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Sábado, 20 de junho de 2020 II Série-B — Número 45

XIV LEGISLATURA 1.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2019-2020)

S U M Á R I O

Votos (n.

os 39 e 40/2020):

N.º 39/2020 — De saudação pelo dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. N.º 40/2020 — De condenação pela violação dos direitos humanos, ataque à democracia representativa e judicialização da política na Venezuela. Projetos de Voto (n.

os 257 a 262/XIV/1.ª):

N.º 257/XIV/1.ª (CDS-PP) — De pesar pelo falecimento do Almirante Vieira Matias. N.º 258/XIV/1.ª (PSD) — De congratulação pelos 35 anos da assinatura do Tratado de Adesão de Portugal à CEE. N.º 259/XIV/1.ª (PSD) — De congratulação pelos 35 anos do Acordo de Schengen. N.º 260/XIV/1.ª (PSD e subscrito por um Deputado do PSD) — De pesar pelo falecimento do Almirante Vieira Matias. N.º 261/XIV/1.ª (Deputada não inscrita Joacine Katar Moreira) — De saudação pela comemoração do Dia da Consciência. N.º 262/XIV/1.ª (PS) — De pesar pelo falecimento de

Manuel Cintra. Interpelação n.º 5/XIV/1.ª (PSD): Sobre «Situação atual da Justiça em Portugal». Petições (n.

os 637/XIII/4.ª e 87 a 89/XIV/1.ª):

N.º 637/XIII/4.ª (Solicitam que a profissão de carteiro seja qualificada como de desgaste rápido): — Relatório final da Comissão de Trabalho e Segurança Social. N.º 87/XIV/1.ª (Hugo Alexandre Trindade e outros) — Reposição da freguesia da Senhora da Hora e Reposição da freguesia de São Mamede de Infesta. N.º 88/XIV/1.ª (Pedro António Carvalhal Vieira dos Santos e outros) — Pelo recuo na suspensão da iniciativa Cultura Para Todos. N.º 89/XIV/1.ª (Carlos Eduardo Perdigão Costa de Almeida e outros) — Devolver a autonomia ao Hospital dos Covões (Centro Hospitalar de Coimbra) – Pelo direito ao acesso a cuidados de saúde de qualidade.

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VOTO N.º 39/2020

DE SAUDAÇÃO PELO DIA DE PORTUGAL, DE CAMÕES E DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS

A Assembleia da República, saúda a comemoração do 10 de julho, como o dia de Portugal, de Camões e

das Comunidades Portuguesas, reconhecendo o seu enorme simbolismo como afirmação da identidade de

Portugal no Mundo.

Apreciado e votado na Comissão de Cultura e Comunicação em 16 de junho de 2020.

Nota: Aprovado por unanimidade, tendo-se registado a ausência do CDS-PP.

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VOTO N.º 40/2020

DE CONDENAÇÃO PELA VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS, ATAQUE À DEMOCRACIA

REPRESENTATIVA E JUDICIALIZAÇÃO DA POLÍTICA NA VENEZUELA

A Assembleia da República decide condenar as mais recentes violações dos direitos humanos, ataques à

democracia representativa e judicialização da política na Venezuela.

Apreciado e votado na Comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas em 16 de junho

de 2020.

Nota: Aprovado com votos a favor do PS, do PSD e CDS-PP e votos contra do PCP, tendo-se registado a

ausência do BE e do PAN.

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PROJETO DE VOTO N.º 257/XIV/1.ª

DE PESAR PELO FALECIMENTO DO ALMIRANTE VIEIRA MATIAS

Faleceu no passado dia 13 de junho o Almirante Vieira Matias, com 80 anos. De nome completo Nuno

Gonçalo Vieira Matias, nasceu em Porto de Mós a 9 de junho de 1939.

O Almirante Vieira Matias licenciou-se em ciências militares navais na Escola Naval em 1961 e frequentou,

em países NATO, uma dezena de cursos, entre os quais o de promoção a Almirante, no Naval War College,

nos EUA, no ano letivo de 1988/89.

Da sua honrosa e brilhante carreira militar destaca-se ter servido em Angola, de 1961 a 1963 e na Guiné,

como Comandante do Destacamento de Fuzileiros Especiais, de 1968 a 1970; ter sido Comandante da Força

de Fuzileiros, Capitão dos portos de Portimão e de Lagos, Comandante do NRP João Belo, Chefe de Divisão

do Estado-Maior da Armada e professor do Instituto Superior Naval de Guerra.

Nos postos de Almirante, foi Subchefe do Estado-Maior da Armada, Superintendente dos Serviços do

Material, Comandante Naval em acumulação com Commander-in-Chief Iberian Atlantic Area da NATO, e

terminou a carreira no cargo de Chefe do Estado-Maior da Armada, de 1997 a 2002.

A acrescer à carreira militar, destaca-se ter sido membro da Comissão Estratégica dos Oceanos, do

European Security Research Advisory Board, Presidente do Conselho Supremo da Liga dos Combatentes,

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Presidente da Academia de Marinha, membro da Academia das Ciências de Lisboa e da Academia

Portuguesa da História, membro do Conselho de Honra do ISCSP, presidente do Conselho Supremo da

Sociedade Histórica da Independência de Portugal e Vice-Presidente da Sociedade de Geografia de Lisboa.

Foi agraciado com dezenas de condecorações nacionais e estrangeiras, destacando-se, Grã-Cruzes da

Ordem Militar de Cristo, da Ordem Militar de Avis, da Ordem do Infante D. Henrique de Portugal, da Ordem do

Mérito Naval de Espanha e da Ordem do Mérito Militar de Espanha; Grande-Oficial da Ordem do Mérito Naval

do Brasil e Comendador da Ordem da Legião do Mérito dos Estados Unidos e da Ordem Nacional da Legião

de Honra de França.

Pelo exposto, a Assembleia da República, reunida em sessão plenária, decide demonstrar o seu profundo

pesar e consternação pelo falecimento do Almirante Vieira Matias e apresentar à família as suas sentidas

condolências.

Assembleia da República, 15 de junho de 2020.

Os Deputados do CDS-PP: Telmo Correia — Cecília Meireles João Gonçalves Pereira — Ana Rita Bessa

— João Pinho de Almeida.

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PROJETO DE VOTO N.º 258/XIV/1.ª

DE CONGRATULAÇÃO PELOS 35 ANOS DA ASSINATURA DO TRATADO DE ADESÃO DE

PORTUGAL À CEE

A 12 de junho de 1985, há precisamente 35 anos, Portugal assinava o Tratado de Adesão à então

Comunidade Económica Europeia, hoje União Europeia.

Portugal comprometia-se, assim, com o projeto de integração europeia e entrava num novo capítulo da sua

história.

Após oito longos anos de negociações, Portugal tornou-se o 11.º Estado-Membro da então CEE.

Sabemos todos que não existe comparação entre o Portugal de hoje e o País que tínhamos em 1985.

De facto, não é possível compreender a História recente de Portugal sem reconhecer o carácter

estruturante da integração europeia para o desenvolvimento económico e social do nosso País, sublinhando

que a adesão de Portugal à então CEE foi determinante para a consolidação da nossa democracia.

Mais de três décadas de pertença a um espaço comum, de paz e de liberdade, de cooperação solidária e

de coesão, palavra central na construção europeia.

Portugal foi sempre um participante ativo e construtivo na vida da União, aberto a novos passos de

aprofundamento do projeto de integração europeia.

Recordamos, pois, hoje esse dia, num período em que a União Europeia se confronta com desafios muito

difíceis, na resposta aos quais Portugal tem também um papel crucial a desempenhar. Porque as decisões e

as opções estratégicas que forem tomadas hoje, em plena crise da pandemia, determinarão o País e a Europa

que queremos continuar a celebrar ao longo dos próximos anos.

Pelo exposto, a Assembleia da República, reunida em sessão plenária, congratula-se e assinala os 35 anos

da assinatura do Tratado de Adesão de Portugal à CEE, relembrando que a Europa é muito mais que a soma

de todos os fundos comunitários.

Palácio de São Bento, 15 de junho de 2020.

Os Deputado do PSD: Clara Marques Mendes — Luís Leite Ramos — Isabel Meireles — Paulo Moniz —

Duarte Marques — Ana Miguel dos Santos — António Cunha — António Lima Costa — Carlos Alberto

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Gonçalves — Sérgio Marques — André Coelho Lima — António Maló de Abreu — Catarina Rocha Ferreira —

Maria Gabriela Fonseca — Fernando Ruas — Paulo Neves — António Ventura.

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PROJETO DE VOTO N.º 259/XIV/1.ª

DE CONGRATULAÇÃO PELOS 35 ANOS DO ACORDO DE SCHENGEN

Há 35 anos, no dia 14 de junho de 1985, cinco países europeus fizeram algo de visionário. Assinaram um

acordo em Schengen, no Luxemburgo, visando suprimir paulatinamente os controlos nas fronteiras internas e

instaurar um regime de livre circulação.

Assim, os cidadãos de cada país signatário passaram a poder viajar, trabalhar e viver em qualquer país

sem formalidades especiais.

Atualmente, fazem parte do Espaço Schengen 26 países: 22 Estados-Membros da União Europeia (não

fazem parte a Bulgária, a Croácia, o Chipre, a Irlanda e a Roménia) e 4 países fora da UE (a Islândia, a

Noruega, a Suíça e o Liechtenstein – países que constituem a EFTA).

Portugal assinou o Acordo em 25 de junho de 1991.

É, pois, forçoso, relembrar que num continente onde anteriormente as nações se digladiavam para

defender os seus territórios, hoje as fronteiras só existem nos mapas.

Todos os anos, os europeus fazem mais de 1,25 mil milhões de viagens dentro do Espaço Schengen.

Sublinhamos, pois, neste contexto, que uma Europa sem fronteiras internas representa igualmente

enormes benefícios para a economia, o que demonstra o quanto a concretização de Schengen é tangível,

popular e bem‑sucedida, assim como a sua importância para as nossas vidas e para as nossas sociedades.

Em 35 anos, a liberdade de circulação tornou-se, naturalmente, parte da nossa vida quotidiana. Parte do

que somos, enquanto europeus.

Mas o vírus lembrou-nos o que era a Europa sem esta liberdade.

E, assim, à medida que a Europa começa, lenta mas seguramente, a movimentar-se de novo, há uma

conclusão muito clara a reter: o Acordo de Schengen nunca foi tão importante como nos últimos meses.

Congratulamo-nos, pois, pelo facto, de os Estados-Membros terem trabalhado em estreita colaboração,

assentes nos sólidos alicerces das regras de Schengen.

Regras aplicadas por cada um e em benefício de todos. Estas regras mantiveram os bens essenciais a

circular. Trouxeram os alimentos para as nossas mesas.

Providenciaram as luvas e as máscaras para os nossos médicos e enfermeiros que combatiam o vírus.

Entregaram ventiladores para doentes, salvando as suas vidas.

E foi assim, deste modo, que a Europa unida, trabalhou em conjunto de forma eficaz, graças à confiança

construída ao longo de 35 anos de livre circulação.

Suprimir as fronteiras, garantir a segurança e criar um clima de confiança demorou muitos anos após duas

guerras mundiais devastadoras. A criação do Espaço Schengen é um dos maiores feitos da União Europeia e

é irreversível.

Trinta e cinco anos de liberdade e 35 anos de identidade. Não há Europa dos direitos nem Europa

constitucional sem Schengen em pleno.

Pelo exposto, a Assembleia da República, reunida em sessão plenária, congratula-se e assinala os 35 anos

do Acordo de Schengen, sublinhando a criação de um espaço comum de liberdade inspirado na ideia de que

um futuro partilhado é melhor do que um passado dividido.

Palácio de São Bento, 15 de junho de 2020.

Os Deputados do PSD: Clara Marques Mendes — Luís Leite Ramos — Isabel Meireles — Paulo Moniz —

Duarte Marques — Ana Miguel dos Santos — António Cunha — António Lima Costa — Carlos Alberto

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Gonçalves — Sérgio Marques — André Coelho Lima — António Maló de Abreu — Catarina Rocha Ferreira —

Maria Gabriela Fonseca — Fernando Ruas — Paulo Neves — António Ventura.

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PROJETO DE VOTO N.º 260/XIV/1.ª

DE PESAR PELO FALECIMENTO DO ALMIRANTE VIEIRA MATIAS

Faleceu no passado dia 13 de junho, com 80 anos, o Almirante Vieira Matias. Nascido em Porto de Mós a 9

de junho de 1939 e filho de João Matias, fundador do Jornal O Portomosense, Nuno Gonçalo Vieira Matias,

licenciou-se em ciências militares navais na Escola Naval em 1961 e frequentou, em países NATO, uma

dezena de cursos, entre os quais o de promoção a Almirante, no Naval War College, nos EUA, no ano letivo

de 1988/89.

Na sua carreira militar salienta-se ter servido em Angola, de 1961 a 1963 e na Guiné, como Comandante

do Destacamento de Fuzileiros Especiais, de 1968 a 1970; ter sido Comandante da Força de Fuzileiros,

Capitão dos portos de Portimão e de Lagos, Comandante do NRP João Belo, Chefe de Divisão do Estado-

Maior da Armada e ainda professor do Instituto Superior Naval de Guerra.

Como Almirante foi Subchefe do Estado-Maior da Armada, Superintendente dos Serviços do Material,

Comandante Naval em acumulação com Commander-in-Chief Iberian Atlantic Area da NATO, acabando por

terminar uma carreira de enorme prestígio, no cargo de Chefe do Estado-Maior da Armada, de 1997 a 2002.

O Almirante Vieira Matias foi ainda membro da Comissão Estratégica dos Oceanos, do European Security

Research Advisory Board, Presidente do Conselho Supremo da Liga dos Combatentes, Presidente da

Academia de Marinha, membro da Academia das Ciências de Lisboa e da Academia Portuguesa da História,

membro do Conselho de Honra do ISCSP, presidente do Conselho Supremo da Sociedade Histórica da

Independência de Portugal e Vice-presidente da Sociedade de Geografia de Lisboa.

Vieira Matias foi agraciado com dezenas de condecorações nacionais e estrangeiras, destacando-se as,

Grã-Cruzes da Ordem Militar de Cristo, da Ordem Militar de Avis, da Ordem do Infante D. Henrique de

Portugal, da Ordem do Mérito Naval de Espanha e da Ordem do Mérito Militar de Espanha; Grande-Oficial da

Ordem do Mérito Naval do Brasil e Comendador da Ordem da Legião do Mérito dos Estados Unidos e da

Ordem Nacional da Legião de Honra de França.

Considerado pelos seus pares como «um dos mais notáveis líderes e militares contemporâneos com uma

carreira brilhante», o Almirante Vieira Matias foi também um notável investigador e académico na área do

estudo do mar e das suas enormes potencialidades.

Pelo exposto, a Assembleia da República, reunida em sessão plenária, demonstra o seu mais profundo

pesar e consternação pelo falecimento do Almirante Vieira Matias e apresenta à sua família as suas sentidas

condolências.

Palácio de São Bento, 17 de junho de 2020.

Os Deputados do PSD: Fernando Negrão — Olga Silvestre — Ana Miguel dos Santos — Pedro Roque —

Margarida Balseiro Lopes — João Gomes Marques — Hugo Patrício Oliveira — Carlos Eduardo Reis — Carlos

Alberto Gonçalves — Paulo Moniz — Isabel Meireles.

Outros subscritores: António Ventura (PSD).

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PROJETO DE VOTO N.º 261/XIV/1.ª

DE SAUDAÇÃO PELA COMEMORAÇÃO DO DIA DA CONSCIÊNCIA

Na Europa de 1935 legislava-se com o fito na discriminação antissemita, que veio a alargar o seu espectro,

fazendo a legalização do ódio chegar a comunidades que seriam então perseguidas, como a população

cigana, a negra ou a homossexual.

Foi neste enquadramento que a consciência, e o próprio ethos profissional, de Aristides de Sousa Mendes

foram confrontados, em junho de 1940, por milhares de refugiados.

Refugiados do medo, da perseguição, da violência, da morte. Ao edifício criminoso do enquadramento legal

que perseguia pela simples razão de se ser, Aristides de Sousa Mendes fez o que estava ao seu alcance para

negar compactuar com a voracidade do ódio. E esse alcance era imensurável. Os vistos assinados pelo que

ficou conhecido como o Cônsul de Bordéus foram, e são, gestos de uma exemplar humanidade. Fê-lo em

consciência, num imperativo de desobediência, e essa liberdade, a da escolha, foi determinante, para os que

salvou, sem olhar a quem, e simbólica, enquanto abalo do edifício criminoso e nazi daquela Europa. A 16 de

junho de 1940, decidiu: «vou dar vistos a toda a gente, deixou de haver nacionalidades, raças, religiões»1.

Comemorar o Dia da Consciência é não só evocá-lo, é também recuperá-lo no sentido da sua pertinência

para o tempo presente. «O exemplo de Aristides Sousa Mendes tem de servir para manter alerta todas as

consciências. Em Portugal nunca o esqueceremos. Nem nunca conseguiremos agradecer-lhe o suficiente»,

como se lê no texto assinado pelo Presidente da República, aquando da condecoração de Aristides de Sousa

Mendes, a título póstumo, com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, a 3 de abril de 2017.

Assim, a Assembleia da República saúda a comemoração do Dia da Consciência, evocando Aristides de

Sousa Mendes, a sua obra e o seu legado, nos 80 anos do seu exemplar gesto.

Palácio de São Bento, 17 de junho de 2020.

A Deputada não inscrita Joacine Katar Moreira.

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PROJETO DE VOTO N.º 262/XIV/1.ª

DE PESAR PELO FALECIMENTO DE MANUEL CINTRA

No dia 4 de Junho de 2020, faleceu o poeta Manuel Cintra.

Filho mais novo do linguista Luís Filipe Lindley Cintra e irmão do ator, encenador e fundador da

Cornucópia, Luís Miguel Cintra, e do cantor Deniz Cintra, Manuel Cintra nasceu em Lisboa a 1 de março de

1956.

Embora seja mais conhecido como poeta – ele próprio afirmava ter nascido poeta – Manuel Cintra foi

também encenador, ator, tradutor e jornalista.

Publicou, em 1981, o seu primeiro livro de poemas, Do Lado de Dentro, na coleção Forma, da editora

Presença, tendo-se seguido mais de vinte livros de poesia, muitos dos quais poemas em prosa. Em 1986,

publicou na editora Ulmeiro Bicho de Sede que, segundo a amiga e escritora Maria Quintans, era por ele

considerado«o poema já pronto, quase sem correções». Em 2014, publicou o seu único romance, Parto, e em

2017, a editora Guilhotina publicou a sua poesia completa com o título Manobra Incompleta.

Em 1984, estreou-se nas lides teatrais, como encenador, ator e cenógrafo do espetáculo O Diário de Um

Louco, a partir da obra homónima de Gogol. Fez também incursões pelo cinema, tendo participado em filmes

como Le Soulier de Satin de Manoel de Oliveira e Ruy Blas de Jacques Weber.

1 Fralon, José-Alain. 2007. Aristides de Sousa Mendes. Um Herói Português. Trad.: Saúl Dias Barata. Editorial Presença: Lisboa, p. 52.

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Traduziu para editoras como a D. Quixote, a Presença e a Estampa muitas obras literárias de autores como

Stevenson, Mircea Eliade, Truman Capote, Maurice Pons, Zadie Smith, Michael Crichton, Jhump Lahiri, Chitra

Banerjee Divakaruni, Donna Tartt, Tom McCarthy ou Kitty Fitzgerald. Trabalhou como jornalista nos principais

jornais portugueses, designadamente, no Diário de Lisboa, no Expresso, no Diário de Notícias, no Semanário

e no Sete.

Luís Miguel Cintra, citado pelo Público, lembra como «um período importante» da vida do irmão o tempo

em que este viveu com a compositora e pianista Constança Capdeville, falecida em 1992, com quem criou, em

1988, o projeto artístico “Palavras por Dentro».

Assim, reunida em sessão plenária, a Assembleia da República assinala com tristeza o falecimento de

Manuel Cintra, transmitindo aos seus quatro filhos, ao seu irmão Luís Miguel Cintra, à sua família e amigos, o

mais sentido pesar.

Palácio de São Bento, 17 de junho de 2020.

As Deputadas e os Deputados do PS: Edite Estrela — Susana Correia — Clarisse Campos — Santinho

Pacheco — Ana Maria Silva — Pedro Sousa — Cristina Sousa — Filipe Pacheco — Pedro Delgado Alves —

Jorge Gomes — Ana Passos — Bruno Aragão — José Manuel Carpinteira.

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INTERPELAÇÃO N.º 5/XIV/1.ª

SOBRE «SITUAÇÃO ATUAL DA JUSTIÇA EM PORTUGAL»

Nos termos do artigo 227.º do RAR, vimos por este meio informar V. Ex.ª de que a interpelação ao Governo

requerida pelo Grupo Parlamentar do PSD, para o próximo dia 25 de junho de 2020, incidirá sob o tema:

Situação atual da justiça em Portugal.

Palácio de São Bento, 17 de junho de 2020.

O Vice-Presidente do Grupo Parlamentar do PSD, Adão Silva.

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PETIÇÃO N.º 637/XIII/4.ª

(SOLICITAM QUE A PROFISSÃO DE CARTEIRO SEJA QUALIFICADA COMO DE DESGASTE

RÁPIDO)

Relatório final da Comissão de Trabalho e Segurança Social

Índice

I. Nota Prévia

II. Objeto da Petição

III. Análise da Petição

IV. Diligências Efetuadas

V. Opinião da Relatora

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VI. Conclusões e Parecer

I – Nota Prévia

A Petição n.º 637/XIII/4.ª, cujo promotor é o Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e

Telecomunicações (SNTCT), com 5188 assinaturas, deu entrada na Assembleia da República a 14 de junho

de 2019. Trata-se de uma petição coletiva, nos termos do estatuído no n.º 3 do artigo 4.º da Lei do Exercício

do Direito de Petição (LEDP), aprovada pela Lei n.º 43/90, de 10 de agosto (na redação da Lei n.º 6/93, de 1

de março, da Lei n.º 15/2003, de 4 de junho, da Lei n.º 45/2007, de 24 de agosto, e ainda da Lei n.º 51/2017,

de 13 de julho, que a republicou).

A petição baixou à Comissão de Trabalho e Segurança Social (CTSS) a 28 de junho de 2019, sendo

admitida a 17 de julho de 2019, com o diferimento da respetiva distribuição, tendo em conta a iminente

conclusão da Legislatura, sendo a aqui signatária nomeada como relatora na reunião da CTSS de 27 de

novembro de 2019

II – Objeto da Petição

Os peticionários dirigem-se à Assembleia da República pedindo que a profissão de carteiro seja

considerada, para todos os efeitos, de desgaste rápido.

Assim, os peticionários identificam um conjunto de caraterísticas necessárias à qualificação de uma

profissão como de desgaste rápido, procedendo, de seguida, à descrição das mesmas no que respeita à

profissão de carreira. No que respeita à pressão e stress, referem que «(n)a execução das suas tarefas

diárias, os carteiros estão sujeitos ao cumprimento rigoroso de um conjunto de tarefas que se relacionam com

o serviço postal na sua generalidade» e são, ainda, «responsáveis pela entrega de notificações judiciais,

outras comunicações de entidades públicas e também correspondência relativa ao cumprimento de

obrigações».

Já quanto ao desgaste emocional ou físico, descrevem o horário normal de trabalho, o tipo de percurso

diário que é expectável, e o peso do carrinho de transporte, por referência a uma carreira profissional com uma

duração de 46 anos.

No que toca às condições de trabalho, referem que a prestação do serviço «na maioria das vezes é

desempenhada no exterior, está sujeita a um conjunto de adversidades climatéricas pouco comuns na

generalidade das profissões». Acresce a isso o peso do carrinho que têm de transportar durante quatro a cinco

horas do seu dia de trabalho (o que tem consequências negativas para a saúde músculo-esquelética), ou a

condução de um motociclo durante o mesmo período.

Assim, é pedido à Assembleia da República que desenvolva «todos os passos necessários à consideração,

para todos os efeitos, da profissão de carteiro como uma profissão de desgaste rápido».

III – Análise da Petição

Da nota de admissibilidade da petição consta o seguinte:

1 – «O objeto desta petição está especificado e o texto é inteligível, o primeiro peticionante encontra-se

corretamente identificado (…), mostrando-se ainda genericamente cumpridos os demais requisitos formais e

de tramitação constantes dos artigos 9.º e 17.º da LEPD»;

2 – Efetuada uma pesquisa à base de dados da atividade parlamentar, constatou-se a existência de várias

petições relativas à consideração de várias profissões como sendo de desgaste rápido. Tal como é referido na

nota de admissibilidade, que se anexa ao presente relatório, «constata-se que não existe uma tabela legal das

profissões de desgaste rápido, sendo o respetivo reconhecimento analisado e regulado de modo casuístico.

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Há, contudo, alguns regimes de reforma antecipada para determinadas profissões, depreendendo-se que

esteja subjacente a estas classificações a noção de que as mesmas provocam um maior esforço.»

3 – Em matéria de iniciativas legislativas, deve referir-se que não se encontraram iniciativas diretamente

ligadas ao tema em questão.

IV – Diligências efetuadas

a) Audição de Peticionários

Em cumprimento do disposto no n.º 1 do artigo 21.º da Lei n.º 43/90, de 10 de agosto, alterada pelas Leis

n.º 6/93, de 1 de março, n.º 15/2003, de 4 de junho, n.º 45/2007, de 24 de agosto, e pela Lei n.º 51/2017, de

13 de julho, que procedeu à sua republicação (Lei do Exercício do Direito de Petição), realizou-se a audição

aos peticionários no dia 11 de dezembro de 2019.

Estiveram presentes os Deputados Fernando José (PS) e José Moura Soeiro (BE), tendo estado presentes

da parte dos peticionários José Alfredo Leal Oliveira, Fernando Manuel Fernandes Ambrioso, Carlos Alberto

Infante Galvão e Pedro Longo Gomes.

Em primeiro lugar, os peticionários agradecerem o agendamento daquela audição e procederam a uma

exposição sucinta do seu conteúdo, tendo focado a sua intervenção nas condições de trabalhado adversas

dos carteiros, nas consequências da grande redução de trabalhadores e de giros, bem como na explicação

das várias condições em que há, inclusive, conflitos com utentes. A acrescer às condições descritas, pesava

ainda a forma como a empresa tem lidado com os seus trabalhadores, com o exercício de muita pressão.

De seguida, intervieram os Deputados Fernando José (PS) e Isabel Pires (BE), tendo sido colocadas várias

questões aos peticionários, respondidas numa segunda fase de resposta.

Da mesma forma, é anexada ao presente relatório a súmula da audição de dia 11 de dezembro de 2019,

onde todas as intervenções estão descritas em pormenor.

b) Outras diligências

Foi, igualmente, remetido um pedido de informação ao Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança

Social, a 29 de novembro de 2019, que até à presente data não foi respondido.

V – Opinião da relatora

Sendo a opinião da relatora de elaboração facultativa, nos termos do artigo 137.º do Regimento, a

Deputada Relatora exime-se de emitir quaisquer considerações políticas sobre a petição em apreço.

VI – Conclusões e parecer

Por tudo o exposto, a Comissão de Trabalho e Segurança Social emite as seguintes conclusões e parecer:

1 – O objeto da petição está bem especificado e estão presentes os requisitos formais e de tramitação

constantes dos artigos 9.º e 17.º da Lei do Exercício do Direito de Petição.

2 – A petição deverá ser objeto de apreciação em Plenário, nos termos da alínea a) do n.º 1 do artigo 24.º,

por se tratar de uma petição coletiva subscrita por 5188 cidadãos, sendo obrigatória a publicação do respetivo

texto no Diário da Assembleia da República, segundo o preceituado pelo n.º 1 do artigo 26.º, todos da LEDP.

3 – Nos termos do n.º 8 do artigo 17.º da LEDP, o presente relatório deverá ser remetido ao Sr. Presidente

da Assembleia da República.

Palácio de São Bento, 17 de junho de 2020.

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A Deputada Relatora, Isabel Pires — O Presidente da Comissão, Pedro Roque.

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PETIÇÃO N.º 87/XIV/1.ª

REPOSIÇÃO DA FREGUESIA DA SENHORA DA HORA E REPOSIÇÃO DA FREGUESIA DE SÃO

MAMEDE DE INFESTA

A freguesia da cidade de São Mamede de Infesta foi extinta pela Lei n.º 11-A/2013, de 28 de janeiro. Este

diploma extinguiu igualmente a freguesia da cidade da Senhora da Hora e criou uma nova freguesia, a União

das Freguesias de S. Mamede e Senhora da Hora, abarcando os territórios das duas freguesias extintas.

O critério que sempre justificou a criação de juntas de freguesia no nosso País sempre foi o de se permitir

uma real proximidade das populações ao poder político, que desta feita se perdeu em São Mamede de Infesta.

O Movimento pela freguesia de São Mamede de Infesta existe para dialogar com as populações, os órgãos

do poder autárquico e os órgãos de soberania, lutando pela recriação da antiga freguesia de São Mamede de

Infesta.

O território da antiga Junta de Freguesia de São Mamede de Infesta circunscreve uma realidade

sociocultural única e irrepetível, um vasto património afeiçoado por muitas gerações de mamedenses que, ao

longo dos séculos, foram trabalhando o seu destino comum, produzindo arte, jeitos de falar e de vestir; usos e

costumes que distinguem as suas gentes das de qualquer outra realidade sociológica.

O tecido económico, social, cultural, associativo e desportivo de São Mamede de Infesta é muito rico e

vastíssimo, merecendo os seus intérpretes estar junto do poder, como dantes acontecia.

A realidade sociológica da Senhora da Hora é notável e notória, mas não é a mesma de São Mamede de

Infesta. Podem ser paralelas, podem até ter aqui e ali um ou outro ponto de contacto, mas são distintas e

concorrem, com a sua diversidade, para a riqueza da diversidade nacional.

São Mamede de Infesta precisa de uma atenção exclusiva às questões que vão surgindo, quer pela

concentração de população no seu território, quer pelo facto de as mesmas não serem iguais às dos territórios

vizinhos, sob pena de perda em eficiência dos serviços prestados à população.

Nós dizemos «NÃO» a esta União! E tu?

Confinada a Este por S. Mamede de Infesta, a Oeste por Matosinhos -sede do concelho com o mesmo

nome, a Norte com Custóias e Guifões e a Sul com as freguesias de Aldoar e de Ramalde, pertencentes ao

concelho do Porto, a Senhora da Hora tem tido (e continua a ter) um acentuado crescimento demográfico,

tendo hoje uma população que deve rondar os 30 000 habitantes (26 202, em 2001, cerca de 28 500 em 2011

de acordo com o Censos então realizado).

Com a Reorganização Administrativa, a freguesia da Senhora da Hora agregou a freguesia de S. Mamede

Infesta reunindo assim numa única União de Freguesias mais de 50 000 cidadãos. Ora, torna-se

verdadeiramente impossível, uma qualquer equipa de autarcas locais dar respostas exequíveis a uma mancha

de território com tanta população. Acrescem ainda as referidas dificuldades do facto de tal população, tal como

o território serem tão diferentes um do outro.

A Senhora da Hora é um território marcadamente urbano, tendencialmente jovem – quando em

comparação com os territórios vizinhos – com necessidades e anseios próprios. Possui uma área geográfica

suis géneris, e uma história e identidade cultural próprias.

Na Senhora da Hora encontram-se fixadas inúmeras cooperativas da habitação, responsáveis pela

construção de perto de 4000 fogos. A construção cooperativa foi tão intensa na Senhora da Hora que leva a

que esta seja considerada como a «capital nacional do cooperativismo habitacional».

A estação da Senhora da Hora tem um papel extremamente relevante na rede de transportes públicos da

AMR no caso do metropolitano, constituindo uma das estações centrais da rede do metro, ponto de

convergência das linhas de Matosinhos, da Póvoa de Varzim, da linha do Aeroporto Francisco Sá Carneiro e

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da Maia/Trofa, estando ainda em estudo a criação de uma outra linha que ligue a Senhora da Hora ao Hospital

de S. João com passagem por S. Mamede de Infesta.

Na Senhora da Hora estão localizadas três escolas do ensino superior; encontra-se também instalado o

Hospital de Pedro Hispano, o Instituto CUF e o Porto Canal; existem múltiplas pequenas e médias empresas

dos mais diversos sectores da actividade industrial e comercial e ainda grandes áreas comerciais como o

Norteshopping.

A Senhora da Hora precisa de uma atenção exclusiva às questões que vão surgindo, quer pela

concentração de população no seu território, quer pelo facto das mesmas não serem iguais às dos territórios

vizinhos, sob pena de perda em eficiência dos serviços prestados à população.

Nós dizemos «NÃO» a esta União! E tu?

Data de entrada na Assembleia da República: 19 de fevereiro de 2020.

Primeiro peticionário: Hugo Alexandre Trindade.

Nota: Desta petição foram subscritores 4027 cidadãos.

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PETIÇÃO N.º 88/XIV/1.ª

PELO RECUO NA SUSPENSÃO DA INICIATIVA CULTURA PARA TODOS

Serve a presente petição para travar imediatamente a suspensão em marcha da iniciativa Cultura para

Todos.

O programa Cultura para Todos, assente na lógica da inclusão pela cultura e com uma estratégia e uma

missão bem definidas, é garantido por um envelope financeiro europeu, operacionalizado em Portugal

continental pelos Programas Operacionais de Portugal 2020.

Face às informações veiculadas pela comunicação social de que o programa estaria em processo de

suspensão, exigimos o recuo desta decisão, uma explicação cabal das razões para essa proposta e uma

explicação da nova estratégia para os projetos que já estavam em curso.

Consideramos este passo mais um atentado a todos quantos trabalham na área da cultura, das indústrias

criativas e da educação artística e não formal. Centenas de profissionais estão envolvidos nos projetos

desenhados para as diferentes candidaturas. Neste momento a viver um momento trágico, estes trabalhadores

veem os seus projetos, alguns de longo prazo, já com investimentos avultados e em fase de pré-produção,

serem suspensos sem qualquer tipo de explicação ou diálogo.

A reformulação de alguns projetos, de métodos ou até da própria estratégia global da iniciativa Cultura para

Todos é legítima e vista por nós com naturalidade, na circunstância atual, mas a suspensão, para se poder

anunciar à comunicação social um investimento de 30 milhões de euros partilhado por centenas de

municípios, sem qualquer critério, estratégia ou explicação é apenas um caso absurdo de total ausência de

uma visão definida para o sector e mais um total desrespeito pelos profissionais desta área.

Acresce que, ao contrário do que declarou à comunicação social a Sr.ª Ministra da Coesão Territorial, Ana

Abrunhosa, o projeto não trabalha apenas com «pessoas que podem pertencer a grupos de risco» e a

incapacidade de execução deverá, eventualmente, ser analisada caso a caso. O projeto Cultura para Todos

assenta numa ideia de inclusão «para todos» e envolve agentes das margens do acesso cultural, mas nem

estes são os únicos envolvidos, evidentemente, nem a operacionalização estaria comprometida.

Por outro lado, face ao estado de calamidade em que vivemos e às reconhecidas dificuldades que o sector

enfrenta, há que ajuizar até que ponto, algumas das propostas da iniciativa Cultura para Todos não

respondem já a algumas das necessidades urgentes quer dos agentes do sector, quer dos públicos-alvo deste

programa.

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Contamos que o Ministério da Cultura, enquanto organismo promotor de uma estratégia para o sector e

para o país, interceda, no sentido de uma maior reflexão acerca da oportunidade e justiça de mais esta

irreparável decisão.

O sector da cultura necessita, mais do que nunca, de uma proteção particular, de pensamento estratégico e

político qualificado e de ações que afirmem a sua importância incontestável para o país e para uma sociedade

mais livre, justa e democrática.

Data de entrada na Assembleia da República: 26 de maio de 2020.

Primeiro peticionário: Pedro António Carvalhal Vieira dos Santos.

Nota: Desta petição foram subscritores 1071 cidadãos.

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PETIÇÃO N.º 89/XIV/1.ª

DEVOLVER A AUTONOMIA AO HOSPITAL DOS COVÕES (CENTRO HOSPITALAR DE COIMBRA) –

PELO DIREITO AO ACESSO A CUIDADOS DE SAÚDE DE QUALIDADE

O Centro Hospitalar de Coimbra (CHC) era formado pelo Hospital dos Covões (Hospital Geral), Hospital

Sobral-Cid, Maternidade Bissaya Barreto e Hospital Pediátrico. O Hospital dos Covões foi fundado em 1973

como Hospital Geral após desempenhar desde 1935 funções como Hospital Sanatório da Colónia Portuguesa

no Brasil, sendo por isto uma instituição com arquitetura singular que fervilha a história do combate à

tuberculose, fervilha história de Portugal e história da Medicina.

O Hospital dos Covões conta já com 47 anos de história na prestação de cuidados de saúde de qualidade à

população com um humanismo reconhecido por todos. Respeito é o mínimo que ele merece.

Com o Decreto-Lei nº 30/2011 de 2 de Março foi criado o Centro Hospitalar e universitário de Coimbra

(CHUC), pela fusão do CHC com o Hospital da Universidade de Coimbra (HUC). Desde a fusão o Hospital dos

Covões foi rapidamente desprovido de recursos humanos e materiais, com transferência para o HUC de

equipamentos existentes no Hospital dos Covões e inexistentes naquele (lembro-me inclusivamente de se ter

chegado ao ponto de levarem para o HUC uma máquina de contar dinheiro que havia da admissão de doentes

da urgência). Desta atitude dava para perceber o que aí vinha…

Vários serviços do Hospital dos Covões foram rapidamente encerrados, diluindo recursos humanos nos

serviços existentes no HUC sem aumento da produtividade, obrigando os doentes a amontoarem-se naqueles

serviços centralizados e sobrecarregados, e por isso com bastante menos humanismo (condição essencial

para cuidar e tratar de quem está fragilizado pela doença). Foram encerrados no Hospital dos Covões os

seguintes 15 serviços médicos (valências): Neurocirurgia (o primeiro a ser criado em Coimbra); Neurologia

(havia sido remodelado com dinheiros da EU); Anatomia Patológica; Infeciologia; Oncologia; Oftalmologia;

Otorrinolaringologia (responsável pela realização de 97% dos implantes cocleares em Portugal); Urologia;

Nefrologia (manteve apenas diálise durante o dia para doentes internados mas sem apoio durante a noite);

Gastroenterologia (incluindo exames endoscópicos e outros); Imagiologia (mantém presença na urgência

durante o dia exceto ao fim de semana, e realiza alguns exames de rotina); Pneumologia (referência mundial

no tratamento do cancro do pulmão); Hematologia; Imuno-Hemoterapia (serviço de vanguarda no tratamento

da hemofilia); Cardiologia (recentemente). Todos foram centralizados no HUC resultando numa capacidade de

resposta diminuída, fragilizada, e muitas vezes ineficaz desde então.

O Serviço de Urgência tem sido despido de capacidade de resposta, agora com horário reduzido. Há

muitas dificuldades com a ausência da grande maioria das especialidades. Com a exceção da Medicina

Interna, Cirurgia Geral e Ortopedia, todas foram centralizadas no HUC, resultando num acréscimo imenso de

doentes naquele hospital (muitos têm de ser enviados do Hospital dos Covões para o HUC) com a redução da

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capacidade de resposta e o aumento do risco de erro. Os doentes que recorrem ao Serviço de Urgência do

Hospital dos Covões ao fim de semana são obrigados a deslocarem-se de ambulância ao HUC para a simples

realização de uma ecografia, para depois regressar. Um doente chegou a relatar que foi «um tormento» fazer

tal viagem com as dores que tinha. Porquê? Foi retirado o médico radiologista do Hospital dos Covões durante

o fim-de-semana. Neste momento, no Serviço de Urgência do Hospital dos Covões tem algumas equipas

reduzidas a mínimos não recomendados pela Ordem dos Médicos, colocando médicos e doentes em risco. A

justificação? A urgência do Hospital dos Covões é parte de uma urgência conjunta com o HUC onde há mais

médicos de urgência a 10 km de distância. Quer isto dizer que um doente que necessite de cuidados

emergentes no Hospital dos Covões tem de ter paciência e aguardar que venha alguém do HUC ajudar, além

da necessidade de ter a sorte que esse alguém esteja disponível. Nem sempre os doentes podem esperar e

nem sempre há disponibilidade para abandonar uma urgência sobrelotada. Tais situações já aconteceram e

são dramáticas… Não há necessidade nem é eticamente aceitável que no mundo ocidental profissionais e

doentes sejam sujeitos a estas situações precárias de prestação de cuidados de saúde onde ter sorte é

condição essencial.

O Serviço de Cuidados Intensivos foi também fundido e até há pouco tempo existe a intensão de ser

também encerrado. O encerramento foi adiado pelo aparecimento da pandemia COVID, mas se encerrar os

doentes internados no Hospital dos Covões serão privados dos médicos que melhor podem reverter uma

paragem cardíaca, situação imprevisível e que pode ocorrer a qualquer doente. Tal situação trará um risco

bastante acrescido aos doentes internados e que à urgência recorrem na esperança de um atendimento pleno

de recursos. Podem dizer que há hospitais onde não há Cuidados Intensivos, mas nunca vi nenhum hospital

fechar um serviço que é essencial para a segurança de doentes e profissionais. Haverá hospitais que queiram

abrir Serviços de Cuidados Intensivos (já há um privado em Coimbra) enquanto o do hospital dos Covões será

para fechar.

Porquê?

O Serviço de Cirurgia do Hospital dos Covões foi fundido com o do HUC em 2018. A redução de recursos e

capacidades têm sido constantes e por isso o corpo clinico está desgastado, desmotivado, triste e revoltado.

Apesar disto continua a exercer as suas funções o melhor que pode, e tal facto é reconhecido por doentes e

familiares. A enfermaria reduzida para metade das camas viu diminuída a sua capacidade de resposta, com

taxas de ocupação muitas vezes acima do ideal, obrigando a manter doentes no Serviço de Urgência em

macas desconfortáveis e num ambiente em nada propicio a uma recuperação, seja ela de que doença for. A

redução de cirurgiões tem sido notória. Em 3 anos saíram 9 cirurgiões (reforma, doença, término da formação

especifica), e nenhum foi contratado. Por este motivo têm sido cancelados tempos de consulta e de bloco

operatório. Foram encerradas as consultas de Coloproctologia e a consulta de Pé Diabético Cirúrgico (única

em Coimbra). Foi dada a indicação de no Hospital dos Covões se parar o tratamento de doença oncológica e

de patologia vascular arterial e venosa, patologias que sempre foram tratadas no Hospital dos Covões e que

faziam deste referencia para muitos Centros de Saúde e Hospitais da região centro. Inclusivamente os

Cirurgiões do Hospital dos Covões realizam no âmbito daquelas patologias técnicas que em muito poucos

locais são realizadas. Privar os doentes dessas técnicas não será correto nem incentiva o progresso e a

inovação. Desde essa indicação que as 7 salas do Bloco Operatório Central do Hospital dos Covões são

apenas ocupadas com patologia benigna, não sendo utilizadas para tratar o mais rapidamente possível a

patologia oncológica cirúrgica tão frequente na nossa sociedade. A razão? Não haver o apoio de outras

especialidades. Inacreditável quando havia sido a administração a remover esse mesmo apoio.

Mais haverá a dizer…

Não há razão económica nem de melhoria assistencial que justifique a desqualificação total de um Hospital

Central, transformando dois num só. A capacidade de resposta foi diminuída, a qualidade dos serviços não

pode ser melhor, e a produtividade não terá aumentado. O que se fazia em dois não se está a fazer num só. A

centralização dos cuidados de saúde efetuada em Coimbra com o desmantelamento progressivo do Hospital

dos Covões e a centralização de tudo no HUC não foi benéfica para profissionais e doentes, não foi benéfica

para a cidade, não foi benéfica para a região centro, não foi benéfica para Portugal. Urge parar, pensar, e

voltar atrás. Nem sempre o caminho é para frente, por vezes à frente apenas há o precipício.

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Antes da fusão a zona centro tinha dois Hospitais Centrais (fim de linha) plenos de capacidade de resposta

para tratar a grande maioria dos 2 223 958 habitantes (Pordata 2018). Neste momento tem apenas um

Hospital Central fim de linha mas sem aparente capacidade de resposta.

Por tudo isto urge reverter esta fusão e tornar o Hospital dos Covões novamente autónomo e pleno dos

serviços médicos que tinha antes daquela. Só assim poderemos aliar o aumento da eficácia e da rentabilidade

dos serviços de saúde com o aumento da qualidade e do humanismo dos mesmos. Não podemos continuar a

privar os doentes de um rápido acesso a cuidados de saúde com a qualidade que o mundo ocidental exige.

Com o objetivo da defesa de um Serviço Nacional de Saúde de qualidade, de fácil acesso a todos e em

tempo útil, peço a sua atenção a este assunto de máxima importância. É necessário devolver a autonomia ao

Hospital dos Covões e devolver-lhe a anterior capacidade instalada para que possa novamente tratar com

qualidade e humanismo toda a população que a ele recorre e que neste momento não parece estar

devidamente protegida.

Porque todos fomos, somos e seremos doentes, é imperativo dizer «SIM» ao Hospital dos Covões.

Data de entrada na Assembleia da República: 1 de junho de 2020.

Primeiro peticionário: Carlos Eduardo Perdigão Costa de Almeida.

Nota: Desta petição foram subscritores 4493 cidadãos.

A DIVISÃO DE REDAÇÃO.

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