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II SÉRIE-B — NÚMERO 25

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deste conjunto de obras. Esta notícia mostra bem o nível de como se decidem as coisas, no momento, no

país: Será possível que não percebam a enormidade deste ato de venda? E que não compreendam que se

trata de uma 2.ª espoliação do património nacional? É que estes quadros pertencem-nos, a todos, na medida

em que fomos todos chamados a pagar a fatura dos desmandos no Banco Português de Negócios (BPN). O

mínimo exigível é que o estado não venda este património (e muito menos o faça nesta fase de crise

internacional e desta forma, por conjunto). Mais: estas obras, ficando em Portugal, vão gerar receitas muito

maiores do que o que se possa arrecadar com a sua venda, no imediato, na medida em que são deveras

importantes e que o seu conjunto, disponibilizado ao público num espaço museológico, atrairiam turismo

internacional de arte e cultura por décadas, gerando benefícios para a economia local e receitas de impostos,

para além de possibilitarem o desenvolvimento de parcerias com entidades museológicas internacionais,

publicações e estudos que muito contribuiriam para o desenvolvimento intelectual do nosso país. Mais ainda,

se o estado um dia decidisse vendê-las, elas valeriam mais do que agora, porque se tratam de obras

significativas de um autor consagrado internacionalmente e que, pela sua importância artística, histórica e

museológica, se valorizarão com o passar do tempo. Só quem não esteja bem informado, não conseguirá ver

o claro benefício em ter e manter estas obras no nosso país. E muito menos conseguirá ver a sorte que o

Estado teve, no meio do caos financeiro gerado com o BPN, de ter ficado com estas obras. Mas, infelizmente,

isto não surpreende. Entristece, contudo. Sobretudo porque foi tudo feito sem que a opinião pública fosse

chamada a pronunciar-se: não obstante estas obras terem estado, durante mais de 5 anos, sob a alçada do

Estado Português, que as terá guardado na Caixa Geral de Depósitos, estas nunca foram objecto de nenhuma

exposição pública, nem consta que exista registo fotográfico das mesmas disponível ao público, assim como

se desconhece se foi pedido parecer, e a quem, sobre a relevância destas obras e sua manutenção na esfera

do Estado. Mais ainda, porque a notícia é dada em cima da época natalícia, altura de maior dispersão da

opinião pública. E, especialmente, porque tudo isto é feito sem ser claro nem o seu propósito, uma vez que o

valor que será apurado com a venda é manifestamente reduzido quando comparado com os custos que

envolveram o resgate do BPN, nem a forma como será concretizada a venda, uma vez que as notícias falam

de 3 leilões seguidos, a partir de 4 de fevereiro, e de pré-vendas, já a partir de 20 de Janeiro deste ano. Para

além de que a própria estimativa atual da leiloeira contraria, por enorme defeito, as estimativas que essa

mesma empresa tinha feito em 2008, que constam do processo BPN, e que davam como certo um valor entre

os 80 milhões de euros e os 150 milhões de euros. Este será, provavelmente, o mesmo tipo de decisões

tomadas contra os interesses do povo português que, se for chamado a pronunciar-se e tiver tempo para o

fazer, saberá demonstrar a sua vontade de preservação deste importantíssimo património na esfera do

Estado, tal como o fez quando, na década de 1990, os governantes de então pretenderam submergir gravuras

rupestres em Foz-Côa, a troco de uma barragem cuja expectativa de vida não ultrapassaria os 50 anos. Nessa

altura, houve tempo para que a população se mobilizasse e demonstrasse a sua vontade. Hoje, infelizmente, o

tempo é muito escasso, pois que entre a notícia referida e a data em que estas obras começam a ser

vendidas, pouco mais há que um mês, razão pela qual apelamos a Vossas Excelências que tratem de

suspender este processo de venda, o quanto antes, e promovam, se necessário for, uma consulta pública

junto da população para que a decisão de venda destas obras seja anulada em definitivo, pois que não é justo

alienar um património (que é de todos e que, em nosso entender, deve manter-se no nosso país, para que às

gerações futuras não chegue somente a fatura do caos que sobrará do escândalo BPN), sem que, no mínimo,

as pessoas, que se virão obrigadas a pagar o prejuízo causado pelo BPN, se possam pronunciar sobre o

destino a dar a essa importantíssima coleção de arte. Consideramos, pois, ESTA MATÉRIA COMO

POTENCIALMENTE LESIVA DOS INTERESSES NACIONAIS, presentes e futuros, pelo que APELAMOS A

VOSSAS EXCELÊNCIAS QUE TRATEM DE CORRIGIR ESTE ERRO MONUMENTAL, TOMANDO TODAS

AS MEDIDAS NECESSÁRIAS E AO VOSSO ALCANCE PARA, NO IMEDIATO, SUSPENDER ESTA VENDA

E, COM BREVIDADE, PROCEDER, SE NECESSÁRIO FOR, A CONSULTA PÚBLICA QUE PERMITA

DEMONSTRAR A VONTADE DA POPULAÇÃO EM ANULAR ESSA DECISÃO DE VENDA EM DEFINITIVO,

para que se mantenha em Portugal o valioso conjunto de 85 obras de Joan Miró, um dos mais importantes

artistas mundiais do Século XX. Mais consideramos necessário que se investiguem as circunstâncias que