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13 DE MARÇO DE 1999

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A que âmbito chega o problema?

É, só, legislativo?

Ou é, já, e sobretudo, político?

A abertura deste precedente até aonde pode ir?

O élan da relativização da lei até onde pode avançar?

O Parlamento é, só, este jogo lúdico do bastidor e da negociação, do marketing eleitoral e do aparelho partidário, da pressão de rua e da chantagem política, da televi-são e do voto?

Que lugar tem, nisto tudo, neste boom, o concelho de Canas de Senhorim?

Que vale, nisto tudo, o habitante desta terra — esse ca-nense pobre, mas honrado, esse beirão mal sustentado entre duas ou três serras, esse munícipe cronicamente marginalizado por uma autarquia que nunca foi sua, nem ela nunca o quis ser? Que vale, nisto tudo, essa terra que vive sob o olhar apagado do progresso e o dormitar estafado da sua gente que apenas sabe o que é trabalho?

E, no entanto, por muitas disposições legais que se inventem e muita interpretação legislativa que se projecte, por muitas comissões que se nomeiem e muitos discursos se levantem, nada disso tapa essa lacuna, essa dieta, essa fome, essa sede, esse luto, esse remorso, essa consciência, que é o não sermos concelho.

O não haver uma coisa tão frágil, mas tão poderosa.

Tão inconsistente, mas tão formidável.

Tão mesurável, mas tão substancial.

Tão pequeno, mas tão histórico.

Tão inofensivo, mas tão desmistificante.

Uma coisa que ninguém pode decretar que não haja na nossa vontade. Uma coisa que só haverá se houver muitas mais coisas e se não houver muitas outras coisas.

Uma coisa que exige tudo.

Ou nada.

Está a seguir-nos, Sr. Presidente? Este nosso concelho, que ainda não chegou a haver, que prova?

Que não vale a pena o nosso concelho c os Canenses? Ou que não vale a pena o Parlamento e os seus parlamentares?

Ou que, se o preço da elevação de Vizela, Trofa e

Odivelas a município é não haver mais municípios, não

vale a pena certas regiões do País?

Ou, ainda, de que há portugueses de primeira e portugueses de segunda, e de que uns valem mais que outros?

A Assembleia da República é uma «superurna» que contratou a sociologia eleitoral? Ou é a sociologia eleitoral que contratou a Assembleia da República? Uma assembleia parlamentar, que tem leis para uns e tem leis para outros, é uma assembleia democrática ou é uma assembleia para lamentar?

Por muitos Deputados e votos que tenha.

Neste contexto, e ao abrigo do regime do exercício do direito de petição inscrito nas Leis n.05 43/90, de 10 de Agosto, e 6/93, de 1 de Março, os subscritores abaixo assinados reclamam a apreciação, discussão e votação dos projectos de lei que visam a restauração do concelho de Canas de Senhorim, ao mesmo tempo que exigem a mesma excepcionalidade das condições legislativas produzidas na aprovação dos projectos de lei de elevação a concelho de Vizela e Trofa.

Canas de Senhorim, 15 de Janeiro de 1999. — Pelo Movimento de Restauração do Concelho de Canas de Senhorim, Luís Manuel Abrantes Pinheiro.

Nota. Desta petição foram subscritores 4448 cidadãos. A Divisão de Redacção e Apoio Audiovisual.