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Segunda-feira, 8 de janeiro de 2024 II Série-D — Número 12

XV LEGISLATURA 2.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2023-2024)

S U M Á R I O

Delegações da Assembleia da República: — Relatório da participação da Assembleia da República na reunião interparlamentar com a Comissão das Liberdades Cívicas, da Justiça e dos Assuntos Internos (LIBE) do Parlamento Europeu sobre a situação do Estado de direito na UE, que decorreu em Bruxelas, no dia 4 de dezembro de 2023.

— Relatório da participação da Assembleia da República na reunião interparlamentar, organizada pela Comissão da Cultura e da Educação (CULT) do Parlamento Europeu, dedicada ao tema «Educação para a Cidadania Europeia», que decorreu em Bruxelas, nos dias 27 e 28 de novembro de 2023.

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DELEGAÇÃO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

RELATÓRIO DA PARTICIPAÇÃO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA NA REUNIÃO

INTERPARLAMENTAR COM A COMISSÃO DAS LIBERDADES CÍVICAS, DA JUSTIÇA E DOS

ASSUNTOS INTERNOS (LIBE) DO PARLAMENTO EUROPEU SOBRE A SITUAÇÃO DO ESTADO DE

DIREITO NA UE, QUE DECORREU EM BRUXELAS, NO DIA 4 DE DEZEMBRO DE 2023

A Delegação da Assembleia da República integrou os seguintes Deputados:

– Deputada Nathalie Oliveira (PS), Comissão de Assuntos Europeus – Chefe da Delegação;

– Deputado Bruno Nunes (CH), Comissão de Assuntos Europeus.

A assessoria na reunião foi prestada por Catarina Ribeiro Lopes, Representante da Assembleia da República

junto das instituições da União Europeia.

Da agenda da reunião, subordinada ao tema «Situação do Estado de direito na UE», constavam os seguintes

pontos:

Notas introdutórias

Juan Fernando López Aguilar, Presidente da Comissão das Liberdades Cívicas, da Justiça e dos Assuntos

Internos (LIBE) do Parlamento Europeu (PE) deu as boas-vindas aos participantes, fazendo uma breve

introdução sobre o Estado de direito, a sua evolução na UE e a sua importância, destacando ainda o relatório

anual de 2023 sobre o tema.

Seguiu-se a intervenção do Comissário Europeu para a Justiça, Didier Reynders, que, através de mensagem

de vídeo, destacou o Estado de direito como valor principal da UE, integrando a liberdade, a democracia, a

igualdade e o respeito pelos direitos fundamentais. Considerou o Estado de direito como o tópico mais debatido

entre a Comissão Europeia e os Parlamentos nacionais nos últimos anos, dando nota de que o respeito pelo

mesmo não pode ser dado como garantido, sendo necessário responder aos seus desafios. Especificamente

sobre o relatório anual 2023 sobre o tema, referiu-se à sua publicação em julho, à monitorização que este realiza

da situação nos 27 Estados-Membros e ao facto de passar a ser em breve também realizado relativamente aos

Estados candidatos à adesão à UE em fase mais avançada. Salientou que os Estados-Membros têm seguido

as recomendações da Comissão nesta matéria, pretendendo o relatório servir de base de discussão a nível

político e técnico, sendo por isso as trocas de pontos de vista com a Comissão LIBE e o grupo de monitorização

importantes. Terminou mencionando a apresentação do relatório em vários Estados-Membros, destacando o

diálogo como principal ferramenta da União Europeia (UE), embora considerando que, quando este não se

mostra suficiente, a Comissão dispõe de instrumentos adicionais para agir, fazendo referência ao mecanismo

de condicionalidade.

Pascual Ignacio Navarro Ríos, Secretário de Estado para a União Europeia, em representação da

Presidência espanhola, destacou também a importância do Estado de direito, do alargamento da UE e da

inclusão de alguns Estados neste relatório. Frisou que o Estado de direito era uma prioridade da Presidência

espanhola e deu nota dos trabalhos desenvolvidos no âmbito do Conselho Assuntos Gerais (nomeadamente o

diálogo sobre o tema em vários Estados e o lançamento de um questionário pela Presidência sobre as práticas

relativas a esta matéria). Considerou este instrumento essencial para a proteção da democracia e dos valores

comuns, continuando a Presidência a trabalhar com o Parlamento Europeu nesse sentido.

Por parte dos Parlamentos nacionais, Till Steffen, Membro do Bundestag da Alemanha, referiu-se aos

ataques contra a magistratura e à utilização indevida da justiça, considerando-os inimigos da democracia. Aludiu

à situação na Polónia e Hungria, ao apoio da Comissão Europeia relativamente ao alargamento e ao

acompanhamento do processo por peritos, garantindo que a Comissão possa, no futuro, agir contra eventuais

violações das disposições dos tratados. Sobre os direitos fundamentais, deu nota da importância da

possibilidade de recurso ao TJUE quando se verifique violação destes direitos por parte de um Estado-Membro

no âmbito das suas próprias ações. Berry Ward, membro do Parlamento da Irlanda, destacou o primado do

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direito, a influência da desinformação e o aumento da criminalidade neste âmbito, considerando que os

problemas relacionados com estas matérias em linha não são exclusivas da Irlanda, acontecem em toda a UE,

esperando atuação neste sentido com a criação de mecanismo de combate adequados e de atuação rápida,

mitigando os danos relativamente ao primado do direito. Referiu-se às críticas apontadas à Irlanda no âmbito da

indicação de juízes, justificando a diferença de funcionamento da magistratura no país. Theresa Scavenius,

membro do Parlamento da Dinamarca, considerou o declínio da democracia como um problema global,

destacando o papel da Europa na promoção dos seus valores, sobretudo junto de países candidatos. Mencionou

os problemas internos da UE, nomeadamente a existência de Estados não totalmente democráticos dentro da

Europa, a importância das instituições informais e as suas mudanças, a necessidade de reflexão política geral

e sobre o paradigma económico, que prejudica a defesa dos valores base, assim como a necessidade de mais

transparência, sobretudo no financiamento de partidos políticos e utilização de portas giratórias. Por fim,

Vasileios Nikolaos Ypsilantis, membro do Parlamento da Grécia, começou por enfatizar os desenvolvimentos da

Grécia após a crise económica também no âmbito do Estado de direito, encontrando-se refletido em vários

aspetos como o sistema judiciário e a revisão dos seus códigos de conduta ou a sua digitalização, assim como

a criação da polícia judicial. Deu nota da nova revisão do sistema em curso, dos progressos significativos

alcançados, com base também nos fundos do Mecanismo de Recuperação e Resiliência. Terminou referindo a

luta contra a corrupção e a necessidade de maior cooperação, assim como os progressos gregos neste campo,

com a criação de uma rede para combate a este fenómeno.

SESSÃO I: Troca de pontos de vista sobre a situação do Estado de direito em 2023 – o Relatório anual

sobre o Estado de direito da Comissão e resolução do Parlamento Europeu

Julien Mousnier, Diretor para o Estado de direito, direitos fundamentais e democracia da DG Justiça e

Consumidores da Comissão Europeia, iniciou esta sessão referindo as conclusões e recomendações principais

do relatório de 2023, como a evolução do sistema eficaz de justiça em geral, sendo a tendência nos Estados-

Membros a realização de reformas para cumprimento das recomendações da Comissão, continuando a

independência da magistratura a ser em alguns países uma preocupação. Referiu que a digitalização da justiça,

o quadro anticorrupção e reforço da investigação e as medidas para melhorar as condições de trabalho e

segurança dos jornalistas são também áreas em que os Estados estão a trabalhar, a par da melhoria do

processo legislativo e da participação das partes interessadas.

Por outro lado, Petra Bárd, professora e investigadora da Radboud University and Research Affiliatee CEU

Democracy Institute, considerou o declínio do Estado de direito uma questão urgente na UE e uma ameaça ao

projeto europeu, uma vez que este é um projeto baseado em leis e assente na premissa de que os Estados-

Membros são Estados de direito. Salientou que sem independência dos tribunais nacionais não há UE e analisou

o relatório de 2023, concluindo pela sua boa preparação e relembrando a recomendação para alargamento do

âmbito de aplicação do relatório a outros valores do artigo 2.º, como a democracia e os direitos fundamentais.

Considerou que o relatório permite manter o assunto atual e estabelecer tendências neste campo e deu nota da

importância de incluir os acórdãos do TJUE e nacionais no relatório.

Seguiu-se a intervenção de Sophie In’t Veld, Presidente do Grupo de Monitorização da Democracia, Estado

de Direito e Direitos Fundamentais e relatora do Parlamento Europeu sobre o Relatório anual do Estado de

direito, recordando que foi pedido que este exercício fosse conjunto entre as instituições e os Parlamentos

nacionais e que o PE também reúne com os Estados-Membros para analisar esta matéria. Destacou a

importância de normas comuns nesta matéria na UE, focando-se nas questões relativas à captura política do

sistema judiciário, utilização de software espião também para fins políticos, os problemas com a liberdade de

imprensa e a segurança dos jornalistas, mas também com os direitos fundamentais, sobretudo nas fronteiras

externas da UE. Entendeu que a Comissão Europeia não pretende entrar em conflito com os Estados-Membros

e por isso não é possível manter o controlo do Estado de direito.

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Sessão de perguntas e respostas

Durante o período de debate registaram-se várias intervenções por parte de Deputados do Parlamento de

Espanha relativamente à situação vivida no país no que respeita ao Estado de direito. Por um lado, foi defendida

a universalidade das leis e o benefício da lei da amnistia para a fuga à justiça em Espanha, considerado um

ataque frontal ao Estado de direito e uma isenção de responsabilidade penal. Por outro, foi considerado que

Espanha tinha uma democracia madura, uma constituição com 45 anos e um Estado social e democrático, não

subsistindo questões quanto ao Estado de direito no país. Considerou-se ainda a amnistia legal, baseada na

jurisprudência, sujeito ao direito europeu e não sendo uma figura alheia ao direito espanhol e ao direito

comparado, tendo Espanha uma democracia indiscutível e incontestável, resultando em vários danos a

constatação contrária.

Registaram-se também intervenções relativas às reformas feitas em Malta, ao apoio e orientação feitos com

parceiros europeus e internacionais nesta sede e a importância da proteção dos jornalistas e direitos humanos,

as represálias contra os juízes e as suas posições políticas na Polónia, esperando poder agora o novo governo

restaurar o Estado de direito no país, à situação na Grécia, nomeadamente relativamente ao controlo do governo

relativamente à informação que chega aos cidadãos, escutas telefónicas, vigilância por parte de softwares

espiões, independência dos meios de comunicação social e as consequências destes aspetos no Estado de

direito e democracia gregos. Os Deputados ao Parlamento Europeu defenderam essencialmente a importância

do registo das infrações ao Estado de direito, os progressos realizados na proteção de jornalistas, independência

do poder judiciário e combate aos desafios populistas em Estados sem essa tradição.

Intervieram nesta sessão dos Deputados da Assembleia da República:

SESSÃO II: A luta contra a corrupção como pilar da democracia

Na segunda sessão, Hanne Juncher, Diretora para a Sociedade de Informação e ação contra o crime e antiga

Secretária-Executiva GRECO do Conselho da Europa, referiu-se ao acompanhamento que o GRECO faz do

trabalho da UE, considerando as recomendações e formato de relatório ideal, com um procedimento sólido de

Nathalie Oliveira (PS), que considerou que a UE estava exposta a um risco sem precedentes por todas

as crises que a afetam, destacando as ideias populistas que criam políticas autoritárias que afetam os

jovens. Referiu ainda os desafios enfrentados pelos países no que se refere ao Estado de direito e as

questões que se põem relativamente ao poder judiciário e à proteção dos jornalistas, considerando que

em muitas democracias na Europa o Estado de direito era posto em causa, devendo a UE defender os

seus valores e combater questões como o terrorismo e a migração ilegal. Apesar dos progressos

referidos no relatório 2023, esclareceu que se deveria agir mais atempadamente quanto aos desafios

e deixou questões relativas à necessidade de sobrepor a segurança ao Estado de direito e se seria

esta uma União de direitos.

Bruno Nunes (CH), que se referiu aos comentários relativos aos perigos do populismo, considerando

esta uma questão de psicologia invertida, referindo-se à situação política em Portugal, à queda do

Governo com base em suspeitas de corrupção, nepotismo e controlo da informação, dando nota da

pressão colocada sobre a justiça para que delibere rapidamente este processo e evite a sua influência

nas próximas eleições. Aludiu ainda à criação de uma lei para limitação do discurso político que seja

considerado discurso de ódio, apelidando estas medidas de ditadura de esquerda, mencionando ainda

o caso da nomeação do procurador europeu português e a sua ligação ao caso de condenação do ex-

Primeiro-Ministro de Portugal e à não conclusão do processo, salientando ainda que os juízes do

Tribunal Constitucional são nomeados pelo Parlamento. Terminou com uma referência às próximas

eleições em Portugal e ao crescimento do partido a que pertence pela falha dos partidos do sistema não

só no seu País, mas em toda a Europa.

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seguimento e bastante cooperação com os Estados do GRECO. Considerou ainda essencial explorar melhor

este tema, podendo a UE considerar a adesão ao GRECO, tendo presentes os impactos negativos da corrupção

e a necessidade do seu combate, nomeadamente com transparência na legislação e ações da sociedade civil.

Vítor Teixeira, da Transparency International, referiu três aspetos essenciais neste tema para a democracia

e o Estado de direito: a utilização das ferramentas disponíveis a nível da Comissão Europeia, dando o caso da

Hungria como exemplo; a interferência externa e o lobby na UE; a necessidade de legislação sólida contra a

corrupção, apresentando a iniciativa da Comissão sobre o tema algumas falhas, nomeadamente no conceito de

corrupção e na definição de vítimas estatais e não estatais. Terminou referindo que as reformas são difíceis,

mas possíveis e necessárias. Till Steffen, Membro do Bundestag da Alemanha, interveio de seguida para

mencionar o registo de transparência existente na Alemanha, a pegada legislativa que funciona como base

indicativa para os grupos de pressão e as sanções dos Deputados no âmbito da corrupção, e Cristian-Augustin

Niculescu-Ţâgârlaş do Senado romeno, deu nota do esforço constante da Roménia relativamente às

recomendações do relatório, considerando a troca de pontos de vista entre os Estados-Membros e com as

instituições muito importante, e aludindo à estratégia anticorrupção implementada no seu país.

Sessão de perguntas e respostas

Nesta sessão de debate, registaram-se observações sobre a importância da cooperação e união na UE para

combater a corrupção, reduzindo-a a um conceito e não uma prática, a nova legislação romena e reforma do

setor judiciário, a relação da corrupção com os problemas económicos nos Estados, a importância de um quadro

regulamentar que assegure a eficácia da sua punição, a estratégia anticorrupção, mas também antifraude,

apresentada pela Hungria, ao caso de corrupção no PE (Qatargate), assim como a relação da parte política com

diversas empresas e a corrupção que daí advém e novas referências à amnistia em Espanha.

CONCLUSÕES

Juan Fernando López Aguilar concluiu o debate e agradeceu a presença dos Deputados.

O vídeo integral da reunião encontra-se disponível aqui.

Assembleia da República, 28 de dezembro de 2023.

A Chefe da Delegação, Deputada Nathalie Oliveira.

–——–

Interveio neste debate o Deputado Bruno Nunes (CH), dando nota da existência de uma teia de corrupção

instalada na Europa, aludindo novamente ao caso português e aos seus contornos, que envolvem o

gabinete do Primeiro-Ministro, reportando a Europol e a Interpol a este mesmo gabinete. Considerou a

legislação branda nestes casos, sem penalizações sérias para os crimes de corrupção, dando como

exemplo o cumprimento de penas por autarcas que podem voltar a ser eleitos para o mesmo cargo, e

referindo-se às declarações de interesses dos membros do Governo e ao envolvimento de outros

membros também em escândalos de corrupção, nomeadamente em projetos que envolvem fundos

europeus, dando nota de que o País se encontra minado de corrupção.

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DELEGAÇÃO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

RELATÓRIO DA PARTICIPAÇÃO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA NA REUNIÃO

INTERPARLAMENTAR, ORGANIZADA PELA COMISSÃO DA CULTURA E DA EDUCAÇÃO (CULT) DO

PARLAMENTO EUROPEU, DEDICADA AO TEMA «EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA EUROPEIA», QUE

DECORREU EM BRUXELAS, NOS DIAS 27 E 28 DE NOVEMBRO DE 2023

Delegação:

– Deputado Pompeu Martins (PS) – Chefe da Delegação – Membro da Comissão de Cultura, Comunicação,

Juventude e Desporto (CCCJD);

– Deputada Cláudia André (PSD) – Membro da CCCJD;

– Deputada Susana Correia (PS) – Membro da Comissão de Assuntos Europeus (CAE);

– Deputado João Barbosa de Melo (PSD) – Membro da CAE.

A assessoria foi prestada pela Assessora Parlamentar Ana Montanha, da equipa de apoio à CCCJD.

Da agenda da reunião, constavam os seguintes pontos:

❖ Sessão de abertura e notas introdutórias

Sabine Verheyen, Presidente da CULT do Parlamento Europeu (PE), dando as boas-vindas a todos os

presentes, explicou que a poucos meses das eleições europeias, a sua Comissão e, apesar da luta difícil e

morosa pelos recursos necessários para educação e cultura, estava cheia de energia para pugnar pela

liberdade, educação, juventude e a cidadania ativa no centro da política europeia com a devida transparência a

nível europeu e nacional. Afirmou que os programas do orçamento de longo prazo da UE para 2021-2027

permitiram consolidar as possibilidades para a cidadania europeia ativa, e para a formação através do

Erasmus+, Corpo Europeu de Solidariedade e os programas Europa Criativa, cujos objetivos são, também, o

apoio e o fomento de todos os programas que defendem a cidadania europeia.

De seguida tomou a palavra José Manuel Bar Cendón,Secretário de Estado da Educação, para apresentar

as principais Conclusões do Conselho, adotadas em 23 de novembro de 2023, sobre a contribuição da educação

e formação para fortalecer os valores europeus comuns e a cidadania democrática, enfatizando a importância

de os fortalecer, os valores europeus e a cidadania democrática, num contexto de desafios e crises complexos

como a pandemia e conflitos nas fronteiras da UE. Ressaltou a necessidade de valorizar a UE, não a encarando

apenas como um mercado comum, mas como uma comunidade de valores, destacando a educação como

fundamental nesse processo. Referindo-se às conclusões do Conselho, resumiu os principais pontos: promover

valores como a dignidade, a liberdade, a democracia, a igualdade e o Estado de direito, destacando o papel

essencial da educação para os robustecer. Citou também acordos anteriores da UE e de instituições

internacionais, enfatizando a diversidade europeia e a necessidade de adaptar os sistemas educacionais para

preservar os valores democráticos em constante mudança. Descreveu o processo participativo no processo de

elaboração das conclusões, mencionando reuniões com especialistas, ministros da educação e visitas a centros

educativos, destacando a importância do intenso trabalho coletivo para a aprovação unânime das mesmas. As

conclusões incluíram apelos aos Estados-Membros para fortalecer os valores comuns europeus, especialmente

na formação profissional, promover a educação para a cidadania digital, reforçar a dimensão europeia na

educação e aprofundar a inclusão nos sistemas educacionais. O Conselho também convidou a Comissão

Europeia a integrar a educação para a cidadania nos processos de políticas de formação e a impulsionar

programas como o Erasmus+. Concluiu, afirmando que os problemas da democracia e da Europa podem ser

resolvidos com mais democracia e mais integração europeia, enfatizando a necessidade de coesão e

modernização através da presença da educação na Europa e da integração europeia na educação.

Pia Ahrenkilde Hansen, Diretora-Geral da DG EAC da Comissão Europeia, destacou a inclusão, o

empoderamento e a resiliência como elementos fundamentais na educação para a cidadania europeia.

Sublinhou que as instituições de ensino são vitais para desenvolver, desde cedo, as competências cívicas,

promovendo inclusão, pensamento crítico e resistência a manipulações. Referiu a importância da cidadania ativa

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como pilar da educação europeia, criando oportunidades para os cidadãos que se empenhem ativamente na

defesa da democracia. Destacou a avaliação do progresso na criação do espaço de ensino para a cidadania

europeia, mencionando os contributos valiosos de diversos participantes. Referiu-se às medidas educativas de

Portugal e Espanha como exemplos inspiradores, especialmente em relação ao currículo, formação de

formadores e avaliação. Enfatizou o papel do Erasmus+ e do Corpo Europeu de Solidariedade na promoção da

identidade europeia, mencionando que a mobilidade contribui significativamente para o sentimento de pertença

e tolerância entre os participantes, realçando o impacto positivo destes programas na formação dos jovens,

fortalecendo valores como paz, dignidade e democracia. Mencionou outras iniciativas importantes, como as

Academias de Professores, que promovem conhecimentos para a educação cívica. Destacou, ainda, a

importância das linhas orientadoras para que os professores possam lidar com desinformação, visando um

consumo mais crítico das redes sociais. Por fim, anunciou os próximos pacotes políticos sobre cidadania e

defesa da democracia, salientando a necessidade de apoiar os jovens na participação ativa, tendo também em

vista as eleições europeias e expressou o compromisso da Comissão em apoiar e fortalecer os alicerces

democráticos da sociedade, buscando soluções positivas e envolvendo ativamente os cidadãos na jornada rumo

ao espaço europeu da educação.

No período do debate intervieram Christos Kellas, do Parlamento grego; Michaela Šojdrová, MEP do PE;

Vytautas Juozapaitis, do Seimaslituano; Vesna Bedeković, do Parlamento croata; Sorca Clarke e Marc Ó

Cathasaigh, da Câmara baixa do Parlamento irlandês e Adrian Hatos, do Senado romeno, que, agradecendo

à Presidência espanhola pelas Conclusões, referiram-se ao sistema de ensino nos respetivos países, explicando

que o apoio da Comissão não era suficiente; abordaram a cultura como alma de um Estado; destacaram os

vários desafios, como o clima, as alterações demográficas, as tecnologias e as tenções geopolíticas e os

impactos das mesmas nos jovens; consideraram que a educação para a cidadania deve fazer parte das políticas

europeias e nacionais e mencionaram a importância da partilha de boas práticas para se perceberem as lacunas

nos sistemas educativos; referiram-se também à insegurança que se vive nas escolas, colocando em perigo

alunos e professores e à necessidade de mais eventos em torno da discussão sobre as questões educativas;

alertaram, também, para o problema da atratividade da carreira do ensino e para os valores democráticos em

crise e questionaram com que estratégias pretende a UE combater os problemas que o ensino enfrenta.

Neste painel, interveio, também, o Sr. Deputado Pompeu Martins (PS) que reconheceu os esforços

de Portugal na promoção da cidadania europeia, destacando atividades e orientações curriculares

nesse sentido. No entanto, ressaltou que a implementação do projeto europeu varia muito entre os

Estados-Membros, enfatizando a necessidade de tornar a presença e os benefícios da UE mais

tangíveis para as comunidades locais. Argumentou que os investimentos comunitários precisam de

ser mais visíveis no quotidiano das pessoas, indo além de simples anúncios ou placas, para que os

cidadãos percebam a verdadeira transformação e importância do apoio da UE em suas vidas. Propôs

uma maior integração do projeto europeu na esfera local para tornar a cidadania europeia mais

palpável, destacando programas como o Erasmus+ como portas de entrada para promover a

participação dos jovens e defendendo a necessidade de haver rostos e exemplos locais que

simbolizem e defendam a realidade da cidadania europeia no dia a dia das comunidades.

Em resposta às intervenções e questões suscitadas, Sabine Verheyen referiu várias estratégias para

envolver os jovens no processo político europeu, destacando a importância de ouvir as suas preocupações, de

estabelecer um diálogo estruturado e de os envolver ativamente. Neste contexto mencionou eventos, no PE,

que reúnem milhares de jovens e o diálogo contínuo com o Fórum Europeu da Juventude. Destacou iniciativas

como o Prémio Carlos Magno e outras parcerias com organizações de jovens para alcançar aqueles que ainda

não se interessam pela Europa. Aludiu à importância da colaboração com os Parlamentos nacionais para lançar

iniciativas conjuntas, uma vez que a educação é uma competência nacional, enfatizando a relevância do contato

com políticos destas áreas nos Parlamentos nacionais. Referiu-se, ainda, ao aumento do orçamento para

programas como o Erasmus+ e os esforços para combater o abandono escolar, fornecendo oportunidades de

formação para os jovens. Por fim, destacou a importância da educação formal e informal para explicar a Europa

aos jovens, fornecendo informações sobre as instituições e as oportunidades na UE para uma compreensão

mais completa do seu significado.

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José Manuel Bar Cendón reconhecendo a dificuldade em abordar todas as intervenções, manifestou

concordância com as recomendações feitas. Mencionou a importância de questões transversais como as

alterações climáticas, a guerra e a pandemia na educação e abordou a necessidade de se formarem mais

professores, reconhecendo preocupações com a falta de professores em vários países europeus. Destacou a

importância da presença da UE nos pequenos municípios, especialmente nas escolas, enfatizando a correlação

entre o abandono escolar e incidentes negativos, como vandalismo, e a necessidade de se fortalecerem os

valores e os canais de participação para os jovens. Expressou preocupação com a vulnerabilidade dos jovens

a mensagens distorcidas nas redes sociais, ressaltando a importância de combater discursos de ódio e promover

a inclusão em todos os países da UE.

Pia Ahrenkilde Hansen reconheceu a importância das recentes Conclusões adotadas pelo Conselho

Europeu e destacou o compromisso da Comissão em analisar de perto essas Conclusões, explorando como

acompanhá-las através de iniciativas, sempre no respeito pelos tratados da UE. Referindo-se às orientações

mencionadas pelo Deputado da Croácia, enfatizou a promoção das competências-chave, especialmente no

contexto digital e da cidadania europeia. Apontou para o uso desses materiais em projetos Erasmus+ e para a

possibilidade de considerar um quadro de referência sobre competências em cultura democrática, alinhado com

as Conclusões. Abordou, ainda, as iniciativas em curso para manter o impulso do Ano Europeu da Juventude,

garantindo que a Comissão está a trabalhar para dar continuidade aos progressos alcançados durante esse

período.

❖ Educação para a Cidadania Europeia: melhores práticas (contexto nacional e europeu)

Neste painel Michaela Šojdrová, MEP da CULT, realçou a relevância da educação para a cidadania,

considerando-a uma prioridade na política educativa da UE. Referiu as recentes recomendações do Conselho

sobre a cidadania democrática e os valores, enfatizando a necessidade de cooperação e de troca de boas

práticas entre os Estados-Membros no desenvolvimento curricular e de como muitas iniciativas nacionais

precisam de ter uma escala mais alargada. Apresentou dois exemplos de boas práticas: um projeto eslovaco

sobre a ação Jean Monnet para estudantes de escolas primárias e secundárias, focado na educação sobre a

UE para alunos e professores, envolvendo 29 mil estudantes e 135 escolas; e o projeto Comenius, envolvendo

universidades de vários países, com o objetivo de fortalecer a cooperação em torno da identidade, cidadania e

valores europeus. Salientou a importância de um mecanismo de análise de revisão a nível europeu para

identificar e aprimorar as boas práticas nos programas da UE, reforçando a necessidade de uma abordagem

sistemática, além de instar a Comissão e os participantes a trabalharem juntos para fortalecer esses projetos

dentro de um enquadramento educativo europeu unificado.

De seguida interveio, por videoconferência, Hans Scheltema, que dirigiu uma petição, há uns meses, à

CULT. Começou por expressar preocupação com a polarização, populismo e exclusão na Europa, destacando

a importância da educação para alcançar a paz, a igualdade e a liberdade. Citou Nelson Mandela, referindo que

a educação é uma poderosa ferramenta de mudança e aludiu à necessidade de se promoverem programas

educativos coerentes, direcionados e duradouros para a educação em valores democráticos na UE,

apresentando o programa The Peaceable School, um programa sistemático de educação para a cidadania nos

Países Baixos, através do qual as crianças aprendem a democracia de forma segura. Descreveu os seis temas

abordados nas aulas semanais para alunos dos 2 aos 12 anos, enfatizando a inclusão, a resolução de conflitos

e a aceitação da diversidade. Destacou o papel crucial das escolas na prática e aprendizagem dos valores

democráticos. Expressou preocupação com a falta de programas sustentáveis de educação para a cidadania na

Europa e fez três pedidos: criar um inventário dos programas existentes, facilitar a adoção e adaptação de

programas bem-sucedidos e oferecer assistência para a sua implementação eficaz. Encerrou, incentivando a

promoção dos valores democráticos e a proteção do espaço constitucional democrático europeu, ressaltando o

papel fundamental das escolas na formação do futuro da Europa.

No período do debate intervieram Bernard Fialaire, do Senado francês; Jan Riise e Niklas Sigvardsson,

do Parlamento sueco; Jurgita Šiugždinienė, do Seimas lituano; Vesna Bedeković, do Parlamento croata;

Alenka Helbl, da Assembleia Nacional eslovena; Marc Ó Cathasaigh da Câmara baixa do Parlamento irlandês;

Jan Berki, da Câmara dos Deputados checa e Oskari Valtola, do Parlamento finlandês, que se referiram à

importância da aprendizagem ao longo da vida e das atividades extra curriculares; do estatuto do estudante

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eleito; da formação de docentes em programas de educação para a cidadania nas escolas, bem como à urgência

em se criarem programas sistemáticos; dando os seus testemunhos sobre as medidas curriculares que estão a

ser implementadas a nível nacional, nos seus países.

Neste painel, interveio a Sr.ª Deputada Cláudia André (PSD), que destacou a importância de se

abordarem os valores da cidadania europeia de forma mais sistemática nas escolas, reconhecendo

que os currículos existentes oferecem alguns conteúdos, mas defendendo a necessidade de

programas mais estruturados. Salientou a importância de se sensibilizarem os professores, tanto na

formação inicial quanto na contínua, para transmitir consistentemente esses valores aos alunos.

Enfatizou que a escassez de professores deve ser encarada como uma oportunidade para integrar a

educação sobre a cidadania europeia e os valores europeus na formação dos docentes, permitindo-

lhes promover esses programas de maneira mais eficaz e consistente nas escolas.

No seguimento do debate, Michaela Šojdrová agradeceu as intervenções sobre o ensino informal,

reconhecendo seu impacto positivo nos jovens. Destacou a criação do Corpo de Solidariedade Europeu para

jovens dos 18 aos 30 anos, promovendo intercâmbios internacionais e oportunidades de aprendizagens.

Enfatizou a importância dessas atividades de tempo livre, oferecendo aos jovens experiências voluntárias

valiosas e a oportunidade de aprenderem mais sobre os seus direitos e sobre as instituições da UE.

Apoiou a proposta de criar um quadro de competências europeu para fortalecer a cidadania europeia,

capacitando os cidadãos a lidarem com a manipulação da informação. Destacou a necessidade de avaliar os

projetos a nível nacional e europeu para que todos os professores possam ter acesso a métodos pedagógicos,

tendo sempre presente as diferentes tradições locais e os valores europeus.

Para concluir, Hans Scheltema frisou a necessidade de serem libertadas verbas, sobretudo para os países

com maiores constrangimentos económicos, para traduzir e adaptar estes programas.

❖ A importância da Educação para a Cidadania Europeia para os jovens

Este painel foi inaugurado por Ilana CICUREL, MEP da CULT, para apresentar o legado do Ano Europeu da

Juventude (EYY) 2022. Enfatizou a importância central da educação para a cidadania europeia, e do diálogo

sobre esse tema, apontando a educação como um pilar fundamental da Europa. A estratégia educativa europeia,

a duplicação do orçamento do Erasmus+ e a criação das Academias de Professores foram mencionadas como

instrumentos de partilha de práticas pedagógicas. Reforçou a necessidade de formar os professores com uma

visão europeia, capacitando-os em áreas como inclusão, digitalização, línguas estrangeiras e valores europeus.

Argumentou que a educação cívica não é uma opção, mas uma obrigação, refletindo os desejos dos cidadãos,

plasmados no decorrer da Conferência sobre o Futuro da Europa. Enfatizou a necessidade de uma governança

europeia na educação cívica, apontando para a disparidade nos programas nacionais de educação cívica entre

os países e a necessidade de uma renovação pedagógica. Destacou, também, a importância da educação cívica

formal e informal, incentivando experiências de solidariedade, nomeadamente através do Corpo Europeu de

Solidariedade. Salientou a importância de reconhecer as competências adquiridas pelos jovens através da

mobilidade europeia, tanto em termos de empregabilidade quanto de desenvolvimento pessoal. Concluiu

observando a recente ambição demonstrada no último Conselho de Ministros da Educação para reforçar a

educação cívica, expressando otimismo quanto ao futuro dessa abordagem na Europa.

No período do debate intervieram Niklas Sigvardsson, do Riksdagen sueco; Balázs Barkóczi, da

Assembleia Nacional húngara; Petra Kammerevert, MEP da CULT, Sabine Verheyen,presidente da CULT;

Ronan Mullen, do Senado irlandês; Céline Calvez, da Assembleia Nacional francesa; Adrian Hatos, do

Senado romeno; Valentín Bueno, do Senado espanhol; e Nasima Razmyar, do Parlamento finlandês, que

consideraram necessário devolver aos jovens a esperança no futuro e proteger os valores europeus.

Defenderam que os conhecimentos sobre a UE deveriam ser integrados nos programas de estudo das escolas

desde cedo, não só no que toca à educação para a cidadania, mas também noutras matérias; mencionaram,

também a importância do papel dos pais e da família na educação, bem como a relevância da educação para a

cidadania para os adultos. Argumentaram a necessidade de uma coordenação entre os vários Estados-Membros

para se estabelecerem objetivos comuns para a educação, sempre no respeito pelas competências e tradições

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nacionais de cada Estado. Justificaram, também, a necessidade de se criarem condições para que os cidadãos

se interessem pelas questões políticas e se empenhem a nível local, e de os formar para o pensamento crítico,

com maturidade, para apresentarem as suas ideias e serem capazes de escutar outras opiniões. Aludiram ao

papel da cultura como vetor dos valores da UE e à necessidade de se compreenderem os processos

democráticos e os mecanismos de tomada de decisão. Em relação às tecnologias, consideraram que se deve

analisar que tipo de conteúdos está a chegar aos mais jovens através das redes sociais, e aludiram às

capacidades socio-emocionais que também podem ser melhoradas com a educação.

Em resposta às intervenções Ilana Cicurel, lembrou que a educação é um investimento, não uma despesa,

salientando a necessidade de ser encarada como uma oportunidade económica e de desenvolvimento de

competências. Enfatizou a riqueza da diversidade europeia e a importância de não se almejar apenas a

harmonização, mas sim enriquecê-la com as melhores práticas europeias, especialmente no que diz respeito à

educação cívica e aos valores europeus. Também ressaltou a ideia de que os jovens, ao perderem a fé na

política, não questionam a sinceridade, mas sim a perceção de poder e de influência. Destacou-se a necessidade

de envolver os jovens na elaboração de políticas europeias e transmitir a educação cívica através de

experiências práticas, transformando as salas de aula em espaços que simulem parlamentos nacionais ou

europeus. Por fim, mencionou um aumento na intenção de participação dos jovens nas eleições europeias,

enfatizando a importância de manter essa tendência e a necessidade de considerar a educação ao longo da

vida, incluindo a dimensão cívica, com novos instrumentos.

Também Sabine Verheyen interveio a título de conclusão, enfatizando a importância da melhoria da

educação cívica tanto a nível europeu quanto nacional, ressaltando a necessidade de se dar maior destaque e

investimento nessa área. Abordou a questão do financiamento para programas de formação, realçando a

importância de contar com professores bem formados e empenhados na educação cívica. Destacou que,

embora muitos professores estejam empenhados, a qualidade da educação cívica não é consistente em toda a

Europa, o que levanta a questão sobre se os alunos recebem uma educação de qualidade nessa área.

Argumentou que a educação para a cidadania é tão importante quanto o acesso à cultura, às artes e às

disciplinas técnicas, defendendo uma abordagem holística na educação. Abordou também a questão do

investimento na educação através do programa NextGenerationEU, expressando a preocupação de que muitos

Estados-Membros possam não estar a direcionar, de modo adequado, esses fundos para a educação. Concluiu,

ressaltando a importância da participação ativa na política e incentivando um maior interesse e compreensão

sobre o seu funcionamento, sugerindo um caminho a percorrer nos próximos anos tanto a nível nacional quanto

europeu para melhorar a educação cívica.

❖ Papel do PE na implementação das ações de Educação para a Cidadania Europeia

Marcos Ros Sempere, MEP da CULT, na sua apresentação sobre o trabalho do PE na aplicação de medidas

para a educação dos cidadãos, enfatizou a importância da educação para a cidadania na Europa, ressaltando

a necessidade de uma nova geração comprometida politicamente. Destacou alguns desafios a enfrentar como

a xenofobia, o nacionalismo e a falta de conhecimento sobre a UE. Abordou três pontos principais: o estado

atual da educação para a cidadania na UE, políticas da UE nesse domínio e recomendações aprovadas pelo

PE. Destacou a necessidade de um equilíbrio entre abordagens nacionais e europeias nos currículos escolares,

bem como maior acesso à educação para a cidadania, principalmente em áreas rurais e desfavorecidas.

Apontou, também, a importância de traduzir as políticas em ações concretas, enfatizando o reforço de esforços

nacionais e europeus para renovar a educação para a cidadania. A título de conclusões finais apelou ao

desenvolvimento de uma estratégia europeia centrada em valores democráticos, ressaltando a importância da

participação dos jovens nos processos democráticos da UE, especialmente tendo em vista as próximas eleições

europeias em 2024.

Durante o período de debate intervieram Patrick Reslow e Jan Riise, do Riksdagen sueco; Vilija

Targamadzė, do Seimas lituano; Andrea Bocskor, Petra Kammerevert, Asim Ademov, Laurence Farreng e

Domènec Ruiz Devesa, MEP da CULT; Paula Somalo, do Senado espanhol; e Česlavs Batņa, do Parlamento

da Letónia, que defenderam que os currículos nacionais são competências dos Estados-Membros e deve haver

confiança de que estes transmitem os valores europeus; referiram a importância de se adaptarem os currículos

às preocupações das novas gerações, nomeadamente no que diz respeito às questões ambientais. Defenderam

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a necessidade de se preservarem as tradições nacionais, mas também de se transmitirem conhecimentos sobre

a UE, Europa e a sua história, para uma visão global da mesma que também contribui para uma melhor

compreensão da diversidade. Também se aludiu à inteligência artificial, à necessidade de se trabalharem as

competências digitais, à importância do diálogo e do papel das famílias na transmissão dos valores ensinados

nas escolas. A falta de professores, bem como as causas dessa escassez foram também referidas, assim como

a questão de a Hungria ter sido afastada do Erasmus+.

Neste painel, interveio, também, a Sr.ª Deputada Susana Correia (PS), que saudou a escolha do

tema da cidadania europeia para a reunião e elogiou a Presidência espanhola por ter colocado o foco

nessa questão. Destacou a Conferência sobre o Futuro da Europa, ocorrida entre 2021 e 2022,

enfatizando a participação significativa dos jovens no debate sobre os desafios e prioridades da UE.

Mencionou programas locais bem-sucedidos em Portugal, como o Projeto Jovem Autarca,

Assembleias Municipais Jovens e o Parlamento dos Jovens, ressaltando a importância de se

aproveitarem essas iniciativas como plataformas para promover questões europeias ausentes nas

agendas locais. Argumentou que os desafios atuais, em termos de cidadania europeia, devem

despertar a atenção para práticas já existentes e a utilização da proximidade e exemplos positivos

para informar os jovens e envolvê-los em escolhas políticas de maior qualidade, indo além dos

períodos eleitorais. Por fim, sublinhou a necessidade de se encontrarem mecanismos que aumentem

a frequência, interação e eficácia na abordagem do tema da cidadania europeia como uma forma de

fortalecer e aprimorar a democracia.

No seguimento das intervenções, Sabine Verheyen destacou a necessidade de uma «caixa de ferramentas

europeia» que reúna as melhores práticas educativas dos Estados-Membros, respeitando a autonomia dos

currículos nacionais. Enfatizou a importância de incluir a Europa nos currículos escolares e expressou

preocupação com a falta de participação dos alunos em programas educacionais sobre a UE. Salientou a

importância de uma abordagem global na educação em história, reconhecendo a necessidade de entender

perspetivas diferentes para uma compreensão mais ampla e equilibrada da história, citando exemplos como a

divergência no ensino da Primeira Guerra Mundial em diferentes países, considerando essa mudança de

perspetiva essencial para uma compreensão mais completa da história a nível global.

Por sua vez, Marcos Ros Sempere enfatizou a necessidade de alcançar uma educação para a cidadania

eficaz no sistema educacional europeu. Referiu-se ao impacto positivo das Escolas Embaixadoras do PE para

o conhecimento da UE pelos alunos e destacou o papel crucial do programa Erasmus+ na promoção da

cidadania europeia. Salientou, também, a luta para triplicar o orçamento do Erasmus+, buscando torná-lo mais

inclusivo e acessível a estudantes com necessidades financeiras. Destacou a importância de uma educação

para a cidadania em todas as fases da vida, a necessidade de compreender a arquitetura institucional da UE e

defendeu a consciência dos valores democráticos como a principal valia dessa educação. Explicou as limitações

do PE em legislar sobre educação, decorrentes dos Tratados da UE, ressaltando o apoio dado a programas

educativos. Mencionou o debate em curso sobre a ampliação das competências da UE na educação,

proveniente da Conferência sobre o Futuro da Europa, demonstrando apoio a esse debate, bem como a ações

futuras nesse sentido. Em relação ao afastamento da Hungria do programa Erasmus+ explicou que o

cumprimento do Estado de direito é uma exigência para receber fundos para o programa.

❖ A importância da Cidadania Europeia nas eleições para o PE de 2024

Jaume Duch Guillot, Diretor-Geral da DG COMM do PE, delineou a estratégia de comunicação para

promover a consciência e a participação dos cidadãos nas eleições europeias. Destacou a importância dessas

eleições para fortalecer a noção de cidadania europeia e detalhou programas educacionais, como as Escolas

Embaixadoras do PE, o Euroscola e os Encontros Europeus da Juventude, que visam explicar a democracia

europeia, direcionados principalmente aos jovens. Enfatizou o papel da DG COMM na informação e mobilização

dos cidadãos, destacando o aumento da participação nas eleições anteriores, salientando a importância da

cooperação com diversas entidades, como os Parlamentos nacionais, os média, os partidos políticos e a

sociedade civil, para ampliar o debate sobre as eleições europeias. Também apresentou a estratégia «Vamos

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Votar» como forma de reforçar a democracia e o sentimento de pertença à Europa. Expressou otimismo em

relação à crescente consciência dos cidadãos sobre o impacto das decisões tomadas em Bruxelas e Estrasburgo

e ressaltou a importância de incentivar a participação dos cidadãos por meio de várias iniciativas, como o site

eleitoral e a plataforma Remind Me to Vote.

No período de debate intervieram Kestutis Vilkauskas, do Seimas lituano; Domènec Ruiz Devesa, MEP

da CULT; Valentín Bueno, do Senado espanhol; Balázs Barkóczi, da Assembleia Nacional húngara; Alenka

Helbl, da Assembleia Nacional eslovena, que consideraram que existe um ceticismo dos jovens em relação à

Europa, nomeadamente por não a identificarem com um projeto a nível global e pela interpretação enviesada

da «burocracia europeia», o que conduz à perda de identidade europeia, e por isso é tão urgente a formação de

professores em educação para a cidadania europeia. E o papel na UE aqui é de apoio aos Estados-Membros e

não de se substituir a eles. Aludiram à necessidade de luta contra as notícias falsas e de capacitar os professores

nestas matérias. Referiram as Escolas Embaixadores do PE como um instrumento de extrema relevância e que,

por isso, deve ser reforçado e explorado. Em relação à idade mínima para votar passar dos 18 para os 16 anos,

consideraram que os jovens têm de ser preparados para terem a possibilidade de se informarem e de se

sentirem de facto capazes para votar.

Neste painel, interveio, também, o Sr. Deputado João Barbosa de Melo (PSD), que enfatizou que a

educação é um assunto nacional num contexto de 27 países com diversas culturas, religiões, sistemas

de ensino e estruturas curriculares distintas. Destacou a importância e o desafio de se preservarem

essas diferenças e de as entender como um ativo positivo sem que as mesmas comprometam a UE.

Expressou a preocupação de que as abordagens comunitárias atuais se focam mais em diretrizes

centralizadas para a educação cívica do que em projetos que respeitem e integrem as diferenças

culturais de forma construtiva. Ressaltou a necessidade de se cultivarem valores comuns, como a

tolerância, o Estado de direito e o respeito pelo outro, para fortalecer o ideal europeu. Alertou para o

risco de demasiada centralização e uniformização da educação, o que poderá gerar reações

fraturantes e perigosas. Enfatizou a importância de se promover uma maior participação política,

especialmente entre os jovens, e reconheceu a baixa participação nas eleições como um sinal de

falha na promoção do interesse e envolvimento cívico. Concluiu reforçando a importância de respeitar

as diferenças e promover projetos que se construam da base para o topo para fortalecer o sentimento

de pertença à UE.

Em resposta às questões suscitadas durante o debate, Jaume Duch Guillot destacou a cooperação entre

instituições para apoiar os esforços educativos nos Estados-Membros, reconhecendo a competência nacional

na educação e a variação regional nos sistemas educativos. Salientou a importância de introduzir elementos

europeus nos currículos escolares e nas atividades extracurriculares para ajudar os jovens a compreenderem

sua identidade europeia e a responsabilidade política. Referiu-se ao aumento significativo na participação

eleitoral jovem em 2019, impulsionado pelo Brexit e pelas preocupações climáticas, e antecipou o impacto

potencial das próximas eleições, especialmente com a inclusão do voto para jovens a partir dos 16 anos em

alguns países. Abordou o programa das Escolas Embaixadoras, expressando o desejo de o manter e expandir.

Falou também na luta contra a desinformação e notícias falsas, destacando os esforços legislativos levados a

cabo para responsabilizar as plataformas de redes sociais pela verificação de conteúdo. Ressaltou a importância

de capacitar os meios de comunicação, elevar a literacia digital das famílias e das escolas e promover redes de

verificação de factos para combater a desinformação, mencionando, ainda, a cooperação entre o PE e o

Parlamento da Ucrânia no fortalecimento das políticas de comunicação e na luta contra a desinformação.

A título de conclusões finais, Sabine Verheyen destacou algumas iniciativas legislativas e outros projetos

que visam garantir a independência dos meios de comunicação e lidar com a informação falsa. De seguida fez

uma pequena síntese dos temas tratados durante a reunião, nomeadamente a importância da educação para a

cidadania em todos os níveis de ensino, formal e informal, incluindo a aprendizagem ao longo da vida; o papel

crucial dos professores e a necessidade de melhorar a sua formação, bem como o envolvimento das famílias,

comunidades e organizações na promoção da participação cívica; os programas da UE, como o Erasmus+,

como fundamentais para uma cidadania ativa; a necessidade de uma comunicação eficaz sobre o papel positivo

da UE, especialmente para os jovens, e a importância de enfrentar desafios globais, como as questões

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ambientais e alterações climáticas, através da cooperação internacional; a relevância do debate entre os

Parlamentos nacionais e o PE, sublinhando a colaboração necessária entre os níveis europeu e nacional.

Terminou agradecendo a todos os participantes e enfatizando a importância do trabalho em equipa para

enfrentar desafios tão complexos.

Os vídeos da reunião encontram-se disponíveis aqui e aqui.

Assembleia da República, 5 de janeiro de 2024.

O Chefe da Delegação, Deputado Pompeu Martins.

A DIVISÃO DE REDAÇÃO.

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