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23 DE JANEIRO DE 1991

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Mas, mesmo assim, subsistem divergências importantes neste domínio, sobreiudo no que respeita à acentuação das paroxítonas.

Não tendo tido viabilidade prática a solução fixada na Convenção Ortográfica de 1945, conforme já foi referido, duas soluções eram possíveis para se procurar resolver esta questão.

Uma era conservar a dupla acentuação gráfica, o que constituía sempre um espinho contra a unificação da ortografia.

Outra era abolir os acentos gráficos, solução adoptada em 1986, no Encontro do Rio dc Janeiro.

Esta solução, já preconizada no I Simpósio Luso-Bra-silciro sobre a Língua Portuguesa Contemporânea, realizado em 1967 em Coimbra, tinha sobretudo a justificá-la o facto dc a língua oral preceder a língua escrita, o que leva muitos utentes a não empregarem na prática os acentos gráficos, visto que não os consideram indispensáveis à leitura e compreensão dos textos escritos.

A abolição dos acentos gráficos nas palavras proparoxítonas e paroxítonas preconizada no Acordo dc 1986, foi, porém, contestada por uma larga parte da opinião pública portuguesa, sobretudo por tal medida ir contra a tradição ortográfica e não tanto por estar contra a prática ortográfica.

A questão da acentuação gráfica tinha, pois, dc ser repensada.

Neste sentido, desenvolveram-se alguns estudos c fize-ram-se vários levantamentos estatísticos com o objectivo de se delimitarem melhor e quantificarem com precisão as divergências existentes nesta matéria.

5.2 — Casos dc dupla acentuação 5.2.1 — Nas proparoxítonas (base xi)

Verificou-se assim que as divergências, no que respeita às proparoxítonas, se circunscrevem praticamente, como já foi destacado atrás, ao caso das vogais tónicas eco, seguidas das consoantes nasais m e n, com us quais aquelas rtao formam sílaba (v. base xi, 3.').

Estas vogais soam abertas cm Portugal c nos países africanos, recebendo, por isso, acento agudo, mas são do timbre fechado em grande parte do Brasil, grafando-sc por conseguinte com acento circunflexo: académico/ acadêmico, cómodol cômodo, efémero! efêmero, fenómeno/ fenômeno, génio/ gênio, tónico/ tônico, etc.

Existe uma ou outra excepção a esta regra, como, por exemplo, cômoro e sêmola, mas estes casos não silo significativos.

Costuma, por vezes, referir-se que o a tónico das proparoxítonas, quando seguido de m ou n com que não forma sílaba, também está sujeito à referida divergência de acentuação gráfica. Mas tal não acontece, porem, já que o seu timbre soa praticamente sempre fechado nas pronúncias cultas da língua, recebendo, por isso, acento circunflexo: âmago, ânimo, botânico, câmara, dinâmico, gerânio, pânico, pirâmide.

As únicas excepções a este princípio são os nomes próprios de origem grega Dánael Dânae c Dánaol Dânao.

Notc-sc que se as vogais eco, assim como a, formam sílaba com as consoantes m ou n, o seu timbre é sempre fechado em qualquer pronúncia culta da língua, recebendo, por isso, acento circunflexo: êmbolo, amêndoa, argênteo, excêntrico, têmpera; anacreôniico, cômputo, recôndito; cânfora, Grândola, Islândia, lâmpada, sonâmbulo, etc.

5.2.2 — Nas paroxítonas (base ix)

Também nos casos especiais de acentuação das paroxítonas ou graves (v. base rx, 2."), algumas palavras que contem as vogais tónicas e e o cm final de sílaba, seguidas das consoantes nasais me n, apresentam oscilação de timbre nas pronúncias cultas da língua.

Tais palavras são assinaladas com acento agudo, sc o timbre da vogal tónica é aberto, ou com acento circunflexo, sc o timbre é fechado: fémur ou fémur, Fénix ou Fênix, ónix ou ônix, sémen ou sêmen, xénon ou xênon; bónus ou bônus, ónus ou ônus, pónei ou pônei, ténis ou tênis, Vénus ou Vénus; etc. No total, estes são pouco mais dc uma dúzia dc casos.

5.2.3—Nas oxltonas (base viu)

Encontramos igualmente nas oxítonas [v. base vm, l.e, a), obs.] algumas divergências de timbre cm palavras terminadas em e tónico, sobretudo provenientes do francês. Sc csia vogal tónica soa aberta, recebe acento agudo; se soa fechada, grafa-se com acento circunflexo. Também aqui os exemplos pouco ultrapassam as duas dezenas: bebé ou bebê, caraté ou caratê, croché ou croché, guiché ou guiché, maúné ou matinê, puré ou purê; etc. Existe também um caso ou outro dc oxítonas terminadas em o ora aberto ora fechado, como sucede cm cocô ou cocô, ró ou rô.

A par dc casos como este há formas oxítonas terminadas cm o fechado, às quais se opõem variantes paroxítonas, como acontece em judô e judo, metrô c metro, mas tais casos são muito raros.

5 2.4 — Avaliação estatística dos casos de dupla acentuação gráfica

Tendo em conta o levantamento estatístico que se fez na Academia das Ciências de Lisboa, com base no já referido corpus dc cerca de 110 000 palavras do vocabulário geral da língua, verificou-se que os citados casos dc dupla acentuação gráfica abrangiam aproximadamente 1,27% (cerca dc 1400 palavras). Considerando que tais casos se encontram perfeitamente delimitados, como sc referiu atrás, sendo assim possível enunciar a regra de aplicação, optou--sc por fixar a dupla acentuação gráfica como a solução menos onerosa para a unificação ortográfica da língua portuguesa.

5J — Razões da manutenção dos acentos gráficos nas proparoxítonas c paroxítonas

Resolvida a questão dos casos dc dupla acentuação gráfica, como se disse atrás, já não tinha relevância o principal motivo que levou em 1986 a abolir os acentos nas palavras proparoxítonas e paroxítonas.

Em favor da manutenção dos acentos gráficos nestes casos, ponderaram-sc, pois, essencialmente as seguintes razões:

a) Pouca representatividade (cerca de 1,27 %) dos casos de dupla acentuação;

b) Eventual influência da língua escrita sobre a língua oral, com a possibilidade de, sem acentos gráficos, se intensificar a tendência para a paro-xitonia, ou seja, deslocação do acento tónico da antepenúltima para a penúltima sílaba, lugar mais frequente de colocação do acento tónico em português;