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31 DE JULHO DE 2020

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participou em telenovelas como «Única Mulher» e «Rifar o Coração». Vivia em Lisboa, na freguesia do Parque das Nações. Foi morto aos 39 anos, deixando órfãos dois filhos e uma filha.

Por onde o Bruno passasse criava amigos. Familiares, colegas de trabalho e amigos falam de um ser humano excecional, «uma pessoa extremamente afável e sociável». Será lembrado como «uma pessoa com uma força e inteligência emocional incríveis que procurou sempre descobrir-se a si e aos outros».

Em 2018, sofreu um grave acidente de bicicleta. Esteve em coma muito tempo. Recuperou a memória, o andar e a fala, contudo ficou com sequelas e limitações de mobilidade. Determinado a cumprir os seus sonhos, o Bruno manteve-se ativo no teatro e dedicou-se aos manuscritos para o livro que pretendia publicar.

Bruno Candé Marques foi barbaramente assassinado. De acordo com relatos de familiares e testemunhas, o assassino já o havia ameaçado de morte três dias antes e reiteradamente proferiu insultos racistas contra a vítima.

O caráter premeditado e racista deste crime hediondo é inequívoco e é premente que seja feita justiça, de forma célere e rigorosa. Todos os pormenores e motivações do crime devem ser devidamente apurados. O racismo já matou e continua a matar.

O assassinato de Bruno Candé Marques choca-nos profundamente e convoca-nos a todos a reconhecer e a combater intransigentemente todos os atos de racismo.

Persistir na negação do racismo é insistir numa narrativa perigosa com consequências devastadoras. Assim, a Assembleia da República manifesta o seu pesar pelo falecimento de Bruno Candé Marques e

endereça à família e amigos sentidas condolências. Assembleia da República, 28 de julho de 2020.

As Deputadas e os Deputados do BE: Beatriz Dias — Pedro Filipe Soares — Mariana Mortágua — Jorge Costa — Alexandra Vieira — Fabíola Cardoso — Isabel Pires — Joana Mortágua — João Vasconcelos — José Manuel Pureza — José Maria Cardoso — José Soeiro — Luís Monteiro — Manuel Azenha — Maria Manuel Rola — Moisés Ferreira — Nelson Peralta — Sandra Cunha — Catarina Martins

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PROJETO DE VOTO N.º 301/XIV/1.ª DE PESAR PELA MORTE DE BRUNO CANDÉ MARQUES

Foi assassinado Bruno Candé, ator negro português que iniciou o seu percurso no grupo de teatro da Casa

Pia e se formou no Chapitô. Integrava desde 2011 a companhia Casa Conveniente, fundada em 1992 e dirigida por Mónica Calle. Entre os seus espetáculos destacam-se A Missão: Recordações de uma revolução, Macbeth, O livro de Job, Rifar O meu coração, A sagração da primavera e Noites brancas de Mónica Calle; Drive In de Mónica Garnel; e Atlas de João Borralho e Ana Galante. Fez também cinema, sob a direção de Margarida Cardoso, e televisão. Em 2021, a Casa Conveniente estreará O escuro que te ilumina, a partir da sua recuperação após o grave acidente de bicicleta que sofreu em 2017.

No passado dia 25 de julho foi morto com quatro disparos de uma arma ilegal na Avenida de Moscavide por um indivíduo que já o tinha ameaçado de morte. À violência da trágica perda, a família e amigos de Bruno Candé são agora submetidos à violência movida pela relação que a sociedade portuguesa estabelece com o racismo: a da sua negação. «Volta para a tua terra», «Vai mas é para a senzala», «Tenho armas do ultramar e vou-te matar» foram frases proferidas pelo homicida. Um discurso de ódio que permanece impune e que é caucionado pelo status quo português.

O racismo em Portugal é uma realidade. Está identificado em relatórios nacionais e internacionais, da Assembleia da República ao European Social Survey, passando pela ONU. E apesar de crime consagrado no Código Penal, é rara a condenação por racismo. A violência múltipla e sistémica a que as pessoas racializadas são sujeitas no País, a par da serenidade com que se silenciam, segregam e matam os corpos negros