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13 DE JULHO DE 2016 39

instituições, serviços ou valências, que pudesse avaliar tecnicamente o processo, ultrapassando meras

enunciações de fachada sem verdadeiro conteúdo.

Foram retirados do Hospital dos Covões, que abrangia cerca de 800.000 utentes, serviços tão nucleares

como os de Gastrenterologia, Neurologia, Neurocirurgia, Urologia, Otorrinolaringologia, Oftalmologia e outros,

desarticulando equipas com grande experiência acumulada, desaproveitando a capacidade instalada

(nomeadamente do moderno bloco operatório central que passou a ser utilizado quase exclusivamente para

cirurgia ambulatória, mais leve e menos exigente), fechando as urgências à noite e aos fins-de-semana.

Os exemplos de perda são muitos, como sucede com o Serviço de Cirurgia Cardiotorácica dos HUC – mais

prestigiado pela assistência prestada na patologia cardíaca do que na área torácica – que não aproveitou a

enorme experiência em cirurgia toracoscópica vídeo-assistida acumulada no Hospital dos Covões (a maior a

nível nacional) para colmatar o défice que tinha nesse campo. Preferiu-se anulá-la e ficar sem a capacidade

técnica a que o estado da arte há muitos anos exige em patologias pulmonares não raras, até há pouco

eficazmente prestada a toda a região centro pelo Hospital dos Covões. Também o Serviço de Hemodinâmica,

mais diferenciado em algumas técnicas que o dos HUC, deixou de as poder assegurar por se ter desmembrado

a sua equipa, com o abandono definitivo do seu Diretor.

Se, por um lado, o Hospital Geral dos Covões foi esvaziado, por outro, os HUC ficaram repletos de médicos

e doentes, os primeiros procurando um espaço funcional para desenvolver o seu trabalho, os segundos

acotovelando-se nas filas da urgência ou em listas de espera insufladas.

Também o Hospital Pediátrico de Coimbra (HPC) sofreu os perversos efeitos da centralização no CHUC que,

além da ação negativa do anterior governo, viu diminuir ainda mais a autonomia. Desde a departamentação que

fragmentou as equipas, passando pelos contratos de médicos dando prioridade ao trabalho na urgência e

diminuindo o horário do trabalho de rotina e dificultando o estatuto de dedicação exclusiva (o HPC foi um caso

único e exemplar no país chegando a ter mais de 90% dos seus médicos em exclusividade), as últimas

administrações, concretizando orientações emanadas superiormente, tudo fizeram para apagarem a

individualidade e o prestígio do HPC, tratando-o como mero apêndice pediátrico e incómodo do hospital de

adultos.

Toda esta trajetória de concentração no CHUC acabou por traduzir-se numa miríade de cortes, de medidas

irracionais e burocratizadas, falhas de material clínico, racionamento de implantes e medicamentos, ruturas na

reposição de consumíveis (falta de hipoclorito, luvas, detergente, sacos de lixo para resíduos de risco biológico),

bloqueios informáticos e perda de recursos humanos, com acentuada desorganização e diminuição da

capacidade de resposta assistencial apenas disfarçadas por uma criativa engenharia de números e enviesadas

distorções estatísticas.

São do conhecimento público ainda outros problemas. É solicitado aos familiares dos doentes que levem

toalhas e pijamas de casa. Por falta de roupa, as camas chegam a estar três e quatro dias por mudar e os

profissionais com a mesma farda, por lavar, durante uma semana.

Os enfermeiros e outros profissionais viram o horário de trabalho aumentado, com um brutal desrespeito

pelas mais elementares regras de elaboração dos horários, existindo menos descanso e consequente aumento

do ritmo de trabalho – o que acarreta consequências na inevitável diminuição da qualidade e de segurança dos

cuidados prestados. Exemplo paradigmático do ataque aos direitos dos trabalhadores foram os cerca de cem

assistentes operacionais do CHUC sujeitos a intimidação, sem folgas e pagos abaixo do salário mínimo,

ilegalidades só corrigidas após protesto público desencadeado com a contribuição do PCP.

III

Nos Cuidados Primários, o ataque ao SNS manifestou-se no contínuo encolher da sua rede de cuidados de

proximidade, com o encerramento de muitas das suas extensões, despertando veementes protestos por parte

das populações locais. Está também na perspetiva de privatização dos Cuidados Primários com as USF modelo

C, não para benefício das populações mas para, num futuro próximo, serem integrados nos planos estratégicos

dos grandes grupos privados que pretendem assumir a totalidade dos serviços de Saúde (primários, de

proximidade e hospitalares) de grandes regiões do país, de forma a melhor integrarem e rentabilizarem os seus

investimentos.

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