O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Página 1

Segunda-feira, 10 de outubro de 2022 II Série-A — Número 98

XV LEGISLATURA 1.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2022-2023)

2.º SUPLEMENTO

S U M Á R I O

Proposta de Lei n.º 37/XIV/1.ª (GOV) — Aprova a Lei das Grandes Opções do Plano para 2022-2026:

— Texto da proposta de lei. — Parecer do Conselho Económico e Social.

Página 2

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

2

PROPOSTA DE LEI N.º 37/XV/1.ª

APROVA A LEI DAS GRANDES OPÇÕES DO PLANO PARA 2022-2026

Exposição de motivos

A proposta de Lei das Grandes Opções para 2022-2026 (Lei das Grandes Opções) apresentada pelo XXIII

Governo Constitucional corresponde às Grandes Opções de política económica, social e territorial para os

anos de 2022 a 2026, que se desenvolvem num contexto marcado pelas consequências resultantes do conflito

armado na Ucrânia e pela resposta à crise provocada pela pandemia da COVID-19 e constituem um

compromisso com a transformação estrutural e a recuperação do País.

A estratégia de ação política que orienta as Grandes Opções concretiza-se quer na resposta a curto prazo

a desafios imediatos através da implementação de um pacote integrado de medidas que visa a preservação

da capacidade produtiva do país, a ajuda às empresas com dificuldades de tesouraria e às famílias na defesa

contra os aumentos do preço da energia e dos bens alimentares, quer na resposta, focada em objetivos de

médio e longo prazo, com vista a acelerar a mudança de modelo de desenvolvimento económico do País,

baseado cada vez mais no conhecimento e na inovação tecnológica.

As opções de política económica, social e territorial partindo do reconhecimento dos avanços significativos

verificados na economia, sociedade e territórios portugueses, desenvolvem-se por cinco áreas de atuação,

procurando responder a um desafio transversal (Boa Governação) e a quatro desafios estratégicos: alterações

climáticas; demografia; desigualdades; e sociedade digital da criatividade e inovação.

A implementação das Grandes Opções 2022-2026 exige um conjunto ambicioso de investimentos cujas

fontes de financiamento são o Orçamento do Estado e o quadro europeu de instrumentos de financiamento,

designadamente o PT2020, a iniciativa de Assistência de Recuperação para a Coesão e os Territórios da

Europa (REACT UE), o Programa de Recuperação e Resiliência (PRR), e o PT2030.

As Grandes Opções 2022-2026 estão articuladas com a Estratégia Portugal 2030, que tem como visão

«recuperar a economia, proteger o emprego, e fazer da próxima década um período de recuperação e

convergência de Portugal com a União Europeia, assegurando maior resiliência e coesão, social e territorial»,

e estão alinhadas com importantes instrumentos de planeamento como o Programa Nacional de Reformas e o

PRR e outras agendas transversais, como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

A fim de dar cumprimento ao disposto do artigo 92.º da Constituição e da alínea a) do artigo 2.º da Lei n.º

108/91, de 17 de agosto, na sua redação atual, a presente proposta de Lei das Grandes Opções foi objeto de

parecer do Conselho Económico e Social.

Assim:

Nos termos da alínea b) do artigo 32.º da Lei de Enquadramento Orçamental, aprovada em anexo à Lei n.º

151/2015, de 11 de setembro, na sua redação atual, e da alínea d) do n.º 1 do artigo 197.º da Constituição, o

Governo apresenta à Assembleia da República a seguinte proposta de lei:

Artigo 1.º

Objeto

É aprovada a Lei das Grandes Opções para 2022-2026 em matéria de planeamento e da programação

orçamental plurianual (Lei das Grandes Opções), que integram as medidas de política e os investimentos que

as permitem concretizar.

Artigo 2.º

Enquadramento estratégico

A Lei das Grandes Opções tem presente os impactos negativos a nível económico e social resultantes do

conflito armado na Ucrânia e da crise pandémica originada pela doença COVID-19, as medidas que procuram

relançar o crescimento económico a médio prazo na sequência da estratégia de combate aos efeitos do

Página 3

10 DE OUTUBRO DE 2022

3

conflito armado e da pandemia, bem como o desenvolvimento económico social e territorial consagrado no

Programa do XXIII Governo Constitucional.

Artigo 3.º

Âmbito

1 – A Lei das Grandes Opções integra:

a) A identificação e planeamento das opções de política económica, que constam do Anexo I à presente lei

e da qual faz parte integrante;

b) A programação orçamental plurianual para os subsetores da administração central e segurança social,

que consta do Anexo II à presente lei e da qual faz parte integrante.

2 – A Lei das Grandes Opções integra cinco áreas de atuação estruturadas em torno de um desafio

transversal e quatro desafios estratégicos:

a) Boa Governação;

b) Alterações climáticas;

c) Demografia;

d) Desigualdades;

e) Sociedade digital, da criatividade e da inovação.

Artigo 4.º

Enquadramento orçamental

As prioridades de investimento constantes da Lei das Grandes Opções são compatibilizadas no âmbito do

Orçamento do Estado para 2023.

Visto e aprovado em Conselho de Ministros de 9 de outubro de 2022.

O Primeiro-Ministro, António Luís Santos da Costa — A Ministra da Presidência, Mariana Guimarães Vieira

da Silva — O Ministro das Finanças, Fernando Medina Maciel Almeida Correia — A Ministra Adjunta e dos

Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Veiga dos Santos Mendonça Mendes.

ANEXO I

[a que se refere a alínea a) do n.º 1 do artigo 3.º]

Grandes Opções 2022-2026

1. As Grandes Opções

A proposta de Lei das Grandes Opções para 2022-2026 apresentada pelo XXIII Governo Constitucional

corresponde às Grandes Opções de política económica, social e territorial para os anos de 2022 a 2026. A

estratégia de ação política que orienta as Grandes Opções desenvolve-se em duas dimensões

intrinsecamente ligadas:

• A resposta no curto prazo a desafios imediatos, através da implementação de um pacote integrado de

medidas que visa a preservação da capacidade produtiva do país, a ajuda às empresas com dificuldades de

tesouraria e às famílias vulneráveis na defesa contra os aumentos do preço da energia e dos bens

alimentares.

Página 4

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

4

• A resposta, focada em objetivos de médio e longo prazo, com vista a acelerar a mudança de modelo de

desenvolvimento económico do país, baseado cada vez mais no conhecimento e na inovação tecnológica.

Assim, a resposta conjunta a estes objetivos desenvolve-se em quatro grandes desafios estratégicos que

estruturam a ação governativa:

• Alterações climáticas.

• Demografia.

• Desigualdades.

• Sociedade digital, da criatividade e da inovação.

A boa governação assume-se enquanto um desafio adicional de natureza transversal, que concorre para a

efetiva concretização dos objetivos assumidos, estabelecendo as condições para que o XXIII Governo

Constitucional enfrente e resolva quer os desafios imediatos, quer os de médio e longo prazo.

As opções de política económica, social e territorial reconhecem os avanços significativos verificados na

economia, sociedade e territórios portugueses, tomando como base de sustentação os desenvolvimentos

recentes nas seguintes dimensões:

• Crescimento económico, tendo em conta a trajetória de convergência sustentada com a média da União

Europeia verificada desde 2016 e a melhoria dos indicadores relacionados com a investigação e

desenvolvimento e a evolução do perfil do tecido produtivo.

• Mercado de trabalho, destacando a redução do desemprego, o aumento da qualidade de emprego e o

aumento sustentado dos rendimentos do trabalho.

• Combate à exclusão social e desigualdade, evidenciado na melhoria estrutural dos indicadores que

medem a desigualdade, a pobreza e a privação material.

• Qualificações, com a evolução significativa na redução da taxa de abandono escolar e da proporção de

população com ensino superior concluído.

O contexto destas Grandes Opções é, de igual forma, marcado de forma significativa pelas consequências

da agressão da Rússia à Ucrânia e pela resposta à crise provocada pela pandemia da doença COVID-19. Em

particular, a guerra intensificou a disrupção das cadeias de distribuição em todo o mundo, empurrando os

preços para máximos históricos. Estes efeitos derivam do papel estratégico que quer a Rússia, quer a Ucrânia,

têm nos mercados internacionais de commodities, matérias-primas e energia. Assim, antecipa-se que os

mercados continuem a apresentar «extrema volatilidade» com possíveis impactos significativos nas economias

mundiais, que se encontram ainda frágeis e a recuperar dos efeitos decorrentes da pandemia da doença

COVID-19.

Portugal não está imune a estes choques, sobretudo por via indireta, nomeadamente a alta de preços, a

dificuldade no abastecimento de certos produtos e incerteza quanto à evolução da procura à escala global. Os

impactos macroeconómicos dos efeitos da invasão Russa da Ucrânia têm-se traduzido, em particular, pela

revisão em alta, para 7,4%, da taxa média de inflação prevista para o ano de 20221.

No âmbito das consequências do aumento da inflação em produtos como a gasolina, o gasóleo, a

eletricidade, o gás, os fertilizantes, os cereais e os produtos alimentares, sempre que tal o justificar, o Governo

continuará a adotar medidas de emergência direcionadas para os segmentos sociais e para os setores de

atividade mais vulneráveis, como o apoio extraordinário às famílias mais carenciadas, nomeadamente para

suportar os acréscimos com os custos de alimentação e do gás, o apoio à redução dos custos do setor da

agricultura ou o apoio a empresas muito afetadas pelo aumento dos preços da energia, como os têxteis, o

vidro ou a siderurgia, suportando 30% do seu aumento de custos com gás.

Para além destas medidas direcionadas, o Governo também adotou medidas de caráter mais geral de

contenção da inflação como a redução do imposto sobre os produtos petrolíferos (equivalente à redução do

IVA para 13%) ou o mecanismo excecional e temporário de ajuste dos custos de produção de energia elétrica,

1 European Economic Forecast – Summer 2022

Página 5

10 DE OUTUBRO DE 2022

5

limitando o papel das centrais termoelétricas a gás natural na formação de preço, no âmbito do Mercado

Ibérico de Eletricidade (MIBEL), até 31 de maio de 20232. O seu objetivo é limitar a escalada dos preços,

protegendo quem está mais vulnerável às subidas de preço. Esta iniciativa, tomada em articulação com

Espanha, acordada no Conselho Europeu e negociada com a Comissão Europeia, só é possível, em parte,

pela elevada produção de energia elétrica a partir de fontes renováveis em Portugal.

Apesar da pressão inflacionista que tem existido e se mantém neste momento nas economias europeias e

norte-americana, a inflação média dos últimos doze meses observada nos preços da energia de Portugal em

agosto de 2022 foi de 20,3%, enquanto em Espanha, país vizinho, foi de 38,8%, e no conjunto da União

Europeia, foi de 31,7%3. A reduzida dependência energética da Rússia, o acesso a fontes alternativas para o

aprovisionamento de energia e o elevado peso das energias renováveis colocam Portugal numa posição

privilegiada para contribuir para o reforço da resiliência energética da União Europeia (EU) face à Rússia e

contribuem para uma menor inflação energética comparativamente com outros países.

Deste modo, apesar do nível de incerteza associado ao perdurar da guerra na Ucrânia, as projeções

continuam a apontar para um crescimento robusto da economia portuguesa, impulsionado pela retoma de

atividade resultante da atenuação dos impactos na economia provocados pela pandemia da doença COVID-19

e consequência da adoção de medidas de controlo de transmissão da doença.

Depois de uma quebra de 8,3%4 do PIB em 2020, causada pela pandemia da COVID-19, em 2021 a

economia portuguesa teve um aumento de 5,5%5, que atesta a forte recuperação da atividade económica. Já

durante o ano de 2022, o crescimento do PIB, em termos homólogos, fixou-se em 12% no primeiro trimestre, e

em 7,4%6 no segundo trimestre, tendo sido este valor o sexto mais alto da UE. Para o conjunto do ano de

2022, e tendo por base as últimas previsões publicadas pela Comissão Europeia, Portugal deverá ser o país

que mais vai crescer com uma taxa de variação homóloga de 6,5%, bem acima dos 2,7% previstos para a

União Europeia e dos 2,6% estimados para o conjunto da Zona Euro.

Para a evolução positiva registada do PIB no primeiro semestre de 2022 contribuíram positivamente a

procura interna, dinamizada pelo consumo privado, e a procura externa, com a recuperação das exportações

de bens e serviços. Esta recuperação das exportações é explicada pela notável resiliência das exportações de

bens e pela retoma da atividade turística para os níveis pré-pandemia7, apesar da limitação da capacidade

aeroportuária ser, de forma cada vez mais evidente, um constrangimento ao pleno aproveitamento do

potencial turístico do país. Isto num contexto em que se deu o levantamento gradual das medidas restritivas de

confinamento, em paralelo com a elevada taxa de vacinação contra a doença COVID-19, a relativa baixa

exposição ao conflito na Europa, os programas de estímulo económico, tanto a nível nacional como europeu, e

o sucesso dos programas de proteção dos rendimentos das famílias e de proteção da capacidade produtiva do

país durante os constrangimentos colocados pela crise sanitária.

Para o ano de 2022, prevê-se nestas Grandes Opções a continuação de uma trajetória de recuperação da

economia portuguesa, com um crescimento de 6,5%, prevendo-se ainda que no final deste ano a economia se

situe 3% acima do nível pré-pandemia registado no conjunto do ano de 20198. As projeções atuais apontam

também para que no período compreendido entre 2019 e 2023, Portugal venha a ter um crescimento superior

à Zona Euro, refletindo assim um processo de renovada convergência.

Em consonância, as últimas previsões da Comissão Europeia, realizadas em julho de 2022, apontam para

que Portugal registe este ano o crescimento do PIB mais elevado na zona Euro e a quarta menor taxa de

inflação. Na matriz de vulnerabilidade que consta no relatório das previsões de maio, Portugal e Malta são

identificados como os Estados-Membros menos expostos aos efeitos da guerra na Ucrânia.

Tendo em conta o contexto de guerra, o Governo continuará a apoiar a Ucrânia em vários domínios, desde

logo do ponto de vista humanitário, através da aceitação dos pedidos de proteção temporária de cidadãos

2 Decreto-Lei n.º 33/2022 de 13 de maio 3 Eurostat – Informação mensal sobre inflação 4https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_destaques&DESTAQUESdest_boui=472473077&DESTAQUEStema=55557&DESTAQUESmodo=2 5https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_destaques&DESTAQUESdest_boui=472473077&DESTAQUEStema=55557&DESTAQUESmodo=2 6 Portal do Instituto Nacional de Estatística (INE), em https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_indicadores&contecto=pi&indOcorrCod=0009887&selTab=tab0 e Eurostat, em: https://ec.europa.eu/eurostat/documents/2995521/14675418/2-17082022-AP-EN.pdf/e2a24cfe-ee79-d042-0a17-be6a117fba1a 7 https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_destaques&DESTAQUESdest_boui=540100835&DESTAQUESmodo=2 8 Relatório do Orçamento do Estado 2022

Página 6

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

6

ucranianos ou outro tipo de ajuda monitorizada via plataforma “Portugal for Ukraine”. Considerando as

decisões tomadas no seio da UE e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), Portugal

prosseguirá o caminho de assistência direta à Ucrânia, quer a nível financeiro, quer no que diz respeito à

disponibilização de ajuda humanitária ou de equipamento militar.

Em paralelo, a Comissão Europeia lançou o Plano REPowerEU para reduzir ou anular a dependência

energética da UE relativamente à Rússia. Nesse âmbito, Portugal acelerará também a implementação de

medidas direcionadas à transição verde e energética, uma área que já era prioritária para o país e que agora

exige esforços redobrados a nível nacional e europeu.

As opções de política económica, social e territorial, além de responderem às consequências do conflito na

Ucrânia, estão em linha com as medidas que foram tomadas para enfrentar a crise sanitária e amortecer os

seus efeitos, desde o surgimento do primeiro caso de COVID-19 em Portugal, em março de 2020.

A contenção da propagação do vírus SARS-CoV-2, em função do contexto epidemiológico, obrigou à

declaração sucessiva de estados de emergência, muitos deles associados à definição de períodos de restrição

à circulação da população, com impactos sem precedentes sobre a atividade económica e sobre o bem-estar

dos cidadãos.

O sentido cívico dos portugueses, o empenho dos profissionais de saúde e, numa segunda fase, o sucesso

da campanha de vacinação foram determinantes para a boa resposta à crise sanitária. Igualmente

determinantes foram o reforço de recursos materiais e humanos no Serviço Nacional de Saúde e as medidas

extraordinárias de apoio à proteção de empregos e rendimentos das famílias e à manutenção da capacidade

produtiva das empresas, com resultados bastante positivos para mitigar o efeito económico adverso gerado

O plano REPowerEU da Comissão Europeia tem como finalidade reduzir rapidamente a dependência dos combustíveis fósseis russos, reorientando rapidamente a transição para as energias limpas e unindo esforços a fim de alcançar um sistema energético mais resiliente e uma verdadeira União da Energia. Agindo em União e de acordo com uma série de medidas, esse objetivo pode ser atingido mais rapidamente e em simultâneo com a aceleração da transição verde, permitindo o aumento da resiliência do sistema energético da UE, e com o reforço das ligações transfronteiriças, a fim de construir um mercado integrado da energia que garanta o aprovisionamento num espírito de solidariedade. A proposta inicial da Comissão Europeia pressupõe o financiamento destas iniciativas através do Mecanismo de Recuperação e Resiliência (MRR) em que os Estados-Membros podem usar os empréstimos restantes do MRR (cerca de 225 mil milhões de euros) assim como novas subvenções no valor de 20 mil milhões de euros. o. Propõe igualmente que os Estados-Membros beneficiem de uma maior flexibilidade para transferir os recursos que lhes são atribuídos através de outros instrumentos, como os fundos de política de coesão e a Política Agrícola Comum. O REPowerEU sustenta-se em três eixos:

• Diversificação – A UE desenvolverá em conjunto com parceiros internacionais a procura de fornecimentos

de energia alternativos, assegurando no curto prazo fornecimentos de gás natural, petróleo e carvão noutros

países que não a Rússia e, no futuro, passar a utilizar hidrogénio verde.

• Poupança – Será fomentada a eficiência energética em todos os setores assim como a adoção de mudanças

no comportamento de cidadãos, empresas e demais organizações que poderão fazer uma diferença

substancial em termos de poupança de energia. Adicionalmente, serão adotadas medidas de contingência para

fazer face a interrupções de fornecimento (cenário especialmente crítico para países muito dependentes da

energia russa).

• Aceleração da utilização de energias limpas – Sendo as energias renováveis disponíveis as mais limpas, as mais

baratas no médio prazo e que contribuem de forma mais cabal para a redução das importações de energia, o

REPowerEU acelerará a transição verde e promoverá um investimento substancial em energias renováveis,

em todos os setores desde a indústria, aos edifícios e transportes.

Os Estados-Membros devem acrescentar um capítulo REPowerEU aos seus PRR para canalizar investimentos para as áreas prioritárias do REPowerEU e fazer as reformas necessárias para acelerar a independência dos combustíveis fósseis. Esta prioridade é reforçada nas recomendações específicas por país (REP) de 2022 emitidas no âmbito do Semestre Europeu.

Fonte: https://ec.europa.eu/info/strategy/priorities-2019-2024/european-green-deal/repowereu-affordable-secure-and-sustainable-energy-europe_en

Página 7

10 DE OUTUBRO DE 2022

7

pela pandemia.

O intenso choque introduzido nas cadeias económicas, quer do lado da oferta, quer do lado da procura,

acelerou alguns dos desafios que já se faziam sentir, como o climático e o digital, e demonstrou a importância

de o país estar dotado de serviços públicos fortes e capacitados, designadamente ao nível do SNS, mas

também ao nível da prestação de respostas sociais, para garantir a resiliência necessária e a capacidade de

reação face a eventos contingentes.

1.1 Opções de política económica, social e territorial

A Grandes Opções 2022-2026, dividem-se por cinco áreas de atuação, nomeadamente um desafio que é

transversal e quatro desafios estratégicos, a saber:

• Boa Governação – Orientada para as contas públicas equilibradas e sustentáveis, para a manutenção

de uma reputação de credibilidade e de estabilidade, para a transparência, para o planeamento e avaliação

das políticas, para a capacitação dos trabalhadores em funções públicas e serviços públicos de qualidade,

para o Serviço Nacional de Saúde (SNS), para a literacia democrática, melhor cidadania, para as funções de

soberania e para a descentralização.

• Primeiro desafio estratégico: alterações climáticas – Abrange a redução das emissões de gases com

efeito de estufa, o aumento da capacidade de sequestro de CO2, o aumento da produção de energia de fontes

renováveis, a sustentabilidade dos recursos, a mobilidade sustentável, as paisagens mais resilientes ao risco

de incêndio, a adaptação dos territórios e da sociedade e a promoção da economia circular nos modelos de

negócio e no comportamento da população.

• Segundo desafio estratégico: demografia – Pretende alcançar um maior equilíbrio demográfico,

aumentar a natalidade, promover o envelhecimento ativo e saudável, criar emprego sustentável e de qualidade

em especial para os mais vulneráveis, possibilitar o acesso a habitação adequada a preços acessíveis,

conciliar a vida pessoal e familiar, acolher e integrar imigrantes e refugiados, continuar a promover a

regularidade dos trajetos migratórios.

• Terceiro desafio estratégico: desigualdades – Visa o combate às desigualdades pela não discriminação,

pela igualdade de género nos salários e emprego, pela promoção de maior justiça fiscal e equidade na

distribuição dos rendimentos, pelo acesso igual à educação e formação profissional, pela autonomia das

escolas, pela atualização das prestações, respostas e equipamentos sociais, pela descentralização, pelo

desenvolvimento regional e pela coesão territorial.

• Quarto desafio estratégico: sociedade digital, da criatividade e inovação – Visa aumentar a incorporação

de valor acrescentado nacional e melhorar a participação nas cadeias de valor. Inclui a digitalização da

economia, o investimento na melhoria das qualificações e no reforço das competências, nomeadamente

digitais, em áreas tecnológicas, na economia verde, no setor social e cultural, quebrando igualmente ciclos de

subqualificação pela (re)qualificação e reconversão profissional dos jovens e adultos, incluindo os

trabalhadores.

Neste contexto, objetivando uma política económica, social e territorial, o XXIII Governo Constitucional

desenvolve as Grandes Opções 2022-2026 em duas dimensões intrinsecamente ligadas:

• No curto prazo, pela resposta aos desafios imediatos de proteção contra os aumentos do preço da

energia e dos bens alimentares e pelas medidas de mitigação da COVID-19, com vista à preservação da

capacidade produtiva do país e à proteção dos mais vulneráveis, que se traduz em apoios às famílias e às

empresas mais vulneráveis aos efeitos da guerra e da pandemia.

• No médio e longo prazo, pela aceleração da mudança do modelo de desenvolvimento económico e

social do país, apoiado na inovação tecnológica e no talento dos recursos humanos em detrimento dos baixos

salários, na circularidade da economia e transição energética para fazer face às alterações climáticas, na

promoção da igualdade e sustentabilidade demográfica em resposta às desigualdades socio-territoriais e ao

envelhecimento da população e na boa governação e qualidade dos serviços públicos, atuando como

alavanca de mudança da trajetória do País.

Página 8

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

8

Figura 1 – Cronograma de instrumentos de financiamento das políticas públicas de Portugal (2021-2029)

A implementação das Grandes Opções 2022-2026 exige um conjunto ambicioso de medidas de política

cujas fontes de financiamento são os Orçamentos do Estado e outras fontes de financiamento nacional e o

quadro europeu de instrumentos de financiamento, discriminados no cronograma da Figura 1, tais como:

• O PT2020, acordo de parceria estabelecido entre Portugal e a Comissão Europeia, que reúne os

cinco fundos europeus estruturais e de investimento (Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional,

Fundo de Coesão, Fundo Social Europeu, Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural e Fundo

Europeu dos Assuntos Marítimos e Pescas) que está em fase de conclusão.

• A iniciativa de Assistência de Recuperação para a Coesão e os Territórios da Europa (REACT UE)

que foi lançado como resposta rápida e na sequência da pandemia da doença COVID-19.

• O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), plano português aprovado no quadro do Mecanismo

de Recuperação e Resiliência europeu para mitigar o impacto económico e social da pandemia da

doença COVID-19 e tornar as economias e sociedades europeias mais sustentáveis, resilientes e

preparadas para os desafios e oportunidades das transições verdes e digitais. A dotação do PRR foi

recalculada pela Comissão Europeia em junho de 2022, mas a inscrição deste adicional só será

oficializada com a revisão do PRR, cuja negociação ainda decorre.

• O Programa de Desenvolvimento Rural, pilar da política agrícola comum da UE.

• O Fundo de Transição Justa, inserido no âmbito da política de coesão e que visa prestar apoio aos

territórios que enfrentam graves desafios socioeconómicos decorrentes do processo de transição para

uma economia com impacto neutro no clima.

• O PT2030, que materializa o acordo de parceria a estabelecer entre Portugal e a Comissão Europeia

na fixação de grandes objetivos estratégicos entre 2021 e 2027 com o orçamento de longo prazo da UE e

que estabelece o montante a investir em projetos e programas que reforcem o futuro da Europa através

do Quadro Financeiro Plurianual 2021-2027.

• As subvenções, financiadas parcialmente pela UE e parcialmente por outras fontes, após anúncio

2021 2022 2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029

ORÇAMENTOS DO ESTADO (inclui Fundos Nacionais)

PT 2020

11,2 mil M€ (3,7 mil M€/ano)

NEXT GENERATION EU

REACT EU

2,1 mil M€ (700 M€/ano)

Plano de Recuperação e Resiliência

13,9 mil M€ subvenções + 2,7 mil M€ empréstimos

(2,3 mil M€/ano + 450 M€/ano)

Desenvolvimento Rural + Fundo Transição Justa

500 M€ (83 M€/ano)

Total:

16,5 mil M€ subvenções + 2,7 mil M€ empréstimos

(2,7 mil M€/ano + 450 M€/ano)

QUADRO DE FINANCIAMENTO PLURIANUAL 2021 - 2029

33,6 mil M€ (3,7 mil M€/ano)

PT 2020 + NEXT GENERATION EU + QUADRO DE FINANCIAMENTO PLURIANUAL 2021-2029

61,3 mil M€ em subvenções (6,8 mil M€/ano)

Página 9

10 DE OUTUBRO DE 2022

9

público de convite à apresentação de propostas9.

• O Orçamento do Estado, Orçamento da Segurança Social e outras fontes de financiamento nacional.

O Quadro 1 permite evidenciar o contributo destes instrumentos de financiamento, designadamente o

PT2020, PRR e PT2030 para o financiamento dos investimentos previstos no ciclo 2022-2026 para cada um

dos desafios estratégicos que compõem as Grandes Opções. Nos capítulos relativos a cada um dos desafios

os investimentos são detalhados por áreas de política.

Quadro 1 – Programação plurianual das medidas de política financiadas pelo PRR, PT2020, PT2030, componentes de outros fundos europeus, do Orçamento do Estado e outras fontes de financiamento nacional, por desafio estratégico das

Grandes Opções 2022-2026 (M€)

Programação Plurianual (M€)

Desafio estratégico 2022 2023 2024 2025 2026 Total

Boa Governação 6926 1983 1795 1781 1829 14315

Alterações Climáticas 2507 3276 3380 3571 3007 15741

Demografia 740 1240 1213 1391 1340 5924

Desigualdades 2658 2918 2223 2207 2233 12239

Sociedade digital, da criatividade e da inovação 2138 3402 1882 1860 2038 11320

Total 14970 12819 10493 10810 10447 59539

Nota: Os valores do PRR refletem os 13,9 mil milhões de euros em subvenções do seu desenho inicial a que acrescem

2,7 mil milhões em empréstimos a executar entre 2022 e 2026. O valor de 15,5 mil milhões de euros em subvenções será

oficializado com a revisão do Plano de Recuperação e Resiliência cuja negociação ainda decorre à data da redação das

Grandes Opções. | Os valores relativos ao PT2020 e PT2030 não incluem os fundos dirigidos especificamente à

Agricultura e Pescas. As contrapartidas nacionais para medidas e investimentos financiados pelos fundos europeus não

estão incluídas na sua totalidade.

Este quadro contempla a projeção das despesas financiadas pelo PT2020, pelo PRR10 e PT2030 com a

informação disponível à data11. É de ressalvar que para lá de medidas de política com financiamento

associado, há várias iniciativas políticas, por exemplo reformas legais, que também contribuem para a

prossecução destes desafios, e que, consequentemente, são referidas nos capítulos do desafio a que dizem

respeito.

No Quadro 2 é discriminada a fonte de financiamento por área de atuação.

Quadro 2 – Programação plurianual das medidas de política por desafio estratégico das Grandes Opções 2022-2026 e fontes de financiamento(M€)

Totais por fonte de financiamento (M€) Total

(M€) Desafio Estratégico PRR

Outras Fontes Europeias

Fontes Nacional

Boa Governação 2071 490 11754 14315

9 A Comissão Europeia concede subvenções para apoiar projetos ou organizações que concorrem para os interesses da UE ou contribuem para a execução de programas ou políticas da União Europeia. As PME e outras partes interessadas podem candidatar-se, em resposta aos convites à apresentação de propostas nos diferentes domínios. 10 Incluem-se os investimentos financiados a fundo perdido bem como os empréstimos.

Página 10

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

10

Totais por fonte de financiamento (M€) Total

(M€) Desafio Estratégico PRR

Outras Fontes Europeias

Fontes Nacional

Alterações Climáticas 3497 11111 1133 15741

Demografia 2809 1268 1847 5924

Desigualdades 1883 4862 5493 12239

Sociedade digital, da criatividade e da inovação 4882 6088 351 11320

Total 15141 23819 20579 59539

NOTA METODOLÓGICA

O Quadro Plurianual de Medidas de Política contempla a projeção de execução dos investimentos previstos no

âmbito do Programa de Recuperação e Resiliência (PRR), dos investimentos previstos no âmbito dos Quadros

Financeiros Plurianuais (QFP) – PT2020 e PT2030, de outros fundos europeus, como o PEPAC e MIE, bem como

contempla ainda medidas de política financiadas através de fontes de financiamento nacionais. As projeções de

execução para o PRR e para os QFP foram elaboradas recorrendo a metodologias distintas, tendo em consideração a

diferente natureza destes instrumentos e o respetivo estágio de desenvolvimento.

As medidas de política financiadas pelo PRR contemplam as previsões de pagamento a beneficiários diretos e finais

para o período de referência das Grandes Opções, entre 2022 e 2026, pelo que não são considerados os montantes já

transferidos em 2021 para os beneficiários diretos e finais. O Quadro exclui ainda todos os valores referentes a

investimentos nas Regiões Autónomas. Estes dois pressupostos explicam as diferenças entre os valores reportados

no Quadro e os valores globais inscrito no PRR. A abordagem metodológica seguida para a previsão de pagamentos

a Beneficiários Diretos e Finais não é compatível com uma comparação direta com o cronograma de montantes

contratados com Beneficiários Diretos e Beneficiários Intermediários.

No caso dos Quadros Financeiros Plurianuais, o exercício previsional de execução dos fundos considera também o

horizonte temporal das Grandes Opções, pelo que os montantes apresentados ao longo do documento não são

diretamente comparáveis com os montantes constantes nos documentos de programação conhecidos. De igual

forma, são também excluídos todos os valores referentes a investimentos nas Regiões Autónomas.

No caso do PT2020, foram consideradas as previsões de execução para os anos restantes do Acordo de Parceria –

2022 e 2023. No caso do PT2030, a abordagem seguida considera a previsão de execução para o período 2022 a

2026, calibrada pelas tipologias de investimento consideradas e o respetivo histórico de execução para o período

correspondente.

Em ambos os casos, o exercício previsional segue uma correspondência entre Prioridade de Investimento ou

Objetivo Específico e áreas de política constantes do Quadro Plurianual de Medidas de Políticas. Os montantes

relativos ao PT 2020 e ao PT 2030 apenas consideram o financiamento através do FEDER, FSE e Fundo de

Coesão, pelo que não incluem os fundos dirigidos especificamente à Agricultura e Pescas. De igual modo, não são

consideradas as contrapartidas nacionais para medidas e investimentos financiados pelos fundos europeus.

Importa dar nota de que os exercícios de projeção foram realizados com base na informação disponível à data. Não

obstante, são exercícios inerentemente dinâmicos uma vez que estão sujeitos a atualizações decorrentes não só de

alterações à programação, mas também do próprio perfil de execução efetivamente verificado.

Regista-se que se optou por uma metodologia de classificação única. Ou seja, cada item de despesa é alocado

primariamente a uma e só uma categoria de despesa e, por inerência, a um único eixo e um único desafio estratégico.

Esta metodologia impacta na diferença de valores agregados que se observa entre a Demografia e os restantes

desafios estratégicos, dada a transversalidade das medidas de política. A segurança económica das famílias é dos

elementos mais relevantes para a concretização dos projetos de família. Assim, medidas como a Garantia para a

infância, as alterações ao IRS, a gratuitidade dos manuais escolares ou a redução dos preços dos transportes públicos

poderiam contribuir para o desafio da Demografia mas foi entendido que elas respondiam primordialmente aos

desafios das Desigualdades e das Alterações Climáticas.

Página 11

10 DE OUTUBRO DE 2022

11

1.2 Alinhamento das opções

A estratégia delineada nas Grandes Opções 2022-2026 está alinhada com outros importantes instrumentos

de planeamento como o Programa Nacional de Reformas (PNR), o PT2030, o PRR, o PT2020, e outras

agendas transversais, como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações

Unidas (ONU).

As Grandes Opções 2022-2026 estão alinhadas com as estratégias de médio prazo para o

desenvolvimento de Portugal vertidas no Programa Nacional de Reformas (PNR) de 2022, do XXIII Governo

Constitucional, sendo que o foco do PNR passa pela identificação e descrição das políticas públicas

portuguesas que respondem aos principais desafios económicos e sociais que o país enfrenta, demonstrando

a coerência das opções de política à luz das recomendações específicas por país (REP) dirigidas a Portugal

no âmbito dos ciclos do Semestre Europeu de 2019 e 2020.

As opções de política económica e social incluídas no PNR visam promover respostas determinadas aos

grandes desafios da UE e às fragilidades estruturais de cada Estado-Membro, nomeadamente pela resposta

às REP de 2019 (de carácter mais estrutural, emitidas antes da pandemia da doença COVID-19) e às REP de

2020 (de carácter mais conjuntural, de resposta à pandemia), que, no entanto, se complementam.

No âmbito deste exercício, são identificadas essencialmente preocupações com a sustentabilidade das

finanças públicas; as competências e as qualificações dos portugueses, nomeadamente as digitais e as

«verdes», o mercado de trabalho e a proteção social; a promoção do investimento empresarial na inovação e

em investigação; a melhoria das infraestruturas energéticas e de transportes e a transição climática; o

ambiente de negócios e a qualidade e a eficácia das instituições (designadamente no que concerne ao regime

de licenciamento, ao regime de insolvências e ao funcionamento dos tribunais fiscais e administrativos).

O PNR de 2022 demonstra um alinhamento com os vários instrumentos de planeamento estratégico em

vigor à data, ao cruzar as suas estratégias com as dos outros planos e programas, pelo que as Grandes

Opções de 2022-2026 traduzem igualmente esse alinhamento.

Do mesmo modo, as Grandes Opções 2022-2026 estão articuladas com a Estratégia Portugal 2030

(referencial de definição e implementação do PT2030 e do PRR), aprovada em novembro de 202012, que tem

como visão «recuperar a economia, proteger o emprego, e fazer da próxima década um período de

recuperação e convergência de Portugal com a União Europeia, assegurando maior resiliência e coesão,

social e territorial», conforme o Quadro 3. Aponta também o caminho de desenvolvimento do país a médio e

longo prazo e assegura a coerência das reformas e dos investimentos a realizar através das suas quatro

agendas:

• As pessoas primeiro: um melhor equilíbrio demográfico, maior inclusão, menos desigualdade.

• Digitalização, inovação e qualificações como motores de desenvolvimento.

• Transição climática e sustentabilidade dos recursos.

• Um País competitivo externamente e coeso internamente.

12 Resolução do Conselho de Ministros n.º 98/2020, de 13 de novembro.

Página 12

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

12

Quadro 3 – Matriz de alinhamento das Grandes Opções 2022-2026 com a Estratégia Portugal 2030

Analogamente, as estratégias definidas nas Grandes Opções 2022-2026 estão alinhadas com o PRR como

instrumento decisivo, em termos de reformas e investimentos em políticas públicas do país, pelo que se

apresentam no Quadro 4, as Grandes Opções de política económica, social e territorial e as suas

complementaridades com as componentes do PRR.

Agenda temática 1 Agenda temática 2 Agenda temática 3 Agenda temática 4

As pessoas primeiro:

um melhor equilíbrio

demográfico, maior

inclusão, menos

desigualdade

Digitalização,

inovação e

qualificações como

motores do

desenvolvimento

Transição climática e

sustentabilidade dos

recursos

Um País competitivo

externamente e coeso

internamente

Recuperação e

convergência • • • •Resposta ao aumento dos

preços ••• • •• •Qualidade dos serviços

públicos ••• ••Serviço Nacional de Saúde •••Pacto social para a

educação •• •••Qualidade da democracia •• ••Funções de soberania •Transição energética •••Mobilidade sustentável ••• ••Economia circular •••Valorizar o território ••• •••Natalidade •••Emprego ••• •• •Habitação ••• •Migrações •••Envelhecimento e qualidade

de vida •••Igualdade de género e

combate às discriminações •••Rendimentos e justiça fiscal •••Erradicação da pobreza ••• ••Educação ••• •••Coesão territorial • •••Economia 4.0 ••• • •Competências digitais ••• •Cultura ••• •Valorização das atividades

e proteção do consumidor • •••••• - contributo direto muito relevante; •• - contributo direto relevante;

• - contributo indireto

Estratégia Portugal 2030

Gra

nd

es O

pçõ

es

Boa governação

Alterações

climáticas e

transição climática

Demografia

Desigualdades

Sociedade digital,

da criatividade e

da inovação

Página 13

10 DE OUTUBRO DE 2022

13

Quadro 4 – Matriz de alinhamento das Grandes Opções 2022-2026 com o PRR

O PRR inclui um vasto conjunto de reformas e investimentos que se reforçam entre si e contribuem para

enfrentar de forma eficaz os desafios económicos e sociais subjacentes às recomendações específicas por

país dirigidas a Portugal pelo Conselho da UE no âmbito do Semestre Europeu, tanto em 2019 como em 2020.

As Grandes Opções 2022-2026 estão também em linha com a Resolução «Transformar o nosso mundo: a

Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável», adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 25

de setembro de 2015.

Mantêm de igual modo o compromisso da UE com a sustentabilidade, desde a integração em 2020, no

ciclo do Semestre Europeu, dos dezassete Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda

2030, da ONU que orientam a coordenação das políticas económicas, socais e ambientais, para enfrentar

problemas como a pobreza, a fome, o desemprego, a migração de populações, as alterações climáticas e as

ameaças à segurança.

As opções de política económica, social e territorial estão alinhadas com os ODS, tal como representado na

matriz do

Quadro 5. Concretizam também, as prioridades estratégicas definidas por Portugal, na adoção dos ODS,

educação de qualidade; igualdade de género; indústria, inovação e infraestruturas; redução das

desigualdades; ação climática; e proteção da vida marinha; respetivamente os ODS, números 4, 5, 9, 10, 13 e

14, do seguinte modo:

ResiliênciaTransição

ClimáticaTransição Digital

Recuperação e

convergência ••• •••Resposta ao aumento dos

preços ••• ••Qualidade dos serviços

públicos • •••Serviço Nacional de Saúde •••Pacto social para a

educação •• •••Qualidade da democracia • •Funções de soberania • • •••Transição energética •• ••• Mobilidade sustentável ••• Economia circular • •• Valorizar o território ••• ••• •Natalidade •• Emprego ••Habitação ••• • Migrações •• •Envelhecimento e qualidade

de vida ••• Igualdade de género e

combate às discriminações ••• Rendimentos e justiça fiscal • Erradicação da pobreza ••• Educação •• •••Coesão territorial ••• Economia 4.0 ••• •• •••Competências digitais ••• ••Cultura ••• Valorização das atividades e

proteção do consumidor •• ••

••• - contributo direto muito relevante; •• - contributo direto relevante; • - contributo indireto

Plano de Recuperação e Resiliência

Gra

nd

es

Op

çõ

es

Boa governação

Alterações

climáticas e

transição climática

Demografia

Desigualdades

Sociedade digital,

da criatividade e

da inovação

Página 14

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

14

• ODS 4, educação de qualidade – Portugal atribui uma importância central à educação, formação e

qualificação, ao longo da vida, procurando inverter os atrasos e as exclusões com impactos diretos no

bem-estar das pessoas, no desempenho económico, no combate à pobreza, na promoção da

igualdade, da coesão social, da cidadania e do melhor ambiente.

• ODS 5, igualdade de género – Um dos princípios da Constituição da República Portuguesa e

estruturante do Estado de direito democrático é a não discriminação em função do sexo ou da

orientação sexual, sendo, por isso, fundamental para o Estado promover a igualdade entre mulheres e

homens.

• ODS 9, indústria, inovação e infraestruturas – Portugal encontra-se empenhado no crescimento

económico, no desenvolvimento social e na adaptação e mitigação das alterações climáticas através

do investimento em infraestruturas adequadas, numa indústria moderna, empreendedora e

sustentável, no progresso tecnológico e na digitalização da economia.

• ODS 10, reduzir as desigualdades – O princípio da coesão económica, social e territorial é

reconhecido pelo país como o novo paradigma de desenvolvimento, que procura combater as

desigualdades socioeconómicas e as disparidades regionais, com base na promoção da justiça social.

• ODS 13, ação climática – A implementação dos compromissos do Estado na redução das emissões

de gases com efeito de estufa, no aumento das energias renováveis, na melhoria da eficiência

energética e no reforço da capacidade das interligações energéticas é traduzido no seu envolvimento

direto e na coordenação das medidas ao nível do setor privado e da sociedade civil.

• ODS 14, proteger a vida marinha – Portugal como maior Estado costeiro da União Europeia e

assumindo a sua centralidade na bacia do Atlântico, papel de relevo e de dimensão internacional na

sustentabilidade e governança dos oceanos, considera a importância do mar do ponto de vista da sua

história, geografia e identidade, apoiando os esforços da ONU, na promoção de uma mobilização

global para a proteção dos oceanos e para a exploração sustentável dos seus recursos.

Quadro 5– Matriz de alinhamento das Grandes Opções 2022-2026 com os objetivos do desenvolvimento sustentável

da ONU

Página 15

10 DE OUTUBRO DE 2022

15

A Figura 2 reporta o desempenho de Portugal em relação aos ODS, tendo em conta as quatro dimensões

do conceito de sustentabilidade competitiva: transição ecológica, equidade, transição digital e produtividade, e

estabilidade macroeconómica.

No que diz respeito à transição ecológica13 Portugal encontra-se numa posição melhor do que a média da

UE nas emissões médias de dióxido de carbono (CO2) no âmbito do ODS 9 (indústria, inovação e

infraestruturas). Ao nível das energias renováveis (ODS 7), posiciona-se como um dos que mais aposta neste

objetivo (34% em 2020 face à média da UE de 22,1%) ocupando o quinto lugar entre os Estados-Membros da

UE com maior quota de energia proveniente de fontes renováveis, tendo ultrapassado a meta relativa à

promoção da utilização de energia de fontes renováveis estabelecida pelo Parlamento e Conselho Europeus

para o conjunto dos países da UE (31%, que à partida era das metas mais altas entre os Estados-Membros da

UE)14. Na reciclagem de biorresíduos Portugal (70 kg/capita), encontrava-se abaixo da média europeia (90

kg/capita), mas em 2017 a taxa de reciclagem do lixo eletrónico (43,5%) já foi superior à do conjunto da UE

(39,5%).

A nível da equidade Portugal assinalou alguns progressos relativamente ao ODS 1, erradicar a pobreza,

em 2021. É de registar que foi aprovada e está a ser implementada a Estratégia Nacional de Combate à

Pobreza (ENCP)15, que visa reduzir de forma expressiva a incidência da pobreza, através de seis eixos

estratégicos: reduzir a pobreza nas crianças, jovens e nas suas famílias; promover a integração plena dos

jovens adultos na sociedade; potenciar o emprego e a qualificação; reforçar as políticas públicas de inclusão

social dos grupos mais desfavorecidos; assegurar a coesão territorial e o desenvolvimento local e fazer do

combate à pobreza um desígnio nacional. Concorrendo também para o objetivo de integração plena dos

jovens na sociedade, o recém-aprovado II Plano Nacional para a Juventude 2022-2024 garantirá a coerência,

13 Fonte dos dados – EUROSTAT https://ec.europa.eu/eurostat/web/sdi/indicators 14 Anexo A da Diretiva (UE) 2018/2001. 15Resolução do Conselho de Ministros n.º 184/2021

Página 16

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

16

complementaridade e articulação das políticas setoriais com impacto nas jovens gerações.

Na transição digital e produtividade, a componente dos investimentos no PIB tem recuperado e as

despesas nacionais brutas em investigação e desenvolvimento (I&D) atingiram um máximo histórico em 2020

de 1,62% do PIB, embora ainda aquém da média observada na UE.

Para a dimensão da estabilidade macroeconómica, relativa ao ODS 16, no sentido de garantir a paz e a

segurança pessoal, Portugal registou progressos significativos. Além disso a percentagem da população que

confia nas instituições europeias tem vindo a aumentar de forma consistente desde 2013.

Página 17

10 DE OUTUBRO DE 2022

17

Página 18

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

18

Figura 2 – Comparação do desempenho ao nível dos objetivos do desenvolvimento sustentável, de Portugal e da UE (2010-2020)

O sucesso das estratégias das Grandes Opções 2022-2026 é potenciado pela própria orgânica do

Governo, que é coincidente com a transversalidade das opções de política económica, social e territorial, dada

a relevância que a sua implementação, monitorização e avaliação terão ao nível da atividade governativa na

presente legislatura, e também, da capacidade de envolvimento e mobilização dos atores relevantes exteriores

aos limites estritos da administração pública, quer como prescritores ou promotores das políticas públicas,

quer como seus protagonistas. Neste domínio, irá continuar a privilegiar-se o diálogo social enquanto marca de

governação, dando continuidade ao diálogo com o Conselho Económico e Social (CES) e com as

organizações nele representadas, cuja centralidade é espelhada nas soluções de compromisso com os

parceiros sociais no âmbito da Comissão Permanente de Concertação Social (CPCS), como o Acordo de

Formação Profissional e Qualificação, a Agenda do Trabalho Digno e o Acordo de Médio Prazo de Melhoria

dos Rendimentos, dos Salários e da Competitividade.

No mesmo sentido, estas opções de política económica, social e territorial pretendem melhorar a estrutura

do relatório anexo à Proposta de Lei das Grandes Opções, sistematizar e hierarquizar as medidas

apresentadas e avançar com um exercício de quantificação plurianual das medidas de política associadas a

cada um dos desafios estratégicos e transversal e às respetivas áreas de política.

2. Portugal no mundo

Portugal tem mostrado e consolidado a sua imagem de um país aberto ao mundo, com um contributo ativo

para as agendas europeia e multilateral, assumindo encargos e responsabilidades em diferentes organizações

Página 19

10 DE OUTUBRO DE 2022

19

e fóruns internacionais.

A política externa portuguesa está assim identificada com:

• A integração europeia.

• O espaço atlântico.

• A internacionalização da economia.

• As comunidades portuguesas residentes no estrangeiro.

• O multilateralismo.

• A CPLP, a cooperação, e a promoção da Língua Portuguesa.

Portugal e os portugueses estão presentes nos vários quadrantes mundiais, sendo o País um construtor de

pontes entre atores, e facilitador de contactos. Atente-se à participação ativa do País no sistema da

Organização das Nações Unidas, ou como, na União Europeia, Portugal participou ativamente na negociação

da decisão coletiva para combater os efeitos negativos da COVID-19, designadamente o Plano de

Recuperação – NextGenerationEU/Mecanismo de Recuperação e Resiliência, além do Quadro Financeiro

Plurianual.

Portugal está na linha da frente das agendas europeias mais relevantes, do aprofundamento da União

Económica e Monetária ao acolhimento de refugiados, da transição energética à defesa do Estado de direito,

da Agenda 2030/Objetivos do Desenvolvimento Sustentável à Agenda do Clima e ao Pacto Global para as

Migrações.

O contexto europeu e mundial é atualmente marcado pela agressão da Rússia à Ucrânia, com reflexos

diretos no reforço do sistema de alianças de segurança de que Portugal faz parte: A OTAN e a própria União

Europeia. Nesta conjuntura, a participação de Portugal no plano geoestratégico torna-se mais saliente: Seja no

reforço da estrutura de defesa e dissuasão da aliança atlântica, como na implementação da nova Bússola

Estratégica para a Política Comum de Segurança e Defesa; seja no plano político-diplomático com as sanções

em curso contra a Rússia, como na assistência material direta à Ucrânia; seja no plano humanitário,

acolhendo os refugiados ucranianos e apoiando os países vizinhos para onde têm ido o maior número de

pessoas, como no plano económico, através da adoção das medidas para diminuir a dependência energética

dos países europeus.

Perspetiva-se, neste contexto de crises sanitárias e de segurança, uma reformulação das linhas de ação do

que tem sido a globalização económica das últimas décadas, com uma inflexão na direção da

desglobalização, do nearshoring, e de uma maior territorialização no que toca ao abastecimento de energia,

logística, e cadeias de produção e de valor, desenvolvimentos face aos quais Portugal não deixará de procurar

aproveitar as suas vantagens comparativas.

As prioridades da política externa portuguesa para o período 2022-2026 vão assim pautar-se pela

continuidade de valores e objetivos estratégicos, na nova circunstância trazida pela guerra no continente

europeu.

2.1 Construção europeia

Portugal continuará a participar ativamente na construção europeia, promovendo uma agenda reformista,

defendendo os valores europeus e o Estado de direito. Acompanhará as diferentes iniciativas dos atores

estatais e da sociedade civil da governança europeia, dando seguimento aos resultados da Conferência sobre

o Futuro da Europa, e à implementação das medidas destinadas à recuperação e reforço da resiliência das

economias e sociedades europeias, promovendo a convergência e reforçando o papel da Europa no mundo.

Participará na resposta europeia às consequências estratégicas e económicas da guerra na Ucrânia,

defendendo a concertação de esforços para que essa resposta seja robusta, e reforçando a autonomia

europeia no acesso a bens básicos, desde logo, a fontes de energia, nesse contexto fazendo valer a

importância do País e a necessidade de reforçar as interligações entre Portugal, Espanha, e o resto da

Europa.

Portugal continuará a apoiar as presidências rotativas do Conselho da União Europeia, tendo como

prioridades a Europa social, verde, digital e global, no processo de recuperação da crise causada pela

Página 20

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

20

pandemia da COVID-19, e das respostas necessárias aos efeitos da guerra na Ucrânia. O Governo português

pugnará pelo direito da Ucrânia à sua defesa em face da agressão da Rússia, dando ao mesmo tempo

atenção ao acolhimento das populações deslocadas, à integridade do mercado único europeu em face dos

novos desafios, e ao restabelecimento das liberdades e de uma solidariedade internacional efetiva.

O Governo continuará a apoiar e a contribuir ativamente para a implementação e execução, ao nível

europeu e nacional, dos programas e instrumentos do novo Quadro Financeiro Plurianual (QFP) e do Plano de

Recuperação da UE – Next Generation EU, incluindo o Programa de Recuperação e Resiliência (PRR), e o

Acordo de Parceria 2021-2027. O Governo continuará igualmente a defender os interesses nacionais nas

iniciativas europeias atuais e futuras destinadas ao reforço dos aspetos económicos e sociais da UE. Refira-se

aqui a importância da monitorização da concretização dos compromissos nacionais e europeus no âmbito do

Pilar Europeu dos Direitos Sociais.

A participação ativa no processo de construção europeia constituirá assim uma prioridade. Para tal

concorrerá a projeção de uma visão mais portuguesa nos diversos patamares das estruturas das instituições

europeias, através da promoção das carreiras europeias junto dos portugueses. Neste contexto, Portugal

trabalhará com a Comissão Europeia no desenho e implementação de um plano nacional de ação para fazer

face à sub-representação portuguesa na administração pública europeia.

Terá igualmente destaque o contributo para o debate sobre o futuro da Europa e da União Económica e

Monetária, nomeadamente, no que se refere à revisão em curso das regras orçamentais da governação

económica da UE. A conclusão da União Bancária, o reforço da União do Mercado de Capitais, a digitalização,

bem como a preocupação com uma maior sustentabilidade dos mercados financeiros, e as iniciativas para o

combate à evasão fiscal, são outros temas na agenda. Neste contexto, serão também promovidos o

aprofundamento do mercado interno, e as PME como elemento central de uma nova política industrial

europeia que garanta maior autonomia estratégica e recupere as cadeias de valor europeias.

O Governo dará também continuidade à implementação do Pilar Europeu dos Direitos Sociais, e do

respetivo plano de ação, apresentado pela Comissão Europeia em 2021, no sentido de desenvolver um novo

contrato social para a Europa. No âmbito da monitorização dos progressos de política deste Pilar, referir o

anúncio de um novo Fórum Bianual de Política Social, a realizar no Porto, a partir de 2023, consequência do

impulso dado pela Cimeira Social de 2021, que contou com a presença dos principais líderes europeus,

realizada na mesma cidade durante a última Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia.

As outras prioridades da agenda europeia resultantes de desafios comuns como a segurança, as

alterações climáticas, as migrações, a transição para uma economia digital, a defesa do Estado de direito, o

combate a ameaças híbridas e a luta contra os populismos e os nacionalismos xenófobos, são áreas para as

quais Portugal dirigirá a sua atenção e para as quais dará um importante contributo. A construção da política

externa e de segurança comum continuará a contar com a participação empenhada de Portugal, que a

procurará desenvolver num contexto tão multilateral quanto possível, na senda da promoção do Estado de

direito, da democracia, e da coabitação pacífica entre os povos.

Destaque-se ainda, no contexto da agressão militar da Rússia à Ucrânia, o empenho de Portugal nas

medidas de aprofundamento das interligações energéticas, no reforço da produção, armazenamento,

transporte e consumo de energias de fontes renováveis, como a energia eólica, solar e os gases renováveis.

Dar-se-á assim igualmente prioridade às potencialidades da produção de hidrogénio verde, e seus derivados

incluindo amónia, metanol verdes e combustíveis sintéticos, bem como à proteção dos oceanos, à otimização

do potencial do mar, e à promoção da economia circular. Acompanhar-se-ão as linhas de ação orientadoras do

programa europeu de transição energética REPowerEU, e prosseguir-se-á a implementação da estratégia da

União Europeia para alcançar a neutralidade carbónica em 2050.

O choque desencadeado pela invasão russa da Ucrânia, o fim do acesso a um mercado que nas últimas

décadas foi dos fornecedores principais de várias matérias-primas e energia à Europa e a tragédia humanitária

em curso requerem uma resposta à altura do momento. Essa resposta, incluindo um acelerar das transições

energética e digital, só será exequível mantendo a coesão no espaço europeu, com recurso a um reforço

substancial das políticas públicas e do seu financiamento, a uma solidariedade acrescida ao nível europeu e

adoção de medidas de emergência, tendo em conta especificidades nacionais e a necessidade de resposta

aos setores mais afetados.

Num contexto europeu de maior insegurança, decorrente do conflito armado em curso na Ucrânia, e face à

Página 21

10 DE OUTUBRO DE 2022

21

viragem geoestratégica e à nova ordem de segurança europeia que ela implica, Portugal deve atuar

diligentemente para reforçar a política comum de segurança e defesa da UE, nomeadamente, através do

Mecanismo Europeu de Apoio à Paz, o qual se destina a financiar os custos comuns das missões militares da

UE, bem como a apoiar países parceiros, através de medidas de assistência que se traduzem, entre outras, no

fornecimento de equipamento militar.

2.2 Internacionalização da economia

Portugal pugnará sempre por uma Europa como uma entidade aberta ao mundo, ao comércio internacional

e às agendas e desafios multilaterais. O Governo português continuará também a prestar especial atenção

aos desenvolvimentos da relação da União Europeia com o Reino Unido, que se deseja tão equilibrada,

próxima e profunda quanto possível, e acautelará, neste quadro, o interesse nacional. Serão igualmente

salvaguardados os interesses nacionais no contexto dos acordos comerciais da União Europeia com países e

regiões terceiros, com destaque para os acordos e negociações com o México e o Mercosul, o Chile, a

Austrália, a Nova Zelândia, a China e a Índia.

A internacionalização da economia portuguesa constitui-se atualmente como uma relevante linha de ação

da política externa. A internacionalização da economia portuguesa, na tripla dimensão das exportações, do

investimento no exterior, e da captação de investimento direto estrangeiro, incluindo o investimento da

diáspora portuguesa, em particular nos territórios do interior e de baixa densidade ou no aproveitamento das

potencialidades do mar português através da prioridade atribuída à economia azul sustentável, é fundamental

no processo de recuperação e desenvolvimento da economia portuguesa no contexto europeu e mundial. Por

isso, assumirá especial importância a implementação do Programa Internacionalizar 2030, que surge enquanto

continuação do Programa Internacionalizar 2017-2019, com o triplo objetivo de alargar e consolidar a base de

empresas exportadoras, diversificar os mercados de exportação e atingir um volume de exportações

correspondente a 53% do PIB até 2030. Assume particular relevância a promoção da imagem do País, através

do desenvolvimento da Marca Portugal e da implementação de medidas que promovam a imagem dos

produtos e serviços portugueses no estrangeiro bem como a continuação do trabalho de visibilidade das

vantagens e competitividade de Portugal e da sua perceção, nomeadamente em grandes eventos

internacionais como a Expo 2025 Osaka Kansai.

Continuará também a ação do Governo no quadro do Programa Nacional de Apoio ao Investimento da

Diáspora (PNAID). Direcionado a micro, pequenas e médias empresas, utilizando a diáspora como plataforma

para alavancar as exportações e a internacionalização de empresas portuguesas e promover o investimento

da diáspora em Portugal, este programa tem como objetivo contribuir para o crescimento económico e a

coesão territorial do País. Concomitantemente, será indispensável proceder à modernização dos sistemas de

incentivos ao investimento estrangeiro, tirando partido, quer das oportunidades do novo QFP, quer do PRR, e

da revisão dos estímulos de natureza fiscal. Importa ainda melhorar a eficácia dos incentivos não financeiros à

localização do investimento em Portugal.

Assume também relevância, neste domínio, o aproveitamento da rede diplomática e consular, a

consolidação da rede externa da AICEP e a modernização dos seus serviços, designadamente na área da

transição digital, no apoio à capacitação para a internacionalização e no apoio às pequenas e médias

empresas, apostando nos mercados estratégicos de emissão de investimento estrangeiro e no aproveitamento

das oportunidades geradas pelos novos instrumentos de política comercial da União Europeia, em particular

nos chamados mercados de proximidade, numa lógica de nearshoring e inserção das empresas portuguesas

em cadeias de valor europeias associadas aos planos de reindustrialização da União Europeia.

2.3 Relações bilaterais, comunidades e rede diplomática

No que se refere às relações bilaterais, o Governo português irá procurar relações diversificadas, atentas

às lógicas de aliança, vizinhança e parceria, e às oportunidades para trocas económicas, consultas recíprocas,

e intercâmbio cultural.

Será dada prioridade ao fortalecimento das relações com os países mais próximos, com Espanha,

acompanhando os resultados das cimeiras bilaterais anuais e o desenvolvimento da Estratégia Comum de

Página 22

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

22

Desenvolvimento Transfronteiriço, bem como com o Reino Unido, considerando o contexto pós-Brexit, e

também com França e os Estados Unidos. É também prioritário o relacionamento com os países da fachada

atlântica europeia e os países do Mediterrâneo, onde o espaço marítimo nacional desempenha um forte elo de

ligação e oportunidades face ao resto do mundo. Serão ainda reforçadas as relações com cada um dos países

de língua portuguesa, em África, na América Latina e na Ásia, atendendo aos laços políticos que unem

Portugal a cada um desses países. De igual modo, será prosseguido o desenvolvimento das relações com os

países da vizinhança sul, no Magrebe e na África Subsariana; com os países latino-americanos, com particular

destaque para os do Mercosul e os da Aliança para o Pacífico, e com países de todas as regiões do mundo,

com natural destaque para o Canadá, a China, Índia, Japão e República da Coreia, dados os avanços

verificados, quer no plano bilateral, quer em virtude de acordos celebrados ao nível europeu, consolidando e

expandindo o nível de relacionamento político e económico.

Para tal, concorrerá o reforço da rede diplomática e consular, dando continuidade ao investimento nos

recursos humanos e meios tecnológicos, bem como a abertura de novas embaixadas e postos consulares na

Europa e fora da Europa, promovendo a adequação desta rede às dinâmicas internacionais, objetivos da

política externa de Portugal e às necessidades das comunidades da diáspora.

O Governo irá também continuar o investimento no reforço dos vínculos entre Portugal e as suas

comunidades da diáspora. Neste sentido serão acompanhadas as circunstâncias e condições de vida das

comunidades de portugueses no estrangeiro, sinalizando aquelas que enfrentam maiores dificuldades ou risco.

Pretende-se a criação de um plano de ação cultural específico para as comunidades portuguesas, e reforçar o

apoio ao associativismo, aos projetos de educação, cultura, desporto, apoio social e combate à violência de

género.

Ao mesmo tempo, será dada prioridade à implementação do novo modelo de gestão consular, nos seus

diferentes domínios: Garantir a simplificação e desmaterialização de atos e procedimentos consulares e

colocar a tecnologia ao serviço da ação consular, acompanhado de um reforço do apoio informativo ao utente,

a facilitação do processamento de vistos e a consolidação dos mecanismos de apoio a situações de

emergência. Tal permitirá dar uma resposta mais rápida e eficaz, facilitando o acesso aos consulados através

de uma plataforma digital e promovendo uma maior proximidade dos seus cidadãos no estrangeiro ao Estado

português.

O novo modelo de gestão consular está aliás inserido numa estratégia mais ampla de modernização

tecnológica dos serviços do Ministério dos Negócios Estrangeiros (incluindo as entidades sob sua tutela:

Camões, IP; AICEP, EPE; SOFID, SA; CIEJD), sendo um dos investimentos incluídos no PRR (Componente

19 Administração Pública – Digitalização, Interoperabilidade e Cibersegurança). Visa-se assim melhorar as

condições dos cidadãos nacionais residentes no estrangeiro face aos serviços consulares públicos. Irá

também promover-se o Programa Regressar.

Neste contexto, serão ainda prosseguidos os investimentos no reforço das condições de participação cívica

e política dos portugueses residentes no estrangeiro, na sequência, nomeadamente, do alargamento do

recenseamento automático, concretamente no que diz respeito à avaliação, em conjunto com a Administração

Eleitoral, das condições de exercício efetivo e sem falhas do direito de voto, com vista à introdução das

alterações indispensáveis à sua melhoria.

2.4 Organizações e agendas internacionais

O Governo garantirá a continuação de uma participação ativa de Portugal no sistema das Nações Unidas,

designadamente na AGNU, no Conselho Económico e Social (ECOSOC), na UNESCO, nas missões de paz e

segurança, na defesa e promoção dos direitos humanos, apoiando o mandato do Secretário-Geral das Nações

Unidas, no seu papel de liderança, e prosseguindo a campanha para a eleição de Portugal para o Conselho de

Segurança, no biénio de 2027-2028.

A intervenção nacional nas diversas agendas multilaterais, como a Agenda Climática COP – Conferências

das Partes Sobre Alterações Climáticas, a Agenda 2030 dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, ou

ainda o Pacto das Migrações no âmbito da Organização Internacional para as Migrações (OIM), será

reforçada, quer no sentido de concretizar funções assumidas, como a realização em Lisboa, entre 27 de junho

e 1 de julho de 2022 da Segunda Conferência Mundial dos Oceanos, quer assumindo novas

Página 23

10 DE OUTUBRO DE 2022

23

responsabilidades, em prol da sustentabilidade dos oceanos, procurando impulsionar soluções inovadoras

baseadas na ciência. Destaque-se ainda a coordenação com outros países, no quadro da OIM.

Adicionalmente, Portugal continuará a desenvolver a sua participação nas diversas instâncias multilaterais,

desde logo a OTAN. Dentro das organizações de carácter regional, será dada também especial atenção ao

Conselho da Europa, e à Organização para a Segurança e Cooperação Europeia (OSCE), incluindo aqui os

domínios político-militar e dos direitos humanos, em particular a ação da representante para a liberdade dos

media. Destaque ainda para as organizações do espaço ibero-americano, bem como para a participação em

outros fóruns de diálogo regionais, tirando partido da capacidade de interlocução nacional com diferentes

espaços regionais, com especial relevo para as iniciativas em torno do Mediterrâneo (União para o

Mediterrâneo, Diálogo 5+5 e Cimeira Duas Margens).

Portugal deve assegurar também os compromissos assumidos com os seus aliados e parceiros,

nomeadamente, através da eventual projeção de forças nacionais destacadas para o flanco leste da OTAN, da

Very High Readiness Joint Task Force (VJTF) da aliança, e no apoio aos esforços de guerra da Ucrânia.

Dando relevância ao espaço atlântico em que se insere, Portugal prosseguirá a concretização do centro do

atlântico, uma plataforma de diálogo político, reflexão e capacitação no domínio da segurança e defesa, e de

valorização da Base das Lajes e do arquipélago dos Açores. Após a assinatura de uma declaração política

conjunta, em maio de 2021, por 16 estados atlânticos da Europa, África e américas, o centro do atlântico

continua a expandir o número de Estados participantes e de organizações parceiras de todo o atlântico,

afirmando esta iniciativa como um dos principais contributos para o reforço da cooperação neste espaço

estratégico para a segurança de Portugal e dos seus parceiros.

Na execução das políticas de defesa nacional, permanecerá como missão primordial a prossecução dos

objetivos vitais para a segurança e defesa de Portugal enquanto Estado democrático e euro-atlântico, para a

segurança e defesa dos portugueses onde quer que estejam e para a segurança regional e global em

colaboração com os aliados e parceiros de Portugal, bem como a gestão eficiente, rigorosa e otimizada dos

recursos disponíveis.

2.5 CPLP, cooperação e Língua Portuguesa

A valorização da CPLP no concerto das organizações internacionais, como comunidade de língua,

cidadania, cooperação e no âmbito do reforço da cooperação económica e empresarial, e dos seus pilares

constitutivos, (a concertação político-diplomática, a projeção da língua portuguesa e a cooperação para o

desenvolvimento), continuará a constituir uma prioridade para Portugal.

Assim, Portugal prosseguirá uma estreita colaboração com as presidências em exercício da CPLP, com o

Secretariado Executivo e com os Estados-Membros da CPLP. Neste âmbito, destaca-se a assinatura do

Acordo sobre Livre Circulação e Mobilidade na CPLP na Cimeira de Luanda, a 17 de julho de 2021 durante a

Presidência pro tempore de Angola. Procurar-se-á promover a ratificação do acordo por todos os países da

organização. A aprovação das alterações ao regime jurídico nacional permitirá avançar na negociação de

instrumentos adicionais de parceria com os Estados-Membros com vista à sua implementação.

A CPLP verá ainda o seu papel reforçado no que se refere à dimensão de promoção da língua e das

culturas de língua portuguesa, nomeadamente, através do apoio à atividade do Instituto Internacional da

Língua Portuguesa e às celebrações do Dia Mundial da Língua Portuguesa. No que se refere à dinamização

da dimensão económica da CPLP, foi ratificada a Agenda Estratégica de Consolidação da Cooperação

Económica da CPLP 2022-2027, tendo sido constituído o Fórum das Agências de Promoção do Investimento e

Comércio Externo da CPLP, tendo em vista estimular a cooperação entre empresas e organizações

profissionais dos diferentes Estados-Membros, criando renovadas condições para o investimento e as trocas

comerciais.

O Governo vai continuar o objetivo estratégico de implementação do novo quadro da cooperação

portuguesa para o desenvolvimento, mantendo o foco principal na cooperação com os países africanos de

Língua Portuguesa e Timor-Leste, mas alargando a sua geografia e parcerias e diversificando as modalidades

de financiamento, numa ótica de reforço da coordenação e de melhoria da eficiência dos programas. A sua

ação estará alinhada com a Agenda 2030/Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, as resoluções das

reuniões da COP – Conferências Sobre as Alterações Climáticas, e a Agenda de Ação de Adis Abeba.

Página 24

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

24

Destaque-se a elaboração do novo Conceito Estratégico de Cooperação 2021-2030, e a adoção da

estratégia para o envolvimento dos atores do setor privado nos esforços de cooperação, numa lógica de

complementaridade, promovendo e reforçando dessa forma os mecanismos de financiamento. Portugal

continuará a trabalhar com as instituições financeiras internacionais, com vista à participação em mecanismos

europeus e internacionais de financiamento do desenvolvimento. Em particular, o Governo irá centrar-se na

operacionalização do Compacto para o Financiamento do Desenvolvimento dos PALOP, celebrado entre

Portugal, o Banco Africano de Desenvolvimento e aqueles países, instrumento que visa a promoção do

investimento português nos PALOP e o desenvolvimento do respetivo setor privado. Aprofundar-se-á ainda a

parceria estratégica com os países de língua oficial portuguesa, concretizada nos programas estratégicos de

cooperação, sem deixar de explorar de forma consequente e pró-ativa possibilidades de cooperação com

outros países.

O Governo português contribuirá também, nesta fase, para a rápida ratificação do Acordo pós-Cotonu,

entre a União Europeia e os 79 países da Organização dos Estados de África, Caraíbas e Pacifico, assinado a

15 de abril de 2021, que visa reforçar a capacidade conjunta para responder aos desafios mundiais, através da

cooperação para o desenvolvimento, da cooperação económica e comercial e da relação política. Aponta-se

igualmente como prioritário tirar pleno partido da atenção geopolítica da atual Comissão Europeia para com o

continente africano e do significativo reforço de recursos para a ação externa da União Europeia, prevista para

o próximo QFP, no âmbito da iniciativa Europa Global – Instrumento de Vizinhança, Desenvolvimento e

Cooperação Internacional.

Irão por isso prosseguir os esforços no sentido de garantir um papel cada vez mais ativo e presente da

cooperação portuguesa na gestão e implementação de projetos de cooperação da UE em países parceiros,

assim como por alargar progressivamente a geografia da nossa cooperação, designadamente em África e na

América Latina. Na sua ação, será dada centralidade ao desenvolvimento humano, e à atuação nas áreas da

educação e formação, nas áreas sociais, incluindo a saúde, e na governação, garantindo a promoção do papel

das organizações da sociedade civil e das autarquias na conceção e execução de projetos.

A projeção global do português enquanto idioma multifacetado, dinâmico, e de inserção pluricontinental do

País é essencial à afirmação de Portugal no mundo. A promoção da Língua Portuguesa como veículo de

comunicação internacional, na diplomacia, na ciência e nos negócios, a manutenção de níveis de exigência no

ensino da língua em todo o mundo, a divulgação da cultura portuguesa, em particular, e lusófona, em geral,

conduzem à consolidação do estatuto do português nos países do globo.

Continuará, assim, o investimento no aumento da presença do português como língua curricular, através do

estabelecimento de projetos de cooperação em países de todos os continentes, consolidando e

desenvolvendo a rede de ensino de português no estrangeiro (EPE) nos currículos escolares do ensino básico

e secundário (nas diversas abordagens) e do ensino superior. Adicionalmente, será consolidada a presença do

português através de cursos em estudos portugueses em instituições de ensino superior (preferencialmente

conferentes de grau), na Europa, e reforçados nas Américas, África, Ásia e Oceânia. Desenvolver-se-ão,

paralelamente, os processos de reforço do ensino digital, de certificação de aprendizagens e de credenciação

do português nos sistemas de acesso ao ensino superior locais.

Reforçar-se-á igualmente a colaboração da área governativa dos negócios estrangeiros com a da

educação e com a da ciência, tecnologia e ensino superior, tendo como objetivo a promoção conjunta das

instituições de ensino superior portuguesas, e o ensino em escolas portuguesas no estrangeiro. Neste mesmo

sentido, acompanhando os desafios das sociedades do conhecimento e da informação, será conferida

prioridade ao investimento em programas e ferramentas que reforcem o papel e o estatuto da Língua

Portuguesa como língua de ciência e língua digital. Ao mesmo tempo, no âmbito da defesa do plurilinguismo e

da afirmação da Língua Portuguesa como língua de comunicação internacional, será dada sequência ao

trabalho de consolidação da sua presença em organismos internacionais multilaterais, como a Organização

dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, Ciência e Cultura, atendendo designadamente ao seu projeto

de escolas bilingues e interculturais de fronteira.

Dada a importância crescente da Língua Portuguesa na área dos negócios e a importância das parcerias

com o tecido empresarial na formação em Língua Portuguesa, continuará a dinamizar-se o Programa Empresa

Promotora da Língua Portuguesa.

No que se refere à promoção externa conjunta da língua e cultura portuguesas, será prosseguida a

Página 25

10 DE OUTUBRO DE 2022

25

coordenação entre as áreas governativas dos negócios estrangeiros e da cultura, no quadro dos planos anuais

de ação cultural externa, em colaboração com a área governativa da educação, valorizando, em 2022, a

diplomacia cultural e as grandes celebrações, como o Quinto Centenário da Viagem de Circum-Navegação, a

Temporada Cruzada Portugal-França, as comemorações dos 200 anos da Independência do Brasil, e os 100

Anos da Travessia Aérea do Atlântico Sul. Será de referir igualmente o apoio à divulgação e circulação

internacional de artistas e criadores, em diversas áreas disciplinares, promovendo o intercâmbio, a formação e

a cooperação de redes internacionais.

Destaque-se ainda a promoção da literatura portuguesa, através da consolidação do programa de apoio à

tradução e edição de obras de autores de língua portuguesa (designadamente, LATE – Linha de Apoio à

Tradução e Edição e Linha de apoio à ilustração e BD portuguesas) e da participação em festivais literários e

feiras internacionais do livro, assim como a dinamização de prémios literários, designadamente o Prémio

Imprensa Nacional/Ferreira de Castro, um veículo de valorização de novos escritores das comunidades

portuguesas. Por fim, registe-se o lançamento de coleções de interesse para as comunidades portuguesas

também em versões desmaterializadas e versão audiolivro, visando salvaguardar aspetos de inclusão e

acesso à leitura em português, bem como o lançamento do catálogo de tradução de literatura portuguesa

«Gram Bem Querer».

3. Cenário macroeconómico

3.1 Hipóteses externas

A economia mundial regista elevados níveis de incerteza e volatilidade, encontrando-se fortemente

dependente de dois fatores: A persistência dos efeitos da pandemia de COVID-19 e das ruturas nas cadeias

de abastecimento global, e o prolongamento da guerra na Ucrânia, com os consequentes impactos nos

mercados internacionais de produtos energéticos e de matérias-primas.

Neste quadro, a generalidade das instituições e organismos internacionais tem procedido a sucessivas

revisões em baixa do crescimento económico mundial e em alta da taxa de inflação para o ano de 2023.

As previsões de setembro do BCE e da OCDE preveem um crescimento médio do PIB da área do euro de

0,9% e de 0,3%, respetivamente, para 2023. Consequentemente, a procura externa relevante para a economia

portuguesa, que em 2022 tem um crescimento estimado de 8,3%, deverá desacelerar em 2023 para 3%.

De acordo com as expectativas implícitas nos mercados de futuros, o preço do petróleo deverá abrandar

em 2023, para 78 USD/bbl, comparado com valores previstos de 98 USD/bbl em 2022, ao que poderá

acrescer uma tendência de apreciação do dólar norte-americano face ao euro.

A política monetária deverá manter-se restritiva em 2023, prosseguindo a trajetória de normalização

iniciada em 2022, a fim de contrariar a subida da taxa de inflação e a depreciação do euro face ao dólar.

Assim, e considerando o mercado de futuros, as taxas de juro de curto prazo da área do euro deverão subir

para 2,9%, em média, em 2023 (previsto de 0,5%, em média, em 2022).

3.2 Cenário macroeconómico 2022 e 2023

Em 2023, prevê-se uma desaceleração da economia portuguesa, com um crescimento real de 1,3% face

ao crescimento estimado de 6,5% para 2022, mantendo-se a convergência face à área do euro (crescimento

de 3,1% e 0,9%, respetivamente, em 2022 e 2023) iniciada em 2017 e apenas interrompida em 2020.

O crescimento da economia portuguesa encontra-se fortemente condicionado pela evolução da conjuntura

internacional e da política monetária, mas, ainda assim, em 2022, deverá registar um contributo positivo

significativo da procura interna (4,4 pp), resultado do dinamismo do consumo privado e do investimento,

reforçado pelo contributo da procura externa líquida (2,2 pp), com as exportações a crescerem acima das

importações (18,1% e 12%, respetivamente).

Em 2023, o crescimento assentará num maior dinamismo do investimento (3,6%), com base na plena

implementação dos investimentos previstos no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), o que

permitirá amortecer, em parte, a desaceleração do consumo privado, de 5,4% em 2022 para 0,7% em 2023,

num contexto de estabilização da taxa de poupança em níveis inferiores à sua média histórica.

Página 26

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

26

Concomitantemente, prevê-se que as exportações de bens e serviços em 2023 cresçam apenas 3,7%,

devendo as importações crescer 4%, acima da evolução da procura global, dado serem afetadas pelo

conteúdo importado do investimento, o que resulta num contributo da procura externa líquida negativo (-0,3

pp).

Quadro 6 – Cenário macroeconómico 2022-2023 (%, pp)

Notas: e estimativa; p previsão.

Fontes: INE – Contas Nacionais; Ministério das Finanças. 2022 e 2023 (OE 2022, Ou22); 2024-26 (PE 22-26, Mar22).

Ao nível do mercado de trabalho, estima-se que o emprego cresça 1,9% e 0,4% em 2022 e 2023,

respetivamente, resultando numa diminuição da taxa de desemprego para 5,6% da população ativa em ambos

os anos.

No que concerne à inflação, medida pelo IHPC, estima-se um valor de 7,4% para 2022, devendo este

desacelerar para 4% em 2023, em resultado de uma amenização dos fatores externos subjacentes às

pressões inflacionistas, de uma contenção das pressões internas, e da inversão da política monetária.

Em termos de contas externas, a capacidade líquida de financiamento da economia face ao exterior deverá

melhorar de 2022 (0,3%) para 2023 (1,5%), o que resulta, por um lado, de uma melhoria do saldo da balança

corrente (de -1,3% para -1,1%), e, por outro lado, de uma melhoria significativa da balança de capital (de 1,6%

para 2,6%), decorrente da entrada substancial de fundos europeus referentes ao PRR.

2021 2022 e 2023 p

INE

PIB e componentes da despesa (taxa de crescimento real, %)

PIB 5,5 6,5 1,3

Consumo privado 4,7 5,4 0,7

Consumo públ ico 4,6 1,8 2,3

Investimento (FBCF) 8,7 2,9 3,6

Exportações de bens e serviços 13,5 18,1 3,7

Importações de bens e serviços 13,3 12,0 4,0

Contributos para o crescimento do PIB (p.p.)

Procura interna 5,7 4,4 1,6

Procura externa l íquida -0,3 2,2 -0,3

Evolução dos preços (taxa de variação, %)

Deflator do PIB 1,4 4,0 3,6

IHPC 0,9 7,4 4,0

Evolução do mercado de trabalho (taxa de variação, %)

Emprego (ótica de Contas Nacionais ) 1,9 1,9 0,4

Taxa de desemprego (% da população ativa) 6,6 5,6 5,6

Produtividade aparente do trabalho 3,5 4,5 0,9

Saldo das balanças corrente e de capital (em % do PIB)

Capacidade/necess idade l íquida de financiamento face ao exterior 0,5 0,3 1,5

Sa ldo da balança corrente -1,2 -1,3 -1,1

da qual: sa ldo da balança de bens e serviços -3,0 -2,8 -2,6

Sa ldo da balança de capita l 1,7 1,6 2,6

Ministério das Finanças -

OE 2023

Página 27

10 DE OUTUBRO DE 2022

27

4. Boa governação

A condução das políticas públicas será marcada pela necessidade de assegurar a qualidade da despesa

pública. A gestão orçamental deverá continuar a pautar-se por elevados níveis de exigência, essenciais no

cumprimento das metas traçadas. Para o sucesso da implementação das políticas públicas é imperativo

assegurar uma boa governação. Para fazer face a este desafio transversal identificam-se sete domínios de

intervenção prioritários:

• Recuperação e convergência.

• Resposta ao aumento dos preços

• Qualidade dos serviços públicos.

• Serviço Nacional de Saúde.

• Pacto social para a educação.

• Qualidade da democracia.

• Funções de soberania.

No período entre 2015 e 2019, antes do surgimento da pandemia, a mudança de políticas implementada

pelos anteriores Governos tornou possível a recuperação de rendimentos e um forte crescimento da economia

e do emprego. O Produto Interno Bruto português registou nesse período um crescimento de 11,5% em

volume16. Esta trajetória abriu o caminho para se conseguirem contas certas, equilibradas e sustentáveis, um

recuo da dívida pública de 131,2% em 2015 para cerca de 116,6% em 201917 e o reforço significativo da

sustentabilidade da segurança social. Adicionalmente, foi reconquistada uma reputação de credibilidade,

estabilidade e sustentabilidade, perante os parceiros nacionais e internacionais, ultrapassando os processos

de sanções e de défice excessivo e melhorando os ratings da República de forma significativa.

Em concordância com esta evolução, importa reforçar a credibilidade e a qualificação do Estado nas suas

funções de governação, quer nas funções de soberania, quer nas funções de prestação de serviços com

relevância para a sociedade. Neste sentido salienta-se o investimento na qualidade dos serviços públicos,

valorizando a Administração Pública, o Serviço Nacional de Saúde e a escola pública.

Relativamente ao Estado de direito democrático, importa proteger os seus direitos e liberdades

fundamentais, o que passa por prosseguir o caminho da melhoria da qualidade da democracia, mas também

pela valorização das funções de soberania e da defesa nacional.

Será de salientar o alinhamento dos objetivos deste desafio transversal com a Estratégia Portugal 2030 e

com os objetivos do desenvolvimento sustentável. Em particular, o investimento na qualidade dos serviços

públicos apresenta um contributo relevante para a prossecução da Agenda Temática 2 – Digitalização,

inovação e qualificações como motores do desenvolvimento, e para a Agenda Temática 4 – Um País

competitivo externamente e coeso internamente – da Estratégia Portugal 2030. No plano geral, a boa

governação concorre para os objetivos do desenvolvimento sustentável 1) erradicar a pobreza; 3) saúde de

qualidade; 4) educação de qualidade; 5) igualdade de género; 8) Trabalho digno e crescimento económico; 10)

reduzir as desigualdades; 13) ação climática; 14) proteger a vida marinha; 15) proteger a vida terrestre; 16)

paz, justiça e instituições eficazes; e 17) parcerias para a implementação dos objetivos.

Um conjunto de instrumentos de planeamento e de políticas públicas serve a estratégia orientada para a

boa governação (Quadro 7). Neste, pontua a Estratégia Nacional Anticorrupção, aprovada em 2021, visando o

combate ao fenómeno da corrupção, tido como essencial para o reforço da qualidade da democracia e para a

plena realização do Estado de direito.

16 INE, Contas Nacionais, PIB a preços de mercado (dados encadeados em volume; anual). 17 INE, Contas Nacionais, Receitas e Despesas das Administrações Públicas.

Página 28

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

28

Quadro 7 7 – Instrumentos de planeamento e de políticas públicas associados ao desafio estratégico

transversal – Boa governação

Desafio transversal: Boa governação

Domínio Instrumento de planeamento Situação

Qualidade dos serviços públicos

Estratégia para a Inovação e Modernização do Estado e da Administração Pública

Em vigor

Serviço Nacional de Saúde

Plano Nacional de Saúde 2021-2030 Em elaboração

Qualidade da democracia

Estratégia Nacional Anticorrupção Em vigor

Funções de soberania

Conceito Estratégico de Defesa Nacional Em revisão

Lei de Programação Militar Em revisão

Lei de Infraestruturas Militares Em revisão

Estratégia Nacional de Combate ao Terrorismo Em vigor

Estratégia Nacional de Ciberdefesa Em elaboração

Estratégia da Defesa Nacional para o Espaço Em vigor

Plano de Ação para a Profissionalização do Serviço Militar Em revisão

Plano Setorial da Defesa Nacional para a Igualdade Em revisão

Conceito Estratégico de Segurança Interna Em elaboração

Programação de Infraestruturas e Equipamentos das Forças e Serviços de Segurança

Em vigor

Estratégia Integrada de Segurança Urbana 2022-2026 Em elaboração

Estratégia Nacional de Proteção Civil Preventiva Em vigor

Estratégia de Segurança Rodoviária 2021/2030 Em vigor

Estratégia Nacional para o Mar 2021-2030 Em vigor

Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC 2023-2027)

Em vigor

Estratégia Nacional para a Promoção da Produção de Cereais (ENPPC)

Em vigor

Os objetivos deste desafio transversal serão atingidos em parte pela execução de um conjunto de medidas

cuja programação se apresenta no

Quadro 8 8. Será de referir que são apresentados os financiamentos programados à data de elaboração

deste documento, abrangendo fundos provenientes do PRR e do PT2020 para o período 2022-2026.

Quadro 8 8 – Programação do financiamento das medidas associadas ao desafio transversal boa

governação (M€)

Desafio transversal – Boa governação Fontes de financiamento

Áreas de política 2022 2023 2024 2025 2026 Total

PT

20

30

PT

20

20

PR

R

Fo

nte

s

na

cio

nais

Página 29

10 DE OUTUBRO DE 2022

29

Contas certas para a recuperação e convergência

97 137 30 24 26 313 X X

Resposta ao aumento dos preços

5483 157 45 0 0 5685 X

Valorizar a AP 282 295 266 292 272 1407 X X X

SNS mais justo e inclusivo 569 652 717 762 867 3566 X X X X

Simplificar, uniformizar e desmaterializar o atendimento

36 76 75 63 57 308 X

Valorizar as funções de soberania

460 665 662 641 607 3036 X X

Subtotal 6926 1983 1795 1781 1829 14315 X X X X

Nota: Fontes nacionais – inclui Orçamento do Estado, Orçamento da Segurança Social e outros fundos nacionais

4.1 Recuperação e convergência

Os próximos anos deverão ser marcados por um crescimento económico suportado em investimento

público e privado e com o apoio do Programa de Recuperação e Resiliência (PRR). De acordo com as

estimativas subjacentes ao cenário macroeconómico apresentado, Portugal deverá crescer 4,4% entre 2019 e

2023. Portugal retomará, assim, nesse período, o processo de convergência económica e crescerá acima da

média da União Europeia. Este é um caminho que o Governo irá consolidar, prosseguindo uma política

orçamental centrada na recuperação sustentável da economia, promovendo a justiça social e a proteção do

ambiente e visando o pleno aproveitamento dos fundos europeus.

No âmbito da política orçamental, uma das principais condicionantes continua a ser o nível elevado da

dívida pública. A redução da dívida não deixará de ser um desafio importante, em particular num contexto de

normalização da política monetária do Banco Central Europeu (BCE). Não obstante, a orientação da política

orçamental permitirá uma continuada redução do rácio da dívida.

O cenário macroeconómico traçado para os próximos anos deverá permitir reduzir a dívida pública para um

nível inferior ao registado em 2019, ano anterior à pandemia, e, para 2026, final da legislatura, deverá alcançar

uma redução da dívida para um nível pouco superior a 100% do PIB. Esta evolução deverá igualmente permitir

que Portugal atinja um marco decisivo para a sua credibilidade externa, deixando de pertencer ao conjunto dos

três países mais endividados da União Europeia.

Ao longo de 2023, a política fiscal estará assim focada na melhoria de rendimentos das famílias, por forma

a permitir mitigar a subida generalizada dos preços, bem como a proporcionar às empresas as condições

necessárias para a melhoria de rendimentos, salários e competitividade. Assim, ao nível do reforço dos

rendimentos, o Governo promoverá a atualização dos escalões de IRS no referencial de valorização anual dos

rendimentos para 2023, em paralelo com a continuação do movimento de alívio da tributação direta que tem

vindo a ser praticado ao longo dos últimos anos. Este movimento deverá também focar-se nos trabalhadores e

pensionistas com rendimentos entre a remuneração mínima garantida e aproximadamente 1000 € mensais de

rendimentos, os quais sofrem atualmente de taxas marginais de imposto que penalizam a progressão de

rendimentos.

No que diz respeito às empresas, a política fiscal voltará a dar um forte incentivo ao investimento,

capitalização e inovação e focar-se-á também na criação de condições para aumentos salariais consonantes

com o objetivo de valorização de rendimentos para 2023. Por último, a política fiscal continuará a incentivar os

comportamentos ambientais mais responsáveis, dando continuidade à trajetória de aumento de tributação

sobre produtos energéticos mais poluentes.

Uma melhoria do sistema fiscal que reduza os custos de contexto para as empresas dá prioridade,

também, à simplificação do sistema fiscal, apoiando a relação entre contribuintes e administração fiscal e à

revisão do sistema de benefícios fiscais. Melhor justiça fiscal implica também assegurar uma maior equidade

fiscal, o que passará pelo reforço ao combate à fraude à evasão fiscal.

Página 30

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

30

A utilização de forma criteriosa e rigorosa dos recursos financeiros que a União Europeia irá colocar à

disposição do País constitui uma oportunidade única para transformar Portugal e aproximar o padrão de vida

dos portugueses da média europeia. Para tal visa-se o pleno aproveitamento dos fundos europeus do PT2020;

a concretização integral e atempada dos investimentos previstos no PRR; o estabelecimento do acordo de

parceria entre o Estado português e a Comissão Europeia quanto ao PT2030, no primeiro semestre de 2022, e

o pleno aproveitamento dos fundos europeus atribuídos a Portugal.

Visando o pleno aproveitamento dos fundos europeus, o Governo irá:

• Criar um «Simplex» para os fundos europeus, de forma a agilizar procedimentos, a eliminar barreiras

burocráticas e a assegurar o cumprimento de prazos (lançamento de concurso, análise de candidaturas e

pedidos de pagamento) bem como assegurando o necessário rigor na análise e acompanhamento dos

investimentos.

• Prosseguir o desenvolvimento contínuo do Portal Mais Transparência, disponibilizando informação

detalhada sobre os projetos de investimento aprovados, sobre a concretização das realizações e dos

resultados dos diferentes programas, bem como sobre as políticas públicas e apoios disponíveis,

designadamente a comunicação do calendário dos avisos de concursos e dos prazos de decisão.

Importa considerar também o investimento a realizar no âmbito do PRR entre 2022 e 2026:

• Sistemas de Informação de Gestão Financeira Pública (142 M€): consistindo na implementação de

soluções integradas de gestão, numa abordagem processual completa dos ciclos da receita e despesa no

quadro da implementação da Lei de Enquadramento Orçamental.

4.2 Resposta ao aumento dos preços

A agressão da Rússia à Ucrânia e o seu impacto na intensificação da disrupção das cadeias de distribuição

em todo o mundo e, de forma particular, na subida da inflação, empurrando os preços para máximos históricos

e atingindo o poder de compra das famílias, tem exigido uma particular atenção na condução das políticas

públicas, requerendo a articulação entre a resposta aos desafios de curto prazo e os objetivos de médio e

longo prazo.

Com o objetivo de mitigar os efeitos da inflação, o Governo continuará a adotar medidas de caráter

excecional direcionadas para as famílias e setores mais vulneráveis aos efeitos do aumento de preços e ações

de caráter mais geral de contenção de preços, em particular da energia e produtos petrolíferos.

Em simultâneo, a resposta aos efeitos da inflação engloba ainda medidas que pretendem fazer face aos

desafios de dimensão nacional e europeia que a atual situação revelou e acentuou, designadamente no que

respeita à redução da dependência global de combustíveis fósseis, à aceleração da implantação das energias

renováveis e à maior integração da capacidade renovável da Península Ibérica no mercado único da energia.

Neste sentido, ao longo de 2022, o Governo tem vindo a responder à evolução das condições e perspetivas

económicas com a adoção sucessiva de um conjunto abrangente de medidas de resposta ao aumento dos

preços. Desde logo, com o prolongamento e reforço das medidas criadas no final de 2021, designadamente:

• Redução de ISP para compensar os aumentos de receita de IVA causados pelo aumento dos preços

dos combustíveis.

• Suspensão do aumento da taxa de carbono, que se traduz numa poupança de 0,05 €/litro.

• Disponibilização do subsídio financeiro a atribuir aos cidadãos nos seus consumos de combustíveis

(AutoVoucher).

o agudizar da evolução dos preços, decorrente dos efeitos da guerra, entre março e maio de 2022 foi

adotado um conjunto adicional de medidas, sobretudo direcionadas para as famílias e setores mais

vulneráveis aos efeitos do aumento de preços, designadamente:

• Sistema de incentivos «Apoiar as Indústrias Intensivas em Gás», com vista a apoiar a liquidez das

empresas mais afetadas pelos aumentos excecionalmente acentuados do preço do gás natural, através de um

Página 31

10 DE OUTUBRO DE 2022

31

incentivo a fundo perdido.

• Apoio extraordinário e excecional ao setor dos transportes de passageiros e de mercadorias.

• Mecanismo de apoio às famílias mais vulneráveis ao aumento dos preços de bens alimentares, com o

apoio extraordinário de 60 euros por agregado familiar para compensar o aumento de preço do cabaz

alimentar, distribuído em abril e agosto, e de 10 euros por botija de gás.

• Reforço do mecanismo de redução de ISP para compensar os aumentos de receita de IVA resultante do

aumento dos preços dos combustíveis, abrangendo particulares e empresas.

• Mecanismo ibérico excecional e temporário de ajuste dos custos de produção de energia elétrica,

limitando de forma temporária o papel do preço do gás natural que se pratica hoje no mercado na formação de

preço da eletricidade, no âmbito do Mercado Ibérico de Eletricidade (MIBEL).

• Revisão extraordinária das tarifas de acesso às redes elétricas com a mobilização do Fundo Ambiental,

dando continuidade à política de redução das tarifas já prosseguida no final de 2021, que permitiu estabilizar a

subida do preço, em particular para as famílias, ao contrário do que sucedeu em muitos países europeus,

onde se registaram aumentos muito acentuados dos preços.

No terceiro trimestre de 2022, de forma a acelerar a transição energética e a economia circular, o Governo

apresentou o pacote de simplificação administrativa do licenciamento para a área do ambiente, destacando-se

a agilização do licenciamento de painéis solares e a simplificação de outros procedimentos que reduzem os

custos administrativos.

Em setembro, e já em condições de avaliar de forma mais robusta os impactos da persistência da guerra e

as condições económicas e financeiras a nível nacional, o Governo adotou o Plano de Resposta ao Aumento

dos Preços – Famílias Primeiro, com as seguintes medidas:

• Criação de um apoio excecional aos rendimentos, no valor de 125 € por adulto com rendimentos

mensais até 2700 €.

• Criação de um apoio excecional a crianças e jovens no valor de 50 € por cada dependente.

• Criação de um complemento excecional a pensionistas, equivalente a 50% do valor mensal da pensão,

pago no mês de outubro de 2022.

• Limitação a 2% do aumento máximo das rendas das habitações e das rendas comerciais para 2023.

• Manutenção do preço dos passes urbanos e das viagens CP.

• Redução do IVA da eletricidade de 13% para 6%.

• Permissão de transição para o mercado regulado do gás, permitindo mais de 10% de poupança na

conta mensal do gás natural.

• Prolongamento da redução do ISP, incluindo a suspensão do aumento da taxa de carbono, a devolução

da receita adicional de IVA via ISP e a redução do ISP equivalente à descida do IVA de 23% para 13%.

Ainda em setembro, o Governo adotou o pacote energia para avançar, plano extraordinário de apoio às

empresas e à economia social em face do aumento dos preços da energia e para mitigação dos efeitos da

inflação, designadamente:

• Reforço do apoio às indústrias intensivas no consumo de gás.

• Criação de linha de crédito destinada às empresas direta ou indiretamente afetadas pelo aumento

acentuado dos custos energéticos e das matérias-primas e pelas perturbações nas cadeias de abastecimento.

• Criação de apoio a medidas de eficiência e de aceleração da transição energética no domínio industrial

e no domínio agrícola.

• Criação de apoios ao emprego ativo e à formação qualificada de trabalhadores;

• Criação de apoio à promoção externa e internacionalização das empresas.

• Criação de apoio financeiro extraordinário ao setor do transporte ferroviário de mercadorias, com vista à

mitigação dos efeitos de escalada de preços dos combustíveis e da eletricidade.

• Criação de Linha de financiamento ao setor social e comparticipação financeira face ao aumento do

valor do gás para as instituições particulares de solidariedade social ou entidades equiparadas sem fins

Página 32

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

32

lucrativos que desenvolvam respostas sociais de caráter residencial.

• Suspensão, até ao final do ano, do ISP e a da taxa de carbono sobre o gás natural utilizado na produção

de eletricidade e cogeração.

• Majoração de IRC em 20% dos gastos com eletricidade e gás natural e ainda os gastos com

fertilizantes, rações e outra alimentação para a atividade de produção agrícola.

• Prorrogação do mecanismo de gasóleo profissional extraordinário (GPE) e da redução temporária do

ISP aplicável ao Gasóleo Agrícola, até ao final de 2022.

• Prorrogação até 30 de junho de 2023 do regime excecional de revisão de preços nos contratos públicos.

No âmbito deste domínio de intervenção, está previsto o contributo das fontes nacionais de financiamento,

incluindo através do Orçamento do Estado para as seguintes medidas (2022-2026):

• Medidas de apoio às famílias, em particular às mais vulneráveis (1967 M€), incluindo a criação de um

complemento excecional a pensionistas (1000 M€), a adoção do mecanismo de apoio às famílias mais

vulneráveis ao aumento dos preços de bens alimentares, com o apoio extraordinário de 60 euros por agregado

familiar distribuído em abril e agosto (127 M€), o apoio excecional aos rendimentos, no valor de 125€ por

adulto com rendimentos mensais até 2700€ (730 M€) e o apoio excecional a crianças e jovens no valor de 50

€ (110 M€).

• Medidas de apoio às empresas mais intensivas em energia (521 M€), incluindo o programa “Apoiar as

Indústrias intensivas em Gás” (160 M€ reforçada em setembro para 235 M€), linha de financiamento ao setor

social com uma comparticipação financeira face ao aumento do valor do gás (120 M€), o apoio extraordinário e

excecional ao setor dos transportes de passageiros e de mercadorias (101 M€) e os apoios à Agricultura e

Pescas (65 M€).

• Medidas de apoio às empresas afetadas pelo preço da energia com uma linha de crédito de garantia

mútua com carência de capital de 12 meses (600 M€) aprovada em setembro de 2022 depois de uma primeira

linha de crédito lançada em março (400 M€).

• Medidas de caráter geral de contenção de preços (2022 M€), incluindo o conjunto de medidas com vista

à redução do ISP (1154 M€), a disponibilização do subsídio financeiro a atribuir aos cidadãos nos seus

consumos de combustíveis – AutoVoucher (133 M€), a suspensão do aumento da taxa de carbono (360 M€), a

redução extraordinária das tarifas de acesso às redes elétricas (150 M€), a compensação dos senhorios face à

limitação a 2% do aumento máximo das rendas das habitações e das rendas comerciais (45 M€), a redução do

IVA da eletricidade de 13% para 6% (113 M€) e a manutenção dos preços dos passes urbanos e das viagens

CP durante 2023 (67 M€).

4.3 Qualidade dos serviços públicos

Serviços públicos de qualidade são um dos instrumentos mais importantes para a redução das

desigualdades e para a melhoria das condições de vida de todos. A qualidade dos serviços públicos depende

da sua universalidade, da distribuição pelo território de modo a garantir um efetivo acesso a todos e ainda da

sua tendencial gratuitidade. No plano do investimento na qualidade dos serviços públicos, a atuação terá lugar

em torno de dois eixos principais:

• Valorizar, capacitar e rejuvenescer a Administração Pública.

• Simplificar, uniformizar, aproximar e desmaterializar o atendimento.

A valorização, a capacitação e o rejuvenescimento da Administração Pública (AP) constitui um desígnio da

presente legislatura. A partir de 2016 foi iniciado um processo sustentado de reposição de direitos e

valorização na AP. Entre 2016 e 2019 procedeu-se à reposição de cortes salariais, ao descongelamento de

carreiras e à reabertura de admissões. Entre 2019 e 2021 procedeu-se à revisão da política de admissões, ao

desenvolvimento das carreiras e à reposição do princípio da atualização anual dos salários. A retoma do

normal desenvolvimento das carreiras permitiu que desde 2018 mais de 640 mil trabalhadores da AP (87,6%)

tivessem pelo menos uma alteração de posicionamento remuneratório em resultado dos pontos obtidos em

sede de avaliação de desempenho. Visando a valorização, a capacitação e o rejuvenescimento da

Página 33

10 DE OUTUBRO DE 2022

33

Administração Pública, o Governo irá:

• Rejuvenescer e valorizar a Administração Pública, agilizando os processos de recrutamento, tornando-

os mais céleres, em especial para jovens recém-licenciados, e promovendo as necessárias alterações à tabela

remuneratória única, nomeadamente nas remunerações de ingresso das carreiras de assistente técnico e de

técnico superior.

• Consolidar novos modelos de trabalho com a promoção de sinergias, a criação de redes de

comunicação mais próximas e o robustecimento dos centros de competências (PlanAPP, JurisAPP, TicAPP,

CAPE) associados ao reforço de capacidade técnica no apoio à definição, planeamento e implementação de

políticas públicas.

• Capacitar a Administração Pública, apostando na formação e qualificação dos trabalhadores, através de

parcerias com as instituições de ensino superior, e promovendo a valorização adicional aos titulares de

doutoramento que já integram a Administração Pública.

• Reforçar a cibersegurança da sociedade em geral e das entidades públicas e privadas, em particular as

que fornecem serviços críticos, nas vertentes das infraestruturas digitais e operacionais, bem como o

desenvolvimento de competências tanto gerais como especializadas dos recursos humanos, concretizando os

investimentos previstos no PRR.

Simplificar, uniformizar, aproximar e desmaterializar o atendimento público e demais interações

necessárias com os serviços públicos são elementos centrais da AP preconizada, capaz de apostar na

inovação de forma a responder às necessidades dos cidadãos e de aumentar a sua eficiência e a qualidade

dos serviços prestados, devendo ser aproveitadas as oportunidades da sociedade digital para melhor servir as

pessoas e as empresas e, simultaneamente, garantir uma maior proximidade dos serviços públicos aos

cidadãos. Em termos da simplificação, uniformização, proximidade e desmaterialização do atendimento,

garantindo a resiliência dos sistemas e infraestruturas digitais, o Governo irá:

• Disponibilizar um atendimento uniforme e omnicanal dos serviços mais procurados, garantido a sua

simplificação e coerência, num portal único de serviços digitais de todos os serviços da Administração Pública,

respeitando o princípio onlyonce.

• Reforçar a cibersegurança das entidades públicas, nas vertentes das infraestruturas digitais e

operacionais, bem como o desenvolvimento de competências tanto gerais como especializadas dos recursos

humanos, concretizando os investimentos previstos no PRR.

• Promover a interoperabilidade, com vista a garantir que não é solicitada ou sugerida aos cidadãos e

empresas a entrega de documentos que a Administração Pública já possui.

• Estabelecer um modelo de distribuição territorial dos serviços públicos, definindo os níveis mínimos de

acesso presencial ou digital a nível sub-regional, harmonizando as circunscrições territoriais da administração

desconcentrada do Estado, as quais serão integradas nas comissões de coordenação e desenvolvimento

regional (CCDR), sem prejuízo do aprofundamento do processo de descentralização.

• Assegurar a existência de lojas de cidadão ou balcões multisserviços em todos os municípios, definido

um padrão mínimo de serviços públicos acessíveis em todos os municípios e definir um nível de serviço

público obrigatoriamente disponível em todas as freguesias, através de espaços de cidadão ou de unidades

móveis de proximidade.

De encontro aos objetivos da simplificação e digitalização do atendimento público e reforço da resiliência

dos sistemas e infraestruturas digitais, destacam-se os seguintes investimentos no âmbito do PRR para os

anos 2022 a 2026:

• Reformulação do atendimento dos serviços públicos e consulares (188 M€) – este investimento visa a

criação de um portal único de serviços digitais que permita ao cidadão e às empresas tratar de forma digital e

desmaterializada os principais serviços da AP.

• Reforço do quadro geral de cibersegurança (41 M€) – visando robustecer o quadro nacional de

cibersegurança aprofundando, de forma estruturada e integrada, a capacitação no domínio da cibersegurança

Página 34

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

34

e da utilização segura dos dados.

• Infraestruturas críticas digitais eficientes, seguras e partilhadas (79 M€) – este investimento permitirá

intervencionar a rede informática do Governo; investir na melhoria da cobertura e capacidade da rede de

comunicações de emergência do Estado; renovar a arquitetura dos sistemas de informação e processos

associados à gestão e controlo de fronteiras; e eliminar as redundâncias dos processos técnicos burocráticos

das forças e serviços de segurança.

No âmbito do Orçamento do Estado e outras fontes de financiamento nacional (2022-2026) está previsto:

• Descongelamento de progressões e promoções na Administração Pública (1287 M€), mantendo as

regras de progressão nas carreiras reestabelecidas de forma faseada entre 2018 e 2020, ano que os

acréscimos decorrentes das regras de progressão na carreira tiveram a sua plena expressão orçamental.

4.4 Serviço Nacional de Saúde

O Serviço Nacional de Saúde (SNS) foi e é a garantia do direito fundamental de todos os cidadãos à

proteção da saúde, independentemente da condição social, da situação económica, ou da localização

geográfica de cada um. A recente pandemia da COVID-19, à qual foram os serviços públicos de saúde que

responderam ao desafio de identificar casos, isolar contactos, testar e vacinar pessoas e tratar doentes, sem

exceção, reforçou a importância de apostar num sistema de saúde forte, que tenha as pessoas no seu centro

e como pilar essencial o serviço público de saúde, acessível a todos e tendencialmente gratuito.

Às dificuldades acrescidas provocadas pela pandemia, o SNS respondeu com a confirmação da sua

capacidade de reorganização e inovação, garantida através do reforço dos recursos humanos, financeiros,

materiais e das infraestruturas ao seu dispor, que permitiram responder à emergência, realizar a campanha de

vacinação e recuperar progressivamente a restante atividade assistencial.

Atualmente, o SNS enfrenta importantes desafios associados à evolução das necessidades em saúde e ao

aumento das exigências e expectativas da população. Num quadro de recuperação da pandemia, as

propostas para o SNS estão enquadradas numa abordagem centrada nas necessidades das pessoas, de

forma a proteger e melhorar a sua qualidade de vida desde que nascem até ao final da vida.

Também com esse objetivo, e considerando a relevância que os recursos humanos assumem no SNS,

como garante principal da sua qualidade, foi aprovado um programa de gestão estratégica dos recursos

humanos do Serviço Nacional de Saúde, assente numa visão multidimensional, com especial enfoque na

valorização dos recursos humanos e no recrutamento planeado dos profissionais necessários às exigências da

organização das respostas.

Visando um Serviço Nacional de Saúde mais justo e inclusivo que responda melhor às necessidades da

população, o Governo irá:

• Melhorar o acesso a consultas e atividades de promoção da saúde e prevenção da doença, através de

intervenções multidisciplinares adequadas às características de cada cidadão, nomeadamente de acordo com

as estratégias e orientações do Plano Nacional de Saúde 21-30.

• Melhorar a organização e articulação dos serviços de saúde pública, criando mecanismos de maior

integração entre as estruturas do SNS, a proteção civil, o setor social e os atores da sociedade civil com

intervenção direta e indireta na saúde.

• Fomentar a utilização da telesaúde como resposta de proximidade às necessidades dos cidadãos e criar

um centro nacional de telemedicina e uma rede nacional de telemedicina.

• Otimizar o acesso ao medicamento, aproximando-o do utente, e a utilização dos medicamentos ao

longo da toda a sua cadeia, garantindo maior eficiência nos processos aquisitivos, reforçando o papel das

comissões de farmácia e terapêutica, apoiando os prescritores e incluindo os utentes e seus representantes

nas diferentes fases do processo.

• Promover a sustentabilidade, aliando à introdução da inovação terapêutica medidas de promoção da

utilização de medicamentos genéricos e biossimilares.

Página 35

10 DE OUTUBRO DE 2022

35

• Promover a integração e continuidade de cuidados centrada no utente, através dos sistemas de

informação, em especial através da criação do processo clínico eletrónico único, que integre os diferentes

níveis de prestação de cuidados e setores, permita o acesso à informação clínica relevante do cidadão em

qualquer ponto da rede SNS e promova a autonomia do cidadão na gestão do seu processo de saúde.

• Prosseguir o trabalho de revisão e generalização do modelo das unidades de saúde familiar, garantindo

que elas cobrem 80% da população na próxima legislatura.

• Reforçar as unidades de cuidados na comunidade, pela sua relevância no trabalho de apoio às pessoas

mais vulneráveis, no domicílio e na comunidade.

• Alargar a todos os agrupamentos de centros de saúde (ACES) a capacidade para realização dos meios

complementares de diagnóstico e terapêutica mais comuns, melhorando a as suas respostas.

• Promover projetos de gestão integrada dos percursos dos cidadãos no SNS, reforçando a continuidade

de cuidados e os mecanismos de integração dos serviços mediante o seguimento dos doentes com doenças

crónicas.

• Concluir o processo de descentralização de competências na área da saúde, em especial através da

participação dos órgãos municipais e dos órgãos das entidades intermunicipais no planeamento, na realização

de investimento de construção, equipamento e manutenção de unidades de cuidados de saúde primários e na

respetiva gestão, assegurando, não obstante, a requalificação de equipamentos e infraestruturas identificados,

em articulação com a ANMP e com os municípios e as CCDR, como prioritários.

• Aumentar a eficiência da resposta hospitalar no SNS, através da dinamização da organização interna

dos hospitais em centros de responsabilidade integrados.

• Reforçar a autonomia na gestão hospitalar, nomeadamente em matéria de contratação de profissionais

de saúde, com maior responsabilização e avaliação da satisfação pelos utentes e profissionais.

• Rever o modelo de financiamento dos hospitais, tendo em conta os cuidados prestados e a população

de referência.

• Promover um plano plurianual de contratações, que permita projetar as necessidades do SNS e garantir,

atempadamente, o recrutamento das equipas que assegurem as necessárias respostas em saúde.

• Garantir a oferta das primeiras unidades de dia e promoção de autonomia da rede.

• Constituir equipas de cuidados continuados integrados em todos os ACES.

• Constituir equipas comunitárias de suporte em cuidados paliativos, em todos os ACES que ainda delas

não dispõem, reforçando a dotação de recursos humanos das já existentes, investindo nas suas formação

específica e valorização profissional.

• Concluir a cobertura nacional de serviços locais de saúde mental, nas respostas de internamento,

ambulatório e intervenção comunitária, nomeadamente com a criação de serviços de internamento nos

hospitais gerais onde eles ainda não existam, assim como com a constituição de centros de responsabilidade

integrados.

• Implementar os planos regionais de saúde para as demências, promovendo uma sólida resposta

intersectorial às pessoas que vivem com demência, às sua famílias e cuidadores.

• Implementar o regime de trabalho em dedicação plena, como previsto no Estatuto do SNS, de aplicação

progressiva, a iniciar pelos trabalhadores médicos numa base voluntária e de compromisso assistencial, com

negociação sindical do acréscimo do período normal de trabalho semanal em vigor, do acréscimo

remuneratório e do regime de incompatibilidades.

• Rever os incentivos pecuniários e não pecuniários para a atração e fixação de médicos em zonas

carenciadas.

• Criar e implementar medidas que visam substituir o recurso a empresas de trabalho temporário e de

subcontratação de profissionais de saúde, numa aposta clara nas carreiras profissionais e na organização e

estabilidade das equipas com vínculo aos próprios estabelecimentos de saúde.

• Valorizar as carreiras dos enfermeiros, designadamente através da reposição dos pontos perdidos

aquando da entrada na nova carreira de enfermagem.

• Criar a carreira de técnico auxiliar de saúde.

• Instalar a direção executiva do SNS, com o papel de dirigir o SNS a nível central, coordenando a

resposta assistencial das suas unidades de saúde, assegurando o seu funcionamento em rede e

Página 36

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

36

monitorizando o seu desempenho e resposta.

No âmbito do PRR, a resposta ao desafio do Serviço Nacional de Saúde desdobra-se nos seguintes

investimentos a executar entre 2022 e 2026:

• Cuidados de saúde primários com mais respostas (466 M€) – este investimento pretende melhorar o

acesso, a qualidade e a eficiência dos cuidados prestados, completando a cobertura nacional dos programas

de rastreio de base populacional, reforçando a capacidade de diagnóstico precoce assegurando a

continuidade dos cuidados ao longo da vida dos cidadãos; rever a carteira de serviços dos agrupamentos de

centros de saúde, alargando as suas áreas de intervenção; qualificar as instalações e os equipamentos dos

centros de saúde, assegurando condições de acessibilidade, qualidade, conforto e segurança para utentes e

profissionais; e potenciar as respostas de proximidade, com enfoque no domicílio e na comunidade.

• Transição digital da saúde (257 M€) – este investimento envolve a melhoria das infraestruturas de

suporte aos sistemas de informação do SNS; a uniformização e digitalização dos canais de comunicação entre

o cidadão e as unidades de saúde; a melhoria dos sistemas de informação da saúde, catalisando a

modernização dos atuais processos de trabalho por parte dos profissionais de saúde; e a melhoria da

qualidade e do tratamento dos dados em saúde.

• Rede nacional de cuidados integrados e rede nacional de cuidados paliativos (205 M€) – consistindo

num programa estruturado e faseado para apoiar financeiramente promotores do setor público, social ou

privados no desenvolvimento de uma nova geração de respostas de proteção social aos cidadãos mais idosos

e/ou dependentes, baseada em estruturas residenciais e também em respostas inclusivas na comunidade.

• Equipamento dos Hospitais do Seixal, de Sintra e Lisboa Oriental (180 M€) – este investimento na

aquisição de equipamentos permite alavancar um conjunto de investimentos previstos de reforço da rede

hospitalar numa região altamente pressionada, principalmente nas áreas suburbanas, altamente povoadas e

na sua maioria mais constrangidas social e economicamente, e que tradicionalmente dispõem de menos

apoios financeiros.

• Conclusão da Reforma da Saúde Mental e implementação da Estratégia para as Demências (88 M€),

contribuindo para o reforço do SNS e para a melhoria da resposta às necessidades em saúde da população

portuguesa.

• Sistema universal de apoio à vida ativa (10 M€), visando incentivar a atividade física e a adoção de

estilos de vida mais saudáveis.

Em alinhamento com esta resposta, no âmbito do PT2030 está planeado:

• No Objetivo Estratégico 4 – Portugal mais social e inclusivo – apoiar investimentos para garantir a

igualdade de acesso aos cuidados de saúde e promover a resiliência dos sistemas de saúde, incluindo

cuidados de saúde primários, e a promoção da transição de cuidados institucionalizados para cuidados

baseados na família e de proximidade (103 M€).

No âmbito do Orçamento do Estado (e outros fundos nacionais) está previsto (2022-2026):

• Eliminação das taxas moderadoras (844 M€) – concretização da dispensa de cobrança de taxas

moderadoras em todos os serviços do SNS mantendo-se apenas nos serviços de atendimento de urgência

quando não exista referenciação prévia pelo SNS.

• Capacitação da rede hospitalar e outros investimentos em infraestruturas e equipamentos de Saúde (1

246 M€).

4.5 Pacto social para a educação

Nos últimos seis anos foram promovidas transformações da organização escolar que possibilitaram

Página 37

10 DE OUTUBRO DE 2022

37

melhorias significativas: a redução da taxa de abandono escolar precoce de 13,7%, em 2015, para 5,9%, em

2021 (superando a meta europeia); a redução de mais de 70% nas taxas de retenção e desistência no ensino

básico; o aumento de 14% das conclusões do ensino secundário em 3 anos. Entre outros efeitos, estes

resultados permitem que exista atualmente o maior número de alunos a frequentar o ensino superior.

Apesar da melhoria da situação educativa, a pandemia da COVID-19 provocou um choque no sistema

escolar nacional, gerando problemas inéditos aos quais foi necessário dar resposta adequada e tempestiva.

Foram lançadas medidas diversas de reação imediata e mitigação, desde a garantia de proteção social aos

alunos e às escolas de acolhimento até à formação de professores para o ensino a distância. Atendendo à

magnitude do impacto da crise pandémica, houve também um reforço dos meios disponíveis nas escolas e da

sua autonomia, de modo a permitir tanto o apoio aos alunos em situação de vulnerabilidade maior quanto a

diversificação de oportunidades de aprendizagem – inclusive em situação de afastamento físico forçado

durante a pandemia –, nomeadamente por via do recurso a ferramentas digitais.

Em razão do risco constituído pelas desigualdades agravadas pela pandemia, enquanto princípio de boa

governação para a educação importa prosseguir o esforço investido nas políticas públicas setoriais e, mais,

promover um pacto social, implicando e mobilizando os profissionais do ensino, os pais e encarregados de

educação, os estudantes, os parceiros sociais e as comunidades. Para tanto será procurada uma

convergência estratégica em três eixos, os seguintes:

• Autonomia das escolas, descentralização e desburocratização.

• Garantir os professores necessários à missão da escola pública.

• Reforçar a participação dos alunos.

O alargamento nos últimos anos do espaço de decisão das lideranças escolares e dos professores tem

vindo a contribuir para os resultados em termos de sucesso escolar. A resposta das comunidades educativas

aos desafios suscitados pela crise pandémica revelou, numa situação inesperada e difícil, que a autonomia

amplia a capacidade das escolas para responder adequada e atempadamente ao contexto local e às

circunstâncias. Considerado isto, em relação à autonomia das escolas, descentralização e desburocratização,

o Governo irá:

• Continuar o reforço da autonomia curricular e organizativa das escolas, aprofundando e generalizando

medidas previstas no plano 21/23 Escola+, para a recuperação das aprendizagens comprometidas pelas

dificuldades que se verificaram na pandemia.

• Reforçar o modelo de autonomia, administração e gestão das escolas, perspetivando uma maior

participação e integração de toda a comunidade educativa, a valorização das lideranças intermédias e o

reforço da inserção da escola na comunidade.

• Acompanhar a conclusão do processo de descentralização de competências para os municípios,

assegurando a autonomia pedagógica plena das escolas e o cumprimento do objetivo de alívio de tarefas

administrativas e assegurando a requalificação de equipamentos e infraestruturas identificados, em articulação

com a ANMP e com os municípios e as CCDR, como prioritários.

• Reduzir as tarefas burocráticas que constrangem a atividade educativa dos docentes.

Nos anos mais recentes tem existido um investimento nos profissionais da escola pública, desde docentes

a técnicos especializados, passando pelo pessoal não docente, aumentando o seu número e melhorando a

sua situação profissional, nomeadamente em termos de vinculação, de progressão na carreira e de formação

contínua. Apesar deste investimento, o diagnóstico de necessidades docentes a curto e médio prazo indica a

necessidade de se continuar e até de se ampliar o esforço, de modo a garantir à escola pública os professores

em quantidade, qualidade e motivação adequadas à sua missão. Neste sentido, para assegurar o pacto social

para a educação, no âmbito deste eixo o Governo irá:

• Alterar o regime de recrutamento, com a introdução de fatores de estabilidade reforçada no acesso à

carreira e no desenvolvimento dos projetos pedagógicos, com a redução da mobilidade entre escolas, sempre

que se justifique, com a vinculação direta em quadro de agrupamento ou quadro de escola e com a

Página 38

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

38

reorganização dos quadros de zona pedagógica (permitindo reduzir as respetivas áreas geográficas, quando

adequado).

• Estabelecer um contrato-programa com instituições de ensino superior para desenvolver um modelo de

formação de professores coerente com as necessidades e que confira capacidade formativa às instituições,

incluindo alterações no modelo de estágios profissionais, que voltarão a ser remunerados.

• Desenvolver um programa de atração de titulares com habilitação profissional para a docência,

mediante condições de estabilidade, e rever o regime de habilitações para a docência.

• Criar incentivos à carreira docente e ao desenvolvimento de funções docentes dirigidos às zonas do

país onde a oferta é escassa e onde a partilha de recursos se mostre fundamental para a manutenção de

oferta educativa e formativa.

Em relação ao terceiro eixo, considerando que a escola pública é um instrumento fundamental da formação

cívica, esse espaço deve estimular e promover a participação dos jovens, de modo a envolvê-los no processo

de definição de medidas de política educativa e a capacitá-los para a intervenção no espaço público, portanto

para a democracia. Na prossecução deste objetivo, no quadro do terceiro eixo, o Governo irá:

• Rever o modelo de participação dos alunos nos órgãos de gestão das escolas, para a reforçar.

• Reforçar a participação dos alunos e dos seus representantes na análise de processos curriculares e na

avaliação externa das escolas.

• Aprofundar os instrumentos de educação para a cidadania e para a literacia democrática.

• Responsabilizar os alunos pela construção de ambientes saudáveis e seguros nas escolas, continuando

o programa de mentorias e aprofundando o seu envolvimento na resolução das questões relacionadas com

indisciplina, assédio e violência.

• Promover a autonomia associativa dos estudantes, de modo a existirem associações de estudantes em

todas as escolas e agrupamentos, sem esquecer a capacitação dos dirigentes respetivos.

4.6 Qualidade da democracia

A democracia, tida como um valor garantido, tem vindo a sofrer ameaças cada vez mais frequentes e

intensas. Prosseguir o caminho da melhoria da qualidade da democracia, promovendo a participação dos

cidadãos, renovando e qualificando a classe política, aproximando a legislação dos seus destinatários,

protegendo os direitos e liberdades fundamentais e investindo numa efetiva educação para a cidadania,

revela-se essencial para combater fenómenos de populismo e de extremismo que podem pôr em causa o

Estado de direito democrático.

Importa defender e difundir os valores essenciais em que se baseia o nosso sistema político assim como

melhorar a qualidade da democracia. Neste plano, são cinco os eixos de intervenção fundamentais do objetivo

estratégico aqui enunciado:

• Promover a literacia democrática e a cidadania.

• Garantir a liberdade de acesso à profissão.

• Travar um combate determinado contra a corrupção.

• Potenciar a autonomia regional.

• Aprofundar a descentralização.

Em termos da promoção da literacia democrática e da cidadania, o Governo irá:

• Lançar um plano nacional de literacia democrática, com um amplo programa de atividades, em especial

nas escolas e junto das camadas mais jovens, à semelhança do que é feito pelo Plano Nacional de Leitura e

pelo Plano Nacional das Artes.

• Prosseguir o esforço de modernização e reforço da credibilidade internacional do processo eleitoral,

Página 39

10 DE OUTUBRO DE 2022

39

consolidando e alargando a possibilidade de voto antecipado por mobilidade; continuando a estudar a

implementação de sistemas de voto eletrónico presencial, concluindo a desmaterialização dos cadernos

eleitorais e criando um portal de serviços da administração eleitoral e do recenseamento.

• Aumentar o número de atos legislativos e regulamentares colocados em discussão pública e, tirando

partido das funcionalidades disponibilizadas pelo portal ConsultaLEX, diversificar as formas de participação

dos cidadãos no processo legislativo, incluindo a resposta a questionários.

• Prosseguir e aprofundar o Programa Legislar Melhor, nos seus cinco pilares: Legislar menos (política de

contenção legislativa e prossecução da medida Revoga+); legislar completo (regulamentação devida dos atos

legislativos); legislar a tempo (cumprimento do prazo de transposição de diretivas comunitárias e combate às

práticas de goldplating); legislar com rigor (consolidar a avaliação dos impactos económicos e sociais da

legislação aprovada, incluindo impacto no combate à pobreza, à corrupção e às alterações climáticas) e

legislar claro (tornar o direito mais acessível a todos cidadãos).

De forma a garantir a liberdade de acesso à profissão, o Governo irá:

• Impedir práticas que limitem ou dificultem o acesso às profissões reguladas, em linha com as

recomendações da OCDE e da Autoridade da Concorrência.

• Concluir a reforma da Lei-Quadro das Associações Públicas Profissionais e a adaptação dos respetivos

estatutos.

Visando travar um combate determinado contra a corrupção, o Governo irá:

• Assegurar a aplicação do novo regime geral de prevenção da corrupção, designadamente a adoção por

todas as entidades públicas e privadas com mais de 50 trabalhadores de um programa de cumprimento

normativo (compliance), que inclua: A elaboração de um plano de prevenção da corrupção, a aprovação de um

código de conduta, a disponibilização de um canal de denúncia, a realização de um programa de formação, a

designação de um responsável independente pelo cumprimento normativo e a aplicação de sanções para o

respetivo incumprimento.

• Prosseguir o programa SIMPLEX, numa perspetiva de promoção da confiança na Administração

Pública, eliminando atos burocráticos e barreiras administrativas que possam motivar o fenómeno da

corrupção, ou ser interpretadas como tal.

Visando potenciar a autonomia regional, o Governo irá:

• Dinamizar e reunir com periodicidade o Conselho de Concertação com as Autonomias Regionais,

composto por membros dos Governos da República e Regionais, com o objetivo de valorizar o papel das

Regiões Autónomas no exercício das funções do Estado, seja pela participação e colaboração no exercício

das competências estatais nessas regiões, seja pelo estabelecimento, quando necessário, de mecanismos de

colaboração nas respetivas políticas públicas.

No âmbito do objetivo de aprofundar a descentralização e a subsidiariedade, o Governo irá:

• Concluir a descentralização de competências sectorialmente realizada, garantindo condições para o seu

exercício pelas autarquias locais, designadamente através da criação de um mecanismo de atualização e

ajustamento dos valores transferidos e assegurando a requalificação das infraestruturas e equipamentos

prioritários;

• Proceder à avaliação independente da adequação dos recursos financeiros transferidos para o exercício

das novas competências pelas autarquias locais, aferindo, igualmente, da eficácia e da eficiência na gestão

descentralizada dos recursos públicos,

• Identificar novas competências a descentralizar para as comunidades intermunicipais (CIM), para os

municípios e para as freguesias no ciclo autárquico, com base na avaliação feita pela Comissão de

Acompanhamento da Descentralização e em diálogo com a Associação Nacional de Municípios Portugueses

Página 40

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

40

(ANMP) e a Associação Nacional de Freguesias (ANAFRE);

• Ampliar a participação das autarquias locais na gestão das receitas públicas, em especial as de âmbito

local;

• Desenvolver estruturas de apoio técnico partilhado, a nível intermunicipal, para apoio ao exercício de

novas competências pelos municípios e freguesias;

• Prosseguir a revisão do Subnível II da Nomenclatura das Unidades Territoriais para Fins Estatísticos

(NUTS), através da divisão da Área Metropolitana de Lisboa em duas novas unidades territoriais

correspondentes à península de Setúbal e à zona do oeste e vale do Tejo, assim dando maior coerência ao

atual sistema de classificação e fazendo-o corresponder às dinâmicas económicas e sociais registadas;

• Reabrir o debate em torno do processo de regionalização com o objetivo de realizar um novo referendo

sobre o tema em 2024.

Ainda no âmbito do processo de descentralização, e tendo em atenção a necessidade de melhorar o

serviço público local e reforçar os mecanismos de transparência na governação local, o Governo irá:

• Aprofundar e ampliar as formas de participação dos cidadãos na governação local e através da

dinamização da acessibilidade informativa e dos mecanismos de acompanhamento e controlo, pelos cidadãos,

da atividade dos órgãos das autarquias locais e dos seus titulares.

• Estabelecer um modelo de distribuição territorial dos serviços públicos dependentes da administração

central, de outras entidades públicas, de empresas públicas ou de concessionários de serviço público,

definindo os níveis mínimos de acesso presencial ou digital a nível sub-regional, e através da abertura de lojas

de cidadão ou balcões multisserviços em todos os municípios, definindo o padrão mínimo de serviços públicos

acessíveis em todos os concelhos e um nível de serviço público obrigatoriamente disponível em todas as

freguesias, a assegurar através de espaços cidadão ou de unidades móveis de proximidade.

4.7 Funções de soberania

Na nova conjuntura criada pela agressão militar da Rússia contra a Ucrânia, a participação portuguesa na

UE aumenta ainda mais, e em vários planos seja no plano geoestratégico (implementação da nova Bússola

Estratégica para a Política Comum de Segurança e Defesa); seja no plano político-diplomático (sanções em

curso contra a Rússia e a procura de criar condições para uma negociação capaz de chegar a uma solução

para o conflito); seja no plano humanitário, (acolhendo os refugiados ucranianos); seja no plano económico

(medidas para diminuir a dependência energética da Europa, conter a escalada dos preços e preservar o

tecido económico e o emprego).

No presente contexto de mudança, Portugal será voz ativa, apoiando o processo de consolidação de uma

capacidade de afirmação militar da UE, pugnando sempre pela complementaridade entre OTAN e União

Europeia, pela manutenção e o reforço dos laços transatlânticos. Durante a legislatura, Portugal reafirma o

compromisso de aumentar a despesa em defesa no âmbito da OTAN, em linha com as decisões assumidas

pelos Estados-Membros.

Portugal é reconhecido como um dos países mais seguros do mundo. Para continuar a ser reconhecido

como tal, as forças e serviços de segurança devem ser dotados das condições adequadas ao exercício da

missão que lhes está confiada. Por fim, a administração da justiça é um serviço público que integra o núcleo

do Estado de direito democrático e que por isso deve atuar de forma transparente e eficiente.

A concretização do domínio «Funções de Soberania» requer a implementação de um conjunto de políticas

públicas centradas nos seguintes eixos:

• Preparar a defesa nacional para os desafios da década 2020-2030.

• Robustecer a segurança interna.

• Uma justiça eficiente, ao serviço dos direitos e do desenvolvimento económico-social.

Visando preparar a defesa nacional para os desafios da década 2020-2030, é necessário prosseguir com a

Página 41

10 DE OUTUBRO DE 2022

41

adaptação da defesa nacional às realidades contemporâneas e às novas missões, para dar as respostas que

se lhe impõem e prosseguir num novo ciclo.

Em particular, o Governo elege como um dos eixos prioritários «colocar as pessoas primeiro», cuja

concretização procurará melhorar as condições da atividade militar e continuar os esforços de dignificação e

apoio aos antigos combatentes, os deficientes das Forças Armadas e as suas famílias, designadamente

através das seguintes ações:

• Continuar o processo de adequação dos mecanismos de recrutamento e retenção às necessidades de

efetivos militares para as Forças Armadas, promovendo a valorização profissional dos militares e o

alinhamento da formação conferida nas Forças Armadas ao Sistema Nacional de Qualificações.

• Implementar a reforma do sistema de saúde militar, dar continuidade ao projeto de expansão e

capacitação do Hospital das Forças Armadas e de concretização do projeto do campus de saúde militar, bem

como continuar a valorizar o Laboratório Nacional do Medicamento.

• Dar continuidade à implementação do trabalho realizado no âmbito do Plano Setorial da Defesa

Nacional para a Igualdade 2019-2021.

• Continuar a dignificar e a apoiar os antigos combatentes e família, incluindo os deficientes das Forças

Armadas, e prosseguir com a implementação e desenvolvimento do Estatuto do Antigo Combatente.

• Continuar o reforço da ação social complementar e da sustentabilidade da assistência na doença aos

militares.

• Prosseguir a melhoria contínua de aproximação da instituição militar da sociedade, destacando-se os

programas dirigidos aos mais jovens como o Referencial da Educação para a Segurança, a Defesa e a Paz e

o Dia da Defesa Nacional.

No âmbito da adaptação da defesa nacional às realidades contemporâneas e às novas missões, e com o

objetivo de reforçar e racionalizar os meios ao serviço da defesa e promover a economia da defesa, o Governo

irá ainda:

• Continuar a valorização e integração do ensino superior militar, apostando na qualidade da formação

inicial e ao longo da vida, bem como os centros militares de investigação e complementar a formação de

âmbito especificamente militar com a oferta proporcionada pelo sistema de ensino superior universitário e

politécnico, quando desejável.

• Continuar a executar a Lei de Programação Militar (LPM), com especial enfoque no reforço e

modernização das capacidades das Forças Armadas, investindo no equipamento de importância estratégica e

que se traduza num efeito multiplicador da capacidade operacional.

• Continuar a valorizar, dignificar e rentabilizar o património da defesa nacional, em execução da Lei das

Infraestruturas Militares, promovendo projetos relativos à melhoria das condições de habitabilidade e das

condições de trabalho nas unidades, estabelecimentos e órgãos, no âmbito do Plano de Ação para a

Profissionalização e a contemplar o investimento necessário em segurança e vigilância das infraestruturas,

bem como a previsão de ganhos de eficiência energética e de redução da pegada ambiental deles resultantes;

• Desenvolver o domínio da ciberdefesa, através da concretização das linhas orientadoras da Estratégia

Nacional de Ciberdefesa, de forma articulada com as demais iniciativas em matéria de cibersegurança, assim

como através da capacitação de recursos humanos especialmente qualificados para fazer face aos desafios

do novo espaço de operações, designadamente edificando a escola de ciberdefesa, responsável pelo sistema

de formação da ciberdefesa no âmbito das Forças Armadas.

• Concretizar as linhas orientadoras da estratégia da defesa nacional para o espaço, capacitando as

Forças Armadas no domínio operacional do Espaço, enquanto elemento importante do ponto de vista da

soberania, mas igualmente vital para uma economia moderna e para diversas atividades civis.

• Continuar a dar prioridade ao desenvolvimento de projetos com valor multiplicador e relevo

internacional, como a edificação do Centro do Atlântico (Atlantic Center) na Região Autónoma dos Açores e a

criação do centro multinacional de treino de helicópteros (MHTC), em Sintra, a edificação do Cyber Academy

and Innovation Hub (CAIH), o Centro de Experimentação Operacional da Marinha e a Academia do Arsenal.

• Dar continuidade aos trabalhos de consolidação do enquadramento e reforçar as estruturas da

Página 42

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

42

Autoridade Marítima Nacional no ordenamento jurídico nacional.

• Prosseguir a internacionalização da economia da defesa, apostando nos clusters fundamentais para a

relevância estratégica nacional, como sejam as áreas da construção e reparação naval, comunicações,

sistemas avançados de simulação e treino, e nos campos da aeronáutica, naval, espacial e ciber.

• Continuar a consolidação do papel do Estado na gestão eficiente das participações públicas no setor da

economia da defesa, de forma articulada e centralizada na IdD PortugalDefence, promovendo soluções

economicamente racionais, impulsionando a economia da defesa, e promovendo sinergias entre o setor

público e o setor privado.

• Reforçar o acompanhamento e apoio institucional, designadamente através da IdD, para incentivar o

emprego qualificado, e promover e estimular a especialização nas indústrias de defesa, para ampliar a

capacidade de exportação das empresas que operam em Portugal, facilitando o trabalho de

internacionalização, consolidando o papel do Estado enquanto agente facilitador da internacionalização da

indústria de Defesa, em particular as indústrias emergentes da tecnologia e de elevado valor acrescentado.

No âmbito do Orçamento do Estado e outras fontes de financiamento nacionais está previsto (2022-2026):

• Execução dos investimentos previstos na Lei de Programação Militar (1975 M€18) visando a

modernização de equipamentos, a adequação de reservas de guerra para níveis compatíveis com o atual

contexto geopolítico, o prosseguimento dos projetos estruturantes, a edificação de capacidades no domínio

das tecnologias disruptivas, e a preparação, operação e treino de força; bem como a execução dos

investimento previstos na Lei das Infraestruturas Militares(110 M€).

Para robustecer a segurança interna o Governo irá continuar a adotar medidas que visam proporcionar

mais elevados níveis de segurança aos cidadãos, e que têm tornado Portugal um dos países mais seguros do

mundo, bem como reforçar a proteção civil com particular enfoque nas dimensões de prevenção e preparação.

Para proporcionar aos cidadãos níveis mais elevados níveis de segurança, o Governo irá:

• Prosseguir o investimento em infraestruturas e equipamentos e modernização tecnológica das forças e

serviços de segurança, implementado a Programação de Infraestruturas e Equipamentos das Forças de

Segurança para o período 2022-2026.

• Aprofundar as soluções de partilha de recursos entre as forças e serviços de segurança, nomeadamente

GNR e PSP, através da gradual integração das estruturas de apoio técnico e de suporte logístico, eliminando

redundâncias, simplificando estruturas e permitindo a alocação de elementos policiais à atividade operacional.

• Dar continuidade ao plano plurianual de admissões nas forças de segurança para o período 2022-2026,

assegurando o contínuo rejuvenescimento e a manutenção de elevados graus de prontidão e eficácia

operacional dos seus efetivos.

• Reforçar e modernizar os sistemas de telecomunicações, informação, comunicação e serviços da

administração interna, em particular a rede nacional de segurança interna, melhorando a resiliência, segurança

e cobertura das redes de comunicações de segurança e emergência do Estado.

• Reforçar os métodos do policiamento de proximidade, com utilização de metodologias aperfeiçoadas de

proteção das populações, incluindo as mais vulneráveis, bem como de fiscalização do espaço público, e da

sua preservação, e de patrulhamento, no sentido da realização do bem-estar das populações, em cooperação

com as autarquias locais;

• Aprofundar, em articulação com as autarquias, a implementação da nova geração de contratos locais de

segurança que concretize uma estratégia de policiamento de proximidade em domínios como a segurança

escolar, o apoio aos idosos ou a segurança no desporto e em grandes eventos.

Para reforçar a proteção civil, o Governo irá:

• Operacionalizar um novo modelo territorial de proteção civil, através da implementação de comandos

18 A Lei de Programação Militar encontra-se em revisão pelo que os valores apresentados poderão ser revistos.

Página 43

10 DE OUTUBRO DE 2022

43

sub-regionais, procurando uma maior proximidade às autarquias e comunidades intermunicipais, aos agentes

de proteção civil e às populações.

• Pôr em prática o novo Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais, assegurando a articulação entre

todas as entidades participantes na prevenção estrutural, nos sistemas de autoproteção de pessoas e

infraestruturas (designadamente o Programa Aldeia Segura/Pessoas Seguras), nos mecanismos de apoio à

decisão e no dispositivo de combate aos incêndios rurais;

• Assegurar um modelo de resposta profissional permanente a riscos de proteção civil, com a participação

da Força Especial de Proteção Civil, da Guarda Nacional Republicana (GNR), das Forças Armadas, dos

bombeiros sapadores, municipais e das equipas de intervenção permanente das associações de bombeiros

voluntários;

• Concretizar a aquisição de meios aéreos próprios para combate a incêndios rurais, de acordo com as

prioridades definidas pela Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) e pela Força Aérea;

No âmbito do Orçamento do Estado e outras fontes de financiamento nacionais está previsto (2022-2026):

• Plano plurianual de programação dos investimentos na modernização e operacionalidade das forças e

serviços de segurança (607 M€), que compreende um conjunto de investimentos em instalações, sistemas de

tecnologias de informação e comunicação, veículos, armamento e outro equipamento necessário à

prossecução das competências e atribuições das forças e serviços de segurança.

O Governo continuará empenhado numa justiça eficiente, ao serviço dos direitos e do desenvolvimento

económico-social, tornando a justiça mais próximas dos cidadãos, aumentando a transparência da

administração da justiça e criando condições para melhorar a qualidade e eficácia das decisões judiciais.

Visando tornar a Justiça mais próxima dos cidadãos, mais eficiente, moderna e acessível, o Governo irá:

• Desenvolver novos mecanismos de simplificação e agilização processual nos vários tipos de processo,

designadamente através da revisão de intervenções processuais e da modificação de procedimentos e

práticas processuais que não resultem da lei, mas que signifiquem mais burocratização da tramitação

processual, bem como criar condições legais ou outras para otimizar a gestão processual.

• Manter um esforço permanente de informatização dos processos judiciais, incluindo nos tribunais

superiores, continuando a evoluir na desmaterialização da relação entre o tribunal e outras entidades públicas,

e assegurando a gestão pública e unificada dos sistemas de suporte à atividade dos tribunais.

• Investir na requalificação e modernização das infraestruturas da justiça, designadamente, prisionais e de

reinserção social, bem como no acesso a cuidados de saúde da população reclusa, designadamente ao nível

da saúde mental.

• Aumentar a capacidade de resposta da jurisdição administrativa e tributária, designadamente, tirando

pleno partido das possibilidades de gestão e agilização processual, em especial quanto a processos de

massas;

• Assegurar a citação eletrónica de todas as entidades administrativas e a progressiva citação eletrónica

das pessoas coletivas, eliminando a citação em papel;

• Melhorar a recolha e o tratamento dos indicadores de gestão do sistema de justiça, de modo a ter

informação de gestão de qualidade disponível em tempo real para os gestores do sistema, designadamente

para os órgãos de gestão dos tribunais, bem como mecanismos de alerta precoce para situações de risco de

incumprimento dos prazos processuais e para o congestionamento dos tribunais;

• Reforçar a capacidade da investigação, em particular através da modernização tecnológica dos

sistemas de informação e comunicação da Polícia Judiciária, bem como o reforço dos meios ao combate do

cibercrime, incluindo os sistemas de receção e recolha de prova.

Por forma a aumentar a transparência e a accountability na administração da justiça, o Governo irá:

• Assegurar aos cidadãos, de dois em dois anos, a divulgação quantificada dos tempos médios de

Página 44

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

44

decisão processual, em primeira instância e em recurso, por tipo de processo e por tribunal;

• Reforçar as competências de gestão processual nos tribunais, enquanto condição necessária para

garantir a prestação aos cidadãos de um serviço de Justiça atempado e sem desperdício de recursos;

• Assegurar que as citações, notificações, mandados ou intimações dirigidas a particulares utilizem

sempre linguagem clara e facilmente percetível por não juristas.

Tendo em vista criar condições para a melhoria da qualidade e eficácia das decisões judiciais, o Governo

irá:

• Aumentar os modelos alternativos ao cumprimento de pena privativa da liberdade em estabelecimento

prisional, em especial para condenados aos quais se recomende uma especial atenção do ponto de vista

social, de saúde ou familiar;

• Reforçar as respostas penais diferenciadas à criminalidade em função da sua gravidade,

designadamente no âmbito dos sistemas de penas e de reinserção social;

• Reforçar a resposta e o apoio multidisciplinar oferecido às vítimas de crimes, em parceria com entidades

públicas e privadas, e em articulação com o sistema judiciário;

• Criar um corpo de assessores especializados para os tribunais e investir na sua formação inicial e

contínua, a funcionar de forma centralizada, designadamente em matérias cuja complexidade técnica

aconselha a existência de um apoio ao juiz;

• Agilizar o tempo de resposta em matéria de perícias forenses e demais serviços no âmbito da medicina

legal.

Ao encontro dos objetivos preconizados no domínio das funções de soberania, destacam-se os seguintes

investimentos no âmbito do PRR previstos para o período de 2022 a 2026:

• Justiça económica e ambiente de negócios (233 M€) – o investimento previsto para esta reforma

permite intervenções, enquadradas em plataformas digitais estruturantes (PD) e no reforço das infraestruturas

e equipamentos tecnológicos: PD dos tribunais; PD para ciclos de vida dos cidadãos e das empresas; PD para

a investigação criminal e forense e plataformas de gestão de conhecimento.

• Centro de operações de defesa do atlântico e plataforma naval (111 M€) – o investimento consiste no

desenvolvimento de um sistema assente em três pilares fundamentais, Plataforma naval multifuncional, Centro

de operações e Academia do Arsenal; que contribuirão para a preservação do valor dos serviços

ecossistémicos e para a «saúde dos oceanos», fazendo a defesa do meio e do território, mantendo a

preservação das cadeias de valor das diversas indústrias oceânicas e reforçando a capacidade operacional e

científica do País.

5. Primeiro desafio estratégico: alterações climáticas

Portugal foi o primeiro país do mundo a assumir o objetivo da neutralidade carbónica até 2050, na

Conference of the Parties (COP) de Marraquexe, em 2016. Segundo a Comissão Europeia, Portugal é o País

da UE que mais avançou rumo à neutralidade carbónica e que está em melhores condições de cumprir os

objetivos de redução de emissões até 2030. A Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia foi

decisiva para obter a aprovação da Lei Europeia da Clima, tendo sido recentemente aprovada a Lei de Bases

do Clima19 pelo Parlamento. Portugal tem uma posição geográfica particularmente exposta num contexto de

alterações climáticas e reconhece os custos que penalizam a inação perante estes desafios.

O desafio estratégico «Alterações Climáticas» centra-se assim em quatro domínios de intervenção:

• Transição energética.

• Mobilidade sustentável.

• Economia circular.

19 Lei n.º 98/2021 de 31 de dezembro.

Página 45

10 DE OUTUBRO DE 2022

45

• Adaptação e valorização do território.

No território nacional, a vulnerabilidade aos efeitos das alterações climáticas é sentida, por exemplo,

através de ondas de calor e secas prolongadas que aumentam o risco de incêndios de grandes dimensões e

colocam múltiplas pressões sobre um recurso fundamental à sobrevivência do ser humano e dos

ecossistemas: A água. De igual modo, é esperado uma maior frequência e magnitude das cheias e

inundações. Adaptar o País aos impactos das alterações climáticas significa, por isso, reduzir estas

vulnerabilidades e aumentar a resiliência, não só através de intervenções no território, mas também

aumentando o conhecimento e a informação indispensáveis à aplicação das medidas necessárias junto das

populações e das empresas.

Os sistemas de produção e consumo dos países desenvolvidos terão necessariamente de mudar. Segundo

as Nações Unidas, cerca de 50% das emissões de gases com efeito de estufa estão associadas à extração e

processamento de matérias-primas. Assim, persistir numa economia linear – que extrai, transforma, vende e

descarta – acarreta uma pesada fatura climática, para além de intensificar os riscos derivados da escassez de

água, solo arável e matérias-primas essenciais.

O setor dos transportes é um dos que mais contribui para as emissões nacionais tendo, em 2020, sido

responsáveis por mais de 25% das emissões de gases com efeito de estufa20 e por 74% do consumo de

petróleo21 em Portugal. É também uma das principais fontes de ruído e de poluição do ar, em particular de

emissões de óxidos de azoto e de partículas finas, com consequências para a saúde e a qualidade de vida das

populações. Por estes motivos, o setor deverá, até 2030, reduzir as suas emissões em 40% face às registadas

em 2005.

Determinante para este percurso de descarbonização, mas também para a coesão territorial e social, é a

aposta na mobilidade urbana sustentável e na ferrovia. Ao nível da mobilidade urbana sustentável, é de

destacar os investimentos na promoção do transporte público, bem como os incentivos à mobilidade ativa e à

disseminação da mobilidade elétrica como fatores chave para dos descarbonização e melhoria da qualidade

de vida das populações. Existem, neste momento, obras em curso em todos os principais corredores

ferroviários do país e foi recentemente lançado o maior concurso de material circulante da história do caminho

de ferro em Portugal. Contudo, o pleno aproveitamento destes investimentos por parte das populações e pelos

seus territórios não será imediato, dado o volume e complexidade das operações em curso.

Sendo inevitável o aumento da frequência e intensidade de eventos extremos associados às alterações

climáticas, torna-se necessário considerar estes riscos no desenvolvimento e organização do território e das

atividades que nele assentam. Esta condição é particularmente relevante para a proteção das comunidades,

no que diz respeito à segurança do abastecimento de água, à proteção do litoral e das comunidades que aí

residem e à salvaguarda da biodiversidade. O desenvolvimento assente nos recursos endógenos do país

permitirá preparar os territórios para lidar com o futuro.

Nos últimos seis anos foram dados passos no combate às alterações climáticas, que importa consolidar:

O peso das energias renováveis na produção de eletricidade em 2020 foi de 58%, mais 5pp do que em

2015 (em 2010 era de 41%)22. Portugal bateu recordes mundiais nos leilões de energia solar, e será possível

antecipar em 5 anos o cumprimento dos objetivos estabelecidos no Plano Nacional de Energia e Clima 2030

em termos de capacidade instalada de renováveis para produção de eletricidade previstos para 2030.

Em 2015, as emissões das centrais a carvão chegaram a representar cerca de 28% das emissões

nacionais. Em 2020, estas emissões já se tinham reduzido em 83%, passando a representar menos de 1%

das emissões nacionais23. Finalmente, Portugal antecipou para 2021 o fim da produção de eletricidade a partir

do carvão, encerrando as duas centrais ainda em funcionamento. Portugal foi o 4.º país da UE a abandonar o

carvão (Áustria, Bélgica e Suécia também o fizeram).

Quanto ao custo da energia para as pessoas e as empresas, apesar da pressão inflacionista que tem

existido e se mantém neste momento nas economias europeias e norte-americana, a inflação nos preços da

energia observada em Portugal é menor que no conjunto da União Europeia. A reduzida dependência

20 APA – Inventário Nacional de Emissões 2022, https://apambiente.pt/sites/default/files/_Clima/Inventarios/NIR20220415.pdf, p.6. 21 DGEG – Balanço Energético 2020 https://view.officeapps.live.com/op/view.aspx?src=https%3A%2F%2Fwww.dgeg.gov.pt%2Fmedia%2Futtpflgc%2Fdgeg-ben-2020.xlsx&wdOrigin=BROWSELINK 22 DGEG – Principais Indicadores Energéticos, https://www.dgeg.gov.pt/pt/estatistica/energia/indicadores-energeticos/ 23 APA – Inventário Nacional de Emissões 2022 https://apambiente.pt/sites/default/files/_Clima/Inventarios/NIR20220415.pdf

Página 46

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

46

energética da Rússia, o acesso a fontes alternativas para o aprovisionamento de energia e o elevado peso das

energias renováveis colocam Portugal numa posição privilegiada para contribuir para o reforço da resiliência

energética da EU face à Rússia, tal como exposto na Comunicação REPowerEU apresentada pela Comissão

Europeia a 18 de maio de 2022.

O Governo assume o objetivo de: reduzir, até 2030, as emissões de GEE em 55% face a 2005; aumentar

para 80% o peso das energias renováveis na produção de eletricidade até 2030, com a possibilidade de

antecipar em 4 anos o objetivo estabelecido; reduzir em 35% o consumo de energia primária até 2030;

aumentar para 47% o peso das energias renováveis no consumo final bruto de energia, no horizonte de 2030;

e reduzir, até 2030, 40% das emissões do setor dos transportes e mobilidade face aos níveis registados em

2005.

Salienta-se o alinhamento dos objetivos deste desafio estratégico com a agenda «transição climática e

sustentabilidade» do Plano Nacional de Reformas, que prossegue dois objetivos complementares: por um

lado, contribuir para a resposta aos desafios suscitados pelas alterações climáticas, apostando no aumento da

eficiência energética e no aproveitamento e no uso das energias renováveis; por outro lado, promover o uso

eficiente e sustentável dos recursos, potenciando condições e oportunidades de geração de valor económico e

de proteção ambiental. Alinha, por isso, com os objetivos da União Europeia no que se refere tanto ao pilar

«transição ecológica», quanto ao pilar «crescimento inteligente, sustentável e inclusivo».

O país conta já com um quadro consistente de instrumentos de planeamento e de políticas públicas que

concorrem para a concretização do 1.º Desafio Estratégico – Alterações Climáticas e que são apresentados no

Quadro 9, sendo de destacar:

• O Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 (RNC 2050) e o Plano Nacional de Energia e Clima

(PNEC 2030) constituem instrumentos de políticas integradas de energia e clima, que traduzem uma

abordagem convergente e articulada para promover a descarbonização da economia e a transição energética,

visando a neutralidade carbónica em 2050, enquanto oportunidade para o País, assente num modelo

democrático e justo de coesão territorial que potencie a geração de riqueza e o uso eficiente de recursos.

• A Estratégia Nacional de Adaptação às Alterações Climáticas, para implementar de forma integrada a

adaptação a estes efeitos e preparar o país para possíveis cenários futuros mais gravosos, Portugal dispõe de

uma Estratégia Nacional de Adaptação desde 2010 (ENAAC), sustentada numa base científica sólida, tendo a

mesma sido revista em 2015 (ENAAC 2020), centrando-se essencialmente na melhoria da articulação entre

domínios, particularmente os de natureza transversal, na integração nas políticas setoriais, e na

implementação de medidas de adaptação.

• A Estratégia Nacional para o Mar 2021-2030 consiste no principal documento orientador das políticas do

mar em Portugal. A visão desta estratégia assenta em promover um oceano saudável para potenciar o

desenvolvimento azul sustentável, o bem-estar dos portugueses e afirmar Portugal como líder na governação

do oceano, apoiada no conhecimento científico.

Página 47

10 DE OUTUBRO DE 2022

47

Quadro 99 – Instrumentos de planeamento e de políticas públicas associados ao desafio estratégico

transversal – Alterações climáticas

Primeiro desafio estratégico: Alterações climáticas transição climática

Domínio Instrumento Situação

Transição energética

Estratégia de Longo Prazo para a Renovação dos Edifícios Em vigor

Estratégia Nacional para o Hidrogénio Em vigor

Plano Nacional de Energia e Clima 2030 Em vigor

Programa de Eficiência de Recursos na AP (ECO.AP) Em vigor

Estratégia Nacional de Longo Prazo para o Combate à Pobreza Energética Em elaboração

Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 Em vigor

Plano Nacional de Poupança de Energia Em vigor

Mobilidade sustentável

Estratégia Nacional para a Mobilidade Ativa Ciclável Em vigor

Estratégia Nacional para a Mobilidade Ativa Pedonal Em elaboração

Programa de Apoio à Densificação e Reforço da Oferta de Transportes Públicos (PROTransP)

Em vigor

Programa Ferrovia 2020 Em vigor

Programa Nacional de Investimento 2030 Em vigor

Economia circular

Estratégia Nacional para a Gestão de Lamas de ETAR Urbanas 2030 Em elaboração

Plano de Ação para a Bioeconomia Sustentável 2030 Em vigor

Plano de Ação para a Economia Circular (PAEC) Em vigor

Plano Nacional de Gestão de Resíduos Em vigor

Plano Nacional para a Promoção das Biorrefinarias 2030 Em vigor

Recursos hídricos

Plano Estratégico para o Abastecimento de Água e Gestão de Águas Residuais e Pluviais 2030

Em vigor

Estratégia Nacional de Reabilitação de Rios e Ribeiras (EN3R) Em vigor

Programa Nacional de Regadios 2030 Em elaboração

Valorizar o território

Agenda de Inovação para a Agricultura 20/30 «Terra Futura» Em vigor

Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e Biodiversidade 2030 (ENCNB) Em vigor

Estratégia Nacional para a Agricultura Biológica (ENAB) Em vigor

Estratégia Nacional para a Gestão Integrada da Zona Costeira (ENGIZC) Em vigor

Estratégia Nacional para a Promoção da Produção de Cereais (ENPPC) Em vigor

Estratégia Nacional para as Florestas (ENF) Em vigor

Estratégia Nacional para o Mar 2021-2030 Em vigor

Estratégia Nacional para uma Proteção Civil Preventiva Em vigor

Plano de Ação Litoral XXI Em vigor

Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC 2023-2027) Em vigor

Estratégia para o Aumento da Competitividade da Rede de Portos Comerciais do Continente – Horizonte 2026

Em vigor

Página 48

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

48

O Desafio Estratégico Alterações Climáticas responde ao compromisso de Portugal para as metas

climáticas que permitirão o alcance da neutralidade carbónica até 2050. A descarbonização da economia e da

sociedade oferece oportunidades importantes e prepara o País para realidades que configurarão os fatores de

competitividade num futuro próximo.

Os objetivos deste desafio estratégico serão atingidos, em parte, pela execução do financiamento das

medidas apresentadas no Quadro 10, que representa os valores de investimento previstos no PRR, PT2030,

PT2020, e OE para o período 2022-2026. O PRR é um instrumento central para o combate às alterações

climáticas, contando com 38 % do seu investimento global afetado a objetivos de transição climática. Devem

ainda ser considerados outras medidas e reformas que não implicam investimentos diretamente associados à

sua implementação à frente apresentados.

Também o Fundo Ambiental assume um papel de destaque na prossecução da política de

descarbonização, assumindo-se como um instrumento financeiro relevante para a ação climática e política do

ambiente, nomeadamente através do apoio a projetos nas áreas da mitigação, promoção da mobilidade

sustentável, descarbonização das cidades e da indústria, adaptação e cooperação em matéria de alterações

climáticas, recursos hídricos, economia circular e resíduos, danos ambientais, conservação da natureza e

biodiversidade, educação energética e ambiental e promoção da política do bem estar dos animais de

companhia.

Quadro 1010 – Programação do financiamento das medidas associadas ao desafio estratégico –

Alterações Climáticas (M€)

Primeiro desafio estratégico: Alterações climáticas, transição climática Fontes de financiamento

Áreas de política 2022 2023 2024 2025 2026 Total PT

20

30

PT

20

20

PR

R

OF

E

Fo

nte

s

na

cio

nais

Eficiência energética em

edifícios e infraestruturas 66 258 258 227 188 997 X X X X

Produção e distribuição

de energia renovável 40 93 92 81 63 371 X X X

Descarbonização do

tecido produtivo 67 159 274 226 206 931 X X X

Ferrovia e transportes

públicos 197 381 643 728 754 2703 X X X X X

Mobilidade urbana

sustentável 301 235 179 167 177 1059 X X X

Economia circular 70 124 101 97 100 492 X X X

Recursos hídricos 133 247 176 208 196 960 X X X X

Floresta 36 125 119 156 127 563 X X

Mar 68 104 74 74 81 401 X X X X

Adaptação e valorização

do território 279 275 56 54 61 725 X X X X

Conservação da natureza

e biodiversidade 2 18 37 39 49 145 X

Agricultura sustentável 1249 1249 1345 1477 955 6276 X X

Página 49

10 DE OUTUBRO DE 2022

49

Primeiro desafio estratégico: Alterações climáticas, transição climática Fontes de financiamento

Áreas de política 2022 2023 2024 2025 2026 Total PT

20

30

PT

20

20

PR

R

OF

E

Fo

nte

s

na

cio

nais

Valorização da faixa

Atlântica 0 8 24 36 50 118 X

Sub-total 2507 3276 3380 3571 3007 15741 X X X X X

Nota: OFE – inclui Mecanismo Interligar Europa e PEPAC, Fontes nacionais – inclui Orçamento do Estado, Orçamento da

Segurança Social e outros fundos nacionais.

5.1 Transição energética

Portugal assumiu o compromisso de atingir a neutralidade carbónica até 2050, enquanto contributo para as

metas globais e europeias assumidas na execução do Acordo de Paris. Cumprir este objetivo exige uma

redução das emissões de gases com efeito de estufa superior a 85%, em relação às emissões de 2005, e uma

capacidade de sequestro de carbono de 13 milhões de toneladas.

A concretização do domínio «Transição Energética» passará por um conjunto de políticas dirigidas para os

seguintes eixos de atuação:

• Eficiência energética em edifícios e infraestruturas.

• Produção e distribuição de energia renovável.

• Descarbonização do tecido produtivo.

A transição energética que se perspetiva para a próxima década terá de mobilizar mais de 25 000 milhões

de euros de investimento, o que envolve uma complexa concertação de vontades e um alinhamento de

políticas, de incentivos e de meios de financiamento provenientes de várias origens incluindo PRR, PT2030,

Orçamento do Estado e privados (famílias e empresas). Para facilitar esta transição, deverá ser mobilizado um

conjunto de instrumentos legais e de planeamento que permitam obter uma efetiva redução de emissões,

promovendo em simultâneo o investimento, o emprego e a inovação.

Liderar a transição energética implica uma aposta inequívoca na concretização dos objetivos do Plano

Nacional de Energia e Clima para 2030: Alcançar, pelo menos, 80% de renováveis na produção de

eletricidade, alcançar uma meta de 47% de energia de fonte renovável no consumo final bruto de energia e

uma meta de 20% de energia renovável nos transportes e reduzir em 35% o consumo de energia primária até

2030. É na nesta década que se deverá realizar o maior esforço de redução das emissões de gases com

efeito de estufa, o que implica a adoção de metas ambiciosas de descarbonização, de incorporação de

energias renováveis e de eficiência energética. Garantir uma transição justa e inclusiva é condição necessária

para o sucesso desta visão.

Assim, tendo como objetivo a promoção da eficiência energética em edifícios e infraestruturas, o Governo

irá:

• Implementar a estratégia de longo prazo para a renovação dos edifícios, aprovada em 2021, que inclui

um roteiro com medidas e objetivos indicativos para 2030, 2040 e 2050 e a estratégia nacional de longo prazo

para o combate à pobreza energética, que pretende proteger os consumidores vulneráveis e integrá-los de

forma ativa na transição energética e climática.

No âmbito do PRR, o investimento para apoio a este eixo de intervenção prevê para o período 2022-2026:

• Eficiência energética em edifícios (591 M€) – para apoiar o investimento na eficiência energética dos

edifícios residenciais (281 M€), tendo especial atenção aos agregados familiares com menores rendimentos, e

dos edifícios de serviços do setor privado e da administração pública central, em linha com o ECO.AP –

Página 50

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

50

Programa de eficiência de recursos na administração pública (310 M€).

No âmbito do PT2030 pretende-se:

• No Objetivo Estratégico 2 – Portugal mais Verde – Promover a eficiência energética e a redução das

emissões de gases com efeito de estufa (2.1 – 287M€) apoiar a renovação energética do parque de edifícios

existentes da administração pública regional e local, promovendo a descarbonização e a transição energética

das atividades desenvolvidas pela administração pública regional e local, contribuindo para as metas de

redução de emissões de gases com efeito de estufa, de redução de consumos de energia por via do reforço

da eficiência energética, de incorporação de renováveis no consumo final bruto de energia, bem como para

promover a gestão eficiente de recursos.

Para avançar na produção e distribuição de energia renovável, o Governo irá:

• Acelerar a concretização do Plano Nacional de Energia e Clima 2030 e do Roteiro para a Neutralidade

Carbónica 2050, promovendo roteiros regionais para a neutralidade carbónica, elaborando orçamentos de

carbono quinquenais que definam um horizonte plurianual, assente em metodologias para avaliação do

impacto legislativo na ação climática e eliminando constrangimentos administrativos que criem custos de

contexto desproporcionados sem mais-valia ambiental.

• Prosseguir com o modelo de leilões de energias renováveis com vista ao cumprimento dos objetivos

fixados no PNEC2030, nomeadamente a preparação do primeiro leilão para eólica offshore a lançar em 2023;

• Lançar os leilões de hidrogénio já apresentados, mobilizando até 50 milhões de euros por ano das

receitas de CO2 existentes para apoiar a descarbonização da indústria e do setor dos transportes pesados de

passageiros e mercadorias.

• Concretizar as interligações energéticas previstas.

• Promover a produção de gases renováveis, com particular enfoque no hidrogénio e seus derivados,

incluindo amónia, metanol verdes e combustíveis sintéticos, contribuindo para a descarbonização da

economia, em particular dos setores industrial e dos transportes, nomeadamente no transporte aéreo e

marítimo.

• Apresentar um plano para o biometano, produzido, entre outros, a partir de biomassa, águas residuais

ou lamas de ETAR.

Para apoiar a produção e distribuição de energia renovável, destacam-se os seguintes investimentos do

PRR:

• Produção e distribuição de energias renováveis (185 M€) – para a produção e distribuição de hidrogénio

e gases renováveis, incluindo a criação de uma rede de postos de abastecimento a hidrogénio.

Em consonância, no âmbito do PT2030:

• No Objetivo Estratégico 2 – Portugal mais Verde – serão executados investimentos para promover as

energias renováveis e desenvolver sistemas de energia inteligentes, redes e armazenamento fora da rede

transeuropeia de energia – (123 M€).

Tendo como objetivo a descarbonização do tecido produtivo, o Governo irá:

• Promover um financiamento sustentável, elaborando uma estratégia que defina os instrumentos mais

adequados a mobilizar em linha com o Pacto Ecológico Europeu, definindo critérios mínimos de

descarbonização como condição para a atribuição de financiamento público e definindo um enquadramento

fiscal e financeiro que induza o investimento verde.

• Promover a emissão de obrigações verdes, fomentando o desenvolvimento de plataformas de

microcrédito orientado para o investimento em soluções de baixo carbono, promovendo a articulação entre o

Página 51

10 DE OUTUBRO DE 2022

51

Fundo para a Inovação, Tecnologia e Economia Circular e o Fundo Ambiental no apoio a projetos de

descarbonização e aumento de eficiência no uso de recursos.

No âmbito do PRR, o investimento para apoio a este eixo de intervenção prevê:

• Descarbonização da indústria (715 M€) – para a descarbonização do setor industrial e empresarial e a

promoção da mudança de paradigma na utilização dos recursos. Apoiados em medidas do Plano Nacional

Energia e Clima 2030 (PNEC), estes investimentos contribuem para acelerar a transição para uma economia

neutra em carbono e, simultaneamente, para promover a competitividade da indústria e das empresas, por via

da sua descarbonização, redução do consumo de energia e da promoção de fontes endógenas de energia.

No âmbito do PT2030:

• No Objetivo Estratégico 2 – Portugal mais Verde – serão apoiados investimentos para promover a

eficiência energética e redução das emissões de gases de efeito estufa e a transição para uma economia

circular (132 M€).

5.2 Mobilidade sustentável

Grande parte dos impactos dos transportes são indissociáveis do excessivo uso do automóvel, pelo que é

necessário dar continuidade a políticas que tornem as opções de mobilidade sustentável mais atrativas do que

o recurso ao transporte individual e que contribuam para a sua descarbonização, nos casos em que o seu uso

é imprescindível.

Esse caminho far-se-á, necessariamente, pelo investimento num transporte público acessível e de

qualidade, com destaque para o transporte ferroviário, para a expansão das redes de transporte público

urbano, bem como pela generalização dos veículos elétricos, progressivamente em modo partilhado e

autónomo, sem esquecer as formas de mobilidade ativa, como o uso da bicicleta.

A concretização do domínio «Mobilidade Sustentável» passará por um conjunto de políticas dirigidas para

os seguintes eixos de atuação:

• Ferrovia e transportes públicos

• Mobilidade urbana sustentável

Para promover a ferrovia e os transportes públicos, o Governo irá:

• Continuar a dar prioridade à ferrovia com os investimentos previstos no programa Ferrovia 2020 e o

arranque dos projetos previstos no Programa Nacional de Investimento 2030, em três eixos de ação principais:

completar a modernização e eletrificação de toda a rede ferroviária; eliminar os estrangulamentos à

capacidade nas áreas metropolitanas e criar um eixo de alta velocidade e de elevada capacidade entre Lisboa,

Leiria, Coimbra, Aveiro, Porto, Braga e a Galiza; e concluir e aprovar o plano ferroviário nacional que oriente

as opções de investimento no longo prazo.

• Concretizar o investimento em novo material circulante, executando os concursos já lançados para

comboios urbanos e regionais e lançando o concurso para comboios de longo curso, constituindo-se como

uma aposta na capacidade industrial nacional para o seu fabrico e montagem.

• Investir nas empresas públicas de transportes, permitindo-lhes aumentar a disponibilidade e a qualidade

da oferta e melhorar a qualidade dos serviços.

• Expandir as redes e serviços de transporte, quer através do Programa de Programa de Apoio à

Densificação e Reforço da Oferta de Transportes Públicos (PROTransP), quer concretizando os planos de

expansão das redes de transporte pesado de passageiros nas áreas metropolitanas e em territórios com

elevada densidade populacional e económica, nomeadamente os projetos aprovados e em curso nos

programas de financiamento PORTUGAL 2020 e PRR, e os projetos a desenvolver no âmbito do Portugal

2030.

Página 52

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

52

• Apoiar a capacitação das autoridades de transportes para promover o desenvolvimento de redes de

transporte mais flexíveis e mais capazes de responder às necessidades dos territórios de baixa procura.

No âmbito do PRR, o apoio à ferrovia e transportes públicos prevê os seguintes investimentos para o

período 2022-2026:

• Expansão das redes de transportes públicos urbanos (808 M€) – para apoiar a expansão das redes de

transportes públicos nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto (metro de Lisboa – Linha Vermelha até

Alcântara; Metro do Porto – Casa da Música-Santo Ovídio; metro ligeiro de superfície Odivelas-Loures; Linha

BRT Boavista – Império).

• Descarbonização dos transportes públicos (48 M€) – para apoio à aquisição de autocarros de baixas

emissões afetos ao transporte público rodoviário e respetivos postos de carregamento/abastecimento.

De forma complementar, no âmbito do Orçamento do Estado e outras fontes de financiamento nacionais

está previsto (2022-2026) o apoio a um conjunto de intervenções significativas com vista a potenciar o apoio à

ferrovia e transportes públicos (2416 M€), designadamente a concretização dos investimentos do programa

Ferrovia 2020, a expansão das redes do metro de Lisboa e do Metro do Porto, assim como o investimento na

aquisição de frota.

No âmbito do PT2030, serão apoiados os seguintes investimentos:

• No Objetivo Estratégico 2, Portugal mais Verde – promoção da mobilidade urbana multimodal

sustentável (467 M€).

• No Objetivo Estratégico 3, Portugal mais Conectado – desenvolvimento de uma rede transeuropeia de

transportes (RTE-T) e a mobilidade nacional, regional e local (406 M€).

No âmbito do Mecanismo Interligar Europa, serão apoiados os seguintes investimentos:

• Linha de alta velocidade Porto-Lisboa, em articulação com fontes de financiamento nacionais (635 M€).

Para promover a mobilidade urbana sustentável, o Governo irá:

• Continuar a promover o transporte público através da manutenção da redução dos preços dos passes

em todo o território e densificação da oferta, com a continuidade dos programas PART e PROTANSP, revendo

os seus modelos de financiamento com vista a assegurar uma maior previsibilidade e autonomia por parte das

autoridades de transportes.

• Promover a multimodalidade urbana e a mobilidade partilhada, implementando o novo regime jurídico do

serviço público de transporte de passageiros em táxi.

• Continuar o processo de capacitação das autoridades de transporte para que estas possam gerir e

planear de forma cada vez mais eficiente e eficaz as várias redes de transporte do País.

• Melhorar a integração dos novos conceitos de mobilidade elétrica com a distribuição e logística urbana e

promover oportunidades de desenvolvimento tecnológico e de novas soluções de mobilidade sustentável em

torno do ecossistema nacional da mobilidade elétrica.

• Facilitar a transição para a mobilidade elétrica, favorecendo no plano fiscal os veículos elétricos,

mantendo apoios à aquisição dos veículos, reforçando e expandindo a rede pública de carregamento.

• Promover soluções inovadoras e inteligentes de mobilidade, de bens e pessoas, designadamente ao

nível da mobilidade partilhada, que promovam e fomentem a descarbonização das cidades.

• Dar continuidade à Estratégia Nacional para a Mobilidade Ativa Ciclável, lançando a estratégia nacional

para a mobilidade ativa pedonal e acelerando a sua implementação.

No âmbito do PT2030, serão apoiados os seguintes investimentos:

Página 53

10 DE OUTUBRO DE 2022

53

• No Objetivo Estratégico 2 – Portugal mais Verde – promoção da mobilidade urbana sustentável (96 M€).

No âmbito do Orçamento do Estado e outras fontes de financiamento nacionais está previsto (2022-2026):

• Programa de Apoio à Redução Tarifária nos Transportes Públicos – PART (853 M€), que permite uma

redução muito significativo dos custos das famílias com os transportes públicos e permite ainda uma melhoria

da qualidade da oferta.

5.3 Economia circular

O desafio climático exige a transformação de um modelo económico de lógica linear – que extrai,

transforma, vende e descarta – para um modelo de lógica circular, em que seja possível uma utilidade mais

duradoura dos produtos, retirando deles um valor económico maior, nomeadamente através da redução do

consumo de materiais e produtos, da reutilização desses materiais e produtos e, esgotada a utilidade deles, da

sua reciclagem.

Esta transformação, pela sua transversalidade, exige instrumentos de política pública que beneficiem quem

opta por modelos de produção e consumo mais consciente e responsável, que efetivamente reduzam o

consumo de matérias-primas, de recursos e de energia, e que preservem o valor de produtos, materiais e

outros recursos na economia pelo máximo tempo possível. Desta forma reduz-se a pressão sobre os sistemas

e recursos naturais, minimizando a produção de resíduos e evitando a emissão de substâncias perigosas ao

longo do ciclo de vida dos produtos. Em consequência, promove-se o realinhamento do tecido produtivo e dos

consumidores, aproveitando as oportunidades geradas por novos processos, novos materiais, novos produtos

e novos serviços necessários à economia circular.

Portugal inovou na União Europeia com um plano de ação para a economia circular com três níveis de

ação (nacional, setorial e regional). Em 2022 está prevista a revisão do plano de ação para o ciclo 2030, tendo

em conta o Pacto Ecológico Europeu. Será dada continuidade à adoção dos princípios de economia circular

pelos consumidores, às empresas, ao setor financeiro e ao Estado, apostando na formação e na inovação

dirigida a desafios concretos – do design às soluções produto-serviço, da remanufactura à reciclagem –

vertidos também no PRR e nos princípios de do no significant harm, que todas as componentes de

financiamento deverão respeitar.

Para atingir os objetivos da transição para um modelo de economia circular o Governo irá:

• Rever os mecanismos de fiscalidade verde associados à poluição e uso de recursos, com base no

trabalho desenvolvido com a Comissão Europeia ao abrigo do Programa de Apoio às Reformas Estruturais.

• Incentivar a circularidade na economia, desenvolvendo um acordo nacional para compras públicas

circulares, e potenciar a formação de hubs de economia circular nacionais, apoiados através do PRR e de

outros mecanismos de financiamento europeu e nacional.

• Apostar numa maior integração dos princípios de economia circular nos currículos escolares, técnicos,

universitários e de formação avançada, e melhorando a informação ao cidadão, designadamente incorporando

o cumprimento dos objetivos de desenvolvimento sustentável, nos critérios de distinção PME Líder e PME

Excelência, desenvolvendo e aplicando rótulos de informação ambiental, sobretudo no retalho, entre outras

medidas.

• Multiplicar os benefícios associados às comunidades de energia, para comunidades de sustentabilidade,

em articulação com os municípios, alargando o âmbito a outros recursos, incentivando a produção e transação

de produtos com menor pegada ecológica, promovendo a circularidade na construção através de programas

de reabilitação, e promovendo os circuitos locais de produção e consumo com base nas alterações aos

instrumentos de política pública presentes e futuros.

• Aferir o progresso e eficiência das políticas de promoção da economia circular monitorizando

indicadores ambientais sistematizados para o efeito;

• Prosseguir com a concretização do ECO.AP 2030, na aposta na eficiência de recursos, na

descarbonização e nas energias renováveis pelo Estado, com metas na redução em 40% os consumos de

Página 54

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

54

energia primária, em 20% o consumo de água e outros materiais, bem como uma taxa de 5% de renovação

energética e hídrica dos edifícios das entidades da Administração Pública direta e indireta, incluindo serviços

centrais e periféricos.

• Potenciar as medidas previstas no Plano de Ação da Bioeconomia Sustentável 2030, nomeadamente

estreitando a sua relação com a Estratégia Nacional para a Gestão de Lamas de ETAR Urbanas 2030, o Tomo

II do ENEAPAI dedicado ao bagaço de azeitona, e as orientações estratégicas para os biorresíduos, com vista

à elaboração da estratégia nacional para o biometano e revisão do Plano Nacional para a Promoção de

Biorrefinarias 2030.

• Evoluir de uma gestão de resíduos para uma gestão de recursos, tendo por base o Plano Nacional de

Gestão de Resíduos e Planos adjuvantes, com particular ênfase nas medidas de prevenção de produção e de

gestão de resíduos.

• Prosseguir com o apoio à melhoria de eficácia e eficiência na gestão do ciclo urbano da água,

preconizado no Plano Estratégico para o Abastecimento de Água e Gestão de Águas Residuais e Pluviais

2030.

No âmbito do PRR, o apoio à economia circular prevê:

• Promoção da bioeconomia (141 M€) – pretende-se promover a bioeconomia, tendo como principal

objetivo a incorporação de materiais de base biológica em alternativa às matérias de base fóssil, em três

setores de atividade económica nacional – têxtil e vestuário, calçado, reninas naturais – assegurando uma

maior competitividade e, permitindo, desta forma, contribuir para a transição para neutralidade carbónica de

forma justa e coesa.

No âmbito do PT2030, serão apoiados os seguintes investimentos:

• No Objetivo Estratégico 2, Portugal mais Verde – promover a transição para uma economia circular (227

M€).

5.4 Valorizar o território

Importa valorizar o capital natural e a resiliência socioecológica dos territórios, no quadro de uma gestão

sustentável dos recursos naturais, tendo em conta o seu valor ambiental, social e económico. As políticas de

valorização do território desdobram-se nos seguintes eixos, que têm um desenvolvimento detalhado no

programa do Governo:

• Recursos hídricos.

• Floresta.

• Mar.

• Adaptação e valorização do território.

• Conservação da natureza e biodiversidade.

• Valorização da faixa atlântica.

Para assegurar a sustentabilidade e resiliência dos recursos hídricos, o Governo irá:

• Concluir o 3.º ciclo dos Planos de Gestão de Regiões Hidrográficas e o 2.º ciclo dos Planos de Gestão

dos Riscos de Inundação, elaborar os planos de gestão da seca e escassez e rever os Planos de

Ordenamento das Albufeiras de Águas Públicas. Garantir uma maior resiliência dos territórios mais afetados

pelos efeitos das alterações climáticas, com os Planos Regionais de Eficiência Hídrica do Alentejo e Algarve,

diminuindo a pressão sobre as origens de água superficiais e subterrâneas; otimizando a capacidade de

armazenamento, designadamente através de interligações entre sistemas, como forma de garantir maior

resiliência aos sistemas de abastecimento.

• Dar continuidade à execução da Estratégia Nacional de Reabilitação de Rios e Ribeiras (EN3R), numa

Página 55

10 DE OUTUBRO DE 2022

55

abordagem coesa à valorização da rede hidrográfica nacional.

• Implementar a estratégia 20/30 do Programa Nacional de Regadios, promovendo o regadio eficiente e a

resiliência do mundo rural face às alterações climáticas.

No âmbito do PRR, a aposta nos recursos hídricos prevê para os anos de 2022 a 2026:

• Mitigar a escassez hídrica (304 M€) –assegurar a resiliência dos territórios aos episódios de seca, tendo

por base os cenários de alterações climáticas e a perspetiva explanada na Estratégia Nacional de Adaptação

às Alterações Climáticas (ENAAC) e no Programa de Ação para as Alterações Climáticas (P-3AC),

contribuindo para a diversificação da atividade económica destas regiões e para o seu desenvolvimento

económico, social e ambiental.

No PT2030, estão previstos os seguintes investimentos:

• No Objetivo Estratégico 2, Portugal mais Verde – Para promover a adaptação às alterações climáticas, a

prevenção dos riscos e a resiliência a catástrofes e para promover a gestão sustentável da água (404 M€).

Para prosseguir a reforma da floresta, o Governo irá:

• Potenciar o sequestro florestal de carbono, promovendo a conservação e proteção da área florestal

existente e, sempre que se justifique, a sua reconversão e densificação com espécies mais adaptadas ao

território, tendo em vista a resiliência aos riscos, nomeadamente de incêndio, criando incentivos económicos

para projetos de sumidouro florestal e outras atividades que promovam o sequestro de carbono.

• Prosseguir com a política de remuneração dos serviços dos ecossistemas em áreas prioritárias,

nomeadamente os territórios vulneráveis (risco de incêndio e minifúndio) ou de elevado valor ambiental.

• Apoiar medidas de silvicultura sustentável, tal como previsto no PEPAC, e apoiar investimentos de

adaptação do território às alterações climáticas e de valorização do capital natural, tal como previsto no

REACT-EU – Medida «Resiliência dos territórios face ao risco».

No âmbito do PRR, os investimentos neste eixo de atuação preveem, para o período 2022-2026:

• Proteção contra os incêndios rurais (520 M€) – para desenvolver uma resposta estrutural na prevenção

e combate de incêndios rurais capaz de proteger Portugal de incêndios rurais graves num contexto de

alterações climáticas, e com impacto duradouro ao nível da resiliência, sustentabilidade e coesão territorial,

concretizando a transformação da paisagem dos territórios de floresta vulneráveis (270 M€); implementando

as faixas de gestão de combustível – rede primária; (120 M€); investindo no reforço dos meios do Estado para

a prevenção e combate a incêndios rurais (80 M€) e executando o programa MAIS Floresta (50 milhões de

euros).

No PT2030, estão previstos os seguintes investimentos:

• No Objetivo Estratégico 2, Portugal mais Verde – Para promover a adaptação às alterações climáticas, a

prevenção dos riscos e a resiliência a catástrofes (43 M€).

Para apostar no potencial do mar, o Governo:

• Concretizará a Estratégia Nacional para o Mar 2021-2030 e o respetivo plano de ação.

• Prosseguirá a interação com a Comissão de Limites da ONU para a concretização da extensão da

plataforma continental portuguesa.

• Promoverá o desenvolvimento de novas concessões de aquicultura nas áreas de expansão previstas no

Plano de Situação do Ordenamento do Espaço Marítimo Nacional e nas áreas de expansão previstas no Plano

de Aquicultura em Águas de Transição.

Página 56

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

56

• Prosseguirá a aposta nas energias renováveis oceânicas e apoiar projetos de inovação oceânica;

• Concretizará a Rede Nacional de Áreas Marinhas Protegidas no mar português e definir os seus planos

de gestão, com o objetivo de alcançar 30% do espaço marítimo nacional até 2030;

• Reforçará a importância estratégica do abastecimento do pescado às populações no contexto da

segurança alimentar e da autonomia estratégica e apoiar a indústria transformadora da fileira do pescado,

reforçando a sua competitividade através da transferência de conhecimento e da criação de produtos de maior

valor acrescentado e a internacionalização.

• Apoiará a pesca e a aquicultura inovadora e sustentável, reestruturando e modernizando a frota

pesqueira, tornando-as energeticamente mais eficientes, com vista a aumentar a atratividade do setor,

continuando a aposta na investigação e aprofundar o conhecimento dos recursos.

• Fomentará a sustentabilidade da atividade das pescas e o restauro e conservação dos recursos

biológicos aquáticos, dinamizando as atividades de aquicultura sustentáveis e da transformação e

comercialização de produtos da pesca e da aquicultura, contribuindo assim para a segurança alimentar da

União através da intervenção do Fundo Europeu dos Assuntos Marítimos das Pescas e da Aquicultura

(FEAMPA).

No âmbito do PRR aposta no mar, prevê:

• Desenvolver a economia do mar (108 M€) – para desenvolver uma economia do mar mais competitiva,

mais empregadora, mais coesa, mais inclusiva, mais digital e mais sustentável, desenvolvendo o hub Azul,

Rede de Infraestruturas para a Economia Azul (87 M€), apoiando a Transição Verde e Digital e Segurança nas

Pescas (21 M€)

No PT2030, estão previstos os seguintes investimentos:

• No Objetivo Estratégico 2 – Portugal mais Verde – para promover a adaptação às alterações climáticas,

a prevenção dos riscos e a resiliência a catástrofes (68 M€).

• No Objetivo Estratégico 3 – Portugal mais Conectado – desenvolvimento de uma rede transeuropeia de

transportes (RTE-T) e uma mobilidade nacional, regional e local (100 M€).

Para promover a adaptação e valorização do território, o Governo irá:

• Dar continuidade às ações constantes do Programa Nacional de Ação para a Adaptação às Alterações

Climáticas (P3AC), completando a cobertura de todo o território nacional com planos ou estratégias de

adaptação às alterações climáticas, promovendo a sua integração nas políticas e estratégias setoriais e a

incorporação nos planos diretores municipais.

• Desenvolver uma plataforma nacional de adaptação às alterações climáticas, que agregue informação

sobre efeitos e impactos das alterações climáticas em Portugal.

• Ordenar o território e tornar as comunidades mais resilientes, desenvolvendo as medidas do Programa

de Ação do Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território (PNPOT) que asseguram a

concretização dos dez Compromissos para o território, promovendo a cobertura total do território continental

pelos programas regionais do ordenamento do território (PROT), bem como a revisão dos que se encontram

vigentes, e reforçando a política de cidades, em linha com as agendas da sustentabilidade, e o seu papel na

estruturação do modelo policêntrico e funcional do território, articulando a rede urbana com repostas eficazes

ao território rural, fundamentais para um desenvolvimento equilibrado do País.

• Dar continuidade ao esforço de proteção costeira e valorização dos ecossistemas litorais através da

finalização das empreitadas já financiadas e preparando o conjunto de novas intervenções a financiar no novo

quadro de financiamento europeu, em articulação com os novos programas de orla costeira (POC).

• Implementar o Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC) a partir de janeiro de 2023,

através das medidas nele previstas para uma agricultura mais justa e inclusiva, promovendo uma gestão ativa

do território, baseada numa produção agrícola e florestal inovadora e sustentável, com uma melhor

redistribuição dos apoios, nomeadamente para a pequena agricultura e o rejuvenescimento da atividade e

Página 57

10 DE OUTUBRO DE 2022

57

assegurando o acesso aos pagamentos diretos a todas as superfícies elegíveis, apoiando práticas e

investimentos para uma transição climática, ecológica e energética, reforçando a condicionalidade ecológica e

avançando com a condicionalidade social.

No âmbito do PRR, a aposta na valorização do território prevê:

• Cadastro da Propriedade Rústica e Sistema de Monitorização da Ocupação do Solo (79 M€) – para

dotar o País de conhecimento atualizado e detalhado do território, quer a nível cadastral, com identificação dos

proprietários da terra e dos limites e caracterização da propriedade, quer de cartografia de referência, sobre a

qual possam assentar os diversos processos de planeamento de âmbito nacional, regional e local.

No PT2030, estão previstos os seguintes investimentos:

• No Objetivo Estratégico 2, Portugal mais Verde – para promover a adaptação às alterações climáticas, a

prevenção dos riscos e a resiliência a catástrofes (81 M€).

• No Objetivo Estratégico 4, Portugal mais Social e Inclusivo – para valorizar o papel da cultura e do

turismo sustentável no desenvolvimento económico, inclusão e inovação social (51 M€).

No PEPAC, estão previstos os seguintes investimentos:

• Investimento na exploração agrícola e florestal (1246 M€), reforçando a competitividade, melhorar o

desempenho e garantir a viabilidade e a sustentabilidade das explorações agrícolas e florestais, através do

aumento da produção, da criação de valor, do melhoramento da qualidade dos produtos, da introdução de

métodos e produtos inovadores, designadamente para melhorar o desempenho ambiental/climático das

explorações agrícolas, bem como do bem-estar animal.

• Apoios através de pagamentos diretos (1672 M€), que visam contribuir para estabilização do rendimento

dos agricultores e a resiliência das explorações agrícolas, promover a manutenção da atividade agrícola nas

zonas rurais através de gestão ativa. Dado o elevado contributo da pequena agricultura na gestão e

manutenção de uma ocupação territorialmente equilibrada incluí apoio específico à pequena agricultura e uma

redistribuição dos apoios entre as explorações de maior dimensão e as explorações de média e pequena

dimensão.

Para assegurar a conservação da natureza e recuperação da biodiversidade, o Governo irá:

• Continuar a promover a cogestão das áreas protegidas e a conclusão dos programas especiais das

áreas protegidas;

• Melhorar os sistemas de comunicação e gestão de valores naturais com vista à promoção dos valores

ambientais e do conforto e da qualidade da visita, disponibilizando, em várias línguas, mais e melhor

informação sobre o património natural das áreas protegidas, a par de uma melhoria da cobertura de redes de

dados móveis, permitindo a substituição progressiva da informação em suporte físico por informação digital,

• Expandir o projeto-piloto dos serviços dos ecossistemas para todos os parques naturais;

• Programar e executar intervenções de conservação e de recuperação de espécies (de flora e fauna) e

habitats, desenvolvendo programas de apoio ao restauro de serviços dos ecossistemas em risco,

• Reforçar a prevenção e controlo de espécies exóticas invasoras e de doenças e pragas agrícolas e

florestais, em particular nas áreas protegidas.

No PT2030, estão previstos os seguintes investimentos para esta temática:

• No Objetivo Estratégico 2, Portugal mais Verde – reforçar a proteção da natureza e da biodiversidade,

as infraestruturas verdes e reduzir a poluição (145 M€).

Para apostar na valorização da faixa atlântica, o Governo:

Página 58

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

58

• Prosseguirá a implementação da Estratégia para o Aumento da Competitividade da Rede de Portos

Comerciais do Continente – Horizonte 2026 e dos respetivos investimentos, recorrendo ao PT2030 e ao

Mecanismo Interligar Europa.

• Promoverá uma articulação dos objetivos da estratégia e da ambição europeia ao nível da transição

energética, da transição digital da operação portuária e da redução da pegada ecológica e da ação humana

com vista à mitigação das alterações climáticas.

No PT2030, estão previstos os seguintes investimentos:

• No Objetivo Estratégico 3 – Portugal mais Conectado – desenvolvimento de uma rede transeuropeia de

transportes – RTE-T (118 M€).

6. Segundo desafio estratégico: Demografia

Em 2019, o anterior Governo assumiu a resposta ao desafio demográfico como prioridade, reconhecendo

que a complexidade das perspetivas de evolução demográfica não é apenas portuguesa, nem é recente, nem

se deve apenas a problemas novos ou agudizados.

As projeções de longo prazo conhecidas apontam para um ritmo de redução de população que importa

contrariar. Este é um desafio em praticamente todos os países desenvolvidos, ainda que com declinações e

graus de incidência variáveis. Não sendo um tema novo, foi agravado durante a crise financeira e o programa

de ajustamento, com o registo de saldos migratórios negativos sistemáticos, dado que o País deixou de gerar

oportunidades de emprego.

Para fazer face ao desafio demográfico identificam-se cinco domínios de intervenção prioritários:

• Natalidade;

• Emprego;

• Habitação;

• Migrações;

• Envelhecimento e qualidade de vida.

O índice sintético de fecundidade registou progressos nos anos mais recentes acompanhando as melhorias

das condições de vida da população, alavancadas na política de devolução de rendimentos, de criação de

emprego de qualidade e da melhoria da resposta dos serviços públicos. O índice subiu de 1,30 em 2015 para

1,42 em 2019, o valor mais elevado desde 200524. Entretanto, com a crise sanitária o índice sintético de

fecundidade recuou para 1,40 no ano de 2020. Apesar da melhoria recente, continua a registar-se uma

diferença expressiva face à fecundidade desejada pelas famílias 25.

A pandemia afetou gravemente a economia portuguesa, tendo causado uma quebra acentuada no PIB, que

caiu 8,4% em 2020, interrompendo a trajetória de crescimento sustentado entre 2016 e 2019 e que foi mesmo

de convergência com a União Europeia, e produzindo reflexos negativos no mercado de trabalho,

interrompendo temporariamente o percurso de recuperação do emprego conquistado ao longo dos quatro

anos anteriores. Esta recuperação tornou-se evidente, do ponto de vista quantitativo, com a taxa de

desemprego a recuar para o valor mais baixo dos 16 anos anteriores, cifrando-se em 6,6% em 2019 e com um

crescimento sustentado do emprego, alcançando-se quase 4,776 milhões de pessoas empregadas em 2019, o

patamar mais elevado em 10 anos. Do ponto de vista qualitativo, registou-se um reforço da contratação

permanente e também uma melhoria generalizada do nível salarial.

A pandemia da COVID-19 conduziu a um aumento do desemprego, designadamente entre os grupos mais

24 INE, Índice Sintético de Fecundidade https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_indicadores&indOcorrCod=0008274& contexto=bd&selTab=tab2. 25 INE, Inquérito à Fecundidade https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_destaques&DESTAQUESdest_boui=415655178 &DESTAQUESmodo=2.

Página 59

10 DE OUTUBRO DE 2022

59

vulneráveis, como é o caso dos jovens, não obstante, e em virtude nomeadamente das medidas de política

pública de apoio à manutenção do emprego e de incentivo à normalização da atividade empresarial, ter sido

possível circunscrever este fenómeno. O Banco de Portugal estima que a perda de emprego no período do

primeiro confinamento se tenha situado nos 4%, metade do valor que se teria registado na ausência das

medidas de apoio ao emprego, nomeadamente o layoff simplificado. Deste modo, foi possível conter a

progressão do desemprego, pelo que, já no ano de 2021, a taxa de desemprego regressou aos níveis de 2019

(6,6%)26.

A população empregada atingiu em 2021 níveis superiores ao verificados antes da pandemia, com 4,812

milhões de pessoas empregadas27. Todavia, existem ainda focos de preocupação com alguns segmentos do

mercado de trabalho, desde logo no que respeita os jovens.

O direito à habitação é um direito fundamental indispensável para a concretização de um verdadeiro Estado

Social. Ao longo de muitos anos, a construção do Estado Social foi assente no SNS, na escola pública e na

segurança social pública, prestando menos atenção à habitação. Acresce que a ação do Estado se centrou

nas situações de grande carência habitacional, não intervindo na resposta habitacional para as classes médias

e os jovens. Como a isto acresceram as situações de crise originadas pela pandemia, torna-se inegável a

urgência de colmatar as carências habitacionais que persistem. É, por isso, importante identificar a habitação

como um dos pilares do Estado Social, dando-lhe centralidade e permitindo a construção de uma resposta

integrada.

As políticas migratórias, tendo por base a atração de imigração regulada e integrada e o incentivo ao

regresso de emigrantes e lusodescendentes, são essenciais para a resposta aos desafios demográficos. Nos

anos mais recentes foi possível uma inversão do saldo migratório, resultante do dinamismo económico e do

sucesso das políticas de integração. Depois de seis anos de saldo migratório negativo entre 2011 e 2016,

entre 2017 e 2020 registaram-se quatro anos consecutivos de saldos migratórios positivos28. Esta evolução do

saldo migratório permitiu que Portugal registasse em 2019 e 2020 saldos populacionais positivos29, o que não

se verificava desde 2010.

Por último, o atual quadro demográfico é também produto de evoluções positivas, designadamente a

diminuição da mortalidade e o aumento da esperança média de vida. Este quadro obriga à definição de uma

política de longevidade, que passe pela melhoria das respostas sociais de apoio ao envelhecimento, mas

também por novas respostas e estratégias que reforcem a participação cívica e social.

Este desafio estratégico está alinhado com a Agenda «As Pessoas Primeiro: um melhor equilíbrio

demográfico, maior inclusão, menos desigualdade» da Estratégia Portugal 2030 e do PNR, que pretende

garantir a sustentabilidade demográfica e uma sociedade menos desigual e com elevados níveis de inclusão,

visando reduzir a incidência de fenómenos de exclusão, nomeadamente o desemprego de longa duração, a

pobreza, as desigualdades e a precariedade laboral. Encontra-se alinhada com os objetivos da UE no que se

refere aos pilares de Políticas para a Próxima Geração, Transição Digital, Coesão Social e Territorial e Saúde

e Resiliência Económica, Social e Institucional.

O Governo procurará atuar de forma transversal, com o propósito de:

• Melhorar os equilíbrios do mercado de trabalho, promovendo a estabilidade laboral, e o acesso a

serviços e equipamentos de apoio à família para promover condições efetivas de exercício da parentalidade e

de conciliação entre o trabalho e a vida familiar e pessoal.

• Reforçar a rede de equipamentos sociais de apoio à infância, garantindo as suas condições de

acessibilidade e de inclusão.

• Identificar a habitação como um dos pilares do Estado Social, dando-lhe centralidade e permitindo a

construção de uma resposta integrada.

• Melhorar o acesso e a qualidade dos cuidados de saúde e proteção social, desde a fase pré-natal,

26 INE, Taxa de desemprego https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_indicadores&indOcorrCod=0011305&contexto=bd&selTab=tab2 27 INE, População Empregada https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_indicadores&indOcorrCod=0011237&contexto=bd&selTab=tab2 28 INE, Saldo Migratório https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_indicadores&indOcorrCod=0008269&contexto=bd&selTab=tab2 29 INE, Estimativa de População Residente https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_destaques&DESTAQUESdest_boui=473079785&DESTAQUESmodo=2

Página 60

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

60

incluindo a procriação medicamente assistida, até à capacidade de assegurar dignidade das condições de

envelhecimento, assegurando boas condições de vida aos cidadãos seniores.

• Adotar uma política consistente e eficaz de migrações, assegurando a boa regulação dos fluxos e a

atratividade do país para novos imigrantes e para o regresso dos emigrantes e seus descendentes,

promovendo a integração dos imigrantes e contrariando a xenofobia;

• Mobilizar as instituições de ensino superior na implementação do Programa «Study and Research in

Portugal», de modo a reforçar o número de estudantes estrangeiros a estudar em Portugal.

Para atingir estes objetivos Portugal dispõe dos instrumentos de planeamento e de políticas públicas

listados no Quadro 11 11 11, dos quais se destacam:

• A Agenda do Trabalho Digno, uma proposta de lei aprovada em Conselho de Ministros e submetida à

Assembleia da República, tem como princípios gerais o combate à precariedade, conciliação da vida familiar e

profissional e valorização dos jovens no mercado de trabalho. Tem ainda como prioridade a dinamização da

contratação coletiva, alargando o tipo de trabalhadores abrangidos», incluindo os trabalhadores

independentes, mas economicamente dependentes e em outsourcing, e condicionando o acesso a apoios

públicos a empresas abrangidas por contratação coletiva dinâmica.

• O Programa Nacional de Habitação (PNH), em elaboração como previsto na Lei de Bases da Habitação

(LBH), é o instrumento programático da política nacional de habitação que estabelece, numa perspetiva

plurianual, os seus objetivos, prioridades, programas e medidas. O PNH assume a valorização das políticas

públicas de habitação no quadro das políticas sociais em Portugal, reconhecendo-a como prioridade nacional

no quadro plurianual 2022-2026.

Quadro 11 11 – Instrumentos de planeamento e de políticas públicas associados ao desafio estratégico

transversal – Demografia

Segundo desafio estratégico: Demografia

Domínio Instrumento Situação

Emprego

Agenda do Trabalho Digno Em elaboração

Acordo de Formação Profissional e Qualificação Em vigor

Habitação

Programa Nacional de Habitação Em elaboração

Programa de Apoio ao Acesso à Habitação – 1º Direito Em vigor

Parque Público de Habitação a Preços Acessíveis Em vigor

Programa Reabilitar para Arrendar – Habitação Acessível Em vigor

Programas de apoio ao arrendamento, nomeadamente o Programa Porta 65 Jovem

Em vigor

Programa Chave na Mão Em vigor

Programa Da Habitação ao Habitat Em vigor

Bolsa Nacional de Alojamento Urgente e Temporário Em vigor

Página 61

10 DE OUTUBRO DE 2022

61

Segundo desafio estratégico: Demografia

Domínio Instrumento Situação

Programa Porta de Entrada Em vigor

Programa de Intervenções em Habitações Em vigor

Migrações

Plano Nacional de Implementação do Pacto Global das Migrações Em vigor

Acordo sobre a Mobilidade entre os Estados-Membros da CPLP Em vigor

Programa Regressar Em vigor

Envelhecimento e Qualidade de Vida

Programa Nacional de Desporto para Todos Em vigor

Programa de Reabilitação de Instalações Desportivas Em vigor

Os objetivos deste desafio estratégico serão atingidos, em parte, pela execução do financiamento das

medidas apresentadas no Quadro 12, que representa os valores de investimento previstos no PRR e no

PT2020, para o período 2022-2026. Este desafio estratégico contará com outras fontes de financiamento,

como o OE ou Portugal 2030, para além de medidas e reformas que não implicam investimentos diretamente

associados à sua implementação.

Quadro 1212– Programação do financiamento das medidas associadas ao desafio estratégico –

Demografia (M€)

Segundo Desafio Estratégico: Demografia Fontes de financiamento

Áreas de Política 2022 2023 2024 2025 2026 Total PT

20

30

PT

20

20

PR

R

Fo

nte

s

Nacio

na

is

Políticas de apoio à infância 114 177 217 241 241 990 X

Emprego 407 451 202 199 186 1445 X X X

Habitação 119 439 570 652 558 2337 X X X X

Migrações 35 35 30 30 30 160 X X X

Envelhecimento e qualidade de vida

64 139 195 269 324 992 X X X X

Sub-total 740 1240 1213 1391 1340 5924 X X X X

Nota: Fontes Nacionais – inclui Orçamento de Estado, orçamento da Segurança Social e outros fundos nacionais

Página 62

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

62

6.1 Natalidade

O objetivo da política pública de natalidade passa por criar condições para que as famílias possam ter os

filhos que desejam ter, permitindo-lhes desenvolver projetos de vida com maior qualidade e segurança e com

conciliação entre trabalho e vida familiar e pessoal. Trata-se de uma verdadeira política de família, visando a

promoção do bem-estar numa sociedade mais consentânea com as aspirações e projetos das pessoas, e não

apenas uma política de melhoria das perspetivas demográficas do país.

Neste plano, o Governo irá:

• Facilitar a decisão de ter os segundo e terceiro filhos, através do aumento das deduções fiscais no IRS

em função do número de filhos (excluindo a diferenciação dos filhos em função do rendimento dos pais).

• Reforçar o abono de família e as deduções fiscais no IRS, assegurando a todas as famílias o valor de

600 euros por criança ou jovem, através do abono de família ou de dedução à coleta de IRS, garantindo que

os titulares do direito a abono de família acima do 2º escalão que não obtenham esse valor anual receberão a

diferença.

• Reforçar o acesso a serviços e equipamentos de apoio à família, garantindo a progressiva gratuitidade

da frequência de creches do setor social e solidário (até 2024), concretizando, em parceria e com o

envolvimento de diferentes atores, incluindo os municípios, um programa de alargamento das respostas

sociais de apoio à família, em particular para a infância e nos territórios com uma rede mais frágil,

designadamente alargando a rede de creches, com mais 20 mil novos lugares e modernizando 18 mil lugares,

e concretizando a universalização do ensino pré-escolar.

• Aprovar e concretizar as medidas de conciliação entre o trabalho e a vida pessoal e familiar, bem como

as medidas da natalidade e da parentalidade incluídas na Agenda do Trabalho Digno, incluindo o teletrabalho,

os horários de trabalho, licenças e outros instrumentos de apoio à conciliação.

• Melhorar a conciliação entre trabalho, vida pessoal e familiar, alargando a necessidade de autorização

expressa de bancos de horas e regimes de adaptabilidade para pais de crianças até aos 6 anos, promovendo

a majoração dos valores das licenças parentais com partilha reforçada entre progenitores e melhorando o

acesso a outras licenças para cuidados em caso de partilha.

No âmbito do Orçamento do Estado e outras fontes de financiamento nacionais está previsto (2022-2026):

• Gratuitidade das creches (408 M€), com o início em 2022 da gratuitidade das creches do setor social e

solidário para as crianças no primeiro ano de creche, sendo alargado progressivamente nos anos seguintes;

• Majoração da Dedução por Dependente em sede de IRS (100 M€), com a dedução à coleta por

dependente até aos seis anos, aplicável a partir do segundo filho a ser majorada dos 600€ para os 900€ (750€

em 2022 e 900€ em 2023).

• Alteração do limiar 3º escalão abono de família (117 M€) adequando à evolução recente do salário

mínimo nacional, aumentando o limite superior do escalão de 1,5 IAS para 1,7 IAS, garantindo mais apoio a

um maior número de crianças.

6.2 Emprego

A qualidade do emprego tem registado também progressos relevantes nos anos mais recentes. Apesar de

permanecer acima da média europeia, a precariedade reduziu-se de forma assinalável com peso dos vínculos

sem termo na população empregada por conta de outrem a subir de 78,0% em 2016 para 83,9% em 202230.

Também os rendimentos do trabalho registaram uma evolução muito favorável, não apenas pela subida do

salário mínimo em 40% desde 2015, mas também pela subida de 21% do rendimento médio mensal líquido

entre 2015 e 2021, resultante não apenas dos aumentos salariais, mas também do desagravamento dos

30 INE, População empregada por conta de outrem https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_indicadores&indOcorrCod=0010682&contexto=bd&selTab=tab2

Página 63

10 DE OUTUBRO DE 2022

63

impostos sobre o trabalho31.

As políticas para o Emprego desdobram-se nos seguintes eixos:

• Promover o trabalho digno em todas as suas dimensões.

• Reforçar o combate à precariedade e promover a dimensão coletiva das relações de trabalho.

• Reforçar os serviços públicos de emprego e a orientação das políticas ativas para o trabalho digno e um

mercado de emprego mais inclusivo.

Para promover o trabalho digno em todas as suas dimensões, o Governo:

• Assegurará que o mercado de trabalho é dinâmico e responde às necessidades das empresas, mas

também que o emprego criado não gera insegurança e instabilidade, desde logo, nos rendimentos, e permite a

concretização dos projetos de vida das pessoas, em particular dos jovens. Assegurará também que o mercado

de trabalho é inclusivo, abrangendo todos os segmentos e grupos, mesmo os mais vulneráveis e afastados.

• Assegurará o reforço do diálogo social, da negociação coletiva e representação de todos, a começar

pelos trabalhadores e pelo sindicalismo, sobretudo no seguimento da crise. Importa, agora, criar condições,

não apenas para que a recuperação se paute por um reforço da dignidade do trabalho, mas também para que

a regulação de longo prazo do mercado seja equilibrada.

Para reforçar o combate à precariedade e promover a dimensão coletiva das relações de trabalho, o

Governo:

• Prosseguirá a implementação de uma Agenda do Trabalho Digno. Os níveis ainda excessivamente

elevados de contratação não permanente, especialmente entre os jovens, a persistência de bolsas de trabalho

não declarado ou a recuperação incompleta da negociação coletiva nos anos anteriores à pandemia são

exemplos de desequilíbrios do mercado de trabalho em Portugal expostos e acentuados pela pandemia.

Destacam-se, ainda, as novas formas de trabalho emergentes no quadro da transição digital que estão

insuficientemente reguladas, como o trabalho em plataformas.

Para reforçar os serviços públicos de emprego e a orientação das políticas ativas para o trabalho digno e

um mercado de emprego mais inclusivo, o Governo:

• Reforçará as políticas e os serviços públicos de emprego para que contribuam para um mercado de

emprego mais inclusivo e para um emprego sustentável, em particular nos grupos e contextos de maior

vulnerabilidade relativamente ao emprego, como é o caso dos jovens.

No âmbito do PRR, o apoio ao emprego prevê:

• Compromisso Emprego Sustentável (230 M€) – para promover o incentivo à contratação permanente de

desempregados, de carácter excecional e que deverá vigorar durante um período limitado – i.e. 12 meses,

com possibilidade de prorrogação da medida em função da evolução do contexto e cumprimento das metas.

No PT2030, estão previstos os seguintes investimentos:

• No Objetivo Estratégico 4 – Portugal mais Social e Inclusivo – Para apoiar o acesso ao emprego para

todos os candidatos a emprego (661 M€).

31 INE, Rendimento médio mensal líquido https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_indicadores&indOcorrCod=0011268&contexto=bd&selTab=tab2

Página 64

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

64

6.3 Habitação

Dada a crescente consciência da relevância e abrangência das questões em torno da Habitação, Portugal

dispõe hoje de dois instrumentos centrais – Nova Geração de Políticas de Habitação e Lei de Bases da

Habitação – que são a base do reforço do parque público que está em curso. Existem 196 Estratégias Locais

de Habitação e uma Bolsa de Imóveis do Estado com aptidão habitacional para arrendamento público a preços

acessíveis.

No âmbito deste desafio, o Governo irá erradicar as principais carências habitacionais identificadas no

Levantamento Nacional de Necessidades de Realojamento Habitacional de 2018 até ao 50.º aniversário do 25

de abril, em 2024. A par deste Programa, é essencial garantir uma primeira resposta de emergência para as

situações mais imprevisíveis, necessariamente temporária e enquadrada na especificidade de cada situação.

As políticas para a habitação desdobram-se nos seguintes eixos:

• Renovar a aposta nas políticas de habitação.

• Erradicar as situações habitacionais indignas existentes e a discriminação no acesso à habitação.

• Garantir o acesso à habitação a todos.

• Garantir a segurança no acesso à habitação e a qualidade do parque habitacional.

• Conceber a habitação como instrumento de inclusão social e de coesão territorial.

Para renovar a aposta nas políticas de habitação, o Governo:

• Aprovará o Programa Nacional de Habitação, já colocado em discussão pública, de acordo com a Lei de

Bases da Habitação e a Nova Geração de Políticas de Habitação, definindo os objetivos, as metas e os

recursos a alocar à política de habitação num horizonte de 2022-2026.

• Reforçará o atual parque público de habitação, para dar resposta às maiores carências, aumentar a

oferta de alojamentos a preços acessíveis para agregados com rendimentos intermédios.

• Reforçará a promoção da melhoria de autonomia e independência no parque habitacional, garantindo

melhores condições de acessibilidade e inclusão.

• Reforçará o incentivo para a execução de intervenções nas habitações de pessoas com deficiência, que

comprovem um grau de incapacidade igual ou superior a 60% e que sejam proprietárias ou arrendatárias

dessas habitações.

Para erradicar as situações habitacionais indignas existentes e a discriminação no acesso à habitação, o

Governo:

• Afetará os recursos financeiros necessários para atingir o objetivo de erradicar as principais carências

habitacionais identificadas no Levantamento Nacional de Necessidades de Realojamento Habitacional de

2018, bem como as necessidades identificadas pelas autarquias nas respetivas Estratégias Locais de

Habitação, através do 1.º Direito –Programa de Apoio ao Acesso à Habitação.

• Efetivará a Bolsa Nacional de Alojamento Urgente e Temporário, em cooperação com a Segurança

Social, que assegure uma resposta temporária de recurso para as situações de emergência.

Para garantir o acesso à habitação a todos, o Governo:

• Criará um parque público de habitação a custos acessíveis, orientado para dar resposta aos agregados

de rendimentos intermédios em situação de dificuldade de acesso à habitação, através da promoção direta e

do apoio aos programas municipais;

• Incentivará a oferta privada de arrendamento a custos acessíveis e a redinamização do setor

cooperativo e colaborativo, bem como reforçará o Porta 65 Jovem.

Para garantir a segurança no acesso à habitação e a qualidade do parque habitacional, o Governo:

• Estudará a criação de uma resposta a quebras extraordinárias de rendimentos – que ponham em causa

Página 65

10 DE OUTUBRO DE 2022

65

a manutenção dos contratos de arrendamento – que evite situações de despejo por razões conjunturais,

implementando e monitorizando os novos instrumentos legais de fiscalização das normas do arrendamento

habitacional e verificação das condições de habitabilidade dos fogos arrendados.

Concebendo a habitação como instrumento de inclusão social e de coesão territorial, o Governo:

• Promoverá programas de mobilidade habitacional, compatibilizando o programa Chave na Mão com os

programas de promoção da mobilidade para o interior.

• Promoverá a reconversão de territórios críticos e complexos, como as áreas de génese ilegal e de

construção informal, mediante a eliminação dos aspetos que dificultem a sua resolução e a mobilização dos

apoios financeiros disponíveis para este fim.

• Implementará o programa Da Habitação ao Habitat, como via para a promoção da coesão e da

integração socio-territorial dos bairros de arrendamento público, com vista à melhoria global das condições de

vida dos seus moradores.

No âmbito do PRR, a resposta ao desafio da habitação prevê:

• Programa de Apoio ao Acesso à Habitação – 1º Direito (1.211 milhões de euros), para aumentar a oferta

de habitação social, incluindo a resposta a outras necessidades conexas, procurando disponibilizar uma

habitação digna e adequada a, pelo menos, 26.000 agregados sinalizados pelas autarquias nas suas

Estratégias Locais de Habitação

• Bolsa nacional de alojamento urgente e temporário (176 milhões de euros), para promover uma

resposta estruturada e transversal para as pessoas que carecem de soluções de alojamento de emergência ou

de transição, mediante a criação de 2.000 alojamentos de emergência ou de acolhimento/ transição, e de 473

fogos, 3 bloco habitacionais e 5 Centros de Instalação Temporários e Espaços Equiparados especificamente

para as forças de segurança.

• Parque público de habitação a custos acessíveis (empréstimo) (775 milhões de euros), para responder à

atual dinâmica de preços da habitação face aos níveis de rendimentos das famílias portuguesas, ao

disponibilizar um parque público de habitações, abrangendo pelo menos, 6 800 alojamentos; que poderão ser

arrendadas a preços acessíveis por grupos-alvo.

6.4 Migrações

Portugal precisa do contributo da imigração para sustentar o seu desenvolvimento económico e

demográfico. É necessário prosseguir com políticas de imigração, que devem ser orientadas para uma

imigração regulada e integrada, em prol do desenvolvimento e sustentabilidade do país, não apenas no plano

demográfico, mas também enquanto expressão de um país tolerante, diverso e aberto ao mundo.

Para atingir estes objetivos, o Governo irá:

• Promover a regularidade dos trajetos migratórios, continuando a promover acordos bilaterais de

migração regulada com países exteriores à União Europeia.

• Implementar o Acordo sobre a Mobilidade entre os Estados-Membros da CPLP e outros programas

específicos de promoção da imigração.

• Promover e reforçar os programas de integração de refugiados na sociedade.

• Garantir uma separação orgânica clara entre as funções policiais e as funções administrativas de

autorização e documentação de imigrantes;

• Simplificar e agilizar as tipologias e o processo de obtenção de vistos e autorizações de residência

evoluindo para um balcão único destes processos e removendo obstáculos de acesso e comunicação aos

serviços públicos;

• Garantir condições de integração dos imigrantes, concretizando políticas setoriais e o reforço da

articulação com os municípios;

• Incentivar o regresso de emigrantes e lusodescendentes, executando e reforçando o Programa

Página 66

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

66

Regressar.

No âmbito do PT2030, estão previstos os seguintes investimentos:

• No Objetivo Estratégico 4, Portugal mais Social e Inclusivo – Promover a inclusão ativa, a igualdade de

oportunidades, a não discriminação, a participação ativa e a melhoria da empregabilidade (grupos vulneráveis)

(25 M€).

6.5 Envelhecimento e qualidade de vida

Mesmo conjugando diferentes políticas públicas de melhoria dos cenários demográficos, a atual pirâmide

demográfica torna inevitável o envelhecimento da população portuguesa ao longo das próximas décadas.

Por isso, é fundamental que as medidas de política contem com os cidadãos seniores. Torna-se essencial

preparar os sistemas de emprego, de saúde, de proteção social para lidar com as consequências e com os

novos riscos do envelhecimento. Por outro lado, existem dimensões significativas do envelhecimento em que

as políticas públicas operam de modo preventivo, por exemplo no que toca à aprendizagem ao longo da vida

ou, de modo muito claro, no campo da saúde. Por outro lado, há que impedir práticas discriminatórias em

função da idade e prevenir casos de violência contra pessoas idosas, inclusive em âmbito familiar.

Refira-se que se continuará a potenciar o contributo do desporto, em torno de dois objetivos estratégicos

principais: afirmar Portugal no contexto desportivo internacional e colocar o país no lote das quinze nações

europeias com cidadãos fisicamente mais ativos, na próxima década.

As políticas públicas para o envelhecimento e qualidade de vida desdobram-se nos seguintes eixos:

• Assegurar um envelhecimento ativo e digno

• Estimular a atividade física e desportiva

Para assegurar um envelhecimento ativo e digno, o Governo irá:

• Adaptar a Segurança Social aos desafios do envelhecimento, tomando medidas – além da manutenção

do emprego – que garantam a sua sustentabilidade.

• Garantir a qualidade de vida na terceira idade, através do alargamento da rede com equipamentos e

respostas inovadoras e requalificação dos equipamentos residenciais para idosos, completando a rede de

Cuidados Continuados Integrados

• Assegurar a concretização plena e efetiva das medidas de apoio aos cuidadores informais previstas no

respetivo estatuto.

Para estimular a atividade física e desportiva, o Governo irá:

• Elevar os níveis de atividade física e desportiva da população, nomeadamente através do desporto

escolar e do Programa Nacional de Desporto para Todos com o objetivo de aumentar os índices de bem-estar

e saúde de todos os estratos etários.

• Continuar a promover a excelência da prática desportiva, melhorando os Programas de Preparação

Olímpica e Paralímpica e criar instrumentos que garantam a atletas olímpicos e paralímpicos e de alto

rendimento, após a cessação da sua prática, mecanismos de apoio após o termo da carreira desportiva.

• Promover a conciliação do sucesso académico e desportivo, alargando ao ensino superior o Programa

das Unidades de Apoio ao Alto Rendimento na Escola.

• Promover a cooperação entre autoridades, agentes desportivos e cidadãos, com vista a erradicar

comportamentos e atitudes violentas, de racismo, xenofobia e intolerância em contextos de prática desportiva,

do desporto de base ao desporto de alto rendimento.

• Desenvolver políticas de promoção da integridade do desporto, dando sequência à Convenção do

Conselho da Europa sobre Manipulação de Competições Desportivas;

• Desenvolver mecanismos de promoção de uma participação equilibrada de mulheres e homens no

Página 67

10 DE OUTUBRO DE 2022

67

desporto;

• Continuar a reabilitação do parque desportivo, promovendo a sustentabilidade ambiental, através do

programa PRID, criado em 2017, privilegiando reabilitações e construções que promovam a redução de

emissões e a eficiência energética.

No âmbito do PRR, os apoios ao envelhecimento e à qualidade de vida são os seguintes:

• Nova Geração de Equipamentos e Respostas Sociais (417M€) – os investimentos a realizar

consubstanciam-se em intervenções a diferentes níveis e alinhadas com o quadro estratégico nacional para a

inclusão social, para a redução da pobreza, para o envelhecimento ativo e saudável e para a inclusão das

pessoas com deficiência ou incapacidades.

• Sistema Universal de Apoio à Vida Ativa (SUAVA) (10 M€) – que visa contribuir para os Objetivos de

Desenvolvimento Sustentável para criar sociedades, sistemas, ambientes e pessoas ativas.

No PT2030, estão previstos os seguintes investimentos:

• No Objetivo Estratégico 4, Portugal mais Social e Inclusivo – para promover a igualdade de acesso a

serviços de qualidade e em tempo útil; proteção social; sistemas de saúde e cuidados prolongados (15 M€).

No âmbito do Orçamento do Estado e outras fontes de financiamento nacionais está previsto (2022-2026) o

financiamento corrente (558 M€) dos novos lugares da Rede Nacional de Cuidados Continuados e Integrados

proporcionados pelo investimento PRR.

7. Terceiro desafio estratégico: desigualdades

O desafio estratégico «Desigualdades» tem como desígnio maior articular uma resposta imediata de

mitigação das desigualdades (e da intensificação dos seus efeitos provocados pelo choque sanitário e

económico) com uma intervenção de fundo que garanta condições e oportunidades de vida mais equitativas e

uma redução progressiva e duradoura das expressões mais agravadas das desigualdades e da pobreza e

exclusão social, sem esquecer o combate às formas de discriminação que, apesar da eliminação dos

fundamentos institucionais respetivos, subsistem. A estes elementos acresce ainda a necessidade de

implementar políticas públicas orientadas também pelo objetivo do desenvolvimento equilibrado e harmonioso

do território nacional.

Este desafio desdobra-se em cinco domínios de intervenção:

• Igualdade de género e combate às discriminações;

• Rendimentos e justiça fiscal;

• Erradicação da pobreza;

• Educação;

• Coesão territorial.

O combate às desigualdades e a promoção da igualdade e não discriminação são objetivos centrais dos

instrumentos de planeamento estratégico nacionais bem como dos programas de financiamento na sua base.

Até ao momento de eclosão da pandemia da doença COVID-19, estava a verificar-se uma melhoria gradual

dos indicadores principais que aferem a situação do país em termos de desigualdades. Pelo efeito disruptivo

súbito que gerou, a crise pandémica interrompeu essa tendência. Importa, pois, prosseguir o esforço orientado

para a diminuição sustentada das desigualdades sociais, apostando em políticas públicas inclusivas e

distributivas compatíveis com um projeto e uma ambição de uma sociedade justa e coesa.

Segundo os dados do INE, a taxa de risco de pobreza após transferências sociais, que diminuiu de 19,0%,

em 2015, para 16,2%, em 2019, cifrou-se em 18,4%, em 202032. Fazendo a diferenciação desta taxa para este

último ano em NUTS II, verifica-se que o valor mais baixo, 12,8%, corresponde à Área Metropolitana de

Lisboa, tendo os mais elevados sido registados no Algarve (21,6%), nos Açores (21,9%) e na Madeira

32 http://www.ine.pt/xurl/ind/0004206.

Página 68

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

68

(24,2%)33. Ou seja, além da observação das desigualdades e da sua persistência, não deve deixar de ser tido

em consideração que há diferenciações territoriais significativas desse fenómeno, diferenciações essas que

exigem atenção e cuidado.

Ainda segundo os dados do INE, no plano dos rendimentos, o coeficiente de Gini diminuiu de 33,9%, em

2015, para 31,2%, em 2019, passando para 33,0%, em 202034. Neste último ano, este coeficiente assumiu

valores mais elevados no Centro e na Região Autónoma dos Açores, sendo os mais baixos registados no

Alentejo, no Algarve e na Região Autónoma da Madeira. O Norte e a Área Metropolitana de Lisboa assumem

valores intermédios, comparativamente. Os indicadores de desigualdade de rendimentos calculados com base

no rácio entre os 10% e os 20% de pessoas com maiores e menores rendimentos tiveram a mesma tendência

de variação. O S90/S10 diminuiu de 10,1 para 8,1, entre 2015 e 2019, tendo passado para 9,8, em 202035. O

S80/S20 diminuiu de 5,9 para 5,0, no mesmo intervalo, tendo, em 2020, ficado em 5,736.

Apesar dos progressos registados, o baixo nível de qualificações de uma grande fatia da população adulta,

continua a ser uma das maiores fragilidades estruturais do país, que ainda regista, em 2021, 50,2% da

população adulta (entre os 25 e os 64 anos de idade) com níveis de qualificação inferior ao secundário.

Acresce que a qualificação é condição essencial para o acesso a mais e melhores oportunidades de emprego,

nomeadamente emprego de qualidade e sustentável.

Adicionalmente, e não obstante os avanços alcançados, é reconhecido que continuam a persistir

desigualdades estruturais entre mulheres e homens, assentes em estereótipos de género que estão na origem

das discriminações diretas e indiretas em razão do sexo e que se manifestam designadamente no persistente

desequilíbrio na distribuição do trabalho de cuidado e doméstico entre os géneros; os níveis elevados de

segregação horizontal, a par da disparidade salarial de género (11,4% em 202037) e nas pensões (28,4% em

202038]); a feminização do risco de pobreza e exclusão social (20,9% face a 18,9% entre homens, em 202039]);

as dificuldades de conciliação e as barreiras ao acesso das mulheres a lugares de decisão (26% na

administração das empresas cotadas em 202040). Os impactos da crise da COVID-19 acentuaram estas

desigualdades, manifestando-se designadamente ao nível da segregação profissional, na desigualdade

salarial ou na distribuição desigual das tarefas de cuidado e doméstica, tendo as mulheres sido praticamente a

totalidade dos beneficiários do apoio excecional à família, bem como do subsídio por isolamento profilático por

descendente. Acresce ainda que as mulheres assumem maior peso no desemprego, designadamente no

registado (57,3%, julho de 202241), incluindo entre jovens (54,9%42) e a estar significativamente

subrepresentadas nas profissões ligadas às transições digital (2,0% dos especialistas em TIC no emprego

total, face a 7,7% entre os homens43) e verde.

Face a esta evolução, é necessário assegurar a coordenação de um conjunto de instrumentos de

orientação e de ação que permitam: a) garantir uma igualdade de direitos de facto, como repúdio de qualquer

modo de discriminação; b) promover justiça maior na distribuição dos rendimentos e da riqueza; c) reforçar as

competências e qualificações, para que ninguém fique para trás e as oportunidades sejam mais equitativas; d)

corrigir as assimetrias regionais, promovendo a coesão territorial.

No âmbito do combate às desigualdades, o Governo assume os objetivos de: aumentar o peso das

remunerações em 3 pontos percentuais do PIB, até 2026, para atingir o valor correspondente à média do

conjunto da União Europeia; aumentar o rendimento médio por trabalhador em 20%, entre 2021 e 2026;

promover negociações no quadro da concertação social orientadas pelo propósito de estabelecer um acordo

que assuma uma trajetória de atualização real faseada e sustentada do salário mínimo nacional, de modo a

atingir pelo menos 900€ em 2026; promover a convergência de todas as regiões e sub-regiões portuguesas

com o nível médio de desenvolvimento da União Europeia.

33 http://www.ine.pt/xurl/ind/0009821. 34 http://www.ine.pt/xurl/ind/0004212. 35 http://www.ine.pt/xurl/ind/0004214. 36 http://www.ine.pt/xurl/ind/0004213. 37 Eurostat, Gender pay gap in unadjusted form Statistics | Eurostat (europa.eu) 38 Eurostat, Gender pension gap by age group – EU-SILC survey Statistics | Eurostat (europa.eu) 39 Eurostat, People at risk of poverty or social exclusion by sex Statistics | Eurostat (europa.eu) 40 CIG, Igualdade de género em Portugal 2021 – poder e tomada de decisão CIG_Boletim Estatístico 2021 41 IEFP, Informação Mensal – Mercado de Emprego 8b5ff4ce-a676-4756-8fb8-a5dc60e7ce18 (iefp.pt) 42 IEFP, Informação Mensal – Mercado de Emprego 8b5ff4ce-a676-4756-8fb8-a5dc60e7ce18 (iefp.pt) 43 Digital Economy and Society Index (DESI) – Women in Digital (WiD) Scoreboard The Digital Economy and Society Index (DESI) | Shaping Europe’s digital future (europa.eu)

Página 69

10 DE OUTUBRO DE 2022

69

O conteúdo deste desafio encontra-se alinhado com parte relevante de duas das agendas da Estratégia

Portugal 2030 – «As pessoas primeiro: um melhor equilíbrio demográfico, maior inclusão, menos

desigualdade» e «Um país competitivo externamente e coeso internamente» –, expressas também no

Programa Nacional de Reformas de 2022. Adicionalmente, este desafio estratégico converge ainda com o

Plano de Ação do Pilar Europeu dos Direitos Sociais, assim como com a Agenda Territorial 2030, sendo

transpostos daí, nomeadamente daquele plano de ação e já expressos na Estratégia Nacional de Combate à

Pobreza, um conjunto de objetivos e metas, do qual cumpre destacar a redução da taxa de pobreza monetária

para 10% até 2030 (o que significa menos 660 mil pessoas naquela situação), que abrange a redução de 50%

do número de crianças em pobreza monetária e de 50% do número de trabalhadores em pobreza monetária (o

que significa menos 170 mil crianças e menos 230 mil trabalhadores naquela situação).

Um conjunto de instrumentos de planeamento e de políticas públicas, com focos setoriais e planos de

intervenção distintos – porém concertados e convergentes –, serve a estratégia orientada para a diminuição

sustentada e sustentável das desigualdades que está a ser prosseguida em Portugal, como se pode observar

no Quadro 13.

Quadro 13 13 – Instrumentos de planeamento e de políticas públicas associados ao desafio estratégico

transversal – Desigualdades

Terceiro Desafio Estratégico: Desigualdades

Domínio Instrumento Situação

Igualdade de género e combate às discriminações

Estratégia Nacional para a Inclusão das Pessoas com Deficiência 2021-2025

Em vigor

Estratégia Nacional para a Igualdade e a não Discriminação 2018-2030

Em vigor

Plano Anual de Formação Conjunta em Violência contra as Mulheres e Violência Doméstica

Em vigor

Plano Nacional de Combate ao Racismo e à Discriminação Em vigor

Rendimentos e justiça fiscal Acordo de Médio Prazo de Melhoria dos Rendimentos, dos Salários e da Competitividade

Em vigor

Erradicação da pobreza

Estratégia Nacional de Combate à Pobreza Em vigor

Estratégia Nacional de Longo Prazo para o Combate à Pobreza Energética

Em processo legislativo

Estratégia Nacional para a Integração de Pessoas em Situação de Sem-Abrigo

Em vigor

Programa de Apoio ao Acesso à Habitação – 1º Dto Em vigor

Educação

Estratégia Nacional de Educação para a Cidadania Em vigor

Plano 21|23 Escola+ Em vigor

Plano Nacional de Alojamento para o Ensino Superior Em vigor

Plano Nacional de Promoção do Sucesso Escolar Em vigor

Coesão territorial Estratégia Comum de Desenvolvimento Transfronteiriço Em vigor

Página 70

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

70

Terceiro Desafio Estratégico: Desigualdades

Domínio Instrumento Situação

Estratégia Nacional de Smart-Cities Em elaboração

Programa de Captação de Investimento para o Interior Em vigor

Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território Em vigor

Programa Regressar Em vigor

Programa de Valorização do Interior Em vigor

Os objetivos deste desafio estratégico serão atingidos pela execução de um conjunto de investimentos cuja

programação se apresenta no Quadro 14. Será de referir que são apresentados os investimentos

programados à data de elaboração deste documento, abrangendo fundos provenientes do PT2030, do PT2020

e do PRR para o período 2022-2026.

Quadro 1414 – Programação do financiamento das medidas associadas ao desafio estratégico –

Desigualdades (M€)

Terceiro Desafio Estratégico – Desigualdades Indicativo da fonte de financiamento

Áreas de Política 2022 2023 2024 2025 2026 Total PT

20

30

PT

20

20

PR

R

Fonte

s

Nacio

nais

Igualdade de género e combate às discriminações

65 70 35 36 31 238 X X X

Rendimentos e justiça fiscal

650 650 650 650 650 3250 X

Erradicação da pobreza

476 560 461 466 464 2427 X X X X

Educação 1276 1346 704 627 652 4605 X X X X

Coesão territorial 192 292 373 427 435 1719 X X X X

Sub-total 2658 2918 2223 2207 2233 12239 X X X X

Nota: Fontes Nacionais – inclui Orçamento de Estado, orçamento da Segurança Social e outros fundos nacionais

7.1 Igualdade de género e combate às discriminações

Em Portugal, o direito à igualdade e à não discriminação está consagrado no plano constitucional e

densificado na legislação ordinária. Neste contexto, o país tem conseguido melhorias significativas na

promoção da igualdade entre mulheres e homens e no combate às várias formas de discriminação

Página 71

10 DE OUTUBRO DE 2022

71

nomeadamente em razão do sexo, da orientação sexual, da identidade e expressão de género, e

características sexuais e da origem racial e étnica. No entanto, apesar dos avanços conquistados, inclusive

por via da remoção de obstáculos institucionais, subsistem desigualdades e fenómenos de discriminação, que,

no âmbito de uma sociedade igualitária e digna, devem ser combatidos.

Neste plano, são três os eixos de intervenção fundamentais do objetivo estratégico aqui enunciado:

• Promover e consubstanciar a igualdade entre homens e mulheres.

• Potenciar a autonomia e a inclusão das pessoas com deficiência ou incapacidade.

• Combater o racismo e qualquer outra forma de discriminação.

Em relação ao primeiro eixo de intervenção, as políticas públicas para a igualdade entre homens e

mulheres e para a não discriminação em razão do sexo têm vindo a ser consubstanciadas ao longo das

últimas décadas, sendo atualmente objeto de uma abordagem dupla, inscrita nos instrumentos de estratégia e

de planeamento nacionais, através, por um lado, da transversalização destes objetivos nas várias áreas de

política e, por outro, do desenvolvimento de ações específicas. O propósito maior é, pois, continuar a

prosseguir-se as orientações expressas nesses instrumentos – um dos quais a Estratégia Nacional para a

Igualdade e a Não Discriminação 2018-2030 –, nomeadamente:

• Promover a concretização da igualdade de entre mulheres e homens no emprego, nos salários e nas

condições de trabalho, designadamente introduzindo mecanismos complementares para que a desigualdade

salarial e nos rendimentos diminua, promovendo a proteção na parentalidade e a conciliação da vida

profissional, pessoal e familiar, combatendo a segregação profissional entre homens e mulheres e estimulando

programas de desconstrução de estereótipos de género e atração de pessoas do sexo sub-representado,

designadamente na área do digital.

• Assegurar o cumprimento das leis da representação equilibrada nos órgãos de administração e

fiscalização das empresas públicas e das empresas cotadas, bem como nos cargos dirigentes da

administração pública.

• Lançar um pacto de corresponsabilidade pela conciliação (pessoas, instituições) que inclua medidas que

promovam a igualdade na prestação de cuidados e da partilha de tarefas domésticas e de cuidado entre

mulheres e homens.

• Reforçar a transversalidade das políticas de promoção da igualdade de género, alargando a experiência

dos orçamentos com perspetiva de género em diferentes áreas governativas, a produção de dados

administrativos desagregados por sexo e a produção e monitorização de indicadores em matéria de igualdade

entre mulheres e homens, em cada um dos desafios estratégicos, que potencie um processo de avaliação

gradual dos progressos.

• Combater todas as formas de violência, em particular contra as mulheres, com destaque para a

violência doméstica, e promover mecanismos de apoio e proteção das vítimas.

• Desenvolver um sistema integrado de atuação urgente de âmbito territorial e garantir a cobertura

integral do território, envolvendo e formando operadores policiais, judiciários e membros das respostas e

estruturas da Rede Nacional de Apoio à Violência Doméstica.

• Concluir a unificação da Base de Dados da Violência Doméstica, instituindo um sistema de tratamento

de informação que se baseie numa visão global e integrada em matéria de homicídios e de outras formas de

violência contra as mulheres e de violência doméstica.

Estas medidas acompanham e complementam as reformas e investimentos inscritos no PRR, que integram

objetivos de igualdade entre mulheres, de forma direta e indireta, designadamente através de várias medidas

específicas incluindo na componente «Qualificações e Competências», que pretendem combater práticas

discriminatórias e estereótipos de género que condicionam as opções formativas e profissionais de raparigas e

mulheres, com impacto nos rendimentos e na carreira profissional.

Adicionalmente, há a considerar outra reforma e um investimento no âmbito do PRR que confere uma parte

da cobertura a este eixo de intervenção, a Bolsa Nacional de Alojamento Urgente e Temporário (176 M€). No

Página 72

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

72

âmbito da resposta estruturada e transversal com soluções de alojamento para pessoas em situação de

necessidade ou de risco, acolherá as vítimas de violência doméstica.

Em alinhamento com este eixo, no âmbito do PT2030 está planeado:

• No objetivo Estratégico 4 – Portugal mais Social e Inclusivo – apoiar investimentos para a participação

equilibrada de género no mercado de trabalho; conciliação entre vida profissional e familiar (21,5 M€).

Em relação ao segundo eixo de intervenção, continuando o trabalho apostado na capacitação e na

potenciação da autonomia e da inclusão das pessoas com deficiência ou incapacidades, o propósito é

prosseguir o que está consolidado e reafirmado na Estratégia Nacional para a Inclusão das Pessoas com

deficiência 2021-2025. Do universo de medidas a implementar, justificam destaque as seguintes:

• A definição de um plano nacional de não institucionalização, que permita soluções e investimentos

direcionados para respostas sociais inovadoras, de proximidade, em articulação com os municípios e o setor

social.

• A concretização do modelo definitivo de apoio à vida independente.

• A adoção de abordagens inovadoras ao nível da atribuição e da reutilização de produtos de apoio,

essenciais à superação de obstáculos por parte de pessoas com deficiência, mediante apoio à investigação e

à produção nacional de produtos e tecnologias nas áreas das TIC e dinamização de bancos de reutilização de

produtos de apoio.

• A majoração, enquanto fase final de implementação da prestação social para a inclusão,

correspondendo à comparticipação de encargos específicos, de caráter pontual ou periódico, relativas à

educação, formação, habitação ou reabilitação.

• O lançamento de um programa de apoio à contratação e empregabilidade das pessoas com deficiência

ou incapacidade.

• A promoção de acessibilidades físicas, digitais, de informação e comunicação para todos.

• A dinamização da constituição de centros de referência para apoio a grupos de pessoas com

deficiências específicas, que congreguem as diferentes respostas que estes cidadãos procuram.

• Assegurar a regulamentação do regime de antecipação da idade da pensão de velhice por deficiência.

De entre os vários investimentos inscritos no PRR, dois têm particular contributo relevante para este eixo

de intervenção:

• Acessibilidades 360 (45 M€) – reforço do investimento na melhoria das acessibilidades físicas para

pessoas com deficiência ou incapacidades.

• Plataforma +Acesso (3 M€) – investimento para implementação de uma plataforma que pretende

congregar um conjunto de informações e ferramentas digitais, implementando novas soluções digitais úteis na

área da inclusão das pessoas com deficiência ou incapacidades.

Em relação ao terceiro eixo de intervenção, o governo continuará a assumir como prioritário combater o

racismo e qualquer outra forma de discriminação, que vão desde o discurso depreciativo e de ódio até ao

incitamento e à consumação de agressões por motivos, nomeadamente racistas, xenófobos, sexistas,

homofóbicos ou transfóbicos.

Além de continuarem a ser garantidas iniciativas de combate às diversas formas de discriminação,

dispositivos de proteção de vítimas de discriminação e de violência e ações de sensibilização, formação e

promoção de literacia de direitos, sobretudo em contexto escolar, o Governo irá:

• Reforçar o combate ao racismo e à xenofobia, implementando o Plano Nacional de Combate ao

Racismo e à Discriminação 2021-25 – Portugal contra o racismo.

• Assegurar a universalidade e promover o acesso dos grupos discriminados ao sistema educativo.

• Definir o perfil profissional do mediador sociocultural.

Página 73

10 DE OUTUBRO DE 2022

73

• Desenvolver iniciativas específicas de ação e de apoio no território, designadamente no acesso das

comunidades ciganas e afrodescendentes à habitação.

• Combater a discriminação baseada na orientação sexual, lançando campanhas com vista à

desconstrução de estereótipos e prevenção de práticas homofóbicas, bifóbicas, transfóbicas e interfóbicas;

• Desenvolver uma estratégia específica para apoio às pessoas transsexuais e aos processos de

transição.

No segundo e terceiro eixos, no âmbito do PT2030 está planeado:

• No Objetivo Estratégico 4 – Portugal mais Social e Inclusivo –, apoiar investimentos para a inclusão

ativa, igualdade oportunidades, não discriminação, participação ativa e melhoria da empregabilidade (grupos

vulneráveis) (93 M€).

7.2 Rendimentos e justiça fiscal

Nos últimos seis anos, assistiu-se a uma reversão das tendências de agravamento da desigualdade e da

perda de peso dos salários no rendimento nacional. Estas melhorias foram o resultado da evolução do salário

mínimo nacional e da aceleração do investimento produtivo. Porém, este é um caminho que o Governo irá

consolidar, dadas as excessivas desigualdades salariais que ainda se registam e a situação causada pela

pandemia, através de dois eixos principais:

• Promover a valorização salarial, combater as desigualdades salariais e os leques salariais excessivos

nas empresas.

• Construir um sistema fiscal mais justo, promovendo a progressividade fiscal e reforçando a cooperação

europeia e internacional para combater as desigualdades globais.

Para o primeiro eixo, promover a valorização salarial, combater as desigualdades salariais e os leques

salariais excessivos nas empresas, a prioridade política fundamental do governo é criar as condições para

prosseguir o crescimento sustentado dos salários, com o objetivo de aumentar, até 2026, o peso das

remunerações no PIB em três pontos percentuais para atingir o valor médio da União e de aumentar o

rendimento médio por trabalhador em 20% entre 2021 e 2026. Neste sentido, o Governo implementará o

acordo de médio prazo (2022/2026), negociado em sede de concertação social, de melhoria dos rendimentos,

dos salários e da competitividade, incluindo:

• A trajetória plurianual de atualização real do salário mínimo nacional, de forma faseada, com o objetivo

de atingir pelo menos os 900 euros em 2026.

• A valorização do rendimento dos mais jovens, por via da valorização salarial nas empresas e do

alargamento do IRS Jovem já concretizado com o Orçamento do Estado de 2022.

• Tratamento fiscal favorável para as startups para os planos de opção, de subscrição ou de aquisição de

valores mobiliários a favor de trabalhadores.

• A valorização da negociação coletiva através da sua promoção na fixação dos salários.

• A criação de um quadro fiscal adequado para que as empresas assegurem, a par da criação de

emprego líquido, políticas salariais consistentes em termos de valorização dos rendimentos e de redução das

disparidades salariais.

• Avaliar os impactos da lei da igualdade salarial entre homens e mulheres e verificar os progressos

obtidos.

• Estabelecer mecanismos de representação dos trabalhadores nas administrações das empresas

cotadas e do acesso dos trabalhadores à participação na estrutura acionista das empresas e nos seus

resultados.

Relativamente ao segundo eixo, a construção de um sistema fiscal mais justo, a eficácia da

Página 74

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

74

progressividade dos impostos sobre o rendimento individual, enquanto mecanismo básico de redistribuição,

requer uma maior equidade no tratamento de todos os tipos de rendimento e a eliminação de soluções que,

beneficiando os contribuintes com mais recursos, induzam dinâmicas contrárias de regressividade. Neste

campo, o Governo irá:

• Dar continuidade ao desenvolvimento de mecanismos que acentuem a progressividade do IRS,

conforme já inscrito no Orçamento do Estado para 2022.

• Continuar a valorização do mínimo de existência e correção de elementos de regressividade que

desincentivam o aumento de rendimento dos trabalhadores, em particular dos salários próximos do salário

mínimo nacional.

• Assegurar a avaliação regular e sistemática dos benefícios fiscais, através da criação da unidade

técnica de política fiscal, promovendo um sistema fiscal mais simples e transparente.

• Garantir um quadro de estabilidade na legislação fiscal, assegurando a previsibilidade necessária à

dinamização do investimento privado.

Paralelamente, as crescentes sofisticação e globalização dos mecanismos de evasão e de elisão fiscal

tornam indispensável uma maior cooperação europeia e internacional, bem como a criação de novas

iniciativas, quer no âmbito da União Europeia, quer no âmbito da OCDE. Para este efeito, o Governo irá:

• Bater-se por uma maior justiça fiscal à escala europeia, combatendo a erosão das bases tributáveis

entre diferentes Estados, a evasão fiscal e a concorrência desleal.

• Dinamizar, no quadro das instituições europeias, os instrumentos de implementação do acordo

alcançado ao nível da OCDE para equidade, transparência e estabilidade do quadro internacional do imposto

sobre as sociedades, assegurando a implementação rápida e harmonizada dos Pilares 1 e 2.

• Promover uma cooperação europeia e internacional reforçada na troca de informação financeira e fiscal

e mecanismos efetivos de combate aos «paraísos fiscais».

• Defender, no plano europeu, a tributação dos movimentos de capitais, das transações financeiras e da

economia digital, bem como o desenvolvimento de incentivos fiscais para a inovação e o desenvolvimento

sustentável.

No âmbito do Orçamento do Estado e outras fontes de financiamento nacionais está previsto (2022-2026):

• Revisão dos escalões do IRS (2675 M€), com subida de sete para nove escalões concretizada pelo

Orçamento do Estado para 2022, desdobrando os anteriores terceiro e sexto escalões. Foi assim desagravado

o IRS de todos os contribuintes mas com uma maior incidência nas classes médias quando as anteriores

alterações ao IRS, entre 2018 e 2021, tinham tido uma maior incidência nos rendimentos mais baixos.

• IVA da eletricidade e gás (575 M€), com a redução de 23% para 13% do IVA aplicável aos primeiros 100

kWh de consumo mensal das famílias, a par da redução para 6% do IVA aplicável à componente fixa das

tarifas de acessos às redes.

• IRS Jovem e Programa Regressar (125 M€), com a isenção de tributação de uma parte dos rendimentos

dos jovens que ingressem na vida ativa do caso do IRS Jovem e com uma exclusão de 50% de tributação dos

rendimentos dos sujeitos passivos que voltem a ser residentes em território nacional.

7.3 Erradicação da pobreza

A política de reposição de rendimentos prosseguida ao longo dos últimos seis anos, a par da evolução

positiva do mercado de trabalho, conduziu a uma melhoria generalizada dos rendimentos das famílias

portuguesas, contribuindo para reduzir de forma significativa o número de pessoas em situação de pobreza ou

exclusão social.

A continuidade da aposta na recuperação do emprego e na promoção de condições de trabalho dignas é

fundamental para combater a pobreza e a exclusão social, mas é igualmente fundamental repensar o sistema

Página 75

10 DE OUTUBRO DE 2022

75

de mínimos sociais. Neste âmbito, o Governo atuará em dois eixos:

• Reforçar os apoios do Estado aos grupos mais desfavorecidos.

• Dar um novo impulso à economia social.

Para o cumprimento do primeiro eixo, referente ao apoio aos mais desfavorecidos, o Governo irá:

• Implementar a Estratégia Nacional de Combate à Pobreza, no âmbito do Pilar Europeu dos Direitos

Sociais, com as seguintes metas:

o Reduzir a taxa de pobreza monetária para o conjunto da população para 10%, em 2030, o que

representa uma redução de 660 mil pessoas em situação de pobreza.

o Reduzir para metade a pobreza monetária no grupo das crianças, o que representa uma redução de 170

mil crianças em situação de pobreza.

o Reduzir para metade a taxa de pobreza monetária dos trabalhadores pobres, o que representa uma

redução de 230 mil trabalhadores em situação de pobreza.

• Prosseguir a trajetória de valorização real dos rendimentos dos pensionistas dos escalões mais baixos

de rendimentos e das pessoas com deficiência, nomeadamente através da reposição do valor de referência do

complemento solidário para idosos e do complemento da prestação social para a Inclusão acima do limiar de

pobreza.

• Assegurar o aumento extraordinário das pensões no Orçamento do Estado para 2022.

• Combater a pobreza infantil e apoiar as famílias com filhos, através de medidas como o complemento

garantia para a infância, o complemento ao abono de família, a atualização dos escalões de acesso ao abono

de família e a majoração da dedução por dependente em sede de IRS.

• Criar o código das prestações sociais e unificar as prestações sociais, segundo o modelo simplificador

da prestação social para a inclusão.

• Aperfeiçoar o modelo de sinalização e acompanhamento das crianças e jovens em risco e os meios e

instrumentos à disposição das comissões de proteção de crianças e jovens em risco.

• Renovar os instrumentos territoriais integrados de combate à pobreza, articulando melhor as respostas

sociais com as políticas de habitação, formação e emprego e implementar os investimentos nas operações

integradas em áreas desfavorecidas das áreas metropolitanas previstos no PRR.

• Acelerar a execução do 1.º Dto. — Programa de Apoio ao Acesso à Habitação com vista a erradicar as

principais carências habitacionais até ao 50.º aniversário do 25 de Abril, em 2024.

• Concluir a execução da Estratégia Nacional para a Integração de Pessoas em Situação de Sem-Abrigo.

• Consolidar e desenvolver a experiência, já em curso, de avaliação do impacto das leis quanto ao

combate à pobreza, consagrando a obrigatoriedade de avaliação fundamentada das medidas de política e dos

orçamentos na ótica dos impactos sobre a pobreza.

• Aprovar e implementar a estratégia nacional de longo prazo para o combate à pobreza energética.

• Incluir, em cada relatório do Orçamento do Estado, um relatório sobre as desigualdades.

Relativamente ao segundo eixo, para melhorar o dinamismo, a visibilidade e a capacidade das entidades

da economia social; aumentar a eficácia e a eficiência da sua atuação; e garantir, ao mesmo tempo, a sua

sustentabilidade económica e financeira, o Governo irá:

• Criar uma rede de incubadoras sociais, que favoreçam o nascimento e acompanhamento de novos

projetos da economia social.

• Criar um centro de competências para a economia social e desenvolver um programa de formação e

capacitação para dirigentes e trabalhadores de entidades da economia social.

• Estimular dinâmicas de medição dos impactos sociais das iniciativas da economia social.

No âmbito do Orçamento do Estado e outras fontes de financiamento nacionais está previsto (2022-2026):

Página 76

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

76

• Garantia para a infância (322 M€) – garantindo a todas as crianças e jovens (até aos 18 anos) em risco

de pobreza extrema um montante anual de apoio de 1.200 euros anuais (em 2022 o valor mensal será de 70

euros por mês e em 2023 o valor mensal atinge os 100 euros por mês). Trata-se de um aumento significativo

do apoio, que corresponde a um aumento de 63 euros para crianças com mais de 6 anos em 2023.

• Complemento garantia para a infância (552 M€), assegurando que os titulares do direito a abono de

família acima do 2.º escalão que não obtenham um valor total anual de 600 euros por criança ou jovem, entre

o abono de família e a dedução à coleta de IRS, venham a receber a diferença para esse valor, a transferir

pela AT.

• Aumento dos montantes dos 1.º e 2.º escalão do abono de família (297 M€), garantindo a todas as

crianças e jovens (até aos 18 anos) pertencentes ao 1.º ou ao 2.º escalão do abono de família um montante

anual de 600 euros (em 2022, as crianças entre os 3 e os 6 anos de idade passam a receber 50 euros por mês

e aquelas com mais de 6 anos de idade passam a receber 41 euros por mês. Em 2023, todas receberão 50

euros por mês/600 euros anuais).

• Aumento extraordinário das pensões (197 M€) com o complemento que garantiu no Orçamento do

Estado para 2022 um aumento mínimo de 10 euros a todos os pensionistas que recebiam até 2,5 IAS (1108

€).

No âmbito do PRR, a resposta ao domínio da erradicação da pobreza desdobra-se nos seguintes

investimentos:

• Operações Integradas em Comunidades Desfavorecidas nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto

(250 M€) com uma abordagem integrada que permitirá promover a inclusão social de comunidades

desfavorecidas e que vivem em situação de carência e exclusão.

Em alinhamento com este domínio, no âmbito do PT2030 está planeado:

• No Objetivo Estratégico 4 – Portugal mais Social e Inclusivo –, apoiar investimentos para a inclusão

ativa, igualdade oportunidades, não discriminação, participação ativa e melhoria da empregabilidade (grupos

vulneráveis); a igualdade de acesso a serviços de qualidade e em tempo útil; proteção social; combater a

privação material, incluindo medidas de acompanhamento (586 M€).

7.4 Educação

No setor educativo, as desigualdades socioeconómicas continuam a ser o principal preditor do insucesso

escolar. Reconhecendo a necessidade de tornar menos desiguais as condições de acesso e de sucesso na

escola, o Governo continuará a aposta na inclusão de todos os alunos, abandonando conceções de escola

centradas numa segregação dos que têm mais dificuldades. O programa nacional para a promoção do

sucesso escolar, instituído em 2016, assumiu que o êxito não se traduz apenas numa melhoria estatística dos

resultados, mas fundamentalmente na avaliação da qualidade do que se aprende, pelo que se desenharam

estratégias integradas assentes em princípios como a diferenciação pedagógica, a identificação de

competências-chave, inscritas no perfil dos alunos à saída da escolaridade obrigatória, a melhoria qualitativa

dos instrumentos de aferição, a melhoria e diversificação das estratégias de aprendizagem e, sobretudo, a

ação ao primeiro sinal de dificuldade.

No ensino superior, nos últimos seis anos foram dados importantes passos para consolidar a

democratização do acesso ao ensino público. O aumento do número de diplomados continuará a ser a

principal prioridade do Governo, de modo a recuperar o atraso de muitas décadas. Neste âmbito, e de forma

complementar, alargar o acesso à formação é também decisivo para que a aprendizagem ao longo da vida

seja uma realidade transversal, no qual o Programa Qualifica se assumiu, nos últimos anos, como o regresso

da aposta na qualificação da população adulta.

O Governo vai responder a estes desígnios a partir de quatro eixos:

Página 77

10 DE OUTUBRO DE 2022

77

• Combater as desigualdades através da educação.

• Melhoria das aprendizagens.

• Estimular a entrada e combater o abandono no ensino superior.

• Aprofundar o Programa Qualifica.

No primeiro eixo, o combate às desigualdades através da educação, será continuado o caminho para a

escola inclusiva, que, como o Plano 21/23 Escola+ prevê, será robustecido pela capacitação das escolas e

com novos programas de apoio às aprendizagens e ao desenvolvimento de competências socioemocionais.

Este caminho será continuado também através das seguintes medidas:

• Consolidar os apoios tutoriais, generalizando-os a todos os alunos com dificuldades atestadas nos

instrumentos de aferição e com especial atenção aos impactos da pandemia.

• Dar continuidade ao reforço das políticas de ação social escolar, estabelecendo-as como ferramentas

fundamentais de combate às desigualdades e ao insucesso escolar.

• Reforçar a orientação vocacional dos alunos, garantindo que as escolhas dos percursos concorram para

a promoção do sucesso escolar.

• Implementar um programa de apoio a famílias vulneráveis, de base autárquica.

• Concluir o processo de renovação do programa territórios educativos de intervenção prioritária.

• Continuar a produção de indicadores que elejam a mobilidade social e a promoção da equidade como

um dos principais instrumentos de avaliação da qualidade das escolas.

No segundo eixo, para a melhoria das aprendizagens, o Governo irá:

• Investir na formação científico-pedagógica dos professores, em particular nas didáticas específicas, na

atualização científica, na utilização de recursos digitais e ambientes inovadores de aprendizagem.

• Concluir as orientações pedagógicas para a creche.

• Criar mecanismos para que se possam identificar precocemente dificuldades de aprendizagem, para

desenvolver imediatamente estratégias que evitem o avolumar de problemas.

• Divulgar práticas pedagógicas de qualidade, fomentando a partilha entre escolas das estratégias que

melhor garantem a construção de conhecimentos e o desenvolvimento de competências.

• Concluir o processo de modernização e atualização do ensino da matemática, incluindo o ensino da

computação.

• Aprofundar, nas escolas, a literacia em saúde e bem-estar.

• Dar continuidade ao programa de transição digital na educação, através do reforço previsto no PRR de

instrumentos e meios de modernização tecnológica (infraestruturação, criação de laboratórios digitais,

melhoria da internet das escolas, manutenção de equipamentos e redes).

• Promover a generalização das competências digitais de alunos e dos professores.

• Modernizar o ensino profissional, mediante a criação dos centros tecnológicos especializados e

aprofundando a adequação da oferta às necessidades sociais, locais e das empresas.

• Reforçar o plano nacional de promoção do sucesso escolar, especialmente ao nível do ensino

secundário, onde se encontra o principal foco de insucesso.

• Concluir a revisão do Catálogo Nacional de Qualificações, flexibilizando e adaptando-o a novas

necessidades e qualificações emergentes, atualizando também os referenciais de formação, para garantir uma

maior relevância das aprendizagens;

• Erradicar as bolsas de analfabetismo e promover a aprendizagem da língua portuguesa junto das

comunidades imigrantes através de planos conjuntos entre escolas-municípios-delegações do Instituto do

Emprego e Formação Profissional (IEFP).

No âmbito do Orçamento do Estado e outras fontes de financiamento nacionais está previsto (2022-2026):

Página 78

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

78

• Gratuitidade dos manuais escolares (475 M€) – gratuitidade dos manuais para todos os alunos do

ensino obrigatório, do 1.º ao 12.º anos.

No âmbito do PRR, a resposta a este eixo envolve os seguintes investimentos para o período 2022-2026:

• Transição digital na Educação (470 M€) – que permitirá assegurar o fornecimento de conetividade de

qualidade às escolas e criará condições para a utilização integrada dos diferentes equipamentos tecnológicos

no processo de ensino-aprendizagem, presencial, misto e à distância, bem como na desmaterialização dos

processos de avaliação.

No terceiro eixo, para estimular a entrada e combater o abandono no ensino superior, o Governo irá:

• Prosseguir a política de redução dos custos de frequência do ensino superior, continuando a aumentar

os apoios sociais aos estudantes do ensino superior, em especial no âmbito das bolsas, das residências e do

programa Erasmus.

• Continuar a incentivar o acesso ao ensino superior dos estudantes das vias profissionalizantes do

ensino secundário.

• Aumentar o investimento do ensino superior nos adultos, diversificando e adequando ofertas.

• Concretizar o aumento do valor da bolsa de estudo para estudantes inscritos em ciclos de estudo de

mestrado.

• Garantir o acesso automático às bolsas de ação social do ensino superior quando o aluno tenha

beneficiado de uma bolsa de ação social no ensino secundário.

• Implementar ações inovadoras de ensino e aprendizagem nas instituições do ensino superior no âmbito

do projeto Skills 4 pós-COVID – Competências para o futuro no ensino superior para habilitar docentes e

discentes deste nível de ensino promovendo a sua melhor preparação para dar resposta aos desafios que

resultam da situação gerada pela pandemia da COVID-19.

No âmbito do PRR destacam-se os seguintes investimentos que irão contribuir para estimular a entrada e

combater o abandono no ensino superior:

• Alojamento estudantil a custos acessíveis (375 M€) – este investimento tem como objetivo disponibilizar

15 mil camas em alojamento estudantil a preço regulado até 2026, através da construção, adaptação e

recuperação de residências para estudantes.

No âmbito do Orçamento do Estado (e outros fundos nacionais) está previsto (2022-2026):

• Prosseguir a política de redução efetiva da despesa das famílias com ensino super ior (400 M€) –

alargamento da base social do ensino superior através da redução, desde 2019, do limite máximo do valor das

propinas em 34%, de 1063€ para 697 €.

No último eixo, o governo irá aprofundar o Programa Qualifica, como chave para a elevação de

qualificações da população adulta:

• Lançando, no quadro do Programa Qualifica, um programa nacional dirigido às pessoas que deixaram

percursos incompletos;

• Alargando e densificando a rede de centros qualifica, quer no contacto com o público, através do reforço

de parcerias e da criação de balcões qualifica em todos os concelhos do País, quer no desenvolvimento de

redes locais do Qualifica.

No âmbito do PRR, este eixo beneficiará do contributo dos sub-investimentos seguintes:

Página 79

10 DE OUTUBRO DE 2022

79

• Investimento incentivo adultos (95 M€), dedicados, por um lado, ao acelerador Qualifica (55 M€) visando

o estímulo à conclusão de processos de reconhecimento, validação e certificação de competências em fase

avançadas dos processos com uma meta de 100 mil certificações até 2025, e, por outro lado, ao

desenvolvimento de 225 projetos locais destinados a adultos com baixas e muito baixas qualificações, em

linha com as prioridades do Plano Nacional para a Literacia de Adultos (40 M€).

Expansão da intervenção do Programa Qualifica AP (16 M€).

Em alinhamento com este domínio, no âmbito do PT2030, está planeado:

• No Objetivo Estratégico 4 – Portugal mais Social e Inclusivo – apoiar investimentos para o acesso a

serviços na educação, desenvolvimento de infraestruturas, resiliência para formação à distância e online;

promover a igualdade de acesso e a conclusão da educação e formação inclusiva e de qualidade (até ao

ensino superior); a inclusão ativa, igualdade de oportunidades, não discriminação, participação ativa e

melhoria da empregabilidade (grupos vulneráveis); a igualdade de acesso a serviços de qualidade e em tempo

útil (1695 M€).

7.5 Coesão territorial

Nas décadas recentes, Portugal teve um desenvolvimento sem precedentes, nomeadamente através da

utilização de fundos da União Europeia direcionados para a revitalização da economia e modernização do

tecido empresarial, para a qualificação e a coesão social, e para a dotação de infraestruturas e

acessibilidades. Não obstante, subsistem assimetrias territoriais que constituem um dos obstáculos ao

desenvolvimento equilibrado do País, limitando fortemente o seu potencial de desenvolvimento. A promoção

da coesão territorial constitui um princípio e uma prioridade não só em termos de justiça social e de

comunidade e unidade nacionais, mas também de resposta a desafios, como a valorização dos recursos locais

e regionais, a sustentabilidade demográfica ou o desenvolvimento económico equilibrado.

Neste sentido, para além da descentralização de competências, no quadro de uma boa governação,

importa tomar medidas que contrariem os desequilíbrios territoriais existentes, promovendo o desenvolvimento

harmonioso do País, conforme estabelecido no Programa Nacional de Política de Ordenamento do Território

(PNPOT), conferindo atenção específica e dedicada aos territórios do interior, e, entre eles, os territórios da

raia, como preconizado no Programa de Valorização do Interior e na Estratégia Comum de Desenvolvimento

Transfronteiriço.

São eixos de intervenção prioritários neste plano, marcado pelo desígnio estratégico de tornar o território

português mais coeso, inclusivo e competitivo, os seguintes:

• Corrigir as assimetrias regionais.

• Qualificar o potencial endógeno e diversificar a base económica.

• Promover a atração de investimentos e a fixação de pessoas nos territórios do interior.

• Afirmar os territórios transfronteiriços.

• Assegurar serviços de proximidade.

Em relação ao primeiro eixo de intervenção, apresentando o País ainda assimetrias regionais significativas,

são fundamentais políticas públicas dirigidas à correção das desigualdades territoriais, conjugadas com

estratégias de promoção da coesão e do reforço da competitividade dos diferentes territórios. Assim, o

Governo irá:

• Desenvolver e adotar uma estratégia nacional de desenvolvimento regional e urbano, tendo em vista a

promoção da capacitação e inovação nos mecanismos de territorialização integrada e de governação

colaborativa multinível e a efetivação equilibrada de resultados das políticas publicas no território.

• Continuar a incorporar o desígnio de coesão territorial, de forma transversal, nas diversas políticas

públicas setoriais pertinentes.

• Reforçar a mobilidade das pessoas dentro de territórios de baixa densidade e na sua ligação ao resto do

Página 80

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

80

País, como instrumento fundamental de coesão social.

• Assegurar a conectividade digital em todos os territórios do interior.

No âmbito do PRR, a contribuir para este domínio de intervenção, está previsto para o período 2022-2026:

• Missing links e aumento da capacidade da rede (312 M€) – Conjunto de intervenções rodoviárias

orientadas para a eliminação de travessias urbanas e a adequação da capacidade da rede de estradas, assim

como para o reforço das acessibilidades aos grandes corredores e às interfaces multimodais.

Em relação ao segundo eixo de intervenção, para se superar a falta de competitividade e produtividade dos

produtos e serviços nos territórios de baixa densidade é crucial promover a qualificação do tecido produtivo, a

diversificação das atividades económicas, a atração de ativos qualificados, a incorporação de conhecimento e

tecnologia, a adoção de métodos de produção mais sustentáveis e eficientes, a adoção de modelos de

organização do trabalho e de modelos de negócio, que permitam atividades de maior valor acrescentado.

Tudo isto permite a assunção dos territórios de baixa densidade como espaços de oportunidades, por via

também do aproveitamento dos recursos endógenos – naturais e culturais – como fatores de diferenciação,

afirmação e valorização dos territórios rurais, das produções locais e da paisagem. Contribuindo para este

complexo de propósitos e objetivos, o Governo irá:

• Promover a obtenção de escala e a abertura de novos mercados para os produtos e serviços,

nomeadamente de nicho.

• Continuar a promover a contratação de trabalhadores qualificados, em especial jovens, no interior,

reforçando o Programa +CO3SO Emprego e o Programa Contratação de Recursos humanos Altamente

Qualificados.

• Estreitar as relações entre empresas e entidades do sistema científico e tecnológico nacional,

explorando as sinergias entre o tecido empresarial, as instituições de ensino superior e os centros de

investigação e desenvolvimento, tal como preconizado no Programa +CO3SO Competitividade.

• Qualificar e promover os produtos locais e/ou artesanais de excelência, com elevado potencial de

inserção em mercados de nicho ou de maior escala.

• Difundir o turismo de natureza.

Promover e apoiar o desenvolvimento de um ecoturismo marinho e costeiro sustentável, em alinhamento

com a Estratégia recentemente adotada pela UE para uma economia azul sustentável.

Em relação ao terceiro eixo de intervenção – relacionado estreitamente com o anterior –, o combate às

disparidades territoriais, nomeadamente às que têm expressão acentuada nos municípios do interior –

caracterizados por uma densidade populacional muito baixa e um índice de envelhecimento elevado –, implica

definir e aprofundar políticas públicas orientadas para a atração de investimento para esses territórios que crie

emprego e permita fixar populações. Para isso, é necessário colmatar as desvantagens estruturais e

competitivas, associadas à menor provisão de bens e serviços, de modo a reduzir os custos de contexto,

mobilizando apoios e incentivos suficientemente atrativos, quer ao investimento, quer à criação e atração de

emprego, assentes nos fatores competitivos endógenos ou na sua valorização. Para tanto, o Governo irá:

• Reforçar o diferencial de incentivos para investimentos realizados nas regiões de baixa densidade, com

mecanismos de majoração e/ou com dotação específica para estes territórios e/ou medidas dedicadas a estes

territórios, nas políticas de estímulo ao investimento.

• Eliminar ou simplificar processos burocráticos que atualmente constituem um entrave à fixação da

atividade económica, designadamente em matéria urbanística, reduzindo os custos de contexto e de transação

que as empresas têm por se instalarem no interior.

• Reforçar, em diálogo com os parceiros sociais, os incentivos à mobilidade geográfica no mercado de

trabalho, incluindo dos trabalhadores da administração pública e da promoção do teletrabalho.

• Adotar políticas ativas de repovoamento do interior, com vista à fixação e à integração de novos

residentes, nomeadamente através da atração de migrantes.

Página 81

10 DE OUTUBRO DE 2022

81

• Dar continuidade ao Programa Nacional de Apoio ao Investimento da Diáspora por forma a atrair

investidores, trabalhadores e famílias para o interior.

• Lançar um programa de regresso ao campo, que promova a reversão do êxodo rural, estimulando o

regresso de quem saiu do interior.

• Apoiar a reabilitação do edificado abandonado das vilas e aldeias, colocando-o no mercado para novos

residentes ou para novas funções económicas, turísticas, sociais ou culturais.

• Implementar, em estreita articulação com os agentes locais, ações no âmbito da Estratégia Nacional de

Smart Cities.

Dois investimentos inscritos no PRR concorrem para este eixo de intervenção:

• Áreas de acolhimento empresarial (AAE) (110 M€) – implementação de um novo modelo de AAE que

responda a novas abordagens à inovação, a novos conceitos mais tecnológicos e à consciência da

necessidade de ligações virtuosas com os sistemas científicos e tecnológicos.

• Acessibilidades rodoviárias a AAE (142 M€) – conclusão de um conjunto de acessibilidades rodoviárias,

que constituem o suporte para garantir a circulação de mercadorias de forma eficiente e económica.

Quanto ao quarto eixo de intervenção, ao contrário da generalidade da Europa, onde historicamente as

zonas mais populosas e prósperas são as de fronteira, as regiões transfronteiriças entre Portugal e Espanha

são territórios predominantemente rurais marcados por um despovoamento acentuado e pelo envelhecimento.

Para inverter essa situação, porque necessária uma ação conjunta que assegure a sustentabilidade e a

afirmação dos territórios de fronteira, tornando-os mais atrativos, o Governo irá:

• Implementar a Estratégia Comum de Desenvolvimento Transfronteiriço, reposicionando o interior de

Portugal como espaço de uma nova centralidade ibérica.

• Apostar na redução de custos de contexto, consolidando o Simplex transfronteiriço.

• Garantir infraestruturas rodoviárias de proximidade.

• Promover a mobilidade transfronteiriça, mediante serviços de transporte flexível entre regiões de

fronteira.

• Assegurar um planeamento integrado e uma articulação efetiva da rede de oferta de serviços de saúde

(assim como em outros domínios considerados prioritários pelos municípios) em ambos os lados da fronteira,

de modo a evitar redundâncias e desperdícios; implementar projetos-piloto de turismo transfronteiriço, definir

uma estratégia transfronteiriça de turismo, estabelecer uma agenda cultural comum com projetos inseridos em

redes culturais transfronteiriças, e implementar o estabelecimento de ecossistemas de inovação ao longo da

fronteira e implementar diferentes ações dedicadas à recuperação de aldeias raianas.

• Implementar os onze programas de cooperação territorial europeia, e muito em particular, o Programa

de Cooperação Transfronteiriça Portugal-Espanha, que contribuirão para a coesão territorial e valorização dos

territórios do interior, especificamente através da implementação da Estratégia Comum de Desenvolvimento

Transfronteiriço.

No âmbito do PRR, a contribuir para este domínio de intervenção, está previsto para o período 2022-2026:

• Ligações transfronteiriças (65 M€), que abrange investimento em diversas infraestruturas.

Em relação ao quinto eixo de intervenção, o despovoamento contínuo dos territórios de densidade baixa

tem gerado o encerramento de estabelecimentos e serviços, facto que obriga as pessoas aí residentes a

deslocarem-se a outras localidades para acederem a bens e serviços, inclusive os de primeira necessidade.

Em face deste problema de equidade territorial, de modo a assegurar serviços de proximidade, o Governo irá:

• Garantir estruturas e serviços de proximidade adequados aos contextos socioterritoriais de baixa

densidade, seja pela criação de centralidades locais (microcentralidades), seja através de serviços móveis ou

a pedido, nos domínios da saúde, de apoio social e de bem-estar pessoal e comunitário e de outros serviços

Página 82

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

82

públicos.

• Aumentar significativamente o número de espaços cidadão.

• Apostar na conectividade digital na baixa densidade, garantindo uma cobertura de banda larga fixa e

móvel nas zonas mais remotas ou periféricas, de forma a permitir o acesso das populações a serviços de

proximidade.

• Consolidar a rede de espaços de teletrabalho/coworking no interior;

• Reforçar o modelo policêntrico dos subsistemas territoriais em linha com o PNPOT e com a densificação

nos programas regionais de ordenamento do território (PROT), estruturando as articulações rural-urbano com

suporte nos serviços de interesse geral de proximidade com base nos processos de descentralização.

Em alinhamento com este domínio, no âmbito do PT2030, está planeado:

• No Objetivo Estratégico 1 – Portugal mais Competitivo e mais Inteligente –, apoiar investimentos para

promover a conetividade digital (69 M€);

• No Objetivo Estratégico 4 – Portugal mais Social e Inclusivo –, apoiar investimentos para promover a

igualdade de acesso e a conclusão da educação e formação inclusiva e de qualidade (até ao ensino superior);

a aprendizagem ao longo da vida, requalificação e melhoria de competências (re&upskilling), transições de

carreiras e a mobilidade; a igualdade de acesso a serviços de qualidade e em tempo útil; proteção social;

sistemas de saúde e cuidados prolongados (217 M€);

• No Objetivo Estratégico 5 – Portugal Territorialmente mais Coeso e Próximo dos Cidadãos – apoiar

investimentos para promover o desenvolvimento social, económico e ambiental integrado e inclusivo, a cultura,

o património natural, o turismo sustentável e a segurança nas zonas urbanas; promover, nas zonas não

urbanas, o desenvolvimento social, económico e ambiental integrado e inclusivo a nível local, a cultura, o

património natural, o turismo sustentável e a segurança (671 M€).

8. Quarto desafio estratégico: sociedade digital, da criatividade e da inovação

A evolução da economia portuguesa nos últimos anos é marcada pelo facto de, pela primeira vez nas

últimas duas décadas, Portugal ter registado uma efetiva convergência europeia, apresentando taxas de

crescimento acima da União Europeia entre 2016 e 2019. Este ciclo de crescimento interrompido pela crise

pandémica foi alicerçado, em larga medida, na retoma do investimento e no forte crescimento das empresas

mais inovadoras e mais abertas à concorrência internacional.

Na retoma da crise pandémica, Portugal tem como desafios orientadores o reforço da orientação da

economia para atividades de maior intensidade em tecnologia e conhecimento, o alargamento da base

industrial em que assenta a estrutura empresarial, uma maior integração nos mercados digitais e o aumento

da robustez financeira. Estes desafios implicam um forte investimento na atualização e aprofundamento das

competências e qualificações da população ativa (jovem e adulta), incluindo empresários e gestores.

O modelo de desenvolvimento ambicionado para o País passa pelo desenvolvimento da sociedade digital,

da criatividade e da inovação. Pretende-se alcançar uma economia e uma sociedade assentes no

conhecimento, em que o crescimento da produtividade assenta na inovação e na qualificação das pessoas;

uma sociedade inclusiva, que a todos confere competências para poderem participar nas oportunidades

criadas pelas novas tecnologias digitais; uma economia aberta, em que o Estado apoia o processo de

internacionalização das empresas e a modernização da sua estrutura produtiva. Pretende-se alcançar nesta

década um volume de exportações equivalente a 50% do PIB e atingir um investimento global em I&D de 3%

do PIB em 2030, sendo 2% da responsabilidade das empresas.

Um modelo de desenvolvimento com base no conhecimento reconhece as externalidades positivas do

setor cultural e criativo. A crise pandémica acelerou e agravou desafios que o setor cultural e criativo vinha a

enfrentar ao longo dos tempos, sendo decisivo encontrar um caminho para a sua recuperação, rumo a uma

maior resiliência e sustentabilidade de um setor de fundamental importância social e económica para a UE.

Neste domínio importa destacar a recente aprovação do Estatuto dos Profissionais da Área da Cultura que

assegura aos trabalhadores um enquadramento laboral e de proteção social mais adequado às

Página 83

10 DE OUTUBRO DE 2022

83

especificidades deste setor. Fundamentais para o modelo de desenvolvimento económico preconizado são

também o setor do turismo e as atividades abertas ao consumidor, como o comércio a retalho, a prestação de

serviços e os estabelecimentos de restauração e similares, sem relegar a importância de proteger o

consumidor.

O desafio estratégico «Sociedade digital, da criatividade e da inovação» desdobra-se assim em quatro

domínios:

• Economia 4.0.

• Competências digitais.

• Cultura.

• Valorização das atividades e proteção dos consumidores.

Nos últimos anos foram já dados importantes passos de encontro a estes objetivos, sendo de registar

avanços significativos ao nível da economia do conhecimento. O investimento público e privado em

investigação e desenvolvimento e em inovação cresceu de 1,2% do PIB em 2015 para 1,62% do PIB em 2020,

num total anual superior a mil milhões de euros face a 201544. No mesmo período, a despesa privada em I&D

passou a representar 57% do total da despesa (face a 44% em 2015) e o número de investigadores nas

empresas cresceu mais de 80% entre 2015 e 2020. Em 2021 foram registados 286 pedidos de patentes

europeias com origem em Portugal, um novo recorde nacional, que coloca a taxa de crescimento de registo de

patentes nacional cinco vezes superior à média da União Europeia, de acordo com o Instituto Europeu de

Patentes. Será de destacar que metade dos 10 maiores requerentes de patentes são universidades ou

institutos de investigação.

Apesar da evolução positiva registada nos últimos anos, o investimento, incluindo em I&D, não atingiu

ainda a média europeia, o que potenciaria a aceleração da transformação estrutural do País em torno de

atividades com maior valor acrescentado. As PME portuguesas têm ainda uma baixa proporção de

investimentos em tecnologia digital e, no caso das empresas startups, apresentam níveis de sobrevivência

mais baixos em Portugal (56%) do que em outros países europeus (69%, UE27, dados de 2017)45.

Adicionalmente, persistem ainda níveis de escolaridade da população ativa relativamente baixos: Em 2021, os

indivíduos com baixa escolaridade eram 40,3% da população portuguesa, em contraponto a 24,9% da

população da UE. Por outro lado, os indivíduos sem competências digitais básicas correspondiam a 46%, em

linha com a média europeia (45% na UE27). Pretende-se ainda melhorar a posição portuguesa no índice de

digitalização da economia – 16.ª posição entre os 27 países da União Europeia na edição de 202146.

Neste sentido, torna-se essencial incentivar a adoção, designadamente por parte das empresas, de

ferramentas e instrumentos, e de assegurar os investimentos necessários à adoção de novos modelos de

produção, que incorporem as tecnologias associadas à digitalização e à automação. Será necessária uma

fiscalidade que favoreça o investimento e a capitalização das empresas, instituições financeiras públicas

constituídas para o efeito, que compensem as falhas de mercado no financiamento da transição para a

economia digital e o reforço da articulação entre instituições públicas e o setor empresarial. Neste sentido

salienta-se a introdução em 2015 do regime de dedução por lucros retidos e reinvestidos no Código Fiscal do

Investimento e a progressiva e positiva evolução do indicador de autonomia financeira das empresas, que

reflete o reforço de capitais próprios tendo aumentado de 35% em 2017 para 40% em 2021.

A competitividade de Portugal passa por apostar nos seus recursos e no valor acrescentado do seu

trabalho, o que requer um investimento continuado nas pessoas e nas suas qualificações, quer no sistema

educativo, quer ao longo da vida, através de um investimento transversal e inclusivo, com particular atenção

às competências digitais. Neste âmbito, é igualmente indispensável que a transição digital seja justa,

socialmente equilibrada e com direitos.

Cabe ainda ao Estado prosseguir a simplificação administrativa, o reforço e a melhoria dos serviços

prestados digitalmente, a promoção do seu acesso e usabilidade, a desmaterialização de mais procedimentos

administrativos enquanto componente central de uma modernização administrativa centrada em servir melhor

44 Despesa nacional em I&D por área temática ENEI (2014 – 2020): https://www.dgeec.mec.pt/np4/206/. 45 Programa Nacional de Reformas 2022, pág.31. 46 Programa Nacional de Reformas 2022, pág.32.

Página 84

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

84

o cidadão.

Salienta-se o alinhamento dos objetivos deste desafio estratégico com a agenda «Digitalização, inovação e

qualificações como motores de desenvolvimento» constante no Programa Nacional de Reformas – visando

atingir um crescimento duradouro, e sustentável, da economia portuguesa, impulsionado pelas qualificações, o

conhecimento, a digitalização, e a inovação – e com os objetivos da União Europeia, no que se refere aos

pilares «Crescimento inteligente, sustentável e inclusivo» e «Transição Digital» e ao pilar «Saúde e Resiliência

económica, social e institucional».

O País dispõe de um quadro consistente de instrumentos de planeamento e de políticas públicas, com

focos setoriais e planos de intervenção distintos, porém concertados e convergentes para a prossecução dos

objetivos elencados, salientando-se (ver Quadro 15):

• O lançamento da estratégia nacional de dados visando o compromisso entre a transparência e a

responsabilização na utilização dos dados, garantindo a proteção dos direitos das pessoas.

• O lançamento da estratégia nacional de smart cities que visa acelerar a transformação dos municípios

portugueses

• O Plano de Ação para a Transição Digital (PATD), aprovado em abril de 2020, que definiu uma

estratégia transversal para a aceleração digital do País. O PATD articula-se com outras iniciativas legislativas

e estratégicas que incidem significativamente sobre pessoas, tecido empresarial e Estado, como o

Incode.2030 – Programa Nacional de Competências Digitais, o Programa Indústria 4.0, o programa Startup

Portugal e o comércio digital e está interligado com a Estratégia de Inovação Tecnológica e Empresarial 2018-

2030, bem como com a Estratégia de Inovação e Modernização do Estado e da Administração Pública 2020-

2023.

• A concretização da estratégia nacional para o Espaço (Portugal Espaço 2030)

• A concretização da estratégia nacional para a computação avançada e da estratégia nacional para a

inteligência artificial, garantindo a afirmação de Portugal no contexto internacional e estimulando novas

atividades académicas e empresariais, assim como o estímulo à formação e expansão de novas empresas de

base tecnológica.

Quadro 1515 – Instrumentos de planeamento e de políticas públicas associados ao desafio estratégico

transversal – Sociedade digital, da criatividade e da inovação

Quarto desafio estratégico: Sociedade digital, da criatividade e da inovação

Domínio Instrumentos Situação

Economia 4.0

Estratégia de Inovação e Modernização do Estado e da Administração Pública 2020-2023

Em vigor

Estratégia nacional de dados Em elaboração

Estratégia Nacional de Empreendedorismo – Programa Startup Portugal

Em vigor

Estratégia nacional de smart cities Em elaboração

Plano de Ação para a Transição Digital Em vigor

Programa de Captação de Investimento para o Interior Em vigor

Programa Interface Em vigor

Competências digitais

Estratégia NACIONAL para a computação avançada Em vigor

Estratégia NACIONAL para a inteligência artificial Em vigor

Estratégia nacional para o Espaço – Portugal Espaço 2030 Em vigor

Plano Nacional de Alojamento para o Ensino Superior Em vigor

Página 85

10 DE OUTUBRO DE 2022

85

Quarto desafio estratégico: Sociedade digital, da criatividade e da inovação

Domínio Instrumentos Situação

Cultura Plano Nacional das Artes Em vigor

Estratégia Nacional do Saber Fazer Português 2019-2024 Em vigor

Valorização das atividades e proteção do consumidor

Estratégia comum de desenvolvimento transfronteiriço Em vigor

Estratégia Turismo 27 Em vigor

Plano Reativar o Turismo Em vigor

Os objetivos deste desafio estratégico serão atingidos em parte pela execução de um conjunto de

instrumentos de financiamento cuja programação se apresenta no Quadro 16. Será de referir que são

apresentados os valores programados à data de elaboração deste documento, abrangendo fundos

provenientes do PRR e do PT2020 para o período 2022-2026. Um dos instrumentos centrais para o

desenvolvimento da sociedade digital, da criatividade e da inovação é o PRR. A resposta direta do PRR

relativa à dimensão transição digital concentra 15% do montante de investimentos previstos no âmbito do PRR

nacional.

Quadro 1616 – Programação do financiamento das medidas associadas ao desafio estratégico –

Sociedade digital, da criatividade e da inovação

Quarto desafio estratégico: Sociedade digital, da criatividade e da inovação Indicativo da fonte de

financiamento

Áreas de política 2022 2023 2024 2025 2026 Total P

T2

03

0

PT

20

20

PR

R

Fo

nte

s

na

cio

nais

Aposta em tecnologias disruptivas

e empreendedorismo 150 697 535 530 638 2550 X X X

Capitalização e internacionalização

das empresas 1082 1202 286 264 352 3187 X X

Digitalização do Estado 58 112 84 85 85 424 X X X

Transformação digital do tecido

empresarial 48 104 164 185 149 650 X

Compromisso com a ciência e a

inovação 472 497 270 274 335 1847 X X X

Alargar o ensino superior a novos

públicos 69 121 90 58 47 385 X X

Modernização da formação

profissional contínua 185 464 354 322 248 1574 X X X

Competências digitais no ensino 27 24 0 0 0 51 X

Cultura 24 161 96 140 180 600 X X X X

Valorização das atividades e

proteção do consumidor 24 20 3 3 3 52 X X

Sub-total 2138 3402 1882 1860 2038 11320 X X X X

Página 86

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

86

Nota: Fontes nacionais – inclui Orçamento do Estado, Orçamento da Segurança Social e outros fundos nacionais

8.1 Economia 4.0

Nos últimos anos, o Governo assumiu a inovação e a digitalização como eixos estratégicos de

transformação do perfil da economia nacional. Neste âmbito, destaca-se a concretização do Plano de Ação

para a Transição Digital, atualizado em linha com a evolução do mercado e com o objetivo de posicionar

Portugal como líder internacional em matéria de digitalização e a continuidade da política de valorização dos

produtos portugueses, através da aposta na inovação, do aumento da produtividade, do incentivo ao

empreendedorismo qualificado e à incorporação de tecnologias disruptivas nos processos produtivos das

empresas nacionais, nomeadamente através do Programa Interface. A concretização do domínio «Economia

4.0» passará por um pacote de políticas públicas dirigidas aos seguintes eixos de intervenção:

• Medidas fiscais, financiamento e internacionalização.

• Inovação empresarial, empreendedorismo e aposta em tecnologias disruptivas.

• Transformação digital do tecido empresarial.

• Catalisadores da transição digital.

• Digitalização do Estado.

• Teletrabalho e mobilidade.

De acordo com o Quadro 16, estão programados investimentos na ordem dos 7 mil M€ para a

concretização do domínio «Economia 4.0», destacando-se uma forte aposta em inovação, empreendedorismo

e tecnologias disruptivas.

Em termos de medidas fiscais, financiamento e internacionalização, o Governo irá:

• Apoiar o investimento em inovação, otimizando os recursos nacionais para o financiamento da inovação

empresarial, promovendo a coerência da oferta das linhas de apoio existentes, divulgando a oferta de

instrumentos financeiros oferecidos pelas instituições financeiras de apoio à economia, racionalizando a

atuação destas mesmas e robustecendo o Banco Português de Fomento, continuando a apostar na

diversificação das fontes de financiamento das empresas.

• Prosseguir medidas de apoio e incentivo à capitalização do setor empresarial, aprofundando as

iniciativas para a concentração/fusão de empresas, reforçando a discriminação positiva da capitalização com

capital próprio, criando instrumentos de financiamento, que incluam lógicas de partilha de risco, a taxa

reduzida, para apoiar aumentos de capital de empresas.

• Continuar a promover uma fiscalidade que incentive o investimento na modernização produtiva, o

investimento privado em I&D empresarial e o reforço da atratividade internacional de Portugal,

designadamente através do regime da Patent Box e do robustecimento do SIFIDE; na senda dos

desagravamentos seletivos de IRC, deverá ainda prosseguir-se com o direcionamento dos incentivos à

capitalização das empresas e proceder à criação de um quadro fiscal favorável aos ganhos de escala das

empresas e à sucessão empresarial, a par da eliminação definitiva do pagamento especial por conta (PEC)

que beneficiará, em particular, as micro, pequenas e médias empresas, bem como a criação do quadro fiscal

adequado para as startups, em linha com o Startup Nations Standards of Excellence assinado pelo Governo

no decurso da Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia.

• Neste sentido, o Orçamento do Estado 2022 já contemplou um incentivo fiscal à recuperação (dedução

à coleta de IRC até 25% do investimento), o fim do PEC bem como o desagravamento das tributações

autónomas de IRC.

• Internacionalizar a economia portuguesa e aumentar as exportações usando recursos digitais,

estimulando a internacionalização das empresas portuguesas com a criação de programas de investimento e

de linhas de apoio à internacionalização, aproximando as grandes empresas com larga experiência no

processo de internacionalização e incentivando o uso de tecnologia e de produtos desenvolvidos por

pequenas empresas portuguesas especializadas no seu processo de abordagem a mercados internacionais,

fomentando a utilização do comércio eletrónico no tecido empresarial português através de programas e

Página 87

10 DE OUTUBRO DE 2022

87

incentivos à formação e apoio ao uso destas ferramentas;

Em termos de inovação empresarial, empreendedorismo e aposta em tecnologias disruptivas, o Governo

dará prioridade a:

• Incentivar o empreendedorismo, iniciando um novo ciclo da estratégia nacional de empreendedorismo

para o triénio 2022-2024, tendo por objetivo duplicar os principais indicadores (número de startups, peso no

PIB, postos de trabalho e captação de investimento), alocando €125 milhões de euros do PRR

especificamente para startups e incubadoras, apoiando a instalação em Portugal da sede da Europe Startup

Nations Alliance, reforçando as principais linhas de financiamento numa lógica de matching funding.

• Dar continuidade ao Programa Interface, prosseguindo o trabalho com os Centros Interface com o

reconhecimento de mais entidades e com o reforço de verbas para financiamento de base plurianual,

implementando a estratégia de Gabinetes de Transferência de Tecnologia, concretizando os Pactos Setoriais

para a Competitividade e Internacionalização firmados com os clusters, promovendo programas associados a

áreas tecnológicas específicas e melhorando o número de registos de propriedade industrial portuguesa, tanto

a nível nacional como internacional, criando instrumentos que apoiem as entidades na fase do registo e na

fase da valorização económica.

De encontro aos objetivos de inovação empresarial, destacam-se os seguintes investimentos no âmbito do

PRR para o período 2022-2026:

• Agendas/Alianças mobilizadoras para a inovação empresarial (558 M€) – Pretende-se acelerar a

transformação estrutural da economia portuguesa, com ênfase na reindustrialização, alavancando o

desenvolvimento de novos produtos e serviços de maior valor acrescentado e maior potencial exportador;

associada a uma maior qualificação dos Recursos Humanos por via do aumento do investimento das

empresas em atividades de I&D, em que poderão participar empresas, instituições de I&D e entidades não

empresariais do sistema de investigação e inovação, entidades de âmbito municipal e instituições de ensino

superior.

• Agendas/alianças Verdes para a inovação empresarial (372 M€) – Pretende-se reforçar a importância do

crescimento verde e da inovação, com ênfase na reindustrialização, alavancando o desenvolvimento de novos

produtos, serviços e soluções, com elevado valor acrescentado e incorporação de conhecimento e tecnologia,

que permita responder ao desafio da transição verde, e em que poderão participar empresas, instituições de

I&D e entidades não empresariais do sistema de investigação e inovação, entidades de âmbito municipal e

instituições de ensino superior.

• Agenda de investigação e inovação para a sustentabilidade da agricultura, alimentação e agroindústria

(93 M€) – Pretende-se dinamizar uma centena de programas e projetos de investigação e inovação e cinco

projetos estruturantes centrados nas 15 iniciativas emblemáticas preconizadas na Agenda de Inovação para a

Agricultura 2020-2030.

Em alinhamento com esta resposta, no âmbito do PT2030 está planeado:

• No objetivo estratégico 1 – Portugal mais Competitivo e Inteligente – apoiar investimentos para reforçar

o crescimento sustentável e a competitividade das PME e a criação de emprego em PME, inclusive através de

investimento produtivo (1.431 M€).

Em termos da transformação digital do tecido empresarial, o Governo irá:

• Estimular a digitalização e a integração das cadeias de valor dos fornecedores e parceiros das grandes

empresas e das PME líderes nos temas Empresas + Digitais, divulgando e facilitando o acesso a instrumentos

e mecanismos de investimento e financiamento orientados para o apoio à evolução da maturidade digital das

nossas PMEs, promovendo o autodiagnóstico da maturidade digital e suportando a definição de roteiros para a

transformação digital, apoiando a integração do investimento tecnológico, capacitando as organizações e

Página 88

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

88

facilitando a transformação organizacional, criando e adaptando os fundos e linhas de apoio à tipologia e à

diversidade de projetos para incentivar o aumento de escala e a transformação digital – através de acesso a

um catálogo de serviços digitais.

• Implementar planos de formação setoriais (Emprego + Digital) que permitam dotar os quadros de gestão

e técnicos das PME, disponibilizando mecanismos de formação orientados para as necessidades específicas e

em formatos compatíveis com a articulação do dia-a-dia das PME, capacitando as organizações e facilitando a

transformação organizacional, partilhando e disseminando o conhecimento gerado por experimentação e

implementação de tecnologias e práticas em estreita colaboração com os Digital Innovation Hubs nas

vertentes de intensificação da utilização de Inteligência Artificial, Cibersegurança e Computação de Alto

Desempenho".

• Apostar na criação de uma rede nacional de Test Beds através de infraestruturas que visam criar as

condições necessárias às empresas para o desenvolvimento e teste de novos produtos e serviços e acelerar o

processo de transição digital, seja por via de espaço e equipamento físico com forte componente digital ou de

simulador virtual/digital.

• Estimular a digitalização de PME, com foco em microempresas do setor comercial, com vista a ativar os

seus canais de comércio digital, incorporar tecnologia nos modelos de negócio e desmaterializar os processos

com clientes e fornecedores por via da utilização das tecnologias de informação e comunicação através de

Aceleradoras de Comércio Digital e Bairros Comerciais Digitais.

De encontro aos objetivos da transformação digital das empresas, destacam-se os seguintes investimentos

no âmbito do PRR, para o período 2022-2026:

• Transição Digital das Empresas (450 M€) – este investimento contribuirá para a transformação dos

modelos de negócio das PME portuguesas e para a sua digitalização, visando uma maior competitividade e

resiliência, integrando quatro programas: i) a Rede Nacional de Test Beds, visando criar as condições

necessárias às empresas para o desenvolvimento e teste de novos produtos e serviços; ii) Comércio Digital,

visando ativar os seus canais de comércio digitais, incorporar tecnologia nos modelos de negócio, bem como

desmaterializar os processos com clientes, e fornecedores e logística por via da utilização das tecnologias de

informação e comunicação e apoiar a internacionalização; iii) Apoio a Modelos de Negócio para a Transição

Digital, visando fomentar a integração de tecnologia nas empresas, apoiando o desenvolvimento de processos

e competências organizacionais que fomentem a transformação digital do modelo de negócio das

organizações; iv) Empreendedorismo, materializando o reforço no desenvolvimento do ecossistema

empreendedor, incubadoras e aceleradoras. Prevê-se apoiar mais de 50 mil PME, constituir 50 bairros de

comércio digital, 25 Aceleradoras de Comércio Digital, apoiar a criação de 30 Test-Beds e atingir quatro mil

empresas com formação teórica e consultoria focada na Indústria 4.0 e emitir vouchers para três mil start-ups.

• Capacitação Digital das Empresas (100 M€) – Pretende-se a criação de dois programas de formação

interligados, com abordagens inovadoras e que visam colmatar lacunas nas competências digitais dos

trabalhadores (funcionários e empresários) e das empresas: i) Academia Portugal Digital, consistindo numa

plataforma e programa de desenvolvimento de competências digitais em larga escala dirigida aos

trabalhadores do setor empresarial; ii) Emprego + Digital 2025, consistindo num programa de capacitação em

tecnologias digitais que visa responder aos desafios e oportunidades de diversos setores empresariais

nomeadamente indústria, comércio, serviços, turismo e agricultura, economia do mar e construção. Prevê-se

com esta iniciativa atingir 800 mil formandos.

Em termos de catalisadores da transição digital, o Governo irá:

• Desenvolver um sistema de certificação «Selo de Maturidade Digital» nas dimensões de

Cibersegurança, Privacidade, Usabilidade e Sustentabilidade com base no Sistema Nacional da Qualidade,

tendo em vista aumentar o valor intrínseco dos produtos e serviços, induzindo confiança no mercado digital e

estimulando a internacionalização das nossas empresas.

• Apostar na formação de territórios inteligentes e sustentáveis e na criação de uma rede de cidades

inteligentes, nomeadamente pela aprovação da primeira Estratégia Nacional de Smart Cities, promovendo o

Página 89

10 DE OUTUBRO DE 2022

89

uso e proliferação de tecnologias relacionadas com a Internet das Coisas, contribuindo para uma tomada de

decisão mais fundamentada e inteligente, incentivando a gestão inteligente das redes de energia, iluminação

pública, águas e o recurso a tecnologias que salvaguardem uma maior eficiência hídrica e energética,

promovendo o uso da tecnologia para a proteção e salvaguarda de ativos florestais e espaços verdes de

importância nacional e apoiando a certificação de tecnologias e produtos nacionais no sistema Environmental

Technology Verification da Comissão Europeia.

• Promover a adoção de uma Estratégia Nacional de Dados, que contribua para uma sociedade onde os

agentes públicos, os agentes do sistema científico e os agentes económicos, atuem conjuntamente de acordo

com o necessário compromisso entre a transparência e a responsabilização na utilização dos dados,

garantindo, simultaneamente, a proteção dos direitos das pessoas, tendo por base os princípios de facilidade

de localização, acessibilidade, interoperabilidade e reutilização dos dados, bem como os pilares da Estratégia

Europeia para os Dados com o objetivo de potenciar o valor dos dados em Portugal, ao permitir que os dados

circulem livremente em todos os setores, em benefício de toda a sociedade, contribuindo para decisões mais

informadas, maior transparência e aceleração do progresso científico e da inovação e consequentemente

contribuir para a valorização da economia.

Em termos da digitalização do Estado, o Governo irá:

• Disponibilizar formas simples e fiáveis de os contribuintes se relacionarem com a AT, que deverá

continuar a sua progressiva adaptação ao digital, nomeadamente na oferta de serviços online, na simplificação

e melhoria do apoio ao contribuinte, na utilização das novas tecnologias como instrumento de combate à

fraude e evasão e na adaptação e simplificação da linguagem fiscal nas comunicações com os contribuintes.

• Reforçar o serviço Dados.Gov enquanto portal de dados abertos da Administração Pública, com mais

oferta de dados, mais dados ligados e mais dados em tempo real, reforçando-se a transparência do Estado

com respeito pela legislação de proteção de dados pessoais e criando potencial valor para os cidadãos e para

as empresas.

De encontro aos objetivos da digitalização do Estado, destacam-se os seguintes investimentos no âmbito

do PRR para o período 2022-2026:

• Transição digital da Segurança Social (176 M€) – este investimento incidirá em vários eixos, tais como a

reorganização da conceção do Sistema de Segurança Social e modernização do Sistema de Informação da

Segurança Social; o desenvolvimento e implementação de um novo modelo de relacionamento que agilize e

simplifique a interação do cidadão e da empresa com a Segurança Social; a reformulação e adaptação do

posto de trabalho, intervindo nos equipamentos e soluções de produtividade e comunicação; e a reengenharia

de processos e qualificação dos profissionais.

• Serviços eletrónicos sustentáveis (70 M€) – visando garantir a interoperabilidade e partilha dos dados

entre organismos da AP de forma a reduzir redundâncias na prestação de informação e procedimentos

desnecessários à execução de processos associados a eventos de vida dos cidadãos e, sobretudo, das

empresas.

• Modernização da infraestrutura do sistema de informação patrimonial da Autoridade Tributária (43 M€) –

visando a digitalização de dados prediais e de património.

Em alinhamento com esta resposta, no âmbito do PT2030 está planeado:

• No objetivo estratégico 1 – Portugal mais Competitivo e Inteligente – apoiar investimentos para

aproveitar as vantagens da digitalização para os cidadãos, empresas, entidades de investigação e autoridades

públicas (73 M€).

Visando o teletrabalho e mobilidade, o Governo irá:

• Estimular o trabalho à distância, potenciando o recurso ao teletrabalho como meio de flexibilidade da

Página 90

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

90

prestação de trabalho e como possibilidade de maximizar o uso das tecnologias no âmbito de outras formas

contratuais.

• Estimular o aparecimento de funções em regime misto de trabalho presencial e teletrabalho, conferindo

vantagens para esta forma de contratação para funções que possam ser prestadas fora dos grandes centros

populacionais, estabelecendo incentivos para a deslocalização de postos de trabalho para zonas do interior ou

fora dos grandes centros urbanos.

• Criar condições para que possam ser criados centros de apoio ou de teletrabalho, no interior do país,

designadamente através da disponibilização de espaços de trabalho partilhados (coworking), dotando os

organismos e serviços públicos de capacidade para acolhimento e implementação desta opção de trabalho,

experimentando, em serviços-piloto da Administração Pública, o trabalho remoto a tempo parcial e fixando

objetivos quantificados para a contratação em regime de teletrabalho na Administração Pública.

8.2 Conhecimento, competências e qualificações

Dotar Portugal de maior capacidade para enfrentar os desafios de uma sociedade e de uma economia cada

vez mais assente no conhecimento científico, no desenvolvimento tecnológico e na inovação constitui uma

prioridade da ação política para a legislatura. A promoção das competências digitais passará por um pacote de

políticas públicas dirigidas principalmente aos seguintes eixos:

• Reforçar o compromisso com a ciência e a inovação.

• Alargar a base social do ensino superior.

• Promover as competências digitais em todos os níveis de ensino.

• Modernizar a formação profissional contínua.

De acordo com o Quadro 16, estão programados investimentos na ordem dos 3.857 M€ para a promoção

das competências digitais, destacando-se o compromisso com a ciência e a inovação (1847 M€), o

alargamento da base social do ensino superior (385 M€) e a modernização da formação profissional contínua

(1574 M€).

No âmbito do reforço do compromisso com a ciência e a inovação, o Governo irá:

• Continuar a garantir o crescimento da despesa pública e privada em I&D, aumentando de forma

progressiva o investimento global até atingir 3% do PIB em 2030 (com 1/3 de despesa pública e 2/3 de

despesa privada), assim como a previsibilidade e a regularidade do financiamento em ciência, o qual deve

evoluir para uma Lei da Programação do Investimento em Ciência, que deverá incluir a programação do

investimento público em ciência num quadro plurianual a pelo menos 12 anos.

• Continuar a promover a simplificação de procedimentos dos organismos públicos na relação com as

instituições científicas e académicas, com apoio das mesmas e tirando partido do trabalho de diagnóstico já

efetuado, nomeadamente simplificando os formulários de candidaturas com recurso a um único documento

para descrever a componente técnica, reduzindo fortemente a documentação a submeter em fase de

candidatura e passando-a para a fase da celebração do contrato, restringindo os casos de não-elegibilidade

por questões puramente formais, publicitando com antecedência todas as alterações a aspetos essenciais de

regulamentos de concursos anteriores.

• Valorizar a relação entre o conhecimento e a sociedade, estimulando o reconhecimento social da

ciência, a promoção da cultura científica, a comunicação sistemática do conhecimento e dos resultados das

atividades de I&D e a apropriação social do conhecimento.

• Diversificar a natureza e a intensidade do financiamento para atividades de C&T, reforçando o potencial

de reconhecimento internacional das atividades em todo o país das Unidades de I&D, dos Laboratórios

Associados, dos Laboratórios Colaborativos, dos Centros de Tecnologia e Inovação, para além da rede de

Laboratórios de Estado.

No âmbito do PRR destaca-se:

Página 91

10 DE OUTUBRO DE 2022

91

• Missão Interface (186 M€) – Pretende-se reforçar e capacitar a rede de instituições de intermediação

tecnológica, apoiando a sua qualificação, a modernização dos equipamentos, a formação técnica dos ativos e

a contratação de recursos humanos altamente qualificados, com vista à renovação da rede de suporte

científico e tecnológico e orientação para o tecido produtivo.

Em consonância, no âmbito do PT2030, está planeado:

• No objetivo estratégico 1 – Portugal mais Competitivo e Inteligente – apoiar investimentos para

desenvolver e reforçar as capacidades de investigação e a adoção de tecnologias avançadas, e para

desenvolver competências para a especialização inteligente, a transição industrial e o empreendedorismo (705

M€).

A qualificação é assumida como uma ferramenta indispensável que deverá ser acessível a todos, e, neste

sentido, é indispensável continuar a alargar a base social do ensino superior e reforçar a sua diversidade e

expansão regional. Para concretizar este objetivo, o Governo irá:

• Reforçar a ação social escolar no ensino superior, incluindo o aumento do valor da bolsa de estudo para

estudantes inscritos em ciclos de estudo de mestrado até ao limite do valor máximo do subsídio de propina

atribuído para obtenção do grau de doutor em Portugal. Inclui ainda reforçar os incentivos e apoios para a

frequência do ensino superior em regiões do país com menor procura e menor pressão demográfica por

estudantes economicamente carenciados que residem habitualmente noutras regiões, duplicando o número de

novas bolsas até 2026.

• Fomentar a qualificação de profissionais através do reforço do ensino superior de proximidade e das

formações curtas de âmbito superior (designadamente os Cursos Técnicos Superiores Profissionais – CTeSP)

alargando o movimento dos últimos anos com a sua expansão para a formação de adultos e a pós-graduação.

• Aumentar o investimento do ensino superior nos adultos, diversificando e adequando ofertas.

• Implementação de um sistema de diagnóstico de avaliação de necessidades de formação superior de

médio e longo prazo, através da participação no projeto europeu EUROGRADUATE, permitindo apoiar a

tomada de decisão do Governo e das instituições de ensino superior na estruturação da sua oferta formativa

bem como os candidatos ao ensino superior na seleção dos seus percursos.

Prosseguindo o trajeto dos últimos anos, constituem metas neste domínio atingir uma taxa média de

frequência no ensino superior de 6 em cada 10 jovens com 20 anos até 2030 e assegurar 50% de graduados

de educação terciária na faixa etária dos 30-34 anos. Para o efeito, o Orçamento do Estado 2022 aponta para

o aumento do valor das bolsas para pagamento de propinas de mestrado de 871€ para 2.750€, abrangendo

cerca de 10 mil bolseiros, com um impacto orçamental estimado em 5 M€.

No âmbito do PRR destacam-se os seguintes investimentos de encontro aos objetivos de alargamento da

base social do ensino superior, no âmbito do PRR:

• Incentivo Adultos (130 M€) – apoiando a conversão e atualização de competências de adultos ativos em

formações de curta duração no ensino superior (universidades e politécnicos), de nível inicial e/ou de pós-

graduação, assim como a formação ao longo da vida em articulação com empregadores públicos e privados.

• Impulso Jovens STEAM47 (130 M€) – pretende-se aumentar a graduação superior de jovens em áreas

de ciências, tecnologias, engenharias, artes/ humanidades e matemática, promovendo e apoiando iniciativas

de instituições de ensino superior, incluindo universidades e politécnicos, em consórcio com empregadores.

Para assegurar a promoção das competências digitais em todos os níveis de ensino, o Governo irá:

• Promover e acelerar a transição digital da educação em todos os níveis de ensino, lançando um amplo

programa de digitalização para as escolas, garantindo a generalização das competências digitais de alunos e

47 STEAM: Science, Technology, Engineering, Arts and Mathematics

Página 92

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

92

professores, apostando na digitalização dos manuais escolares e outros instrumentos e recursos pedagógicos.

• Reforçar a Iniciativa Nacional Competências Digitais e.2030 (INCoDe.2030) através do estímulo para a

formação em competências digitais num esforço coletivo das instituições do ensino superior em estreita

colaboração com o setor privado e através do estímulo a atividades de I&D em áreas emergentes do

conhecimento.

Em termos de modernização da formação profissional contínua, o Governo irá:

• Lançar um plano nacional de modernização da rede de centros de formação profissional de gestão

pública direta e de natureza protocolar com associações empresariais, tanto no plano das infraestruturas como

da modernização e equipamento tecnológico, complementando o investimento previsto no PRR com fundos

próprios afetos ao financiamento das políticas ativas de emprego ao longo da próxima década, de modo a

reforçar a capacidade de resposta territorial e setorial, em particular nos setores mais dinâmicos da economia.

De entre os vários investimentos inscritos no PRR, tem contributo relevante para este objetivo o seguinte:

• Modernização da oferta e dos estabelecimentos de ensino e da formação profissional (680 M€) –

Pretende-se reequipar e robustecer a infraestrutura tecnológica dos estabelecimentos educativos com oferta

de ensino profissional através da aquisição e dotação de equipamentos essenciais à prática educativa e

formativa, e do ajustamento e requalificação dos espaços físicos das escolas e centros de formação

profissional da rede do IEFP.

Em alinhamento com esta resposta, no âmbito do PT2030 está planeado:

• No objetivo estratégico 4 – Portugal mais Social e Inclusivo – apoiar investimentos para promover a

adaptação dos trabalhadores, das empresas e dos empresários à mudança, e a um ambiente de trabalho

saudável e bem-adaptado; bem como para promover a igualdade de acesso e a conclusão de uma educação

e formação inclusiva e de qualidade, abrangendo o ensino e a aprendizagem de adultos, facilitando a

mobilidade para fins de aprendizagem para todos e a acessibilidade para pessoas com deficiência (851 M€).

8.3 Cultura

No âmbito do desenvolvimento de uma sociedade do conhecimento, é assumido o compromisso de

promover as valências do conhecimento, criatividade e inovação do setor cultural em Portugal. Porque a

cultura deve ser inclusiva, envolvente e vibrante, devem ser promovidas políticas públicas orientadas para a

acessibilidade e participação alargada de públicos e a sua ligação às instituições, às obras e aos criadores.

O desenvolvimento das políticas públicas assentará numa visão estratégica, na competência dos agentes

públicos na respetiva promoção e na consistência orçamental. Com o objetivo de garantir previsibilidade e

continuidade nos investimentos em cultura, visa-se aumentar a ambição de investimento da Cultura para 2,5%

da despesa discricionária do Orçamento do Estado e promover a capacitação das instituições para a captação

de fundos europeus; mapear as transformações e tendências presentes e futuras com impacto nas diferentes

áreas culturais e indústrias criativas, tendo como objetivo antecipar medidas de política pública para a

proteção e promoção das atividades culturais e criativas; e implementar a Conta Satélite da Cultura.

A concretização da visão estratégica para a cultura assenta em sete prioridades fundamentais, em que a

descentralização e internacionalização das atividades culturais se relacionam com todas as demais,

contribuindo para o seu desenvolvimento: i) Promover o livro e a leitura; ii) Recuperar e valorizar os museus e

o património cultural; iii) Apoiar a criação artística; iv) Promover o cinema e o audiovisual português; v)

Democratizar o acesso à comunicação social; vi) Descentralizar as atividades culturais; vii) Internacionalizar as

artes e a língua portuguesa.

Salienta-se, no âmbito da promoção do livro e da leitura, a promoção da internacionalização, a

modernização e a transição digital do livro e dos autores de língua portuguesa, no âmbito do PRR.

No que se refere à recuperação e valorização dos museus e do património cultural, pretende-se efetuar

Página 93

10 DE OUTUBRO DE 2022

93

intervenções nos Teatros, Museus, Monumentos e Palácios Nacionais, alguns dos quais classificados como

Património da Humanidade, distribuídos por todo o país, e cujas intervenções estão previstas no PRR,

abrangendo um universo de 46 museus, palácios e monumentos e, ainda, três teatros nacionais.

Neste eixo central da política para o património cultural, a par das intervenções de recuperação viabilizadas

pelo PRR, assume particular importância a reestruturação da Direção-Geral do Património Cultural e

correspondente alteração do modelo de gestão dos Museus, Monumentos e Palácios, bem como a

consolidação da Rede Portuguesa de Museus e do seu papel na promoção transversal dos padrões de

qualidade dos museus portugueses – assim reconhecendo o seu valor identitário, enquanto fundamento da

memória coletiva, bem assim como a sua importância social, educativa e turística, fundamentais para a

valorização do tecido económico e social do país.

O reconhecimento da importância das instituições responsáveis pela salvaguarda, conservação e

comunicação do património cultural, designadamente através do PRR, passa também pelo incentivo a uma

maior participação da sociedade civil e do tecido empresarial por via do mecenato cultural, melhorando as

condições para estas cumprirem a sua missão, inovarem e ampliarem a sua dimensão regional, nacional e

internacional.

Este desígnio constitui um eixo fundamental da política da cultura, na convicção de que esta representa a

garantia de preservação da qualidade de vida das cidades e das paisagens culturais e, assim, também do

desenvolvimento cultural das comunidades e territórios.

No apoio à criação artística, salienta-se a prioridade atribuída ao combate à precariedade laboral e ao

reforço da proteção social dos profissionais do setor da cultura, consubstanciada na implementação do

Estatuto dos Profissionais da Área da Cultura, recentemente aprovado, a que se somam a concretização do

Plano Nacional das Artes, a consolidação da rede de Teatros e Cineteatros Portugueses e, ainda, o início da

implementação da Rede Portuguesa de Arte Contemporânea.

A política para a arte contemporânea prevê, também, o desenvolvimento do Museu Nacional de Arte

Contemporânea no Centro Cultural de Belém, com coleções de pendor acentuadamente internacional, a par

do apoio ao programa dos restantes Museus com coleções de arte contemporânea do Estado e a prossecução

do enriquecimento da Coleção de Arte Contemporânea do Estado (CACE), conferindo-lhe consistência,

ambição e uma nova centralidade articulada com a RPAC.

No âmbito da transição digital, as medidas de PRR relativamente à digitalização das artes, em especial do

aumento da taxa de digitalização de obras de arte contemporânea, concorrem para melhorar o acesso à

informação sobre as coleções nacionais, a comunicação dos acervos e a experiência do público.

No que respeita à promoção do cinema e audiovisual, é central fortalecer a competitividade de Portugal e

estabilizar a atividade do setor cinematográfico e audiovisual através da adoção de medidas que contribuam

para a produção e realização de mais obras nacionais e internacionais. Para tal, está a ser feita uma avaliação

ao atual instrumento de incentivo à produção cinematográfica e audiovisual e à captação de filmagens

internacionais, que permitirá aperfeiçoar os critérios com base nos quais os apoios são atribuídos, e haverá

um reforço do orçamento aos programas de apoios financeiros promovidos pelo Instituto do Cinema e do

Audiovisual, IP.

No domínio da comunicação social, proceder-se-á à revisão do atual sistema de incentivos do Estado à

Comunicação Social reforçando o papel dos órgãos de comunicação social de âmbito regional e local, bem

como à revisão do contrato de concessão do serviço público de rádio e televisão para garantir o seu

funcionamento adequado no desenvolvimento da sua atividade, enquanto ferramenta e plataforma global de

comunicação de referência, promovendo também o desenvolvimento da literacia mediática.

Com vista a aumentar o desenvolvimento de atividades de âmbito cultural e social de elevado valor

económico, destacam-se os seguintes investimentos no âmbito do PRR:

• Património Cultural (150 M€) – Visando i) a requalificação e conservação dos museus, monumentos e

palácios do Estado; ii) a requalificação dos Teatros Nacionais; e iii) a implementação do Programa Saber

Fazer, através da instalação do Centro Tecnológico do Saber Fazer e dos Laboratórios do Saber Fazer, com

rotas associadas.

• Redes Culturais e Transição Digital (93 M€) – Visando i) a modernização da infraestrutura tecnológica

da rede de equipamentos culturais, entre os quais o Arquivo da Imagem em Movimento (ANIM) e o Arquivo

Página 94

II SÉRIE-A — NÚMERO 98

94

Nacional do Som, a constituir, bem como dos laboratórios de conservação e restauro e de arqueociências da

Direção Geral do Património Cultural e, ainda, de equipamento de cineteatros e centros de arte

contemporânea públicos com sistemas de projeção digital de cinema; ii) a digitalização e virtualização de artes

e património de Arquivos e Bibliotecas de âmbito nacional e distrital, de Museus e Monumentos e da

Cinemateca Portuguesa; e iii) a internacionalização, a modernização e a transição digital do livro e dos

autores.

8.4 Valorização das atividades e proteção do consumidor

Os setores do comércio, dos serviços e da restauração e similares, desempenham um papel fundamental

na economia nacional. Também o setor do turismo constitui um elemento fundamental para a dinamização da

economia e para a promoção da coesão social e territorial. Os impactos decorrentes do contexto pandémico

afetaram de forma particular estes setores, razão pela qual tem vindo a ser dinamizado um conjunto de apoios

específicos para mitigação desses efeitos.

Por seu turno, a política de defesa dos consumidores deve também ocupar um espaço decisivo na

recuperação económica. Nos últimos dois anos, foram concretizados importantes progressos no reforço dos

direitos dos consumidores, tais como a extensão dos prazos de garantia dos bens móveis, a proibição da

obsolescência programada, a regulação de ecossistemas digitais, assim como o alinhamento da política de

consumidores com a transição verde. Também as dinâmicas de consumo sofreram alterações no âmbito do

contexto pandémico, que importará acompanhar.

O comércio é, desde logo e no seu conjunto, o setor que congrega um maior número de empresas,

assegurando um nível de emprego muito significativo e contribuindo de forma decisiva para o valor

acrescentado bruto. Os estabelecimentos de comércio a retalho e de prestação de serviços influenciam

decisivamente a qualidade de vida das localidades onde estão inseridos e dão um contributo muito relevante

para a coesão territorial. De forma a promover a inovação dos modelos de negócio apoiando a adaptação e

modernização destes setores, o Governo irá:

• Aprovar e dinamizar a Agenda para a Competitividade do Comércio e dos Serviços, que constitui uma

estratégia integrada de médio-prazo para a valorização destas atividades.

• Potenciar o Comércio com História, dinamizar o turismo de compras, estimular o comércio

transfronteiriço e dinamizar iniciativas de valorização da oferta nacional;

• Concluir a execução do Mapa do Comércio, Serviços e Restauração, instrumento de identificação e

georreferenciação dos estabelecimentos destes setores;

• Promover a execução das medidas do PRR com incidência nestes setores, de âmbito mais transversal,

e, em particular, as medidas “Bairros Comerciais Digitais” e “Aceleradoras do Comércio Digital”, bem como

dinamizar sistemas de incentivos que atendam às especificidades destas atividades, promovendo a

valorização da evidência física, assim como outros instrumentos de suporte à modernização e requalificação

dos estabelecimentos, no âmbito do PT2030.

• Apoiar a transição verde e a criação de referenciais de eficiência, estimulando a adoção de soluções

energeticamente mais sustentáveis e a requalificação dos estabelecimentos.

• Adequar e simplificar o enquadramento legislativo, através da revisão do Regime Jurídico de Acesso e

Exercício a Atividades de Comércio, Serviços e Restauração e de outros regimes especiais.

Para o setor do turismo em Portugal será prioritária a execução do Plano Reativar o Turismo | Construir o

Futuro, que assenta em quatro pilares estratégicos: 1) Apoiar Empresas; 2) Fomentar Segurança; 3) Gerar

Negócio; e 4) Construir o Futuro. O Plano Reativar o Turismo | Construir o Futuro tem em vista a colocação

das empresas portuguesas deste setor num patamar superior de criação de valor, mantendo sempre presente

a superação das metas definidas na Estratégia Turismo 27 e o desígnio de tornar Portugal um dos destinos

mais sustentáveis e competitivos do Mundo.

Por sua vez, em termos de proteção do consumidor o Governo irá:

• Instituir o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, identificando expressamente as entidades

Página 95

10 DE OUTUBRO DE 2022

95

públicas e as organizações privadas que direta ou indiretamente visam os interesses dos consumidores e que

integram esse Sistema, impulsionando o desenvolvimento de iniciativas em rede na base de cooperação

institucional;

• Criar o Portal do Consumidor, numa lógica de balcão único, aprofundando e articulando ferramentas e

mecanismos, existentes e a criar, por forma a reforçar a notoriedade dos direitos dos consumidores e das

diferentes respostas para o seu esclarecimento e eventual resolução de conflitos;

• Definir o Estatuto do Consumidor Vulnerável, o qual contemplará um conjunto de critérios e respetivos

direitos correspondentes a esta condição;

• Definir e difundir, em cooperação com as associações de produtores e as associações de

consumidores, um Índice de Reparabilidade de Produtos, prosseguindo a adoção de instrumentos que

permitam ao consumidor obter informação e compará-la, no que à vida útil dos produtos diz respeito.

• Reforçar a regulação do mercado através de ações de prevenção e fiscalização visando o combate à

economia paralela, à fraude e à fiscalização do comércio eletrónico, promovendo a leal concorrência, a

segurança alimentar e proteção dos interesses dos consumidores.

• Dar continuidade ao reforço dos recursos humanos e materiais da Autoridade de Segurança Alimentar e

Económica (ASAE), prevendo o alargamento do seu mapa de pessoal e. atendendo aos desafios e

oportunidades da transição digital, implementando o sistema de tramitação eletrónica das contraordenações

económicas;

• Apostar na promoção de iniciativas de informação, sensibilização e capacitação, dirigidas sobretudo aos

consumidores mais vulneráveis e com especial enfoque em domínios que carecem de maior divulgação;

• Prosseguir na promoção dos mecanismos de resolução alternativa de litígios de forma a facilitar o

acesso à justiça por parte dos consumidores e na valorização da Rede Extrajudicial de Apoio aos Clientes

Bancários (RACE) de molde a apoiar os consumidores em situação de vulnerabilidade económica.

ANEXO II

(a que se refere a alínea b) do n.º 1 do artigo 3.º)

Missões de Base Orgânica 2023 2024 2025 2026 2027

Administração Central

001 - ÓRGAOS DE SOBERANIA 5 576,1 5 745,3 5 910,9 6 030,7 6 149,6

002 - GOVERNAÇÃO 2 225,0 2 285,5 2 325,5 2 362,4 2 396,5

02 - PRESIDÊNCIA DO CONSELHO DE MINISTROS 1 882,5 1 933,7 1 967,5 1 998,7 2 027,6

16 - COESAO TERRITORIAL 203,5 209,0 212,7 216,0 219,2

003 - REPRESENTAÇÃO EXTERNA 587,4 604,0 618,5 630,5 642,4

004 - DEFESA 2 643,5 2 738,7 2 812,0 2 873,0 2 931,1

005 - SEGURANÇA INTERNA 2 682,7 2 770,2 2 843,0 2 904,3 2 966,0

006 - JUSTIÇA 2 165,1 2 234,9 2 290,7 2 336,6 2 381,8

007 - FINANÇAS 24 536,4 24 744,5 25 105,2 25 425,3 25 740,6

008 - GESTÃO DA DÍVIDA PÚBLICA 139 498,6 140 518,4 142 080,0 143 581,3 145 017,1

009 - ECONOMIA e MAR 4 509,1 4 576,8 4 621,5 4 641,0 4 660,5

010 - CULTURA 1 101,6 1 145,7 1 207,6 1 272,8 1 341,5

011 - CIÊNCIA, TECNOLOGIA E ENSINO SUPERIOR 5 237,3 5 393,5 5 526,4 5 636,9 5 744,7

012 - ENSINO BASICO E SECUNDARIO E ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR8 148,5 8 388,4 8 574,5 8 731,9 8 892,0

013 - TRABALHO, SOLIDARIEDADE E SEGURANÇA SOCIAL 29 255,8 30 102,9 30 967,8 31 570,0 32 183,2

014 - SAÚDE 36 499,8 37 797,0 39 044,3 40 215,7 41 301,5

015 - AMBIENTE E AÇÃO CLIMÁTICA 5 780,4 5 878,5 5 958,7 6 025,4 6 090,8

016 - INFRAESTRUTURAS E HABITAÇAO 7 969,3 8 175,4 8 337,0 8 469,8 8 595,9

017 - AGRICULTURA e ALIMENTAÇÃO 1 812,0 1 857,7 1 894,2 1 927,7 1 960,1

Total da AC 280 089,7 284 814,5 289 972,6 294 487,7 298 845,6

Segurança Social (SS) 59 392,8 60 072,0 61 362,9 63 289,7 64 555,4

Total da AC+SS 339 482,5 344 886,5 351 335,4 357 777,4 363 401,0

Total da AC+SS excluindo Gestão da Dívida Pública 199 983,9 204 368,1 209 255,5 214 196,1 218 383,9

Fontes de Financiamento 2023 2024 2025 2026 2027

Administração Central e Segurança Social

Receitas de Impostos 225 513,9 230 024,2 234 854,7 239 551,8 244 821,9

Fundos Europeus 10 065,2 10 103,4 10 070,6 10 147,1 10 299,3

Outras 103 903,4 104 758,9 106 410,1 108 078,5 108 279,8

Total da AC+SS 339 482,5 344 886,5 351 335,4 357 777,4 363 401,0

Por memória

SALDO ESTRUTURAL % -0,9

Fonte: Ministério das Finanças.

Projeção de Receitas por Fonte de Financiamento

Quadro Plurianual das Despesas Públicas

Limites de Despesa por Missão de Base Orgânica

(milhões de euros)

Página 96

Parecer sobre as

Grandes Opções 2022-2026

(Aprovado no Plenário do CES de 4/10/2022)

Relator: Conselheiro António Fontaínhas Fernandes

Lisboa, 2022

II SÉRIE-A — NÚMERO 98 ___________________________________________________________________________________________________________

96

Página 97

ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO

2. APRECIAÇÃO GERAL

3. AS GRANDES OPÇÕES

4. GOVERNAÇÃO

5. DESAFIOS ESTRATÉGICOS

5.1. ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

5.1.1. TRANSIÇÃO ENERGÉTICA

5.1.2. MOBILIDADE SUSTENTÁVEL

5.1.3. ECONOMIA CIRCULAR

5.1.4. VALORIZAR O TERRITÓRIO

5.2. DEMOGRAFIA

5.2.1. NATALIDADE

5.2.2. EMPREGO

5.2.3. HABITAÇÃO

5.2.4. MIGRAÇÕES

5.2.5. ENVELHECIMENTO E QUALIDADE DE VIDA

5.3. DESIGUALDADES

5.3.1. IGUALDADE DE GÉNERO E COMBATE ÀS DISCRIMINAÇÕES

5.3.2. RENDIMENTOS E JUSTIÇA FISCAL

5.3.3. ERRADICAÇÃO DA POBREZA

5.3.4. EDUCAÇÃO

5.3.5. COESÃO TERRITORIAL

5.4. SOCIEDADE DIGITAL, CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO

5.4.1. ECONOMIA 4.0

5.4.2. CONHECIMENTO, COMPETÊNCIAS E QUALIFICAÇÕES

5.4.3. CULTURA

5.4.4. VALORIZAÇÃO DAS ATIVIDADES E PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR

6. SÍNTESE CONCLUSIVA

7. DECLARAÇÕES DE VOTO

10 DE OUTUBRO DE 2022 ___________________________________________________________________________________________________________

97

Página 98

1. INTRODUÇÃO

Foi solicitado pelo Governo ao Conselho Económico e Social (CES) o

presente parecer, que se insere nas suas competências, previstas no art.º

92º da Constituição da República Portuguesa (CRP), na Lei nº 108/91 que

regula o CES e na Lei nº 43/91 (Lei Quadro do Planeamento).

A Lei de Enquadramento Orçamental (LEO), no seu art.º 34º, nº1, determina

que a proposta de lei das Grandes Opções seja apresentada pelo Governo

à Assembleia da República até ao dia 15 de abril.

Já este ano o Governo introduziu, através da Lei n.º 10-B/2022, de 28 de abril,

uma alteração à LEO quanto aos prazos de apresentação das propostas

de Lei do Orçamento de Estado (OE) e das Grandes Opções (GO). Assim, a

proposta de Lei das GO passa a ter dois prazos possíveis de apresentação,

nomeadamente, 15 de abril (art. 34º, nº 1 da LEO), em condições normais,

ou “no prazo de 90 dias a contar da tomada de posse do Governo” “caso

este termine em data posterior” (art. 39º, nº 4 da LEO).

O nº 2 do art.º 34º determina que a lei das GO deve “conter a justificação

das opções de política económica assumidas e a sua compatibilização

com os objetivos de política orçamental.” Por outro lado, no art.º 105º, nº2

da CRP está previsto que o “Orçamento seja elaborado de harmonia com

as grandes opções em matéria de planeamento e tendo em conta as

obrigações decorrentes de lei ou de contrato”.

Estas alterações em nada justificam a data tardia com que o pedido de

Parecer foi feito ao CES, considerando este ser inaceitável o prazo

concedido pelo Governo para a emissão do mesmo. As condições em que

o Parecer é elaborado impedem este Conselho de produzir uma análise e

discussão do documento do Governo nas condições minimamente

aceitáveis, com óbvio prejuízo para o mesmo, ao não poder refletir em

pleno a riqueza e diversidade de conhecimento da realidade portuguesa

que a composição do CES assegura.

II SÉRIE-A — NÚMERO 98 ___________________________________________________________________________________________________________

98

Página 99

Acresce que a recorrente ausência do cenário macroeconómico de médio

prazo impede o CES de avaliar corretamente o impacto das medidas

anunciadas, fragilizando a discussão em torno de meras indicações avulso

que ao longo das GO vão sendo apresentadas.

2. APRECIAÇÃO GERAL

A proposta de lei das GO deve explicitar de forma integrada a estratégia

de desenvolvimento do país, descrevendo as políticas públicas que

respondem aos desafios económicos e sociais, a exemplo do Programa de

Estabilidade, do Plano Nacional de Reformas (PNR) e do OE.

O documento refere avanços na economia, sociedade e territórios, tendo

por base de sustentação o crescimento económico, o mercado de

trabalho, o combate às desigualdades e exclusão social e as qualificações.

No entanto, alguns indicadores pioraram, designadamente os relativos à

pobreza, um tema que será analisado mais à frente no capítulo relativo às

desigualdades. A implementação das GO exige medidas de política

financiadas por diversas fontes: OE, quadro europeu de instrumentos de

financiamento (Acordo de Parceria Portugal 2020 – PT2020 – e Portugal 2030

– PT2030; Assistência de Recuperação para a Coesão e os Territórios da

Europa – REACT-EU; Plano de Recuperação e Resiliência – PRR; Programa

de Desenvolvimento Rural – PDR; Fundo de Transição Justa; e subvenções

financiadas pela UE e outras fontes de financiamento nacional.

Neste contexto, a estratégia delineada nas GO para 2022-2026 está

alinhada com importantes instrumentos de planeamento como o PNR, o PT

2030, o PRR e o PT 2020. O CES sublinha de forma positiva o alinhamento do

documento com outras agendas transversais, caso dos 17 Objetivos do

Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das

Nações Unidas (ONU), sublinhando o compromisso com a sustentabilidade.

No entender do CES, dado o elevado número de estratégias mencionadas

nas GO, seria útil a apresentação de um esquema facilitador da

compreensão da forma como estas estratégias se articulam entre si.

10 DE OUTUBRO DE 2022 ___________________________________________________________________________________________________________

99

Página 100

Da apreciação global do documento, conclui-se que uma parte

substancial das medidas está centrada em dotações provenientes de

fundos comunitários, em particular do PRR e do PT2030. O documento

incorpora, contudo, preocupações previamente expressas pelo CES sobre

a origem e detalhe das medidas e estrutura a apresentação das quatro

agendas estratégicas por medidas previstas no PRR.

A proposta de Lei das GO 2022-2026 mantém a estrutura da Lei das GO

2021-2023: as grandes opções; Portugal no mundo; cenário

macroeconómico; governação; desafios estratégicos (alterações

climáticas; demografia; desigualdades; e sociedade digital, da criatividade

e da inovação).

Os desafios estratégicos estão alinhados da seguinte forma: o primeiro

desafio com a “transição climática e sustentabilidade”; o segundo com a

Agenda “As pessoas primeiro: um melhor equilíbrio demográfico, maior

inclusão, menos desigualdade”; o terceiro desafio sobre desigualdades

com duas das agendas – “As pessoas primeiro: um melhor equilíbrio

demográfico, maior inclusão, menos desigualdade” e “Um país competitivo

externamente e coeso internamente”; e, finalmente, o quarto desafio

enquadra-se na agenda “Digitalização, inovação e qualificações como

motores de desenvolvimento” do PNR 2022.

A mobilização de recursos da UE tem assumido um papel central na

implementação de várias políticas públicas. O CES alerta, no entanto, que

as GO estão muito dependentes de fundos comunitários – em particular, do

PRR e do PT 2030. O PT2020 representa cerca de 90% do investimento

público, o valor mais elevado na UE, colocando constrangimentos de

opções políticas na resolução dos problemas do país1. O CES recomenda

que o investimento público não seja tão dependente dos fundos europeus,

os quais devem ser complementares do OE, devendo o Estado assegurar

1 A coesão na Europa no horizonte de 2050, de dezembro de 2021. Consulta aqui.

II SÉRIE-A — NÚMERO 98 ___________________________________________________________________________________________________________

100

Página 101

dotações necessárias de forma a não comprometer os objetivos de

investimento.

Quando se aproxima um novo ciclo de programação e face aos avultados

montantes de financiamento, o CES alerta para eventuais atrasos no

arranque dos novos programas, o impacto desses atrasos no agravamento

das condições de partida definidas para os desafios estratégicos e, por

outro lado, para os fatores que têm limitado a execução do PT2020 que

devem ser acautelados.

Da análise da execução do investimento público, segundo o Parecer do

CES sobre o OE de 2022, de 2016 a 2021 não foram executados cerca de

4,4 mil M€ dos valores orçamentados.2 Esta situação é preocupante,

atendendo a que a libertação dos futuros fundos do PRR depende da

concretização das metas definidas. Quanto ao PT2020, a execução

acelerou apenas nos últimos anos, sendo a taxa de execução em

dezembro de 2020 de 57,5% de acordo com o Tribunal de Contas (TdC).3

Por sua vez, a execução acelerou em 2021, sendo que em março de 2022

a proporção dos fundos do PT2020 executados era, em média dos vários

fundos, de 70%; o FSE tinha a maior taxa de execução e o Fundo de Coesão

a menor. No OE de 2022, é dito que, no que diz respeito ao PT2020, o

objetivo de concretização de execução para 2022 é de 16%, permitindo

obter uma taxa acumulada de execução de 87% no final de 2022.4

O mencionado relatório do TdC refere que, não obstante a taxa de

execução de Portugal ser superior à de outros países, as dificuldades do

PT2020 se devem entre outros fatores ao atraso no início dos programas, a

carência de recursos humanos de apoio, a morosidade e a complexidade

na articulação de financiamento de diferentes fundos. O CES tem vindo a

chamar a atenção em Pareceres anteriores para se atender a estes

obstáculos no exigente novo ciclo de programação. O CES sugere ainda a

2 Parecer do CES sobre o OE de 2022. Consulta aqui. 3 Tribunal de Contas (2021), Auditoria ao Portugal 2020, Relatório Nº 12/2021, 2ª Seção. Consulta aqui. 4 Agência para o Desenvolvimento e Coesão (2022), Boletim Informativo dos fundos da União Europeia, nº 28. Consulta aqui.

10 DE OUTUBRO DE 2022 ___________________________________________________________________________________________________________

101

Página 102

introdução de medidas de simplificação e de desburocratização de

processos e procedimentos administrativos.

O CES reitera que a ausência do cenário macroeconómico não é de todo

justificável, ainda mais que se repete, ano após ano na proposta das GO

enviada ao CES para emissão do Parecer obrigatório.

O documento refere a necessidade de acelerar a mudança de um modelo

assente em baixos salários para um de desenvolvimento económico e social

do país baseado no aumento das qualificações e na inovação, visando

aumentar o valor acrescentado dos bens e serviços. Contudo, não se

vislumbram medidas que dinamizem a contratação coletiva, instrumento

essencial para a valorização do trabalho e melhoria dos salários.

3. AS GRANDES OPÇÕES

A proposta de Lei das GO para 2022-2026 corresponde às GO de política

económica, social e territorial, desenvolvendo-se a estratégia em duas

dimensões: a resposta a curto prazo destinada a apoiar as empresas e

famílias mais vulneráveis face ao aumento dos preços; e a reposta focada

em objetivos de médio e longo prazo, destinada a acelerar a mudança de

modelo económico do país, baseado no conhecimento e na inovação.

Além das medidas para minorar o impacto da inflação em produtos

energéticos e alimentares, o Governo adotou medidas de contenção da

inflação, como a redução do imposto sobre os produtos petrolíferos ou o

mecanismo temporário de ajuste dos preços da energia elétrica, limitando

o papel das centrais termoelétricas a gás natural na formação de preço no

quadro do Mercado Ibérico de Eletricidade (MIBEL), até maio de 20235. No

entanto, apesar das medidas tomadas, verifica-se um aumento

considerável na fatura energética das famílias e das empresas. O capítulo

sobre “Portugal no Mundo” merece, conforme Parecer anterior, maior

clareza ao nível das opções e medidas adotadas. O CES assinala a

5 Decreto-Lei n.º 33/2022, de 13 de maio.

II SÉRIE-A — NÚMERO 98 ___________________________________________________________________________________________________________

102

Página 103

intenção de dar continuidade à implementação do Pilar Europeu dos

Direitos Sociais e recomenda que as metas estabelecidas para diferentes

campos de intervenção, como a pobreza e a igualdade entre homens e

mulheres não sejam adiadas.

O CES regista com agrado a referência efetuada à importância do diálogo

social como marca de governação, que espera ver concretizada em sede

de concertação social.

O CES recorda ainda a relevância que uma contratação coletiva

dinâmica, aos diversos níveis, deve assumir, concorrendo para os objetivos

estabelecidas nestas GO.

4. GOVERNAÇÃO

As GO identificam sete domínios de intervenção prioritários na área da

governação, que se analisa de seguida.

Recuperação e convergência

As GO referem para o período de 2019 a 2024 um crescimento económico

de Portugal de 15,5%. Mesmo admitindo que o Governo possa estar a

prever um crescimento acima da generalidade das previsões conhecidas

para 2023 e 2024, trata-se de um valor difícil de concretizar face ao histórico

envolvido e às estimativas existentes para 2022. O CES lembra que as

previsões da CE deste verão para Portugal apontam para um crescimento

de 6,5% em 2022 e 1,9% em 2023 e que o Conselho das Finanças Públicas

(CFP) avançou recentemente com uma previsão de 6,7% para este ao e

de 1,2% para o próximo, aumentando para 2,0% a sua previsão para 2024.,

67 Com estes números o crescimento no período em causa ficará abaixo

dos 10%. As previsões da Organização Europeia de Cooperação

Económica (OCDE), do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco de

Portugal preveem um crescimento em 2022 mais baixo, o que foi reforçado

6 Comissão Europeia (2022), Summer 2022 Economic Forecast: Economic Forecast for Portugal. Consulta aqui. 7 Conselho das Finanças Públicas, Resumo de Projeções. Consulta aqui,

10 DE OUTUBRO DE 2022 ___________________________________________________________________________________________________________

103

Página 104

nos Pareceres do CES sobre o OE de 2022 e o PNR de 2022. Portugal poderá

registar a partir de 2023 uma desaceleração do crescimento do PIB,

culminando com uma projeção de 1,9% de aumento em 2027.8 Estima-se

que Portugal apresente o oitavo crescimento mais lento da UE nos próximos

anos.9 Assim, entende o CES que as GO deveriam ser mais cautelosas

quando indicam que Portugal crescerá acima da média europeia.

O CES assinala a previsão de trajetória descendente da dívida pública

portuguesa, que aponta para um valor perto dos 100% em 2026. A redução

progressiva do rácio da dívida pública em percentagem do PIB, visando a

sustentabilidade das finanças públicas, constitui um objetivo importante

para o país.

O CES congratula-se com a tentativa de simplificação do sistema fiscal e o

reforço ao combate à fraude e à evasão fiscais, problemas prevalecentes

em Portugal. Seria, contudo, importante conhecer as medidas que serão

implementadas para atingir estes objetivos, bem como o posicionamento e

uma visão mais estratégica sobre o edifício fiscal e a construção de um

sistema socialmente justo e que responda aos desafios da economia.

O CES vê como positiva a criação de um “Simplex” para os fundos

europeus, visando simplificar os procedimentos dos fundos europeus, bem

como o desenvolvimento do Portal “Mais Transparência” que disponibiliza

informação sobre os projetos em curso, o que está de acordo com as

sugestões do Parecer do CES sobre as GO 2021-202510. Contudo, o CES

espera que estas iniciativas tenham efeitos práticos ao nível das taxas de

execução, na qualidade e da diversidade de candidaturas.

As GO referem como prioridade o aproveitamento dos fundos europeus e

a concretização integral dos investimentos previstos no PRR. Tendo em

conta o histórico mencionado sobre a execução do PT2020, o prazo

8 IMF Country News, Portugal. Consulta aqui.

9 Monteiro, N. e Jalali, C. (coord.) (2022), Um novo normal? Impactos e lições de dois anos de pandemia em Portugal, Fundação Francisco Manuel dos Santos. Consulta aqui.

10 Parecer do CES sobre as GO 2021-2025.

II SÉRIE-A — NÚMERO 98 ___________________________________________________________________________________________________________

104

Página 105

apertado para a execução do PRR e a atual situação económica mundial,

o CES reitera a necessidade da implementação de medidas urgentes,

nomeadamente ao nível do reforço de meios humanos, para não pôr em o

risco a execução do PRR. O CES chama a atenção para o recente relatório

do CFP que sugere uma baixa execução do PRR em 2021.11

Resposta ao aumento dos preços

As GO referem que o montante do financiamento das medidas de resposta

ao aumento dos preços é de 5.685 M€, financiados por fontes nacionais,

sendo o valor mais elevado em 2022 (5.483 M€), seguido de 2023 (157 M€) e

2024 (45 M€). O CES sublinha o esforço no combate ao aumento do custo

de vida, todavia, considera estas medidas insuficientes, especialmente num

contexto de previsão de aumento das receitas fiscais. De acordo com a

Síntese de Execução Orçamental publicada em agosto a receita

acumulada com IVA até julho de 2022 foi de 11.584,5 M€, um aumento de

24,7% face ao período homólogo.12 Assumindo que se manterá esta taxa

de crescimento, a receita do IVA irá crescer 6,8 mil M€ em relação à receita

de 2021 e 4,9 mil M€ acima do estimado no OE de 2022.13

Quanto ao “Plano de Resposta ao Aumento dos Preços, Famílias Primeiro”,

o CES questiona se as medidas apresentadas terão o impacto necessário

na atual crise. O pagamento único de 125 € por adulto/a com rendimentos

mensais até 2700€ é insuficiente para compensar as perdas de rendimento

acumuladas. O complemento excecional a pensionistas em 2022 de

atribuição em outubro de 50% do valor da pensão, poderá traduzir-se numa

não atualização das pensões no futuro, face aos valores esperados com a

aplicação da legislação em vigor.

No plano de apoio às empresas verifica-se uma forte componente de linhas

de crédito, podendo constituir um risco adicional para o tecido empresarial.

11 Conselho das Finanças Públicas, Evolução Orçamental das Administrações Públicas em 2021. Quadro 13. Consulta aqui.

12Síntese da Execução Orçamental de julho de 2022. Consulta aqui.

13 Dados do OE de 2022 para a previsão de 2022 e dados da CGE 2021 para execução de 2021.

10 DE OUTUBRO DE 2022 ___________________________________________________________________________________________________________

105

Página 106

A CE, em março de 2022, recomendou um imposto sobre lucros

extraordinários para financiar medidas de apoio ao aumento dos custos

energéticos.14 Em setembro de 2022 a CE propôs a arrecadação de 140 mil

M€, através de um imposto sobre lucros extraordinários das empresas

energéticas para responder aos preços da energia esperados no próximo

inverno. Alguns países europeus já adotaram esta medida, alargando-a em

certos casos a outros setores, contudo em Portugal ainda não está prevista

a sua aplicação.

Finalmente, atendendo ao elevado valor da inflação previsto para 2022 e

2023 poderá ser necessário revisitar as metas previamente estabelecidas no

que diz respeito à evolução do Salário Mínimo Nacional nos próximos anos.

Qualidade dos serviços públicos

O CES regista a intenção do Governo de continuar a valorizar a

Administração Pública (AP), o que tem vindo a ser feito através da

reposição de cortes salariais, do descongelamento de carreiras e da

reabertura de admissões. Contudo, face à perda real de salários registada

na última década, o CES sugere maior ambição na valorização das

carreiras e dos salários, tendo em vista a atração e retenção de

trabalhadores/as.

O CES congratula-se com a existência de um portal único digital, alertando,

contudo, para a necessidade de manter as opções não digitais. Em

2021,12,7% de agregados domésticos não tinham ligação à internet em

casa, sendo que 18,8% das mulheres e 16,4% dos homens não utilizavam

internet. Em termos etários, apenas 47,7% das pessoas entre os 65 e 74 anos

de idade utilizavam internet em 2021.

Serviço Nacional de Saúde

O CES saúda as medidas apresentadas no âmbito do Serviço Nacional de

Saúde (SNS) e do objetivo de o tornar mais justo e inclusivo. O CES valoriza

14 Comunicação da CE de março de 2022. Consulta aqui.

II SÉRIE-A — NÚMERO 98 ___________________________________________________________________________________________________________

106

Página 107

as alterações registadas e as medidas previstas, mas alerta para a

necessidade de investimento nos serviços públicos e da valorização dos/as

profissionais de saúde.

O Relatório Primavera 2022 do Observatório Português dos Sistemas de

Saúde refere que, de 2015 a 2021 se registou um declínio na produtividade

no SNS (medida pelo rácio entre o número de serviços prestados e o número

de profissionais).15 Este relatório sugere algumas explicações para esta

quebra de produtividade: disrupções das equipas causadas por um maior

número de horas extraordinárias; aumento do absentismo (aumentou de

11,2% para 12,4% entre 2015 e 2019 e, durante a pandemia, o aumento foi

superior a 20%); e a concorrência do setor privado, que leva a uma grande

rotatividade no setor público e à necessidade de contratar jovens menos

experientes. Quanto à taxa de absentismo, o relatório acima mencionado

refere um estudo de 2016 que aponta para níveis de burnout elevados, com

21% dos profissionais entrevistados a trabalhar no SNS com burnout

moderado e 47,8% com burnout elevado.

O CES manifesta preocupação para determinadas áreas da saúde, caso

da oncologia16, obstetrícia e ginecologia, em termos dos tempos de

resposta e de assimetrias geográficas. De igual modo, deve ser objeto de

reflexão o reforço dos estabelecimentos de cuidados de saúde primários,

em termos de organização e de gestão.

O CES considera necessário o alinhamento de Portugal com a estratégia da

UE na área do medicamento, por forma a garantir recursos humanos e

financeiros para a disponibilização das soluções terapêuticas inovadoras

em timings idênticos aos dos restantes países, assim como fomentar o

investimento em Portugal, nomeadamente o público, na área do

medicamento que contribua para a autonomia do país e da UE.

15 Relatório Primavera 2022 do Observatório Português dos Sistemas de Saúde. Consulta aqui. 16 Tribunal de Contas (2022), Auditoria ao Acesso a Cuidados de Saúde Oncológicos no SNS, Relatório Nº 12/2022, 2ª Secção.

Consulta aqui.

10 DE OUTUBRO DE 2022 ___________________________________________________________________________________________________________

107

Página 108

O CES defende que as medidas previstas devem ser formalizadas de uma

forma mais específica, devendo a sua implementação ser monitorizada.

Pacto social para a educação

O CES saúda a evolução positiva de vários indicadores no âmbito das

qualificações, nomeadamente, a redução da taxa de abandono escolar

precoce de 13,7% em 2015 para 5,9% em 2021, valor que supera a média

europeia. No entanto, tal como as GO sublinham, é necessário encontrar

estratégias adequadas para os problemas que subsistem.

As GO referem o investimento nos/as profissionais da escola pública,

admitindo que o diagnóstico de falta de docentes a curto e médio prazo

requer maior esforço neste domínio, alertando o CES que o problema

poderá ir além do curto e médio prazo. O cruzamento das previsões sobre

a aposentação de docentes e o número de diplomados/as em cursos de

formação de professores/as, comprova que o impacto da falta de

docentes será galopante.17 De 110 mil estudantes sem professores em 2023

passar-se-á para 250 mil em 2025, isto é, mais de metade dos estudantes do

7.º aos 12.º anos de ensino estarão nessa altura sem aulas, pelo menos a

uma disciplina.

No documento das GO são referidas medidas de estabilidade no acesso à

carreira e de redução de mobilidade entre escolas, de um programa de

atração de titulares com habilitação profissional para a docência e a

criação de incentivos à carreira docente dirigidos às zonas onde a oferta é

escassa. O CES reafirma a necessidade de renovação de quadros no ensino

público, designadamente de professores/as nos diferentes níveis de ensino,

onde é necessário rejuvenescer o corpo docente e criar condições de

estabilidade e valorização profissional.

17 https://www.ffms.pt/blog/artigo/578/quantos-alunos-estarao-sem-aulas-daqui-a-1-ano

II SÉRIE-A — NÚMERO 98 ___________________________________________________________________________________________________________

108

Página 109

Qualidade da democracia

O CES saúda a preocupação explícita nas GO de promover a participação

dos/as cidadãs, de proteger os direitos e liberdades fundamentais e de

investir numa educação para a cidadania, que se revelam essenciais no

combate a fenómenos de extremismo. Esta preocupação reflete-se em

cinco eixos de intervenção: promoção da literacia democrática e

cidadania; garantia da liberdade de acesso à profissão; combate contra a

corrupção; fomento da autonomia regional e da descentralização. CES

saúda ainda o esforço de modernização do processo eleitoral, visando

permitir o acesso ao voto de um maior número de pessoas.

Quanto ao combate à corrupção, o Regime Geral de Prevenção da

Corrupção abrange apenas entidades com mais de 50 trabalhadores/as.

O CES considera essencial combater a corrupção de forma mais

generalizada, visando uma mudança da cultura no longo prazo.

A descentralização é referida a conclusão do processo em curso,

continuando o CES a manter reservas, sugerindo que sejam definidos

critérios de avaliação e de monitorização da efetiva descentralização, que

possam ser apresentados nas GO do próximo período.

Funções de soberania

Esta secção aborda políticas públicas nas áreas da defesa nacional,

segurança interna e justiça. No domínio da justiça, e em linha de

concordância com Pareceres anteriores, o CES reclama que a reforma da

justiça deve ser abrangente e uma prioridade do país, passando entre

outros aspetos pela modernização tecnológica com recurso ao Fundo para

a Modernização da Justiça, com o objetivo de promover a informatização

e desmaterialização dos processos judiciais. Na perspetiva do CES, o acesso

à justiça deve ser universal e não pode existir discriminação com base na

condição socioeconómica ou no nível de rendimento dos/das

cidadãos/cidadãs.

10 DE OUTUBRO DE 2022 ___________________________________________________________________________________________________________

109

Página 110

5. DESAFIOS ESTRATÉGICOS

O documento consagra quatro eixos temáticos alinhados com as agendas

da Estratégia Portugal 2030 e do PNR, que constituem a linha de orientação

fundamental para o desenvolvimento do país durante a década em curso.

5.1. ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

O primeiro desafio estratégico centra-se nas alterações climáticas,

reconhecendo o CES a urgência desta agenda, traduzindo opções nas

políticas energéticas, de mobilidade sustentável, na economia circular e

valorização do território, conforme Parecer do CES sobre o a Lei do Clima.18

O CES salienta o alinhamento dos objetivos deste desafio estratégico com

a agenda “transição climática e sustentabilidade” do PNR e, por isso, com

os objetivos da UE no que se refere quer ao pilar “transição ecológica”, quer

ao pilar “crescimento inteligente, sustentável e inclusivo”.

5.1.1. TRANSIÇÃO ENERGÉTICA

Neste domínio o documento considera políticas dirigidas para a eficiência

energética em edifícios e infraestruturas, a produção e distribuição de

energia renovável e a descarbonização do tecido produtivo.

Portugal ocupa uma posição de vanguarda no uso de energia de fontes

renováveis, assumindo uma posição privilegiada para reforçar a resiliência

energética da UE face à Rússia. O CES considera que a dependência

energética de Portugal face a outros países apela a que se avaliem

soluções que contribuam para a soberania energética do país.

O nível elevado de fontes de energia renovável na matriz energética

nacional, no entender do CES, exige fomentar interligações com a Europa,

quer elétrica, quer de gases, no futuro, renováveis.

O CES considera, de igual modo, que o aproveitamento de recursos

endógenos requer que se confira a devida importância ao biometano, ou

18 Conselho Económico e Social (2021), Parecer sobre os projetos de Lei que visam a criação de uma Lei do Clima. Consulta aqui.

II SÉRIE-A — NÚMERO 98 ___________________________________________________________________________________________________________

110

Página 111

outros gases de origem biológica, em paralelo como estímulo à futura

produção de hidrogénio.

O CES relembra ser essencial a promoção da eficiência energética em

edifícios e infraestruturas, no quadro da Estratégia de Longo Prazo quer para

a Renovação dos Edifícios, quer para o Combate à Pobreza Energética,

visando proteger e apoiar as e os consumidores mais vulneráveis. No

domínio da capacidade financeira para o aquecimento habitacional

adequado, o CES salienta que Portugal é o quinto país da UE com a maior

percentagem de pessoas com dificuldades em garantir um aquecimento

adequado.

O CES alerta ainda para a necessidade de potenciar os impactos da

transição energética, nomeadamente em termos de emprego.

Quanto à descarbonização do tecido produtivo, o PRR prevê investimentos

para acelerar a transição para uma economia neutra em carbono e

promover a competitividade das empresas, por via da descarbonização,

redução do consumo de energia e da promoção de fontes endógenas,

pelo que o CES reforça a preocupação sobre a sua boa execução, o qual

conta com 38% do seu investimento afeto à transição climática.

5.1.2. MOBILIDADE SUSTENTÁVEL

A aposta na mobilidade sustentável passa pela melhoria da resposta da

ferrovia, dos transportes coletivos e do incentivo de soluções menos

poluentes. O Plano Ferroviário Nacional, a expansão das redes de

Metropolitano e a modernização de material circulante constituem

estímulos ao transporte público, embora os investimentos previstos nesta

área tenham sofrido sucessivos atraso.

O programa Ferrovia 2020 permitirá o aumento significativo da rede

ferroviária em extensão e eletrificação (passa de 65 para 80%, uma das mais

elevadas da UE), contribuindo para este desígnio o Programa Nacional de

Investimentos 2030. No horizonte de 2030 também é possível criar uma linha

de alta velocidade entre Lisboa e o Porto.

10 DE OUTUBRO DE 2022 ___________________________________________________________________________________________________________

111

Página 112

A promoção do transporte sustentável, coletivo ou partilhado, na opinião

do CES referida no Parecer sobre o PNR, não se consegue alcançar

apenas por estas vias – que reconhece como essenciais, mas não

suficientes realçando, sempre que possível, a aposta no acesso ao

transporte público em todo o território nacional. O CES reforça a

necessidade de o país apostar na produção nacional de material

circulante.

A mobilidade urbana sustentável, na perspetiva do CES, exige manter o

compromisso com a redução do preço dos passes em todo o território

através do Programa de Apoio à Redução Tarifária nos Transportes

Públicos, promover a mobilidade partilhada, continuar a

capacitação das autoridades de transporte e fomentar a mobilidade de

emissões reduzidas asseguradas, designadamente, através de uma

adequada rede de postos de carregamento.

5.1.3. ECONOMIA CIRCULAR

O desafio climático exige a mudança de um modelo económico de

lógica linear para um modelo de lógica circular, privilegiando a

redução do consumo de materiais e produtos, a sua reutilização e

promover práticas de reciclagem. O CES considera a aposta na produção

nacional e em ciclos de comercialização curtos, um contributo

fundamental para a agenda ambiental e a sustentabilidade dos recursos,

além dos impactos positivos na balança comercial.

Atingir os objetivos da transição para um modelo de economia circular, na

ótica do CES, exige reforçar as políticas públicas associadas à diminuição

da poluição e uso racional de recursos. De igual modo, urge incentivar a

circularidade na economia, mencionando o documento um Acordo

Nacional para Compras Públicas Circulares visando potenciar a formação

de hubs de economia circular nacionais apoiados através do PRR.

O CES considera de pouco alcance a proposta do Governo relativa ao

incentivo à circularidade na economia que, face ao seu carater

estratégico, deveria ser mais densificada, especialmente considerando que

II SÉRIE-A — NÚMERO 98 ___________________________________________________________________________________________________________

112

Página 113

Portugal está hoje excessivamente dependente de outras geografias no

que diz respeito a matérias-primas críticas. Impõem-se soluções de

reciclagem de proximidade e autossuficiência, mas também de

reintrodução bem-sucedida de matérias-primas recicladas nas cadeias

produtivas e, por conseguinte, na economia.

Em linha de concordância com o Parecer sobre o PNR, o CES reforça a

relevância da bioeconomia no domínio dos resíduos. Em Portugal os

resíduos urbanos tiveram como principal destino o aterro (54%), face à

média europeia de 23%.19 Os restantes países da UE privilegiam a

reciclagem (30%), que em Portugal ainda é reduzida, pelo que o CES sugere

acelerar o cumprimento das metas de prevenção, reutilização e

reciclagem, promovendo uma maior oferta nas soluções de recolha de

resíduos.

5.1.4. VALORIZAR O TERRITÓRIO

O cenário atual de seca severa que Portugal atravessa exige investimento

para travar o desperdício registado nas redes de distribuição e medidas de

educação ambiental para promover mudanças comportamentais, bem

como novas soluções tecnológicas que exigem maior investimento em

ciência, de forma transversal por todo o país. É essencial investir na

promoção do uso sustentável da água, em ações de reutilização de água,

em soluções para incremento da oferta de água potável recorrendo à

dessalinização, e em todo o território nacional.

O CES saúda a intenção do Governo de apostar na reforma da floresta,

potenciando o sequestro de carbono e a conservação e proteção da área

florestal, de prosseguir com a política de remuneração dos serviços dos

ecossistemas em territórios vulneráveis ou de elevado valor ambiental, em

consonância com o Parecer da Lei do Clima.20 O CES sublinha as medidas

19 Pordata (2020), Tratamento de resíduos municipais: total e por tratamento. Consulta aqui.

20 Conselho Económico e Social (2021), Parecer sobre os projetos de Lei que visam a criação de uma Lei do Clima. Consulta aqui.

10 DE OUTUBRO DE 2022 ___________________________________________________________________________________________________________

113

Página 114

de silvicultura sustentável do PEPAC e o apoio à adaptação do território às

alterações climáticas e de valorização do capital natural do REACT-EU.

No potencial do Mar, o CES saúda a estratégia do Governo para prosseguir

a interação com a ONU visando concretizar a extensão da plataforma

continental, promover novas concessões de aquicultura em áreas de

expansão e a aposta nas energias renováveis oceânicas apoiando projetos

de inovação oceânica. Por outro lao, este Conselho valoriza o papel do

Mar no combate às alterações climáticas e como plataforma estratégica

de afirmação de Portugal como ponto de conexão com o mundo, como

porta logística fundamental de e para a Europa, face à localização das

infraestruturas portuárias na interação das rotas principais de comércio

internacional marítimo.

O CES concorda com a abordagem das GO à temática da economia azul,

enquanto vetor de competitividade e de desenvolvimento sustentável,

com o devido papel na criação de riqueza, aproveitando a centralidade

atlântica decorrente quer do território continental, quer das regiões dos

Açores e da Madeira. Na mesma linha, o CES considera essencial promover

o combate à poluição marinha e a proteção da biodiversidade no mar.

O CES sublinha o contributo da agricultura para a autossuficiência

alimentar, no combate à desertificação e a fenómenos como os incêndios.

A valorização do território e a sua associação à redução de riscos é outro

aspeto positivo, não devendo ser negligenciada a valorização da

agricultura e, na opinião do Conselho, deveria ser mais clara no

documento.

O CES lamenta que as GO (na sequência do próprio PRR) praticamente

ignorem o papel das «políticas de cidade» no desenvolvimento e na coesão

territorial e regional do país e reafirma que as mesmas são essenciais,

nomeadamente, como polos de fixação e atração de população

residente nas regiões demograficamente deprimidas.

II SÉRIE-A — NÚMERO 98 ___________________________________________________________________________________________________________

114

Página 115

5.2. DEMOGRAFIA

A demografia deve ser considerada como prioridade, face às projeções de

longo prazo conhecidas que apontam para um ritmo de redução de

população que importa contrariar. Trata-se de um desafio dos países

desenvolvidos, embora com declinações e graus de incidência variáveis,

tendo o Governo identificado cinco domínios de intervenção prioritários: a

natalidade; o emprego; a habitação; as migrações; o envelhecimento e

qualidade de vida.

Este desafio está alinhado com a Agenda “As Pessoas Primeiro: um melhor

equilíbrio demográfico, maior inclusão, menos desigualdade” da Estratégia

Portugal 2030 e do PNR, visando garantir a sustentabilidade demográfica e

uma sociedade menos desigual e com elevados níveis de inclusão. Está

alinhado com os objetivos da UE no que se refere aos pilares de Políticas

para a Próxima Geração, Transição Digital, Coesão Social e Territorial e

Saúde e Resiliência Económica, Social e Institucional.

5.2.1. NATALIDADE

As projeções estimam uma redução significativa de população residente

até 2070, mais acentuada na população em idade ativa, que sofrerá uma

perda de mais de 2,5 milhões de pessoas. O Parecer do CES sobre a

natalidade não apela a uma política, mas antes a várias políticas

articuladas entre si, sugerindo recomendações no domínio domercado de

trabalho e do combate à precariedade, da valorização salarial e

eliminação das desigualdades salariais entre homens e mulheres, na revisão

da política das licenças parentais, na promoção da igualdade entre

mulheres e homens na repartição do cuidado e políticas sociais de

combate à pobreza.21

A política pública de natalidade requer a criação de condições para que

as famílias possam ter mais filhos, congratulando-se o CES pela intenção do

21 Conselho Económico e Social (2022), A Natalidade em Portugal: uma questão política, económica e social. Consulta aqui.

10 DE OUTUBRO DE 2022 ___________________________________________________________________________________________________________

115

Página 116

Governo de aumentar as deduções fiscais no IRS em função do número de

filhos, de reforçar o abono de família e as deduções fiscais no IRS, o acesso

a serviços e equipamentos de apoio à família, o alargamento das respostas

sociais de apoio à família e de promover medidas de conciliação entre o

trabalho e a vida pessoal e familiar. Neste domínio, o CES aguarda com

expectativa a promoção, por parte do Governo, de um amplo debate

nacional e na concertação social sobre novas formas de gestão e equilíbrio

dos tempos de trabalho, incluindo a ponderação de aplicabilidade de

experiências como a semana de quatro dias em diferentes setores e o uso

de modelos híbridos de trabalho presencial e teletrabalho, com base na

negociação coletiva.

O CES defende o reforço de medidas financiadas pelo OE e outras fontes

de financiamento nacionais destinadas à gratuitidade das creches, a

majoração da dedução por dependente em sede de IRS e a alteração do

abono de família para garantir mais apoio a um maior número de crianças.

5.2.2. EMPREGO

O CES gostaria de ver um maior detalhe e concretização de medidas que

contribuam para a criação de emprego, para o aumento do peso dos

salários na economia, para a redução da precariedade laboral e das

desigualdades entre homens e mulheres no mercado de trabalho. A

questão da precariedade do emprego, tal como revelado nas GO, tem

vindo a diminuir, com a contratação a termo a perder peso relativamente

aos contratos sem termo que (em junho de 2022) atingiram 83.9%. Apesar

desta recuperação, Portugal ainda tem uma percentagem elevada de

contratos temporários no emprego total, em especial na população jovem

(53,9% na população de 15 a 24 anos de idade) e nas comunidades

migrantes de fora da UE (20,3% das pessoas não nascidas na UE entre as

idades de 15 a 64 com contratos temporários Vs. 16,8% das pessoas

nascidas em Portugal e Vs. 14% das pessoas nascidas num país da UE).22

22 Eurostat (2021). Consulta aqui e aqui.

II SÉRIE-A — NÚMERO 98 ___________________________________________________________________________________________________________

116

Página 117

Assim, o Conselho reforça a necessidade de aumentar a empregabilidade

e a qualidade do emprego, em particular para aqueles grupos, incluindo

as pessoas com deficiência, combatendo a precariedade laboral e

facilitando a transição dos/as jovens para o mercado de trabalho.

O CES sublinha a necessidade de contrariar a perda de rendimentos

disponíveis das famílias resultante da subida da inflação, nomeadamente

ao nível dos salários, das pensões e dos preços dos bens essenciais.

O CES tem vindo a manifestar em diversos documentos preocupação com

a evolução do mercado de trabalho, desde logo os/as jovens, um dos

grupos mais afetados pela crise económica induzida pela pandemia, em

termos de desemprego e de remuneração. Em 2020, o rendimento

mediano dos/das jovens (dos 18 aos 24 anos) foi, em paridade do poder de

compra, de €11.553 anuais, enquanto a média europeia foi de €16.402, com

a maioria dos países da UE acima de Portugal.23 Esta questão, associada à

mencionada precariedade do emprego jovem, agrava as dificuldades de

fixação de jovens no país.

A inserção e fixação de trabalhadores/as no mercado de trabalho, e em

particular dos/as jovens, com condições de trabalho dignas deve ser uma

prioridade transversal em todas as áreas da atividade económica assumida

no quadro de diferentes instrumentos de política, incluindo no imediato o

PRR.

O CES reitera a importância da estabilidade laboral, das oportunidades de

progressão na carreira profissional, da conciliação entre a atividade

profissional e a vida pessoal e familiar, da promoção de uma paternidade

cuidadora e do incentivo à participação igualitária de mães e pais nas

tarefas do cuidado, visando contrariar sistemática e coerentemente os

estereótipos associados aos papéis sociais de género.

23 Eurostat (vários anos, atualizado em 2022), Mean and median income by age and sex - EU-SILC and ECHP surveys (ilc_di03).

Consulta aqui.

10 DE OUTUBRO DE 2022 ___________________________________________________________________________________________________________

117

Página 118

5.2.3. HABITAÇÃO

Em termos de políticas para a habitação o documento considera os

seguintes eixos: renovação na aposta nas políticas de habitação;

erradicação das situações habitacionais indignas e da discriminação no

acesso à habitação; garantia do acesso à habitação a todos; qualidade

do parque habitacional e conceber a habitação como instrumento de

inclusão social e de coesão territorial.

O CES sublinha a vontade do Governo de erradicar situações indignas e de

discriminação no acesso à habitação, o que requer afetar os recursos

financeiros necessários para dar resposta às principais carências

identificadas no Levantamento Nacional de Necessidades de

Realojamento Habitacional e pelas autarquias nas Estratégias Locais de

Habitação. Contudo, o CES chama a atenção para a necessidade de

atualizar este levantamento.

Na ótica do CES, é essencial garantir o acesso à habitação a todos/as,

criando um parque público de habitação a custos acessíveis para dar

resposta às populações, designadamente, aos agregados em situação de

dificuldade. Adicionalmente, deve ser incentivada a oferta privada de

arrendamento e a dinamização do setor cooperativo e colaborativo.

Conceber a habitação como instrumento de inclusão social e de coesão

territorial exige do Governo articular as medidas de criação de emprego e

de melhores salários com programas de promoção da mobilidade para o

interior e potenciar a promoção da coesão e da integração socio-territorial

dos bairros de arrendamento público, visando melhoria global das

condições de vida dos seus moradores/as.

5.2.4. MIGRAÇÕES

A imigração constitui um contributo importante para sustentar o

desenvolvimento económico e demográfico do país, pelo que o CES

defende o desenvolvimento de uma política humanista, inclusiva e

integradora de todos e todas as cidadãs imigrantes, enquanto expressão

II SÉRIE-A — NÚMERO 98 ___________________________________________________________________________________________________________

118

Página 119

de um país tolerante, diverso e aberto ao mundo. Nesta perspetiva, o CES

sublinha a intenção do Governo de promover a regularidade dos trajetos

migratórios, nomeadamente mediante a celebração de acordos bilaterais

com países exteriores à UE, a implementação do Acordo de Mobilidade

entre os Estados da CPLP e o desenvolvimento de programas específicos de

integração de imigrantes e refugiados/as na sociedade.

De realçar que a imigração tem dado um contributo fundamental em

muitas atividades económicas e regiões do país.

O CES sublinha assim a importância de assegurar que os movimentos

migratórios se realizem em condições de efetiva integração social e de

dignidade das condições de vida e de trabalho, áreas em que as políticas

públicas têm de continuar a reforçar o seu controle e as suas respostas.

A gestão ativa dos fluxos migratórios é da maior importância na garantia da

proteção dos direitos de todos e de todas as imigrantes sem qualquer

discriminação, da sua plena integração na sociedade, da sustentabilidade

demográfica e na atração de pessoas com qualificações. O Conselho

regista com apreço o reconhecimento nas GO deste tema, bem como a

inclusão de medidas de simplificação processual e administrativa de

serviços públicos no atendimento de proximidade a imigrantes.

Dadas as carências de mão-de-obra especializada, designadamente no

domínio industrial, é necessário continuar a atuar no sentido de agilizar, do

ponto de vista do quadro normativo, a obtenção de vistos para imigrantes

para ultrapassar as carências identificadas.

Na ótica do CES, é essencial simplificar e agilizar as tipologias e o processo

de obtenção de vistos e autorizações de residência evoluindo para um

balcão único destes processos e removendo obstáculos de acesso e

comunicação aos serviços públicos, bem como garantir condições de

integração das comunidades imigrantes, concretizando políticas setoriais e

o reforço da articulação com os municípios. Por último, o CES saúda a

aposta no incentivar o regresso de emigrantes e lusodescendentes.

10 DE OUTUBRO DE 2022 ___________________________________________________________________________________________________________

119

Página 120

5.2.5. ENVELHECIMENTO E QUALIDADE DE VIDA

A atual tendência demográfica e os avanços civilizacionais que permitem

o aumento da esperança média de vida exigem medidas de política para

a população sénior, nomeadamente de reforço do SNS.

O documento sobre as GO para 2022-2026 desdobra as políticas para o

envelhecimento e qualidade de vida nos seguintes eixos: garantia de um

envelhecimento ativo e digno e estímulo à atividade física e desportiva.

Para tal, o Governo prevê adaptar a Segurança Social aos desafios do

envelhecimento, tomando medidas que garantam a sua sustentabilidade

e a qualidade de vida na terceira idade, através do alargamento da rede

e requalificação dos equipamentos residenciais para a população idosa. O

CES considera muita vaga a formulação das GO relativa à adaptação da

Segurança Social, defendendo antes medidas de sustentabilidade que

garantam a diversificação das fontes de financiamento da mesma.

Nesse sentido o Conselho considera urgente a execução de um conjunto

de programas, nomeadamente a edificação da rede Pública das Estruturas

Residenciais para a população idosa que garanta a cobertura regional das

necessidades de saúde, culturais e sociais através da recomendação ao

Governo para que envide condições à criação de uma Secretaria de

Estado da Pessoa Idosa, pela relevância que os quase 3 milhões de pessoas

reformadas, pensionistas e aposentadas merecem.

5.3. DESIGUALDADES

O desafio estratégico das “Desigualdades” tem como principal objetivo

articular uma resposta imediata de mitigação das desigualdades

provocados pelo choque sanitário e a recente invasão da Ucrânia, de

forma a garantir oportunidades de vida mais equitativas, reduzir a pobreza

e exclusão social, não esquecendo as formas de discriminação que

subsistem.

II SÉRIE-A — NÚMERO 98 ___________________________________________________________________________________________________________

120

Página 121

O conteúdo deste desafio está alinhado com duas das agendas do PNR

2022 e da Estratégia Portugal 2030 – “As pessoas primeiro: um melhor

equilíbrio demográfico, maior inclusão, menos desigualdade” e “Um país

competitivo externamente e coeso internamente”. Em simultâneo, este

desafio estratégico converge ainda com o Plano de Ação do Pilar Europeu

dos Direitos Sociais e com a Agenda Territorial 2030.

5.3.1. IGUALDADE DE GÉNERO E COMBATE ÀS DISCRIMINAÇÕES

O documento reconhece que não obstante os avanços conquistados

subsistem desigualdades e fenómenos de discriminação, que, no âmbito de

uma sociedade igualitária e digna, urge combater. Neste domínio o

Governo considera três eixos de intervenção: promover a igualdade entre

homens e mulheres; potenciar a autonomia e a inclusão das pessoas com

deficiência; combater o racismo e qualquer outra forma de discriminação.

No domínio da igualdade de género, o CES reafirma a concretização da

igualdade entre homens e mulheres no emprego, nos salários e nas

condições de trabalho. O CES alerta para a importância de assegurar a

representação equilibrada nos órgãos de organizações públicas e privadas

e o reforço da efetiva transversalidade das políticas de igualdade de

género, nomeadamente através da implementação de orçamentos

sensíveis ao género em todas as políticas setoriais. O CES congratula-se pelo

Governo implementar medidas de combate à violência doméstica, que

atinge particularmente as mulheres, alertando, no entanto, para a

necessidade de se apostar em medidas preventivas da violência, em

particular através da educação.

Na perspetiva do CES, é essencial continuar a aposta na capacitação e na

inclusão das pessoas com deficiência ou incapacidades, justificando-se

medidas especificas, como definir um plano de não institucionalização que

permita soluções de proximidade, o apoio à contratação e

empregabilidade de pessoas com deficiência e a promoção de

acessibilidades físicas, digitais, de informação e comunicação.

10 DE OUTUBRO DE 2022 ___________________________________________________________________________________________________________

121

Página 122

Neste domínio o CES sublinha como prioridade o combate ao racismo e à

xenofobia, bem como qualquer outra forma de discriminação, tornando-se

necessário promover o acesso dos grupos discriminados ao sistema

educativo, desenvolver iniciativas de apoio no território, designadamente

no acesso das comunidades específicas à habitação.

5.3.2. RENDIMENTOS E JUSTIÇA FISCAL

O documento refere a aposta do Governo em atenuar as desigualdades

salariais, promovendo o seu combate e a valorização salarial. Por outro

lado, refere que pretende construir um sistema fiscal mais justo,

promovendo a progressividade fiscal e reforçando a cooperação europeia

e internacional para combater as desigualdades globais, mas não

apresenta uma visão estratégica para a área fiscal e de rendimentos.

Neste contexto, o CES valoriza a intenção do Governo de continuar as

negociações em sede de Concertação Social para se alcançar um acordo

de médio prazo (2022/2026) e aguarda com expectativa medidas efetivas

de melhoria dos rendimentos, dos salários e da competitividade. Neste

domínio sublinha o CES a necessidade do aumento do rendimento por via

da valorização salarial, nomeadamente dos/as mais jovens, o alargamento

do IRS Jovem, o tratamento fiscal favorável para as start-ups, entre outras

medidas que permitam a fixação de jovens no país.

Atendendo à crescente globalização dos mecanismos fiscais, o CES

considera inevitável uma maior cooperação internacional, bem como

implementar iniciativas de âmbito europeu. No plano da cooperação

internacional deve ser reforçada a troca de informação financeira e fiscal

e mecanismos efetivos de combate aos “paraísos fiscais”.

Em síntese, o CES recomenda ao Governo maior ambição neste domínio,

apresentando uma estratégia nacional com medidas que garantam a

satisfação das necessidades financeiras do Estado e de outras entidades

públicas e uma repartição justa dos rendimentos, visando diminuir as

assimetrias socioeconómicos em relação aos parceiros europeus.

II SÉRIE-A — NÚMERO 98 ___________________________________________________________________________________________________________

122

Página 123

5.3.3. ERRADICAÇÃO DA POBREZA

No domínio do apoio às populações mais desfavorecidas o CES alerta para

a necessidade de prosseguir a trajetória de valorização real dos

rendimentos dos/as trabalhadores/as, dos/as pensionistas, das pessoas com

deficiência, não esquecendo o combate à pobreza infantil e o apoio às

famílias com filhos/as, e em particular as famílias monoparentais.

O CES destaca a necessidade de tomar medidas visando reforçar a

proteção social, através da melhoria das prestações, incluindo as pensões,

no âmbito dos sistemas contributivo e não contributivo, essenciais para

aumentar a confiança no sistema e reforçar a coesão e a igualdade social.

O CES relembra os défices existentes de proteção e de segurança social,

que abrangem alguns grupos sociais, nomeadamente desempregados/as.

A população em risco de pobreza ou exclusão social aumentou em 2021

para 22,4%, face a 20% em 2020 (rendimentos do ano anterior), sendo a

oitava maior taxa da EU e afetando mais as mulheres (23,5%).24 Uma em

cada cinco crianças e jovens é pobre e uma em cada dez crianças está

em situação de privação material e social. A taxa de sobrecarga das

despesas com habitação aumentou de 4,1% em 2020 para 5,9% em 2021,

bem como a taxa de sobrelotação, que aumentou de 9% em 2020 para

10,6% em 2021.25

No Parecer sobre o PNR 2022, o CES salientou que deve enquadrar-se o

combate a outras tipologias de pobreza, caso do domínio energético, cuja

estratégia deve ser acompanhada de medidas justas e equitativas. Neste

ponto, o CES recorda que Portugal é o quarto país da UE com menos

condições económicas para garantir o aquecimento adequado das

24 Eurostat (2021). Consulta aqui.

25 Eurostat (2021). Consulta aqui e aqui.

10 DE OUTUBRO DE 2022 ___________________________________________________________________________________________________________

123

Página 124

habitações, sendo que 17,5% dos/das portuguesas estavam em 2020 em

situação de pobreza energética.26

O problema do baixo consumo energético atinge também espaços não

residenciais (do comércio e restauração aos serviços públicos) em que os

níveis de aquecimento são, em muitos casos, muito baixos. O CES alerta, por

isso, para que as políticas de poupança de energia tenham em conta esta

realidade e que reduções percentuais de consumo têm um efeito muito

diferente em países com défices de aquecimento em relação àqueles em

que os níveis de consumo e de aquecimento são mais elevados.

No campo da inovação social, o CES sublinha a necessidade de aumentar

a eficácia da sua atuação e, em simultâneo, garantir a sua sustentabilidade

económica e financeira. Para tal, defende reforçar a rede de incubadoras

sociais que promovam novos projetos da economia social, desenvolver um

programa de formação e capacitação para dirigentes e trabalhadores/as

de entidades desta área e estimular dinâmicas de medição dos impactos

sociais das iniciativas da economia social.

5.3.4. EDUCAÇÃO

Nos últimos anos foram dados importantes passos para consolidar a

democratização do acesso ao ensino público, continuando as

desigualdades socioeconómicas a ser o principal fator do insucesso escolar.

O CES alerta para a necessidade de o país apostar em cenários de

recuperação de aprendizagens face aos efeitos da pandemia.

A melhoria das qualificações é decisiva para o desenvolvimento

económico e social, devendo ser assumida como uma prioridade

transversal. Importa prosseguir os esforços de recuperação das baixas

qualificações que constituem um constrangimento ao potencial

económico. O aumento do número de diplomados/as registado nos últimos

anos permitiu recuperar o atraso de décadas, considerando o CES que esta

26 Eurostat (2020), Inability to keep home adequately warm, EU-SILC. Consulta aqui.

II SÉRIE-A — NÚMERO 98 ___________________________________________________________________________________________________________

124

Página 125

trajetória deverá ser uma prioridade para o Governo, apostando que

formatos de aprendizagem ao longo da vida sejam uma realidade

transversal. O aumento de jovens no Ensino Superior deve-se, em parte, à

ampliação da rede de Cursos Técnicos Superiores Profissionais.27

O reforço da formação contínua dos/as trabalhadores/as é um elemento

central, sendo importante dar resposta a um conjunto de constrangimentos

existentes, nomeadamente por via da efetivação do direito à formação

profissional da população, em geral, e dos/as trabalhadores/as em

particular, de um adequado levantamento de necessidades de formação,

agilizando os ajustamentos necessários, da melhoria generalizada das

competências bem como ainda do reforço da capacidade formativa dos

Centros de Formação IEFP, dos Centros Protocolares e dos Centros de

Gestão Direta, potenciando uma maior aproximação da formação às

necessidades, atuais e futuras, das empresas, das organizações e dos/as

trabalhadores/as. Não obstante, é também importante apostar na

formação dos empresários/as e gestores/as das empresas. Portugal tinha

em 2021 47,5% de empregadores que não terminou o ensino secundário, o

triplo da média europeia de 16,4%.28

O documento das GO para 2022-2026 sublinha o combate às

desigualdades através da Educação, o que passa pela melhoria das

aprendizagens, o combate ao abandono e o aprofundamento do

Programa Qualifica. OCES defende a continuidade das políticas de Ação

Social Escolar e a consolidação dos apoios tutoriais que deve ser

generalizado aos alunos/as com dificuldades atestadas nos instrumentos de

aferição e com especial atenção aos impactos da pandemia.

O CES defende ainda a promoção de projetos educativos visando a

igualdade de género, da educação para a cidadania e de diversos

27 Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (2022), Orçamento de Estado para 2022 – Nota Explicativa do Ministério da

Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Consulta aqui.

28 Fundação José Neves (04-07-2022). Consulta aqui.

10 DE OUTUBRO DE 2022 ___________________________________________________________________________________________________________

125

Página 126

formatos de literacia, nomeadamente digital, ambiental, e financeira, para

preparar os/as jovens para os novos desafios societais. Reforça a aposta na

modernização do Ensino Profissional para dar resposta aos desafios do

desenvolvimento do país.

5.3.5. COESÃO TERRITORIAL

A utilização de fundos da UE permitiu a Portugal a modernização da

economia, a melhoria da qualificação e da coesão social, contudo,

permanecem assimetrias territoriais que constituem um dos obstáculos ao

desenvolvimento equilibrado do país. Como tal, o CES subscreve que a

promoção da coesão territorial deve ser uma prioridade para responder a

desafios, como a valorização dos recursos regionais, a sustentabilidade

demográfica ou o desenvolvimento económico equilibrado.

As infraestruturas viárias e digitais constituem um eixo fundamental para o

desenvolvimento e coesão territorial, sendo os apoios do PRR e do PT 2030

vitais para garantir a conetividade em todo território nacional. Em linha

com as orientações para a digitalização até 2030 da CE, o CES valoriza a

criação de infraestruturas digitais eficientes, mitigando o fosso digital e

valorizando os territórios do interior.

Em concordância com o Parecer do PNR, o CES reitera a necessidade de

conjugar os territórios de baixa densidade e os centros urbanos, apostando

numa rede de cidades de média dimensão, como alavanca de difusão de

oportunidades para promover a coesão, a par de dinâmicas

transfronteiriças e do potencial geoestratégico das regiões autónomas.

No domínio da competitividade das redes urbanas, o CES incentiva a

promoção de redes de cidades de conhecimento, da digitalização e

inovação. Inibir as regiões deprimidas do acesso ao conhecimento pode

fomentar a exclusão, sendo vital promover a conectividade digital, a

atratividade das cidades e reforçar o binómio urbano e rural.

Em relação à desconcentração, transferência de competências para as

autarquias locais e para as entidades intermunicipais, o processo iniciado

II SÉRIE-A — NÚMERO 98 ___________________________________________________________________________________________________________

126

Página 127

após a publicação da Lei-quadro (Lei n.º 50/2018), no entender do CES,

deveria ser objeto de melhor atenção, conforme o Parecer sobre o PNR, de

forma a dar cumprimento aos objetivos de maior eficácia e eficiência do

Estado. No Parecer do CES sobre esta matéria sublinha-se a necessidade de

as transferências serem acompanhadas de meios adequados e a garantia

da universalidade e qualidade dos serviços públicos, envolvendo a

participação dos e das trabalhadoras e das suas estruturas

representativas.29

Marcado pelo desígnio estratégico de tornar o território português mais

coeso, inclusivo e competitivo, o documento das GO para 2022-2026

propõe medidas para corrigir as assimetrias regionais, qualificar o potencial

endógeno e diversificar a base económica, promover a atração de

investimentos e a fixação de pessoas nos territórios do interior, bem como

afirmar os territórios transfronteiriços e assegurar serviços de proximidade.

5.4. SOCIEDADE DIGITAL, CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO

Portugal tem como desafio a mudança do modelo de economia no sentido

da sua complexificação, apostando em bens e serviços de maior

intensidade em tecnologia e conhecimento, no alargamento da base

industrial em que assenta a estrutura empresarial e numa maior integração

nos mercados digitais. Esta transformação exige um forte investimento no

aprofundamento das competências e qualificações da população ativa,

incluindo empresários/as e gestores/as, e no crescimento da produtividade

baseada na inovação e na qualificação das pessoas.

Em termos do alinhamento, este desafio estratégico enquadra-se na

agenda “Digitalização, inovação e qualificações como motores de

desenvolvimento” do PNR e com os objetivos da UE, no que se refere aos

29 Conselho Económico e Social (2017), Parecer sobre a “Proposta de Lei Nº 62/XIII, que estabelece o quadro de transferência de

competências para as autarquias locais e para as entidades intermunicipais”. Consulta aqui.

10 DE OUTUBRO DE 2022 ___________________________________________________________________________________________________________

127

Página 128

pilares “Crescimento inteligente, sustentável e inclusivo” e “Transição

Digital” e ao pilar “Saúde e Resiliência económica, social e institucional”.

5.4.1. ECONOMIA 4.0

A concretização do domínio “Economia 4.0” passa por políticas públicas de

natureza fiscal, financiamento e internacionalização, a par da inovação

empresarial, empreendedorismo e aposta em tecnologias disruptivas, bem

como da transformação digital do tecido empresarial.

O CES sugere maior ambição no investimento global em I&D para se atingir

em 2030 a meta dos 3% (sendo 2% da responsabilidade das empresas),

enquanto na atualidade se fixa em 1,6% do PIB, uma aposta essencial para

se cumprir a meta de nesta década se alcançar um volume de

exportações equivalente a 50% do PIB. Neste domínio, o CES defende a

promoção de uma fiscalidade, em particular direcionada às micro e às

PMEs, que incentive o investimento na modernização produtiva, o

investimento privado em I&D empresarial, a inserção de pessoal altamente

qualificado nas empresas, nomeadamente de doutorados/as e o reforço

da atratividade internacional de Portugal, designadamente através do

robustecimento do SIFIDE.

O sistema de incentivos fiscais é uma das políticas públicas centrais nos

incentivos à I&D empresarial, ao qual as empresas recorrem cada vez em

maior número, contribuindo para o aumento da capacidade de inovação,

as exportações e qualificação das empresas.30 No entanto, dadas as

distorções que este tipo de benefícios fiscais podem produzir no

funcionamento dos mercados, é essencial uma avaliação rigorosa dos seus

efeitos na estrutura produtiva e no desenvolvimento do país.

A análise do desempenho da inovação nos Estados-Membros mostra que

Portugal, que há dois anos ocupava a categoria de “inovadores fortes”, nos

30 Estudo do Gabinete de Estratégia e Estudos do Ministério da Economia e Transição Digital: https://www.gee.gov.pt/pt/estudos-

e-seminarios/gee-papers-category/30979-the-impact-of-r-d-tax-incentives-in-portugal

II SÉRIE-A — NÚMERO 98 ___________________________________________________________________________________________________________

128

Página 129

últimos dois anos passou a ocupar a posição de “inovadores moderados”,

continuando abaixo da média da UE.31 Deve, contudo, atender-se que na

avaliação de 2021, este ranking se baseou num quadro revisto de

indicadores, que passou a considerar métricas de digitalização e de

sustentabilidade ambiental, em concordância com as prioridades políticas

da UE. Neste sentido, o CES recomenda que a política de inovação

promova ainda mais as vertentes da transição digital e ambiental.

O CES congratula-se com a trajetória de crescimento de registo de

patentes nacional, cinco vezes superior à média da UE, de acordo com o

Instituto Europeu de Patentes. Em contraste, o Conselho alerta para a baixa

proporção de investimentos em tecnologia digital das PMEs e, no caso das

startups, apresentam níveis de sobrevivência mais baixos em Portugal (56%)

em relação a países europeus (69%, UE27, dados de 2017), segundo dados

do PNR 2022.

No domínio da digitalização do Estado, o CES chama a atenção para a

importância do investimento na transição digital da Segurança Social, a

modernização da autoridade tributária e incentiva à interoperabilidade e

partilha de dados entre diferentes organismos de Estado.

5.4.2. CONHECIMENTO, COMPETÊNCIAS E QUALIFICAÇÕES

A promoção das competências exige políticas públicas dirigidas para

reforçar o compromisso com a ciência e a inovação, alargar a base social

de recrutamento de estudantes no ensino superior, promover as

competências digitais e ambientais e todos os níveis de ensino e, por último,

modernizar a formação profissional contínua.

Neste campo do reforço do compromisso com a ciência e a inovação, o

CES sugere continuar a garantir o crescimento da despesa pública e

privada em I&D, acelerando a inovação colaborativa entre as entidades

do sistema científico e tecnológico e as empresas, continuar a promover a

31 Comissão Europeia (2022), Regional Innovation Scoreboard. Consulta aqui. Comissão Europeia (2021), Regional Innovation

Scoreboard, Consulta aqui; Comissão Europeia (2019), Regional Innovation Scoreboard. Consulta aqui.

10 DE OUTUBRO DE 2022 ___________________________________________________________________________________________________________

129

Página 130

simplificação de procedimentos dos organismos públicos na relação com

as instituições científicas e académicas, estimular o reconhecimento social

da ciência e a promoção da cultura científica, diversificar a intensidade do

financiamento para atividades de C&T, reforçando o potencial de

reconhecimento internacional das atividades em todo o país das Unidades

de I&D.

Para assegurar a promoção das competências digitais em todos os níveis

de ensino, o CES reitera o papel desempenhado pela Iniciativa Nacional

Competências Digitais e.2030 (INCoDe.2030), bem como os programas

Impulso Jovens STEAM e Impulso Adultos aprovados no âmbito do PRR,

através do estímulo para a formação em competências digitais num

esforço coletivo das instituições do ensino superior em estreita colaboração

com o setor privado e através do estímulo a atividades de I&D em áreas

emergentes do conhecimento.

5.4.3. CULTURA

No âmbito do desenvolvimento de uma sociedade do conhecimento, é

assumido o compromisso de promover as valências do conhecimento,

criatividade e inovação do setor cultural em Portugal, devendo a cultura

ser inclusiva, abrangente e envolvente. O direito à criação e fruição cultural

exige a criação de Serviço Público de Cultura, que alargue o acesso a todo

o território e seja parte de uma política integrada de desenvolvimento.

Em termos de apoio à criação artística, salienta o CES que os/as

criadores/as, artistas e demais agentes culturais se encontram entre os que

mais foram afetados pelas consequências da pandemia da COVID-19,

sendo essencial o esforço de combate à precariedade laboral e de reforço

da proteção social das e dos profissionais do setor da cultura.

5.4.4. VALORIZAÇÃO DAS ATIVIDADES E PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR

Os setores do comércio, dos serviços e da restauração, a par do turismo,

assumem um papel central na dinamização da economia e na coesão

social e territorial. Os impactos decorrentes do contexto pandémico

II SÉRIE-A — NÚMERO 98 ___________________________________________________________________________________________________________

130

Página 131

afetaram de forma particular estes setores, razão pela qual o CES sugere a

dinamização de apoios específicos para mitigação desses efeitos.

O comércio é o setor que congrega um maior número de empresas,

assegura um nível de emprego significativo e contribui de forma decisiva

para o valor acrescentado bruto. O CES reforça o papel dos

estabelecimentos de comércio a retalho e de prestação de serviços que,

por sua vez, influenciam a qualidade de vida das localidades onde estão

inseridos e dão um contributo muito relevante para a coesão territorial.

De forma a promover a inovação dos modelos de negócio o CES valoriza

as medidas destinadas a apoiar a adaptação e modernização destes

setores, que passam por apoiar a transição verde, a criação de referenciais

de eficiência e adequar e simplificar o enquadramento legislativo.

Face às implicações na atividade económica e, em particular no setor do

turismo, o CES tem vindo a expressar a sua preocupação com os

constrangimentos provocados pelo congestionamento do aeroporto de

Lisboa, uma infraestrutura estratégica para a competitividade do país. São

conhecidos os efeitos ao nível da atratividade e o impacto negativo em

diversas áreas da atividade económica, nomeadamente no turismo.

Por sua vez, em termos de proteção do consumidor o documento prevê

instituir o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, criar o Portal do

Consumidor numa lógica de balcão único, definir o Estatuto do Consumidor

Vulnerável, o qual contemplará um conjunto de critérios e respetivos direitos

correspondentes a esta condição; e por último, reforçar a regulação do

mercado através de ações de prevenção e fiscalização visando o

combate à economia paralela, à fraude e à fiscalização do comércio

eletrónico.

6. SÍNTESE CONCLUSIVA

Atendendo ao curto prazo dado pelo Governo para a preparação deste

documento, considera-se que as condições em que este Parecer é

10 DE OUTUBRO DE 2022 ___________________________________________________________________________________________________________

131

Página 132

elaborado impedem este Conselho de produzir uma discussão que reflita a

riqueza e diversidade de conhecimento da realidade portuguesa que a

composição do CES assegura.

A proposta de Lei GO 2022-2026 apresenta as GO de política económica,

social e territorial para o período em análise. A sua implementação exige

medidas de política financiadas por diferentes fontes e, em especial, pelos

instrumentos de financiamento europeus, pelo que o CES alerta para a

excessiva dependência do investimento público.

O Conselho considera necessário que o Governo forneça no contexto das

GO informação adicional relativamente à programação orçamental

plurianual, como previsto no art.º 34º da LEO, bem como informação

relativamente ao cenário macroeconómico de base.

No que diz respeito ao “Plano de Resposta ao Aumento dos Preços, Famílias

Primeiro”, o CES questiona se as medidas apresentadas terão o impacto

necessário na atual crise que vivemos.

O CES saúda as medidas apresentadas no âmbito do SNS e do objetivo de

o tornar mais justo e inclusivo, mas alerta para a necessidade de

investimento nos serviços públicos e da valorização dos/as profissionais de

saúde.

O CES reforça a recomendação de uma abordagem integrada da

Segurança Social na Lei das GO, o que considera particularmente

importante num quadro em que a crise veio acentuar as desigualdades já

existentes e expor a necessidade de uma reflexão alargada no sentido de

assegurar uma adequada proteção social para todas as pessoas.

O CES considera positivas as medidas elencadas no contexto da transição

climática e realça a importância dada às medidas de mitigação das

alterações climáticas e o desejo expresso nas GO de fazer uma transição

de um modelo de economia linear para um modelo de economia circular,

privilegiando a utilização mais eficiente dos recursos e uma aposta na

economia azul. Para o cumprimento destes objetivos será indispensável

II SÉRIE-A — NÚMERO 98 ___________________________________________________________________________________________________________

132

Página 133

uma eficaz utilização dos recursos endógenos associada a uma inserção

efetiva nos mercados europeus da energia.

Face às projeções de longo prazo sobre a demografia em Portugal, o CES

recomenda a apresentação pelo Governo de um plano estratégico para

a promoção da natalidade e de atração de talento, não apelando a uma

política, mas antes a diversas políticas articuladas entre si.

O CES, na linha de Pareceres anteriores, reclama as recomendações que

têm vindo a ser propostas no domíniodo mercado de trabalho e do

combate à precariedade, da valorização salarial e eliminação das

desigualdades salariais, na revisão da política das licenças parentais e

políticas sociais de combate à pobreza. Estas políticas devem ser

conjugadas com projetos educativos que visem a alteração de

estereótipos e papéis sociais segregados por sexo e com políticas efetivas

de concretização da igualdade entre mulheres e homens.

Atendendo à debilidade das condições de habitação de muitas famílias, é

essencial garantir o acesso à habitação, criando um parque público de

habitação a custos acessíveis para dar resposta aos agregados em

situação de dificuldade de acesso à habitação.

A aposta estratégica na inovação e digitalização requer continuar a

trajetória de melhoria das qualificações da população portuguesa, um

fator decisivo para a mudança do modelo económico.

10 DE OUTUBRO DE 2022 ___________________________________________________________________________________________________________

133

Página 134

7. DECLARAÇÕES DE VOTO

Declaração de voto da CGTP-IN ao Parecer do CES sobre Grandes Opções 2022-2026

A CGTP-IN começa por alertar para o pouco tempo de discussão para o desenvolvimento dos

trabalhos, que o Parecer também denúncia, e que acaba por condicionar a própria elaboração da

presente declaração de voto.

Valorizando o trabalho e tentativa de encontrar consensos que o Relator do Parecer sempre procurou, valorizando também um vasto conjunto de matérias em que a CGTP-IN se revê e estão plasmados no Parecer, bem como a existência de formulações que se distanciam da nossa perspectiva, foi o facto de ter sido impossível enquadrar a contratação colectiva na dimensão do diálogo social, que pesou no sentido de voto da CGTP-IN.

Na verdade, a contratação colectiva é o instrumento por excelência do diálogo social, um pilar da democracia e o mecanismo para a elevação dos salários e das condições de trabalho e de vida no nosso país.

O bloqueamento a que tem sido sujeita, a chantagem patronal que usa a caducidade e a negação da reintrodução do princípio mais favorável para tentar impor a degradação das condições de trabalho, deveria, no entender da CGTP-IN, merecer um tratamento no Parecer, que resume o diálogo social à concertação social.

Por este motivo, a CGTP-IN absteve-se na votação final ao parecer do CES.

Lisboa, 4 de outubro de 2022

Os Representantes da CGTP-IN

II SÉRIE-A — NÚMERO 98 ___________________________________________________________________________________________________________

134

A DIVISÃO DE REDAÇÃO.

Descarregar páginas

Página Inicial Inválida
Página Final Inválida

×