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22 DE JANEIRO DE 2016

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desde o velho Sindicato Nacional dos Arquitectos à Associação dos Arquitetos Portugueses e mais tarde à

Ordem dos Arquitectos, tendo encabeçado, em 2002, a petição n.º 22/IX (1.ª), sob o lema ‘Direito à Arquitectura’,

que veio a originar, em 2005, a primeira iniciativa legislativa de cidadãos sobre a mesma matéria.

Nuno Teotónio Pereira foi também um católico progressista. Não é possível fazer a história do catolicismo

progressista em Portugal sem pôr Nuno Teotónio Pereira no centro dessa outra rotura. Com uma coragem

admirável e com uma capacidade invulgar de organizar coletivos, Nuno Teotónio Pereira interpretou

empenhadamente as transformações operadas no contexto do concílio Vaticano II e contribuiu para o

distanciamento crítico de católicos para com o regime de Salazar e para a presença pública de católicos na

oposição à ditadura e à guerra colonial. O seu papel crucial nas vigílias pela paz na Igreja de S. Domingos, em

1969, e na Capela do Rato, em 1972, e na criação e dinamização dos cadernos GEDOC foram marcos

particularmente relevantes nesta dimensão da sua vida.

Nascido numa família de grande pluralidade política, Nuno Teotónio Pereira foi um opositor tenaz e coerente

do regime fascista. A criação, em 1963, do Direito à Informação, boletim clandestino que difundia notícias sobre

a guerra colonial, a sua participação na Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos, ou o seu

envolvimento militante no Boletim Anti-Colonial e, em geral, toda a sua atividade de luta contra a repressão e a

ditadura valeram-lhe a prisão pela PIDE em 1967, 1972 e 1973, de onde foi libertado nas horas que se seguiram

à revolução de 25 de Abril de 1974.

Anos antes, em 1970, iniciara com Jorge Sampaio, Vítor Wengorovius, Agostinho Roseta e José Dias um

movimento que viria a dar origem, já em plena vigência da democracia, ao Movimento de Esquerda Socialista,

por onde também passaram Ferro Rodrigues e João Cravinho.

Foi premiado pela AICA em 1985, pela Academia Nacional de Belas Artes em 2007, foi doutorado honoris

causa pelas Universidades do Porto e Técnica de Lisboa, tendo ainda recebido, em 2010, a Medalha de Ouro

da Cidade de Lisboa e o Prémio Carreira da Bienal Ibero-Americana de Arquitectura e, em 2015, o Prémio da

Universidade de Lisboa.

Recebeu, em 1995, a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade e, em 2004, a Grã-Cruz da Ordem do Infante.

Distinguido várias vezes com o Prémio Valmor Municipal de Lisboa, o seu edifício na Braamcamp, em Lisboa,

teve o raro destino de receber uma alcunha popular como ‘Edifício Franjinhas’ (1971).

Autor de numerosos estudos, artigos e comunicações sobre arquitetura, habitação, património, território e

cidadania, a sua obra foi pioneira, a sua escrita destemida e a sua vida uma história de talento, generosidade e

profunda fraternidade. Pouco tempo antes de morrer, numa das últimas entrevistas que deu, dizia: ‘a arquitetura

faz-se de dentro para fora, como o ser humano’.

A Assembleia da República curva-se perante a memória de Nuno Teotónio Pereira, acompanha a família no

momento de pesar que atravessa e exorta os cidadãos a inspirarem-se no seu exemplo de probidade,

fraternidade, liberdade e cidadania que marcou sucessivas gerações ao longo da sua vida.

Assembleia da República, 20 de janeiro de 2016.

Os Deputados: Eduardo Ferro Rodrigues (Presidente da AR) — Palmira Maciel (PS) — José Manuel

Carpinteira (PS) — Júlia Rodrigues (PS) — Bacelar de Vasconcelos (PS) — Helena Roseta (PS) — Paulo Trigo

Pereira (PS) — Inês de Medeiros (PS) — Heloísa Apolónia (PEV) — Sandra Pontedeira (PS) — Carla Tavares

(PS) — Carlos Abreu Amorim (PSD) — Ivan Gonçalves (PS) — Jorge Costa (BE) — Idália Salvador Serrão (PS)

— Hortense Martins (PS) — Nilza de Sena (PSD) — André Silva (PAN) — Luís Moreira Testa (PS) — António

Eusébio (PS) — Ana Mesquita (PCP) — Hugo Costa (PS) — Edite Estrela (PS) — José Manuel Pureza (BE) —

Elza Pais (PS) — Maria Augusta Santos (PS) — Nuno Magalhães (CDS-PP) — Fernando Anastácio (PS) —

Anastácio (PS) — Lara Martinho (PS) — Ricardo Bexiga (PS) — Diogo Leão (PS) — Marisabel Moutela (PS) —

João Torres (PS) — Carla Sousa (PS) — Luís Graça (PS) — Vitalino Canas (PS) — Rosa Maria Bastos Albernaz

(PS) — Sérgio Sousa Pinto (PS) — Eurico Brilhante Dias (PS) — Wanda Guimarães (PS) — Joaquim Raposo

(PS) — Tiago Barbosa Ribeiro (PS) — Sofia Araújo (PS) — Fernando Jesus (PS) — Susana Amador (PS) —

Domingos Pereira (PS) — António Borges (PS) — Jorge Lacão (PS) — Norberto Patinho (PS) — José Apolinário

(PS) — Ricardo Leão (PS) — Paulo Duarte Marques (PS) — Eurídice Pereira (PS) — Jorge Moreira da Silva

(PSD) — Odete Silva (PSD) — Sandra Pereira (PSD).

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