacidade de

financiamento da economia e reduzir o endividamento. Pretendia-se promover uma

aceleração do crescimento das exportações e assegurar um contributo positivo da

procura externa líquida para o crescimento do PIB com uma alteração da estrutura da

economia, corrigindo o excessivo peso dos bens não transacionáveis na economia

portuguesa. Assistiu-se de facto a uma correção acelerada dos desequilíbrios externos,

apresentando a economia portuguesa um saldo positivo da balança corrente e de capitais

desde o final de 2012. Infelizmente, essa correção não resultou da aceleração das

exportações, nem corresponde a uma correção estrutural, ficando a dever-se muito à

compressão significativa da procura interna, com níveis de investimento e de consumo

de bens duradouros muito baixos, e a uma redução do preço dos bens energéticos, que

permitiu que as importações de bens e serviços estivessem, no final de 2014, e em

termos nominais, abaixo do valor registado em 2011. No final de 2015, as importações

estão, no entanto, a um nível superior ao do anterior máximo, o ano de 2008, o que

levanta sérias reservas à interpretação estrutural sobre a melhoria do saldo da balança

corrente.

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As exportações de bens e serviços registam desde 2005 uma evolução muito positiva.

Tudo indica, no entanto, que os recentes aumentos registados de exportações de bens e

serviços não correspondam a uma evolução sustentada, visto que se registam taxas cada

vez menores para o seu crescimento. Em 2014, as exportações cresceram apenas 3,9%

sendo este o crescimento mais baixo desde 2009; e no terceiro trimestre de 2015

apresentam uma taxa de crescimento homóloga de 3,9%, em forte desaceleração face

aos trimestres anteriores. Assim, no conjunto do ano de 2015 regista-se uma aceleração

para 5,9%.

Adicionalmente, assistiu-se, desde 2010, a um contração do emprego e investimento no

sector exportador e transacionável, reduzindo-se assim a sua capacidade produtiva e

colocando em causa a sustentabilidade do crescimento das exportações.

O contributo da procura externa líquida para o crescimento, apesar de o saldo da

balança de bens e serviços (e da balança corrente e de capitais) se ter equilibrado,

começou a diminuir ainda em 2012 (embora se tenha mantido positivo). A partir do

final de 2013, passou a negativo, onde se tem mantido desde essa data, com as

importações a crescerem a um ritmo superior às exportações. Em 2014, as importações

cresceram 7,2% e, em 2015, aceleraram ligeiramente para 7,6%. Nos mesmos anos as

exportações cresceram menos 3,3 e 1,7 p.p., respetivamente.

O comportamento das exportações parece ser assim mais justificado pela entrada em

funcionamento de alguns grandes projetos em implementação desde antes da crise, os

quais aumentaram, de forma significativa, a capacidade exportadora em alguns setores,

bem como pelo efeito da procura de novos mercados por parte de alguns produtores

confrontados com a diminuição significativa da procura interna, do que pela redução

dos custos unitários de trabalho. Uma vez esgotados esses efeitos não parece haver uma

correção estrutural dos problemas de competitividade externa, nem um reforço da

capacidade exportadora do país. Entretanto, o emprego na indústria transformadora caiu

fortemente durante o programa de ajustamento, estando mais de 20% abaixo dos valores

anteriores à crise. Assim, serão estratégias baseadas na inovação e no aumento do valor

acrescentado das exportações as que poderão ser relevantes se se pretender corrigir de

forma estrutural e sustentável o défice externo da economia portuguesa.

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O outro grande objetivo do programa de ajustamento e da política económica adotado

nos últimos anos foi o da correção dos desequilíbrios das contas públicas. A evolução

verificada nos principais indicadores deste domínio revela, por um lado, o fracasso da

estratégia adotada e, por outro, que persistem os importantes desequilíbrios estruturais

das contas públicas, a correção dos quais justifica a adoção de uma estratégia diferente.

O principal indicador do fracasso é o sentido desfavorável da evolução do peso da

dívida pública no PIB, na medida em que mostra a vulnerabilidade crescente do país

face aos seus credores. Prevendo-se no Programa de Ajustamento e nos sucessivos

documentos de estratégia orçamental um momento a partir do qual se iniciaria uma

redução deste indicador, o que é um facto é que hoje o peso da dívida pública no PIB

está em níveis muito elevados, com valores próximos dos 130% no final de 2015. A

dívida pública em percentagem do PIB subiu mais 24 pontos percentuais do que o

previsto no início do Programa de Ajustamento. Se é certo que parte deste aumento é

estatístico, pois deveu-se ao alargamento do perímetro das administrações públicas (pela

incorporação de empresas públicas), parte deveu-se a fatores substantivos endógenos.

Também o défice público diminuiu menos do que inicialmente previsto, já que se prevê

que se termine o ano de 2014 com um valor de 7,2% do PIB face aos 2,3% previstos no

Programa de Ajustamento, e em 2015 deverá atingir os 4,2%, face aos 2,7% assumidos

como objetivo.

Por outro lado, o rácio de despesa pública no PIB não se reduziu de forma significativa,

terminando 2015 em cerca de 48,5%, valor próximo ao de 2011. O rácio da receita

pública total no PIB está igualmente bem acima do que se previa, com valores próximos

dos 44% em 2015.

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23 DE MARÇO DE 2016 19_____________________________________________________________________________________________________________

Verifica-se assim que, ao contrário do que foi defendido, a redução do défice em termos

d e percentagem do PIB foi conseguida pelo aumento do nível de fiscalidade, e com

medidas não estruturais, não sustentáveis intertemporalmente e penalizadoras do

crescimento. Os efeitos recessivos das políticas prosseguidas geraram pressões

orçamentais adicionais. Em particular, os quase 500 mil empregos destruídos são o

principal responsável pelos piores resultados verificados na área da segurança social.

Território

No que respeita ao território, os últimos anos testemunharam uma redução das

disparidades medidas em indicadores como o PIB per capita ou o rendimento

disponível per capita. Infelizmente essa redução não resultou de uma melhoria nas

regiões menos desenvolvidas, mas de uma deterioração mais intensa nas regiões mais

desenvolvidas ou mais dinâmicas.

Não obstante essa redução das disparidades, as dinâmicas de desenvolvimento dos

territórios registam tendências preocupantes de abandono e não valorização do potencial

dos diversos territórios, que se manifestam na redução da população e da atividade

económica em muitas das regiões menos desenvolvidas.

Os fatores de crescimento

A economia portuguesa caracteriza-se por reduzidos níveis de capital humano,

manifesto na baixa qualificação da população, baixa intensidade de capital, em

resultado de baixos níveis de stock de capital e de investimento, e uma intensidade

tecnológica igualmente baixa.

Muitas destas dimensões vinham verificando uma tendência de recuperação que foi

posta em causa durante a recente crise.

Ao nível da educação, Portugal apresenta qualificações muito inferiores aos seus

parceiros, com uma proporção da população que concluiu os níveis mais elevados de

ensino muito baixa.

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II SÉRIE-A — NÚMERO 61 20_____________________________________________________________________________________________________________

Por outro lado, merece destaque que Portugal tem já uma cobertura do ensino pré-

escolar elevada (ligeiramente acima dos valores da média europeia e da OCDE). Em

particular, para crianças com cinco anos a taxa de escolarização atingiu, em 2012/2013,

cerca de 97%. Se as taxas verificadas na faixa etária dos três aos cinco são elevadas, o

mesmo não se pode dizer da escolarização efetiva antes dos três anos. Nesta faixa etária

os valores para os países europeus são bastante díspares. Portugal tem uma taxa de

escolarização de 45,9% que fica claramente aquém dos 65,7% da Dinamarca, mas que,

por exemplo, está francamente acima dos 27,7% da Finlândia. Em 2011, Portugal estava

mesmo na cauda da OCDE no que diz respeito a gastos públicos com educação precoce.

O total de gastos em educação antes dos cinco anos aproximava-se dos 0,4% do PIB,

valor comparável com países como Estónia, Chipre ou Eslováquia. Se na faixa etária

entre os três e os cinco os valores se aproximavam da média da OCDE (0,4% contra

0,5%), no escalão dos mais novos com valores próximos de zero, Portugal estava

claramente abaixo da média. Assim, globalmente, Portugal está muito longe destes

países no que diz respeito aos gastos públicos em educação na primeira infância.

Regista-se também um problema significativo ao nível do abandono e retenção ao nível

do ensino básico. A taxa de abandono e retenção ao nível do básico subiu de 7,8%, no

ano letivo 2008/09, para 10,4% em 2011/2012. Este aumento é transversal aos 3 níveis

de ensino básico, sendo particularmente grave o aumento de quase 5 pontos percentuais

ao nível do 2.º ciclo. Importa destacar que, em 2000, Portugal tinha taxas de retenção e

abandono elevadíssimas com quase 9% no 1.º ciclo e mais de 18% no 3.º ciclo. Estas

taxas atingiram mínimos em 2009 com valores abaixo dos 4% no 1.º ciclo, abaixo de

8% no 2.º ciclo e de cerca de 14% no 3.º ciclo. A partir daqui a situação começou a

agravar-se. No ano letivo 2012/13 registou-se uma taxa de retenção e desistência de

quase 5% no 1.º ciclo, de 12,5% no 2.º ciclo e de 16% no 3.º ciclo.

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O ensino secundário é claramente o nível de ensino que mais adultos (entre os 25 e os 64 anos) atingem ao nível da OCDE. Em média 24% dos indivíduos neste grupo etário

têm uma educação abaixo do ensino secundário, 44% concluem este nível de ensino e

33% o ensino superior. Nos 21 países da UE que pertencem à OCDE os números são

muito semelhantes. Portugal contrasta de forma preocupante com estes valores.

No que diz respeito ao ensino superior, houve uma evolução muito positiva nas últimas

duas décadas, com um forte aumento do número e da percentagem de licenciados entre

os jovens e uma evolução muito importante na produção científica. No entanto, nos

últimos quatro anos houve uma retração do número de matriculados pela primeira vez

no ensino superior, um aumento do abandono escolar por motivos económicos e uma

redução muito acentuada do apoio à formação avançada.

Para além da qualificação dos mais jovens há um claro problema com a qualificação dos

adultos. As baixas percentagens registadas em Portugal afetam de forma gritante a

literacia dos indivíduos, condicionando a capacidade de integração no mercado de

trabalho e contribuindo para o desemprego dos mais velhos e de longa duração.

Mostrando a relevância do número de anos de educação, as taxas de desemprego

registam importantes diferenças por nível de educação. Em 2015 registou-se em

Portugal uma taxa de desemprego de 12.3%. Esta taxa é superior quando consideramos

indivíduos com escolaridade igual ou inferior ao 3.º ciclo, mas inferior para indivíduos

com o ensino superior. Também os ganhos médios por nível de instrução são bastante

reveladores. O salário de um trabalhador que não tenha completado o ensino secundário

é apenas 68% da média salarial dos trabalhadores com educação secundária. Já um

trabalhador com ensino superior ganha mais 73%.

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Nos últimos quatro anos reverteu-se a aposta no investimento no reforço do capital humano português que estava a ser desenvolvida consistentemente por sucessivos

Governos e pelo esforço das famílias portuguesas. Ao mesmo tempo perdeu-se capital

humano com uma forte saída de trabalhadores para o estrangeiro e com a generalização

de práticas de entrada intermitente dos jovens no mercado de trabalho que geram

desmotivação e perda de capacidades produtivas. Adicionalmente, o desemprego de

longa duração retirou precocemente do mercado de trabalho tantos trabalhadores cuja

experiência era o ativo mais importante que tinham.

No que respeita ao investimento, os últimos anos testemunharam uma redução

significativa das despesas de capital na economia portuguesa. Em termos nominais, o

investimento total na economia estava em 2014 mais de 30% abaixo do valor de 2010 e

o investimento das empresas reduziu-se cerca de 13% no mesmo período. O nível de

investimento atual está abaixo do limiar da amortização, o que significa que se está a

assistir a uma redução do stock de capital existente na economia com efeitos no produto

potencial. A taxa de investimento da economia portuguesa é hoje claramente inferior à

da média da UE, o que acontece também no que respeita à taxa de investimento das

empresas.

Os níveis de investimento em investigação e desenvolvimento (I&D) em percentagem

do PIB depois de atingirem um máximo em 2009 têm registado uma redução nos

últimos anos. Não obstante mais de 50% das empresas portuguesas referirem a

realização de atividades de inovação no período de 2010 a 2012, o valor da despesa de

I&D tem vindo a reduzir-se a um ritmo superior ao da queda do PIB, e muito mais

acentuado do que o da redução da despesa pública. O Estado reduziu a despesa na área

da ciência e ensino superior, e os privados retraíram também o investimento nesta área.

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Mercado de trabalho

No mercado de trabalho, verificou-se uma forte quebra do emprego entre 2011 e 2013,

assistindo-se uma ligeira recuperação no período mais recente se bem que insuficiente

para anular a queda anterior. Para ter a noção da magnitude da destruição de emprego

registada, o nível de emprego na economia portuguesa estava no final de 2015 próximo

dos 4,5 milhões de pessoas, o valor mais baixo registado desde 1996.

O desemprego subiu de forma muito acentuada, registando-se nalguns trimestres de

2013 um número de desempregados acima de 900 mil e taxas superiores a 17%. Apesar

de alguma melhoria no período mais recente, manteve-se em níveis relativamente

elevados.

O desemprego é particularmente elevado entre os jovens. Mantêm taxas de desemprego

superiores a 30%, com quase 2/3 dos desempregados a estarem nessa situação há mais

de um ano e cerca de 50% desempregados há mais de dois anos. Merece ainda destaque

o facto de menos de 1/3 dos desempregados ter acesso a subsídio de desemprego.

A população ativa tem registado uma significativa redução, existindo em 2015 menos

cerca de 300 mil ativos em Portugal do que existiam em 2010. Esta redução fez-se sentir

somente nos escalões dos 15 aos 24 anos e dos 25 aos 34 anos, ou seja, afetando

fundamentalmente os jovens, estando associada à emigração e condicionando de forma

significativa o crescimento potencial da economia.

A dinâmica do emprego e do desemprego, ao longo de 2015, levou à manutenção da

queda da população ativa, que no terceiro trimestre de 2015 voltou a cair 1,1% em

termos homólogos.

Caracterizando a dinâmica recente do mercado de trabalho, o aumento do desemprego e

diminuição do emprego estiveram mais associados a uma diminuição da criação de

postos de trabalho e das contratações do que a um aumento da destruição dos postos de

trabalho. Esta dinâmica é sintomática da elevada incerteza e expetativas negativas

relativamente à evolução da economia que condicionam de forma significativa as

decisões de contratação e de investimento.

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Por outro lado, o mercado apresenta níveis de precariedade muito elevados, com 90%

das novas contratações de trabalhadores desempregados a serem efetuadas com

c ontratos não permanentes e 70% das novas entradas no desemprego associadas ao

término de contratos não permanentes. O uso dos contratos a termo poderia estar

associado a lógicas de avaliação e monitorização da qualidade do trabalhador. Contudo,

o facto de menos de 2 em cada 10 contratos a termo serem convertidos em contratos

sem termo sugere que não é esta a justificação subjacente ao peso dos contratos a termo.

O excesso de contratos temporários é um obstáculo relevante ao progresso da

produtividade ao reduzir os incentivos aos investimentos em capital humano específico.

Situação social

O desempenho económico e a evolução do mercado de trabalho traduziram-se numa

deterioração significativa da situação social, com implicações imediatas sobre o nível de

bem-estar presente mas condicionando também as perspetivas de crescimento da

economia.

A evolução demográfica recente é marcada por um aumento da esperança de vida, pela

redução da mortalidade infantil, pelo aumento da emigração e pela queda acentuada da

fecundidade, fatores que convergem para um significativo envelhecimento da população

que acontece em paralelo com uma diminuição da população.

O saldo natural é persistentemente negativo desde 2008 e tem-se agravado desde 2010,

registando-se ainda uma redução substancial da taxa de natalidade, que atingiu mínimos

em 2013. Fruto destas dinâmicas, a população tem-se reduzido, para o que contribui

também o reforço do fenómeno da emigração. Nos últimos três anos, a população

residente em Portugal diminuiu cerca de 168 mil pessoas. As projeções demográficas

sugerem uma significativa diminuição da população nos próximos anos se não forem

invertidas as tendências recentes, registando-se um decréscimo da população jovem e

um aumento da população idosa, com o agravamento do envelhecimento populacional.

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Esta redução é particularmente centrada nos indivíduos com idades compreendidas entre

os 20 e os 35 anos, o que levanta fortes restrições ao potencial de crescimento da

economia portuguesa.

Os indicadores associados aos domínios trabalho, remuneração e vulnerabilidade

económica registam uma deterioração do bem-estar da população, em particular após

2012. São as condições materiais de vida que se revelam como mais determinantes para

a deterioração do bem-estar, uma vez que as dimensões associadas à qualidade de vida

mantêm alguma tendência crescente, embora bastante atenuada após 2011.

Os últimos anos testemunharam também uma reversão na redução das desigualdades e

da pobreza que se vinha verificando em Portugal, com um aumento da exclusão social e

do risco de pobreza, principalmente nas crianças e nos jovens.

Os dados mais recentes sobre a pobreza revelam um significativo agravamento destes

indicadores. Em 2014, 19,5% das pessoas estavam em risco de pobreza, um

agravamento de mais de 1,4 p.p. face a 2010. O aumento do risco de pobreza foi

transversal aos vários grupos mas foi mais intenso no grupo dos menores de 18 anos,

que registaram um aumento da incidência da pobreza de mais 2,5 p.p. A evolução deste

indicador seria ainda mais grave caso se utilizasse um limiar de pobreza fixo, como por

exemplo uma linha de pobreza ancorada em 2009, caso em que se verificaria um

aumento da proporção de pessoas em risco de pobreza ao longo dos cinco anos em

análise, entre 17,9% em 2009 e 24,2% em 2014. Para além do agravamento da

incidência da pobreza, registou-se igualmente um aumento da intensidade da pobreza,

aumentando em 6 p.p. (face a 2010) a insuficiência de recursos da população em risco

de pobreza, para níveis em torno dos 29,0% em 2014.

Os indicadores de desigualdade da distribuição de rendimentos registaram também um

agravamento significativo. O grupo dos 10% de pessoas com maior rendimento tinha

em 2014 um rendimento 10,6 vezes superior aos 10% com menor rendimento. Essa

relação era de 9,4 em 2010.

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Os indicadores de privação também conheceram uma deterioração significativa,

registando-se, em 2015, que 9,6% da população vivia em privação material severa, não

tendo acesso a um número significativo de itens relacionados com as necessidades

económicas e de bens duráveis das famílias. Este indicador apresentava um valor de

8,3% em 2011, o que revela um aumento de 1,3 p.p. das famílias com privação severa.

A pobreza entre os mais jovens teve um crescimento muito acentuado. Hoje mais de

30% das crianças estão em situação de risco de pobreza ou de exclusão social, o que

significa que só com políticas sociais podemos garantir que vão ter igualdade de

oportunidades. Num contexto de envelhecimento e saída de população, o país tem de

garantir que conseguirá aproveitar o máximo potencial de todos, não deixando

desperdiçar o contributo de tantos por lhes negar oportunidades. As políticas sociais de

apoio aos mais pobres e de garantia de acesso à saúde e a um ensino de qualidade são

determinantes para o contributo que esta geração pode dar para a economia portuguesa.

Estas necessidades contrastam com o recuo generalizado das políticas sociais que se

verificou, com um agravamento nas condições de acesso às prestações sociais não

contributivas, tendo sido dificultado, deste modo, o acesso àquelas que são as principais

prestações sociais de combate à pobreza. Esta realidade está bem expressa na redução

dos beneficiários do Rendimento Social de Inserção (RSI) para menos 115.000 (cerca

de 35%), precisamente num período em que a medida mais seria necessária. Quanto à

proteção aos mais novos, mais de 23.000 crianças e jovens perderam o abono de

família, enquanto no apoio aos idosos mais pobres, deixou de ser atribuído o

Complemento Solidário para Idosos (CSI) a mais de 62.500 beneficiários (menos

26,5%).

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Projeções Macroeconómicas

Para o ano de 2016 prevê-se um fortalecimento da procura externa relevante para

Portugal, em consequência da melhoria da atividade económica dos principais parceiros

comerciais, designadamente da área do euro, com reflexos na evolução das suas

importações. De facto, de acordo com as últimas previsões quer da Comissão Europeia

quer do Fundo Monetário Internacional (FMI), em 2016 é esperada uma melhoria

gradual do crescimento económico no conjunto da área do euro. Em particular, prevê-se

uma aceleração do crescimento económico na Alemanha, França e Itália e a manutenção

de um forte crescimento em Espanha e também no Reino Unido.

Neste cenário, antecipa-se a manutenção das taxas de juro de curto prazo num nível

baixo, bem como a diminuição do preço do petróleo e uma ligeira depreciação do euro

face ao dólar.

O atual cenário macroeconómico reflete a informação mais recente relativa ao

desenvolvimento da atividade económica a nível nacional e internacional, bem como

um conjunto de medidas perspetivadas para 2016. Entre a informação incorporada

conta-se a revisão, pelo INE, das Contas Nacionais no período 2013-2014, bem como a

publicação de Contas Trimestrais para os primeiros três trimestres do ano.

Neste contexto, para 2015, projeta-se um crescimento real do PIB de 1,5% em média

anual, 0,6 p.p. superior ao observado em 2014. Em termos trimestrais, espera-se que a

recuperação da atividade económica acelere ligeiramente no último trimestre do ano,

tanto pela manutenção de contributos positivos da procura interna, como pela melhoria

do comportamento das exportações.

Esta estimativa é sustentada não só pelos dados divulgados pelo INE no âmbito das

Contas Nacionais Trimestrais mas também pelos indicadores avançados e coincidentes

de atividade económica divulgados por um conjunto variado de instituições, em

conjugação com o traçado nos indicadores qualitativos associados às expectativas dos

agentes económicos.

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A atual estimativa para o PIB, em volume, para 2015 representa uma revisão em baixa

face ao apresentado em abril no âmbito do Programa de Estabilidade (PE) para o

horizonte 2015-2019, resultando de alterações de composição do contributo da procura

interna (2,2 p.p. e 1,6 p.p., respetivamente) e da procura externa líquida (-0,7 p.p. e 0,1

p.p., respetivamente). Para a evolução mais favorável da procura global concorreram

todas as componentes, com destaque para as exportações (+0,3 p.p.) e consumo privado

(+0,7 p.p.), facto que, juntamente com as alterações registadas nos termos de troca, se

reflete num crescimento superior das importações face ao cenário inicial (+2,3 p.p.).

Assim, a economia portuguesa deverá apresentar uma capacidade líquida de

financiamento face ao exterior equivalente a 2,0% do PIB, registando a balança corrente

um saldo positivo de 0,6% do PIB. Destaque-se, ainda, a revisão em alta do deflator do

PIB, cujo crescimento médio homólogo deverá ser de 1,9% (1,3% no PE).

Para 2016, prevê-se um crescimento do PIB de 1,8%, reflexo da manutenção de um

contributo positivo da procura interna, conjugado com um contributo menos negativo da

procura externa líquida. No respeitante à procura externa, antecipa-se uma

desaceleração das exportações, não obstante uma ligeira aceleração da procura externa

relevante, bem como uma moderação das importações em volume, explicado

essencialmente por um menor diferencial entre o deflator das exportações e das

importações.

A dinâmica da procura interna vem materializar a normalização da atividade económica.

Por um lado, a evolução do consumo privado está em linha com o esperado para as

remunerações e rendimento disponível, não se perspetivando impactos relevantes na

taxa de poupança nem no atual ritmo de redução do endividamento, dado o efeito

rendimento positivo de um conjunto de medidas incorporadas neste cenário. Por outro,

o aumento do investimento, principalmente empresarial e na sua componente de

máquinas e equipamentos, traduz a necessidade de aumentar a utilização da capacidade

produtiva, e a sua atualização. Este facto é consonante com o crescimento esperado no

emprego, com o aumento da procura global e com a progressiva normalização das

condições de financiamento, apesar da necessidade de correção dos níveis de

endividamento.

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Dado o continuado crescimento das exportações, é de esperar que o ajustamento das

contas externas persista: o saldo conjunto da balança corrente e de capital deverá fixar-

se em 2,2% do PIB, aumentando a capacidade líquida de financiamento da economia

portuguesa, ao mesmo tempo que a balança corrente deverá atingir um excedente

equivalente a 0,9% do PIB, reforçando assim o resultado de 2015.

Quadro 1. Principais Indicadores

(taxa de variação, %)

2013 2014 2015(p) 2016(p) 2015(p) 2016(p)

Cenário Base Por memória: PE - INE

OE16 abril-15

PIB e Componentes da Despesa (Taxa de crescimento homólogo real, %)

PIB -1,1 0,9 1,5 1,8 1,6 2,0

Consumo Privado -1,2 2,2 2,6 2,4 1,9 1,9

Consumo Público -2,0 -0,5 -0,7 0,2 -0,7 0,1

Investimento (FBCF) -5,1 2,8 4,3 4,9 3,8 4,4

Exportações de Bens e Serviços 7,0 3,9 5,1 4,3 4,8 5,5

Importações de Bens e Serviços 4,7 7,2 6,9 5,5 4,6 5,3

Contributos para o crescimento do PIB (pontos percentuais)

Procura Interna -2,0 2,2 2,2 2,2 1,6 1,9

Procura Externa Líquida 0,8 -1,3 -0,7 -0,4 0,1 0,1

Evolução dos Preços

Deflator do PIB 2,3 1,0 1,9 2,0 1,3 1,4

IPC 0,3 -0,3 0,5 1,2 -0,2 1,3

Evolução do Mercado de Trabalho

Emprego -2,9 1,4 1,1 0,8 0,6 0,8

Taxa de Desemprego (%) 16,2 13,9 12,3 11,3 13,2 12,7

Produtividade aparente do trabalho 1,8 -0,5 0,4 1,0 1,1 1,2

Saldo das Balanças Corrente e de Capital (em % do PIB)

Capacidade/Necessidade líquida de f inanciamento face ao exterior 2,3 1,7 2,0 2,2 2,1 2,0

- Saldo da Balança Corrente 0,7 0,3 0,6 0,9 0,5 0,4

da qual Saldo da Balança de Bens e Serviços 1,0 0,4 1,0 1,2 1,5 1,7

- Saldo da Balança de Capital 1,6 1,4 1,4 1,3 1,6 1,5

Legenda: (p) previsão.

Fontes: INE e Ministério das Finanças

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A taxa de desemprego deverá situar-se em 11,3% (-1 p.p. face ao esperado para 2015 e -

2,6 p.p. face a 2014). A redução do desemprego deverá ser acompanhada por um

aumento da produtividade aparente do trabalho e por um crescimento do emprego

ligeiramente inferior ao registado em 2015 em resultado do desfasamento típico face à

atividade económica e pela aproximação ao desemprego estrutural. Espera-se, ainda,

que a distribuição sectorial do emprego continue a refletir a reafectação de recursos da

estrutura produtiva dos sectores de bens não transacionáveis para os sectores de bens

transacionáveis.

O consumo público deverá estabilizar no próximo ano, como resultado da continuação

do processo de ajustamento da despesa pública. As alterações de política salarial

deverão traduzir-se num impacto positivo no deflator.

A inflação medida pelo Índice de Preços no Consumidor (IPC) deverá atingir os 1,2%

em 2016 (0,5% em 2015), num contexto de equilíbrio de tensões – quer inflacionistas,

quer deflacionistas – nos mercados internacionais de commodities. Esta subida da

inflação em cerca de 0,7 p.p. face a 2015 traduzirá uma maior pressão ascendente sobre

os preços. Para tal contribui a melhoria da procura interna e uma redução do hiato do

produto, a aceleração das remunerações por trabalhador associado ao aumento do

salário mínimo e à reposição dos cortes salariais na Administração Pública, bem como o

efeito da desvalorização cambial do euro. O diferencial face à evolução dos preços no

conjunto da área do euro deverá tornar-se positivo (+0,7 p.p.).

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Politica Orçamental em 2015 e 2016

Para 2015, estima-se que o défice das Administrações Públicas se situe em 4,3% do

PIB. Contudo, este valor inclui efeitos pontuais que se estimam em 1,4% do PIB, a

saber: injeções de capital no Banco EFISA, na Sociedade de Transportes Coletivos do

Porto, SA (STCP), na Companhia Carris de Ferro de Lisboa, S.A. (CARRIS) e a

conversão em aumento de capital de suprimentos concedidos pela empresa Wolfpart à

Caixa Imobiliário, num total de 0,2% do PIB e a medida de resolução aplicada ao

BANIF, que corresponde a 1,2% do PIB. Excluindo estes efeitos o défice orçamental

situa-se em 2,9% do PIB.

Quadro 2. Indicadores orçamentais

(% do PIB)

2010 2011 2012 2013 2014 2015P 2016e

Saldo global -11,2 -7,4 -5,7 -4,8 -7,2 -4,3 -2,2

Saldo primário -8,2 -3,1 -0,8 0,0 -2,3 0,4 2,3

Juros 2,9 4,3 4,9 4,9 4,9 4,7 4,6

Fontes: INE e Ministério das Finanças.

A política orçamental do XXI Governo está estruturada em torno de uma estratégia de

crescimento económico aliada à sustentabilidade das Finanças Públicas.

Com efeito, é imperativo: relançar a economia e prosseguir políticas públicas

equitativas; inverter a tendência de perda de rendimento das famílias; estimular a

criação de emprego e combater a precariedade no mercado de trabalho; modernizar e

diversificar a economia portuguesa, criando condições para o investimento, a inovação e

a internacionalização das empresas e para a qualificação dos trabalhadores; proteger as

políticas sociais, reduzindo a pobreza e as desigualdades sociais e promovendo,

também, a natalidade; garantir a provisão de serviços públicos universais e de

qualidade. Deste modo, será possível assegurar uma trajetória sustentável de redução do

défice orçamental e da dívida pública.

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Com efeito, aumentando o rendimento disponível promove-se um reequilíbrio dos

orçamentos familiares, fundamental para corrigir seus desequilíbrios financeiros e

fomentar o investimento empresarial indutor de um crescimento sustentável da

economia. Concomitantemente, o financiamento das empresas será promovido através

da utilização de mecanismos de financiamento sem implicações orçamentais diretas,

nomeadamente, a reformulação do Regime Fiscal de Apoio ao Investimento e a

aceleração de fundos Portugal 2020 cofinanciados pela União Europeia.

Estas medidas de reorientação dos esforços orçamentais estimulam a criação de

emprego, promovendo o regresso ao mercado de trabalho de trabalhadores de meia-

idade, com qualificações reduzidas, enfrentando longos períodos de desemprego e com

menores perspetivas de empregabilidade, bem como do emprego jovem e qualificado.

A simplificação e modernização administrativa melhorarão os serviços prestados pela

Administração Pública, através da simplificação de procedimentos, ganhos de eficiência

e redução de custos, nomeadamente: poupanças sectoriais em contratação externa e

ganhos com racionalização e desmaterialização dos serviços públicos; integração da

informação do planeamento territorial e urbano do registo predial e do cadastro;

reorganização dos serviços desconcentrados e alargamento da rede de serviços de

proximidade; modernização de infraestruturas e equipamentos da Administração

Pública.

Deste modo, em 2016, a estratégia de consolidação permite alcançar um défice

orçamental de 2,2%, uma redução de 2,1 p.p. face ao valor previsto para o ano anterior.

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1. AUMENTAR O RENDIMENTO DISPONÍVEL DAS FAMÍLIAS PARA

RELANÇAR A ECONOMIA

Os próximos anos consagram um modelo de desenvolvimento e uma nova estratégia de

consolidação das contas públicas, assente no crescimento sustentável e inclusivo e no

emprego de qualidade, no aumento do rendimento das famílias e na criação de

condições para o reforço do investimento. Deste quadro faz ainda parte a defesa do

Estado Social e a melhoria de serviços públicos envolvidos no combate à pobreza e às

desigualdades.

A recuperação económica, com um forte conteúdo em emprego sustentável e de

qualidade, estará associada a uma recuperação dos rendimentos das famílias e à

melhoria do seu rendimento disponível, que, por sua vez, constituirá uma alavanca

prioritária para a melhoria da atividade económica e a criação de emprego.

Neste quadro, os compromissos do Governo passam por:

● O início de uma correção ao enorme aumento de impostos sobre as famílias que foi

concretizado nesta legislatura, com a extinção da sobretaxa sobre o Imposto sobre o

Rendimento das Pessoas Singulares (IRS);

● Atualizar as pensões do regime geral e do regime de proteção social convergente;

● Apoiar o aumento do rendimento disponível das famílias;

● A concretização de uma rápida recuperação do rendimento dos trabalhadores do

Estado;

● A reposição do pagamento dos complementos de reforma nas empresas do Sector

Empresarial do Estado;

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II SÉRIE -A — NÚMERO 61 34_____________________________________________________________________________________________________________

● Renovar as políticas de mínimos sociais, nomeadamente através da reposição, no

ano de 2016, do valor de referência do CSI, da cobertura do RSI, com a alteração

da escala de equivalência e com o aumento gradual do valor de referência do RSI,

redirecionando esta prestação em particular para as famílias mais numerosas e com

crianças a cargo e da atualização dos montantes dos escalões do abono de família,

cujo valor nominal se mantém desde 2010. A especial proteção das famílias

monoparentais, particularmente vulneráveis e suscetíveis de se encontrarem em

risco de pobreza, conforme indicam os dados oficiais, concretizar-se-á, em 2016,

através do aumento da percentagem da majoração monoparental no Abono de

Família;

● Desbloquear a contratação coletiva, promovendo a definição de uma política de

rendimentos numa perspetiva de trabalho digno e, em particular, garantir a

revalorização do salário mínimo nacional.

2. RESOLVER O PROBLEMA DO FINANCIAMENTO DAS EMPRESAS

O investimento empresarial deve assumir um papel preponderante, sendo uma variável-

chave para uma recuperação forte e sustentada do crescimento económico.

Num quadro de escassez de financiamento, é preciso encontrar formas novas e eficazes

de financiar as empresas e dinamizar a atividade económica e a criação de emprego.

Assumindo este desígnio, o Governo mobilizará os recursos e adequará o quadro de

apoios públicos à necessidade de uma retoma rápida do investimento. Para o efeito,

atuará em seis domínios.

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23 DE M ARÇO DE 2016 35_____________________________________________________________________________________________________________

Assim, em primeiro lugar, será dinamizada e acelerada a execução dos fundos europeus,

garantindo o seu direcionamento para as empresas e explorando novas fontes de financiamento europeu para reforçar o financiamento à economia. Em segundo lugar,

será criado um fundo de capitalização de apoio ao investimento empresarial. Em

terceiro lugar, será promovida uma maior articulação e integração dos apoios ao

investimento, o que inclui o estímulo a novas formas de financiamento privado que

ampliem as opções de financiamento às empresas e a criação de incentivos fiscais ao

investimento aplicado em projetos empresariais. Em quarto lugar, serão adotadas

iniciativas destinadas a incentivar o investimento estrangeiro em Portugal. Em quinto

lugar, no âmbito do novo programa Simplex, serão removidos obstáculos e reduzido o

tempo e o custo do investimento através de um novo programa. Finalmente, em sexto

lugar, serão estudados e identificados os investimentos seletivos que permitam o

máximo aproveitamento de investimentos infraestruturais já realizados e que possam ser

rentabilizados em favor do desenvolvimento económico.

Acelerar a execução dos fundos europeus

Os fundos europeus poderão ajudar a dinamizar a economia, a atividades das empresas

portuguesas e o emprego. É esse instrumento fundamental de investimento público que

é preciso acelerar e concentrar nas áreas prioritárias, pois o mesmo constitui um

poderoso fator de auxílio ao desenvolvimento económico.

Para reforçar e acelerar a execução dos fundos europeus o Governo irá:

● Atribuir prioridade máxima à execução extraordinária dos fundos europeus

envolvendo esforços de organização, legislativos e de coordenação com as regiões

e parceiros que permitam concretizá-la em qualidade velocidade;

● Adotar as medidas específicas necessárias para operacionalização imediata dos

instrumentos financeiros (capital, garantias e empréstimos) previstos no Portugal

2020, essencial para o financiamento do investimento empresarial;

● Promover a adaptação do quadro regulamentar de aplicação dos fundos europeus

de forma célere, garantindo soluções rápidas e resolvendo constrangimentos;

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II SÉRIE -A — NÚMERO 61 36_____________________________________________________________________________________________________________

● Dinamizar o investimento e a capacidade de atração de mais financiamento através

de uma atitude pró-ativa na Europa nas negociações para o plano de investimento

anunciado por Juncker e de um esforço organizado do governo de captação de

fundos de outras rubricas orçamentais europeias a favor de Portugal;

● Criar condições, incluindo capacidade técnica, para o máximo aproveitamento

possível não apenas dos fundos europeus alocados ao Portugal 2020, mas também

de outros meios de financiamento disponíveis ainda insuficientemente utilizados;

● Dinamizar o acesso aos fundos europeus tornando mais transparente, acessível e

compreensíveis as condições e casos em que os mesmos podem ser utilizados.

Criar um Fundo de Capitalização

O Governo irá criar um Fundo de Capitalização financiado por fundos europeus, cujo

funcionamento será operacionalizado pela Unidade de Missão para a Capitalização das

Empresas, podendo o Estado alocar ainda outros fundos públicos a título de

investimentos de capital, ou de concessão de empréstimos ou garantias. As instituições

financeiras poderão contribuir para o fundo de capitalização, tomando igualmente

posições de capital ou quase capital ou concedendo empréstimos ou garantias. Este

fundo terá as seguintes características:

● Deve permitir a captação de fundos provenientes de investidores internacionais

quer de natureza institucional (fundos internacionais de capital de risco, fundos

soberanos, fundos de pensões e de seguradoras, etc.), quer de natureza

personalizada (investidores portugueses da diáspora, investidores estrangeiros,

etc.);

● Deve ser ainda financiado pelos reembolsos de fundos europeus e as contrapartidas

dos «vistos gold», agora reorientando-os para o objetivo de capitalizar empresas e

reforçar a sua autonomia;

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23 DE M ARÇO DE 2016 37_____________________________________________________________________________________________________________

● Além do capital de risco e de outros instrumentos de capital, o Fundo de

Capitalização deverá conferir prioridade às soluções inovadoras de empréstimos

em condições muito especiais que os tornem similares aos capitais próprios

(instrumentos de «quase capital»);

● A maioria dos recursos financeiros devem ser aplicados em empresas e

investimentos inseridos em clusters que vierem a ser definidos como de

desenvolvimento estratégico para a economia portuguesa.

Reforçar e garantir maior articulação dos apoios ao investimento e ao

financiamento das empresas

O relançamento do investimento empresarial exige duas condições fundamentais. Por

um lado, políticas que potenciem os impactos dos fundos europeus na economia,

nomeadamente através de uma maior articulação e concertação entre entidades públicas

e destas com o sistema financeiro. Por outro lado, a expansão e diversificação das

opções de financiamento das empresas. A ação governativa passará por:

● Alterar o tratamento fiscal dos custos de financiamento das empresas que

promovam o financiamento das empresas mediante o recurso a capitais próprios e

contribuam para a redução dos níveis de endividamento junto do sistema bancário,

designadamente incentivando o reinvestimento dos lucros e evoluindo para uma

maior neutralidade no tratamento do financiamento através de capitais próprios e

endividamento;

● Duplicar o crédito fiscal ao investimento para investimentos acima de 10 milhões

de euros e desburocratizar a concessão de um crédito fiscal automático. Assim,

serão elegíveis para crédito fiscal automático de 25% no âmbito do Regime Fiscal

de Apoio ao Investimento investimentos até 10M euros (o valor atual é de 5M

euros), permitindo aumentar a dimensão dos projetos apoiados. O regime

contratual aplicar-se-á para investimentos acima dos 10M euros, aumentando o

crédito fiscal concedido de 10% para 20% do valor de investimento elegível

realizado;

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● Instituir uma lógica de serviço e atendimento personalizado ao investidor nacional

e internacional, com propostas de valor integradas de incentivos financeiros e

fiscais e apoio na aceleração dos processos de licenciamento;

● Reduzir a dependência de crédito bancário, reforçando o papel do mercado de

capitais no financiamento das pequenas e médias empresas (PME), em especial

através de instrumentos de capital (emissão de ações), fundos especializados de

dívida privada (emissão de obrigações de PME) ou instrumentos híbridos

(equiparados a capital);

● Promover a aceleração dos processos de reestruturação empresarial e respetiva

capitalização, criando mecanismos que facilitem a conversão da dívida em capital

ou de redução da dívida em empresas consideradas viáveis;

● Fomentar a introdução de novos instrumentos de financiamento ao investimento de

empresas de menor dimensão, como o crowdfunding e o financiamento peer2peer.

Prosseguir políticas favoráveis às microempresas e ao empreendedorismo

Os mecanismos dirigidos ao desenvolvimento das microempresas e de projetos

empreendedores incluirão:

● Criar uma linha de adiantamento financeiro por conta de crédito fiscal aprovado no

âmbito do sistema de incentivos fiscais à I&D empresarial (SIFIDE II), com

desconto diferido, para microempresas com investimentos em I&D mas ainda sem

resultados coletáveis no curto prazo, como acontece frequentemente com empresas

de criação recente ou de ciclo de valorização muito prolongado. Esta medida visa

antecipar o gozo do benefício atribuído, aumentando a liquidez das microempresas

e a sua capacidade de investimento no curto prazo, dentro de determinados limites

e condições;

● Adotar medidas para facilitar o acesso de novas PME à contratação pública de

modo que se facilite o acesso aos mercados de novos concorrentes.

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Lançar o «Programa Semente» de estímulo ao empreendedorismo

Para estimular o empreendedorismo e a criação de start-ups o Governo irá lançar o

«Programa Semente» que estabelecerá um conjunto de benefícios fiscais para quem

queira investir em pequenas empresas em fase de start-up ou nos primeiros anos de

arranque. Estes benefícios contemplarão as seguintes três medidas:

● A criação de benefícios em sede de IRS para aqueles que, estando dispostos a

partilhar o risco inerente ao desenvolvimento, invistam as suas poupanças no

capital destas empresas;

● A tributação mais favorável de mais-valias mobiliárias ou imobiliárias, quando

estas sejam aplicadas em start-ups;

● A adoção de um regime fiscal mais favorável na tributação de mais-valias

decorrentes do sucesso dos projetos levados a cabo por estas empresas na venda de

partes de capital, após um período de investimento relevante.

Atrair mais e melhor investimento direto estrangeiro

Um novo impulso à captação de investimento direto estrangeiro revela-se estratégico

para possibilitar a expansão dos recursos financeiros e não financeiros disponíveis na

economia portuguesa, isto é, para aumentar os níveis de investimento e reforçar a

competitividade do tecido económico. Neste sentido, é crucial:

● Desenhar e pôr em prática um plano específico de atração de investimento

estrangeiro estruturante que potencie recursos humanos qualificados e resultados de

projetos de I&D, que valorize a nossa posição geoeconómica, tire partido das

vantagens competitivas existentes no tecido económico, colabore na valorização

sustentada de recursos naturais e que, além disso, possa funcionar como fator de

dinamização de novos clusters promissores para a economia portuguesa;

● Apostar na valorização do território como forma de atrair investimento estrangeiro,

desenvolvendo uma oferta integrada, para um horizonte temporal alargado, que

integre benefícios fiscais, compromissos de cofinanciamento, facilidades na

política de vistos para imigrantes e apoios de natureza logística, entre outros

benefícios;

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● Lançar campanhas específicas de divulgação das potencialidades de acolhimento

de investimento estrangeiro dirigidas a bancos internacionais e de desenvolvimento, ecossistemas de capital de risco, empresas de consultoria e

escritórios de advogados internacionais, organizações que difundem rankings de

competitividade internacional, etc.;

● Dinamizar os conhecimentos e a influência da rede da diáspora nos seus países de

acolhimento, para promover a captação de investimento estrangeiro.

Reduzir o tempo e o custo do investimento para as empresas, no âmbito do programa

SIMPLEX

A burocracia é geradora de consumos de tempo e dinheiro que prejudicam o

investimento, criam custos de contexto excessivos e prejudicam a dedicação da empresa

e dos empresários à criação de negócios, riqueza e emprego. Por isso, o Governo

assume que no âmbito do programa SIMPLEX serão contempladas medidas que visem

as empresas e a atividade económica, designadamente através das seguintes iniciativas:

● Aprovar um conjunto de medidas de simplificação administrativa urgentes para

reduzir custos de contexto na vida empresarial, focando-as nos aspetos mais

críticos da atividade das empresas e na eliminação de exigências excessivas ou

desproporcionadas;

● Relançar a iniciativa «Licenciamento Zero» para o investimento e para atividades

empresariais, eliminando licenças e atos de controlo prévios e substituindo-os por

uma fiscalização reforçada, depois de iniciadas as atividades;

● Rever e simplificar o regime aplicável às zonas empresariais responsáveis;

● Lançar o programa «Declaração Única», suprimindo obrigações declarativas e

comunicações obrigatórias para o Estado e outras entidades públicas que não sejam

necessárias (designadamente nos domínios dos impostos, Segurança Social,

informação ambiental e estatística), instituindo um ponto único para o envio da

informação, quando a mesma seja imprescindível;

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● Aprovar um regime de «Taxa Zero para a Inovação», dispensando do pagamento

de taxas administrativas e emolumentos associados a várias áreas da vida das

empresas certos tipos de empresas criadas por jovens investidores e start-ups

inovadoras.

3. PRIORIDADE À INOVAÇÃO E INTERNACIONALIZAÇÃO DAS

EMPRESAS

O Governo pretende apostar, por via de uma ação externa concertada nas várias

vertentes sectoriais, no reforço da internacionalização da economia portuguesa e na

exploração de novos mercados – seja de origem do investimento direto estrangeiro, seja

de destino do investimento e das exportações portuguesas - onde possam ser afirmadas

as vantagens competitivas das empresas portuguesas, questão que assume importância

primordial no quadro de relançamento da economia portuguesa.

A atuação do Governo em prol da internacionalização da economia portuguesa, nos seus

três domínios chave – comércio externo, investimento direto estrangeiro e investimento

português no estrangeiro - será feita quer através da captação de novos canais de

exportação e de investimento, quer através da consolidação da diversificação já

conseguida com outros mercados de exportação e de investimento, sem esquecer, neste

enquadramento, a importância dos mercados europeus. É, para tanto, essencial uma

articulação eficaz entre a diplomacia e a promoção do investimento e do comércio

externo. Importante é, também, articular as políticas de internacionalização com as de

inovação, assim potenciando-se a entrada de projetos inovadores no mercado

internacional.

A presença de uma Secretaria de Estado da Internacionalização, no Ministério dos

Negócios Estrangeiros, e o exercício da superintendência e tutela sobre a Agência para o

Investimento e Comércio Externo de Portugal, E. P. E., por aquele ministério, em

coordenação com o Ministério da Economia, dará uma maior coerência e consistência a

medidas de política convergentes na concretização do desígnio político da promoção da

internacionalização. Assim serão tomadas as seguintes medidas:

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● Consolidação do trabalho da entidade pública responsável pela promoção do

investimento e do comércio externo de Portugal com o objetivo de reforçar a

eficácia da rede externa e interna de apoio às empresas;

● No quadro dos apoios europeus às PME no âmbito da internacionalização e

exportação, promoção, dentro de certas condições, de projetos colaborativos

envolvendo PME;

● Agilização de mecanismos de seguros de crédito e de pré-financiamento das

exportações;

● Promoção da mobilização de recursos humanos e de competências na área da

internacionalização, envolvendo a revisão e reforço da aposta no INOV-Contacto, o

lançamento de programas de inserção de jovens quadros nas empresas exportadoras

e programas que promovam o regresso de jovens com experiência internacional

para reforçar a área de internacionalização das empresas e o apoio a programas de

formação em competências chave na internacionalização;

● Criação de uma linha de apoio à internacionalização de projetos em curso para

viabilizar, com pouco acréscimo de meios públicos, o aumento das candidaturas a

programas, como o Horizonte 2020 ou o EUREKA;

● Disponibilização pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial, I. P., de «Fichas

de PI para apoio à exportação» às empresas;

● Ratificação do Ato de Genebra do Acordo de Lisboa relativo ao Sistema

Internacional de Denominações de Origem e Indicações Geográficas que conferirá

maior segurança jurídica aos agentes económicos que pretendam exportar para

diversos países produtos nacionais que ostentem Denominações de Origem e

Indicações Geográficas;

● Desenvolvimento de produtos de informação tecnológica sobre o espaço ibero-

americano permitindo às empresas a obtenção de informação relevante para o

desenvolvimento de negócios e para a definição de estratégias de

internacionalização nos países que integram o espaço ibero-americano;

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● Cooperar com institutos de Propriedade Industrial de outros países para acelerar os

processos de obtenção de Patentes nesses territórios;

● Estimular a inovação e competitividade empresarial promovendo a inclusão de

módulos de Propriedade Industrial nos curricula do ensino superior;

● Promover a inovação nas fileiras do setor agroalimentar e florestal, conducente a

uma maior eficiência na utilização e preservação dos recursos, bem como ao

aumento da produtividade e da competitividade, tendo em vista um sistema de

produção agro ecológico, resiliente, que garanta a oferta de alimentação humana e

animal e biomateriais seguros e sustentáveis, bem como a integração nos mercados

contribuindo para a internacionalização das empresas e o reforço das exportações

nacionais.

Ligação entre as universidades e as empresas

Tendo Portugal assistido a uma evolução e maturação considerável do seu sistema

científico, torna-se agora necessário dar continuidade a essa evolução e estimular a

transmissão do conhecimento gerado para o tecido económico e empresarial,

favorecendo as relações entre as universidades e as empresas, essenciais ao

desenvolvimento de produtos e serviços de maior valor acrescentado e às atividades de

inovação. Portugal continua muito abaixo da média em inputs tão importantes para a

inovação como a disponibilidade de recursos humanos qualificados, a disponibilidade

de capital de risco, ou os gastos em I&D das empresas, e a evolução conhecida do

sistema de I&D não teve ainda o respetivo acompanhamento por parte das empresas. Os

estudos indicam que é necessário que haja algum tempo de investimento público, e que

o privado acompanhará naturalmente esta evolução. Por outro lado, parte desta

diferença pode estar relacionada com a própria estrutura económica, e com a utilização

de indicadores de desempenho internacionais, que não permitem a real avaliação da

performance de inovação em Portugal. No entanto, alguns dos indicadores, como a

integração de recursos humanos qualificados no tecido económico, ilustram a

necessidade de promover a integração de quadros nas empresas, promovendo o emprego

jovem e capacitação das empresas em Portugal.

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Torna-se assim essencial promover a relação entre as universidades e as empresas,

integrando os centros tecnológicos e outras instituições de interface, criando

plataformas de atuação conjuntas, e assegurando condições para o fortalecimento destas

relações.

Neste processo, os centros tecnológicos e instituições de interface têm um lugar de

destaque em facilitar a transferência de conhecimento produzido nas universidades e

centros de investigação para as empresas e para o tecido empresarial, para que estas

possam trazer para o mercado produtos e serviços mais inovadores, capazes de competir

nas cadeias de valor globais.

A promoção e estímulo da relação entre as universidades e as empresas requer

flexibilização e alargamento dos modos de colaboração, fortalecimento da atuação dos

centros tecnológicos e instituições de interface, capazes de facilitar esta ligação. Em

Portugal, há vários exemplos de centros tecnológicos que foram determinantes para a

melhoria tecnológica e de qualidade de diferentes sectores, tendo contribuído para a

atividades de I&D e para o desenvolvimento e sucesso em diferentes sectores. Com base

nesta experiência, é possível estimular o alargamento a outros sectores e favorecer o

estabelecimento de novas plataformas e modos de colaboração entre a universidade e as

empresas, recorrendo para tal à dinamização do papel dos centros tecnológicos e

instituições de interface, à imagem das melhores práticas internacionais.

Para a promoção da atuação dos centros tecnológicos, como elementos chave de ligação

da ciência à economia, propõe-se:

● Promover a colaboração de centros tecnológicos e instituições de interface com as

Universidades;

● Integração de docentes, investigadores e alunos das universidades nos centros

tecnológicos;

● Promover o alargamento da rede de centros tecnológicos e instituições de interface;

● Divulgar casos de sucesso e boas práticas;

● Estimular a criação de parcerias de interface sectoriais.

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Foram estabelecidos, nas universidades, gabinetes de transferência de tecnologia, que se

especializaram sobretudo em auxiliar os docentes e investigadores a preparar processos

de comercialização de tecnologia. O foco na relação industrial ainda não foi feito na

maioria das instituições. Desta forma, propõe-se a criação de tais estruturas para

promover a ligação com as empresas, a criação de incentivos para o estabelecimento

destas ligações, e a valorização do esforço individual dos docentes e investigadores que

têm estabelecidas estas ligações, formas de incentivo integradas.

Tendo havido um aumento na colaboração de investigadores com a indústria, patente na

análise de indicadores de inovação e I&D existe ainda por parte das instituições de

ensino superior, pouca interação concertada com as empresas e pouco meios e estruturas

para a transferência de tecnologia. O Governo pretende:

● Estímulo ao desenvolvimento de planos estratégicos de comunicação e ligação à

economia e à sociedade pelas universidades;

● Promoção de estruturas para a promoção da ligação às empresas nas universidades;

● Promoção da mobilidade de docentes, investigadores e alunos entre as

universidades e as empresas;

● Promoção da mobilidade de empresários e gestores entre as empresas e as

universidades;

● Criação de espaços físicos permanentes para a participação das empresas nas

universidades;

● Divulgação de casos de sucesso.

Valorizar a inovação através da procura pú blica e capacitar as pequenas e médias

empresas na resposta aos mercados públicos

A procura pública tem o potencial de desempenhar um papel muito relevante na

valorização dos resultados dos projetos de inovação, funcionando como mercado de

arranque, de teste e aperfeiçoamento do produto e ainda de criação de currículo

necessário à internacionalização e exportação de bens e serviços por parte de PME. Para

tal, o Governo pretende, nomeadamente:

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● Convocar os municípios para que, juntamente com empresas e universidades,

desenvolvam projetos de inovação e competitividade de interesse comum (ex.:

reabilitação urbana; micro geração; sistemas autónomos de produção de energia;

cidades inteligentes; ou outros em setores exportadores ou que promovam a

substituição de importações);

● Promover investimentos demonstradores, à escala e nas condições reais de

utilização, com formação de recursos humanos para a adequada utilização de novas

tecnologias e materiais, acelerando a chegada ao mercado de novos produtos

inovadores em cujo desenvolvimento as empresas investiram com o apoio do

anterior quadro comunitário;

● Capacitar as PME na resposta aos mercados públicos: eliminar barreiras de acesso,

sistematizar e disponibilizar bases de dados com informação detalhada e atualizada

sobre os investimentos em infraestruturas programadas e em curso; oferecendo

apoio técnico em processos de certificação ou de (pré)qualificação enquanto

fornecedores e apoio na organização de consórcios ou outras formas de cooperação

entre PME, na apresentação de propostas e identificação de financiamentos aos

clientes;

● Promover o investimento e inovação na área da saúde, com impactos futuros na

despesa total, como por exemplo projetos dirigidos ao combate à contaminação em

ambiente hospitalar ou a métodos de diagnóstico mais eficazes;

● Lançar um programa calendarizado de contratação pública de bens e serviços

inovadores para os serviços públicos com base na identificação de necessidades

relativamente a serviços e bens que necessitam de I&D para serem concebidos e

produzidos, designadamente em áreas que permitam a melhoria dos serviços

públicos e a redução da despesa pública;

● Estabelecer uma quota de aquisição de bens e serviços start-ups de modo a

dinamizar a emergência de novos intervenientes no mercado.

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Internacionalização e investimento direto estrangeiro

O desenvolvimento económico e social de Portugal passa por impulsionar e incentivar a

modernização e a diversificação da economia portuguesa, criando condições para

reforçar a inovação, o investimento e a internacionalização das empresas. Este reforço

permite diversificar as exportações e a produção de bens e serviços mais sofisticados e

diferenciados, aumentando a competitividade das empresas e do País.

A abertura de novos canais de exportação e o reforço da internacionalização do tecido

empresarial e de projetos inovadores coloca a economia numa trajetória de crescimento

sustentado. A exploração de novos mercados onde cada vez mais empresas portuguesas

possam afirmar as suas vantagens competitivas e potenciar resultados de projetos

inovadores é determinante. A capacitação e qualificação dos recursos humanos das

empresas dos setores transacionáveis, o reforço do investimento com a promoção

internacional e uma rede comercial externa de apoio mais eficaz assumem-se como

áreas fundamentais de intervenção. Para além da preocupação transversal da

internacionalização das empresas e da economia nacional como um todo, o Governo

dará particular atenção à internacionalização de start-ups, do turismo, da indústria da

defesa, do ensino superior, do conhecimento, da saúde, dos setores agrícola e florestal,

da economia do mar, da cultura e das artes, da língua e da literatura.

No entanto, a contribuição do setor exportador para o crescimento da economia nacional

difere das importações incorporadas na sua produção. Quanto menor o nível de

importações na produção nacional, maior o valor acrescentado nacional, isto é, maior é

a incorporação de recursos nacionais associada a essa produção, contribuindo para a

criação de emprego direto e indireto. Neste sentido, e em virtude do aumento da

competitividade do tecido empresarial português, será prioritário desenhar e

implementar políticas que permitam reduzir importações e aumentar a incorporação de

valor acrescentado nacional na produção nacional, tanto para o mercado interno como

para o mercado externo.

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De igual modo, a captação de investimento direto estrangeiro é estratégica para atrair

recursos financeiros e não financeiros para a economia nacional, contribuindo para o

reforço do tecido económico, para a criação de emprego e para um aumento da

competitividade da economia portuguesa.

Finalmente, revela-se também estratégico retirar o máximo potencial de uma ligação

mais forte e duradoura com a diáspora portuguesa. Um esforço sério e sistemático neste

domínio trará resultados tanto ao nível da internacionalização, da inovação e do

investimento, como também da própria coesão nacional no mundo.

Nestes termos, as medidas a adotar enquadram-se em quatro eixos essenciais:

● Prioridade à internacionalização

– Renovar a entidade pública responsável pela promoção do investimento e do

comércio externo de Portugal com o objetivo de reforçar a rede externa e interna

de apoio às empresas, integrando recursos humanos com maior experiência

internacional que possam funcionar como verdadeiros agentes de suporte

comercial das PME portuguesas;

– Assegurar que os apoios comunitários às PME no âmbito da internacionalização

e exportação também incluem, dentro de certas condições, projetos de

colaboração com grandes empresas envolvendo PME;

– Agilizar os mecanismos de seguros de crédito e pré-financiamento das

exportações, fomentando a sua concessão com base na existência comprovada

de encomendas;

– Promover maior mobilização de recursos humanos e de competências na área da

internacionalização, envolvendo a revisão e reforço da aposta no INOV-

Contacto, o lançamento de programas de inserção de jovens quadros nas

empresas exportadoras e programas que promovam o regresso de jovens com

experiência internacional para reforçar a área de internacionalização das

empresas e o apoio a programas de formação em competências chave na

internacionalização;

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– Avaliar condições para uma tributação mais favorável de custos e investimentos

com promoção internacional;

– Promover a captação de empreendedores estrangeiros, portadores de talento,

tecnologia e acesso a mercados internacionais, reavaliando o atual regime fiscal

para o residente não habitual de forma a privilegiar as áreas estratégicas do

investimento, criação líquida de emprego e internacionalização da economia;

– Articular as políticas de inovação com as de exportação e internacionalização

visando também acelerar a chegada ao mercado internacional dos resultados

inovadores e, simultaneamente, ajudar a mudar a imagem externa da economia

nacional com reflexos na valorização das exportações de todos os setores;

– Tornar replicáveis e exportáveis as soluções de equipamentos e software

desenvolvidas, constituindo um novo eixo de especialização e um facilitador

para a internacionalização para países com carências nos recursos humanos;

– Dinamizar a participação do País nas redes internacionais de cooperação na I&D

empresarial, concentrando estes esforços na mesma entidade que gere os apoios

e dinamiza a I&D empresarial, favorecendo uma maior articulação;

– Criar uma linha de apoio à internacionalização de projetos em curso, para

viabilizar, com pouco acréscimo de meios públicos, o aumento das candidaturas

a programas de cooperação internacional, como o Horizonte 2020 ou o

EUREKA;

– Estimular a cooperação e concentração entre PME, nomeadamente através da

constituição de agrupamentos complementares de empresas ou de outras formas

de cooperação.

● Incorporação de mais valor acrescentado nacional

– Promover a correta implementação de uma marca Portugal e a sua promoção e

divulgação junto de produtores e consumidores;

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– Introduzir mecanismos que permitam privilegiar, nos apoios públicos, as

empresas exportadoras, ou com atividade fora do país, cujo processo produtivo

incorpore maiores recursos nacionais, à semelhança do que é feito noutros

países europeus, em respeito pelas normas comunitárias;

– Acompanhar em permanência as empresas multinacionais instaladas em

Portugal de forma a conseguir responder rapidamente às suas necessidades e

desenvolvimento de estratégias concertadas para garantir um aumento da

incorporação de valor acrescentado nacional;

– Contratualizar objetivos de desenvolvimento local (proporção de compras

nacionais) com empresas instaladas em Portugal;

– Incentivar iniciativas da «sociedade civil» para a criação de circuitos comerciais

e logísticos, e uso de sistemas de pagamento específicos, que contribuem para a

dinamização da produção nacional ligando diretamente produtores nacionais e

consumidores;

– Desenvolver iniciativas de substituição de importações onde haja mais

vulnerabilidade externa e melhores condições potenciais de competitividade,

nomeadamente no setor alimentar, apoiando o desenvolvimento da produção

nacional;

– Apoiar medidas que favoreçam a utilização alternativa dos transportes coletivos,

onde se investiu numa capacidade que está subutilizada, ou equipamentos de uso

partilhado, diminuindo o incentivo à aquisição e utilização de viatura própria.

● Atrair mais e melhor investimento direto estrangeiro

– Desenhar e pôr em prática um plano específico de atração de investimento

estrangeiro estruturante que potencie recursos humanos qualificados e resultados

de projetos de I&D, que valorize a nossa posição geoeconómica, tire partido das

vantagens competitivas existentes no tecido económico, colabore na valorização

sustentada de recursos naturais e que, além disso, possa funcionar como fator de

dinamização de novos clusters promissores para a economia portuguesa;

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23 DE M ARÇO DE 2016 51_____________________________________________________________________________________________________________

– Apostar na valorização do território como forma de atrair investimento

estrangeiro, desenvolvendo uma oferta integrada, para um horizonte temporal

alargado, que integre benefícios fiscais, compromissos de cofinanciamento,

facilidades na política de vistos para imigrantes e apoios de natureza logística,

entre outros benefícios;

– Lançar campanhas específicas de divulgação das potencialidades de

acolhimento de investimento estrangeiro dirigidas a bancos internacionais e de

desenvolvimento, ecossistemas de capital de risco, empresas de consultoria e

escritórios de advogados internacionais, organizações que difundem rankings de

competitividade internacional, etc.;

– Dinamizar os conhecimentos e a influência da rede da diáspora nos seus países

de acolhimento, para promover a captação de investimento estrangeiro.

● Aproveitar o potencial da diáspora portuguesa para o investimento, o

empreendedorismo e a internacionalização

– Encarar as comunidades como uma alavanca da internacionalização da

economia portuguesa, recorrendo para o efeito às estruturas locais, como

câmaras de comércio, associações temáticas, cooperação entre cidades, etc.;

– Fomentar o investimento de emigrantes e lusodescendentes em Portugal em

setores prioritários (turismo, comércio e indústria, cultura), mas também no

setor social e da saúde;

– Valorizar e apoiar as empresas de portugueses e lusodescendentes no

estrangeiro, designadamente através do desenvolvimento de parcerias

internacionais estratégicas entre empresas.

Apostar no turismo como setor estratégico para o emprego e para o crescimento das

exportações

O turismo assume especial relevo enquanto motor de dinamismo económico e social das

regiões, contribuindo fortemente para a criação de emprego e crescimento das

exportações nacionais, representando, atualmente, quase metade das exportações de

serviços.

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II SÉRIE -A — NÚMERO 61 52_____________________________________________________________________________________________________________

A transversalidade do turismo origina sinergias em áreas múltiplas como os transportes,

a cultura, o património, o mar, a ciência e o desenvolvimento regional, tendo por isso

um efeito multiplicador na economia nacional que deve ser potenciado.

Neste sentido, é desígnio deste Governo afirmar e promover o turismo como pilar

estratégico para a coesão territorial, criação de emprego e para o crescimento das

exportações.

O planeamento participado e a promoção do desenvolvimento do turismo são

fundamentais para, de forma articulada, garantir a competitividade turística do destino

Portugal, nas vertentes económica, social e de sustentabilidade dos recursos.

Neste contexto o Governo dará prioridade à valorização dos recursos naturais e

patrimoniais e ao investimento no capital humano, fator-chave para o setor, bem como à

promoção de políticas transversais geradoras de sinergias, nomeadamente, mobilizando

os setores da cultura, ciência, inovação, transportes, formação, reabilitação e

regeneração urbanas, tendo em vista a qualificação e diferenciação da oferta e o

desenvolvimento de novas áreas de negócio.

O Governo dará especial enfoque às políticas de reposicionamento das regiões

turísticas, no âmbito do combate à sazonalidade, dinamização do turismo interno,

descentralização da procura, promoção das acessibilidades e de uma mais eficaz

promoção de Portugal.

Simultaneamente, o Governo assumirá um papel ativo na criação de um contexto

económico positivo para que as empresas na área do turismo inovem e invistam,

promovendo-se o empreendedorismo e o desenvolvimento de novos negócios turísticos,

bem como a capacitação digital das empresas.

Para prosseguir os objetivos propostos na área do turismo, o Governo irá:

● Investir num planeamento participado da atividade turística, através de um Plano

Estratégico Nacional de Turismo credível e fundamentado e de Planos de

Promoção Turística de base nacional e regional, com real envolvimento das

empresas turísticas;

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23 DE M ARÇO DE 2016 53_____________________________________________________________________________________________________________

● Promover as acessibilidades aéreas a Portugal, de forma articulada e integrada,

com as autoridades aeroportuárias e com a oferta turística;

● Promover Portugal como destino wi-fi;

● Reforçar a competitividade da capacidade digital dos destinos e das empresas

turísticas portuguesas, incentivar o e-business e o aumento da presença da oferta

turística portuguesa na Internet de forma agregada;

● Garantir a presença do destino Portugal na internet e reforçar a eficácia da rede

externa de turismo na sua promoção e venda;

● Manter e credibilizar a concentração na entidade pública responsável pela

promoção, valorização e sustentabilidade da atividade turística das competências

da Administração Pública relacionadas com o setor, reforçando-a como interlocutor

principal das empresas e dos empresários deste domínio;

● Potenciar o setor do turismo enquanto fator de atração de investimento estrangeiro

de elevada qualidade, para reposicionamento global e melhoria contínua da oferta

nacional;

● Valorizar e dignificar os ativos humanos no turismo, reforçando a qualidade e o

prestígio das escolas e das profissões do setor e melhorando as condições inerentes

ao exercício profissional e à formação permanente dos trabalhadores;

● Valorizar o património natural e cultural como fator diferenciador do Destino

Portugal, desenvolvendo conteúdos visitáveis e colocando-o ao serviço dos

cidadãos, num contexto de colaboração efetiva entre cultura e turismo;

● Promover a dinamização dos centros urbanos com interesse para o turismo,

nomeadamente através da requalificação urbana e incentivo à criação de projetos

com conceitos inovadores de animação e valorização dos ativos e produtos

regionais;

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II SÉRIE -A — NÚMERO 61 54_____________________________________________________________________________________________________________

● Garantir a plena consonância entre a aplicação dos Fundos Europeus do Portugal

2020 e as prioridades estratégicas definidas para o setor do turismo em Portugal,

evitando duplicidade de critérios e inconsequência na afetação de recursos

públicos;

● Criar condições para promover o acesso das empresas turísticas a financiamento,

bem como a dinamização de instrumentos de inovação financeira dedicados ao

turismo;

● Implementar um programa de redução dos entraves burocráticos ainda existentes

nas atividades turísticas, bem como desenvolver a agenda digital para o empresário

turístico, como centro de recursos de apoio em todas as vertentes da atividade

empresarial;

● Promover o empreendedorismo e o desenvolvimento de novos negócios turísticos,

com os contributos da inovação, das artes e da ciência, de modo a aproveitar as

potencialidades existentes nas cidades, nas áreas protegidas e no mundo rural;

● Monitorizar a atividade turística e os seus impactos, criando mecanismos de

acompanhamento e de antecipação da realidade de negócio existente, de forma a

permitir aos empresários, aos investidores e aos decisores públicos a tomada de

decisões informadas e baseadas no conhecimento;

● Implementar, em articulação com setor privado, programas de reposicionamento

regional, de combate à sazonalidade, através da dinamização de produtos turísticos

específicos (nomeadamente turismo de saúde, turismo de negócios, turismo

desportivo e turismo religioso), da promoção turística direcionada a segmentos

identificados (nomeadamente sénior e juvenil) e da captação de eventos e

congressos;

● Operacionalizar e regular o jogo online;

● Articular o desenvolvimento do Turismo com a melhoria da qualidade de vida.

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23 DE M ARÇO DE 2016 55_____________________________________________________________________________________________________________

4. PROMOVER O EMPREGO, COMBATER A PRECARIEDADE

No atual contexto, a criação sustentada de emprego de qualidade e a redução do

desemprego, nomeadamente dos jovens e dos desempregados de longa duração,

constituem desígnios estratégicos para os próximos anos. Assim sendo, a atuação nas

diferentes áreas de intervenção deverá ter subjacente esta preocupação, que, por sua vez,

terá impactos positivos noutros domínios.

No âmbito da promoção da criação sustentada de emprego de qualidade, será necessário

ter em consideração um conjunto vasto de medidas sectoriais que contribuem para este

objetivo. Neste sentido, urge construir uma agenda de promoção do emprego e de

combate à precariedade, assente na retoma do dinamismo do diálogo social aos

diferentes níveis – da concertação social à negociação coletiva de nível sectorial e de

empresa.

Os vetores de atuação do Governo neste domínio passam por focalizar as políticas

ativas de emprego no combate ao desemprego jovem e ao desemprego de longa

duração, apoiando o emprego nos sectores de bens transacionáveis e nos sectores

criadores de emprego.

Com o objetivo de promover o emprego, reduzir-se-á o imposto sobre o valor

acrescentado (IVA) da restauração para 13% e será dada prioridade à criação de

programas de forte incentivo à reabilitação urbana e de recuperação do património

histórico português, setores fortemente potenciadores de emprego.

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Políticas ativas para emprego efetivo

As políticas ativas de emprego devem ser mais efetivas, seletivas e dirigidas aos

segmentos e grupos mais atingidos pelo desemprego e com especiais dificuldades de

entrada ou reentrada no mercado de trabalho, como os jovens e os desempregados de

longa duração, bem como à promoção do emprego em setores com elevado potencial de

criação de emprego e nos bens transacionáveis, em articulação com a estratégia de

modernização e competitividade da economia. A reposição, no centro das prioridades

das políticas públicas, da educação de adultos e da formação ao longo da vida

constituem, também, respostas às novas exigências de empregabilidade para os

desempregados de longa duração e para os trabalhadores que não tiveram a

oportunidade de adquirir os níveis de qualificação indispensáveis.

As políticas ativas de emprego de resposta ao bloqueio que os jovens enfrentam à

entrada do mercado de trabalho mediante o desenho e/ou ajustamento de programas de

emprego jovem que, com os recursos adequados, favoreçam a inserção sustentada dos

jovens no mercado de trabalho.

Lançar um programa de apoio ao emprego jovem «Contrato-Geração»

Destaca-se, neste quadro, o compromisso de desenvolver um programa de apoio ao

emprego jovem – o «Contrato-Geração».

Apoiar o reforço das competências e da empregabilidade

A melhoria da empregabilidade assenta, invariavelmente, no desenvolvimento das

competências, a fim de promover a sua correspondência efetiva com as necessidades

reais e imediatas do mercado de trabalho, numa perspetiva de constante adequação aos

desafios colocados pela permanente inovação tecnológica e empresarial a que estão

sujeitas as economias globais.

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O desemprego nacional já não se caracteriza apenas pela predominância dos baixos

níveis de qualificação na população portuguesa, atingindo todos os níveis

habilitacionais, desde o nível básico ao superior. Nesta conformidade, urge reforçar os

programas conjugados de formação e de reconhecimento, validação e certificação de

competências para os adultos com níveis de habilitação até ao nível secundário, bem

como promover programas específicos de formação avançada para jovens licenciados

desempregados, que devem apostar no reforço dos saberes já adquiridos com

competências transversais ou específicas, que valorizem os jovens no mercado de

trabalho.

Assim, o Governo propõe:

● Criar percursos de educação-formação diferenciados em função das necessidades

de grupos específicos;

● Criar mecanismos de aconselhamento e orientação de adultos que permitam o

encaminhamento dos formandos em função do seu perfil, das necessidades de

formação e das oportunidades de inserção profissional e realização pessoal;

● Lançar um programa de reconversão de competências orientado para o setor das

tecnologias de informação e comunicação, incluindo a aquisição de ferramentas no

domínio da programação de código, em parceria com universidades e empresas,

que permita dar resposta à falta de recursos humanos com formação nestas áreas

contribuindo para superar as dificuldades de contratação das empresas instaladas

em Portugal e para a captação de mais investimento estrangeiro em setores

emergentes;

● Associar os estágios curriculares a mecanismos de apoio à empregabilidade dos

licenciados e graduados;

● Lançar programas de reconversão de competências de licenciados desempregados

nas diversas áreas da educação e formação, orientados para setores de atividade

com reconhecida carência de profissionais;

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● Promover um maior reconhecimento do ensino profissional e das qualificações

profissionais no âmbito do mercado de trabalho, estabelecendo dinâmicas de

cooperação com os parceiros sociais e os conselhos empresariais regionais e

potenciando a concertação social e a negociação coletiva para obter um maior

reconhecimento das certificações profissionais;

● Incentivar a requalificação de ativos e dos gestores das empresas, através do apoio

a programas de ação-formação e ou de formação continuada, nas universidades e

politécnicos, em escola e nas próprias empresas, aproveitando a experiência dos

organismos privados que vêm desenvolvendo com sucesso estas ações, com

particular ênfase na formação internacional de gestores de PME;

● Estimular as redes locais para a qualificação que permitam coordenar e concertar a

nível regional e local as necessidades de oferta educativa e formativa e o seu

ajustamento à procura, com a necessária articulação com os organismos centrais

responsáveis pelas políticas e pelo financiamento;

● Constituir plataformas de diálogo e parceria, com vista à promoção de formas de

articulação reforçada das ofertas formativas das instituições de ensino superior e de

formação profissional com as necessidades das empresas;

● Integrar a promoção dos níveis de qualificação dos portugueses, as dinâmicas de

aprendizagem ao longo da vida, a criação de condições para a empregabilidade e o

trabalho digno como aspetos estratégicos de um acordo em sede de concertação

social;

● Criar um Programa Nacional de Apoio à Economia Social e Solidária, visando a

modernização e consolidação do setor, nomeadamente por via de mecanismos de

simplificação administrativa, como a «cooperativa na hora».

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Estimular a criação de emprego

As empresas jovens são responsáveis por quase metade do emprego criado em Portugal

nos últimos anos. Empresas de crescimento elevado podem representar uma pequena

proporção do tecido empresarial, mas dão um forte contributo para a criação de

emprego. Para potenciar a dinâmica de criação de novas empresas em setores

emergentes e inovadores e, consequentemente, estimular a criação de mais e melhores

empregos, as políticas de promoção do empreendedorismo revelam-se essenciais. Para

tal, o Governo irá promover o desenvolvimento empresarial, adotando medidas que

contribuam para eliminar barreiras ao empreendedorismo e potenciem a criatividade e

capacidade de iniciativa dos portugueses e de investidores estrangeiros que escolham

Portugal para criar emprego e gerar riqueza. Neste âmbito, o Governo defende como

medidas fundamentais:

● Criar uma grande aceleradora de empresas, de âmbito nacional mas com relevância

europeia, que apoie a internacionalização de start-ups, através de uma rede de

mentoria especializada e de apoios à internacionalização, promovendo ainda

intercâmbios para start-ups em crescimento e em fase de expansão;

● Criar a Rede Nacional de Incubadoras, promovendo a cooperação, partilha de

recursos e alavancando mutuamente as iniciativas dos seus membros. Esta rede terá

igualmente como objetivo promover e apoiar o desenvolvimento de novas

incubadoras de qualidade em áreas complementares à rede existente;

● Criar a Rede Nacional de Fab Labs (ou prototipagem), permitindo interligar os

vários equipamentos já existentes, criando sinergias entre estes e promovendo o

surgimento de novos espaços de prototipagem. Neste domínio será igualmente

relevante desenvolver e promover a ligação dos Fab Labs ao empreendedorismo, à

educação e à investigação;

● Promover a cultura empreendedora nos jovens por meio da introdução de módulos

ou cursos de empreendedorismo nas escolas públicas e do desenvolvimento de

programas de estágios de estudantes em start-ups, incubadoras ou aceleradoras.

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Combater a precariedade, evitando o uso excessivo de contratos a prazo, os falsos

recibos verdes e outras formas atípicas de trabalho, reforçando a regulação e

alterando as regras do seu regime de segurança social

A precariedade cresceu de forma significa, particularmente entre os mais jovens. Se, por

um lado, a generalização de relações laborais precárias fragiliza o próprio mercado de

trabalho e a economia, por outro lado, relações laborais excessivamente precárias põem

em causa a existência de perspetivas de desenvolvimento social e de vida das pessoas.

Por sua vez, a competitividade das empresas num espaço europeu desenvolvido deve

fazer-se através da valorização do seu capital humano e das suas elevadas qualificações,

o que implica adequadas relações laborais que preservem apostas duradouras e de longo

prazo, aptas a aproveitar esses ativos.

Com o objetivo de combater a precariedade e reforçar a dignificação do trabalho, o

Governo procurará:

● Propor a limitação do regime de contrato com termo, com vista melhorar a

proteção dos trabalhadores e aumentar a taxa de conversão de contratos a prazo em

permanentes;

● Agravar a contribuição para a Segurança Social das empresas que revelem excesso

de rotatividade dos seus quadros em consequência da excessiva precarização das

relações laborais;

● Facilitar a demonstração da existência de contratos de trabalho em situações de

prestação de serviços, devendo passar a considerar-se a existência efetiva de um

contrato de trabalho, e não apenas a presumi-la, quando se verifiquem as

características legalmente previstas nesta matéria;

● Ponderar a criação de um mecanismo rápido, seguro e eficaz de reconhecimento de

situações de efetivo contrato de trabalho em situações de prestação de serviços,

dispensando-se o trabalhador de recurso a tribunal para fazer prova dos factos

apurados, sem prejuízo de recurso arbitral ou judicial por parte do empregador;

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● Melhorar a capacidade inspetiva e de atuação em matéria laboral, nomeadamente

reforçando a Autoridade para as Condições de Trabalho, aumentando a capacidade

de regulação do mercado de trabalho por via do aumento da dissuasão do

incumprimento das regras laborais e, também, de verificação da conformidade com

as mesmas;

● Reavaliar o regime de entidades contratantes, tendo em vista o reforço da justiça na

repartição do esforço contributivo entre empregadores e trabalhadores

independentes com forte ou total dependência de rendimentos de uma única

entidade contratante;

● Rever as regras para determinação do montante de contribuições a pagar pelos

trabalhadores em regime de prestação de serviços, para que estas contribuições

passem a incidir sobre o rendimento efetivamente auferido, tendo como referencial

os meses mais recentes de remuneração;

● Revogar a norma do Código do Trabalho que permite a contratação a prazo para

postos de trabalho permanentes de jovens à procura do primeiro emprego e

desempregados de longa duração, e avaliar novos mecanismos de aumento da sua

empregabilidade;

● Reforçar a fiscalização do cumprimento das normas de trabalho, combatendo o uso

abusivo e ilegal de contratos a termo, dos falsos «recibos verdes», do trabalho

temporário, do trabalho subdeclarado e não declarado e o abuso e a ilegalidade na

utilização de medidas de emprego, como os estágios e os contratos emprego-

inserção, para a substituição de trabalhadores;

● Limitar os contratos de trabalho de duração determinada a necessidades

devidamente comprovadas;

● Regularizar a situação dos trabalhadores com falsa prestação de serviços: falso

trabalho independente, falsos recibos verdes e falsas bolsas de investigação

científica;

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● Avaliar a proteção no desemprego para trabalhadores independentes, detetando

eventuais ineficiências na sua operacionalização à luz das necessidades de proteção

e dos objetivos traçados para este novo regime de proteção;

● Proceder a uma avaliação dos riscos cobertos no regime de prestação de serviços,

tendo em vista um maior equilíbrio entre deveres e direitos contributivos dos

trabalhadores independentes e uma proteção social efetiva que melhore a perceção

de benefícios, contribuindo para uma maior vinculação destes trabalhadores ao

sistema previdencial de Segurança Social;

● Proceder à regulamentação do Regime dos Contratos de Trabalho dos Profissionais

de Espetáculos e a criação do Estatuto do Artista, respondendo aos desafios

específicos de um setor com incidência de trabalho de natureza precária e

intermitente;

● Elaborar um Plano Nacional Contra a Precariedade que consolide as medidas

previstas no sentido de evitar o uso excessivo de contratos a prazo, os falsos

recibos verdes e outras formas atípicas de trabalho;

● O Governo definirá uma política de eliminação progressiva do recurso a trabalho

precário e de programas tipo ocupacional no sector público como forma de

colmatar necessidades de longa duração.

Diminuir a litigiosidade e promover a conciliação laboral

Em processos de conflitualidade laboral, incluindo em processos de cessação do

contrato de trabalho, será explorada a utilização de mecanismos ágeis de resolução dos

conflitos, com segurança jurídica, procurando ganhos para todas as partes,

designadamente em matéria de celeridade, previsibilidade e custos associados ao

processo. Por isso, o Governo irá estudar, com os parceiros sociais, a adoção de

mecanismos de arbitragem e de utilização de meios de resolução alternativa de litígios

no âmbito da conflitualidade laboral, sem prejuízo do direito de recurso aos tribunais.

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Dinamizar a contratação coletiva

Assumir o objetivo da dinamização da contratação coletiva e da negociação coletiva na

administração pública.

O Governo propõe-se ainda trabalhar em articulação estreita com a Comissão

Permanente de Concertação Social, assim como a dinamizar o diálogo social.

5. MELHORAR A PARTICIPAÇÃO DEMOCRÁTICA E A DEFESA DOS

DIREITOS FUNDAMENTAIS

Tornou-se usual falar de uma quebra de confiança dos cidadãos relativamente à política,

às instituições democráticas e aos seus agentes. Esta descrença torna-se particularmente

expressiva quando se consideram os níveis de abstenção: tomando por base as eleições

para a Assembleia da República e partindo de uma taxa de abstenção de 8,5%, em 1975

– ou seja, nas primeiras eleições livres após o 25 de abril de 1974 –, verificou-se, nas

últimas eleições de 4 de outubro de 2015, uma taxa de abstenção de 44,1%. Isto

significa que, num universo eleitoral de quase 9,7 milhões de portugueses, cerca de 4,3

milhões escolheram não participar no ato eleitoral1. Mais ainda, de acordo com a

«European Social Survey», que acumula dados de 2002 a 20122, 71% dos portugueses

demonstravam pouco ou nenhum interesse pela política do seu país. Por sua vez, os

índices de confiança revelados pela mesma sondagem nos políticos, nos partidos, e no

Parlamento nacional apontavam, numa escala de 0 a 10, níveis de 2.2, 2.1, e 3.4,

respetivamente.

O aprofundamento da participação democrática dos cidadãos implica aproximar os

eleitores dos eleitos e alargar e facilitar o exercício do direito de voto. A adoção de

mecanismos que ampliem e estimulem a participação democrática é vista pelo Governo

como uma das áreas de intervenção prioritária e que reclama alterações profundas no

âmbito da administração eleitoral. Neste sentido serão adotadas medidas, quer

legislativas, quer tecnológicas, tendo em vista alargar e facilitar o exercício do direito de

voto.

1 Fonte: SGMAI - Base de Dados do Recenseamento Eleitoral (eleitores) 2 Fonte: http://barometro.com.pt/archives/1432

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Para esse efeito, o Governo irá adotar as seguintes medidas:

● Alargar a possibilidade de voto antecipado, ampliando o elenco das profissões e

das situações em que se aplica;

● Criar condições para o exercício do direito de voto em qualquer ponto do País,

independentemente da área de residência, sempre no respeito pelo princípio da

verificação presencial da identidade.

Por outro lado, são igualmente condições para o pleno funcionamento da democracia a

disponibilização de meios eficazes e céleres para os cidadãos exercerem os seus direitos

e obter esclarecimentos necessários junto das instituições públicas. Com este propósito,

a ação do Governo promoverá a implementação das seguintes medidas:

● A adoção de um Orçamento Participativo a nível do Orçamento do Estado, dando

prioridade a medidas promotoras da qualidade de vida;

● A introdução de consequências efetivas por ausência de resposta à petição de

interesse geral à Assembleia da República enviada pelo Parlamento ao Governo;

● A adoção da possibilidade de os cidadãos estrangeiros residentes em Portugal

poderem apresentar petições aos órgãos de soberania;

● A criação de meios que permitam o acompanhamento dos processos associados às

petições, nomeadamente através de um sítio na Internet que funcione como «balcão

do peticionário»;

● O desenvolvimento de um projeto de «Perguntas Cidadãs ao Governo»;

● A dinamização de mecanismos de auscultação permanente dos movimentos sociais

e do cidadão, através dos quais o Parlamento e o Governo os possam contactar e

auscultar com regularidade;

● A introdução de benefícios para as entidades patronais que criem condições para a

participação cívica dos seus colaboradores;

● A avaliação anual do cumprimento das medidas previstas no programa do

Governo, com a participação de um grupo de cidadãos escolhidos aleatoriamente

de entre eleitores que se pré-inscrevam;

● O reforço da temática de Educação para a Cidadania nos currículos escolares.

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Importa, igualmente, reforçar o papel do Tribunal Constitucional na sua função

imprescindível de promover e defender os direitos fundamentais e a Constituição. Esse

reforço passa pela redução das restrições formais e financeiras que condicionam o

acesso dos cidadãos ao tribunal e pela garantia de celeridade das suas decisões. Para tal,

o Governo pretende:

● Estabelecer prazos máximos de decisão em sede de fiscalização sucessiva abstrata

da constitucionalidade, pois a sua ausência tem originado uma grande

imprevisibilidade nos prazos de decisão;

● Criar a figura do Assistente Constitucional, que goze de um estatuto de amicus

curiae, que integre, designadamente, o poder de juntar aos autos requerimentos,

documentos, dados oficiais e estatísticas, bem como pareceres jurídicos ou

técnicos, mesmo nos casos em que o processo de fiscalização abstrata, preventiva

ou sucessiva, não decorra de sua iniciativa;

● Regular as condições em que as entidades com legitimidade constitucional para

suscitarem a fiscalização abstrata sucessiva da constitucionalidade têm de apreciar

as solicitações que lhes são dirigidas por municípios ou por cidadãos ao abrigo do

direito de petição.

O reforço da tutela dos direitos fundamentais não pode ignorar os riscos que hoje se

colocam ao direito à proteção de dados pessoais, que exigem a atualização do quadro

legislativo que protege a identidade informacional, nomeadamente o direito à

veracidade e à retificação de informação, o direito ao esquecimento, o direito à proteção

do bom nome e a proteção contra a apropriação de identidade. Nesse sentido o Governo

irá criar e desenvolver:

● Mecanismos de monitorização e avaliação dos sistemas eletrónicos, públicos e

privados, de registo e arquivamento de dados pessoais, garantindo a existência de

plataformas de gestão dos pedidos relacionados com o direito ao esquecimento e da

reserva da intimidade da vida privada e do bom nome;

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● Mecanismos rápidos e expeditos para reagir e obter compensações face à violação

dos direitos ao esquecimento, reserva da intimidade da vida privada e do bom

nome.

6. GOVERNAR MELHOR, VALORIZAR A ATIVIDADE POLÍTICA E O

EXERCÍCIO DE CARGOS PÚBLICOS

É essencial empreender uma ação reparadora imediata e empenhada no sentido de

modificar a conceção e o modo como se governa, de modo a ir cada vez mais ao

encontro do que é esperado e exigido pelos cidadãos e pelas empresas. A crescente

exigência destes agentes sociais e económicos impõe que a governação seja cada vez

mais dialogante e participativa e, consequentemente, mais transparente, ágil e eficaz no

cumprimento dos seus objetivos.

Estas metas só poderão ser satisfeitas quando a governação for mais flexível e orientada

para a obtenção dos resultados que dela se exigem. Assim, o caminho para atingir estas

metas torna-se claro: é essencial melhorar a qualidade da produção legislativa e aplicar

uma metodologia mais eficiente, com vista ao planeamento e execução de políticas

públicas com impactos significativos e diversificados. Tal deve incorporar,

necessariamente, um maior envolvimento e participação dos cidadãos que à República

Portuguesa incumbe servir.

Por forma a concretizar os objetivos acima descritos, é absolutamente crucial

empreender um conjunto de esforços que assegurem uma atividade legislativa regida

por critérios de elevada racionalidade e que gerem um impacto positivo e significativo

na vida dos cidadãos, simplificando ao mesmo tempo o seu acesso (e consequente

envolvimento) no fluxo legislativo. Assim, e de forma a governar melhor e diferente,

proceder-se-á à execução de uma estratégia transversal, baseada em cinco pilares

estratégicos:

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● Focar a organização governativa na sua missão e nos resultados que pretende obter:

– Estabilizar o núcleo central da estrutura orgânica dos ministérios, evitando assim

as alterações que sucessivos Governos efetuem;

– Permitir que a orgânica governativa seja pontualmente flexibilizada em função

das prioridades políticas assumidas no programa do Governo, sem que isso

implique alterações significativas nos serviços dos diferentes departamentos

ministeriais;

– Adaptar a estrutura orgânica do Governo com vista à integração de políticas

transversais aos vários departamentos ministeriais, mediante a consolidação de

poderes de coordenação na Presidência do Conselho de Ministros.

● Realizar um acordo estratégico de médio prazo que articule políticas económicas,

fiscais, de rendimentos, de emprego e de proteção social;

– Submeter à concertação social e negociar com os parceiros um acordo tripartido

para a legislatura que articule diferentes áreas de política para fomentar a

competitividade e a coesão social, criando assim uma base de apoio sólida e

alargada para áreas estratégicas das políticas públicas;

– Criar um horizonte de médio prazo, no âmbito da legislatura, de objetivos

partilhados e de estabilidade das políticas, introduzindo segurança,

previsibilidade, e credibilidade nos processos políticos, criando assim melhores

condições para as decisões dos diferentes agentes, nomeadamente para o

quotidiano dos cidadãos e o investimento das empresas;

– Articular de modo virtuoso medidas de política económica, fiscal, de

rendimentos, de emprego e proteção social, entre outras, de forma a maximizar

as diferentes sinergias existentes entre elas e minimizar os custos de contexto

provocados por conflitos entre as mesmas.

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● Melhorar a qualidade da legislação;

– Retomar mecanismos de planeamento da atividade legislativa que visem a

fixação de prioridades e a fiscalização da atividade legislativa por forma a evitar

esforços inúteis ou sem razão política ou social que os justifique, garantindo a

implementação de um programa para a melhoria das práticas legislativas;

– Simplificar a Lei do Orçamento, garantindo que só contém disposições

orçamentais;

– Revogar leis inúteis ou desnecessárias, fixando metas quantitativas para a

redução do «stock» legislativo e disponibilizando versões consolidadas da

legislação estruturante, e promovendo simultaneamente exercícios de

codificação legislativa, eliminando a sua dispersão;

– Elaborar guias de orientação para as instituições responsáveis pela aplicação da

legislação e dos regulamentos, por forma a melhorar a sua aplicação e a

assegurar o mais elevado nível de uniformização possível;

– Divulgar informação sobre as leis publicadas, em linguagem clara, em português

e em inglês, acessível a todos os cidadãos e incluindo um sumário em suporte

áudio para invisuais, apoiando assim a tomada de decisões quer dos cidadãos

quer das empresas, incluindo os estrangeiros que desejem investir em Portugal;

– Disponibilizar todo o acervo legislativo do Diário da República, de forma

gratuita, na Internet, completando-o com o acesso a ferramentas de pesquisa, a

legislação consolidada, a um tradutor jurídico, a um dicionário jurídico e a

legislação e regulamentação conexa com o ato legislativo em causa;

– Avaliar prévia e subsequentemente o impacto da legislação estruturante, em

especial daquela que comporte custos para as PME.

● Adotar uma nova metodologia para programar e executar obras públicas;

– Constituir um Conselho Superior de Obras Públicas com representação plural,

que emita parecer obrigatório sobre os programas de investimento e projetos de

grande relevância;

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23 DE M ARÇO DE 2016 69_____________________________________________________________________________________________________________

– Constituir centros de competências nas diferentes áreas técnicas essenciais ao

planeamento, apreciação de projetos, e fiscalização da execução de obras

públicas;

– A sujeição, apreciação e aprovação parlamentar, por maioria qualificada de 2/3,

dos programas plurianuais de investimento, com indicação expressa das

respetivas fontes de financiamento.

● Melhorar a qualidade da despesa pública.

– Promover claras melhorias na eficiência do Estado ao nível de utilização e

gestão dos recursos por parte das administrações públicas, tomando decisões

com base em critérios de custo e de eficácia e identificando fatores de produção

de despesa excessiva ou ineficaz;

– Quebrar a opacidade da teia de isenções, deduções, e outros benefícios que vão

sendo outorgados e o seu não cruzamento, garantindo que toda a receita fiscal

devida é efetivamente cobrada e que o regime de benefícios fiscais ao

investimento se encontra harmonizado;

– Efetuar um levantamento exaustivo, em todos os ministérios, de fontes de

geração injustificada de encargos, bem como medidas de racionalização e

qualificação da despesa.

Por outro lado, a aparência da suscetibilidade dos detentores de cargos públicos a

interesses alheios às funções que desempenham tem contribuído para minar a confiança

dos cidadãos nas instituições. O Governo promoverá o incremento da transparência no

exercício de cargos públicos, a adoção de medidas que contribuam para o incremento

dos níveis de independência e de imparcialidade, bem como de iniciativas que permitam

valorizar a atividade política e o exercício de cargos públicos, nomeadamente:

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II SÉRIE -A — NÚMERO 61 70_____________________________________________________________________________________________________________

● A adoção de um Código da Transparência Pública, a que estarão sujeitos,

nomeadamente, os titulares dos cargos políticos, os gestores públicos, os titulares

de órgãos, funcionários e trabalhadores da Administração Pública, que regule, entre

outros aspetos, a aceitação de presentes e de «hospitalidade» disponibilizada

gratuitamente por entidades privadas (convites para a participação em congressos

ou conferências);

● A regulação da atividade das organizações privadas que pretendem participar na

definição e execução de políticas públicas, conhecida como lobbying;

● A criação de um registo público de interesses nas autarquias locais, aproximando o

seu regime do que já hoje está consagrado para os deputados e membros do

Governo;

● A proibição de aceitação de mandato judicial, nas ações a favor ou contra o Estado

ou quaisquer outros entes públicos, para os deputados que exerçam advocacia.

7. GARANTIR A DEFESA NACIONAL

A valorização do Estado e da Administração Pública passa também por uma nova

abordagem de políticas no setor da defesa nacional.

A afirmação de uma defesa nacional capaz de garantir os nossos objetivos vitais

enquanto Estado soberano, independente e seguro, depende da capacidade de assegurar

a Portugal a existência de Forças Armadas adaptadas às principais ameaças do ambiente

estratégico atual, com forças, meios e organização capazes e resilientes, que se adaptem

à mudança e complexidade dos riscos e das ameaças e à sua natureza cada vez mais

imprevisível e cada menos antecipável.

Para este desígnio, estão definidos os seguintes eixos de atuação:

● Melhorar a eficiência das Forças Armadas:

– Enquadrar a modernização das Forças Armadas de forma pragmática, conjugada

com o enquadramento económico-financeiro prevalecente, mediante respostas

transparentes a questões relacionadas com as necessidades, prioridades,

processos e temporaneidade para a sua consecução;

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23 DE M ARÇO DE 2016 71_____________________________________________________________________________________________________________

– Maximizar as capacidades civis e militares existentes, mediante uma abordagem

integrada na resposta às ameaças e riscos, operacionalizando um efetivo sistema

nacional de gestão de crises;

– Estimular a adoção de uma atitude de accountability, de acordo com a qual

sejam estabelecidas prioridades claras, centralizando o investimento, de modo a

garantir recursos humanos e materiais adequados ao cumprimento das missões

de que sejam incumbidas as Forças Armadas, devolvendo a estas a estabilidade

para implementar a sua organização e dispositivo, operacionalizando e

depurando instrumentos recentemente aprovados;

– Promover um quadro de ação de elementar continuidade numa sociedade

democrática, política e plural, onde a sageza, a experiência e o bom senso dos

vários interlocutores devem conduzir, com objetividade e rigor, a execução

plena e serena de todo o processo de consolidação do instrumento e do

dispositivo militar;

– Rentabilizar recursos, reforçando a partilha no âmbito dos serviços, sistemas de

apoio e logística entre os ramos das Forças Armadas, como facto normal,

devendo ser comum aquilo que possa ser mais eficiente, sem pôr em causa a

identidade substancial de cada um dos ramos;

– Aprofundar a racionalidade da gestão de recursos, pugnando pela concretização

eficaz do estabelecido nas Leis de Programação Militar e das Infraestruturas

Militares, tendo em vista a modernização e o investimento nas áreas das Forças

Armadas, segundo critérios de necessidade, eficiência e transparência.

● Estimular a indústria de defesa nacional:

– Promover uma indústria de defesa como instrumento relevante para garantir

autonomia e atuação das Forças Armadas e gerar valor acrescentado na

economia nacional, mantendo e reforçando o emprego qualificado;

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– Garantir a eficaz gestão das participações públicas na indústria de defesa e a

promoção da internacionalização e da capacidade de exportação das empresas

que operam em Portugal;

– Estimular e apoiar a participação da indústria de defesa nacional em programas

de cooperação internacional.

● Valorizar o exercício de funções na área da defesa:

– Assegurar a estabilidade estatutária e reforçar as qualificações e outros fatores

que contribuam para a qualidade, como aspetos fundamentais para garantir a

coesão, motivação e a manutenção dos efetivos;

– Prosseguir o desenvolvimento adequado de um sistema de qualificação da

formação que permita alinhar com o Sistema Nacional de Qualificações (SNQ)

com as formas e duração da formação conferida nas Forças Armadas, durante a

prestação do serviço militar;

– Implementar o Instituto Universitário Militar, trave-mestra para a concretização

de um desígnio de maior igualdade e qualificação (e em diferentes níveis), num

quadro de responsabilização do ensino militar, tradicionalmente pioneiro no

desenvolvimento do pensamento e do saber e da modernização e onde, mais

uma vez, a eficiência será explorada;

– Reconhecer a especificidade da condição militar, com atenção especial aos

deficientes das Forças Armadas e aos Antigos Combatentes, dando a devida

prioridade ao apoio social e à assistência na doença.

– Desenvolver a ação social complementar, conciliando em termos de razões

circunstanciais e de estrutura, as expectativas legítimas dos utilizadores com as

boas práticas de serviço e de gestão, promovendo a responsabilidade partilhada

dos vários interlocutores e parceiros;

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– Concretizar o processo de instalação e operacionalização do Hospital das Forças

Armadas, melhorando as boas práticas e os cuidados de saúde aí prestados,

enquadrando esta prioridade na valorização do elemento humano da Defesa

Nacional, e de mais-valia pública, a explorar mediante critérios de escala e de

oportunidade em mercados disponíveis.

● Reforçar a ligação da defesa nacional aos portugueses.

– Desenvolver um melhor entendimento, aproximação e conhecimento dos

portugueses relativamente à importância e responsabilidade individual na defesa

nacional, como fator crucial à afirmação da sua cidadania;

– Promover uma melhor divulgação das atividades operacionais desenvolvidas;

– Estimular a adoção de uma cultura de defesa, aberta aos cidadãos, valorizando

os ativos culturais da defesa nacional (institutos universitários e afins, museus,

bandas, monumentos, cerimoniais e locais de informação digital, etc.) em

articulação estreita com os setores da educação, ciência, cultura, desporto e

turismo, enquadrada no Dia da Defesa Nacional;

– Reforçar, sempre que possível, laços identitários com as comunidades

portuguesas, dando continuidade aos contactos estabelecidos entre forças

nacionais destacadas e os portugueses radicados no exterior.

Por outro lado, e tendo presente a necessidade de envolver a sociedade no debate sobre

as questões da defesa nacional e de aproximar as Forças Armadas dos portugueses, o

Governo promoverá, entre outras medidas, um plano de ação para uma cultura de defesa

que se enquadrará no Dia da Defesa Nacional e envolverá escolas, autarquias e

associações, valorizando os recursos próprios da defesa e das Forças Armadas (museus,

laboratórios, bibliotecas, arquivos, bandas musicais, equipamentos desportivos,

monumentos, revistas, jornais e sítios na Internet) em articulação com os setores da

educação, ciência, cultura, desporto e turismo.

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8. SEGURANÇA INTERNA

A manutenção de um Estado seguro, a prevenção e o combate aos diversos tipos de

violência e de criminalidade e a promoção da confiança nas forças e serviços de

segurança, constituem desígnios fundamentais do Governo.

A prevenção e a repressão dos riscos e das ameaças à segurança cada vez mais globais,

diversificados, complexos e sofisticados – como sejam o tráfico de pessoas, de armas e

de droga, o terrorismo, o cibercrime e a moderna criminalidade económico-financeira -,

implicam uma orientação estratégica clara, bem definida e conduzida de modo coerente,

um sistema de segurança interna adequadamente coordenado, eficaz e operativo e o

reforço da cooperação internacional.

Importa também concretizar ações que, mantendo as despesas controladas, permitam

libertar o maior número de elementos das forças de segurança para trabalho operacional

e, por outro lado, estimulem a partilha de recursos entre Forças e Serviços de

Segurança, aumentando a sua eficácia e satisfazendo as prioridades de segurança

interna.

Modernização e racionalização do sistema de segurança interna, de forma a torná-lo

mais coordenado, eficaz e operativo, através do estabelecimento de um conceito

estratégico de segurança interna claro para a realização dos objetivos integrados da

segurança nacional. Reorganização de procedimentos e dos recursos humanos de modo

a libertar o maior número de elementos das forças de segurança para trabalho

operacional.

Para a prossecução destas políticas setoriais os principais eixos de atuação serão os

seguintes:

● Investimento nos recursos tecnológicos, com a implementação de soluções

tecnológicas que permitam aumentar a eficiência organizacional, a promoção da

transparência e a responsabilização das Forças de Segurança;

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● Investimento nos recursos humanos, reconhecendo as especificidades da condição

policial, conferindo especial atenção à dignificação dos agentes, dos serviços e

forças de segurança;

● Aprofundamento das parcerias para a segurança comunitária, que assentam no

desenvolvimento da colaboração com as comunidades locais de forma a aplicar

técnicas de resolução de problemas que abordam de forma preventiva a redução de

atividades criminosas, comportamentos considerados antissociais e questões de

qualidade de vida. A partilha destas responsabilidades com os stakeholders locais

para se reduzir a criminalidade e melhoria da qualidade de vida. Uma nova geração

de ações de policiamento de proximidade serão integradas no Programa Nacional

de Prevenção e Segurança de Proximidade;

● Reorganização das infraestruturas ligadas à área da segurança, através de um

levantamento criterioso das necessidades em termos de segurança interna, com

vista à elaboração de um Plano de Investimentos Plurianual para qualificação dos

ativos (infraestruturas e equipamentos) das forças de segurança. Será definido, de

acordo com critérios de segurança interna e de urgência na intervenção face à

degradação das infraestruturas, um plano de modernização dos equipamentos

afetos às Forças de Segurança. Neste sentido, serão reanalisadas as obras lançadas

sem critério, e/ou com critérios de dúbia robustez, em que não foi avaliada a sua

necessidade, a sua consistência e a sua sustentabilidade económico-financeira.

Evitando, desta forma, projetos lançados casuisticamente e sem estarem alicerçados

num plano nacional de reorganização e reformulação das Forças de Segurança;

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● Desenvolver e reforçar a dimensão externa da segurança interna, através da

expansão e do aprofundamento da cooperação internacional, nos níveis bilateral e

multilateral, especialmente no âmbito do Espaço de Liberdade, de Segurança e de

Justiça da UE e da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e com os

parceiros da bacia do Mediterrâneo; do incremento da cooperação internacional na

prevenção e no controlo da criminalidade grave, violenta e altamente organizada; e

da afirmação de uma política de imigração e de controlo de fronteiras baseada no

princípio da solidariedade e na criação de instrumentos de coordenação e

fiscalização eficazes.

Proteção civil

No domínio da proteção civil o Governo irá consolidar o sistema de proteção civil

clarificando as competências das autoridades políticas e de coordenação operacional nos

níveis nacional, regional, distrital e municipal, de modo a incrementar as condições de

prevenção e de resposta face à ocorrência de acidentes graves e catástrofes, mobilizando

os agentes e parceiros do sistema de proteção e socorro.

Neste âmbito, destacam-se as seguintes medidas:

● Implementação da Diretiva Operacional Permanente, em todos os patamares do

sistema de proteção civil;

● Fortalecimento do patamar municipal de proteção civil, em articulação com a

Associação Nacional de Municípios Portugueses;

● Valorização das associações humanitárias e dos corpos de bombeiros voluntários,

nomeadamente através de medidas de incentivo do voluntariado;

● Desenvolvimento e implementação de sistemas de apoio à decisão operacional,

com a georreferenciação de meios operacionais e com o desenvolvimento de meios

de videovigilância;

● Implementação de sistemas de monitorização de risco, de aviso e de alerta precoce,

incrementando o patamar preventivo do sistema de proteção civil;

● Modernização das infraestruturas e equipamentos dos agentes de proteção civil;

● Atualização do regime legal da proteção civil.

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Segurança rodoviária

No que respeita à intervenção no domínio da promoção da segurança rodoviária, será

lançado o Plano Estratégico Nacional de Segurança Rodoviária (2016-2020),

envolvendo a participação da sociedade civil, com o objetivo de fortalecer o combate à

sinistralidade rodoviária.

A partir da avaliação dos resultados alcançados nos últimos cinco anos, serão delineadas

novas medidas no âmbito da prevenção, da sensibilização da população e da

fiscalização seletiva dos comportamentos de maior risco.

Neste âmbito, será implementada a Rede Nacional de Fiscalização Automática de

Velocidade, a designada «carta por pontos», bem como a realização de auditorias de

segurança da rede rodoviária. A sensibilização será relançada com iniciativas

integradas, plurianuais e com recurso a diferentes canais de comunicação.

No âmbito da cooperação com os municípios portugueses, será incrementada a

elaboração de planos municipais e intermunicipais de segurança rodoviária e agilizado o

processo de contraordenações rodoviário de forma a diminuir significativamente os

atrasos da sua vertente administrativa e que permita ser um instrumento efetivo de

combate aos comportamentos perigosos na estrada.

9. POLÍTICA CRIMINAL

Prevenção e combate à criminalidade

A prevenção e o combate ao crime e às ameaças externas, por um lado, e a proteção das

vítimas de crimes e de pessoas em risco constituem uma clara opção do Governo para a

legislatura.

A criminalidade constitui uma ameaça grave para os valores da democracia, o que

requer a capacitação adequada da Polícia Judiciária de modo a garantir a segurança

nacional, contribuindo igualmente para a segurança do espaço europeu.

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Os novos desafios obrigam à atualização de recursos e soluções tecnológicas específicas

orientadas para a prevenção e combate ao crime, designadamente o terrorismo, o

cibercrime, os crimes contra a liberdade e autodeterminação sexual e a criminalidade

económico-financeira.

Entre as medidas previstas, salientam-se:

● Manter atualizadas as orientações de política criminal, adequando as leis de

definição de objetivos, prioridades e orientações de política criminal à evolução

dos fenómenos criminais, num quadro de rigoroso respeito pelo princípio da

separação de poderes;

● Reforço dos sistemas e tecnologias de informação, aumentando a capacidade para a

investigação criminal, designadamente através da criação de uma unidade móvel de

recolha de prova digital, bem como de um laboratório forense na área informática,

e da implementação de um sistema de gestão da atividade laboratorial forense.

● A promoção de políticas pró-ativas de prevenção e de investigação da corrupção,

nomeadamente através de inquéritos junto dos utentes dos serviços públicos.

Proteção às vítimas de crime e pessoas em situação de risco

Por outro lado, o Governo irá melhorar o sistema de proteção às vítimas de crime

violento e de violência doméstica, bem como às pessoas em situação de risco,

nomeadamente através da concretização das seguintes medidas:

● O aprofundamento da prevenção e do combate à violência de género e doméstica,

através de uma estratégia nacional abrangente, com participação local e perspetivas

integradas para uma década, na linha do que é definido na Convenção de Istambul

e na Convenção sobre a Luta Contra o Tráfico de Seres Humanos;

● Incremento dos mecanismos da vigilância eletrónica e de teleassistência no apoio a

vítimas de violência doméstica;

● Criação de um novo regime de medidas de salvaguarda quanto à regulação

provisória das responsabilidades parentais dos indivíduos envolvidos em processos

de violência doméstica;

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● Criação de uma rede de espaços seguros para visitas assistidas e entrega de crianças

e jovens no âmbito dos regimes de responsabilidades parentais;

● Adaptação das Comissões de Proteção de Crianças e Jovens, para que possam

exercer funções de proteção de pessoas em situação de risco.

Execução de penas e reinserção social

O aperfeiçoamento do sistema de execução de penas e a valorização da reinserção social

serão também prioridades da ação do Governo que procurará, de forma gradual,

implementar medidas que permitam qualificar o sistema prisional e investir num

objetivo claro de reinserção social.

Entre outras medidas, salientam-se:

● Elaborar e iniciar a execução de um plano, com o horizonte de uma década, com o

objetivo de racionalizar e modernizar a rede de estabelecimentos prisionais e

ajustar a rede nacional de centros educativos;

● Introdução de medidas de adequação do regime penal aplicável aos jovens

delinquentes aos novos desafios da sociedade, visando a prevenção geral e especial

com os objetivos da sua ressocialização;

● Melhoria a médio prazo das condições materiais dos estabelecimentos prisionais e

reforço da qualificação dos profissionais do sistema prisional;

● Rever os conceitos de prisão por dias livres e outras penas de curta duração, em

casos de baixo risco, intensificando soluções probatórias;

● Admitir o recurso à pena contínua de prisão na habitação com vigilância eletrónica,

nos casos judicialmente determinados, com eventual possibilidade de saída para

trabalhar;

● Reforço da resposta do sistema nacional de vigilância eletrónica, particularmente

na execução das sentenças de prisão de curta duração, nas condições de aplicação

da liberdade condicional associadas, se necessário, a outro tipo de intervenções,

nomeadamente de natureza terapêutica, no domínio da aplicação das medidas de

coação, bem como na vigilância dos agressores nos casos de violência doméstica.

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Reincidência criminal

No que respeita à reincidência criminal, o Governo investirá na sua prevenção,

procurando dinamizar ferramentas de reinserção social, designadamente quanto aos

mais jovens. Para tal, o Governo pretende implementar as seguintes medidas:

● Investimento na formação profissional dos reclusos e no trabalho prisional,

mediante justa remuneração;

● Captação de mais contratualização privada e dinamização do empreendedorismo,

aumentando a oferta de trabalho no meio prisional;

● Aprofundar a relação das entidades penitenciárias com as comunidades locais e o

setor empresarial;

● Dinamização de uma bolsa de ofertas de emprego para o período posterior ao

cumprimento de pena de prisão, reforçando os apoios sociais para a reintegração na

vida ativa.

10. ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA

No âmbito da administração da justiça os desafios que uma sociedade aberta e em

permanente evolução determinam uma capacidade de adaptação de todos os operadores

e uma cultura de rigor e de mudança exigentes.

A complexidade, muitas vezes desnecessária, nos domínios legislativo e regulamentar, a

insuficiente ou desadequada oferta de meios de resolução alternativos de litígios e a

morosidade processual em alguns domínios são áreas onde o Governo irá intervir em

prol da melhoria da qualidade do serviço público e do exercício de cidadania que

importa estimular.

O Governo está fortemente comprometido em aproximar a justiça a todos os níveis da

sociedade, adotando uma perspetiva gestionária mais orientada para a modernização,

simplificação e racionalização de meios. Para o efeito, irá orientar a sua ação na

resolução dos problemas efetivos do cidadão focando-se nos seguintes eixos

estratégicos:

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● Melhoria da gestão do sistema judicial - No que respeita à melhoria da gestão do

sistema judicial, é desígnio deste Governo promover o compromisso e a

cooperação entre os operadores judiciários relançando o esforço coletivo de

mudança, agilizando o funcionamento das diferentes instituições e reforçando a

confiança do cidadão num dos principais pilares da democracia. O défice de gestão

associado ao sistema judicial é reconhecido, sendo necessário que a qualificação da

sua gestão reverta efetivamente a favor dos destinatários e utilizadores do sistema:

– No âmbito do programa SIMPLEX, simplificar as práticas nos tribunais, na

comunicação interna e externa com os cidadãos, da organização e de funções de

suporte à atividade judicial;

– Implementação de um novo sistema de indicadores de gestão nas várias áreas do

sistema de justiça, designadamente para os tribunais, que permita monitorizar e

avaliar os resultados de gestão;

– Reforço e qualificação da oferta formativa para a gestão dos tribunais e para a

gestão processual;

– Melhoria do planeamento dos meios humanos, materiais e financeiros

envolvidos na atividade judicial, tendo em conta a carga processual e a natureza

e complexidade dos contenciosos nos tribunais.

● Promoção do descongestionamento dos tribunais - A resolução de situações de

congestionamento nos tribunais, bem como especialmente a sua prevenção para o

futuro, podem beneficiar com o alargamento da oferta de justiça, designadamente

através de meios alternativos de resolução de conflitos e de ferramentas específicas

para a sua prevenção. Neste sentido, apresentam-se as seguintes medidas:

– Avaliação do modelo de gestão para desenvolvimento do plano de alargamento

racional e faseado da competência e da rede dos julgados de paz, bem como dos

centros de mediação e de arbitragem;

– Criação das condições necessárias para modernizar a tramitação dos processos

instaurados nos julgados de paz;

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– Avaliação e identificação de um novo meio de verificação de uma realidade,

atestando com valor probatório uma situação de facto, evitando o recurso aos

tribunais;

– Implementação de uma experiência-piloto de reenvio para uma resolução

pactuada a partir do processo judicial (tribunal multidoor).

● Simplificação processual e desmaterialização - O exercício da justiça envolve uma

complexa rede de agentes, processos e recursos, dispersa e sujeita a fragilidades de

vária ordem. Tornar a justiça mais célere, transparente e eficaz, obriga a um esforço

de simplificação permanente e de adequação tecnológica assente nas necessidades

efetivas do cidadão e das empresas. A modernização do exercício da justiça não se

esgota na transferência direta da informação e dos procedimentos vigentes no meio

físico para o suporte digital. A complexidade processual deve ser avaliada e sempre

que se justifique, simplificada. O Governo está também fortemente comprometido

em reforçar a segurança e resiliência dos sistemas de informação da justiça. Assim,

justificam-se medidas como as seguintes:

– Avaliação e reforço do sistema de gestão processual CITIUS em estreita

colaboração com os utilizadores, contemplando novas funcionalidades, com

segurança, robustez e eficácia;

– Introdução de medidas de simplificação processual, legislativas e tecnológicas,

com vista à redução de atos processuais redundantes, inúteis ou sem valor

acrescentado;

– Criação do domicílio legal e de uma lista pública de réus ausentes;

– Criação do centro de inovação do Ministério da Justiça para o desenvolvimento

de novas soluções jurídicas e tecnológicas, de valor acrescentado para a justiça,

aberto, entre outros, aos operadores judiciários, universidades, investigadores e

comunidade tecnológica.

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● Aproximação da justiça dos cidadãos - O facilitar do acesso à informação, o

aumento da transparência e da comunicação e o reforço da proximidade aos

utilizadores dos serviços de justiça são elementos que o Governo pretende

privilegiar, pelo que se propõe adotar medidas como:

– Correção dos erros e introdução de aperfeiçoamentos na recente reforma da

organização judiciária;

– Realização de estudos de aferição da satisfação dos utentes da justiça,

garantindo a efetividade das políticas desenvolvidas;

– Criação de um portal da justiça como veículo centralizado de comunicação, em

linguagem acessível e personalizável, focado nas necessidades do cidadão e das

empresas;

– Avaliar a eficácia da oferta e o ajustamento da rede dos gabinetes de consulta

jurídica, para favorecer o acesso a informação jurídica qualificada, em especial

em zonas ou junto de grupos que revelem mais insuficiências no acesso ao

direito, em colaboração com as autarquias, a Ordem dos Advogados e a Ordem

dos Solicitadores e dos Agentes de Execução.

● Melhoria da qualidade do serviço público de justiça - o Governo propõe-se reforçar

a qualidade dos serviços assegurados aos utilizadores dos serviços de justiça, em

especial em situações onde estes utilizadores estão em particular fragilidade ou

quando se verifica necessário reforçar a qualificação dos próprios intervenientes.

Assim, propõem-se medidas como as seguintes:

– Melhorar a qualidade do sistema de acesso ao direito, implementando medidas

que eliminem constrangimentos e garantindo que o acesso ao direito seja mais

efetivo;

– Reforço da formação para magistrados e para oficiais de justiça em áreas

relevantes da prática jurídica atual ou associadas ao aumento da eficiência do

trabalho judicial.

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11. SIMPLIFICAÇÃO ADMINISTRATIVA E VALORIZAÇÃO DE FUNÇÕES

PÚBLICAS

Simplificação administrativa

O Governo retomará o programa Simplex para todo o setor público central, regional e

local, com medidas conjuntas para os três níveis de administração, envolvendo quer as

entidades públicas participantes, quer os seus utentes, com vista a estender e renovar o

Simplex a todo o sector público, nomeadamente através da criação de «balcões únicos»

que evitem múltiplas deslocações para resolver o mesmo assunto e entrega dos mesmos

documentos a diferentes entidades públicas.

O Governo promoverá ainda o alargamento da rede de serviços de proximidade.

A simplificação administrativa permite uma melhor gestão na Administração Pública.

Neste sentido, o Governo irá promover a:

● Admissão da gestão autónoma dos orçamentos pelos dirigentes dos serviços da

Administração Pública, de acordo com objetivos previamente fixados e sujeitos a

uma avaliação intercalar que associe a disponibilidade do orçamento ao grau de

desempenho;

● Promoção do modelo de organização matricial;

● Flexibilização da criação e a extinção de unidades orgânicas internas, aumentando

o grau de responsabilidade e de capacidade de decisão do dirigente máximo do

serviço.

A prioridade da inovação no sector público permite encontrar novos formatos para a

prestação de serviços públicos, em termos mais eficazes e eficientes e a experimentação

ajuda a diminuir o risco inerente a processos de mudança.

A contratação pública será usada como um dos instrumentos essenciais para a eficiência

da Administração Pública, nomeadamente através da:

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● Melhoria dos serviços partilhados de compras públicas, designadamente por via da

melhor articulação de entidades centrais com as setoriais;

● Criação de uma rede de serviços partilhados, articulando entidades centrais, como a

Entidade de Serviços Partilhados da Administração Pública, I.P., e a Direção-Geral

da Qualificação dos Trabalhadores em Funções Públicas, e pontos de contacto

setoriais, situados nas secretarias-gerais dos ministérios e em unidades específicas

de outras entidades da Administração Pública;

● Obrigação de as entidades públicas e sujeitas aos regimes da contratação pública

divulgarem um plano anual indicativo relativo às ações de contratação pública que

irão realizar, de forma a que os agentes económicos possam programar a médio

prazo a sua participação.

Valorização de funções públicas

Um Estado forte, inteligente e moderno só será conseguido se servido por trabalhadores

competentes, qualificados, motivados, abertos à inovação e fortemente imbuídos dos

valores de serviço público. Sem estas características, as Administrações Públicas serão

ineficientes e ineficazes, incapazes de apoiarem a preparação das adequadas políticas

públicas, de se comprometerem seriamente na sua aplicação e de contribuírem

decididamente para a melhoria do bem-estar dos cidadãos e da competitividade das

empresas. As Administrações desobjetivam-se e tendem para a irrelevância, com

elevadíssimos custos para a coesão social e para o futuro do país.

Também a qualidade da participação de Portugal nas políticas e organizações europeias,

internacionais e supranacionais depende largamente da qualidade e empenhamento dos

trabalhadores das Administrações Públicas.

Sem pôr de lado a necessária complementaridade e solidariedade entre os sectores

privado e público, o Governo tomará as medidas adequadas à valorização dos

trabalhadores da Administração Pública em função das exigências e especificidade da

sua atividade e sem perder de vista o contexto das condições do país.

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Em particular, para redignificar o exercício de funções públicas, o Governo irá

assegurar a eliminação de restrições à contratação dos efetivos necessários da

administração pública central, regional e local sem implicar aumento dos custos globais

com pessoal.

Valorizar o exercício de funções públicas implica ter visão do futuro e dos

compromissos que a sua construção exige às gerações presentes, sem descurar as

respostas a problemas de curto e médio prazo. Requer também aposta inequívoca na

análise prospetiva das necessidades quantitativas e qualitativas, na racionalidade da

gestão e no profissionalismo das pessoas que servem as Administrações.

As políticas de austeridade generalizada, não seletiva, dos últimos anos conduziram à

redução da qualidade dos serviços prestados pelos serviços públicos, à desmotivação

dos trabalhadores em funções públicas e à quebra de confiança dos cidadãos no Estado e

nos seus serviços públicos.

O Governo pretende inverter esta espiral negativa e no que respeita às pessoas que

servem as Administrações Públicas agirá em torno de três eixos estruturantes:

● Revitalização e racionalização do emprego público, com medidas que visam dotar

os serviços públicos prioritários, social e economicamente estratégicos, dos

recursos humanos adequados, em quantidade e qualidade, ao cumprimento das suas

missões;

– Adotará e implementará um modelo de gestão estratégica integrada dos

trabalhadores das Administrações Públicas, articulando a avaliação criteriosa de

necessidades, a fixação de prioridades, a gestão previsional de efetivos, os

mecanismos de mobilidade voluntária e o recrutamento qualificado e

tendencialmente centralizado de novos trabalhadores para funções públicas;

– Discriminará positivamente os sectores e as funções cuja atividade é prioritária

para reforçar a coesão social e territorial, a descentralização e desconcentração e

a eficiência e eficácia da ação governativa;

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23 DE M ARÇO DE 2016 87_____________________________________________________________________________________________________________

– Dará especial atenção ao recrutamento de jovens quadros de nível superior,

designadamente aproveitando e desenvolvendo as potencialidades do Curso de

Estudos Avançados em Gestão Pública.

● Promoção da eficácia e da eficiência dos serviços públicos, estimulando a

motivação dos trabalhadores, a humanização das relações de trabalho e promoção

de uma cultura de resultados, através da adoção de diversas medidas de política de

recursos humanos que aumentem a produtividade dos serviços para benefício dos

cidadãos e empreendedores bem como o nível de satisfação e realização

profissional dos trabalhadores das Administrações Públicas. Com estes objetivos, o

Governo:

– Eliminará de forma faseada, mas ainda em 2016, a redução salarial

discriminatória imposta aos funcionários e trabalhadores em funções públicas

desde a entrada em vigor do Orçamento de Estado para 2011;

– Reporá o regime geral das 35 horas de trabalho semanais para os trabalhadores

em funções públicas. O esperado aumento de motivação dos trabalhadores e de

produtividade dos serviços, aliados ao esforço de simplificação da organização e

do funcionamento da Administração, ao aproveitamento eficaz das tecnologias

da informação e comunicação e à melhoria dos métodos de gestão, permitirão

que a retoma do horário de trabalho das 35 horas semanais não tenha

repercussão no volume global de emprego público;

– Iniciará, a partir de 2018, o processo de descongelamento controlado de

evolução nas carreiras. Os mecanismos e as condições de promoção / progressão

nas carreiras serão avaliados para que as expetativas de evolução profissional

sejam articuladas com os instrumentos de avaliação e recompensa do mérito e

compatibilizadas com os recursos orçamentais disponíveis. A diferenciação com

base no mérito é fator de equidade, de motivação e contribui para o acréscimo

de produtividade;

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– Efetuará a revisão dos instrumentos de avaliação do mérito dos trabalhadores

das Administrações, nomeadamente do Sistema Integrado de Avaliação do

Desempenho da Administração Pública (SIADAP), com o objetivo da sua

simplificação e operacionalização. Enfoque especial será dado ao

aprofundamento do potencial dos mecanismos de avaliação como estímulo para

melhor desempenho global dos serviços públicos e à redução dos custos e da

carga burocrática que a operacionalização do SIADAP implica. Tanto quanto as

condições orçamentais o permitam, retomar-se-á a prática de incentivos à boa

gestão dos serviços e à melhoria do desempenho individual e coletivo.

● Garantir a qualidade e o profissionalismo dos agentes das Administrações Públicas,

nomeadamente, através do desenvolvimento do sistema de formação inicial e

contínua, geral e especializada, orientado em função das reais necessidades de

modernização e eficácia do serviço público, bem como, do aproveitamento racional

das competências profissionais dos trabalhadores das Administrações e

desenvolvê-las, designadamente tendo em vista a sua qualificação para as funções

necessárias à Administração em articulação com a política de emprego público.

– Desenvolverá o sistema de formação inicial e contínua, geral e especializada,

orientada em função das reais necessidades de modernização e eficácia do

serviço público;

– Promoverá o aproveitamento racional das competências profissionais dos

trabalhadores das Administrações e desenvolvê-las-á, designadamente tendo em

vista a sua qualificação para as funções necessárias à Administração em

articulação com a política de emprego público;

– Providenciará pelo desenvolvimento, racionalização, integração e

complementaridade da capacidade formativa existente no país, pública ou

privada, designadamente mediante protocolos com instituições do ensino

superior. Sempre que se justifique, neste esforço serão também envolvidas

capacidades existentes noutros países e instituições internacionais ou

supranacionais;

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– Revitalizará o serviço central de estudo, planeamento, organização,

monitorização e avaliação da formação profissional na Administração de forma

a garantir a qualidade da oferta formativa e a sua adequação às necessidades e

capacidades do país;

– Facilitará a mobilidade dentro das Administrações Públicas e com as

administrações de outros Estados, em especial as dos Estados-Membros da UE,

e de organizações internacionais e supranacionais;

– Providenciará pelo reforço dos valores e da ética do serviço público,

promovendo a integridade no exercício de funções públicas e a cultura de

serviço;

– Adotará as medidas necessárias ao reforço do profissionalismo dos

trabalhadores das Administrações Públicas, com especial ênfase para as

tendentes ao reforço das garantias de isenção e ao reconhecimento do mérito na

seleção dos cargos dirigentes. A alta função pública, cujo profissionalismo deve

ser exemplar e transparente, merecerá atenção especial;

– Criará condições para que o conhecimento e saber-fazer dos que trabalham ou

trabalharam nas Administrações Públicas possam ser racionalmente

aproveitados na gestão e transmissão do conhecimento, designadamente através

da sua participação na formação, na partilha de boas práticas e na cooperação.

12. REGULAÇÃO E SUPERVISÃO DOS MERCADOS

Os últimos anos foram marcados por um enquadramento internacional caracterizado

pela crise financeira global de 2007/2008, que criou pressões significativas originadas

no setor financeiro com consequências severas para a economia real e para os Estados,

desde logo com a crise das dívidas soberanas. Estas crises colocaram cada vez mais em

evidência diversas falhas ao nível da supervisão e regulação. Diversas instituições

financeiras foram intervencionadas ao longo dos últimos anos, resultando em prejuízos

diretos e indiretos avultados para a economia, para as cada vez mais pressionadas

finanças públicas e sobretudo para os cidadãos, bem como para a credibilidade e

reputação das diversas entidades reguladoras.

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Consideramos, assim, urgente uma reflexão profunda sobre a arquitetura institucional da

regulação financeira em Portugal, especialmente no que diz respeito aos conflitos de

interesse verificados entre autoridades de supervisão e de resolução e também

relativamente à eficácia preventiva dos processos de supervisão prudencial e

comportamental.

Assim, os principais eixos de atuação do XXI Governo serão:

● Melhorar o desenho institucional das funções de regulação e supervisão no setor

financeiro, nomeadamente tendo em conta o aumento da eficácia de supervisão

preventiva e a eliminação de conflitos de interesses no âmbito dos mecanismos de

resolução bancária;

● Dotar as entidades reguladoras de maior capacidade de fiscalização e de

intervenção, nomeadamente preventiva, em termos de verificação de idoneidade

(com possibilidade de suspensão de funções quando haja indícios da prática de

factos ilícitos graves) e evitar práticas de gestão danosa, defesa da concorrência e

proteção dos consumidores;

● Garantir a afetação dos meios necessários a uma regulação/supervisão efetiva,

através de ganhos de eficiência e sinergias;

● Reduzir a dispersão de competências e melhorar a coordenação, colaboração e

troca de informações entre entidades de regulação/supervisão, reduzindo os

conflitos de interesses entre as diferentes entidades e entre as diferentes funções;

● Reforçar os impedimentos ex-ante e ex-post, a fim de travar a rotação de

trabalhadores entre as entidades reguladoras e as empresas reguladas ou prestadoras

de serviços relevantes a essas entidades (revolving doors);

● Atribuir à Assembleia da República um papel relevante na quantificação de

objetivos e na avaliação dos resultados obtidos pelas entidades reguladoras,

aumentando assim o rigor, exigência, visibilidade e transparência das respetivas

atuações;

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● Obrigar à identificação dos beneficiários económicos últimos de participações qualificadas em instituições de crédito, bem como a divulgação de todas as

operações de concessão de crédito (ou similares) a membros dos órgãos sociais e a

titulares de participações qualificadas em instituições de crédito;

● Limitar o exercício de atividades não-financeiras por parte das instituições de

crédito, segregando o exercício da atividade de receção de depósitos com vista a

aumentar a proteção dos mesmos;

● Reforçar a padronização da informação pré-contratual ligada à oferta de

instrumentos financeiros a clientes não profissionais, impondo restrições à venda

de produtos financeiros sempre que tal configure um prejuízo para o cliente e

penalizando eventuais más práticas comerciais.

13. VALORIZAR A AUTONOMIA DAS REGIÕES AUTÓNOMAS

Sobre este modelo de descentralização política, constitucionalmente consagrado há 40

anos, considera o Governo existir uma necessidade imperiosa de mobilização das

regiões autónomas para um novo patamar de relacionamento e de partilha de

responsabilidades, e para uma mais eficaz concretização, dos objetivos fundacionais da

experiência autonómica e que são a da participação democrática dos cidadãos, o

desenvolvimento económico-social e a promoção e defesa dos interesses regionais, bem

como o reforço da unidade nacional e dos laços de solidariedade entre todos os

portugueses.

Para isso, entende o Governo:

● Ser tempo de ultrapassar uma perspetiva demasiado redutora e simplista do

potencial e do papel que as regiões autónomas podem desempenhar, evoluindo para

uma visão que assenta no relacionamento entre o Estado e as autonomias regionais

com base na complementaridade, na concertação e na contratualização. Nesse

âmbito, assumem particular relevância os recursos, humanos e materiais, para

assegurar, nessa parte do território nacional, as funções do Estado;

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● Chamar as regiões autónomas para uma renovada e visível participação nas

matérias que interessam ao País no seu todo, nomeadamente em processos de

decisão ao nível europeu;

● A valorização das regiões autónomas, enquanto ativos do País, passa pela extensão

da plataforma continental portuguesa que, neste momento, se encontra em análise

nas Nações Unidas. São os arquipélagos portugueses, sobretudo os Açores, que dão

consistência e dimensão a esta pretensão portuguesa, e são as regiões autónomas

que constituem os imprescindíveis interlocutores para uma melhor efetivação das

competências nacionais que sobre ela passarão a incidir. Esta é uma das áreas em

que a as regiões autónomas constituirão, por excelência, a entidade para a sua

eficaz operacionalização;

● Outro domínio em que a valorização da ação das regiões autónomas reverterá,

também, em benefício do Estado, prende-se com o aproveitamento do enorme

potencial que encerra o relacionamento privilegiado que as regiões autónomas têm

com entidades infra-estaduais estrangeiras, como províncias, estados federados,

entre outros.

Nestes casos, a contratualização e a mobilização de recursos nacionais a favor dessas

relações privilegiadas que, no plano económico, político ou cultural, as regiões

autónomas podem desenvolver são consideradas pelo Governo como essenciais.

14. DESCENTRALIZAÇÃO, BASE DA REFORMA DO ESTADO

O Governo considera que a transferência de competências para órgãos com maior

proximidade deve ser acompanhada de uma maior legitimidade democrática desses

órgãos, reafirmando o aprofundamento da democracia local e o valor do respeito da

autonomia administrativa e financeira das autarquias locais. Para tal, o Governo

pretende a:

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● Reforço do papel e poderes efetivos das autarquias no modelo de organização das

Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR), designadamente

estabelecendo-se a eleição do respetivo órgão executivo por um colégio eleitoral

formado pelos membros das câmaras e das assembleias municipais (incluindo os

presidentes de junta de freguesia) da área de intervenção, respondendo o órgão

executivo da CCDR, com três a cinco membros, perante o conselho regional e

sendo as funções exercidas em regime de incompatibilidade com quaisquer outras

funções políticas ou administrativas de natureza nacional ou autárquica;

● Transformação das atuais áreas metropolitanas, reforçando a sua legitimidade

democrática, com órgãos diretamente eleitos, sendo a assembleia metropolitana

eleita por sufrágio direto dos cidadãos eleitores, o presidente do órgão executivo o

primeiro eleito da lista mais votada e os restantes membros do órgão eleitos pela

assembleia metropolitana, sob proposta do presidente.

Por outro lado, o princípio da subsidiariedade deve ser assumido como orientador da

decisão sobre o nível mais adequado para o exercício de atribuições e competências

(nacional, regional ou local), pelo que o Governo promoverá a transferência de

competências para os níveis mais adequados:

● As áreas metropolitanas terão competências próprias bem definidas que lhes

permitam contribuir de forma eficaz para a gestão e coordenação de redes de

âmbito metropolitano, designadamente nas áreas dos transportes, das águas e

resíduos, da energia, da promoção económica e turística, bem como na gestão de

equipamentos e de programas de incentivo ao desenvolvimento regional dos

concelhos que as integram;

● As comunidades intermunicipais serão um instrumento de reforço da cooperação

Intermunicipal, em articulação com o novo modelo de governação regional

resultante da democratização das CCDR e da criação de autarquias metropolitanas.

Serão revistas as atribuições, os órgãos e modelos de governação e de prestação de

contas;

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● Os municípios são a estrutura fundamental para a gestão de serviços públicos numa

dimensão de proximidade, pelo que será alargado o elenco das suas competências

em vários domínios, sem prejuízo da salvaguarda da universalidade das funções e

da devida e comprovada afetação dos meios que garantem o seu exercício efetivo;

● As freguesias terão competências diferenciadas em função da sua natureza e

exercerão poderes em domínios que hoje lhes são atribuídos por delegação

municipal;

● O reforço das competências das autarquias locais na área dos transportes implica a

anulação das concessões e privatizações em curso dos transportes coletivos de

Lisboa e Porto.

Neste domínio o Governo dará, ainda, coerência territorial à administração

desconcentrada do Estado e promoverá a integração dos serviços desconcentrados do

Estado nas CCDR. É prioritária a generalização da rede de serviços públicos de

proximidade a desenvolver em estreita colaboração com as autarquias locais.

No âmbito das políticas de descentralização administrativa, será igualmente promovida

a avaliação da reorganização territorial das freguesias, estabelecendo critérios objetivos

que permitam às próprias autarquias aferir os resultados da fusão/agregação e corrigir os

casos mal resolvidos, bem como, a alteração das regras de financiamento local, de modo

a que o financiamento das autarquias não só acompanhe o reforço das suas

competências, mas permita restabelecer a capacidade financeira, assegurando a

convergência com a média europeia de participação na receita pública:

● A participação dos municípios nos impostos do Estado (IRS, Imposto sobre o

Rendimento das Pessoas Coletivas (IRC) e IVA), a repartir segundo critérios de

promoção da coesão social e territorial;

● A participação direta nas receitas geradas no município, através da derrama de IRC

e de participações de base territorial no IRS e no IVA;

● A arrecadação de impostos e de taxas locais em áreas de competência municipal.

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15. DEFENDER O SERVIÇO NACIONAL DE SAÚDE, PROMOVER A SAÚDE

A crise e a fraca definição de políticas levaram o Serviço Nacional de Saúde (SNS) a

gastar pior os recursos escassos e gerou graves problemas e desigualdades no acesso,

tendo-lhe faltado visão estratégica e capacidade para executar as reformas organizativas

indispensáveis. O revigoramento e a recuperação do SNS e do seu desempenho

constituem, por isso, um dos mais árduos desafios para a próxima década, sendo um

teste decisivo à determinação política na defesa do Estado Social. Os portugueses mais

vulneráveis sentem hoje a falta de acessibilidade, a desumanização e a perda de

qualidade do SNS.

É, por isso, urgente dotar o SNS de capacidade para responder melhor e mais depressa

às necessidades dos cidadãos do SNS, simplificando o acesso, aproveitando os meios de

proximidade, ampliando a capacidade de, num só local, o cidadão obter consulta, meios

de diagnóstico e de terapêutica que ali possam ser concentrados, evitando o constante

reenvio para unidades dispersas e longínquas. O SNS só poderá ser amigável se a sua

administração for simplificada e modernizada através da criação de um SIMPLEX da

Saúde que torne transparente, informada e acolhedora a circulação do utente nos

diversos níveis do sistema.

Temos que repor o equilíbrio famílias-Estado no financiamento da Saúde. Os atuais

32% a cargo das famílias têm que ser progressivamente revertidos para valores que não

discriminem o acesso, nem tornem insolventes as famílias.

As políticas a desenvolver na área da saúde visam melhorar a equidade de acesso dos

cidadãos aos cuidados de saúde e a qualidade dos serviços que são prestados pelo SNS,

permitindo impactos positivos no estado de saúde da população. Estes objetivos serão

prosseguidos no contexto dos desafios que se colocam, nomeadamente o

envelhecimento da população, a diminuição da taxa de natalidade e o aumento do

número de doentes crónicos. Para concretizar estes objetivos estabelecem-se como

prioridades revigorar e recuperar o desempenho do SNS, através da implementação de

uma política de saúde de proximidade e em defesa do Estado Social.

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Repor o equilíbrio na partilha do financiamento entre as famílias e o Estado é uma

prioridade, tendo em atenção os elevados custos a cargo das famílias, que têm de ser

progressivamente revertidos para valores que não discriminem o acesso.

É fundamental relançar a reforma dos cuidados de saúde primários e dos cuidados

continuados integrados a idosos e a cidadãos em situação de dependência, ao mesmo

tempo que se terá que concretizar uma reforma hospitalar que aposte no relançamento

do SNS.

É igualmente uma prioridade integrar as prestações de saúde com as da Segurança

Social, tanto a nível local como a nível regional e central envolvendo também os

municípios (enquanto estruturas fundamentais para a gestão de serviços públicos numa

dimensão de proximidade). Só com um apoio coordenado dos diferentes instrumentos

do Estado Social se poderá dar satisfação, de forma integrada, às necessidades do

cidadão idoso e com dependência, evitando a descoordenação de apoios atualmente

existente.

A estratégia a implementar na área da saúde visa, também, a promoção da inclusão de

pessoas com deficiência ou incapacidade, superando as falhas graves ao nível do acesso

e adequação do apoio terapêutico, bem como assegurar os cuidados de saúde nas

situações de toxicodependência, doenças infeciosas e doenças do foro da saúde mental.

A nível europeu, destaca-se o objetivo de intensificar a cooperação com os restantes

países com especial destaque no planeamento integrado e na articulação efetiva da rede

de oferta de serviços de saúde em ambos os lados da fronteira, evitando assim

redundâncias e desperdícios.

A estratégia descrita para o setor da saúde visa dar uma resposta positiva, que garanta,

nos mais diversos níveis de prestação, o acesso de toda a população a cuidados de saúde

de excelência.

A reforma da saúde assenta num conjunto de medidas desenvolvidas a partir de nove

eixos de atuação:

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Promover a saúde através de uma nova ambição para a Saúde Pública

A Saúde Pública será valorizada enquanto área de intervenção, para a boa gestão dos

sistemas de alerta e de resposta atempada dos serviços, o diagnóstico de situações

problemáticas e a elaboração, com a comunidade, de planos estratégicos de ação,

assegurando que os perfis e planos locais de saúde são construídos de forma a potenciar

os recursos, valorizando as pessoas. Para este eixo, destacam-se as seguintes medidas:

● Criar um Programa Nacional de Educação para a Saúde, Literacia e Autocuidados;

● Implementar os Planos Locais de Saúde em cumprimento do Plano Nacional de

Saúde;

● Reforçar a vigilância epidemiológica, da promoção da saúde, da prevenção

primária e da prevenção secundária;

● Revitalizar o Programa de Controlo das Doenças Transmissíveis;

● Promover medidas de prevenção do tabagismo, de alimentação saudável e de

prevenção do consumo de álcool e dos demais produtos geradores de dependência;

● Recuperar a importância, no contexto do SNS, da Rede Nacional de Saúde Mental;

● Avaliar e atualizar o Programa Nacional de Vacinação;

● Revogar a alteração à Lei da Interrupção Voluntária da Gravidez, com entrada em

vigor logo no início de 2016.

Reduzir as desigualdades entre cidadãos no acesso à saúde

O objetivo deste eixo estratégico é superar a desigualdade entre cidadãos no acesso à

saúde, através das seguintes medidas:

● Eliminação das taxas moderadoras de urgência sempre que o utente seja

referenciado;

● Redução global do valor das taxas moderadoras;

● Reposição do direito ao transporte de doentes não urgentes de acordo com as

condições clínicas e económicas dos utentes do SNS;

● Combate às desigualdades de acesso e de diferenciação positiva, entre as quais:

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– Praticar políticas de diferenciação positiva orientadas para os cidadãos mais

vulneráveis, para as mulheres em idade fértil, crianças, pessoas idosas e em

situação de dependência;

– Prestar especial atenção às crianças em risco e em perigo, desenvolvendo a

capacidade de apoio dos serviços de saúde, na articulação com outras entidades

competentes nesta matéria;

– Reforçar a participação dos órgãos de coordenação regional e da administração

autárquica nos respetivos níveis, desenvolvendo os correspondentes mecanismos

participativos na gestão do SNS.

Reforçar o poder do cidadão no Serviço Nacional de Saúde, promovendo

disponibilidade, acessibilidade, comodidade, celeridade e humanização dos serviços

Para reforçar o poder do cidadão no SNS serão adotadas as seguintes medidas:

● Facultar aos cidadãos, de forma progressiva, a liberdade de escolherem em que

unidades desejam ser assistidos, com respeito pela hierarquia técnica e pelas regras

de referenciação do SNS;

● Simplificar os procedimentos relativos ao acesso e utilização do SNS, no âmbito do

programa SIMPLEX;

● Modernizar e integrar as tecnologias da informação e as redes existentes de forma a

manter pessoas mais velhas e os doentes por mais tempo no seu ambiente familiar,

desenvolvendo a telemonitorização e a telemedicina;

● Incentivar a participação das pessoas mais velhas na vida profissional e social;

● Criar o Conselho Nacional de Saúde para garantir a participação dos cidadãos

utilizadores do SNS na definição das políticas;

● Criar incentivos legais e fiscais que influenciem direta ou indiretamente o ambiente

e os comportamentos determinantes de saúde e de doença.

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Expansão e melhoria da capacidade da rede de cuidados de saúde primários

É f undamental assegurar a centralidade da rede de cuidados de saúde primários na

política de saúde, expandindo e melhorando a sua capacidade. Neste âmbito, destacam-

se as seguintes medidas:

● Dotar este nível de cuidados com um novo tipo de respostas (meios auxiliares de

diagnóstico e de terapêutica);

● Reforçar a capacidade dos cuidados de saúde primários (através do apoio

complementar em áreas como a psicologia, a oftalmologia, a obstetrícia, a pediatria

e a medicina física e de reabilitação);

● Criar um programa de prevenção para a Gestão Integrada da Doença Crónica

(hipertensão, a diabetes, a doença cardiovascular e a doença oncológica);

● Ampliar e melhorar a cobertura do SNS nas áreas da Saúde Oral e da Saúde Visual;

● Prosseguir o objetivo de garantir que todos os portugueses têm um médico de

família atribuído;

● Criar 100 novas Unidades de Saúde Familiar, assegurando por esta via a atribuição

de médicos de família a mais 500 mil habitantes.

Melhoria da gestão dos hospitais, da circulação de informação clínica e da

articulação com outros níveis de cuidados e outros agentes do setor

Este eixo estratégico assenta na definição das seguintes medidas:

● Reformar os hospitais na sua organização interna e modelo de gestão, apostando na

autonomia e na responsabilização da gestão e na aplicação de incentivos ligados ao

desempenho;

● Promover a avaliação externa independente das experiências hospitalares existentes

em regime de parceria público-privada para habilitar tecnicamente a decisão

política em função da defesa interesse público;

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● Criar um Sistema Integrado de Gestão do Acesso - SIGA, que facilite o acesso e a

liberdade de escolha dos utentes no SNS, nomeadamente em áreas onde o tempo de

espera ainda é significativo: consultas de especialidade, internamentos, meios

auxiliares de diagnóstico e terapêutica;

● Apostar no Registo de Saúde Eletrónico, enquanto instrumento indispensável à

gestão do acesso com eficiência, equidade e qualidade.

Expansão e melhoria da integração da Rede de Cuidados Continuados e de outros

serviços de apoio às pessoas em situação de dependência

Em articulação com as autarquias, a rede de cuidados continuados será articulada com a

rede de ação social, visando:

● Reforçar os cuidados continuados prestados no domicílio e em ambulatório;

● Reforçar a rede nacional através do aumento do número de vagas em cuidados

continuados integrados em todas as suas tipologias (esforço conjunto com as

organizações do terceiro setor e o setor privado, com especial incidência nos

grandes centros urbanos);

● Reconhecer e apoiar os cuidadores informais que apoiam as pessoas dependentes

nos seus domicílios;

● Reforçar a componente de saúde mental na Rede Integrada de Cuidados

Continuados.

Aperfeiçoar a gestão dos recursos humanos e a motivação dos profissionais de

Saúde

Para a defesa do SNS é fundamental aperfeiçoar a gestão dos seus recursos humanos e

promover a valorização dos profissionais de saúde, fomentando novos modelos de

cooperação e repartição de responsabilidades entre as diferentes profissões. Para isso, é

fundamental:

● Melhorar a articulação entre as funções assistenciais, de ensino, de formação pré e

pós-graduada e de investigação em universidades, politécnicos e laboratórios de

Estado;

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● Adequar a oferta educativa ao nível do ensino superior na área da saúde às

necessidades de profissionais de saúde do SNS;

● Incentivar a mobilidade dos profissionais para especialidades e regiões menos

favorecidas através de políticas orientadas para o desenvolvimento profissional;

● Apostar em novos modelos de cooperação entre profissões de saúde, no que

respeita à repartição de competências e responsabilidades.

Melhorar a governação do Serviço Nacional de saúde

O aumento da eficiência do SNS será apoiada pela melhoria dos instrumentos de

governação visando:

● Reforçar a capacidade do SNS através da alocação dos recursos humanos, técnicos

e financeiros adequados, para alcançar objetivos concretos de redução do tempo de

espera no acesso aos cuidados de saúde, assim como para exames e tratamentos, de

forma a assegurar cuidados de saúde de qualidade, com segurança e em tempo útil;

● Aperfeiçoar o atual modelo de contratualização dos serviços, introduzindo

incentivos associados à melhoria da qualidade, eficiência e equidade dos serviços,

inseridos nos contratos de gestão;

● Reforçar a autonomia e a responsabilidade dos gestores do SNS e das unidades

prestadoras de serviços;

● Clarificar as funções de acionista, financiador, regulador e prestador dentro do

SNS, terminando com as ambiguidades derivadas de sobreposições de várias

funções;

● Promover a evolução progressiva para a separação dos setores através da criação de

mecanismos de dedicação plena ao exercício de funções públicas no SNS;

● Reduzir as ineficiências e redundâncias no sistema, prevenindo a desnatação da

procura e a deterioração da produtividade e da qualidade no setor;

● Introduzir medidas de transparência a todos os níveis, com divulgação atempada da

informação relativa ao desempenho do SNS;

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● Reduzir progressivamente as situações geradoras de conflitos de interesses entre os

setores público e privado (incluindo as relações com a indústria farmacêutica);

● Reforçar os mecanismos de regulação através da clarificação das competências e

dos papéis dos diferentes intervenientes em cada setor de atividade;

● Abrir a gestão da Direção Geral de Protecção Social aos Funcionários e Agentes da

Administração Pública e representantes legitimamente designados pelos seus

beneficiários, pensionistas e familiares;

● Promover uma política sustentável na área do medicamento de modo a conciliar o

rigor orçamental com o acesso à inovação terapêutica, que passe designadamente

por:

– Rever os mecanismos de dispensa e de comparticipação de medicamentos dos

doentes crónicos em ambulatório;

– Promover o aumento da quota do mercado de medicamentos genéricos (em

valor) para os 30%, tendo em conta a margem para a baixa de preço que

subsiste;

– Estimular a investigação e a produção nacional no setor medicamento.

Melhorar a qualidade dos cuidados de saúde

Em 2016 é imperativo reforçar políticas e programas de melhoria da qualidade dos

cuidados de saúde, nomeadamente:

● Apostar na promoção da saúde e no combate à doença;

● Apostar na implementação de modelos de governação da saúde baseados na

melhoria contínua da qualidade e na valorização da experiência e participação do

utente;

● Implementar medidas de redução do desperdício, de valorização e disseminação

das boas práticas e de garantia da segurança do doente;

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● Aprofundar e desenvolver os modelos de avaliação das tecnologias de saúde, que avaliem adequadamente os novos medicamentos, os dispositivos médicos, as

intervenções não farmacológicas e os novos programas de saúde envolvendo os

centros universitários e de investigação relevantes;

● Apoiar a investigação científica, nas suas vertentes clínicas, de saúde pública e, em

especial, de administração de serviços de saúde criando mecanismos específicos de

financiamento.

16. COMBATER O INSUCESSO ESCOLAR, GARANTIR 12 ANOS DE

ESCOLARIDADE

A educação e a formação desempenham um papel central na promoção da justiça social

e igualdade de oportunidades, sendo igualmente alicerces do crescimento económico e

sustentabilidade do país. O contributo da educação e formação é determinante para o

concretizar da visão de uma sociedade coesa, moderna e democrática, pelo que o

Governo atribui prioridade às políticas que procuram garantir a igualdade de acesso de

todas as crianças à escola pública, promover o sucesso educativo de todos e superar o

défice de qualificações da população portuguesa.

A principal linha de atuação do Ministério da Educação será o combate ao insucesso

escolar, garantido 12 anos de escolaridade. Neste âmbito serão desenhadas e

implementadas políticas públicas destinadas ao alargamento da rede e qualificação da

educação de infância, ao desenvolvimento de um ensino básico integrado e que

promova uma variedade de aprendizagens comuns a todas as crianças, à valorização do

ensino secundário e diversificação da sua oferta formativa, ao reforço da ação social

escolar, à valorização dos profissionais da educação, ao centrar das escolas na

aprendizagem dos alunos e, por último, à modernização dos modelos e instrumentos de

aprendizagem.

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II SÉRIE -A — NÚMERO 61 104_____________________________________________________________________________________________________________

Serão mobilizados para este desígnio todos os agentes e setores da sociedade

portuguesa, envolvendo os diferentes departamentos governamentais, os pais, as escolas

e as autarquias. Para a concretização destes objetivos estratégicos, o XXI Governo

desenhará e implementará políticas públicas destinadas a todos os níveis de ensino

tendo, no entanto, um especial enfoque no ensino básico pois este nível de ensino viu a

sua trajetória de melhoria progressiva interrompida neste passado recente. Assim, é

objetivo reduzir o insucesso escolar no ensino básico para metade até ao final da

legislatura. Para tal combate ao insucesso escolar será desenvolvido um Programa

Nacional de Promoção do Sucesso Escolar, nas suas vertentes de formação contínua,

projetos locais de inovação pedagógica e enriquecimento e valorização curricular.

Apostar na educação pré-escolar como chave para o combate ao insucesso escolar:

Começar bem vale sempre a pena

A expansão da educação pré-escolar tem um papel decisivo na promoção do sucesso

escolar, constituindo a base essencial do futuro escolar das crianças, pelo que deverá ser

retomado o investimento no alargamento da rede e na qualificação da educação de

infância.

Para tal, serão implementadas as seguintes medidas:

● Universalidade da oferta da educação pré-escolar a todas as crianças dos três aos

cinco anos;

● Planos específicos de desenvolvimento das aprendizagens, que garantam que todas

as crianças desenvolvem as aprendizagens previstas nas orientações curriculares;

● Tutela pedagógica sobre todos os estabelecimentos da rede nacional, pública ou

solidária, de educação pré-escolar;

● Diagnóstico precoce de situações de risco como estratégia de prevenção do

insucesso escolar num momento em que a ação é mais eficaz;

● Programas de acompanhamento e formação dos educadores, articulados com as

ações previstas para o 1.º ciclo do ensino básico.

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23 DE M ARÇO DE 2016 105_____________________________________________________________________________________________________________

Combater o insucesso na sua raiz: desenvolver um ensino básico integrado, global e

comum a todas as crianças

Importa inverter a trajetória de aumento do insucesso escolar no ensino básico e voltar a

um percurso de melhoria progressiva deste indicador central do sistema educativo,

garantido que todas as crianças e jovens concluem os primeiros anos de escolaridade

com uma educação de qualidade, alicerçada numa ampla variedade de aprendizagens,

rejeitando a dualização precoce.

Com vista ao alcançar destes objetivos ir-se-á proceder:

● À promoção de uma maior articulação entre os três ciclos do ensino básico,

atenuando os efeitos das transições entre ciclos, através da gestão integrada e

revisão dos currículos do ensino básico e da redução da carga disciplinar excessiva

dos alunos;

● Ao incentivo da flexibilidade curricular, desde o 1.º ciclo, recorrendo a diferentes

possibilidades de gestão pedagógica e gerindo com autonomia os recursos, os

tempos e os espaços escolares;

● À rejeição da dualização precoce, garantido que todas as modalidades de

organização e gestão curriculares visam a integração dos alunos e o seu progresso

escolar;

● À priorização do 1.º ciclo do ensino básico, com vista a que, no final da legislatura,

a retenção seja residual;

● À generalização da «Escola a Tempo Inteiro» em todo o ensino básico;

● Ao apoio das escolas e agrupamentos no desenvolvimento de processos de

avaliação interna, que contribuam para a regulação e autorregulação das

aprendizagens e do ensino e dos projetos educativos;

● À realização das Provas de Aferição nos 2.º, 5.º e 8.º anos de escolaridade, em

substituição das provas finais nos 4.º e 6.º anos de escolaridade.

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Assegurar o cumprimento dos 12 anos de escolaridade obrigatória: valorizar o

ensino secundário e diversificar a oferta formativa

A valorização do ensino secundário, através da consolidação e aprofundamento da sua

diversidade, qualidade e valor de todas as ofertas formativas, é essencial para o

cumprimento da escolaridade de 12 anos. Assim, a escolaridade obrigatória deve ser

inclusiva e promover o sucesso de todos e, para a concretização deste objetivo, será

desenvolvido um programa que ajude os alunos a delinear os seus percursos escolares e

projetos de vida, procurando garantir progressivamente uma aproximação entre as

percentagens de jovens que frequentam os cursos de natureza profissionalizante e os que

frequentam os cursos de científico-humanísticos.

Valorizar o ensino secundário e diversificar a oferta formativa

Neste âmbito procurar-se-á melhorar a qualidade dos cursos científico-humanísticos,

através da criação de Programas de Desenvolvimento do ensino experimental, da

resolução de problemas e de todas as componentes de formação técnica, tecnológica,

artística e física; e também através do apoio às escolas e agrupamentos no

desenvolvimento de sistemas de avaliação interna que contribuam para melhorar

efetivamente as aprendizagens e o ensino e que constituam elementos fundamentais de

regulação e de autorregulação das práticas curriculares.

Diversificar a oferta formativa e valorizar o ensino profissional e artístico

Nesta segunda linha de ação, será implementada uma agenda de valorização do ensino

profissional, promovendo a sua qualidade de resposta, a sua relação com o mercado de

trabalho e a valorização do seu contributo para a promoção da equidade e do sucesso

educativo através de:

● Alargamento do leque de cursos e qualificações contempladas no ensino

secundário e pós-secundário profissional;

● Diversificação pedagógica do ensino profissional e promoção de uma maior

ligação da escola à comunidade e à família;

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23 DE M ARÇO DE 2016 107_____________________________________________________________________________________________________________

● Programas de formação contínua dos formadores do ensino profissional, com vista

à valorização do estatuto destes;

● Programas Plurianuais de Financiamento das escolas profissionais, com base numa

análise de mérito, de modo a criar condições de estabilidade ao financiamento da

rede de escolas profissionais;

● Impulsionar o ensino profissional para jovens, valorizando e dinamizando as

ofertas de dupla certificação;

● Promover a identificação de necessidades de formação profissional, reforçando a

relevância do ensino e da formação para o mercado de trabalho e estabelecendo

dinâmicas de cooperação com os parceiros sociais e com os conselhos empresariais

regionais;

● Produção de indicadores de empregabilidade e de prosseguimento dos cursos

profissionais e vocacionais, em complemento do já realizado para os indicadores de

resultados escolares;

● Programa de Desenvolvimento do Ensino Artístico Especializado, do nível básico

ao nível secundário, apoiando a celebração de parcerias.

Mobilizar a Ação Social Escolar para combater as desigualdades e o insucesso

escolar

A ação social deve ser mobilizada para melhorar e aprofundar os apoios às crianças e

jovens em situações de maior fragilidade social e económica, de modo a desempenhar

um papel ativo no combate à pobreza, desigualdades e abandono escolar. Existirá assim

um reforço da Ação Social Escolar não apenas na vertente escolar mas também no

apoio, orientação e mediação educativa e social. Será igualmente desenvolvido um

programa de aquisição e retorno de manuais escolares e recursos didáticos formalmente

adotados para o ensino básico e secundário.

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Centrar as escolas no ensino e na aprendizagem dos alunos, valorizando os seus

profissionais

É necessário recentrar as escolas no processo de ensino e aprendizagem dos alunos e

promover uma maior valorização dos seus profissionais. Assim, importa consolidar e

alargar significativamente o regime de autonomia, administração e gestão das escolas e

agrupamentos, como elemento central do esforço de descentralização das competências

até agora concentradas no Ministério da Educação, com reforço da legitimidade e da

responsabilidade dos seus órgãos de administração e gestão. Este esforço tem como

elemento fundamental a consolidação da autonomia pedagógica das escolas e dos

professores, valorizando a função docente.

Para alcançar estes objetivos, ir-se-á proceder ao desenvolvimento de:

● Novo sistema de recrutamento e vinculação do corpo docente e trabalhadores das

escolas, revogando desde já o regime de requalificação, e procurando realizar um

diagnóstico de necessidades permanentes, com vista à estabilidade;

● Processo de descentralização de competências, através da consolidação da

autonomia pedagógica das escolas e professores;

● Revisão do processo de transferência de competências para as autarquias ao nível

do ensino básico e secundário.

Modernizar os modelos e os instrumentos de aprendizagem

No que se refere à vertente transversal de modernização do sistema de ensino e dos

modelos e instrumentos de aprendizagem, serão desenvolvidas e aprofundadas medidas

como:

● Programa Nacional para a Inovação na Aprendizagem;

● Estratégia de recursos digitais educativos;

● Promoção da utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) no

âmbito do currículo;

● Lançamento de um Polo de Competitividade e Tecnológico para a inovação

educativa;

● Processo de simplificação na administração central da educação para uma maior

autonomia e concentração das escolas na sua atividade fundamental, que é

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aprendizagem dos alunos;

● Processo de simplificação na administração central da educação para uma maior

autonomia e concentração das escolas na sua atividade fundamental, que é

aprendizagem dos alunos;

● Manutenção e operação das Redes de área Local das Escolas;

● Rede Alargada da Educação (Internet);

● Videovigilância das Escolas (Serviços de monitorização);

● SIGA - Sistema de Integrado de Gestão de Alunos;

● Monitorização de segurança remota e piquetes nas escolas (videovigilância);

● Manutenção dos equipamentos de videovigilância; Implementação de sistema de

gestão de identidades de docentes (single sign-on);

● Desenvolvimento de software para suporte à Portaria n.º 321/2013, de 28 de

outubro (Competências TIC);

● Sistema de Ticketing e helpdesk com funcionalidades de atualização de inventário

TI das escolas;

● Implementação de um sistema de comunicações unificadas de voz sobre IP nas

escolas;

● Sistema de Gestão de Segurança da Informação [projeto com cofinanciamento no

âmbito do Sistema de apoio à modernização e capacitação da Administração

Pública (SAMA)];

● Chave Móvel Digital Educação (projeto com cofinanciamento no âmbito do

SAMA);

● Cloud Escolar;

● Equipamentos em escolas Parque Escolar e com obras POVT (Programa

Operacional Valorização do Território).

17. INVESTIR NA JUVENTUDE

Após a celebração dos 20 anos do Programa Mundial de Ação para a Juventude das

Nações Unidas em 2015, a juventude viu reforçada a importância da transversalidade e

do seu envolvimento na definição, implementação e avaliação das políticas públicas.

Assim, é fundamental continuar a chamar à participação os mais jovens, promovendo a

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sua inclusão e facilitando-lhes as condições necessárias para que possam assumir-se

enquanto atores de mudança e de desenvolvimento.

No quadro de Cooperação Europeia em Matéria de Juventude, pretende-se reforçar o

processo do Diálogo Estruturado enquanto espaço prioritário de discussão e definição

da política pública, apoiando os diferentes intervenientes a torná-lo mais articulado.

Este processo europeu tem vindo a revelar-se cada vez mais consequente,

nomeadamente, através da integração nas Recomendações do Conselho de várias

propostas da juventude saídas da Conferência Europeia de Juventude do Luxemburgo.

O Plano de Ação para a Juventude da União Europeia 2015-2018, que prioriza a

inclusão social, a participação, a transição para o mercado de trabalho, a saúde mental, a

era digital e as migrações será acompanhado de perto, prosseguindo-se uma abordagem

transversal que garanta aos jovens o acesso aos seus direitos.

A educação detém forte centralidade no desenvolvimento de cada jovem, sendo ela

também o grande garante da justiça social e da igualdade de oportunidades. Assim,

encara-se a educação numa perspetiva holística, valorizando todos os processos de

aprendizagem que acontecem nos espaços educativos formais, não formais ou

informais, estabelecendo pontes obrigatórias que serão necessárias reforçar e

valorizando as organizações de juventude enquanto estruturas fundamentais de

promoção da cidadania e da participação e de desenvolvimento de competências

facilitadoras de projetos de vida felizes para todos os jovens.

A dimensão europeia, lusófona, ibero-americana e junto das Nações Unidas da ação em

torno da política de juventude servirão ainda para reforçar os laços entre jovens e

decisores políticos destes diferentes espaços de cooperação e onde Portugal tem

assumido ao longo dos anos um papel preponderante.

Para a prossecução de tais objetivos estratégicos, serão adotadas as seguintes medidas:

● Priorizar a educação para a cidadania, fomentando o estreitamento entre o sistema

formal de educação, as organizações de juventude e o setor da educação não

formal;

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● Articular interministerialmente com as tutelas e programas que têm impacto na

vida dos jovens, nomeadamente, no que respeita ao emprego e ao

empreendedorismo, ao ensino superior, à habitação, à natalidade, à saúde, à

qualidade de vida, ao desporto, à cultura, ao ambiente, à agricultura, aos

transportes, à sustentabilidade da segurança social, ao combate à pobreza, à

igualdade, à inclusão e às migrações;

● Debater a Lei do Associativismo Jovem e demais instrumentos legislativos

relacionados, incentivando os jovens a participar nas áreas e nas formas que mais

lhes interessarem e apoiando o movimento associativo na procura de modelos de

governação mais adaptados às novas formas de socialização da juventude, abertos e

participativos, mas também eficientes e eficazes, numa lógica de capacitação e

empoderamento de cada jovem e dos seus espaços mais ou menos formais de

participação;

● Reforçar a intervenção do Instituto Português do Desporto e Juventude, I. P., no

sentido de assegurar que as melhores respostas serão sempre dadas aos jovens,

valorizando o seu capital humano e potenciando as infraestruturas que têm de estar

ao serviço da juventude;

● Garantir um trabalho integrado e conjunto com a Agência Nacional Erasmus+

Juventude em Ação e a Movijovem;

● Trabalhar no processo de reconhecimento e validação de aprendizagens adquiridas

em contexto não formal e informal, incentivando o movimento associativo jovem a

ser um agente ativo e proponente dos mecanismos que terão de ser definidos até

2018;

● Criar espaços de proximidade, consulta e debate com a juventude, associações

juvenis e demais atores do setor;

● Procurar condições para identificar e valorizar o talento jovem em diferentes áreas,

promovendo a igualdade de oportunidades e a mobilidade social dos jovens;

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● Contribuir para a promoção do Voluntariado Jovem e da Ocupação de Tempos

Livres, implementando programas, apoiando e desenvolvendo uma rede de

entidades no território nacional que possam desenvolver projetos, em várias áreas

de intervenção, e que permitam responder às instituições e às populações na

resolução de necessidades e problemas, que ao mesmo tempo contribuem para a

capacitação dos jovens;

● Reforçar a cooperação ao nível europeu, lusófono, ibero-americano e junto das

nações unidas em matérias de política de juventude.

18. PROMOVER A EDUCAÇÃO DE ADULTOS E A FORMAÇÃO AO LONGO

DA VIDA

Criar um Programa de Educação e Formação de Adultos que consolide um sistema

de aprendizagem ao longo da vida e sua ação estratégica para a próxima década

A segunda grande linha de atuação do Ministério da Educação refere-se ao investimento

na educação de adultos e formação ao longo da vida, através da criação de um

Programa de Educação e Formação de Adultos que assegure a superação do défice de

qualificações escolares da população ativa portuguesa e a melhoria da qualidade dos

processos de educação-formação de adultos.

Para alcançar estes objetivos, será implementado um conjunto de medidas que procuram

impulsionar a aprendizagem ao longo da vida para todos, promovendo a

compatibilização das necessidades individuais das pessoas com as ofertas educativas e

formativas disponíveis através de:

● Intervenção dos Centros para a Qualificação e o Ensino Profissional (CQEP), na

sua dimensão de encaminhamento e orientação ao longo da vida;

● Consolidação do sistema de reconhecimento, validação e certificação de

competências escolares e profissionais;

● Promoção da complementaridade entre os processos de reconhecimento de

competências e as ofertas de educação e formação de adultos;

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● Dinamização de redes locais para a qualificação, com o objetivo de diagnosticar

necessidades de qualificação que conduzam ao alinhamento da rede de oferta de

cursos de Educação e Formação de Adultos com o diagnóstico efetuado;

● Promoção de experiências de aprendizagem e de reconhecimento de competências

em contexto de trabalho e com as empresas;

● Criação de percursos de educação-formação diferenciados em funções de grupos

específicos;

● Substituição progressiva do ensino recorrente por cursos de educação e formação

de adultos, ensaiando uma fase piloto de ensino à distância.

Ainda sobre esta linha de atuação, afigura-se igualmente necessário:

● Promover a qualidade da rede de operadores do SNQ através da implementação e

certificação de mecanismos e sistemas de garantias alinhados com o Quality

Assurance Reference Framework for Vocational Educational and Training

(EQAVET), do acompanhamento e monitorização das ofertas de dupla certificação

e do acompanhamento e monitorização da rede de CQEP;

● Dinamizar o Catálogo Nacional de Qualificações (CNQ) na melhoria das

qualificações, envolvendo os Conselhos Setoriais para a Qualificação através da

consolidação da referenciação de todas as ofertas de dupla certificação ao CNQ, da

atualização dos referenciais de qualificação e evolução para o desenho de

qualificações baseadas em resultados de aprendizagem.

Criar um Programa de Educação e Formação de Adultos que consolide um sistema

de aprendizagem ao longo da vida e a sua ação estratégica para a próxima década

O Governo pretende revitalizar a educação e formação de adultos enquanto pilar central

do sistema de qualificações, assegurando a continuidade das políticas de aprendizagem

ao longo da vida e a permanente melhoria da qualidade dos processos e resultados de

aprendizagem, nomeadamente pelo:

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● Estímulo às redes locais para a qualificação que permitam coordenar e concertar a

nível regional e local as necessidades de oferta educativa e formativa e o seu

ajustamento à procura, com a necessária articulação com os organismos centrais

responsáveis pelas políticas e financiamento das diferentes modalidades de

qualificação.

19. MODERNIZAR, QUALIFICAR E DIVERSIFICAR O ENSINO SUPERIOR

Alargar e democratizar o acesso ao ensino superior

O Governo pretende avaliar o regime de acesso ao ensino superior e promover um

debate público, visando a sua modernização e adequação aos novos contextos:

● Criar um programa de apoio à mobilidade no ensino superior e a estudantes

deslocados que associe Estado, universidades e municípios.

O objetivo primordial do Governo é fazer de Portugal um país da ciência, da cultura e

do conhecimento. O nosso compromisso é esse: apostar no conhecimento. E apostar no

conhecimento, é antes de mais apostar nas pessoas. Trata-se, pois, de assumir o

investimento na ciência e no conhecimento como um projeto coletivo para o futuro do

país, criando as condições necessárias para elevar a qualificação da população ativa e

reduzir a distância que nos separa dos países mais desenvolvidos da Europa.

Nesse contexto, Portugal deve acelerar o seu esforço de qualificação de modo a atingir,

em 2020, a meta de 40% de diplomados de ensino superior na faixa etária 30-34 anos.

Dado que, em 2014, a percentagem de diplomados nesta idade era ainda 31.3%,

enquanto a média europeia (UE28) atingia já os 37.9%, importa alargar e democratizar

o acesso ao ensino superior, reforçar e modernizar as suas instituições e processos,

promover a modernização contínua e sistemática das aprendizagens dos estudantes,

estimular o emprego jovem e a atração de recursos humanos qualificados.

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A atuação do Governo durante a presente legislatura será orientada pela adoção de

medidas que apoiem a consolidação do ensino superior como motor de progresso,

nomeadamente através da garantia de existência de políticas públicas estáveis,

consensualizadas e focadas no desenvolvimento científico do País e na sua crescente

abertura e relevância internacional.

O Governo promoverá o aprofundamento da autonomia das instituições científicas e de

ensino superior, num contexto de exigente consolidação orçamental e

coresponsabilização das entidades, bem como a articulação entre as políticas de

sistemas de ensino superior e ciência. Esse esforço deve ser feito acompanhado pela

disponibilidade das universidades e politécnicos para proceder à reestruturação das

respetivas redes e da oferta formativa à escala nacional e regional, promovendo a

qualidade e tornando ainda mais eficiente o uso dos recursos públicos.

Assim, constituem-se como linhas de orientação durante a presente legislatura:

● O alargamento e democratização do ensino superior;

● O aprofundamento da autonomia das instituições científicas e de ensino superior;

● A garantia da diversidade institucional, potenciando a capacidade formativa

instalada;

● O estímulo à melhoria dos níveis de sucesso educativo;

● O apoio à maior empregabilidade dos diplomados;

● O reforço dos instrumentos de internacionalização das instituições de ensino

superior.

As prioridades políticas acima identificadas serão concretizadas através da adoção das

medidas que se enunciam em seguida.

No âmbito do alargamento e democratização do ensino superior, o Governo irá:

● Avaliar o regime de acesso ao ensino superior e promover um debate público,

visando a sua modernização e adequação aos novos contextos;

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● Reforçar a Ação Social Escolar direta, através do aumento do valor das bolsas de

estudo e do número de estudantes elegíveis, e da ação social indireta com a

transferência do financiamento público adequado às universidades e politécnicos

para assegurar serviços de alimentação, alojamento e transportes;

● Reestruturar e desburocratizar o sistema de ação social escolar, de modo a

conseguir ganhos de eficiência e responder melhor às necessidades dos estudantes

carenciados nos diferentes ciclos de ensino;

● Criar um programa de apoio à mobilidade no ensino superior e a estudantes

deslocados que associe Estado, universidades e municípios;

● Estimular o ensino à distância nas instituições de ensino superior, para este

representar um modelo alternativo e efetivo, nomeadamente face aos objetivos de

qualificação superior de ativos;

● Reduzir os constrangimentos existentes à prossecução de estudos de ensino

superior, em especial para os estudantes que concluam os Cursos Técnicos

Superiores Profissionais.

O reforço do número de estudantes e o alargamento do ensino superior incluem

necessariamente a garantia dos recursos para o desenvolvimento do sistema num

contexto de exigente consolidação orçamental e de aprofundamento de autonomia das

instituições, visando:

● Estimular um quadro de financiamento estável a longo prazo, com base em

objetivos e com definição plurianual, envolvendo financiamentos-base, projetos de

modernização pedagógica, projetos de reforço de equipamentos e infraestrutura;

● Garantir o reforço da autonomia das instituições de ensino superior, nomeadamente

a administrativa e financeira.

Os Portugueses precisam de um quadro diferenciado de instituições que estimule a

qualificação de todos os portugueses e favoreça formas de colaboração e de partilha de

recursos entre instituições, sempre que adequado. Assim, o Governo irá:

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● Incentivar o processo de contínuo melhoramento da rede pública de

estabelecimentos e programas, através de processos de reforço, cooperação ou

associação entre instituições, e tendo em conta critérios de cobertura territorial,

procura social, especialização e internacionalização;

● Aproveitar e desenvolver a diversidade do ensino superior, universitário e

politécnico, potenciando a capacidade instalada;

● Lançar medidas de apoio à atração e renovação contínua de docentes e de

especialistas para as instituições de ensino superior, que estimule mecanismos de

recrutamento mais competitivo, de promoção e qualificação interna e de joint

appointments com custos partilhados;

● Promover uma melhor integração entre as instituições de ensino superior e as

políticas de desenvolvimento regional.

A elevação da qualificação da população ativa passa não apenas pelo aumento do

número de estudantes e pelo reforço das condições das instituições de ensino mas

também pelo estímulo à conclusão da formação por maior número de pessoas. Desse

modo, o Governo trabalhará no sentido de melhorar os níveis de sucesso educativo,

nomeadamente através das seguintes medidas:

● Criar um programa de apoio à modernização pedagógica, através de concurso para

projetos de base competitiva, garantindo a implementação sistemática de práticas

pedagógicas verdadeiramente centradas no estudante e estimulando a sua

autonomia;

● Aprofundar e especializar a formação pedagógica dos docentes do ensino superior,

garantindo a formalização do trabalho sistemático e estimulando projetos de

modernização pedagógica em todas as áreas do conhecimento e a cooperação entre

instituições;

● Incentivar programas com elevada flexibilidade curricular e segundo as melhores

práticas internacionais (designadamente com adoção de major/minor) com o

objetivo de estimular a adequação das formações aos desafios que emergem;

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● Estimular uma melhor integração entre ensino e investigação, tentando garantir a

todos os estudantes a prática efetiva de atividades de investigação científica durante

os seus estudos.

Com o propósito de garantir o sucesso da transição para o mercado laboral e a maior

empregabilidade dos diplomados, também se atuará no sentido de criar programas de

apoio a estágios curriculares com corresponsabilização institucional da empregabilidade

sustentável e duradoura dos mais jovens. Dentro desse contexto a atividade governativa

irá:

● Apoiar a institucionalização e sistematização de estágios curriculares e

extracurriculares e a flexibilização de horários e curricula em todos os anos de

licenciaturas e mestrados;

● Associar os estágios curriculares a mecanismos de apoio à empregabilidade dos

licenciados e graduados;

● Incentivar a colaboração entre universidades, institutos politécnicos e empresas e

outros empregadores, de modo a aprofundar a ligação territorial das instituições do

ensino superior e a facilitar a transição entre a academia e a inserção profissional.

Por fim, o Governo irá garantir a aposta na internacionalização das instituições de

ensino superior, adotando as seguintes medidas:

● Reforço dos instrumentos de apoio à dinamização de parcerias para acesso aos

programas de financiamento de mobilidade (Erasmus+ e outros), assim como

iniciativas para a criação de circulação entre estudantes do ensino superior de

língua portuguesa;

● Reforço de parcerias internacionais e criação de instrumentos de acesso a

plataformas de financiamento da mobilidade;

● Desenvolvimento de um programa específico de apoio à criação e desenvolvimento

de redes temáticas entre instituições universitárias com parceiros internacionais.

Reforço do apoio à divulgação internacional das instituições de ensino superior,

promovendo Portugal como destino de formação superior graduada e pós-graduada, no

espaço da língua portuguesa e em outros idiomas.

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20.REFORÇAR O INVESTIMENTO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA

DEMOCRATIZANDO A INOVAÇÃO

Ao longo dos últimos 25 anos assistimos a uma transformação assinalável na quantidade

e qualidade do conhecimento científico e tecnológico produzido e difundido em

Portugal. O reforço das instituições científicas e de ensino superior e a exposição dos

investigadores portugueses a mais e melhores centros de conhecimento a nível

internacional, complementados por políticas públicas de financiamento da atividade

científica, permitiram sustentar mecanismos de transferência de conhecimento entre

gerações de cientistas e entre estes e a sociedade nas suas diferentes dimensões.

No entanto, este percurso foi interrompido em 2011, quando foi rompido o amplo

compromisso social e político com a ciência, usando sistematicamente o argumento de

financiar apenas a «excelência» e de aumentar a seletividade no acesso à ciência,

sobretudo com base em processos de avaliação avulsos. Nenhum sistema científico é

sustentável se assente apenas num grupo restrito e exclusivo de cientistas.

Os resultados das políticas dos quatro últimos anos mostram opções mal informadas e

políticas públicas erradas, com alteração de todos os procedimentos sem os calibrar e

testar convenientemente. Todos, instituições de ensino superior, docentes, cientistas e

estudantes, criticaram as políticas fundadas na ignorância e no preconceito, assentes na

fúria de destruir o que estava bem feito e que tinha garantido o sucesso da ciência e a

superação do atraso científico português. Descredibilizou-se a prática da avaliação

científica independente e impossibilitou-se a utilização dos seus resultados como

ferramenta de gestão estratégica no interior das instituições.

É agora fundamental recuperar a confiança no sistema de ciência e tecnologia e

assegurar a previsibilidade dos incentivos públicos, garantindo um planeamento

adequado das prioridades e um enquadramento conveniente das instituições e a gestão

de carreiras, assim como o restabelecimento de clareza, transparência e regularidade no

funcionamento dos agentes de política científica. Este objetivo é prioritário, juntamente

com a garantia de que a ciência é considerada um direito inalienável de todos os

portugueses.

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Alargar o âmbito e reforçar os centros tecnológicos

O Governo pretende desenvolver um programa de reforço de centros tecnológicos

enquanto instituições intermediárias entre a produção e a difusão de conhecimento pelas

empresas, a ser implementado com base nas melhores práticas internacionais.

Adicionalmente, o Governo pretende:

● Incluir ações de âmbito regional em estreita associação entre parceiros locais e

instituições de ensino superior para o apoio a unidades de tecnologia aplicada;

● Reforçar a confiança na rede distribuída de instituições de ensino superior,

incluindo institutos politécnicos, estimulando a sua ligação a atores locais e

estimulando economias regionais.

O percurso de desenvolvimento e convergência do sistema científico e tecnológico

português com a Europa no que concerne os principais indicadores de I&D, a que se

assistiu ao longo dos últimos 25 anos, foi interrompido em 2011, quando foi rompido o

amplo compromisso social e político com a ciência, usando sistematicamente o

argumento de financiar apenas a «excelência» e de aumentar a seletividade no acesso à

ciência, sobretudo com base em processos de avaliação avulsos. Nenhum sistema

científico é sustentável se assente apenas num grupo restrito e exclusivo de cientistas.

Os resultados das políticas dos quatro últimos anos mostram opções mal informadas e

políticas públicas erradas, provocando uma disrupção profunda no funcionamento e

coerência do sistema científico e tecnológico nacional. É agora fundamental recuperar a

confiança no sistema de ciência e tecnologia, bem como a credibilidade dos agentes de

política científica, nomeadamente da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I. P.

(FCT, I. P.) e da sua capacidade na avaliação e coordenação nacional da política de

ciência e tecnologia.

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23 DE M ARÇO DE 2016 121_____________________________________________________________________________________________________________

É necessário assegurar uma gestão coerente do financiamento sectorial para a ciência,

bem como a previsibilidade dos incentivos públicos, com o objetivo de garantir um

planeamento adequado das prioridades e um enquadramento conveniente das

instituições e a gestão de carreiras. Na base de um sistema científico e tecnológico

sustentável e competitivo está a qualificação dos recursos humanos, pelo que é crucial

estimular continuamente a formação avançada e o emprego científico de doutorados.

As grandes linhas de orientação apresentadas têm o objetivo de modernizar o sistema

científico e tecnológico e recuperar a trajetória de afirmação nacional como país de

conhecimento. Para atingir este desígnio de sociedade avançada, será necessário:

● Reforçar os instrumentos de internacionalização do sistema científico, por forma a

promover a afirmação da ciência portuguesa no exterior, mas também afirmar a

Língua Portuguesa como língua de ciência;

● Reforçar a Administração Pública com investigadores doutorados, rejuvenescendo

e qualificando o sector público;

● Reforçar o sistema científico e tecnológico nacional e contrariar a precariedade dos

seus investigadores, com o objetivo de aumentar as oportunidades de emprego para

os jovens doutorados;

● Reforçar as instituições científicas e garantir um novo programa de avaliação

científica das unidades de I&D;

● Reforçar e dar estabilidade ao financiamento de projetos e atividades de I&D,

estimulando a atividade científica e tecnológica bem como a sustentabilidade e a

previsibilidade no funcionamento das instituições;

● Reforçar os programas e instrumentos de promoção da cultura científica e

tecnológica, articulando medidas no domínio da cultura, educação e economia, no

sentido de democratizar a cultura científica;

● Alargar o âmbito e reforçar os centros tecnológicos, num programa em estreita

articulação com parceiros locais e estímulo ao crescimento e criação de instituições

e redes que atuem na consolidação e valorização do conhecimento.

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O Governo defende o reforço dos instrumentos de internacionalização do sistema

científico, nomeadamente através das seguintes medidas:

● Reforçar a participação de Portugal em programas europeus e outras redes e

parcerias internacionais, sobretudo de âmbito transatlântico, bem como com

instituições científicas internacionais e centros de renome internacional;

● Apostar na diplomacia científica e na relação com as diásporas científicas,

capacitando a nossa rede consular no mundo para o diálogo sistemático com as

diásporas científicas e as redes de conhecimento que emergem, sobretudo junto das

instituições científicas e grupos empresariais líderes a nível mundial;

● Relançar o Programa «Ciência GLOBAL», facilitando o envolvimento nacional na

capacitação de investigadores dos países africanos de língua portuguesa, numa

lógica de uso do português para capacitação científica e tecnológica e para

promoção de indústrias culturais.

A qualificação do setor público exige um reforço da Administração Pública com

investigadores doutorados. Dentro deste contexto, a atividade governativa irá:

● Dotar os organismos públicos de profissionais mais qualificados e reforçar o

investimento em ciência e tecnologia, aumentando as oportunidades de emprego

para os jovens doutorados;

● Estabelecer um contingente da renovação da Administração Pública de

investigadores doutorados a serem integrados em laboratórios e outros organismos

públicos, incentivando a participação das instituições no processo de recrutamento

e a mobilidade dos investigadores;

● Agir como facilitador do reforço do emprego científico seguindo as orientações dos

organismos internacionais e as melhores práticas internacionais.

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Reforçar o sistema científico e tecnológico nacional e contrariar a precariedade dos seus

investigadores é crucial para aumentar as oportunidades de emprego para os jovens

doutorados, garantir a formalização do emprego científico após o doutoramento,

contribuir para a maior atratividade do território nacional para captar jovens altamente

qualificados e, ainda, garantir o rejuvenescimento das instituições científicas, atraindo

mais e melhores cientistas de todo o mundo e facilitar um quadro que estimule a

mobilidade de investigadores. Com estes objetivos, o Governo irá:

● Relançar um novo programa de apoio a cátedras de investigação para docentes dos

quadros das universidades públicas, com financiamento público até à reforma ou

jubilação daqueles que as ocupem;

● Reforçar o programa do emprego científico, substituindo progressivamente a

atribuição de bolsas de pós-doutoramento anuais ao longo de seis anos pela criação,

para investigadores doutorados, de um muito maior número de novos contratos de

Investigador;

● Reforçar o programa do potencial humano e de formação avançada, em todas as

áreas do conhecimento, de um modo a dar a todos a quem seja reconhecido mérito

absoluto oportunidade de estudar e de se doutorar em Portugal.

Com o objetivo de recuperar a confiança dos agentes científicos nos processos de

avaliação e atribuição de financiamento às atividades de I&D, o Governo trabalhará no

sentido de reforçar as instituições científicas e garantir um novo programa de avaliação

científica das unidades de I&D, nomeadamente através das seguintes medidas:

● Criação de um novo programa de avaliação científica das unidades de I&D, tendo

por base um processo inicial de auditoria aos processos de avaliação e de consulta à

comunidade científica com vista à redefinição de metodologias;

● Criação de um novo «Regime jurídico das instituições de ciência e tecnologia», de

modo a garantir um quadro de longo prazo para reforçar a autonomia das

instituições científicas e garantir a sua correta avaliação.

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Com o propósito de reforçar e dar estabilidade ao financiamento de projetos e atividades

de I&D, o Governo irá trabalhar no sentido de:

● Reforçar e sistematizar o concurso anual para apoio a projetos de I&D pela FCT, I.

P., garantindo a periodicidade e previsibilidade das avaliações e a diversidade da

tipologia de concursos;

● Estimular os programas mobilizadores temáticos de grande escala, orientados para

a solução de desafios da sociedade e economia e reforçando a cooperação científica

e tecnológica internacional.

O Governo irá trabalhar no sentido de reforçar os programas e instrumentos de

promoção da cultura científica e tecnológica. Para isso, o Governo adotará políticas

articuladas no domínio da cultura, educação e economia no sentido de promover a

democratização da cultura científica e incentivará as seguintes medidas:

● Reforço da Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica - Ciência

Viva, incluindo a criação e dinamização de clubes de ciência em todos os

agrupamentos de escolas, públicas e privadas, do ensino básico e secundário;

● Reforço da cultura científica e do ensino das ciências, por meio de financiamentos

competitivos com avaliação por pares;

● Reforço dos museus e centros interativos de ciência, por meio da mobilização de

apoios nacionais e locais, assim como novas ações para atrair novos públicos,

incluindo os mais idosos;

● Lançamento de um programa sistemático de apoio a projetos intergeracionais entre

investigadores, estudantes do ensino superior e associações juvenis, com o objetivo

de reforçar a cultura científica dos jovens e o debate intergeracional em torno do

conhecimento.

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Ala rgar o âmbito e reforçar os centros tecnológicos enquanto instituições intermediárias

entre a produção e a difusão de conhecimento pelas empresas, é central para melhorar o

acesso aos mercados e valorizar o posicionamento estratégico português, bem como

reforçar a confiança na rede distribuída de instituições de ensino superior. Neste

contexto, com base nas melhores práticas internacionais, o Governo irá:

● Promover ações de âmbito regional que promovam uma estreita associação entre

parceiros locais e instituições de ensino superior para o apoio a unidades de

tecnologia aplicada.

Estimular o crescimento e a criação de instituições e redes que atuem na consolidação e

valorização do conhecimento, criando emprego qualificado, aumentando a

competitividade externa e a valorização dos nossos recursos, território e relação com a

lusofonia e o Atlântico.

21. REAGIR AO DESAFIO DEMOGRÁFICO

O desafio demográfico tem causas económicas, sociais e culturais e agravou-se com a

crise e com a emigração maciça de jovens, o que contribuiu para enfraquecer ainda mais

a população ativa e a natalidade. Assim, importa favorecer a natalidade e a

parentalidade, bem como uma gestão adequada da política de migração, designadamente

ao nível do retorno dos trabalhadores e das suas famílias que saíram do País.

As políticas públicas nos domínios da natalidade, parentalidade e das migrações devem

ter por objetivo central contribuir para a sustentabilidade demográfica do País,

garantindo condições para que os cidadãos nacionais possam fazer, nestes planos,

escolhas individuais verdadeiramente livres. Neste sentido, o Governo defende que para

fazer face aos desafios demográficos, as políticas públicas devem agir nos vários

domínios que podem contribuir para o reforço da qualidade de vida da população

residente em Portugal.

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Esta ação deve abranger:

● O domínio da natalidade e da parentalidade, no qual as políticas deverão criar

condições públicas para o exercício de uma parentalidade responsável, promover a

conciliação entre trabalho e a vida pessoal e familiar, promover a igualdade nas

responsabilidades familiares e remover obstáculos legais à natalidade e à

parentalidade;

● O domínio da emigração, onde os objetivos principais das políticas serão a

eliminação de obstáculos ao regresso e à circulação de portugueses emigrados, o

estímulo das relações entre emigrantes e a sociedade nacional e das deslocações de

emigrantes a Portugal;

● O domínio da imigração, cujas políticas terão como objetivos fundamentais a

atração de imigrantes, da legalidade da imigração, o desenvolvimento de uma

sociedade intercultural e o aprofundamento da integração dos imigrantes.

Criar condições públicas para o exercício de uma parentalidade responsável,

promovendo a conciliação entre o trabalho e a vida pessoal e familiar

O Governo considera que para a promoção da natalidade é fundamental criar condições

públicas para o exercício de uma parentalidade responsável e, em simultâneo, promover

a conciliação entre trabalho e vida pessoal e familiar de modo a:

● Alargar a rede de creches nos grandes centros urbanos, aumentando o número de

lugares em creche e aproximando o grau de cobertura aos valores médios europeus,

apostando nomeadamente na rede de creches em articulação dos municípios;

● Estimular a oferta de serviços que permitam a conciliação entre trabalho e a vida

pessoal e familiar, a nível local e apoiar as empresas para que estas possam

disponibilizar mais mecanismos de conciliação;

● Promover a criação de creches locais partilhadas por agrupamentos de empresas,

sendo desejável a celebração de acordos em sede de negociação coletiva,

contribuindo os trabalhadores abrangidos com uma mensalidade proporcional ao

respetivo rendimento;

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● Propor em sede de Concertação Social que, para trabalhadores e trabalhadoras com

filhos menores de 12 anos, a aplicação de regimes de adaptabilidade de horários de

trabalho e bancos de horas, individuais ou coletivos, exija a sua autorização

expressa;

● Criar um selo de boas práticas a atribuir a empresas que demonstrem praticar

políticas de promoção da conciliação, em que homens e mulheres estejam de forma

equilibrada a utilizar licença parental partilhada, flexibilidade de horário e

teletrabalho.

Remover obstáculos legais à natalidade e à parentalidade

O Governo considera que para a promoção da natalidade é fundamental remover

obstáculos legais no âmbito da parentalidade, nomeadamente:

● Clarificar que as faltas motivadas por tratamentos no âmbito de reprodução

medicamente assistida são justificadas e não implicam a perda de retribuição;

● Clarificar que todas as medidas de apoio à parentalidade se destinam a pais e mães

com filhos, independentemente do estado civil dos pais;

● Clarificar que todas as medidas de apoio à parentalidade se destinam a pais e mães

com filhos residentes em Portugal, independentemente da sua nacionalidade;

● Alargar aos avôs e às avós, ou a outros parentes com a tutela legal de menores,

novos mecanismos legais de redução, adaptação de horários ou justificação de

faltas para assistência aos netos.

Conciliação entre trabalho e vida pessoal

O Governo defende que, para fazer face aos desafios demográficos, as políticas públicas

devem agir nos vários domínios que podem contribuir para o reforço da população que

vive em Portugal, designadamente pela criação de condições públicas para o exercício

de uma parentalidade responsável, promovendo a conciliação entre o trabalho e a vida

pessoal. A independência económica e a organização da vida profissional, familiar e

pessoal são pressupostos essenciais para a consolidação de uma efetiva igualdade entre

mulheres e homens. É necessário, portanto, de acordo com uma ação concertada entre

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II SÉRIE -A — NÚMERO 61 128_____________________________________________________________________________________________________________

várias áreas governamentais, em especial com o Ministério do Trabalho, Solidariedade e

Segurança Social e o Ministério da Educação, aprofundar as políticas de conciliação

entre a vida familiar e a vida profissional para homens e mulheres, designadamente

através das seguintes ações:

● Criar condições públicas para o exercício de uma parentalidade responsável,

promovendo a conciliação entre trabalho e família bem como a igualdade nas

responsabilidades familiares e removendo os obstáculos legais à natalidade e à

parentalidade;

● Promover com os parceiros sociais um compromisso para introduzir nos

instrumentos de contratação coletiva disposições relativas à conciliação entre

trabalho e vida familiar, e à prevenção e combate às desigualdades de género e ao

assédio sexual e moral no local de trabalho;

● Assegurar o funcionamento da escola pública a tempo inteiro até aos 14 anos, para

que o sistema público assegure uma resposta para os pais cujos horários de trabalho

não são compatíveis com a permanência na escola apenas durante uma parte do dia;

● Criar um selo de boas práticas a atribuir a empresas que demonstrem praticar

políticas de promoção da conciliação, em que homens e mulheres estejam, de

forma equilibrada, a utilizar licença parental partilhada, flexibilidade de horário e

teletrabalho;

● Clarificar que as faltas motivadas por tratamentos no âmbito de reprodução

medicamente assistida são justificadas e não implicam a perda de retribuição, e que

todas as medidas de apoio à parentalidade se destinam a pais e mães com filhos,

independentemente do estado civil dos progenitores;

● Clarificar que todas as medidas de apoio à parentalidade se destinam a pais e mães

com filhos residentes em Portugal, independentemente da sua nacionalidade.

Dinamizar as relações entre emigrantes e sociedade nacional

Com o objetivo de criar uma relação efetiva às comunidades emigrantes, que permitirá

incluir todos os portugueses na estratégia de desenvolvimento económico e social do

País, para além da promoção da língua e cultura portuguesas junto das nossas

comunidades emigrantes:

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● Apoiar a ligação entre essas redes de emigrantes e as universidades, centros de

I&D, empresas e organismos públicos centrais e locais;

Eliminar obstáculos ao regresso dos emigrantes e à sua circulação;

● Dinamizar as relações entre emigrantes e a sociedade nacional;

Apoiar a criação de redes de emigrantes, em particular entre emigrantes

qualificados e empreendedores;

● Estimular a valorização institucional do emigrante e o seu sentimento de pertença à

comunidade nacional e fomentar as relações com a diáspora portuguesa enquanto

mecanismo de facilitação da internacionalização da economia nacional e de

promoção da imagem de Portugal no mundo;

● Criar um prémio anual para emigrantes que se destacaram pelo seu contributo à sua

comunidade e ao País;

● Incentivar, com as universidades, a promoção de Portugal como destino de

estudantes portugueses emigrados em programas Erasmus e de Study Abroad.

Política para a imigração, acolhimento de refugiados e integração de grupos étnicos

As políticas públicas no domínio da imigração, acolhimento de refugiados e integração

de grupos étnicos devem ter por objetivo central contribuir para a sustentabilidade

demográfica do País, o seu crescimento e o desenvolvimento de uma sociedade

intercultural. É necessário, portanto, de acordo com uma ação concertada entre várias

áreas governamentais, em especial o Ministério dos Negócios Estrangeiros, o Ministério

da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e o Ministério do Trabalho, Solidariedade e

Segurança Social, promover os canais de imigração legais, o desenvolvimento de uma

sociedade intercultural e aprofundar a integração dos imigrantes, relativamente aos

quais o Governo pretende implementar, designadamente as seguintes medidas

● Criar um visto para procura de emprego em Portugal, válido por seis meses;

● Promover a educação intercultural desde os três anos de idade, incluir a temática da

interculturalidade na formação de professores e valorizar as escolas com boas

práticas (continuação da atribuição do selo intercultural);

● Agilizar os procedimentos em matéria de nacionalidade, para que os interessados

possam, com a rapidez exigível, obter uma resposta à sua pretensão;

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● Promover, através das autarquias, iniciativas que valorizem a diversidade e

promovam a interculturalidade, à semelhança do que se tem vindo a fazer com o

Fundo Europeu para a Integração de Nacionais de Países Terceiros;

● Adotar uma política ativa de solidariedade na instalação em Portugal de refugiados;

● Garantir a portabilidade de direitos sociais, em particular de pensões, através da

realização de acordos com os estados de acolhimento.

Promover uma agenda para a qualidade de vida de todos

A qualidade de vida começa pelo bem-estar físico, mental e emocional de cada um de

nós. A responsabilidade individual com a saúde e a prevenção da doença e o seu

tratamento podem ser facilitadas e potenciadas por ações de iniciativa ou apoio público.

Num país muito envelhecido, as políticas devem adaptar-se a essa realidade. As redes

digitais de contacto e informação, os programas de envelhecimento ativo e o desporto

são instrumentos cruciais da qualidade de vida de cada um, pelo que o Governo propõe:

Lançar, em ligação estreita com as autarquias locais, de programas de cidades vilas

amigas dos idosos e dos cidadãos com mobilidade reduzida (renovação urbana,

domótica e transportes);

● Promover a mobilidade inclusiva para todos os cidadãos, criando sistemas de

mobilidade acessíveis e auto sustentáveis economicamente para a população com

mais de 65 anos;

● Inserir a população idosa em programas de serviço comunitário com o objetivo de

apoiar e auxiliar o ensino de jovens desfavorecidos;

● Um programa de aplicação e valorização de aplicações digitais que melhorem a

vida nas cidades, como a monitorização da qualidade da água e do ar "online"; b)

Bilhete de transportes intermodal único no telemóvel; c) Informação municipal útil

por georreferenciação; d) aquisição de bilhetes por telemóvel para oferta cultural e

lúdica ou através do portal municipal; e) os Serviços Municipais ubíquos; f)

Internet nos transportes públicos e nos parques e jardins; g) os centros comerciais

virtuais nas zonas de comércio tradicional;

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● Prosseguir com a eliminação de barreiras à mobilidade no espaço público,

promover Portugal como destino turístico amigo das pessoas com mobilidade

limitada;

Promover a qualidade de vida;

● Uma nova geração de políticas de habitação.

Promover o desporto enquanto forma de realização pessoal e para uma vida

saudável

O Governo propõe uma nova agenda para o desporto nacional capaz de dar um novo

impulso ao desenvolvimento do desporto e aumentar significativamente a sua prática.

Aposta-se numa estratégia de desenvolvimento do desporto assente numa perspetiva de

qualidade de vida, que promova a generalização da prática desportiva conciliando o

desenvolvimento motor com a aptidão física. Uma estratégia que invista na oferta

desportiva de proximidade e garanta uma acessibilidade real dos cidadãos à prática do

desporto e da atividade física, através de uma utilização mais eficiente das

infraestruturas e equipamentos existentes.

Este modelo tem por objetivo promover mais e melhor desporto para mais cidadãos,

começando a formação na escola, em parceria ativa com as autarquias e as políticas da

saúde, da educação, do ambiente, do turismo e do desenvolvimento e ordenamento do

território.

Pretende-se também garantir a igualdade de acesso às atividades desportivas sem

discriminações sociais, físicas ou de género. Esta nova agenda para o desporto nacional

é enquadrada por quatro fatores essenciais: os recursos disponíveis, a garantia duradoura

de sustentabilidade, um novo contrato de confiança e de autonomia entre o Estado e os

agentes desportivos e a ambição de alcançar mais e melhor desporto.

Para o efeito, serão adotadas as seguintes medidas:

● Apoiar e divulgar projetos e iniciativas que promovam a generalização da atividade

física e desporto, abrangendo a diversidade da população portuguesa, visando criar

hábitos ao longo da vida que se repercutam em benefícios diretos para a qualidade

de vida e da saúde. A medida será realizada em cooperação e parceria com as

autarquias, o associativismo desportivo, o ensino superior e a iniciativa privada;

● Articular a política desportiva com a escola, reforçando a educação física e a

atividade desportiva nas escolas e estabelecimentos de ensino superior,

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compatibilizando a atividade desportiva com o percurso escolar e académico e

valorizando e apoiando o ressurgimento de um quadro de competições desportivas

nas escolas;

● Promover a qualificação dos técnicos e agentes que intervêm no desporto,

aumentar a qualificação técnica dos treinadores, e atualizar os instrumentos de

diagnóstico da realidade desportiva, em cooperação e parceria com o sistema de

ensino e a formação profissional;

● Apoiar os atletas e técnicos de alto rendimento, os projetos olímpico e paralímpico

e a participação desportiva de alto rendimento;

● Implementar um programa de deteção de talentos, promover a dimensão

internacional do desporto português, e reforçar a cooperação com os países da

CPLP, Ibero-Americanos e da UE;

● Simplificar a relação contratual do Estado no apoio ao desporto, modernizar e

reformar os serviços da Administração Pública do desporto, e valorizar a

intervenção dos agentes e instituições desportivas no Conselho Nacional do

Desporto;

● Implementar o programa de ética desportiva e assumir a responsabilidade pública

pela gestão do património desportivo. Criar um programa que permita rentabilizar

todos os espaços públicos ou com financiamento público do País com potencial

para a prática de atividades desportivas, permitindo que qualquer cidadão possa

efetuar uma reserva online de qualquer um desses espaços para a prática

desportiva;

● Reabilitar e modernizar as infraestruturas desportivas, melhorar a gestão do Centro

Desportivo Nacional do Jamor, dos centros de alto rendimento e das infraestruturas

desportivas públicas, investir na construção de equipamentos e infraestruturas

desportivas de base e de proximidade, e atualizar o Manual de Boas Práticas de

Projeto e a Carta Desportiva Nacional;

● Definir um novo quadro de compromisso e de relação com as entidades que

constituem o sistema desportivo, que melhore a afetação dos recursos provenientes

do Orçamento do Estado, jogos sociais, e jogos e apostas online, fiscalidade,

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23 DE M ARÇO DE 2016 133_____________________________________________________________________________________________________________

mecenato e fundos europeus, e aumente o investimento da iniciativa privada

através da responsabilidade social empresarial;

● Valorizar o movimento associativo desportivo e as coletividades de base local na

promoção do desporto para todos.

Promover a qualidade da defesa do consumidor

O Governo orientará a sua atuação no sentido de assegurar um elevado nível de

proteção do consumidor em todas as áreas objeto de políticas públicas, designadamente

através da revisão e reforço do quadro legislativo e de outras iniciativas suscetíveis de

garantir uma efetiva e adequada proteção dos consumidores, considerando em especial

os mais vulneráveis, tais como as crianças, os jovens e os seniores. Esta atuação terá

como principal objetivo o reforço da informação disponível ao consumidor, para que

este possa desempenhar um papel mais ativo no mercado, exercendo os seus direitos de

forma mais informada e responsável e contribuindo para a promoção da competitividade

das empresas. A qualidade de vida dos portugueses será melhor se estes forem

consumidores mais informados, mais exigentes e mais ativos.

A ação governativa visará ainda facilitar o acesso à justiça pelos consumidores, através

da promoção da consolidação e divulgação dos meios de resolução alternativa de

conflitos de consumo, e incentivando o recurso dos consumidores a uma justiça

acessível, simples, rápida e a custos muito reduzidos, bem como a adesão a estes

mecanismos por parte das empresas.

Por último, serão desenvolvidos novos instrumentos que permitam promover o contacto

dos consumidores com as autoridades públicas competentes e, simultaneamente, agilizar

o processamento das reclamações e pedidos de informação apresentados, numa ótica de

modernização administrativa que permita uma maior celeridade e eficácia na resolução

de conflitos e que promova a denúncia de infrações.

A política de defesa do consumidor será definida em torno de três grandes eixos de

atuação.

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II SÉRIE -A — NÚMERO 61 134_____________________________________________________________________________________________________________

+

● O primeiro, relativo ao reforço da informação disponível aos consumidores,

assumirá como prioridade dotar os consumidores da informação e conhecimentos

necessários à aquisição de bens e serviços no exercício esclarecido dos seus

direitos, incentivando a utilização dos instrumentos adequados às respetivas

necessidades, preferências e disponibilidades, atendendo especialmente aos

consumidores vulneráveis – entre outros, crianças, adolescentes, seniores,

imigrantes, pessoas com deficiência – e aos setores económicos em que se regista

um maior grau de conflituosidade, tais como os serviços públicos essenciais

(energia, águas, resíduos e comunicações eletrónicas), serviços financeiros (crédito

à habitação e aos consumidores, comissões bancárias) e a economia digital

(comércio eletrónico, pagamentos eletrónicos, produtos de conteúdo digital e

proteção de dados pessoais);

● O segundo, relativo ao reforço da proteção do consumidor no sistema jurídico

português, será concretizado através da revisão e reforço do quadro normativo em

vigor, bem como de implementação de medidas que permitam uma efetiva

aplicação do mesmo pelas autoridades públicas competentes, sobretudo em

matérias cruciais para os consumidores, como o acesso à justiça, os direitos dos

consumidores no quadro dos serviços regulados (serviços de comunicações

eletrónicas, de pagamentos e crédito, energia e turismo), e o apoio aos

consumidores endividados;

● O terceiro, relativo à cooperação e ao funcionamento em rede, no âmbito do

renovado e reforçado Conselho Nacional do Consumo, permitirá assegurar a

promoção de uma participação mais determinante dos consumidores na sociedade e

no mercado.

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A prossecução destes eixos de atuação exige o acompanhamento permanente e a

participação ativa das instâncias da UE responsáveis pelo debate de temas da política do

consumidor nas diferentes vertentes, tal como de outras organizações internacionais

como a OCDE e a Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o

Desenvolvimento, pressupondo ainda um relacionamento próximo com países terceiros

que constituem parceiros privilegiados de Portugal.

No âmbito da política de defesa do consumidor, serão adotadas, designadamente, as

seguintes medidas:

● Reforçar a proteção dos consumidores de serviços públicos essenciais, de modo a

salvaguardar os direitos das famílias que, colocadas em situação de

vulnerabilidade, não dispõem de capacidade económica para cumprir as suas

obrigações contratuais;

● Consagrar a arbitragem necessária para os litígios relativos a determinados setores,

com a criação de secções especializadas junto de um ou mais centros de

arbitragem, ou junto dos reguladores dos setores;

● Modernizar o regime jurídico relativo ao livro de reclamações, de forma a agilizar

procedimentos e a otimizar este instrumento na perspetiva das entidades

reguladoras sectoriais e das entidades de fiscalização de mercado;

● Lançar a Plataforma Única do Consumidor como único ponto de entrada das

reclamações e pedidos de informação dos consumidores, inicialmente restrito aos

serviços públicos essenciais, de modo a tornar mais célere e eficaz a resposta aos

consumidores, a garantir o tratamento eficaz das suas reclamações, a promover a

resolução de conflitos, e a melhorar a operacionalidade e a coordenação das

diferentes entidades do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor;

● Prosseguir o apoio, aconselhamento e acompanhamento dos consumidores

endividados e reforçar as iniciativas de formação financeira no quadro da atividade

da Rede de Apoio ao Consumidor Endividado;

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● Aprovar e integrar o Referencial para a Educação do Consumidor nos currículos do

ensino básico e secundário para a sensibilização e informação das crianças e

adolescentes nesta matéria com vista ao consumo responsável e sustentável;

● Avaliar e regular a fidelização contratual, e simplificar a utilização de contratos de

adesão;

● Avaliar e rever o regime jurídico aplicável ao desbloqueamento dos equipamentos

móveis;

● Alterar o regime jurídico aplicável à publicidade, com especial atenção ao regime

jurídico relativo à prestação de serviços de promoção, informação e apoio aos

consumidores e utentes através de call centers, de forma a estabelecer a criação de

lista de consumidores que não queiram ser contactados para efeitos de

promoção/publicidade a produtos ou serviços;

● Melhorar a confiança dos consumidores no recurso ao meio interativo e digital,

assegurando a aplicação efetiva da legislação de defesa o consumidor.

22. UMA NOVA GERAÇÃO DE POLÍTICAS DE HABITAÇÃO

A habitação é um direito fundamental de primeira importância. Constitui a base de uma

sociedade estável e coesa, bem como o alicerce a partir do qual os cidadãos constroem

as condições para aceder a outros direitos, como a educação, a saúde, o trabalho ou a

realização pessoal. Atualmente, porém, assiste-se a uma mudança de paradigma, que

gera a oportunidade dinamizar o mercado de arrendamento e a reabilitação urbana, mas

se não for acompanhada das necessárias medidas de política, pode gerar uma nova crise

habitacional, o que obriga a reequacionar este tema como uma prioridade nacional. Uma

nova geração de política é prioritária.

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O Governo levará a cabo uma aposta forte e determinada na reabilitação urbana, tanto

d e edifícios, como do espaço público. Esta aposta incidirá prioritariamente nos centros

históricos e em zonas urbanas ou periurbanas degradadas, carecidas de um esforço sério

de requalificação e com um défice de equipamentos ou serviços essenciais. Mas a

aposta na reabilitação urbana não se cingirá a estas áreas, antes assumirá uma vocação

universal, devendo passar de exceção a regra. Isto é, em vez de construção nova,

precisamos sobretudo de renovar o património edificado. Esta orientação serve, em

simultâneo, vários propósitos: favorece o repovoamento dos centros urbanos; melhora a

qualidade de vida de segmentos socioeconómicos fragilizados e em risco de exclusão;

promove uma maior eficiência energética; e estimula o setor da construção civil,

criando emprego numa área bastante afetada pela crise.

Reabilitação urbana e habitação

Reabilitação urbana

Na procura de uma nova geração de políticas de habitação, o período 2016-2019 será

marcado por um enfoque na reabilitação urbana, tanto de edifícios, como do espaço

público.

Com esse intuito, o Governo irá definir e implementar um Fundo Nacional de

Reabilitação do Edificado, financiado por verbas do Fundo de Estabilização Financeira

da Segurança Social, sem prejuízo de outras fontes e formas de financiamento.

A prioridade na reabilitação urbana irá incidir nos centros históricos e em zonas urbanas

e periurbanas degradadas, carecidas de um esforço sério de requalificação e com um

défice de equipamentos ou serviços essenciais. As ações de reabilitação devem ocorrer

de forma disseminada, atendendo a critérios como o estado de conservação e a ocupação

dos imóveis. Com esta orientação procura-se favorecer o repovoamento dos centros

urbanos, melhorar a qualidade de vida de segmentos socioeconómicos fragilizados,

promover uma maior eficiência energética e estimular o setor da construção civil,

criando emprego, assim o Governo irá:

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● Promover a reabilitação dos edifícios degradados e a reocupação dos edifícios e

fogos devolutos, designadamente aplicando os incentivos e benefícios fiscais à

reabilitação a quaisquer territórios urbanos;

● Associar ao investimento na reabilitação urbana um aumento da resistência sísmica

do edificado e uma forte componente de eficiência energética, fomentando a

utilização de materiais isolantes e inteligentes, bem como de equipamentos que

permitam uma poupança de energia, o aproveitamento solar para efeitos térmicos

e/ou a microgeração elétrica, com vista a reduzir a pegada ecológica;

● Criar um «Fundo Nacional de Reabilitação do Edificado», com capitais e gestão

pública (sendo que parte do capital inicial pode ser incorporado através da entrega

de edifícios públicos a necessitar de reabilitação), mas ao qual os privados possam

aceder mediante a entrega do seu edifício/fração. Este fundo terá a cargo a

reabilitação e gestão do seu parque edificado, colocando-o no mercado após a

respetiva reabilitação, sendo direcionado em especial para o arrendamento de

«habitação acessível», recuperando por esta via o seu investimento inicial a médio

prazo;

● Financiar, mediante procedimento concursal, pelo menos 25 Planos de Ação Locais

para a reabilitação de áreas urbanas, com vista à execução de intervenções físicas

em centros históricos e áreas urbanas desfavorecidas ou de génese ilegal. Estes

planos consistirão num compromisso a médio prazo (8 anos) com a reabilitação de

uma dada área, devendo ser dotados dos recursos necessários para operarem uma

transformação efetiva nos territórios em que atuem, invertendo tendências de

declínio e promovendo um desenvolvimento local sustentado, que se mantenha

após a intervenção;

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23 DE M ARÇO DE 2016 139_____________________________________________________________________________________________________________

● Inventariar prédios disponíveis (municipais ou privados) e criar condições,

mediante a cooperação entre governo local, proprietários e empreendedores, para a

instalação de negócios âncora, serviços partilhados e/ou equipamentos urbanos de

proximidade, promovendo a economia local e, em simultâneo, a reconversão de

zonas envelhecidas ou degradadas;

● Consolidar as Áreas Urbanas de Génese Ilegal, favorecendo, em estreita articulação

com as autarquias locais, a sua reconversão e legalização;

● Dar ênfase à conservação. A regulamentação da construção e do urbanismo esteve

durante longas décadas orientada para a construção nova e não para a conservação

de edifícios. Recentemente, este desequilíbrio foi parcialmente colmatado mediante

a aprovação de «regimes excecionais» relativos à reabilitação urbana, que a tratam

como um caso particular e temporário. Todavia, a nova realidade impõe não só que

a reabilitação deixe de ser encarada como «a exceção», mas também que as

intervenções de conservação sejam tratadas de forma prioritária;

● Reforçar a capacidade dos municípios se substituírem aos proprietários

incumpridores e realizarem obras coercivas e condicionadas em prédios devolutos

ou em ruína em resultado de heranças indivisas, prevendo ainda mecanismos de

ressarcimento das obras que tornem estas operações financeiramente viáveis por

parte dos municípios;

● Rever o regime do arrendamento, de forma a adequar o valor das rendas ao estado

de conservação dos edifícios, estimulando assim a respetiva reabilitação;

● Simplificar regras e procedimentos, de modo a acelerar a realização de obras de

conservação e operações urbanísticas de reabilitação urbana;

● Simplificar e reduzir custos de contexto relacionados com o processo de despejo;

● Promover a descarbonização enquanto medida de concretização das metas

ambientais com as quais Portugal se comprometeu internacionalmente.

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Habitação social e acessível

A construção das cidades tem uma forte componente habitacional, sendo necessária uma

política pública que compense a lógica imobiliária e que permita a fixação nos centros

urbanos de famílias jovens e outros agregados com rendimentos médios. Perspetiva-se o

reforço do conceito de «habitação acessível», de promoção pública ou privada, para dar

resposta às novas necessidades habitacionais da população. Deste modo, pretende-se

alargar a oferta de habitação para arrendamento, na qual os senhorios deverão praticar

valores de rendas moderados dirigidos à classe média, isto é, com intuito lucrativo, mas

abaixo do preço normal de mercado nas zonas em causa. A oferta de habitação social

dirigida a famílias de baixos rendimentos, com rendas calculadas com base no seu

rendimento e não nas características do alojamento, será intensificada.

● Concessão de garantias bancárias a empréstimos para obras de reabilitação

destinadas a arrendamento em regime de «habitação acessível»;

● Disponibilização de edifícios/frações públicas para venda a custos reduzidos, com

o compromisso de os imóveis serem reabilitados e destinados a arrendamento em

regime de «habitação acessível», designadamente por jovens, durante um número

mínimo de anos;

● Criação de bolsas de «habitação acessível», nomeadamente através da mobilização

de verbas – em montante não superior a 10% – do Fundo de Estabilização

Financeira da Segurança Social para investimento em prédios de rendimento

(aquisição e reabilitação de fogos devolutos com vista a arrendamento em regime

de «habitação acessível»), que garantam não só uma taxa de retorno em linha com

a rentabilidade média daquele fundo (eventualmente combinando as rendas

acessíveis com rendas a preços de mercado), como possam contribuir para outros

objetivos importantes a nível nacional, como a reabilitação urbana e repovoamento

e rejuvenescimento dos centros históricos;

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23 DE M ARÇO DE 2016 141_____________________________________________________________________________________________________________

● Criação de um seguro de rendas, destinado a proteger os senhorios de «habitação

acessível» contra o risco de incumprimento; ● Revisão e aprofundamento do Programa Porta 65, associando-o expressamente ao

conceito de «habitação acessível», de modo a facilitar e alargar o acesso dos jovens

ao mercado de arrendamento, preferencialmente de imóveis reabilitados, e

estendendo este programa também ao arrendamento comercial, com vista a

favorecer a abertura de novas lojas e o lançamento de projetos empreendedores por

jovens;

● Eliminação do regime de incentivos fiscais atribuídos aos Fundos de Investimento

Imobiliário, mantendo apenas os benefícios atribuídos aos restantes promotores de

reabilitação urbana;

● Garantir a prorrogação do período de atualização das rendas de modo a garantir o

direito à habitação, em especial dos reformados, aposentados e maiores de 65 anos,

sem prejuízo da regulamentação do subsídio de arrendamento.

Incentivos e benefícios fiscais à reabilitação urbana

No que se refere a incentivos e benefícios fiscais, pretende-se dar prioridade à

reabilitação urbana em detrimento da construção nova, sobretudo quando estiver

presente o objetivo do arrendamento posterior por valores de rendas que permitam o

acesso da classe média.

Fundos europeus estruturais e de investimento

O modelo de governação para os fundos estruturais e de investimento (nacionais e

europeus), para o período de 2016-2019, visa garantir uma maior eficiência na

integração das políticas ambientais e a descarbonização progressiva da economia,

fomentando uma sociedade mais justa e um crescimento mais sustentável.

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Considerando que os fundos estruturais e de investimento constituem um instrumento financeiro privilegiado para alcançar os desígnios nacionais no domínio do ambiente, destacam-se os seguintes compromissos do XXI Governo Constitucional nesta matéria:

● Criar um «Superfundo Ambiental» agregador dos fundos ambientais de âmbito

nacional atualmente existentes (Fundo Português de Carbono, Fundo de Proteção

dos Recursos Hídricos, Fundo de Intervenção Ambiental e Fundo para a

Conservação da Natureza e da Biodiversidade e, eventualmente, o Fundo de

Eficiência Energética) e integrador de novas medidas que se venham a revelar

necessárias, de modo a obter um instrumento com maior capacidade financeira para

atuar na mitigação e adaptação das alterações climáticas, na preservação dos

recursos naturais, na prevenção de riscos e na reparação de danos ecológicos;

● Desenvolver o Programa-Quadro Comunitário de Investigação & Inovação

(Horizonte 2020), que visa o apoio financeiro à investigação, desenvolvimento

tecnológico e demonstração no domínio do ambiente, energia e transportes.

O Governo assegurará a correta transição entre os fundos atualmente existentes, e que

serão integrados no «Superfundo Ambiental», numa perspetiva de transparência e de

mobilização dos recursos financeiros disponíveis, que visem a concretização de projetos

e programas em todas as temáticas ambientais.

Prevenir as penhoras habitacionais

Nos últimos anos e por força da crise, cresceu, e continua a crescer, o número de

famílias em incumprimento do seu crédito à habitação. O Governo considera urgente

acautelar estas situações, prevenindo e combatendo o desalojamento das famílias

resultantes de penhoras cujas dívidas não possam ser satisfeitas. Para este fim, o

Governo mobilizará um amplo conjunto de instrumentos:

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● Proibição das execuções fiscais sobre a casa de morada de família relativamente a

dívidas de valor inferior ao valor do bem executado e suspensão da penhora da casa

de morada de família nos restantes casos;

● Instituição de um Banco Ético, em colaboração com o setor solidário e as

autarquias interessadas, que possa contribuir para minorar a situação de

sobreendividamento das famílias, apoiando a renegociação estruturada com os

credores e concedendo pequenos empréstimos a baixo juro para fazer face a

dificuldades pontuais e temporárias de agregados familiares em risco de perder a

sua casas;

● Regime excecional de proteção do devedor perante a execução de imóvel garantido

por hipoteca, estipulando-se que, em situações de redução substancial do

rendimento do agregado familiar e independentemente de consentimento do credor,

a entrega do imóvel (dação em pagamento) extingue a dívida até ao limite da

avaliação bancária efetuada (presumindo-se a unidade de todos os créditos

concedidos para a conclusão da compra e venda);

● Modificação das regras aplicáveis à determinação do valor base da venda de

imóveis em processo de execução.

Relançar a política de habitação social

Nos anos recentes, a prossecução de uma política de habitação social estagnou, no

momento em que se agravaram as condições sociais, o risco de pobreza e o desemprego,

acompanhados de uma redução significativa dos apoios sociais. A nova crise

habitacional que se vive justifica a necessidade de se proceder ao relançamento da

política de habitação social, adequando-a às novas necessidades e aperfeiçoando as suas

respostas, pelo que o Governo pretende:

● Concluir a implementação dos programas Plano de Intervenção a Médio Prazo

(PIMP) e Programa Especial de Realojamento (PER), retomar o PER Famílias e

criar um programa semelhante para o edificado consolidado e degradado;

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● Reforçar o investimento, através dos fundos europeus, na reabilitação e na melhoria da eficiência energética do parque de habitação social existente, bem como na

reabilitação de edifícios devolutos para fins de habitação social;

● Criar uma rede de habitações apoiadas (preferencialmente em edifícios existentes a

reabilitar), em regime de «pensões de família», para pessoas com baixo nível de

recursos, em situação de isolamento ou exclusão (em particular idosos) e cuja

situação social e psicológica ou psiquiátrica torna pouco provável o seu acesso a

uma habitação comum;

● Promover uma gestão participada dos bairros sociais, mediante um reforço da

participação e do envolvimento dos inquilinos sociais;

 Disponibilização, através da Segurança Social e das Redes Sociais Locais, e em

articulação com as autarquias, de um serviço de aconselhamento descentralizado

para apoio financeiro, jurídico e social a famílias em situação dramática de perda de

casa iminente ou já consumada.

23. MAR: UMA APOSTA DE FUTURO

O desígnio político do Ministério do Mar passa pela coordenação transversal dos

assuntos do mar, através do reforço da cooperação interministerial na definição e

acompanhamento de uma Estratégia Nacional para o Mar.

Numa perspetiva de médio e longo prazo, assume-se a promoção do conhecimento

científico, da inovação e do desenvolvimento tecnológico na área do mar, a definição e

coordenação da execução das políticas de proteção, planeamento, ordenamento, gestão e

exploração dos recursos, contribuindo para uma presença efetiva no mar, promovendo

os seus usos e uma economia sustentável do mar, das pescas, do transporte marítimo e

dos portos, potenciando a gestão dos fundos nacionais e europeus relativos ao mar,

numa lógica progressiva de simplificação de procedimentos administrativos, que

assegure uma maior segurança e clareza nas relações com a Administração Pública,

diminuindo os custos de contexto e aumentando a competitividade.

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Os espaços marítimos sob soberania ou jurisdição nacional – o Mar Territorial, a Zona

Económica Exclusiva (ZEE) de 200 milhas e a plataforma continental estendida no

âmbito da proposta apresentada pelo Governo Português às Nações Unidas –,

constituem um dos principais ativos para o futuro desenvolvimento do país. A extensão

da plataforma continental converterá o território português em cerca de 4.000.000 km².

Os recursos que estes espaços encerram – biológicos, genéticos, minerais, energéticos,

etc. –, abrem perspetivas de exploração que podem transformar o futuro de Portugal.

A concretização deste desígnio deve assentar numa estratégia a médio e longo prazos,

dirigida à prospeção e exploração dos novos espaços e recursos, sustentada no

conhecimento científico e no desenvolvimento tecnológico e visando dar corpo a um

tecido empresarial de base tecnológica que tenha como centro da sua atividade o mar.

Por outro lado, importa consolidar as atividades marítimas tradicionais (pesca,

transformação do pescado, aquicultura, indústria naval, turismo, náutica de recreio) e

valorizar a posição estratégica de Portugal no Atlântico, reforçando e modernizando os

portos nacionais e ligando-os à rede transeuropeia de transportes em resposta à

intensificação dos transportes marítimos. Por fim, confrontados com as implicações das

alterações climáticas (que se manifestam em particular na elevação do nível médio das

águas do mar e no aumento do número e intensidade das tempestades e de outros riscos

climáticos), há que tomar medidas que atenuem os impactos negativos de que temos já

ampla demonstração na nossa zona costeira. Este é um programa que responde com

clareza aos desafios da economia azul e da economia verde, ao mesmo tempo que

afirma a nossa soberania e reforça a posição de Portugal no Mundo, tirando partido da

sua centralidade euro-atlântica. O Governo assume uma aposta nas atividades

económicas tradicionalmente ligadas ao mar, mas também na procura de novas áreas de

excelência e de criação de oportunidades de negócio que levem à geração de emprego

qualificado, ao aumento das exportações e à reconversão de áreas em declínio em

indústrias marítimas emergentes. Apostamos de forma arrojada no conhecimento, na

inovação e na conservação do meio marinho como motores do desenvolvimento

económico. Enfrentamos o desafio da simplificação sem facilitismo. Cruzamos o uso

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sustentável dos recursos do mar com o reforço da posição geoestratégica nacional,

captando mais riqueza na concretização do «Mar Português».

Estabelecer uma presença efetiva no nosso mar

Para o efeito, o Governo irá:

● Implementar um dispositivo de fiscalização e intervenção coerente, que integre

navios, aeronaves e modernos sistemas de vigilância de modo a assegurar a

observância da lei, da ordem e da segurança humana nos espaços sob soberania e

jurisdição nacionais. Importa, nomeadamente, assegurar a vigilância da ZEE, nos

Açores, para lá das 100 milhas, de modo a evitar a captura abusiva de recursos

piscícolas por parte de embarcações estrangeiras;

● Garantir uma capacidade adequada de defesa e segurança do nosso mar,

suficientemente dissuasora da reivindicação externa de interesses antagónicos aos

de Portugal;

● Defender intransigentemente o interesse público nas relações contraruais a

empreender.

Promover um melhor ordenamento do mar

O Governo promoverá uma revisão do enquadramento normativo aplicável ao

ordenamento do mar, assegurando a sua compatibilização com outros programas

setoriais e especiais, clarificando e conferindo estabilidade às opções de planeamento

efetuadas, salvaguardando as autonomias regionais e estabelecendo prioridades de ação

que afirmem Portugal como país marítimo que preserva o seu capital natural, valoriza os

serviços dos ecossistemas marinhos, aposta em negócios e indústrias de valor

acrescentado e tecnologicamente evoluídas, criando as condições necessárias para a

valorização das dimensões económica, ambiental e social.

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«Fundo Azul» para o desenvolvimento da economia do mar

O Governo criará um «Fundo Azul» para o desenvolvimento da economia do mar, a

investigação científica e a proteção e monitorização do meio marinho. Este instrumento

será financiado pela afetação de parte das receitas da taxa de utilização do espaço

marítimo e mediante outros recursos alternativos gerados a partir da iniciativa privada a

nível nacional e internacional, bem como através do Orçamento do Estado e de fundos

europeus.

Programa dinamizador das Ciências e Tecnologias do Mar

O Governo irá lançar um programa dinamizador das Ciências e Tecnologias do Mar,

centrado na recuperação e reforço do investimento em I&D no mar e na criação de

emprego científico e incentivos para a I&D empresarial. Este programa permitirá:

● Qualificar a I&D nacional em ciência e tecnologia do mar, nas áreas prioritárias

para o país;

● Instalar nos Açores um Centro de Observação Oceânica, com valências fixas e

móveis, suportado nas parcerias internacionais existentes e a desenvolver no

âmbito do Horizonte 2020, em particular a sua componente para o Atlântico. A

partir deste investimento serão estruturados programas e subprogramas de

investigação, em cooperação com redes internacionais (designadamente de âmbito

atlântico) dedicadas às ciências do mar, que ajudarão a responder a diversas linhas

de investigação científica na área do mar, incluindo nos domínios da robótica,

biologia, oceanografia e vulcanologia;

● Recriar mecanismos formativos específicos e dedicados para a capacitação superior

de ativos em ciências do mar;

● Aumentar o número de doutorados em ciências do mar nos centros de investigação

e de formação, apoiando programas de teaming e potenciando a sua inserção nas

empresas e na indústria;

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● Aumentar a produção científica nacional e I&D nas ciências do mar, criando um

programa específico de projetos de I&D que inclua a participação de empresas;

● Estabelecer incentivos para empresas tecnológicas, criando unidades de

conhecimento com potencial de ser explorado economicamente, designadamente

através do registo de patentes;

● Promover o emprego na indústria naval (construção de equipamento e navios de

suporte para Oil & Gas (O&G) e Mining Offshore – engenharia e técnicos

qualificados);

● Fomentar a produção de competências, o desenvolvimento de tecnologias e de

novos materiais indispensáveis à intervenção em offshore.

Aproveitar os recursos genéticos marinhos

O crescimento da exploração dos recursos genéticos marinhos e o potencial que eles

encerram, especialmente para as indústrias farmacêutica, agroalimentar e cosmética,

revela uma área de futuro. No espaço marítimo português existem perspetivas muito

promissoras relativamente a estes recursos. A liderança deste processo deve caber ao

setor público e ser afirmativa. Assim, o Estado deverá ultrapassar a posição passiva, de

destinatário de pedidos de autorização de investigação científica marinha, para uma

posição de promotor de dinâmicas entre empresas investidoras e comunidade científica,

potenciando a participação portuguesa nas atividades marinhas emergentes.

Cluster Tecnológico Deep Sea Oil and Mining Portugal

Para tirar partido de todo o potencial que se abre com o alargamento da plataforma

continental portuguesa e do potencial científico e tecnológico que o País tem

desenvolvido sobretudo nas áreas das engenharias, devemos apostar na criação de um

cluster tecnológico e de investigação aplicada nas áreas dos campos petrolíferos e

minerais digitais e da engenharia naval offshore e submarina, visando-se o surgimento

de start-ups nestas áreas.

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Proteger o capital natural e valorizar os serviços dos ecossistemas marinhos Garantir uma proteção efetiva do capital natural e dos serviços dos ecossistemas

marinhos é essencial para a sua valorização no âmbito da economia azul. Neste âmbito,

o Governo irá:

● Promover a introdução de selos de sustentabilidade nas diferentes áreas, incluindo

pesca, embarcações, portos, marinas, biotecnologia, atividade extrativa, etc.;

● Definir uma rede nacional ecologicamente coerente de áreas marinhas protegidas,

tomando como base e ampliando a experiência da Região Autónoma dos Açores;

● Implementar planos de gestão das áreas marinhas protegidas, mapear os serviços

dos respetivos ecossistemas marinhos e assegurar a monitorização da fauna

marinha e das capturas acidentais provocadas pela indústria pesqueira;

● Sensibilizar todos os envolvidos nas atividades da economia do mar e a sociedade

em geral para a importância do capital natural azul e para a necessidade da sua

valorização.

Promover medidas de simplificação, no âmbito do programa Simplex

Também relativamente ao mar há que eliminar burocracia, no âmbito do programa

Simplex, tornando o Estado mais ágil e facilitando o exercício de atividades

económicas. Pretende-se maior celeridade, mas com garantia de qualidade e

responsabilidade do processo de decisão, assegurando maior segurança e clareza nas

relações com a Administração Pública, diminuindo os custos de contexto e aumentando

a competitividade. Assim, o Governo irá:

● Simplificar o Regulamento de Inscrição Marítima, designadamente com vista a

agilizar a formação de marítimos;

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● Implementar a Janela Única Logística, como uma extensão do sistema da Janela

Única Portuária, atualmente em funcionamento em todos os portos nacionais,

alargando-o a todos os meios de transporte terrestres, camião e comboio, em todos

os portos portugueses e na ligação aos portos secos nacionais e espanhóis até

Madrid;

● Criar a Fatura Única por Escala de Navio, passando a ser única a representação de

todas as entidades do Estado nos portos [Autoridade Portuária (AP), Autoridade

Marítima Nacional (AM), Autoridade Tributária e Aduaneira (AT), Serviço de

Estrangeiros e Fronteiras (SEF) e Superintendência do Material (SM)], implicando

uma redução direta dos custos por escala de navio e uma economia de cerca de

600.000 folhas de papel/ano para cada 3.000 navios;

● Introduzir o conceito legal de «porto seco», visando facilitar a concentração e o

desembaraço das mercadorias que circulam entre depósitos temporários em regime

simplificado, aumentando a competitividade dos portos e do setor exportador

nacional;

● Criar a «Plataforma Mar», guichet único para licenciamentos das atividades

económicas a realizar em meio marinho;

● Simplificar os licenciamentos, vistorias e inspeções das embarcações de recreio e

de pesca e relativas às cartas náuticas, bem como os procedimentos e exigências

excessivas associadas à práticas de desportos náuticos.

Promover o transporte marítimo

Atendendo à sua posição geográfica, Portugal pode e deve afirmar-se como uma

potência, não só em termos portuários e logísticos, mas também ao nível do transporte

marítimo. Assim, o Governo irá:

● Apoiar o desenvolvimento da Marinha Mercante nacional, mediante um

benchmarking europeu que permita replicar em Portugal as condições legais e

fiscais mais favoráveis encontradas, no respeito pelas regras europeias e

internacionais aplicáveis.

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Por esta via, pretende-se aumentar o número de navios com pavilhão nacional e dotar o

País de uma oferta de capacidade de carga, diminuindo a dependência quase absoluta

atualmente existente do shipping internacional e aumentando simultaneamente a oferta

de emprego para os tripulantes portugueses;

● Melhorar as condições de acesso à cabotagem insular e ao transporte inter-ilhas,

eliminando os condicionalismos ao acesso de empresas ao mercado, reforçando os

mecanismos de controlo e garantindo as escalas e os tempos de entrega das

mercadorias;

● Apoiar o transporte marítimo de curta distância e as «Autoestradas do Mar». Esta

dinamização deverá ser feita com os serviços entre portos nacionais e determinados

portos da Europa em segmentos determinados de mercadorias e em articulação com

os transportadores rodoviários para que se constitua como uma alternativa

sustentável.

Valorizar a pesca e as atividades económicas ligadas à pesca

Um dos mais importantes e relevantes recursos marítimos é o seu pescado, importando

valorizar esta atividade económica enquanto projeto empresarial competitivo, dadas as

nossas tradições neste setor. Para o efeito, o Governo defende:

● Uma gestão sustentável dos recursos pesqueiros da ZEE, tendo em conta as

componentes económica, social e ambiental;

● O desenvolvimento do setor da transformação de pescado, reforçando a aposta na

atividade conserveira e em indústrias inovadoras relacionadas com a fileira da

transformação dos produtos da pesca e da aquicultura, designadamente através de

parcerias tecnológicas e de conhecimento entre as universidades, o setor e as

empresas;

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● A criação de uma marca para o pescado nacional, bem como de um sistema de

rastreabilidade e informação ao consumidor que identifique o pescado nacional, da

produção ao consumidor final;

● O apoio à aquisição da primeira embarcação por jovens pescadores com a criação

de uma linha de crédito «Jovens pescadores», destinada ao financiamento

sustentável do investimento apoiado no âmbito do Programa Operacional MAR

2014-2020 (PO MAR 2014-2020), através da elaboração de protocolos com

entidades bancárias;

● A criação de parcerias entre organizações de pescadores e organismos científicos

independentes, tendentes à valorização do pescado e à sustentabilidade dos

recursos, no âmbito dos Grupos de Ação Local Pescas;

● O reforço das Organizações de Produtores, com maior integração na cadeia de

valor agroalimentar, por via de uma escala acrescida e uma clara orientação para o

mercado;

● A certificação e promoção dos produtos da pesca e da aquicultura;

● A reestruturação da 1ª venda, através de um maior envolvimento das organizações

de produtores e associações de comerciantes, designadamente com vista a permitir

a venda direta da pesca local;

● A possibilidade de exercício, em simultâneo, da atividade marítimo-turística e da

pesca profissional, como forma de melhorar a rentabilidade da frota;

● A prioridade na hierarquização de candidaturas ao PO MAR 2014-2020,

designadamente na melhoria das condições de segurança a bordo e aumento da

eficiência energética das embarcações, através da reconversão/aquisição de

motores com menores emissões poluentes;

● A criação de uma Linha de crédito «Pequena Pesca» destinada ao financiamento

sustentável do investimento apoiado no âmbito do PO MAR 2014-2020, através da

elaboração de protocolos com entidades bancárias;

● O apoio à frota de pesca longínqua/industrial que opera em águas internacionais,

através do reforço dos acordos bilaterais com países terceiros, designadamente dos

negociados no quadro da UE;

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● A melhoria das condições de segurança e de operacionalidade das infraestruturas

portuárias de pesca;

● O aprofundamento das relações bilaterais de pesca com Espanha, Noruega e

Canadá.

Adotar medidas no domínio do bem-estar animal

● Revisão do estatuto jurídico dos animais, adequando-o à evolução do Direito Civil

de forma a diferenciá-lo do regime jurídico das coisas e a assegurar maior

consciencialização em matéria de bem-estar animal;

● Completar o quadro jurídico do crime de maus-tratos a animais de companhia,

melhorando o quadro de sanções acessórias, clarificando os tipos penais existentes;

● Rever o regime de abate de animais de companhia nos canis e gatis municipais, no

sentido da sua gradual erradicação, introduzindo medidas de controlo de população

e de prevenção do abandono;

● Valorizar, no quadro da educação para a cidadania, as componentes relativas à

consciência social, ambiental e de promoção do bem-estar animal;

● Rever o regime jurídico da venda e detenção de animais selvagens, com vista à sua

restrição e adequação às melhores práticas.

Aposta na aquicultura

Importa favorecer o aumento da produção aquícola e a sua diversificação, tanto para

consumo interno como para exportação, fixando objetivos concretos de quantidades de

produção. Assim, o Governo irá:

● Proceder à definição e ordenamento de zonas destinadas à prática da aquicultura;

● Retomar a aquicultura semi-intensiva e extensiva de bivalves nos estuários e rias,

mediante procedimentos de licenciamento simplificados;

● Lançar um programa de aquicultura offshore;

● Criar uma plataforma comum para gestão de informação de estabelecimentos de

aquicultura;

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● Apoiar a introdução, com as devidas cautelas, de novas espécies; ● Promover o consumo de espécies provenientes da aquicultura produzidas em

Portugal;

● Desenvolver produtos com certificação de origem de valor acrescentado no

mercado;

● Fomentar tecnologias e equipamentos inovadores e a utilização de energias

renováveis;

● Implementar o seguro aquícola e criar instrumentos financeiros para

caucionamento mútuo e capital de risco, de modo a alavancar o investimento e

facilitar o acesso ao crédito bancário em condições mais vantajosas.

Defender e potenciar o litoral

Uma das grandes mais-valias do território português é a extensão do seu litoral, quer do

continente, quer das ilhas, bem como os múltiplos usos e oportunidades que o mesmo

potencia. Neste domínio, o Governo irá:

● Explorar as interações terra-mar, visando transformar a orla costeira portuguesa

numa região marítima de referência internacional, em termos de qualidade e

inovação;

● Efetuar a coordenação entre os instrumentos de planeamento e de ordenamento do

território nos espaços terrestre e marítimo, compatibilizando e dinamizando as

múltiplas atividades costeiras, de modo a potenciar as respetivas cadeias de valor;

● Adotar medidas que contrariem a crescente erosão das áreas vulneráveis da zona

costeira, estudando seriamente as suas causas e envolvendo no processo de decisão

as populações, os governos regionais, os municípios costeiros, os centros de

investigação e outras partes interessadas;

● Adotar uma postura firme de reposição da legalidade e combate às construções

comprovadamente não autorizadas em domínio público marítimo, intervindo

prioritariamente nas zonas de maior risco, com a requalificação e preservação dos

valores ambientais e salvaguardando as primeiras habitações em núcleos

residenciais piscatórios;

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● Recuperar e valorizar o património natural e cultural das comunidades ribeirinhas.

Explorar a interação mar-ar

É necessário, ainda, adotar uma visão integrada que articule o espaço marítimo e o

espaço aéreo nas suas diferentes potencialidades, afastando de vez, não só a dicotomia

terra-mar, como a dicotomia terra/mar-ar. Para o efeito, o Governo irá:

● Reforçar os meios de regulação do setor aéreo por forma a assegurar que a

atividade aeroportuária e do transporte aéreo se encontrem alinhadas com a

estratégia de desenvolvimento nacional e os requisitos de competitividade para o

transporte aéreo em espaço europeu e intercontinental.

24. AFIRMAR O INTERIOR

Unidade de missão para a valorização do interior

O interior de Portugal continental goza de uma posição privilegiada no contexto ibérico

que não tem sido devidamente valorizada em todo o seu potencial de ligação com o

resto da Península e, desde logo, nos territórios transfronteiriços. O «interior» está,

afinal, no centro do mercado ibérico, um mercado com cerca de 60 milhões de

consumidores e um gigantesco volume de trocas.

Deste modo, o Governo defende que é preciso um novo olhar para o «interior», uma

nova visão que identifique as regiões de fronteira como uma nova centralidade no

mercado ibérico e, para tal, promoveu:

● A criação de uma unidade de missão para a valorização do interior, na dependência

direta do Primeiro-Ministro, tendo como responsabilidades criar, implementar e

supervisionar um programa nacional para a coesão territorial, bem como promover

o desenvolvimento do território do interior.

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Valorização dos espaços de produção

Nas últimas décadas foi feito um grande esforço e investimento na valorização e

qualificação dos espaços de consumo, aumentando a atratividade das cidades, espaços

públicos e zonas ribeirinhas, entre outros. Sem negar a mais-valia destas ações na

melhoria da qualidade de vida dos cidadãos e do crescimento do turismo, torna-se

estratégico redirecionar estes esforços de valorização para os espaços de produção do

país, em particular os do interior, que em muitos casos registam um forte declínio e

subaproveitamento de recursos, com potencial para a criação de emprego e riqueza. O

Governo pretende, deste modo, priorizar a qualificação e promoção da atratividade dos

espaços de produção, quer do setor primário como do secundário, com vista a aumentar

o emprego, a atratividade para o investimento, o aproveitamento de recursos, a

modernização e a fixação da população, designadamente no interior. Será dada

prioridade ao investimento na modernização dos produtos e infraestruturas de produção

endógenas, regionais e, frequentemente tradicionais, de forma a dotá-los dos requisitos

necessários para serem atrativos e competitivos nos dias de hoje, ao mesmo tempo que

dão origem a produtos únicos e com valor acrescentado no mundo global.

Concelhos empreendedores em rede

O Governo vai lançar um pacote de incentivos à partilha de espaços de trabalho e à

incubação de empresas no interior, promovendo a troca de informação, a cooperação e a

mobilidade de ideias e pessoas entre diferentes regiões, contribuindo também para a

ocupação, refuncionalização e requalificação de edifícios e espaços industriais

abandonados ou obsoletos.

Plataformas regionais para a empregabilidade

O Governo pretende promover uma articulação reforçada das ofertas formativas das

instituições de ensino superior e de formação profissional com as necessidades das

empresas instaladas nos diferentes territórios do interior, através da constituição de

plataformas de diálogo e parceria.

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Intercâmbio de conhecimento aplicado entre os centros de Investigação e

Desenvolvimento Tecnológico (I&DT) e as comunidades rurais

A inovação e o desenvolvimento tecnológico são essenciais para o crescimento

económico e a competitividade. Os centros de investigação estão cada vez mais no

cerne da economia e são os motores da inovação. No entanto, estes estão

maioritariamente localizados nas grandes áreas urbanas e, por vezes, pouco voltados

para as questões, desafios, conhecimento e potencial das regiões mais periféricas,

nomeadamente do interior e áreas rurais. É também nestas regiões mais isoladas que

persistem saberes e produtos de cariz local, com processos, técnicas e expressões

singulares em risco de se perderem, quer por estarem a desaparecer os portadores desse

mesmo conhecimento, quer por falta de competitividade e atualização dos bens

produzidos. Assim, ao incentivar um intercâmbio de conhecimento, com uma forte

vertente aplicada, entre os centros de I&DT e as comunidades rurais, o Governo

pretende:

● Preservar e transmitir os conhecimentos, saberes e produtos tradicionais, não

deixando que se perca uma riqueza fundamental do país;

● Capitalizar a diversidade e singularidade das produções regionais, que são

crescentemente uma mais-valia no mundo globalizado e um fator de

competitividade e diferenciação;

● Estudar e desenvolver novos produtos que aliem a tradição e a inovação, criando

um tipo de riqueza enraizado nos territórios e que promovem os materiais,

recursos, cultura e imagem nacionais;

● Criar produtos que dependam essencialmente de recursos endógenos para a sua

produção e com grande potencial de exportação;

● Promover a criação de emprego e riqueza em áreas em declínio, combatendo o

êxodo rural e as assimetrias territoriais.

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Valorizar e promover os produtos regionais

O Governo irá lançar um programa integrado de certificação e promoção de produtos

regionais, designadamente conjugando técnicas artesanais com fatores de inovação,

evidenciando os seus elementos diferenciadores e aumentando a sua competitividade

nos mercados externos aos territórios de origem.

Parcerias Urbano-Rurais

As cidades e centros urbanos de pequena e média dimensão desempenham um papel

essencial no desenvolvimento equilibrado do território, bem como na promoção da

coesão territorial. As ligações e interdependências destes centros com as áreas

circundantes, em particular as rurais, são fundamentais para ambos os territórios e para

sedimentar o desenvolvimento regional, em particular do interior. Nestes termos, as

opções e políticas de desenvolvimento do Governo nestas áreas devem ser pensadas de

modo integrado e localizado, nomeadamente em termos de funções, transportes

públicos, acessibilidades, qualidade de vida, revitalização económica, competitividade e

aumento da produtividade, salvaguarda e valorização do património cultural e natural e

aumento da atratividade turística. Para tal, importa criar parcerias urbano-rurais que

possam desenvolver e implementar de forma integrada um programa de

desenvolvimento regional ou local, que capitalize as complementaridades e sinergias

entre os territórios e coordene as diversas políticas setoriais em prol de uma estratégia

de desenvolvimento para a área em causa.

As Parcerias Urbano-Rurais visam, assim, a conceção e implementação de estratégias

de desenvolvimento territorial, com base num modelo de governança específico, que

defina claramente as responsabilidades e competências dos diversos atores

intervenientes, para um horizonte plurianual mínimo de três anos, permitindo a

programação e financiamento de ações específicas a médio prazo, em especial nas

dimensões da mobilidade, redes de equipamentos, circuitos curtos de abastecimento

alimentar e gestão integrada do sistema azul (água) e das infraestruturas verdes.

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Incentivo à fixação e atração de jovens O Governo lançará um pacote de medidas que favoreça a atração e fixação de jovens no

interior, designadamente através do apoio a projetos empreendedores de base

tecnológica, da reabilitação de construções abandonadas nas vilas e aldeias, da

instalação de jovens agricultores e de jovens empresários rurais e de ações de

discriminação positiva no apoio à natalidade. Será também lançada uma rede nacional

de hotspots em territórios de baixa densidade.

Intensificar a cooperação transfronteiriça

De forma a alcançar uma mais estreita cooperação transfronteiriça, o Governo irá:

● Negociar com as autoridades espanholas um conjunto de medidas comuns que

permitam melhorar a qualidade de vida das pessoas que vivam em regiões

fronteiriças e reduzir custos para as empresas portuguesas e espanholas,

designadamente através da eliminação de tarifas de roaming e da supressão de

taxas de utilização de cartões de débito e crédito entre os dois países;

● Adotar um registo comercial comum, acessível online, que permita uma maior

integração e reconhecimento fiscal pelos dois países, eliminando fatores de dupla

burocracia e garantindo que cidadãos e empresas não necessitem de estar registados

e fazer declarações fiscais sucessivas nos dois países;

● Regulamentar e harmonizar titulações académicas em âmbitos de formação

especializada, que permitam partilhar recursos entre as universidades e outras

instituições de ensino superior nas áreas de fronteira (incluindo programa de

estudos conjuntos e duplos graus), criando incentivos para mobilidade de docentes,

alunos e funcionários;

● Assegurar um planeamento integrado e uma articulação efetiva da rede de oferta de

serviços de saúde (assim como em outros domínios considerados prioritários pelos

municípios) em ambos os lados da fronteira, evitando deste modo redundâncias e

desperdícios.

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Fomentar a produção e o emprego nos territórios de fronteira

O Governo implementará um sistema de incentivos à instalação de empresas e ao

aumento da produção nos territórios fronteiriços, designadamente através de um

benefício fiscal, em IRC, modulado pela distribuição regional do emprego. Deste modo,

o montante do incentivo à interioridade dependerá da percentagem de trabalhadores da

empresa com domicílio fiscal em regiões desfavorecidas ou de baixa densidade. Este

critério revela-se especialmente adequado a empresas multi-estabelecimento, evita

fraudes decorrentes da localização fictícia da sede legal das empresas em zonas do

interior e é facilmente comprovável mediante informação disponível.

25. PROMOVER A COESÃO TERRITORIAL E A SUSTENTABILIDADE

AMBIENTAL

O ordenamento do território e o planeamento rural e urbano são instrumentos que

devem estar ao serviço do desenvolvimento territorial, garantindo uma coordenação das

várias políticas setoriais. De resto, a valorização da dimensão territorial das políticas

públicas constitui um importante desafio, para que o novo ciclo de utilização de fundos

europeus permita desenvolver o País em termos equilibrados e inclusivos, promovendo

uma efetiva coesão territorial. É assim no território nacional como um todo, mas muito

em particular nas cidades, que desempenham um papel decisivo como motores da

competitividade territorial, do progresso económico-social e da inovação associada a

exigentes padrões de sustentabilidade ambiental. Neste contexto adquire especial

relevância, a par da fruição de espaços verdes e da qualidade do ar, a prestação dos

serviços públicos essenciais de fornecimento de água e de saneamento básico, a que se

junta ainda a recolha, tratamento e valorização de resíduos. Estes constituem, sem

dúvida, setores de relevante interesse público e peças fulcrais para a qualidade de vida

dos cidadãos. Como tal, impõe-se manter estas importantes funções sob titularidade

e/ou controlo público, num delicado e virtuoso equilíbrio entre a Administração Central

e o poder local, havendo que corrigir decisões irrefletidas e bastante danosas tomadas no

passado. Mas as preocupações ambientais não se cingem ao ciclo urbano da água ou à

gestão dos resíduos, nem tão-pouco se circunscrevem ao universo citadino. Na verdade,

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as principais ameaças ambientais da atualidade são as alterações climáticas e a perda de

biodiversidade. Para ambas é preciso encontrar uma resposta sólida, que contribua

solidariamente para a proteção do planeta, mas não deixe de atender às especificidades

nacionais.

Relativamente às alterações climáticas, há que atuar em duas vertentes: na mitigação

das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) e na adaptação a um clima mais

instável. Sendo que, quanto à mitigação do aquecimento global, a UE tem assumido

uma posição de liderança e Portugal tem condições especialmente propícias para estar

na vanguarda deste movimento. Ainda assim, importa ter presente que, por mais que

façamos para travar o efeito de estufa, alguns dos seus efeitos irão sempre fazer-se

sentir, provavelmente com bastante intensidade. Nesta medida, e designadamente tendo

em vista a nossa ampla exposição costeira, temos de nos tornar mais resilientes aos

impactos das alterações climáticas. Será necessário identificar, nos diversos domínios

setoriais, quais as mudanças estruturais e comportamentais a adotar para lidarmos com

um clima mais violento e imprevisível. Relativamente à biodiversidade, importa

promover uma gestão adequada e uma fruição ampla dos parques naturais, mas não só.

A diversidade biológica deve ser apreendida como um ativo estratégico, inclusivamente

passível de valoração económica, mesmo para lá das áreas protegidas ou dos sítios da

Rede Natura 2000. É isso que justifica, por exemplo, a necessidade de uma ação

determinada para a requalificação dos ecossistemas dos rios e zonas húmidas. Tal

iniciativa deverá ser concebida em estreita cooperação com as autoridades espanholas,

no caso dos rios internacionais.

Integrar o desenvolvimento territorial e o ordenamento do território O ordenamento do

território e o planeamento rural e urbano são instrumentos que devem estar ao serviço

do desenvolvimento territorial que, por definição, é um conceito mais abrangente e

implica a coordenação de várias políticas setoriais. Contudo, a integração e

interdependência entre o ordenamento/planeamento e o desenvolvimento territorial não

tem sido uma realidade em Portugal. Os dois domínios têm estado separados, o que tem

originado uma situação contraditória e contraproducente: por um lado, os instrumentos

de gestão territorial (IGT) detêm uma programação estratégica a médio prazo, mas falta-

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lhes uma programação operacional realmente efetiva. Por outro lado, o desenvolvimento

territorial é frequentemente reduzido à aplicação dos fundos europeus, residindo aqui os

instrumentos de programação operacional das intervenções sobre os territórios, mas sem

estreita ligação com os IGT e quase sempre obrigando a uma duplicação e sobreposição

de planos e estratégias. É, assim, necessário e urgente integrar estes dois domínios, que

têm de estar perfeitamente sintonizados e em interdependência, promovendo por esta

via um verdadeiro planeamento estratégico do desenvolvimento e uma eficaz

operacionalização do mesmo. É ainda necessário dotar os programas regionais de uma

verdadeira perspetiva regional, mediante a sua realização por órgãos que tenham maior

legitimidade política de representação dos territórios e cidadãos da região, ao invés de

se reduzirem, como atualmente, a meros instrumentos de programação das políticas

setoriais da Administração Central com incidência sobre o território.

Promover estratégias territoriais ancoradas no desenvolvimento local

A importância e o impacto que as iniciativas de desenvolvimento local podem ter no

desenvolvimento territorial (regional e mesmo nacional) são hoje reconhecidas pelas

mais diversas entidades internacionais, como a UE e a OCDE. Neste contexto, a UE

reforçou mesmo os instrumentos de promoção de iniciativas de desenvolvimento local e

de territorialização das políticas públicas. No entanto, a transposição destes

instrumentos foi feita de forma deficiente para o quadro nacional, nomeadamente no

que se refere à promoção das iniciativas de desenvolvimento local e no reconhecimento

do seu potencial para catapultar o desenvolvimento a escalas territoriais superiores.

O Governo irá corrigir estes problemas e adotar estratégias territoriais verdadeiramente

ancoradas no desenvolvimento local, o que passará por:

● Reforçar o papel e a autonomia dos municípios em matéria de ordenamento de

território e de desenvolvimento local, designadamente mediante o reforço dos

instrumentos de concertação, consulta e audição dos municípios face às

implicações locais dos programas da Administração Central e o reforço da

autonomia dos municípios em sede de elaboração dos planos de urbanização e de

pormenor;

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● Reforçar a abrangência, capacidade estratégica, representatividade territorial e

meios de financiamento dos instrumentos de apoio ao desenvolvimento de base

local;

● Criar incentivos à inovação social e à animação territorial;

● Contrariar o não-surgimento espontâneo de iniciativa e auto-organização local,

mediante a capacitação dos agentes locais e a criação de apoios a este tipo de

iniciativas.

Programa «Territórios do Futuro»

O Governo irá fomentar a realização de parcerias de investigação aplicada entre

unidades do ensino superior, autarquias, empresas e outras entidades, em domínios

decisivos para o futuro das cidades e das regiões que sejam particularmente exigentes

em conhecimento, inovação e internacionalização (economia circular, mobilidade

elétrica, domótica, tecnologias de informação, novas infraestruturas urbanas, etc.).

Programa «Cidades Inteligentes»

Fruto do reconhecimento de que as cidades podem desempenhar um papel central na

criação de emprego e no crescimento, o Governo irá prever e incentivar intervenções

integradas de desenvolvimento urbano sustentável, geridas pelos municípios, que

respondam aos desafios energético-ambientais da atualidade: menos poluição, mais

eficiência energética, maior produção renovável de energia, menos emissões de GEE,

melhor mobilidade, mais emprego, mais inclusão e maior proximidade entre os

cidadãos. Tais intervenções assentarão fundamentalmente no recurso às novas

tecnologias, permitindo a alavancagem de investimento privado e o surgimento de

novas formas de negócio nas cidades, com base na informação gerada pela aplicação

das soluções integradas.

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Descarbonização da economia Portugal deve tornar-se progressivamente menos dependente do consumo de

combustíveis fósseis. Assim o Governo irá atuar com o conjunto abrangente e

diversificado de medidas nos vários setores (residencial e dos serviços, transportes e

agricultura). Para cada um destes setores, e partindo das medidas previstas neste Plano,

o Governo aprovará planos calendarizados de descarbonização.

Adaptação aos novos contextos climáticos

Independentemente dos resultados obtidos ao nível da redução das emissões de GEE, as

alterações climáticas irão manifestar-se de forma progressivamente mais intensa,

exigindo medidas concretas de adaptação. Entre outros efeitos, o nosso território – em

especial no litoral e nas maiores cidades – está sujeito à ocorrência de fenómenos

meteorológicos extremos, cada vez mais frequentes, imprevisíveis e de maior

danosidade. Importa, pois, à luz da recentemente aprovada Estratégia de Sendai

2015/2025, identificar e mapear tais riscos, reduzir a exposição e atenuar as principais

vulnerabilidades detetadas, bem como reforçar a preparação e a capacidade de resposta

às catástrofes.

Para o efeito, o Governo irá:

● Rever, atualizar e aumentar o nível de ambição da Estratégia Nacional de

Adaptação às Alterações Climáticas, em termos transversais e setoriais;

● Prever a obrigatoriedade de definição de estratégias municipais e/ou

intermunicipais de adaptação às alterações climáticas, em função das realidades

locais, com transposição necessária para os planos de ordenamento do território,

designadamente em sede de Plano Diretor Municipal;

● Elaborar uma carta nacional de riscos derivados das alterações climáticas, prevendo

o seu desenvolvimento, em detalhe, através de cartas municipais e/ou

intermunicipais de riscos, bem como planos de emergência por parte das

autoridades locais;

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● Aumentar a resiliência de infraestruturas essenciais em caso de catástrofes,

designadamente dos equipamentos de saúde;

● Implementar de sistemas de alerta precoce e reforçar os mecanismos de reação

rápida a catástrofes.

Proteger a natureza e evitar a perda de biodiversidade

A biodiversidade e a conservação da natureza constituem desígnios estratégicos que não

podem, como tem sucedido, ser continuamente subalternizados em nome de outros

valores conflituantes. É, por isso, fundamental garantir o investimento público neste

setor, reforçando os meios humanos, técnicos e o conhecimento.

Neste campo, o Governo irá:

● Assegurar a efetividade dos programas especiais de ordenamento do território que

estabelecem regimes de salvaguarda de recursos e valores naturais, garantindo o

planeamento e a gestão integrada e coerente das áreas protegidas, bem como da

orla marítima, dos estuários e das albufeiras;

● Promover a fixação das populações residentes em áreas protegidas, estimulando

práticas de desenvolvimento sustentável, designadamente no setor agrícola e

pecuário, e reabilitando o edificado de acordo com a sua traça original, mas com

maior comodidade e eficiência energética;

● Instituir dinâmicas de participação na vida das áreas protegidas, facilitando a sua

visita pelos cidadãos, nomeadamente através da eliminação de restrições excessivas

e desproporcionadas que a dificultem, de programas de estadia de média e longa

duração, de visitas de estudantes e cidadãos seniores, de «experiências» de

interiorização do valor da fauna e flora e da disponibilização de novos meios de

divulgação dos parques naturais;

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● Melhorar os sistemas de comunicação e gestão de valores naturais, designadamente

através de pequenos investimentos em imóveis, locais de pernoita, infraestruturas

de apoio, espaços de observação da vida selvagem, circuitos e equipamentos de

lazer destinados ao visitante de áreas protegidas, designadamente dos parques

naturais, com vista à promoção dos valores ambientais e do conforto e da qualidade

da visita;

● Disponibilizar mais e melhor informação, em várias línguas, sobre o património

natural das áreas protegidas, bem como a cobertura de redes de dados móveis,

permitindo a substituição progressiva da informação em suporte físico por

informação digital;

● Promover iniciativas de conservação da biodiversidade em contexto urbano, em

articulação com os municípios, disseminando os espaços de lazer e de usufruto

público, recuperando as zonas ribeirinhas e criando novas áreas verdes com

funções específicas, que contribuam, simultaneamente, para a qualidade do ar e o

sequestro de carbono;

● Atribuir às Autarquias Metropolitanas de Lisboa e Porto a responsabilidade de

definir e proteger as respetivas Estruturas Ecológicas Metropolitanas.

Garantir o acesso e a qualidade dos serviços públicos de águas, saneamento e

resíduos

O acesso a água potável e a saneamento básico, bem como a recolha e tratamento do

lixo constituem necessidades básicas de primeira ordem, nalguns casos já reconhecidas

internacionalmente enquanto direitos humanos, cuja concretização importa garantir, não

só em termos de disponibilidade universal, como de acessibilidade económica,

qualidade de serviço e integridade ambiental, mas também de sustentabilidade

financeira. Existe neste setor, todavia, um acumulado de decisões erráticas, contratos

deficientes e más práticas de gestão que urge corrigir, em benefício dos cidadãos. Como

tal, o Governo irá:

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● Travar o processo de privatização da Empresa Geral do Fomento, S. A., com

fundamento na respetiva ilegalidade e desde que tal não implique o pagamento de

indemnizações ao concorrente escolhido, de modo a inverter a excessiva

concentração e a forte distorção da concorrência existentes no setor dos resíduos;

● Reversão das fusões de empresas de água que tenham sido impostas aos

municípios;

● Integrar o ciclo urbano da água, no sentido de uma articulação entre o fornecimento

de água e as redes de drenagem valorizando o papel das autarquias na recolha de

modelos de gestão que permitam uma maior racionalização na afectação de

recursos;

● Definir um programa de aproveitamento da água reciclada, que proceda ao fecho

do ciclo da água, integrando as autarquias no processo;

● Renegociar, em conjunto com as autarquias, os contratos de concessão de primeira

geração celebrados ao longo das últimas décadas, em alta e em baixa, cujo

desempenho deixa muito a desejar quanto ao nível de serviço prestado e que,

paradoxalmente, proporcionam aos concessionários taxas de rentabilidade

absolutamente desproporcionadas e inaceitáveis à luz das regras de um mercado

saudável, com elevados encargos financeiros para o cidadão;

● Definir princípios iguais a nível nacional para a promoção de um tarifário social da

água, designadamente tendo em atenção os agregados familiares com menores

rendimentos e as famílias numerosas;

● Configurar e tornar efetiva uma garantia de serviços mínimos, considerados

essenciais à dignidade da pessoa humana, relativamente ao acesso a certos serviços

básicos ou de interesse geral, como a água, o saneamento, a recolha de resíduos,

entre outros;

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● Desenvolver a cooperação luso-espanhola no setor da água, nomeadamente através

da revisão das ações e medidas previstas na Convenção de Albufeira, visando,

entre outras finalidades, a concretização de planos de gestão conjuntos para as

bacias hidrográficas partilhadas, assegurando o objetivo de garantir as exigências

ambientais e os interesses nacionais;

● Promover a utilização dos resíduos biológicos das cidades, provenientes da limpeza

dos jardins públicos e privados, na criação de áreas de plantação com elevado

potencial de sequestro de carbono, em áreas urbanas centrais;

● Valorizar e estimular a compostagem de resíduos orgânicos;

● Promover a redução de resíduos como prioridade ativa na política dos 3R´s,

designadamente penalizando o uso de embalagens, no âmbito dos mecanismos em

vigor.

Medidas de simplificação, no âmbito do programa Simplex

O retomar do programa Simplex é um compromisso deste Governo, concretizado no

ambiente através do desígnio da simplificação administrativa de procedimentos, melhor

regulamentação e reforço da eficácia de implementação da legislação ambiental resulta

num compromisso reforçado deste Governo.

Neste âmbito, afigura-se fundamental mobilizar os apoios à modernização

administrativa e capacitação da Administração Pública, com vista à adoção de soluções

facilitadoras do cumprimento de obrigações por parte dos cidadãos e das empresas,

visando a redução de custos de contexto da atividade económica.

Importa assim, garantir a efetiva desmaterialização de processos e serviços,

impulsionada por alterações legislativas, regulamentares e outras que venham a ser

implementadas.

Considera-se premente consolidar, integrar e operacionalizar os sistemas de informação

sobre Ambiente, garantindo o acesso facilitado ao cidadão, e promover a

disponibilização de informação e partilha de conhecimento em tempo útil.

Para o efeito, as medidas a implementar são as seguintes:

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● No domínio do licenciamento ambiental, agilizar e simplificar a articulação entre o

regime de avaliação de impacte ambiental e outros regimes jurídicos setoriais de

controlo administrativo prévio de atividades poluentes, eliminando encargos

burocráticos desproporcionados. Nesta perspetiva, o licenciamento único ambiental

(LUA) deverá ser consolidado, no sentido de:

– Proceder à efetiva articulação dos múltiplos procedimentos administrativos de

controlo administrativo prévio em matéria ambiental;

– Consagrar o licenciamento industrial zero, para as instalações que já reúnam

todas as necessárias autorizações ambientais e sanitárias;

– Eliminar exigências e encargos burocráticos excessivos em matéria ambiental,

bem como custos de contexto desproporcionados.

Garantir uma maior eficácia da política de ambiente

De modo a atingir, de forma transversal, uma maior eficácia da política de ambiente e a

concretização efetiva de benefícios ecológicos, o Governo irá:

● Criar um «Superfundo Ambiental», concentrando os diferentes fundos ambientais

atualmente existentes (designadamente o Fundo Português de Carbono, o Fundo de

Intervenção Ambiental, o Fundo de Proteção dos Recursos Hídricos, o Fundo para

a Conservação da Natureza e da Biodiversidade e, eventualmente, o Fundo de

Eficiência Energética), de modo a obter um instrumento com maior capacidade

financeira para atuar na preservação dos recursos naturais, na prevenção de riscos e

na reparação de danos ecológicos;

● Reunir, integrar e disponibilizar de forma sistemática a informação sobre o

ambiente e o uso de recursos naturais, integrando-a com os instrumentos de gestão

e acompanhamento do uso do território e com as obrigações de comunicação de

informação a instituições internacionais;

● Disseminar as boas práticas de contratação pública ecológica (green public

procurement);

● Internalizar os custos associados ao uso e degradação de recursos naturais,

designadamente prevendo mecanismos de pagamento por serviços ambientais,

definindo um regime de compensação ambiental e regulamentando o seguro

obrigatório de responsabilidade civil por danos ao ambiente;

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● Reduzir a utilização dos combustíveis fósseis e a poluição do ar através da

promoção de bairros com usos mistos (habitação, comércio, trabalho, escola e

lazer), reduzindo as deslocações diárias e criando raízes sólidas na vida dos

cidadãos, através da partilha e da produção local de bens e serviços;

● Lançar um programa nacional de recuperação de passivos ambientais e de

tratamento de solos contaminados (brownfields);

● Lançar um programa de revitalização dos rios portugueses. Este programa deve,

por um lado, recuperar a qualidade das águas dos rios e valorizar a sua dimensão

paisagística e, por outro lado, tornar essas áreas um espaço de lazer qualificado e

atrativo para as pessoas e o turismo, assim promovendo a singularidade dos

ecossistemas e o relevo socioeconómico dos principais cursos de água;

● Desenvolver uma política de educação para a sustentabilidade e de sensibilização

para a adoção de práticas ambientalmente adequadas.

26. VALORIZAR A ATIVIDADE AGRÍCOLA E FLORESTAL E O ESPAÇO

RURAL

A ação do Governo assentará em três eixos principais: a exploração do potencial

económico da agricultura, a promoção do desenvolvimento rural e o fomento de uma

gestão florestal sustentável, procurando a eficácia em matéria de resultados, a eficiência

em matéria de custos e a equidade em matéria de discriminação positiva para as zonas

desfavorecidas, a pequena agricultura ou os jovens agricultores.

Para tal, o Governo pretende:

● Melhorar a qualidade dos produtos, a garantia da segurança alimentar e incrementar

a produtividade dos fatores de produção, tendo em vista a internacionalização das

fileiras agroalimentares e agroflorestais e a substituição de importações no mercado

nacional;

● Reforçar o apoio à pequena agricultura, ao rejuvenescimento do tecido social das

zonas rurais, com destaque para o empresariado agrícola e rural, e à promoção e

reforço das estratégias e parcerias locais.

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● Reforçar o ordenamento florestal e a produtividade das principais fileiras silvo-

industriais;

● Apoiar a melhoria das organizações de produtores e a gestão interprofissional,

assegurando a primazia da proteção da floresta face aos incêndios e aos agentes

bióticos nocivos, a dinamização ambiental e económica dos espaços florestais sob a

gestão do Estado, o estímulo para a certificação dos processos produtivos e a

promoção da floresta de uso múltiplo (nomeadamente dos sistemas

agrossilvopastoris e da floresta de montanha).

O desígnio político é valorizar a atividade agrícola e florestal e o espaço rural:

No tocante à atividade agrícola e ao mundo rural, as Grandes Opções assentam em três

eixos principais:

● A exploração do potencial económico da agricultura;

● A promoção do desenvolvimento rural;

● O fomento da gestão florestal sustentável.

Visa-se em geral nestes três eixos a eficácia em matéria de resultados, a eficiência em

matéria de custos e a equidade em matéria de descriminação positiva para as zonas

desfavorecidas, a pequena agricultura e os jovens agricultores.

Em matéria de valorização económica das atividades agrícolas e florestais e respetiva

canalização para o mercado, as orientações fundamentais dirigem-se à melhoria da

qualidade dos produtos, à garantia da segurança alimentar e ao incremento da

produtividade dos fatores de produção, tendo em vista a internacionalização das fileiras

agroalimentares e agroflorestais e a substituição de importações no mercado nacional,

na linha do macro objetivo específico, da obtenção do equilíbrio na balança comercial

agrícola no horizonte alargado de duas legislaturas.

As grandes linhas de orientação são:

● Promover o desenvolvimento rural e a coesão territorial, nomeadamente reforçando

o apoio à pequena agricultura, ao rejuvenescimento do tecido social das zonas

rurais, com destaque para o empresariado agrícola e rural, e à promoção e reforço

de estratégias e parcerias locais;

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● Estimular a diversificação da base económica e a criação de emprego nas zonas

rurais, a valorização dos produtos tradicionais e a produção de amenidades de lazer

e recreio e de serviços ambientais;

● Incentivar e promover uma gestão multifundos, que envolva os municípios, as

associações de desenvolvimento local e a administração desconcentrada do Estado;

● Valorizar os recursos florestais, reforçando o ordenamento florestal e a

produtividade das principais fileiras silvo-industriais. Apoiar a melhoria das

organizações de produtores e da gestão interprofissional, bem como a primazia da

proteção das florestas face aos incêndios e aos agentes bióticos nocivos;

● Dinamizar ambiental e economicamente os espaços florestais sob a gestão do

Estado e promover a floresta de uso múltiplo, nomeadamente dos sistemas

agrosilvopastoris e da floresta de montanha;

● Criar estímulos para a certificação dos processos produtivos e a promoção da

floresta de uso múltiplo.

Serão prosseguidas no desenvolvimento das seguintes políticas:

● Assegurar a eficiência na transferência de apoios públicos;

● Promover a equidade das ajudas aumentando os apoios aos pequenos e aos jovens

agricultores;

● Garantir a sanidade animal e a segurança alimentar;

● Estimular as formas de organização do sector, da comercialização, da distribuição e

da internacionalização;

● Promover a competitividade das fileiras do setor agroalimentar e florestal pela

transferência de conhecimento, experimentação, investigação e inovação nestes

domínios;

● Expandir e tornar mais atrativo o regadio;

● Incentivar o empreendedorismo rural, facilitando o acesso a fatores de produção

essenciais;

● Promover a reforma do sector florestal:

– Promover a proteção dos recursos o que constitui um desígnio nacional

prioritário para a sustentabilidade da floresta portuguesa, mitigando os incêndios

florestais e a incidência de pragas e doenças, nomeadamente revendo e

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melhorando o programa de Sapadores Florestais, criando um Programa Nacional

de Fogo Controlado, revendo o Programa Operacional de Sanidade Florestal e

criando subprogramas operacionais para o controlo e erradicação das principais

pragas e doenças;

– Promover a gestão florestal, incentivando e apoiando e desenvolvendo

diferentes modelos de gestão florestal, nomeadamente as Zonas de Intervenção

Florestal (ZIF), os Fundos de Investimento Imobiliário Florestal, as sociedades

de Gestão Florestal, bom como apoiar o movimento associativo florestal, bem

como incentivando e estimulando a certificação da gestão florestal sustentável e

a criação de novas áreas de negócio no mercado florestal;

– Transformar as matas nacionais em áreas de referência, salvaguardando os

valores naturais e maximizando o valor obtido com a sua gestão ativa;

– Promover o aumento da produção em particular do pinheiro bravo, sobreiro e

azinheira apoiando o desenvolvimento das fileiras, criando estímulos para a

certificação da gestão florestal, com vista aumentar a rentabilidade dos

proprietários florestais e assegurar a sustentabilidade do fornecimento de

matéria-prima nacional à indústria de base florestal;

– Rever o quadro jurídico vigente da plantação com espécies florestais de rápido

crescimento;

– Promover, em articulação com Informação Predial Única, a progressiva

elaboração do Cadastro da Propriedade Rústica, nomeadamente nos territórios

sob gestão das ZIF;

– Promover e apoiar o desenvolvimento e a instalação de sistemas florestais de

uso múltiplo que promovam uma gestão ordenada dos recursos, e promovam o

aumento do contributo da caça, da pesca, da silvopastorícia, da apicultura, da

produção de cogumelos silvestres, de frutos secos e de outros produtos não

lenhosos tais como a resina, bem como o recreio e turismo no espaço rural,

como forma de estimular a geração de riqueza no interior do país;

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– Apoiar a investigação aplicada para o aumento da produtividade e de novos

modelos de silvicultura, contribuindo para a valorização dos serviços silvo-

ambientais prestados pelos espaços florestais, e o desenvolvimento das fileiras e

o aumento da rentabilidade dos proprietários florestais;

– Assegurar a revisão dos Planos Regionais de Ordenamento Florestal,

instrumento de política sectorial essencial para a gestão territorial e

ordenamento da floresta nacional.

27. LIDERAR A TRANSIÇÃO ENERGÉTICA

O desempenho energético tem um impacto muito importante na competitividade da

economia, razão pela qual é essencial continuar a investir neste sector de forma a,

nomeadamente, torná-lo mais competitivo e sustentável.

O desígnio central da política energética deve assim ser a redução dos custos

energéticos, aproximando-os das médias europeias, para as empresas e consumidores

domésticos, nomeadamente através da promoção da eficiência energética, do combate à

dependência externa, da diversificação das fontes primárias e da continuação da redução

das “rendas excessivas” dos seus principais operadores.

Todas estas medidas devem ser fortemente apoiadas pelo desenvolvimento tecnológico

e a inovação.

Afirmar Portugal como fornecedor energético da Europa

Para poder explorar plenamente o seu potencial de produção das energias renováveis,

nomeadamente de origem solar, Portugal deve passar a encarar esta última como um

bem transacionável, numa lógica de exportação. A partir de determinada escala, porém,

é necessário reforçar as interligações elétricas com a Europa, o que permitirá

rentabilizar o facto de termos o maior número de horas de exposição solar da UE,

afirmando-nos como um fornecedor de energia limpa para todo o espaço económico

europeu.

Por outro lado, face às instabilidades geopolíticas recentes, o terminal de Gás Natural

Liquefeito (GNL) de Sines poderá vir a funcionar como porta de entrada de gás natural

para o centro da Europa, constituindo-se assim como uma alternativa relevante a outros

abastecimentos. Para tal, será necessário investir em gasodutos de ligação com Espanha

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e desta com o centro da Europa.

Neste âmbito, o Governo irá:

● Dar prioridade, nas negociações europeias, ao desenvolvimento das redes europeias

de energia e ao reforço das interligações, designadamente entre a Península Ibérica

e o resto da Europa;

● Garantir que os corredores definidos para as ligações elétricas transeuropeias

permitam o escoamento para a Europa de energia solar produzida em território

nacional;

● No âmbito do conjunto de projetos incluídos no programa Connecting European

Facility, promover a interligação da rede de gás natural nos dois sentidos com

Espanha e desenvolver uma rede ibérica de ligação aos portos recetores de GNL,

designadamente Sines, e aos principais centros de consumo;

● Insistir na implementação de corredores de gás natural para ligação com a Europa

além-Pirenéus, de modo a reduzir a dependência dos recursos energéticos

provenientes de leste até cerca de 20% das suas atuais importações de gás natural.

Incentivo às renováveis

Portugal, atendendo às suas condições naturais, pode e deve estar na vanguarda da

promoção das fontes renováveis no consumo final de energia. Para tal, o Governo

pretende:

● Reavaliar o Plano Nacional de Barragens, no que diz respeito às barragens cujas

obras não se iniciaram;

● Incentivar o desenvolvimento de mini-hídricas (com pouco impacto ambiental e

bastante potencial para, de forma disseminada pelo território, revitalizar o setor da

construção), preferencialmente dotadas de sistemas de bombagem reversível (para

armazenamento de energia);

● Aproveitar o facto de Portugal ter o território da UE com maior número de horas de

exposição solar e bastante vento, atraindo projetos de centrais solares e/ou eólicas

cuja quota de renováveis se destine exclusivamente a outros Estados-Membros

(designadamente por via do reforço das interligações);

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● Lançar, em parceria entre o Estado e as autarquias locais, um programa de

microgeração em estabelecimentos públicos (escolas, centros de saúde,

equipamentos desportivos, quartéis, esquadras, mercados, etc.), designadamente a

partir da energia solar. O investimento inicial ficará, em grande medida, a cargo de

empresas de serviços energéticos (ESE), as quais serão remuneradas ao longo de

vários anos, em função das receitas obtidas com a venda da eletricidade produzida.

Serão negociadas com a banca linhas de crédito dedicadas, com condições

especiais, a que as ESE poderão recorrer para financiar a instalação dos

equipamentos de microgeração;

● Fomentar a produção descentralizada de energia renovável, sem necessidade de

subsidiação, seja para autoconsumo, seja para venda à rede a preços de mercado. A

fim de tornar esta opção mais atrativa, mas ainda sem custos para o sistema, será

admitida a possibilidade de, no regime de autoconsumo, a energia em excesso

injetada na rede compensar os consumos de eletricidade em horas de vazio;

● Promover a agregação (pooling) virtual de produtores-consumidores de energia,

relativamente a centrais dedicadas de mini-geração de eletricidade a partir de fontes

renováveis, sem qualquer subsidiação tarifária e, portanto, sem onerar o sistema

elétrico;

● Fomentar a instalação de painéis solares para aquecimento de água (solar térmico);

● Incentivar a utilização de biomassa florestal, designadamente proveniente de

resíduos, limpezas ou desbastes, não só para diversificar as fontes de energia, mas

também como forma de contribuir para a sustentabilidade da floresta portuguesa e

a prevenção de incêndios;

● Avaliar e testar o potencial de produção de energia renovável (designadamente

eólica) em áreas offshore.

Energia mais limpa e mais barata

Ao contrário da ideia propalada, energia limpa (produzida a partir de fontes renováveis)

não é, necessariamente, sinónimo de tarifas mais caras. Uma parte considerável dos

Custos de Interesse Económico Geral, que encarecem a tarifa da eletricidade, não está

relacionada com a produção de eletricidade a partir de fontes renováveis.

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De resto, uma política hostil às energias renováveis não levou à redução do preço da

eletricidade, nem tão-pouco à redução do défice tarifário. Pelo contrário, não obstante a

retórica austeritária e de redução de custos, o défice tarifário aumentou nos últimos

quatro anos, superando já os 5 000 milhões de euros. O Governo demonstrará que é

possível aproveitar o enorme potencial endógeno de produção de energia renovável sem

aumentar as tarifas pagas pelos consumidores e, em acréscimo, reduzindo

progressivamente o défice tarifário.

Para o efeito, o Governo irá:

● Conter os custos decorrentes do défice tarifário, aproximando-os dos custos reais

de financiamento nos mercados financeiros;

● Aproveitar o fim do regime de revisibilidade dos Custos de Manutenção do

Equilíbrio Contratual, em 2017, para aumentar a quota de renováveis sem correr o

risco de tal implicar um aumento das compensações a pagar aos produtores já

instalados;

● Limitar a remuneração da energia hidroelétrica em anos de seca, à semelhança do

que se fez em Espanha;

● Renegociar as concessões no setor da energia, para assegurar uma partilha

equitativa, entre o Estado (concedente) e os concessionários particulares, dos

ganhos entretanto obtidos;

● Assegurar uma transição gradual e progressiva do atual modelo de bonificação das

tarifas (feed-in) para um sistema de remuneração da energia renovável a preços de

mercado, eventualmente acompanhado de um mecanismo de transação de

certificados verdes (que representam o valor da componente ambiental da

eletricidade renovável);

● Redesenhar a tarifa social no sentido de a tornar automática para agregados

familiares de baixos recursos e beneficiários de prestações sociais sujeitas a

condição de recursos; no caso dos consumidores que, não auferindo prestações com

a natureza anterior, se encontrem em situação vulnerável, a nota de rendimentos

emitida pela AT permitirá o cumprimento dos requisitos para a atribuição da tarifa

social; os consumidores que, pelo seu nível de rendimento, estão hoje dispensados

de apresentar declaração de rendimentos, deverão passar a fazê-lo para obter a nota

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de rendimentos da AT e, dessa forma, aceder à tarifa social; o acesso à tarifa social

dá acesso automático ao Apoio Social Extraordinário ao Consumidor de Energia;

● Retirar da fatura da energia elétrica a contribuição do audiovisual e incorporá-la no

universo das comunicações sem perda de receita para a Rádio e Televisão de

Portugal, S. A..

Estimular a concorrência e a competitividade energéticas

O setor da energia tem sido cronicamente avesso à concorrência. Ainda que nos últimos

anos tenha havido sucessivas vagas de liberalização deste setor, estas nunca produziram

plenamente os efeitos esperados, o que se demonstra pelo facto de este mercado

continuar dominado por um pequeno número de grandes empresas, em regras os

operadores históricos (ou incumbentes). Urge, pois, contrariar este estado de coisas,

introduzindo maior concorrência neste mercado, em benefício dos consumidores, das

empresas e, em geral, da competitividade da economia portuguesa.

Estimular a concorrência e a competitividade energéticas

O setor da energia tem sido cronicamente avesso à concorrência. Ainda que nos últimos

anos tenha havido sucessivas vagas de liberalização deste setor, estas nunca produziram

plenamente os efeitos esperados, o que se demonstra pelo facto de este mercado

continuar dominado por um pequeno número de grandes empresas, em regras os

operadores históricos (ou incumbentes). Urge, pois, contrariar este estado de coisas,

introduzindo maior concorrência neste mercado, em benefício dos consumidores, das

empresas e, em geral, da competitividade da economia portuguesa. Com este objetivo, o

Governo irá:

● Estimular uma maior concorrência na comercialização de eletricidade e gás,

designadamente fomentando o aparecimento de novos agentes económicos e de

ofertas comerciais diferenciadas, inovadoras e ajustadas a diferentes tipos de

consumo;

● Aumentar, na ótica do consumidor doméstico, a percetibilidade e comparabilidade

das tarifas, consumos e faturações de energia.

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Impulso à eficiência energética

Pelo exemplo que deve ser dado pelo Estado – responsável por elevados desperdícios de

energia, com consequências nefastas não só para o ambiente, como em termos de

despesa pública – o Governo pretende implementar medidas ativas de eficiência

energética. Adicionalmente, importa tornar toda a economia muito mais eficiente do

ponto de vista energético, com vantagens óbvias para as empresas e os cidadãos. Para

tal, e com vista a alcançar um paradigma energeticamente mais eficiente, o Governo irá:

● Definir objetivos, metodologias e formas de premiar os ganhos de eficiência por

parte de instalações intensamente consumidoras de energia (como fábricas,

armazéns, grandes superfícies comerciais, hospitais, hotéis, etc.);

● Promover iniciativas de fuel switching, designadamente por parte de empresas

produtoras de bens transacionáveis, gerando assim poupanças de energia e

aumentando a respetiva competitividade;

● Elevar os parâmetros de eficiência energética do edificado, por via da aposta na

reabilitação urbana, com preocupações ao nível da escolha dos materiais utilizados,

das soluções térmicas e de isolamento adotadas e da instalação de equipamentos de

poupança e/ou produção eficiente de energia;

● Adotar, em articulação com os municípios, um conjunto de ações especificamente

dirigidas à promoção da eficiência energética no setor dos transportes;

● Promover a reconversão de veículos e frotas, para que passem a utilizar como

combustível o gás natural, de menor intensidade carbónica, designadamente

mediante soluções flexfuel para veículos pesados;

● Estabelecer, na Administração Central do Estado, uma priorização e um calendário

detalhado de ações de eficiência energética – ao nível dos edifícios, das frotas e das

compras públicas – decomposto ao nível de cada ministério;

● Instituir metas obrigatórias de substituição de iluminação interior na Administração

Pública por soluções mais eficientes (LED, por exemplo);

● Recuperar, amplificar e, acima de tudo, agilizar o Programa de Eficiência

Energética na Administração Pública – ECO.AP. Este programa deve ser

simplificado e passar a incorporar outros potenciais de redução e poupança

associados a consumos de combustíveis, consumos de eletricidade, consumos de

água, consumos de papel e resíduos produzidos;

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● Dedicar um envelope financeiro de 5 milhões de €/ano para o lançamento de um

concurso anual de eficiência energética, em que quer as próprias entidades

administrativas, quer ESE serão convidadas a apresentar projetos de eficiência

energética na Administração Pública;

● Integrar a gestão de frotas de transporte do Estado, sob o ponto de vista da redução

de consumos e da adoção de estratégias de eficiência;

● Explorar as potencialidades da energia cinética do tráfego e das infraestruturas

pesadas de transportes, bem como da energia obtida a partir das redes de transporte

de água ou dos sistemas de ventilação e arrefecimento existentes em grandes

infraestruturas urbanas;

● Estabelecer uma parceria com os municípios para a reconversão da iluminação

pública, designadamente mediante a substituição dos atuais sistemas por soluções

mais eficientes (LED, por exemplo). A execução deste programa estará associada

ao termo das atuais concessões municipais de distribuição de energia elétrica em

baixa tensão e à sua renovação através de procedimentos obrigatoriamente

concorrenciais, mediante concursos públicos de escala municipal ou

intermunicipal, em que a adoção de soluções mais eficientes de iluminação pública

funcionará como critério de escolha;

● Lançar um vasto programa de substituição de lâmpadas nos setores residencial e de

serviços, tomando por base o modelo e ampliando o âmbito de aplicação de alguns

projetos apoiados pelo Plano de Promoção da Eficiência no Consumo, da

responsabilidade da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos;

● Impor um tributo desincentivador da aquisição de eletrodomésticos ou outros

equipamentos eletrónicos com classificação energética igual ou inferior a B;

● Empregar estratégias alternativas de financiamento de medidas ativas de eficiência

energética, nomeadamente através da contratualização com ESE, que concebem,

financiam e executam projetos de redução de consumos energéticos, sendo

remuneradas pelo valor da poupança assim obtida.

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Promover um transporte público de qualidade

É necessário proporcionar aos cidadãos serviços de transporte público de qualidade,

cómodos, rápidos, integrados, de acesso fácil e inteligível (em matéria de percursos,

horários, custos, etc.) para o utilizador. Por outro lado, através de uma mobilidade mais

inclusiva pretende-se fomentar a coesão social, maximizando a acessibilidade de todos

os cidadãos, sem exceção, reduzindo assim as desigualdades de oportunidades no

trabalho, na educação e no acesso à cultura. Para atingir estes objetivos, o Governo irá:

● Promover o funcionamento em todo o país de serviços de transporte público de

qualidade (rodoviário e ferroviário, coletivo e individual, com ou sem condutor),

com horários e frequências ajustados às necessidades dos utilizadores;

● Estimular a criação de estações-hub intermodais que facilitem a ligação de

diferentes modos de transporte e serviços de mobilidade, e que sejam em si

centralidades que contribuam para o desenvolvimento local;

● Incentivar a integração modal em termos de bilhética, tarifário, percursos e horários

e gestão de custos pelo utilizador, aumentando a comodidade das deslocações com

recurso a diversos modos de transporte, incluindo não só os transportes públicos

pesados como os sistemas de mobilidade suave (sharing, pedonal, bicicleta,

elétrico, elevadores);

● Incentivar o desenvolvimento de plataformas digitais que simplifiquem e integrem

numa base comum e acessível no telemóvel toda a informação ao utilizador,

nomeadamente no que respeita à simulação do percurso, aos horários em tempo

real e ao custo efetivo da viagem. De igual forma, procurar-se-á estimular a

desmaterialização dos sistemas de bilhética;

● Promover o desenvolvimento dum sistema universal e integrado de pagamento de

mobilidade (Cartão da Mobilidade), através do qual o cidadão possa aceder a todos

os serviços de transportes públicos, estacionamento, portagens, aluguer de veículos

em sistemas partilhados ou carregamento de veículos elétricos;

● Criar um «passe família» para os transportes públicos urbanos, bem como bilhetes

de grupo (para 5 ou mais pessoas);

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● Reforçar e uniformizar os descontos em transportes públicos para estudantes até

aos 25 anos;

● Contribuir para o desenvolvimento de políticas de responsabilidade social por parte

de grandes empregadores e geradores de procura, que incentivem a adoção e

promoção de soluções de transporte público sempre que este seja eficiente;

● Promover períodos experimentais do sistema de transportes públicos para pessoas

que habitualmente optam pelo automóvel nas suas deslocações pendulares.

Implementar novos conceitos de mobilidade

A par do transporte público há que considerar, hoje em dia, outros conceitos e formatos

de mobilidade urbana, que permitam reduzir a pressão do tráfego rodoviário,

combatendo a poluição, propiciando maior rapidez e flexibilidade de deslocação e,

simultaneamente, promovendo o bem-estar e qualidade de vida das populações. Neste

domínio, o Governo irá:

● Estimular os modos de transporte suaves, como a bicicleta e o pedonal;

● Desenvolver e aplicar um Plano de Promoção da Bicicleta e outros modos de

mobilidade suave;

● Favorecer a mobilidade suave não só no interior de cada concelho, mas também ao

nível intermunicipal, reduzindo a distância entre cidade e subúrbios através da

partilha de infraestruturas de mobilidade suave e a criação de áreas verdes

comunicantes;

● Fomentar a construção de infraestruturas cicláveis, tendo em conta três perfis de

utilizadores e três diferentes funções: a prática desportiva, a prática de turismo e

lazer e a mobilidade urbana;

● Permitir o transporte de bicicletas em transportes públicos (designadamente no

comboio e no metro);

● Reduzir a área ocupada pelo transporte individual, nas vias e no estacionamento,

favorecendo o uso do transporte público e a mobilidade suave, em especial a

mobilidade pedonal e ciclável, como forma de promoção da mobilidade jovem e da

acessibilidade por cidadãos seniores;

● Incentivar os operadores de serviços de car sharing e bike sharing;

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● Incentivar a implementação de serviços de Bus Rapid Transit, que combinam a

capacidade e velocidade do metro ligeiro a um custo muito inferior;

● Promover serviços de transporte flexível e on demand, sempre que tal seja

adequado, nomeadamente em regiões e horários de baixa procura.

Impulsionar e expandir a mobilidade elétrica

Tendo sido travado o projeto da mobilidade elétrica, o que inviabilizou assim a

formação de um cluster industrial no nosso País em torno desta tecnologia.

Importa, agora, retomar o desígnio da mobilidade elétrica, vital para substituir

progressivamente a dependência dos combustíveis fósseis no transporte rodoviário, com

as inerentes emissões de GEE, por um maior consumo de eletricidade renovável.

Desenvolver o cluster tecnológico da energia

O próximo Governo deve assegurar a manutenção do cluster eólico criado no nosso País

e fomentar o surgimento de um cluster equivalente em redor da energia fotovoltaica. A

par disso, a mobilidade elétrica constitui uma oportunidade única de desenvolvimento

dum novo cluster tecnológico e industrial – abarcando pontos de carregamento, gestão

de redes inteligentes de carga, bem como baterias e outros componentes para a indústria

de veículos elétricos – que não podemos desperdiçar. Assim, o Governo desenhará, no

âmbito do Portugal 2020, programas e linhas de apoio que permitam estimular:

● A investigação científica aplicada quanto a tecnologias limpas e novos métodos de

produção de eletricidade a partir de fontes renováveis;

● A articulação entre a indústria e as instituições de I&D para a produção de soluções

de armazenamento energético;

● A indústria de componentes para os veículos elétricos, motores elétricos e baterias,

bem como da infraestrutura de carregamento;

● O upgrade da indústria de produção e montagem de veículos de duas rodas –

motos, scooters e bicicletas – para o segmento elétrico;

● A formação de técnicos para as indústrias de fabrico e reparação de veículos

elétricos e seus componentes;

● A criação de laboratórios vivos de demonstração de novas soluções na mobilidade

elétrica: ao nível dos veículos, com destaque para novas aplicações da mobilidade

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elétrica, como os transportes públicos, o transporte de mercadorias ou a logística

urbana; e do carregamento inteligente, integrado com as smart grids e geração de

energia renovável descentralizada, com destaque para o V2G (vehicle to grid) e

V2H (vehicle to home).

28. INVESTIR NA CULTURA

A Cultura é, por excelência, um pilar da democracia, o fator identitário nacional, e

reflete expressivamente o modo como as comunidades se relacionam com o seu

património cultural, com as artes, e com a criação intelectual. Democratizar o acesso e o

envolvimento da população com todas as áreas da Cultura constitui um desígnio maior

da governação, que deverá ser assumido na sua transversalidade sectorial. Tal significa

contar com o envolvimento ativo de todos os departamentos governamentais como fator

chave e decisivo das políticas de coesão nacional, de redução das assimetrias territoriais,

fomentando o desenvolvimento e a estabilidade territorial das populações. Cultura e

qualidade de vida são indissociáveis.

Nesse sentido, e de modo a tornar tangíveis os resultados da ação governativa, impõe-se

privilegiar e estimular ativamente o trabalho em rede, desenvolvido aos diversos níveis

da administração central, regional e local, com o necessário envolvimento por parte dos

diversos agentes e criadores culturais, potenciando e otimizando os recursos existentes,

de modo a garantir um efetivo acesso das comunidades à cultura e à produção cultural.

O aprofundamento da descentralização administrativa, com uma maior

responsabilização das estruturas territoriais, dotadas progressivamente de meios

técnicos e de investimento reforçados, com maior aproximação às realidades locais, será

indutor de um progressivo crescimento da atividade cultural, no quadro do crescimento

económico e social do país.

O património cultural, especialmente nas suas vertentes de conservação, recuperação,

reabilitação, valorização e divulgação, deverá ser entendido e assumido como um

recurso económico essencial ao desenvolvimento sustentável do território, como fator

de empregabilidade e coesão, em estreita articulação com as diferentes áreas da

economia nacional.

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As artes, a formação de públicos, a produção criativa e as artes performativas deverão

igualmente ser estimuladas pelo fomento de redes nacionais e territoriais, disseminando

a sua ação de proximidade junto das populações e multiplicando, assim, a oferta e a

procura, bem como a importância do seu serviço na vida das comunidades, em estreita

articulação com os municípios, as escolas e os demais agentes regionais e locais.

A língua portuguesa, a cultura lusófona e o património de expressão portuguesa no

mundo, constituem também ativos estratégicos que deverão ser politicamente

assumidos, e devidamente enquadrados na política cultural do Governo.

Património Cultural

● Reforçar os pólos de decisão regionais, dando maior proximidade territorial à ação

cultural.

● Criar e operacionalizar de fundos interministeriais que permitam articular o acesso

a investimentos de natureza cultural e patrimonial, extensivos à iniciativa privada.

● Instituir a gratuitidade de acesso aos museus e monumentos para jovens até aos 30

anos, durante os fins-de-semana e feriados.

● Revitalizar as redes patrimoniais existentes, como a rede de Mosteiros Portugueses

Património da Humanidade, a Rota do Património Mundial e a Rota das Catedrais.

● Desenvolver a oferta pública de museus e monumentos nacionais, e flexibilizar o

seu modelo de gestão, com maior autonomia.

● Consolidar e aumentar os acervos de arte contemporânea, no quadro do modelo

existente, com uma melhor articulação dos intervenientes.

● Lançar as bases e desenvolver o projeto de criação de um Arquivo Sonoro

Nacional.

● Intensificar e sistematizar a digitalização dos arquivos e fontes documentais

nacionais.

● Promover estratégias e metodologias para o tratamento e divulgação do património

arquivístico comum aos países da CPLP.

● Valorizar o acervo arquivístico da RTP, pela sua articulação com o Arquivo

Nacional das Imagens em Movimento.

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● Lançar um programa faseado de recuperação do património classificado, assente na

mobilização de fundos comunitários e na simplificação de procedimentos para a

realização de intervenções, que passará também pelo investimento na formação de

mão-de-obra qualificada, em articulação com os diferentes sectores da reabilitação

do edificado.

● Criar mecanismos de cooperação ativa entre o turismo e a cultura, no quadro de

uma crescente procura no sector do turismo cultural.

Valorização Económica da Atividade Cultural e Artística

● Colaboração com áreas como a educação, juventude e o turismo, numa abordagem

transversal das artes, articulada entre a administração central, regional e local,

promotores e produtores privados, para aprofundamento da relação da criação

artística e das indústrias culturais e criativas com outros domínios, numa lógica de

benefício mútuo.

● Elaboração de um plano que integre os diversos setores envolvidos, para a

consolidação de uma estratégia de formação, acesso a financiamento,

internacionalização e proteção da propriedade intelectual adequada ao potencial

económico da criatividade.

● Criação de uma marca nacional para a certificação, valorização e promoção

nacional e internacional das artes e ofícios tradicionais.

● Fomento de meios e conteúdos digitais para um maior acesso à informação sobre o

setor cultural e criativo, desde a divulgação de iniciativas artísticas a programas de

financiamento nacionais e internacionais.

● Dinamização do setor artístico, procurando a proximidade e o diálogo com os

agentes culturais, propondo soluções de transparência e simplificação dos

procedimentos de acesso ao financiamento e tentando reforçar e, onde necessário,

reajustar o processo de avaliação e acompanhamento destas entidades.

● Analisar o quadro normativo de apoio às artes, num ambiente colaborativo e de

auscultação, visando a sua atualização ao contexto nacional e internacional em que

os agentes culturais operam e procurando a simplificação dos procedimentos de

acesso.

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● Incentivar os estágios profissionais, tanto da área artística como da área técnica, no

sentido de facilitar a inserção de jovens no mercado de trabalho.

● Valorização dos Teatros Nacionais como pólos de criação nacional, incentivando a

prossecução de projetos plurianuais com a necessária confiança, o que é essencial

para a sua missão. Pretende-se conjugar instituições com um importante legado

histórico, colocando-as igualmente ao serviço da fruição e da criação nacional e

internacional contemporânea, descentralizando a sua ação pelo território nacional;

● Continuar a promover o investimento no cinema e no audiovisual nacional,

incentivando a sua produção, a descoberta de novos talentos, a capacidade de

produção, a inovação e as potencialidades nacionais.

● Simplificar e tornar mais acessível o apoio público ao cinema.

● Promoção de projetos e medidas que visem a cativação de público para as salas de

cinema, como é o caso da Festa do Cinema.

● Aprofundar o Plano Nacional de Cinema, criado com o objetivo de formar públicos

escolares para o cinema, alargando o seu âmbito, progressiva e sustentadamente, ao

território nacional, com vista ao acréscimo do número de escolas e alunos

envolvidos, de professores abrangidos pelas ações de formação, dos momentos de

visionamento e dos filmes disponíveis.

● Com o objetivo de colmatar a falta de oferta cinematográfica no interior do país,

promover novas edições do «Cinema Português em Movimento».

Divulgar os criadores nacionais no estrangeiro

● Reforço da política de internacionalização das artes, através do apoio aos agentes

culturais, do acolhimento de programadores e curadores estrangeiros, e da

representação institucional nos principais eventos internacionais das várias áreas

artísticas.

● Estabelecimento de parcerias estratégicas intersectoriais com vista a reforçar

mecanismos de circulação e extensão do ciclo de vida dos projetos expositivos nas

participações e representações portuguesas em alguns dos principais eventos

internacionais de arquitetura, artes plásticas e design.

● Desenvolver ações que promovam a visibilidade do cinema e do audiovisual

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português, melhorem a sua competitividade no panorama internacional e sobretudo

o reconhecimento da sua qualidade e singularidade.

● Privilegiar a afirmação do cinema e do audiovisual português nos festivais e feiras

do setor, como Berlim e Cannes, com o intuito de reforçar a promoção

internacional do cinema e do audiovisual português, e reforçar iniciativas que

visem atrair o interesse de distribuidores e exibidores e demais parceiros

estrangeiros, como o Programa CPLP Audiovisual e o 1.º Mercado Internacional

do Audiovisual dos Países de Língua Portuguesa.

● Analisar mecanismos e instrumentos que potenciem a internacionalização de

Portugal como destino da produção cinematográfica e audiovisual de forma

sustentada e a longo prazo.

Comunicação Social

● Assegurar as liberdades de expressão e informação dos órgãos de comunicação

social.

● No quadro das liberdades e garantias fundamentais que compete ao Estado

assegurar, será dada especial atenção a domínios críticos como a oferta digital

terrestre, a concentração e a transferência da propriedade, e a política de incentivos

aos órgãos de comunicação social.

Imprimir um carácter transversal à política cultural e desenvolver o trabalho em

rede entre a administração central e local

O Governo assume como prioridade neste domínio o restabelecimento do Ministério da

Cultura como primeiro promotor de uma política cultural coerente e sustentada e como

interlocutor privilegiado com as demais tutelas, promovendo, em simultâneo, o trabalho

em rede com os centros de decisão locais e regionais e reforçando a sua iniciativa e

capacidade. Para tal, o Governo pretende:

● Transferir para o nível de decisão regional competências de tutela patrimonial e de

apoio à criação de âmbito territorial local;

● Reforçar a articulação e melhor operacionalização das linhas de financiamento e

apoios à cultura, nomeadamente estabelecendo fundos interministeriais que

permitam articular os investimentos de incidência cultural dos vários ministérios e

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criar mecanismos transparentes de cofinanciamento de projetos culturais entre a

Administração central, regional e local e promotores e produtores privados.

29. GARANTIR A SUSTENTABILIDADE DA SEGURANÇA SOCIAL

Neste âmbito, a atuação do Governo assume o compromisso de defender e fortalecer o

Estado Social, de implementar uma estratégia de combate à pobreza e à exclusão social,

de implementar políticas que promovam o emprego digno e o salário justo, de garantir a

sustentabilidade da Segurança Social e a reposição dos mínimos sociais.

O Governo assumirá como prioridade a realização de uma avaliação rigorosa da

situação do sistema de Segurança Social, procurando melhorar a respetiva

sustentabilidade (financeira, económica e social), encontrando novas fontes de

financiamento, a sua justiça, combatendo a fraude e a evasão e completando a

convergência entre o setor público e o setor privado e, finalmente, a transparência do

sistema.

Promover uma gestão sustentável e transparente da Segurança Social mediante a

avaliação rigorosa da evolução do sistema

Pela construção da confiança nas políticas públicas e no sistema de Segurança Social -

um ativo valioso que pretende preservar – o Governo propõe simplificar, aproximar e

facilitar o acesso dos cidadãos à informação, bem como reforçar a solidariedade entre as

gerações. Mas a confiança exige, igualmente, estabilidade e previsibilidade nas regras e

garantia de sustentabilidade para que as gerações futuras possam aceder a direitos e

oportunidades idênticas. Neste sentido, o Governo entende que qualquer reforma deverá

resultar de estudos prévios transparentes, disponibilizando informação estatística

rigorosa e clara. Deste modo, o Governo irá:

● Avaliar com rigor a evolução do sistema de Segurança Social nos últimos anos, o

impacto das medidas tomadas e os efeitos da crise económica nos equilíbrios

financeiros dos sistemas de pensões, bem como os novos desafios decorrentes das

transformações demográficas e do mercado de trabalho;

● Promover estudos transparentes – retrospetivos e prospetivos – disponibilizando

informação atualizada, rigorosa e clara para o escrutínio de todos;

● Acompanhar e monitorizar permanentemente as políticas sociais e do estado da

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Segurança Social, contribuindo para uma avaliação das políticas e definição de

recomendações;

● Criar um Sistema de Estatísticas da Segurança Social, que permitirá a divulgação

atempada dos dados relevantes, contributivos e prestacionais, permitindo avaliar a

evolução das políticas face aos seus objetivos e avaliar impactos sociais, bem como

avaliar os procedimentos das entidades e serviços que promovem as políticas no

terreno;

● Promover uma gestão pública cuidada e criteriosa do Fundo de Estabilização

Financeira da Segurança Social, bem como o seu reforço.

Gerir de forma reformista o sistema de Segurança Social visando reforçar a sua

sustentabilidade, equidade e eficácia redistributiva

A melhoria das condições de sustentabilidade (financeira, económica e social) do

sistema de Segurança Social deverá ter em consideração: a idade da reforma e a

esperança de vida, a evolução demográfica do país, as mudanças no mercado laboral e a

taxa de substituição do rendimento, bem como a eficácia dos sistemas contributivos em

termos de equidade e de combate à evasão e à fraude.

Neste quadro, propõe-se o Governo a:

● Estudar o reforço do financiamento e da sustentabilidade da Segurança Social,

através da diversificação das suas fontes de financiamento;

● Garantir a não alteração das regras de cálculo das prestações já atribuídas a título

definitivo;

● Reavaliar o fator de sustentabilidade face às alterações ocorridas, quer de contexto,

quer legislativas;

● Reavaliar as isenções e reduções da taxa contributiva para a Segurança Social;

Combater a fraude e a evasão contributivas e prestacionais

Neste domínio, define-se como prioritário o estabelecimento de planos de combate à

fraude e à evasão contributiva e prestacional, potenciando a eficácia e a eficiência na

cobrança da receita contributiva, através da desburocratização de procedimentos,

melhoria das metodologias de atuação e utilização crescente de novas tecnologias, com

vista a diminuir o stock da dívida e a aumentar os recursos financeiros da Segurança

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Social. O Governo irá:

● Alterar o processo de declaração de remunerações à Segurança Social, através da

implementação de declarações de remuneração oficiosas, reforçando a eficácia na

deteção de comportamentos de subdeclaração e minimizando o risco de evasão

contributiva;

● Repor a relevância das ações de fiscalização e dos respetivos resultados, de forma a

direcionar as ações de fiscalização para zonas e grupos mais suscetíveis de gerar

situações de incumprimento;

● Flexibilizar e reforçar os mecanismos de cobrança da dívida, por via do

aperfeiçoamento do processo de participação de dívida, da agilização dos

procedimentos para pagamento e celebração de planos de pagamento, com

particular enfoque na viabilização das empresas;

● Aperfeiçoar e tornar mais eficaz o processo de recuperação de pagamentos

indevidos e reduzir o volume de prestações sociais atribuídas indevidamente

através do desenvolvimento de procedimentos automáticos para controlo periódico

de qualidade de dados, do enriquecimento do sistema de informação, do reforço do

cruzamento automático de dados e da agilização nos procedimentos para a

celebração de planos de pagamento, bem como a melhoria do processo de

compensação entre débitos e créditos no sistema previdencial.

Assegurar a harmonização no progresso do regime da CGA com o regime geral da

Segurança Social

A retoma de um percurso de convergência do Regime da Caixa Geral de Aposentações

(CGA) com o Regime Geral de Segurança Social (RGSS), iniciado há mais de uma

década, permite a assunção de uma convergência total, passando a trata-se de forma

igual os futuros pensionistas de ambos os regimes. O Governo propõe-se adotar um

regime totalmente convergente entre a CGA e o RGSS, garantindo a harmonização

progressiva dos diferentes regimes no que concerne à formação e às regras de cálculo

das pensões, de forma a assegurar um tratamento mais igual e a eliminar as

discrepâncias que ainda subsistem.

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Simplificar e tornar mais transparente o sistema de prestações sociais

A confiança dos cidadãos num regime de Segurança Social assenta, em grande medida,

na qualidade, proximidade, acessibilidade e na facilidade de relacionamento, com base

no acesso à informação sobre direitos e deveres, garantindo uma interação permanente

entre os contribuintes e beneficiários e a segurança social. Os canais de relacionamento

com a Segurança Social – online, telefónico e presencial – deverão ser integrados e

complementares entre si, de modo a assegurar uma cobertura e um dimensionamento

adequados.

Assim, a prossecução destes objetivos leva o Governo a:

● Proceder a uma avaliação global dos sistemas previdencial e de proteção social de

cidadania, estudando-se opções de simplificação institucional e de simplificação da

malha de prestações sociais, assegurando sempre nas medidas que dele resultem a

proteção das atuais beneficiários de prestações e o reforço da eficácia global do

sistemas;

● Promover a desmaterialização dos processos de atendimento, privilegiando o

atendimento online, mas conciliando-o com um atendimento telefónico com uma

efetiva capacidade de resposta e com horários adaptados às necessidades dos

cidadãos, e com um atendimento presencial com adequada cobertura territorial,

focado em particular naqueles que tenham maior dificuldade no acesso aos

restantes canais de atendimento (por ex., através da disponibilização de serviços

públicos em balcões especificamente dirigidos a cidadãos seniores);

● Implementar novas funcionalidades que permitam a consulta da carreira

contributiva e o histórico de prestações auferidas, a previsão do valor da pensão a

receber e a submissão online de requerimentos, assim como a exploração do

potencial dos dispositivos móveis enquanto canais emergentes de comunicação,

garantindo-se a possibilidade de uma interação permanente entre contribuintes e

beneficiários e a Segurança Social.

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30. MELHOR JUSTIÇA FISCAL

Um sistema fiscal justo deve tratar de forma diferente quem tem mais rendimentos e

contribuir para a correção de desigualdades injustificáveis que impeçam quem tem

menos rendimentos de beneficiar de efetivas oportunidades de desenvolvimento e

evolução social.

Além disso, um tratamento fiscal justo implica estabilidade e previsibilidade nas regras

relativas aos impostos, para que as pessoas e as empresas possam ter confiança para

tomar decisões. A vida das pessoas e o sucesso dos projetos empresariais depende de

uma certa estabilidade e previsibilidade. Não é possível planear e programar projetos de

vida e tomar decisões relativas a investimentos pessoais e empresariais sem um quadro

fiscal minimamente estável destinado a garantir que uma boa decisão tomada num certo

contexto fiscal não se transforma numa má decisão por esse contexto ter mudado.

Um tratamento fiscal justo exige ainda um combate sem tréguas à fuga ao pagamento

dos impostos e à eficácia na sua cobrança. Numa situação em que é exigido mais às

pessoas e às empresas é especialmente inaceitável que alguns tentem fugir às suas

obrigações de cidadania, sendo o pagamento de impostos uma delas. Justiça fiscal

implica, pois, que todos assumam os seus deveres na medida das suas possibilidades,

sem que alguns fiquem isentados de o fazer.

Mas a cobrança e o pagamento de impostos não pode ser feito a todo o custo, sem olhar

a meios. Tem de existir proporcionalidade nas exigências e meios empregados pela

máquina fiscal, bem como um reforço e agilização dos meios ao dispor do cidadão para

reagir à injustiça na liquidação e cobrança dos impostos. Com exageros que tragam mais

encaixe imediato, mas que provoquem injustiças que não possam ser aceites, não existe

um sistema fiscal próprio de um Estado de Direito.

Para o Governo, um tratamento fiscal justo passa por adotar regras que reduzam

desigualdades inaceitáveis, por garantir a estabilidade e previsibilidade do quadro fiscal,

pelo combate sem tréguas à fuga ao pagamento de impostos e pela eliminação de

exigências fiscais excessivas e desproporcionadas. Para isso, o Governo irá adotar as

seguintes medidas:

● Aumentar a progressividade do IRS, nomeadamente através do aumento do número

de escalões;

● Melhoria das deduções à coleta para os baixos e médios rendimentos;

● Criar um imposto sobre heranças de elevado valor, contribuindo para uma

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sociedade mais justa e inclusiva atendendo ao elevado nível de tributação sobre o

rendimento do trabalho, à elevada desigualdade de rendimentos e de património e

ao facto de a atual ausência de tributação das sucessões levar a que as mais-valias

não realizadas em vida do titular escapem totalmente à tributação. Este imposto

deve ter em conta a necessidade de evitar fenómenos de múltipla tributação

internacional de sucessões;

● Eliminar o quociente familiar introduzido no Orçamento do Estado de 2015, que

tem uma natureza regressiva, e a sua substituição por uma dedução por cada filho

que não tenha o carácter regressivo da atual formulação, com efeito neutro do

ponto de vista da receita fiscal;

● Revisão da tributação municipal do património, ponderando a introdução da

progressividade no imposto municipal sobre imóveis (IMI);

● Introdução de uma cláusula de salvaguarda que limite a 75 euros/ano os aumentos

de IMI em reavaliação do imóvel, que seja habitação própria permanente, de baixo

valor;

● Alargamento do sistema de estímulos fiscais às PME em sede de IRC;

● Criar um sistema de incentivos a instalação de empresas e ao aumento da produção

nos territórios fronteiriços, designadamente através de um benefício fiscal, em IRC,

modulado pela distribuição regional do emprego;

● Reverter, no que toca à recente reforma do IRC, a «participation exemption»

(regressando ao mínimo de 10% de participação social), e o prazo para reporte de

prejuízos fiscais (reduzindo dos 12 para 5 anos);

● Reconhecendo a importância da garantia de políticas estáveis e justas para a retoma

do investimento privado, criar um quadro de estabilidade na legislação fiscal,

nomeadamente garantindo que as alterações aos aspetos fundamentais dos regimes

fiscais são feitas apenas uma vez na legislatura (por proposta de lei a apresentar até

ao final do 1.º semestre de 2016);

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● Permitir que quem tenha um crédito perante o Estado ou outras entidades públicas

possa compensá-lo com créditos que a administração tributária e a Segurança

Social tenham para com essa pessoa ou empresa. A medida destina-se a pessoas

singulares com rendimentos abaixo de um valor a fixar e a pequenas e médias

empresas com receitas inferiores a um determinado valor. Os montantes de

imposto/Segurança Social dispensados de pagamento serão abatidos às

transferências que venham a ser efetuadas para as entidades públicas que tinham os

valores em dívida, no quadro do seu financiamento através do Orçamento do

Estado;

● Proibição das execuções fiscais sobre a casa de morada de família relativamente a

dívidas de valor inferior ao valor do bem executado, e suspensão da penhora da

casa de morada de família nos restantes casos;

● Eliminar exigências de envio de documentos e informação duplicada, inútil ou

excessiva para efeitos fiscais, bem como eliminar obrigações declarativas e

obrigações de conservação de informação, sempre que possível;

● Revisão de valores desproporcionados e excessivos de coimas e juros por

incumprimento de obrigações tributárias e introdução de mecanismos de cúmulo

máximo nas coimas aplicadas por contraordenações praticadas por pessoas

singulares e micro e pequenos empresários, designadamente por incumprimento de

obrigações declarativas;

● Limitar a realização excessiva de inspeções tributárias sucessivas e permanentes a

pessoas singulares e PME;

● Redução dos custos associados à arbitragem tributária, para que os contribuintes

com menores recursos ou com questões tributárias de valor reduzido possam

também beneficiar desta forma rápida, ágil e eficaz de resolução de conflitos em

matéria fiscal;

● Agilizar as situações e condições em que pode ser negociado e aceite um plano de

pagamentos por dívidas tributárias e à Segurança Social.

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31. COMBATER A POBREZA

A estratégia do Governo para o combate à pobreza, adotando uma abordagem

integradora e articulada de diversas medidas setoriais, que se devem complementar,

potenciando sinergias e apostando em medidas de proximidade, focalizando-se nas

crianças e nas suas famílias, propõe-se assentar em dois eixos, designadamente

● O desenho de uma estratégia nacional de combate à pobreza das crianças e jovens

que, de forma integrada, recupere a centralidade do abono de família como apoio

público de referência às famílias; e

● A reposição dos apoios que garantem os mínimos sociais aos cidadãos em situação

de maior vulnerabilidade (como o Rendimento Social de Inserção e o

Complemento Solidário para Idosos).

No que respeita ao primeiro eixo, com um horizonte temporal definido e metas a atingir,

propõe-se articular um conjunto de medidas direcionadas para as crianças e jovens com

medidas que possibilitem o acréscimo dos recursos dos respetivos agregados familiares.

As medidas dirigidas para a redução da pobreza monetária deverão ser complementadas

com outras dirigidas à promoção da igualdade de oportunidades, nomeadamente em

termos de acesso à educação de qualidade e de combate ao insucesso escolar, bem como

a cuidados de saúde adequados. A estratégia a definir deverá ser centrada no território,

privilegiando as áreas mais marcadas por situações críticas de pobreza infantil.

Entre as medidas a considerar, neste domínio, destacam-se as seguintes:

● Aumentar os montantes do abono de família, do abono pré-natal e da majoração

para as famílias monoparentais beneficiárias destas prestações;

● Reformular as classes de rendimento de acesso ao abono de família para que as

crianças em situação de pobreza, em particular, as que se encontram em situação de

pobreza extrema tenham acesso a recursos que permitam melhorar o seu nível de

vida, reconfigurando o abono de família por forma a permitir a conjugação com

medidas complementares do lado dos serviços públicos (de educação e saúde);

● Mobilizar a Ação Social Escolar para melhorar e aprofundar os apoios às crianças e

jovens em situação de maior fragilidade social e económica;

● Construir um sistema de indicadores de alerta de situações de precariedade social, a

partir do acompanhamento das crianças beneficiárias de abono de família,

possibilitando uma ação mais integrada do sistema de proteção social, em casos de

acionamento.

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No âmbito dosegundo eixo, destaca-se a restituição do nível de proteção do

Complemento Solidário para Idosos (CSI) e o seu restabelecimento enquanto elemento

central do combate à pobreza entre idosos, assumindo o Governo os seguintes

compromissos:

● Repor o valor de referência do CSI no montante anual de 5022 euros, restaurando

os valores anuais anteriormente em vigor e permitindo, desta forma, que voltem a

beneficiar desta prestação idosos que ficaram excluídos, bem como a atualização da

prestação aos idosos que sofreram uma redução no seu valor nominal;

● Avaliar a hipótese de se simplificar a malha de prestações mínimas que concorrem

para o mesmo fim de redução da pobreza entre idosos, assegurando-se uma

diferenciação positiva para carreiras mais longas.

Releva-se ainda, neste eixo, a dignificação do Rendimento Social de Inserção (RSI). O

RSI visa garantir mínimos sociais protegendo os grupos de maior fragilidade e

vulnerabilidade, distinguindo-se de outros apoios e prestações sociais por incluir uma

componente de integração e inclusão, que se concretiza mediante a celebração de

acordos de inserção com os beneficiários da prestação. Nos anos mais recentes, o RSI

foi sujeito a um conjunto significativo de alterações legislativas, não apenas nos valores

de referência e na capitação aplicável, que determinam o montante da prestação, mas

também nas condições de acesso à prestação e de manutenção da mesma. Além disso,

os programas de inserção foram-se descaraterizando.

De forma a dignificar o RSI, repondo a sua eficácia como medida de combate à pobreza

extrema, o Governo irá repor os níveis de proteção às famílias portuguesas, de modo a

reintroduzir, de forma consistente, níveis de cobertura adequados, reforçando assim a

capacidade integradora e inclusiva desta prestação. Reavaliará ainda a eficácia dos

programas de inserção, no sentido de promover uma adequação das medidas às

características dos beneficiários e dos agregados familiares em que se inserem, para que

promovam uma efetiva inclusão social.

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Dignificar o trabalho reduzindo efetivamente a percentagem de trabalhadores em

situação de risco de pobreza, através do complemento salarial

Com o objetivo de combater situações de pobreza entre os trabalhadores, o governo

criará uma nova prestação, o Complemento Salarial Anual, que constitui um crédito

fiscal, que visa proteger o rendimento dos trabalhadores que, em virtude de baixos

salários e de elevada rotação do emprego ao longo do ano, não auferem rendimentos os

coloquem acima da linha de pobreza.

Estabilizar e desenvolver a cooperação com o setor solidário

Atento ao importante papel desenvolvido pelas organizações não-governamentais da

área social, o Governo deverá dar particular atenção à cooperação com o setor solidário

em domínios como o combate à pobreza, à atuação de proximidade no apoio às famílias

e às comunidades, e à integração de grupos sujeitos a riscos de marginalização.

Neste sentido, proporá com carácter de urgência a renovação do Pacto para a

Cooperação e Solidariedade, que deverá pautar-se pelos seguintes princípios:

● Estabilidade de médio prazo da relação do Estado com as instituições sociais;

● Definição de um eficaz quadro operativo do papel regulador das instituições

públicas em matéria de cooperação;

● Reforço da prioridade à diferenciação positiva enquanto pilar do modelo de

cooperação;

● Garantia da conciliação entre sustentabilidade institucional e acessibilidade aos

serviços sociais.

32. CONSTRUIR UMA SOCIEDADE MAIS IGUAL

A promoção da igualdade e da não discriminação é encarada como um imperativo ético,

jurídico e constitucional na defesa e na garantia dos direitos fundamentais, exigindo os

desafios neste domínio um modelo de organização social assente num novo paradigma

das relações sociais entre as pessoas e a sua interação no território.

No domínio das políticas de igualdade, a agenda é ambiciosa e procura sustentar a

integração das comunidades imigrantes e de refugiados, a garantia da liberdade

religiosa, e o combate às discriminações em função da orientação sexual ou de género.

Porém, a eliminação das discriminações legais implica que se dê continuidade ao

combate cultural contra o preconceito e a subsistência de discriminações de facto.

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A estratégia do Governo propõe-se prosseguir uma ação que assegure uma visão de

futuro e que aposte na cidadania, valorizando a responsabilidade social e a ética

empresarial e estruturando as políticas públicas direcionadas para a coesão social e

territorial.

Assegurar uma abordagem integrada dos vários fatores de discriminação

Uma das principais conclusões do Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para

Todos enfatizou a necessidade de estratégias claras das políticas públicas para a

realidade das discriminações múltiplas. Neste sentido, importa promover a existência de

instrumentos legislativos que sistematizem e atualizem a legislação produzida no quadro

das políticas de igualdade e não discriminação, no sentido da sua consolidação e maior

eficácia na sua implementação específica e transversal. Paralelamente, importa reforçar

a coordenação das entidades públicas com responsabilidades neste domínio, de forma a

articular com maior eficácia as repostas e a implementação dos planos e ações setoriais.

Assim, o Governo pretende reforçar esta abordagem integrada através das seguintes

medidas:

● Elaboração de Livro Branco com vista à aprovação de uma Lei da Igualdade e Não

Discriminação;

● Instituição de um Conselho Nacional da Igualdade e Não-Discriminação, como

instância de coordenação dos serviços e organismos da Administração Pública com

competências na área da Igualdade e Não Discriminação [v.g. Comissão para a

Cidadania e a Igualdade de Género (CIG), Instituto Nacional para a Reabilitação

(INR), Alto Comissariado para as Migrações (ACM), Comissão para a Igualdade

no Trabalho e no Emprego (CITE), Comissão da Liberdade Religiosa, etc.];

● Elaboração de um Plano de Ação para as Discriminações Múltiplas, que permita a

estreita articulação dos planos de cada área de promoção da igualdade e combate às

discriminações;

● Integração das questões relativas à discriminação múltipla na elaboração de

legislação e no acompanhamento e avaliação de políticas e programas de apoio.

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Promover a igualdade entre homens e mulheres

Os desafios que hoje se colocam à promoção da igualdade entre mulheres e homens

enquadram-se num novo paradigma das relações sociais entre as pessoas e a sua

interação com o território, um mundo que nos devolva o lugar da comunidade,

valorizando a vida quotidiana e a proximidade. Neste contexto, o Governo desenvolverá

uma política de garantia da igualdade entre mulheres e homens, através da promoção de

ações específicas e integrando, em todas as políticas, a dimensão de género, uma vez

que a discriminação das mulheres é multifacetada e agrava outras formas de

discriminação. Na concretização destes objetivos, e de acordo com uma ação concertada

entre várias áreas governamentais o Governo promoverá o desenvolvimento das

seguintes ações:

● Promover o equilíbrio de género no patamar dos 33% nos cargos de direção para as

empresas cotadas em bolsa, empresas do setor público e administração direta e

indireta do Estado e demais pessoas coletivas públicas.

● Promover com os parceiros sociais um compromisso para introduzir nos

instrumentos de contratação coletiva disposições relativas à conciliação da vida

familiar com a vida profissional, à prevenção das desigualdades de género e ao

assédio no local de trabalho.

● Promover um combate efetivo e eficaz às desigualdades salariais entre mulheres e

homens no trabalho de modo a contrariar a tendência de agravamento que este

indicador vem registando nos últimos anos;

● Evoluir para um referencial de exercício mínimo de 33% do tempo total de licença

efetivamente gozado por cada uma das pessoas que exerça a responsabilidade

parental, replicando de resto outros instrumentos de promoção da igualdade de

género. Esta medida implica, no regime atual, aumentar o tempo de licença gozada

pelo homem para 3 semanas, dado que o tempo de licença irrenunciável pela

mulher é de 6 semanas. No restante tempo, a proporção de partilha do direito à

licença deve ser incentivada, sem prejuízo da liberdade individual na organização

partilhada dos tempos de licença.

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Mulheres, Paz e Segurança

O Governo reconhece a estreita ligação entre as questões da paz, segurança,

desenvolvimento e a promoção dos direitos das mulheres no contexto de conflitos

armados. A Resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas n.º 1325 (2000)

sobre Mulheres, Paz e Segurança foi a primeira Resolução deste órgão a alertar para o

impacto desigual que os conflitos armados têm sobre as mulheres e os homens e para a

necessidade de promoção da transversalidade da dimensão da igualdade de género na

prevenção, gestão e resolução de conflitos armados e em todas as fases dos processos de

construção da paz, com aplicação tanto a países em processos de conflito armado e de

recuperação de conflitos, como em países em paz. Nesse sentido implementará um

conjunto de medidas, através de um Plano Nacional de Ação para a implementação da

Resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas n.º 1325 (2000) sobre

Mulheres, Paz e Segurança.

Promover a inclusão das pessoas com deficiência

No domínio da promoção da inclusão das pessoas com deficiência, salienta-se a

prioridade a dar à sua inclusão, que impõe uma ação transversal, desde uma escola

inclusiva a um território sem barreiras, passando pelo aperfeiçoamento de mecanismos

de apoio social e por uma estratégia de emprego digno para todos. A inclusão das

pessoas com deficiência constitui, assim, uma prioridade central da agenda para a

igualdade, que terá como objetivos prioritários a identificação e o reconhecimento de

diferentes situações de incapacidade, com graus diferenciados de dependência, que

carecem de respostas e de apoios distintos, uma vez que os desafios que se colocam à

sua integração são de natureza diversa.

Entre as medidas a desenvolver, referem-se as destinadas a:

● Combater a violência e a discriminação, em especial contra as crianças, jovens,

adultos e idosos com deficiência ou incapacidade;

● Definir de uma estratégia de emprego e trabalho para todos, envolvendo os

diferentes atores, que aposte em ações de formação profissional no sistema regular

de formação, no aumento da oferta de estágios profissionais em empresas e

organizações do setor público e solidário;

● Avaliar e reformular as prestações sociais, estudando as vantagens e desvantagens

de implementação de um modelo de prestação única para a deficiência/

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incapacidade;

● Desenvolver, em articulação com os municípios, de um programa “Territórios

Inclusivos”, que assegure as acessibilidades físicas e comunicacionais,

desenvolvendo um programa de acessibilidade pedonal e acessibilidade

comunicacional;

● Apostar numa escola inclusiva de 2.ª geração que deverá intervir no âmbito da

educação especial e da organização dos apoios educativos às crianças e aos jovens

que deles necessitem;

● Garantir o acesso a aprendizagem ao longo da vida.

Discriminação em função da orientação sexual e identidade de género

O modelo de organização social encontra-se, nos dias de hoje, estruturado em novas

relações sociais de género, competindo ao Governo assegurar que homens e mulheres

vivem, de facto, em igualdade quer na esfera pública, quer na privada, tomando em

consideração as diferentes formas como uns e outros sofrem as discriminações. Neste

quadro, importa completar as alterações legislativas desencadeadas na última década

tendo em vista a colocação de Portugal, uma vez mais, na linha da frente dos países

empenhados na igualdade. Assim, de acordo com uma ação concertada entre várias

áreas governamentais, em especial o Ministério da Justiça, o Governo propõe-se

implementar medidas no sentido de:

● Eliminar as restrições de acesso, que ainda subsistem na lei, às técnicas de

procriação medicamente assistida por casais do mesmo sexo e por mulheres

solteiras, determinando que a orientação sexual e o estado civil não são

condicionante à constituição de família e ao acesso aos métodos científicos abertos

à restante população.

● Melhorar o regime da identidade de género, nomeadamente no que concerne a

necessidade de previsão do reconhecimento civil das pessoas intersexo e de

melhorar o quadro legislativo relativo às pessoas transexuais e transgénero.

● Valorizar as políticas públicas direcionadas a erradicar a discriminação com base

na orientação sexual, alocando expressamente à CIG a missão da promoção de

políticas públicas, transversais e abrangentes para toda a Administração Pública,

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em particular no domínio da formação e sensibilização.

Promover as condições para a realização da liberdade religiosa

O Estado Português está vinculado a compromissos e orientações internacionais da

União Europeia, do Conselho da Europa e das Nações Unidas que visam assegurar o

exercício dos direitos humanos e das liberdades fundamentais e a promoção do princípio

da igualdade e da não discriminação. O domínio da liberdade religiosa convoca um

debate público central e exigente no que concerne à garantia das condições de exercício

da liberdade religiosa, num quadro de um Estado laico e capaz de promover o Diálogo

Interreligioso e Interconfessional. O governo propõe-se concretizar tais compromissos

através das seguintes medidas:

● Reconfiguração da Comissão da Liberdade Religiosa, aumentando a sua

abrangência e operatividade, reforçando o pluralismo da sua composição (de forma

a integrar representantes de outras confissões com expressão crescente) e a sua

missão de promoção da convivência e diálogo entre confissões e, entre estas e os

não-crentes;

● Introdução de uma iniciativa nacional para o Diálogo Inter-Religioso, aproveitando

as condições excecionais de bom relacionamento entre confissões e comunidades

que Portugal apresenta, prevenindo a ocorrência de fenómenos discriminatórios,

travando o risco de crescimento de abordagens radicais, extremistas ou

fundamentalistas (como as que temos assistido noutros contextos), e promovendo

canais eficientes de diálogo entre crentes e não-crentes, o Estado e demais poderes

púbicos, e as várias comunidades radicadas no País.

33. UM PORTUGAL GLOBAL

O Governo conferirá à política externa uma constante atenção nestes próximos quatro

anos de governação afirmando Portugal na Europa e no Mundo. É essencial para tanto

uma atuação e presença reforçada de Portugal no amplo tecido de relações externas.

Sendo que a identidade nacional é, em primeira instância, europeia, lusófona, ibero-

americana e atlântica, Portugal deve privilegiar nas suas relações externas a participação

em organizações e fóruns multilaterais desses espaços prioritários de atuação.

Complementarmente, o País tem interesses específicos e estratégicos noutras geografias

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e deve potenciar o facto de ser um país aberto ao mundo, cultivando relações

económicas, culturais, científicas e políticas com todas as regiões e valorizando a

participação noutras organizações internacionais relevantes, como o Conselho da

Europa, a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), a OCDE, a

Organização Mundial do Comércio (OMC)], entre outras. No plano destas relações

multilaterais, Portugal terá como traves-mestras da sua política externa a defesa dos

valores democráticos e dos direitos humanos, o combate ao terrorismo e aos conflitos

armados, e a promoção de um desenvolvimento sustentável, em especial no que respeita

à luta contra as alterações climáticas. A sua participação ativa no sistema das Nações

Unidas, através de uma intervenção qualificada nos principais órgãos, agências

especializadas, fundos e programas, é um elemento essencial para a afirmação no

Mundo.

Portugal deve também promover, tendo em vista a prossecução dos Objetivos de

Desenvolvimento Sustentável, modelos de desenvolvimento sustentado, tanto em

termos ambientais como económicos e sociais, combatendo tendências de

competitividade global que se baseiem na erosão de direitos sociais ou na sobre-

exploração de recursos. Em consonância, Portugal deve dar o exemplo na cooperação

pelo desenvolvimento, em especial com os países e regiões do globo com quem temos

laços históricos, seja na forma de cooperação para o desenvolvimento com políticas de

capacitação institucional, desenvolvimento socioeconómico, governação e segurança,

seja na forma de ajuda humanitária e de emergência, seja na forma de programas de

cooperação técnico-militar.

No plano das relações bilaterais, para além da importância do diálogo luso-espanhol, da

articulação com os nossos parceiros europeus e dos óbvios vínculos ao mundo lusófono,

devem ser reforçadas as relações atlânticas e com os países da América Latina, bem

como estreitados os elos com as potências emergentes, não esquecendo as ligações a

vários estados, designadamente do Magrebe e Ásia-Pacífico.

Uma das linhas de atuação deste Governo para potenciar a diplomacia económica, a

internacionalização das empresas portuguesas e a promoção do comércio externo é, por

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um lado, cultivar as relações de excelência com os nossos parceiros comerciais de

sempre, como sejam, os países Europeus, e, por outro, procurar novas redes de

relacionamento económicos, i.e., abrir novos canais de exportação e de investimento.

Importa ainda neste contexto encarar as comunidades portuguesas no estrangeiro como

uma alavanca da internacionalização da economia portuguesa, pretendendo o Governo

fomentar, por um lado, o investimento de emigrantes e lusodescendentes em Portugal

em setores prioritários (turismo, comércio e indústria, cultura), e, por outro lado,

valorizar e apoiar as empresas de portugueses e lusodescendentes no estrangeiro,

designadamente através do desenvolvimento de parcerias internacionais estratégicas

entre empresas.

O reconhecimento da lusofonia como um espaço económico, educativo e identitário,

implica uma atuação política capaz de cumprir os desígnios definidos que passem pela

valorização linguística e pela promoção de uma CPLP mais forte através da aposta na

cooperação diplomática, com vista ao desenvolvimento político, económico, científico,

cultural e social do espaço lusófono.

Sendo a Língua Portuguesa um dos grandes ativos de Portugal e das comunidades

portuguesas espalhadas pelo mundo, é importante reconhecê-la como um fator de

identidade e como uma mais-valia cultural, científica, política e económica. Assim, a

valorização da língua portuguesa assume-se como uma estratégia que envolve todo o

Governo, devendo abranger diferentes áreas como a cidadania, a economia, a cultura, o

ensino e o património.

No que respeita às comunidades portuguesas no estrangeiro, importa valorizar a sua

força, quer económica, quer cultural, quer política. É, assim, crucial estimular a ligação

dos emigrantes com a sua pátria, apoiá-los nos países de acolhimento e salvaguardar os

seus direitos enquanto cidadãos nacionais. Os emigrantes portugueses no mundo são os

melhores embaixadores de Portugal, pelo que valorizando essa diáspora está-se

automaticamente a valorizar Portugal. Assim, e no que respeita ao vetor das

comunidades de portugueses no estrangeiro, o Governo tem como principais linhas de

atuação as seguintes: (i) Facilitar a ligação dos portugueses residentes no estrangeiro às

entidades públicas nacionais; (ii) Potenciar o exercício da cidadania e a

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representatividade das comunidades; (iii) Reforçar a solidariedade para com as

Comunidades; (iv) Manter vivas a cultura, as artes e a memória portuguesas; e (v)

Dinamizar a rede associativa e a juventude.

34. PROMOVER A LÍNGUA PORTUGUESA E A CIDADANIA LUSÓFONA

A afirmação da Língua Portuguesa enquanto fator de identidade e mais-valia cultural,

científica, política e económica é um dos desígnios deste Governo na sua ação externa.

Associada está também a definição de uma estratégia conjunta e concertada para

consolidar o português no mundo, que reforce a sua utilização quer nos sistemas de

ensino de vários países, quer nas organizações internacionais. O reconhecimento da

Língua Portuguesa como língua oficial de trabalho e a valorização cultural e turística do

património linguístico comum deve ser uma prioridade que só terá repercussão se

houver uma estratégia ajustada com os demais países de Língua Portuguesa. A

promoção da cultura portuguesa é outro dos objetivos deste Governo no âmbito da sua

ação externa. Assim, neste âmbito, o Governo procurará dinamizar, em parceria com os

estados na CPLP, e no quadro próprio das parcerias de cooperação instituídas, as

seguintes medidas:

● Harmonização ortográfica da língua portuguesa e da terminologia técnica e

científica, nos termos dos acordos estabelecidos;

● Estabelecimento de parcerias com os organismos académicos especializados e com

as instituições congéneres dos demais países lusófonos para aperfeiçoar os

instrumentos de acompanhamento da evolução da língua portuguesa;

● Criação de um espaço económico da Língua Portuguesa que favoreça o exercício

do comércio e do investimento;

● Criação do estatuto da Empresa do Espaço de Língua Portuguesa;

● Desenvolvimento de um espaço de cooperação multifacetado da CPLP, no âmbito

da investigação científica em torno do mar, do comércio internacional, da

valorização da orla costeira, da promoção da pesca e da exploração económica e

ambientalmente sustentável dos recursos marinhos;

● Desenvolvimento de um programa de intercâmbio universitário vocacionado

especificamente para a circulação de estudantes de língua portuguesa, instituindo-

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se um Erasmus na CPLP, dirigido a estudantes e professores;

● Desenvolvimento de um espaço comum para o ensino à distância assente no uso

das tecnologias da informação e comunicação e no aproveitamento das redes

sociais, em colaboração com entidades públicas e do setor social;

● Desenvolvimento de mecanismos de interoperabilidade entre os serviços públicos

dos diferentes países da CPLP, à semelhança do que já acontece entre Cabo Verde

e Portugal;

● Potenciar a presença do português nos sistemas de ensino de vários países

europeus, africanos e americanos, designadamente através de plataformas digitais

de suporte para e-learning, numa parceria entre as universidades e o Instituto

Camões;

● Potenciar a utilização do Português como língua oficial em organizações

internacionais, em especial no sistema das Nações Unidas

● Valorização, classificação e promoção do património comum ou partilhado,

nomeadamente no quadro do Património Mundial da UNESCO;

● Retomar o Programa da Rede Bibliográfica da Lusofonia e a presença de Portugal

nos principais certames internacionais do livro, na dupla vertente de cooperação

com as comunidades de língua portuguesa e intensificação da internacionalização

da literatura portuguesa;

● Fomentar o traçado de itinerários turístico-culturais, com percursos locais,

nacionais e internacionais, tendentes à definição de uma Rota do Património

Comum da CPLP;

● A promoção de políticas comuns de língua que envolvam conteúdos culturais e

identitários.

A promoção da cidadania lusófona constitui também uma prioridade. O Governo

pretende neste âmbito aprofundar a dimensão da cooperação política e social o que

passará por alargar o leque de direitos de cidadania, fomentando o diálogo e a

cooperação diplomática. Para isto o governo procurará dinamizar as seguintes

medidas:

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● A criação da «Carta de Cidadão Lusófono», enquanto instrumento jurídico de

reconhecimento a todos os cidadãos de vários direitos no espaço lusófono, tais

como a liberdade de deslocação e de fixação de residência, o reconhecimento das

qualificações académicas e profissionais, o exercício de direitos políticos e a

portabilidade dos direitos sociais;

● A assinatura da Convenção Multilateral de Segurança Social da CPLP, bem como a

sua efetiva aplicação;

● A criação de uma rede de centros de arbitragem, conciliação e mediação no espaço

económico da Língua Portuguesa;

● A criação de plataformas bancárias pan-Africanas de base Lusófona;

● O desenvolvimento de um programa de cooperação no âmbito da energia no espaço

económico da Língua Portuguesa;

● A divulgação de acordos sobre circulação e cidadania que abrangem matérias

relevantes para o cidadão lusófono e que, muitas vezes, são desconhecidos pelos

cidadãos e não aplicados na CPLP.

Políticas no âmbito da política de cooperação para o desenvolvimento

A política de cooperação internacional é um instrumento fundamental da política

externa nacional, mas o seu modelo tem de ser repensado de forma a torná-la mais

eficaz e coerente, tendo presente o novo quadro conceptual e as prioridades introduzidas

pela Agenda 2030, assim como os recursos públicos limitados para a Ajuda Pública ao

Desenvolvimento (APD). O novo modelo de cooperação exigirá:

● O reforço da coordenação entre os vários atores - públicos e privados - da

cooperação, em prol de um conjunto de áreas geográficas e temáticas definidas

como prioritárias para a intervenção nacional;

● A manutenção da parceria privilegiada com os países da língua portuguesa, cientes

de que a língua e a cultura são instrumentos da nossa cooperação que devem ser

valorizados;

● A diversificação das fontes de financiamento da cooperação, fortalecendo e

valorizando a capacidade de execução pelo Instituto Camões de projetos da União

Europeia em regime de cooperação delegada, utilizando a APD portuguesa como

instrumento catalisador de outros financiamentos públicos e privados para projetos

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considerados prioritários, e promovendo projetos em parceria com outros atores

públicos e privados;

● Maior eficiência na implementação dos programas de cooperação, através do

reforço dos meios de gestão descentralizada, de acompanhamento e avaliação

regulares da execução dos projetos;

● O reforço da capacidade e eficácia das instituições públicas da cooperação,

nomeadamente através da simplificação dos procedimentos administrativos e a

aposta na valorização dos recursos humanos;

● A promoção e acompanhamento dos esforços de implementação, a nível nacional e

internacional, dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável definidos na Agenda

2030.

Uma Política para a Emigração

A valorização das pessoas deve contar com todos os portugueses que trabalham e vivem

fora do país, tirando partido das suas qualificações, dos seus percursos e da ligação que

portugueses e descendentes de emigrantes das várias gerações mantêm com Portugal.

Historicamente, Portugal conferiu à política externa uma constante atenção na área da

lusofonia e nas políticas relevantes para as comunidades portuguesas, havendo hoje,

perante a nova vaga de emigração, a necessidade de uma política também focada no

retorno. Tais prioridades devem agora guiar o Governo, com destaque para a afirmação

da língua portuguesa, para a implantação de uma cidadania lusófona e para o

estreitamento da ligação às comunidades portuguesas no estrangeiro. Neste contexto, e

de acordo com uma ação concertada entre várias áreas governamentais, em especial o

Ministério dos Negócios Estrangeiros e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino

Superior, o Governo pretende proceder à implementação das seguintes medidas:

● A eliminação de obstáculos ao regresso e à circulação de portugueses emigrados;

● O estímulo das relações entre emigrantes e a sociedade nacional;

● A promoção das deslocações de emigrantes a Portugal;

● Apoiar a criação de redes de emigrantes, em particular entre emigrantes

qualificados e empreendedores.

● Estimular a valorização institucional do emigrante e o seu sentimento de pertença à

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comunidade nacional e fomentar as relações com a diáspora portuguesa enquanto

mecanismo de facilitação da internacionalização da economia nacional e de

promoção da imagem de Portugal no mundo;

● Criar um prémio anual para emigrantes que se destacaram pelo seu contributo à sua

comunidade e ao País;

● Incentivar, com as universidades, a promoção de Portugal como destino de

estudantes portugueses emigrados em programas Erasmus e de Study Abroad.

 Em 2016, é criado, junto do Ministério dos Negócios Estrangeiros, um gabinete de

apoio ao jovem emigrante que, utilizando os balcões locais de atendimento

existentes nas embaixadas e nos consulados portugueses, promova o

acompanhamento social e administrativo destes jovens e a divulgação de

informação sobre a existência de estímulos legais ao regresso ao país de origem.

Políticas no âmbito da valorização das relações com as comunidades portuguesas

Cada cidadão nacional emigrado representa o nosso país. É, assim, essencial valorizar

este ativo da política externa, através de medidas diversas nas várias dimensões das suas

vivências. O Governo procurará nestes próximos quatro anos de governação

implementar nas suas relações com as comunidades portuguesas as seguintes medidas:

● Facilitar a ligação dos portugueses residentes no estrangeiro às entidades públicas

nacionais:

– Modernizar a rede consular, nomeadamente através do desenvolvimento do

acesso a serviços em linha ou serviços móveis, numa preocupação de

simplificação e de proximidade com os utentes;

– Criar um e-Balcão Consular, a integrar no Portal do Cidadão e das

Comunidades, desmaterializando muitos atos consulares, garantindo o seu

acesso por cidadãos em qualquer parte do mundo e reduzindo a necessidade de

deslocação a postos consulares;

– Proceder a uma mais ampla divulgação dos direitos dos portugueses emigrantes

em termos fiscais, laborais ou de direitos a pensão de reforma.

● Potenciar o exercício da cidadania e a representatividade das comunidades;

– Prever a adoção de novas modalidades de voto que incentivem a participação

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dos cidadãos residentes no estrangeiro;

– Simplificar e agilizar a inscrição nos cadernos eleitorais nos serviços consulares;

– Permitir a renovação do Cartão de Cidadão em Portugal mantendo a residência

no estrangeiro, isto é, sem perda de inscrição nos cadernos eleitorais do país de

residência;

– Promover ações em prol da cidadania entre eleitos e atores de vida portuguesa

na diáspora, nomeadamente ações dirigidas à juventude.

● Reforçar a solidariedade para com as Comunidades;

– Garantir um apoio sustentado às estruturas que se ocupam da ajuda aos

emigrantes mais necessitados;

– Aperfeiçoar mecanismos de vigilância das condições de trabalho e de

alojamento dos emigrantes em situação de maior precariedade, atuando

decisivamente para salvaguardar condições básicas de dignidade humana;

– Propor e promover a revisão de acordos internacionais de Segurança Social em

vigor, com vista a reforçar a proteção social de trabalhadores migrantes e suas

famílias;

– Alargar a rede de instrumentos internacionais de Segurança Social, através da

celebração de novos acordos com países com os quais não existe qualquer

instrumento internacional, atendendo ao contingente migratório com estes

países.

● Manter vivas a cultura, as artes e a memória portuguesas

– Intensificar o intercâmbio entre Portugal e as comunidades no domínio das artes

e da cultura, quer através da itinerância de exposições e espetáculos, quer

reconhecendo e valorizando os artistas portugueses e luso-descendentes;

– Adequar a oferta de professores e de cursos à procura de aulas no ensino de

Português no estrangeiro, de forma a expandir esta modalidade de ensino e

abranger todas as regiões com grandes concentrações de portugueses;

– Garantir o acesso das comunidades a meios de comunicação modernos e

atualizados, em particular apostando no online e nos serviços de programas

internacionais da rádio e televisão pública.

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● Dinamizar a rede associativa e a juventude

– Dinamizar a rede associativa, nomeadamente através do apoio às coletividades e

federações de associações e ao desenvolvimento da cooperação interassociativa,

com o objetivo de desenvolver a integração no país de acolhimento;

– Criar um programa de intercâmbio jovem entre Portugal e as comunidades,

inspirado nos modelos INOV-Contacto e INOV-Artes, dirigido a jovens

portugueses residentes no estrangeiro, visando proporcionar-lhes experiências

profissionais em território nacional;

– Facilitar a validação e o reconhecimento de qualificações, diplomas e

competências, valorizando a formação no estrangeiro.

Continuar Portugal nas comunidades portuguesas

As possibilidades de desenvolvimento económico em ligação com a diáspora não foram

ainda totalmente exploradas e a margem de manobra é muito significativa. Um esforço

sério e empenhado neste domínio trará resultados consideráveis para o crescimento do

País a muito curto mas também a longo prazo, com resultados duradouros. Para tal, o

Governo pretende:

● Encarar as comunidades como uma alavanca da internacionalização da economia

portuguesa, recorrendo para o efeito às estruturas locais, como câmaras de

comércio, associações temáticas, cooperação entre cidades, entre outras.

Políticas no âmbito da política externa

O multilateralismo é um dos princípios básicos da orientação política externa

portuguesa. No período de 2016 a 2019, Portugal desenvolverá este princípio através do

empenhamento no sistema das Nações Unidas e nas organizações multilaterais a que

pertence. Serão importantes:

● A participação nas diferentes dimensões e estruturas do trabalho das Nações

Unidas, com destaque para o mandato como membro do Conselho de Direitos

Humanos (2015-2017), para as Candidaturas portuguesas a diferentes lugares da

Organização, para a Aliança das Civilizações e para a promoção dos direitos

humanos, da educação e da cultura, designadamente como membro eleito do

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Comité do Património Mundial da UNESCO (2013-2017);

● A ação no quadro do Conselho da Europa e, em particular, no seu Centro Norte-

Sul, sedeado em Lisboa, assim como na Organização para a Cooperação e

Segurança Europeia;

● A conclusão da Nova Visão Estratégica da CPLP, a ser aprovada em 2016, e a

apresentação da candidatura ao lugar de Secretário Executivo, para o próximo

mandato, assim como, em geral a consolidação e incremento das atividades da

Comunidade;

● A participação na organização das Cimeiras Ibero-Americanas;

● O empenhamento nos fóruns regionais de cooperação, desenvolvimento e

segurança, tirando todo o partido da capacidade nacional de interlocução com

diferentes espaços regionais e com especial relevo para as iniciativas em torno do

mediterrâneo (5+5), na relação com África, a União Africana, e as organizações

regionais africanas, assim como com organizações regionais na América Latina.

Políticas no âmbito das relações bilaterais

A política externa portuguesa alicerça-se numa dupla capacidade: por um lado, assumir

uma relação bilateral privilegiada com países a que nos unem elos geoistóricos

particulares, como é o caso dos Estados Unidos, da Espanha e do Brasil, entre outros; e,

por outro lado, desenvolver relações bilaterais, políticas, económicas e culturais, com

países situados em todas as regiões do mundo. Este é um dos ativos principais da nossa

política externa, que deve ser preservado e reforçado. Assim deve ser dado especial

destaque, no período de 2016 a 2019, ao desenvolvimento das seguintes relações

bilaterais:

● Com os Estados Unidos, visando, no quadro dos acordos existentes, e tendo

sobretudo em vista a construção de uma solução para a Base das Lajes, e no quadro

dos programas de cooperação económica, científica, tecnológica e de ensino

superior, em curso e a desenvolver;

● Com a Espanha, atenta a vizinhança geográfica e os interesses partilhados, a

comum participação na UE e na UEM e o nível de integração económica atingido

no espaço ibérico;

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● Com o Brasil, considerados os laços históricos profundos, a responsabilidade

partilhada na difusão e promoção da língua portuguesa, sólidas relações

económicas e as possibilidades de parceria na cooperação com outros países

lusófonos;

● Com os países africanos de língua portuguesa e Timor Leste, valorizando também

no plano bilateral os recursos e possibilidade de cooperação e parceria;

● Com os países africanos da África Ocidental, Oriental e do Sul, consideradas quer

as relações históricas, quer os interesses comuns em matéria económica, de

segurança e de estabilização institucional, quer, sendo o caso, a presença de

comunidades portuguesas;

● Com os países do Magrebe, do Médio Oriente e do Mundo árabe em geral, tendo

em conta os desafios de segurança na vizinhança Sul e as possibilidades de

aprofundamento do relacionamento bilateral quer no plano económico quer

cultural;

● Com os países latino americanos, diversificando e aprofundando as relações

diplomáticas, culturais e económicas, atentas as afinidades históricas e o potencial

de desenvolvimento de tais países;

● Com os países da Europa de Leste e da Ásia Central, tendo designadamente em

vista os interesses comuns em termos estratégicos e de relacionamento económico

e comercial;

● Com os países da Ásia do Sul e do Sudeste, assim como os da grande região Ásia-

Pacífico, incluindo a China, a Índia, o Japão, a Coreia do Sul e a Indonésia, em

relações às quais é necessário aproveitar os recentes impulsos diplomáticos,

aprofundando os laços económicos existentes suscetíveis de lançarem mais

oportunidades para a economia nacional no contexto da globalização.

Políticas no âmbito da diplomacia económica e do apoio à internacionalização da

economia

Para promover o comércio externo, o investimento direto estrangeiro e o investimento

português no estrangeiro, assim como para desenvolver as parcerias existentes e

procurar novos mercados de exportação serão, para além das medidas já referidas,

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desenvolvidas as seguintes:

● O desenvolvimento do trabalho da entidade pública responsável pela promoção do

investimento e do comércio externo de Portugal com o objetivo de reforçar a

eficácia da rede externa e interna de apoio às empresas, integrando recursos

humanos com maior experiência internacional que possam funcionar como

verdadeiros agentes de suporte comercial das PME portuguesas;

● A articulação, criando sinergias e ganhos de escala, entre a rede comercial e de

turismo e a rede diplomática e consular portuguesa;

● A dinamização da diversificação da economia portuguesa, criando condições para o

investimento, a inovação e a internacionalização, através da promoção de projetos

inovadores, estabelecimento de parcerias estratégicas de colaboração, e divulgação

de Portugal em feiras internacionais nos vários setores da economia;

● A dinamização das relações com a diáspora portuguesa enquanto mecanismo de

facilitação da internacionalização e de promoção da imagem de Portugal no

mundo;

● O desenvolvimento do trabalho das Comissões Mistas em curso no contexto das

relações bilaterais e potenciar novos contextos de cooperação;

● A avaliação de condições para uma tributação mais favorável de custos e

investimentos com promoção internacional;

● A captação de empreendedores estrangeiros, portadores de talento, tecnologia e

acesso a mercados internacionais, nomeadamente reavaliando o atual regime fiscal,

incluindo o aplicável aos residentes fiscais não habituais, de forma a privilegiar as

áreas estratégicas do investimento, criação líquida de emprego e

internacionalização da economia;

● A articulação entre as políticas de inovação com as de exportação e

internacionalização, visando acelerar a chegada ao mercado internacional dos

resultados inovadores, com vista a maximizar a posição de Portugal na cadeia de

valor produtivo e, simultaneamente, ajudando a mudar a imagem externa da

economia nacional com reflexos na valorização das exportações de todos os

setores;

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● A participação do País nas redes internacionais de cooperação de I&D empresarial;

● A dinamização das possibilidades de acesso aos mecanismos de créditos regionais

e internacionais por partes das empresas portuguesas;

● A promoção do investimento de emigrantes e lusodescendentes em Portugal;

● A valorização e apoio a empresas de portugueses e lusodescendentes no

estrangeiro, designadamente através do desenvolvimento de parcerias

internacionais estratégicas entre empresas.

35. UMA NOVA POLÍTICA PARA A EUROPA

Apesar da evolução verificada nos últimos anos, sentem-se ainda de modo acentuado os

efeitos da opção europeia pela austeridade pró-cíclica. O desemprego galopou, a

divergência económica e social acentuou-se e o risco da deflação instalou-se. Não foi a

rigidez dos mercados laborais ou de produtos e serviços que causou o aumento brutal do

desemprego e das divergências na Zona Euro. Foi uma crise financeira global e

posteriores erros de política económica, particularmente a opção por políticas de

austeridade em toda a Europa, que causaram um retrocesso significativo no

investimento e mais globalmente na procura. Mas a causa estrutural desta crise resulta

de a união monetária não ter sido acompanhada do reforço da coesão, o que acentuou as

divergências económicas e os efeitos assimétricos no seio da Zona Euro.

Defender uma nova política orçamental

Na UE deve ser dada prioridade à redução dos desequilíbrios económicos e sociais.

Assim, a posição orçamental deve ser encarada como um todo. É preciso ter em conta e

agir efetivamente tanto relativamente aos Estados-Membros com défice, como quanto

aos que tenham superávite, pois ambos os fenómenos provocam desequilíbrios na

economia da União Europeia que se refletem na qualidade de vida das pessoas. Esta

abordagem favorecerá decisivamente o combate à deflação na Europa.

Devem ser criados instrumentos que realmente favoreçam a coesão das economias

europeias, envolvendo na sua criação e escrutínio o Parlamento Europeu e os

parlamentos nacionais. No âmbito da coordenação de políticas devem ser ainda dados

passos que combatam o dumping fiscal e social.

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As decisões na Zona Euro, que transcendem em muito assuntos financeiros e opções de

política europeia fundamental, devem ser adotadas no quadro dos principais órgãos da

União Europeia: Comissão Europeia, Conselho e Parlamento Europeu.

Política Macroeconómica, Orçamental e Monetária

Deve ser dada atenção aos períodos de realização de investimento tendente a favorecer

as condições de competitividade das economias europeias, nomeadamente quanto à

consideração da comparticipação nacional dos investimentos suportados por fundos

provenientes da própria União Europeia.

Ainda no quadro de coordenação de políticas, mesmo no contexto da melhoria e

normalização das condições de refinanciamento das dívidas, devem ser exploradas todas

as oportunidades para, de um modo cooperante entre Estados e instituições, reduzir o

peso do serviço das dívidas nos orçamentos nacionais.

Importa consolidar a evolução verificada, nos últimos anos, na visão do Banco Central

Europeu (BCE) enquanto financiador de último recurso na Europa.

Aprofundar a Coesão Social na UE

A Europa precisa de mais convergência económica mas também de coesão social e do

reforço das condições de vida dos povos europeus, seriamente atingidas nos últimos

anos. É preciso definir com rigor e força jurídica os padrões laborais e de proteção

social a garantir no espaço da União Europeia e na Zona Euro, suportados pelos

instrumentos financeiros e políticos necessários.

Por isso, a União Europeia deve retomar grandes projetos mobilizadores que criem

vantagens e melhorias na vida dos cidadãos, começando pela área social, por exemplo:

● A criação de Eurogrupo da Coesão Social e do Emprego, que venha colocar

novamente o combate à pobreza e ao desemprego e a promoção da qualidade de

vida para todos no centro da ação dos líderes europeus;

● A concertação de medidas a nível europeu para combate ao desemprego, incluindo

na garantia e financiamento de prestações sociais;

● A criação de medidas precisas a nível europeu no domínio social, que se reflitam

de forma positiva, expressiva e o mais direta possível na vida dos cidadãos

europeus.

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Quadro institucional da União Europeia

O atual quadro institucional europeu tem sido muitas vezes ultrapassado ou substituído

por mecanismos ad hoc, que secundarizam alguns Estados-membros.

Com vista a assegurar uma Europa solidária e coesa, que permita sair da austeridade,

Portugal procurará defender políticas que permitam responder eficaz e atempadamente

aos desafios da cooperação e integração. Neste sentido, serão empreendidas medidas

que visem assegurar:

● A defesa dos interesses nacionais na revisão das Perspetivas Financeiras 2014-2020

e na preparação das perspetivas subsequentes;

● Explorar todas as vias para garantir espaço orçamental e para financiar

investimento, com vista a assegurar a competitividade das economias;

● A maximização das potencialidades dos fundos estruturais e de investimento, como

é o caso do Fundo Europeu de Investimento Estratégico;

● O reforço do orçamento da União Europeia com vista a apoiar esforços de

convergência.

Políticas no âmbito da política europeia

No âmbito da política europeia, para além das medidas já elencadas, serão

empreendidas medidas de políticas que assegurem:

● A defesa dos interesses europeus e nacionais no desenvolvimento da União

Económica e Monetária;

● A consolidação da UE como espaço de livre circulação e o aperfeiçoamento dos

princípios e mecanismos que o consubstanciam;

● A promoção do combate ao terrorismo, nas suas múltiplas vertentes;

● O desenvolvimento de uma política equilibrada face às migrações e à promoção

das respostas conjuntas a crises humanitárias e, em particular, no que respeita ao

acolhimento de pessoas refugiadas e requerentes de asilo;

● O desenvolvimento de uma política de cooperação e paz, quer a Sul, quer a Leste,

com a atenção específica, da parte de Portugal, à relação com o espaço regional do

Mediterrâneo.

———

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23 DE MARÇO DE 2016 219 _____________________________________________________________________________________________________________

DECRETO N.º 20/XIII

APROVA O QUADRO PLURIANUAL DE PROGRAMAÇÃO ORÇAMENTAL PARA OS ANOS DE 2016 –

2019

A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea g) do artigo 161.º da Constituição, o seguinte:

Artigo 1.º

Objeto

A presente lei dá cumprimento ao disposto no artigo 12.º-D da lei de enquadramento orçamental, aprovada

pela Lei n.º 91/2001, de 20 de agosto, alterada e republicada pela Lei n.º 41/2014, de 10 de julho, aprovando o

quadro plurianual de programação orçamental para o período de 2016 a 2019.

Artigo 2.º

Quadro Plurianual de programação orçamental

1 - É aprovado o quadro plurianual de programação orçamental contendo os limites de despesa efetiva para

o período de 2016 a 2019, que consta do anexo à presente lei e que dela faz parte integrante.

2 - Os limites de despesa referentes ao período de 2017 a 2019 são indicativos.

Artigo 3.º

Alterações orçamentais

Sem prejuízo da manutenção dos valores anuais de despesa, podem os limites de despesa por programa e

área constantes do anexo à presente lei ser objeto de modificação em virtude de alterações orçamentais.

Aprovado em 16 de março de 2016.

O Presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues.

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ANEXO

(a que se refere o artigo 2.º)

Limites de Despesa coberta por receitas gerais

(milhões de euros)

Limites de Despesa coberta por receitas gerais 2016 2017 2018 2019Soberania P001 - Órgãos de soberania 3 159

P002 - Governação 110

P003 - Representação Externa 285

P008 - Justiça 742

P009 - Cultura 275

Subtotal agrupamento 4 571 4 684

Segurança P006 - Defesa 1 722

P007 - Segurança Interna 1 613

Subtotal agrupamento 3 335 3 360

Social P010 - Ciência Tecnologia e Ensino Superior 1 397

P011 - Ensino Básico e Secundário e Administração Escolar 5 081

P012 - Trabalho, Solidariedade e Segurança Social 13 586

P013 - Saúde 7 971

Subtotal agrupamento 28 035 28 434

Económica P004 - Finanças e Administração Pública 3 541

P005 - Gestão da Dívida Pública 7 546

P014 - Planeamento e Infraestruturas 762

P015 - Economia 202

P016 - Ambiente 80

P017 - Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural 295

P018 - Mar 36

Subtotal agrupamento 12 462 12 902

Total da Despesa financiada por receitas gerais 48 403 49 381 50 358 51 215

A DIVISÃO DE REDAÇÃO E APOIO AUDIOVISUAL.

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