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Sexta-feira, 12 de janeiro de 2024 II Série-D — Número 15

XV LEGISLATURA 2.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2023-2024)

S U M Á R I O

Delegações da Assembleia da República: — Relatório da participação da Assembleia da República na Reunião Interparlamentar da Subcomissão dos Assuntos Fiscais (FISC) do Parlamento Europeu, subordinada ao tema «O futuro da tributação na UE: desafios futuros e mudanças necessárias», que decorreu em Bruxelas, nos dias 24 e 25 de outubro de 2023.

— Relatório da participação da Assembleia da República na LXX Reunião Plenária da Conferência dos Órgãos Especializados em Assuntos da União dos Parlamentos da União Europeia (COSAC), que decorreu em Madrid, nos dias 26 a 28 de novembro de 2023.

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DELEGAÇÕES DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

RELATÓRIO DA PARTICIPAÇÃO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA NA REUNIÃO

INTERPARLAMENTAR DA SUBCOMISSÃO DOS ASSUNTOS FISCAIS (FISC) DO PARLAMENTO

EUROPEU, SUBORDINADA AO TEMA «O FUTURO DA TRIBUTAÇÃO NA UE: DESAFIOS FUTUROS E

MUDANÇAS NECESSÁRIAS», QUE DECORREU EM BRUXELAS, NOS DIAS 24 E 25 DE OUTUBRO DE

2023

A Delegação da Assembleia da República integrou os seguintes Deputados:

– Deputado Carlos Brás (PS), Comissão de Orçamento e Finanças – Chefe da Delegação;

– Deputado Alexandre Simões (PSD), Comissão de Orçamento e Finanças;

– Deputado Rui Afonso (CH), Comissão de Orçamento e Finanças.

A assessoria na reunião foi prestada por Catarina Ribeiro Lopes, Representante da Assembleia da República

junto das instituições da União Europeia.

Esta reunião organizada pelo Parlamento Europeu (PE) encontrava-se inserida no Simpósio Fiscal da UE,

promovido em conjunto com a Comissão Europeia. Neste sentido, os membros dos Parlamentos nacionais foram

também convidados a participar no primeiro dia de trabalhos, além da reunião promovida pela Subcomissão

FISC no dia seguinte. Da agenda da reunião, subordinada ao tema «O futuro da tributação na UE: desafios

futuros e mudanças necessárias», constavam as seguintes sessões:

Dia 24 de outubro

No primeiro dia foram debatidos temas como o IVA no mundo digital, o imposto sobre o património, a

combinação de impostos para o futuro, a tomada de decisões no domínio da fiscalidade e a fiscalidade da

economia no mercado único.

O simpósio foi aberto pelo Diretor-Geral da Comissão Europeia para a Fiscalidade e a União Aduaneira,

Gerassimos Thomas, que traçou como objetivo da conferência abordar os problemas atuais e desafios futuros

no domínio da fiscalidade, salientando que a UE aprendeu a responder de forma decisiva e eficaz às várias

crises, embora se mantenham os desafios de gestão associados a vários riscos. Apontou a dívida pública como

um problema na maioria dos Estados, apelando à utilização de políticas fiscais de forma sensata e em

combinação com outras medidas, assim como a uma cooperação internacional aprofundada neste domínio,

defendendo ainda uma maior coordenação das políticas entre os Estados-Membros da UE e a integração na

introdução conjunta de tecnologias digitais no domínio da fiscalidade.

Na intervenção seguinte, o Diretor do Departamento de Finanças Públicas do Fundo Monetário Internacional

(FMI), Vítor Gaspar, começou por apresentar dois cenários possíveis para o futuro do mundo no domínio

financeiro e fiscal: defendeu um cenário de cooperação e confiança internacional e sublinhou que um cenário

de concorrência internacional seria prejudicial para todos a longo prazo. Destacou a elevada despesa pública

dos países da UE como um desafio atual, debateu uma taxa de imposto comum a nível da UE e demonstrou

esperar que o papel da UE no domínio da tributação aumente no futuro, devendo esta esforçar-se por se tornar

líder mundial no domínio da definição das tendências da política fiscal.

Nas sessões de discussão paralelas, destaca-se a participação na sessão dedicada ao IVA no mundo digital,

tendo os diversos oradores abordado o impacto da globalização e digitalização da tributação. A Diretora-Geral

da Autoridade Tributária e Aduaneira de Portugal, Helena Alves Borges, saudou a iniciativa IVA na Era Digital

(ViDA) apresentada pela Comissão Europeia, salientando o apoio generalizado das administrações fiscais à

proposta e a necessidade de alguns ajustamentos técnicos. Referiu que Portugal era um forte apoiante da

comunicação em tempo real nesta área, tendo sido um dos primeiros a adotar esse reporte rápido, há mais de

10 anos. Recordou que a utilização dos dados do IVA vai muito além do seu controlo, como a verificação do

imposto sobre o rendimento das pessoas singulares (IRS) ou a oferta de diversos serviços aos contribuintes,

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como o pré-preenchimento de várias declarações. Concluiu com um apelo geral à simplicidade e, mencionando

a operação ADMIRAL, a maior fraude ao IVA investigada na UE, salientou o facto de o ViDA poder oferecer uma

imagem completa da fraude ao IVA, acrescentando o elemento de controlo cruzado que falta atualmente aos

relatórios. Intervieram ainda o Comissário da Administração Fiscal e Aduaneira da Hungria, Ferenc Vagujhelyi,

que apresentou o seu sistema avançado de faturação digital e de tributação do IVA em tempo real, salientando

a importância de os serviços fiscais se manterem em contacto com os desafios modernos e receberem formação

contínua; a representante da European Tax Adviser Federation (ETAF), Stefanie Becker, que sublinhou a

importância da proposta de diretiva ViDA, que permitirá às empresas reduzir os seus custos contabilísticos e

afetar mais fundos a investimentos empresariais, aumentando a transparência jurídica neste domínio; a Diretora

da Amazon para Public Policy EU – Leading Amazon’s Fiscal and Customs policy engagement in Brussels and

across EU, Sophie Claessens, que defendeu que o mercado comum da UE ainda não foi totalmente realizado e

que a simplificação e digitalização da tributação do IVA a nível da UE pode aumentar ainda mais a cooperação

internacional, devendo as próprias empresas ser envolvidas no processo de introdução de inovações; e o

Deputado ao PE Ondrej Kovarik, que deu nota das grandes diferenças existentes entre os Estados-Membros no

cálculo do IVA.

Os sumários das discussões havidas nas restantes sessões paralelas encontram-se disponíveis aqui.

Dia 25 de outubro

O segundo dia da conferência teve lugar no Parlamento Europeu e começou com discursos introdutórios do

primeiro Vice-Presidente do PE, Othmar Karas, que congratulou a dimensão parlamentar neste simpósio,

destacou a necessidade de mais poderes da UE no domínio da fiscalidade, de um papel mais importante dos

Parlamentos na tomada de decisões a nível da UE e defendeu alterações aos tratados da UE para melhor

responder aos desafios atuais. Elencou ainda os principais desafios nesta sede, como as lacunas fiscais, a

prevenção da evasão fiscal e a adoção de um nível mínimo de tributação das empresas internacionais na UE; e

do presidente da Subcomissão dos Assuntos Fiscais do PE, Paul Tang, que apresentou como desafios a

distribuição justa dos impostos, a prevenção da evasão fiscal, a utilização do mecanismo contra os paraísos

fiscais e a adoção de acordos internacionais para a troca de informações fiscais, acrescentando ainda a

necessidade de alterar o método de votação na UE para um sistema de maioria qualificada, permitindo criar um

sistema fiscal eficiente e justo a nível da UE.

Seguiu-se a intervenção do Comissário Europeu para a Economia, Paolo Gentiloni, que aludiu às políticas

fiscais como um dos instrumentos mais importantes para lidar com as crises, sendo necessária uma dimensão

europeia mais forte neste domínio. Salientou a importância da proposta da Diretiva ViDA e da digitalização e da

adaptação das políticas fiscais aos desafios atuais.

Por fim, a Ministra da Economia e da Digitalização de Espanha, Nadia Calviño, sublinhou que a Presidência

espanhola continuava a cumprir os compromissos do Conselho no domínio da fiscalidade, mencionando os

custos cada vez mais elevados do financiamento dos sistemas e apelando, por conseguinte, a políticas

orçamentais e fiscais responsáveis.

A primeira sessão de debate foi dedicada ao tema relativo à próxima geração de tributação e mudanças

estruturais. O Secretário de Estado das Finanças de Espanha, Jesús Gascón Catalán, sublinhou a necessidade

de medidas que tornem a economia eficiente e a tributação justa, apelando a uma maior coordenação das

medidas a nível da UE. Por outro lado, o Vice-Ministro das Finanças italiano, Maurizio Leo, frisou que a

demografia é atualmente um dos principais desafios da UE, sendo necessário começar a tributar as famílias e

os agregados familiares de forma mais justa, adaptar os impostos às novas formas de trabalho e regular a

tributação do trabalho transfronteiriço. A Secretária-Geral da ETUC, Esther Lynch, destacou a necessidade de

medidas que possam ser aplicadas na prática e que produzam efeitos justos para os trabalhadores, enquanto o

presidente da BusinessEurope, Fredrik Persson, alertou para o facto de os impostos também poderem ser

utilizados como um instrumento estratégico na geopolítica, sendo necessário adotar cuidadosamente políticas

fiscais e proteger a competitividade da economia europeia, com empenho no crescimento e no investimento. O

debate neste painel desenvolveu-se em torno da redução dos impostos sobre o trabalho, luta contra a evasão e

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elisão fiscal, novas ferramentas para investimentos em infraestruturas que favoreçam a transição energética,

cooperação entre países em matéria fiscal, incentivos fiscais a práticas ecológicas, equilíbrio entre as receitas,

o crescimento económico e a equidade na tributação e eficiência do sistema tributário com recurso à tecnologia.

O segundo debate incidiu sobre o tema dos processos de decisão no domínio da fiscalidade e a cooperação

a nível nacional, europeu e internacional, tendo sido destacada a importância da cooperação entre as

administrações fiscais a todos os níveis. A Diretora-Geral dos Assuntos Fiscais da Eslovénia, Tina Humar,

salientou ser necessário evitar práticas fiscais prejudiciais a nível mundial, assegurar a nível europeu o

funcionamento do mercado comum e deter a nível nacional sistemas que os contribuintes compreendam e em

que confiem, apoiando a Eslovénia as negociações e a cooperação no domínio da fiscalidade internacional no

âmbito da OCDE. A Vice-Presidente do PE, Evelyn Regner, considerou que a UE se podia tornar pioneira no

domínio do sistema de tributação internacional e apelou a mudanças no processo de tomada de decisões a nível

da UE, sobretudo a adoção da votação por maioria qualificada no Conselho. O presidente da Comissão de

Finanças da Assembleia Nacional de França, Eric Coquerel, aludiu à necessidade de regulamentar a fuga ao

pagamento de impostos por parte das empresas internacionais, defendeu uma solução para a tributação do

património e uma tributação adequada nos países de trânsito, seguindo-se a intervenção de Vítor Gaspar (FMI),

que defendeu uma abordagem global para enfrentar os desafios globais nos domínios fiscais, considerando a

tributação adequada como um pré-requisito para o crescimento inclusivo e sustentável. Por fim, a presidente da

ICRICT, Jayati Ghosh, considerou que o sistema fiscal mundial não funcionava, razão pela qual os cidadãos de

todo o mundo não tinham acesso suficiente aos serviços públicos, defendendo por isso a adoção de uma taxa

mínima de imposto global e a regulamentação internacional do sistema a nível da Organização das Nações

Unidas. O debate que se seguiu centrou-se na dicotomia entre o alargamento da UE e o aprofundamento da

integração, nomeadamente em matéria de fiscalidade, na necessidade de a UE permanecer atrativa e

competitiva, também através da sua política fiscal, na governação e no papel transformador da faturação

eletrónica, assim como no intercâmbio de informações entre os Estados-Membros e a sua capacidade de lidar

com novos fenómenos, como as criptomoedas ou os nómadas digitais.

A terceira sessão versou sobre o tema da melhoria do enquadramento fiscal das empresas no mercado único

da UE. Georg Geberth, Vice-Presidente da BusinessEurope, salientou que a aplicação das regras fiscais às

empresas é muito exigente, uma vez que requer muitos recursos, pessoal e apoio informático, tendo na última

década as empresas feito grandes progressos e reformas no domínio da garantia de uma tributação mais justa.

A Deputada ao PE Isabel Benjumea destacou os aspetos positivos da competitividade fiscal, que precisa de

ser regulada através da harmonização das regras a nível da UE, adotando-se medidas fiscais que não

representem um encargo administrativo adicional para as empresas. A Secretária-Geral Adjunta da OCDE,

Fabrizia Lapecorella, considerou que uma melhor eficácia nesta matéria depende da dotação das

administrações fiscais de instrumentos, poderes e informações adequados, enquanto que Maria-Gabriela Horga,

Vice-Presidente da Comissão do Orçamento, Finanças e Bancos da Roménia, sublinhou ser necessária uma

coordenação das políticas fiscais nacionais para garantir o funcionamento do mercado comum e uma melhor

adaptação aos desafios digitais, com a simplificação das regras administrativas e a redução dos encargos

administrativos para as empresas. O CEO do CEPS, Karel Lannoo, frisou que um dos principais desafios

Interveio neste painel o Deputado Carlos Brás (PS), que destacou que a conjuntura internacional

convocava a UE a desenvolver um projeto comum, com maior integração, embora esta tenha sido

relegada para segundo plano pelo desígnio do alargamento. Esclareceu assim que estes dois desafios

não são antagónicos e não devem ser preteridos um em relação ao outro, devendo coexistir e avançar

juntos. Destacou também que o futuro da UE implicava alienar uma parte da soberania nacional para

que a UE pudesse ter capacidade orçamental além das contribuições dos Estados-Membros, sendo o

aumento dos recursos próprios o caminho a seguir. Sublinhou que estas matérias não põem em causa

a identidade dos povos nem comprometem nenhum dos Estados, mas são relevantes para o processo

de integração europeia. Destacou ainda a fiscalidade verde como um fim em si mesmo, além de fonte

de financiamento comum, e questionou os oradores sobre o possível comprometimento da agenda da

integração e aprofundamento pela agenda do alargamento.

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continua a ser a reorientação dos lucros das grandes empresas internacionais, razão pela qual seria necessário

um sistema fiscal unificado a nível da UE, suficientemente flexível para não prejudicar as pequenas e médias

empresas. Após as intervenções foram colocadas questões sobre a possibilidade de uma tributação justa na UE

sem uma política fiscal única e um sistema unificado de auditoria fiscal, o desenvolvimento de novos

instrumentos para a partilha de informações fiscais entre os Estados-Membros e o reforço da luta contra a fraude

fiscal, bem como a utilização dos impostos nos orçamentos sem prejudicar a competitividade, o bem-estar social

e a igualdade fiscal entre gerações.

O último painel de debate, dedicado ao papel da fiscalidade no âmbito da competitividade e equidade, contou

com as intervenções de Chiara Putaturo, assessora política da Oxfam EU para desigualdade e tributação, que

se referiu às três dimensões da concorrência fiscal desleal: é prejudicial para as pequenas e médias empresas

(PME), que não podem tirar partido do planeamento fiscal internacional da mesma forma que as empresas

multinacionais, os países com baixos rendimentos estão mais expostos à evasão fiscal do que os países com

rendimentos mais elevados, a concorrência entre contribuintes pode ser distorcida e existe uma tendência para

aumentar a tributação do trabalho e do consumo em vez do capital. Propôs assim tributar o IRC no país onde a

atividade económica é exercida, tornar a tributação das empresas mais progressiva e preservar a equidade no

centro dos processos de decisão no domínio da fiscalidade. Seguiu-se Ben Butters, CEO Eurochambres, que

destacou a complexidade dos sistemas fiscais da UE, as elevadas taxas de imposto sobre as sociedades e a

forma como prejudicam o crescimento e a competitividade da UE, referindo que uma taxa de imposto baixa pode

traduzir-se em receitas fiscais elevadas se for bem gerida e se as derrogações ou incentivos a setores

específicos forem limitados, e Gilles Boyer, Deputado ao PE, que se referiu aos problemas da votação por

unanimidade no Conselho em matéria fiscal e à necessidade de evitar concorrência fiscal entre os Estados. A

sua colega do PE, Kira Marie Peter-Hansen, defendeu que a concorrência fiscal é o oposto da justiça fiscal e

que a concorrência fiscal não é saudável se os países competirem para atrair investimentos a curto prazo, em

vez de se concentrarem nas necessidades do seu sistema de proteção social e do investimento público, o que,

por sua vez, pode melhorar a competitividade de um país, apelando ainda a uma mudança da tributação do

trabalho para a tributação do capital, do ambiente e do património, e Daniel Bunn, Presidente e CEO da Tax

Foundation, concluiu que as políticas fiscais devem ser simples, neutras, transparentes e estáveis, citando o

exemplo da Estónia, entendendo que a concorrência fiscal devia ser analisada em conjunto com os impostos e

as despesas e reduzida a complexidade dos sistemas fiscais nacionais.

O vídeo integral da reunião encontra-se disponível aqui e aqui.

Interveio nesta sessão o Deputado Rui Afonso (CH), que se referiu à eficiência da cooperação entre

os Estados como forma de combate à fraude, sendo, no entanto, necessário combater práticas que

possam prejudicar esta cooperação e comprometer possíveis soluções. Referiu que a fraude e evasão

fiscal além das fronteiras dos Estados-Membros significavam grandes perdas orçamentais, causando

distorções, afetando a competitividade e o funcionamento do mercado interno. Questionou assim os

oradores sobre a possibilidade de criação de um mecanismo de comunicação que desempenhe um

papel fundamental no reforço dos sistemas fiscais no mercado único.

Neste último painel, interveio o Deputado Alexandre Simões (PSD), tendo dado nota da importância da

competitividade fiscal e a posição pouco favorável de Portugal nesta sede, nomeadamente

encontrando-se no topo da lista da tributação mais elevada às empresas, resultando em estagnação

económica. Comparou esta realidade com as economias que tomaram a decisão de diminuir a

tributação das empresas, dando nota do seu crescimento. Colocou assim ao painel a questão de saber

se a tributação das empresas é a tributação mais prejudicial economicamente e se existe relação direta

entre tributação das empresas e a competitividade das economias, tomando como exemplo Portugal.

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Assembleia da República, 28 de dezembro de 2023.

O Chefe da Delegação, Deputado Carlos Brás.

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DELEGAÇÃO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

RELATÓRIO DA PARTICIPAÇÃO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA NA LXX REUNIÃO PLENÁRIA DA

CONFERÊNCIA DOS ÓRGÃOS ESPECIALIZADOS EM ASSUNTOS DA UNIÃO DOS PARLAMENTOS DA

UNIÃO EUROPEIA (COSAC), QUE DECORREU EM MADRID, NOS DIAS 26 A 28 DE NOVEMBRO DE 2023

– Delegação da Assembleia da República:

Presidente da Comissão de Assuntos Europeus, Deputado Luís Capoulas Santos (PS);

Membro da Comissão de Assuntos Europeus, Deputado João Paulo Rebelo (PS);

Membro da Comissão de Assuntos Europeus, Deputada Nathalie Oliveira (PS);

Membro da Comissão de Assuntos Europeus, Deputada Maria Emília Apolinário (PSD);

Membro da Comissão de Assuntos Europeus, Deputado Firmino Marques (PSD);

Membro da Comissão de Assuntos Europeus, Deputado Bruno Nunes (CH).

– Assessoria:

Catarina Ribeiro Lopes, Representante Permanente da Assembleia da República junto das instituições

europeias;

Gonçalo Sousa Pereira, Assessor Parlamentar da Comissão de Assuntos Europeus.

I. Enquadramento

Nos termos do Regulamento da COSAC (ponto 2.1) «será organizada uma reunião plenária da COSAC

durante cada Presidência, tendo em conta as diferentes práticas parlamentares dos Estados-Membros, os

períodos eleitorais e os dias feriados dos Estados-Membros». Neste contexto, o Parlamento espanhol organizou

entre os dias 26 e 28 de novembro de 2023, em Madrid, no âmbito da dimensão parlamentar da respetiva

Presidência do Conselho da União Europeia, a LXX Reunião Plenária da COSAC. Esta reunião contou com a

participação dos Parlamentos nacionais da União Europeia (UE), do Parlamento Europeu (PE) e dos

Parlamentos da Albânia, Bósnia-Herzegovina, Macedónia do Norte, Sérvia, Turquia, Ucrânia, Andorra, Arménia,

Geórgia, Islândia, Kosovo1, Mónaco, Noruega, Suíça e Reino Unido, conforme consta da lista de participantes.

II. Da LXX reunião da COSAC

Do programa da reunião, constavam os pontos que seguidamente se apresentam:

Sessão de abertura

Abriu a sessão José Ignacio Landaluce, Copresidente da delegação do Parlamento espanhol à COSAC,

que deu as boas-vindas a todas as delegações presentes em Madrid para participarem na LXX COSAC, tendo

recordado que o objetivo da COSAC era reforçar o papel dos Parlamentos nacionais como veículo de expressão

1 A designação Kosovo está em conformidade com a Resolução n.º 1244/1999 do Conselho de Segurança das Nações Unidas e com o parecer do TIJ sobre a declaração de independência do Kosovo.

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das preocupações sociais.

Destacou que a União Europeia (UE) devia manter a unidade em relação ao conflito entre Israel e a Palestina,

tal como teve com a Ucrânia, acrescentando que os civis eram aqueles que estavam a suportar a maior parte

do sofrimento. Referiu ainda os principais temas previstos na ordem do dia, nomeadamente, o novo Pacto sobre

Migração e Asilo, a crise energética e a transição ecológica e o aumento da autonomia estratégica da economia

da UE. Concluiu citando um provérbio africano que diz o seguinte: «Se queres ir depressa, vai sozinho, se queres

ir longe, vai junto», manifestando a sua esperança de que a LXX COSAC tornasse possível a aproximação dos

membros do Parlamento aos cidadãos.

De seguida, interveio o Presidente do Senado espanhol, Pedro Rollán Ojeda, que recordou o facto de ter

sido precisamente em Madrid que a ideia da COSAC tinha sido concebida em 1989, acrescentando que durante

mais de três décadas, a sociedade tinha evoluído e os desafios que a UE tinha enfrentado tinham sido muito

diversos, sempre com o envolvimento dos Parlamentos nacionais e do Parlamento Europeu na procura de

soluções para as políticas da UE. Referiu que a Europa continuava a enfrentar muitas questões e problemas

que deviam ser enfrentados conjuntamente pelos Estados-Membros e pelos países candidatos através do

diálogo, da cooperação e da generosidade, procurando o bem comum da Europa pois apenas com uma Europa

forte e unida seria possível alcançar o seu papel de liderança num mundo cada vez mais globalizado. Além

disso, referiu alguns dos desafios atuais da UE, como o novo Pacto sobre Migração e Asilo, que deveria

proporcionar soluções consensuais para as últimas crises migratórias e a crescente pressão sobre as fronteiras

externas da União, bem como os esforços contínuos para avançar para uma sociedade descarbonizada,

respeitadora da biodiversidade, com melhor qualidade do ar e sustentável do ponto de vista ambiental.

Relativamente à invasão russa da Ucrânia, sublinhou que os europeus deviam lutar em conjunto através da

diplomacia e do diálogo, mas também através de um forte apoio político, económico, humano e militar à Ucrânia,

a fim de alcançar o restabelecimento da paz e da reconstrução do país. Por fim, salientou que, num momento

em que a Europa tinha de enfrentar desafios e incertezas tão importantes num mundo cada vez mais volátil, os

europeus tinham de demonstrar que eram capazes de desenvolver respostas e soluções adequadas para esses

desafios, destacando que os europeus deviam defender e realçar os valores e interesses partilhados que

tornaram possível o enorme sucesso da UE.

Questões procedimentais e assuntos diversos

Susana Sumelzo, Copresidente da Delegação do Parlamento espanhol à COSAC, relativamente à adoção

da ordem do dia da reunião, esclareceu que o programa inicialmente previsto para a LXX COSAC teve de ser

adaptado, após a realização de eleições gerais antecipadas em Espanha decorridas em julho, acrescentando

que a Presidência tinha recebido uma carta do Presidente da Comissão dos Assuntos Externos e Europeus do

Parlamento maltês, solicitando a inclusão dos últimos acontecimentos no Médio Oriente na ordem de trabalhos

da reunião. Sobre este pedido, referiu que a troica tinha considerado que este assunto, de indubitável relevância

política, poderia ser incluído na primeira sessão dedicada à Presidência espanhola do Conselho da UE.

Por fim, submeteu o projeto de ordem do dia da LXX COSAC à consideração das delegações, tendo o mesmo

sido aprovado sem quaisquer outras observações.

• Apresentação dos resultados da reunião da troica presidencial da COSAC

Susana Sumelzo informou as delegações dos resultados da reunião da troica presidencial da COSAC,

realizada na véspera na presença de representantes do Parlamento sueco, do Parlamento espanhol, do

Parlamento belga e do Parlamento Europeu, com uma ordem do dia de diversos assuntos, como a aprovação

do projeto de programa da LXX reunião plenária da COSAC, a apresentação do 40.º Relatório Bianual da

COSAC e a informação sobre as cartas recebidas pela Presidência. Para além dos temas referidos, a troica

abordou também a proposta de nomeação de um novo membro permanente do Secretariado da COSAC, uma

vez que o mandato do Sr. Bruno Dias Pinheiro terminaria a 31 de dezembro de 2023, e que este não se

candidataria a um segundo mandato. Recordou que, em 27 de outubro, a Presidência espanhola tinha convidado

as delegações a apresentarem candidaturas para o cargo de Membro Permanente do Secretariado da COSAC

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com um prazo fixado para 10 de novembro de 2023. A copresidente informou que, dentro desse prazo, foi

apresentada à Presidência uma candidatura pelo Parlamento sueco, do Sr. Jakob Sjövall para o cargo, tendo

anunciado que a troica proporia aos Presidentes durante a LXX COSAC a nomeação de Jakob Sjövall como

Membro Permanente do Secretariado da COSAC para o período 2024-2025. Ainda neste ponto, a copresidente

anunciou que a troica tinha debatido e tomado nota de um projeto revisto de contributo e de conclusões, que

tinha sido distribuído às delegações juntamente com o quadro atualizado com todas as alterações recebidas,

tendo sido fixado um novo prazo para a apresentação de alterações até às 14 horas do dia 27 de novembro.

• Apresentação do 40.º Relatório Bianual da COSAC

A apresentação do 40.º Relatório Bianual da COSAC foi realizada por Bruno Dias Pinheiro, membro

permanente do Secretariado da COSAC, onde sublinhou que este era o 20.º aniversário dos Relatórios Bianuais

da COSAC sendo este a 40.ª edição, destacando que estes números provavam que este documento continuava

a ser digno e relevante. Congratulou o facto de todos os Parlamentos nacionais e o Parlamento Europeu terem

respondido ao questionário, e agradeceu aos colegas do Secretariado da COSAC pelo seu trabalho e empenho.

Recordou ainda que os três capítulos do relatório foram dedicados ao papel dos Parlamentos em relação ao

objetivo europeu de Autonomia Estratégica Aberta, à atuação dos Parlamentos na gestão das políticas

energéticas, especialmente das fontes de energia renováveis, e à intervenção dos Parlamentos quando

confrontados com a invasão da Ucrânia pela Rússia. Destacou, também, que o 40.º relatório bianual abrangeu

um vasto leque de questões importantes com o propósito de enriquecer os debates da LXX COSAC. Por fim,

referiu que esta era a sua última reunião como membro permanente do Secretariado da COSAC, tendo

agradecido a todos os delegados pelo seu apoio e manifestou a sua especial gratidão ao Deputado Luís

Capoulas Santos, Presidente da Comissão de Assuntos Europeus da Assembleia da República Portuguesa, por

todo o apoio prestado naquela que foi a experiência profissional mais fascinante da sua carreira. Concluiu

desejando as maiores felicidades ao novo membro permanente do Secretariado da COSAC, Jakob Sjövall, do

Parlamento sueco. Os principais resultados do relatório foram resumidos num vídeo produzido pelo membro

permanente e apresentado no final da sua intervenção.

• Cartas recebidas pela Presidência

Susana Sumelzo aludiu às cartas recebidas pela Presidência para participar nos trabalhos da COSAC

remetidas pelos Parlamentos da Suíça, Noruega, Câmara dos Lordes e Câmara dos Comuns do Reino Unido,

Islândia, Geórgia, Kosovo, Arménia, Andorra e Mónaco. Referiu que, após consulta da troica presidencial da

COSAC, foram endereçados convites a todos os Parlamentos acima referidos para participarem na LXX

COSAC. Ainda neste ponto, a copresidente aludiu também à carta enviada por Glenn Bedingfield, Presidente

da Comissão dos Assuntos Externos e Europeus do Parlamento maltês, que tinha sido debatida anteriormente

no âmbito do ponto da ordem do dia relativo à aprovação do programa da LXX COSAC.

Todos os documentos referidos estão disponíveis na plataforma IPEX.

• Outros Assuntos

Não se registaram intervenções neste ponto da ordem de trabalhos.

Sessão I – A Presidência espanhola do Conselho da União Europeia

Susana Sumelzo abriu a primeira sessão da LXX COSAC, explicando que o Ministro dos Negócios

Estrangeiros da União Europeia e da Cooperação, José Manuel Albares Bueno, não podia estar presente,

tendo enviado uma mensagem de vídeo para o plenário da COSAC, que foi projetada na sala. Resumidamente,

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o Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros da União Europeia e da Cooperação espanhol referiu que o Parlamento

espanhol tinha ajudado o Governo a preparar os objetivos da Presidência, tendo feito uma referência especial à

Cimeira UE-CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e das Caraíbas) no mês de julho de 2023.

Prosseguiu condenando a invasão da Ucrânia pela Rússia e apoiando o alargamento da UE. Concluiu aludindo

a algumas das negociações em curso como à Lei das Matérias-Primas Críticas, ao regulamento sobre a

inteligência artificial, à negociação de acordos de comércio livre com a Nova Zelândia e o acordo pós-Cotonu, à

transição ecológica e à biodiversidade e à reforma do sistema de comércio livre.

No período de debate que se seguiu, os parlamentares demonstraram, de um modo geral, um amplo apoio

às prioridades e às realizações da Presidência espanhola, especialmente nos dossiês relacionados com a

transição verde, a reindustrialização e o pilar social da Europa. O ataque terrorista do Hamas contra Israel em

outubro de 2023, e a crise que se seguiu no Médio Oriente, foi, igualmente, um tema abordado por muitos

Deputados que sublinharam diferentes aspetos deste conflito extremamente complicado e sensível, pedindo

uma linha mais forte e a exigência de um cessar-fogo total e a necessidade de respeitar o direito internacional

por ambas as partes em conflito. Destacaram, também, a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia onde

foram referidos diferentes aspetos da guerra, como a necessidade de evitar o seu esquecimento e o facto de o

alargamento da UE ser acelerado em relação à Ucrânia. Os parlamentares manifestaram, ainda, no contexto da

evolução da situação geopolítica e da morosidade do processo de adesão, o seu apoio ao alargamento da União

Europeia sublinhando a necessidade de considerar a adesão dos Balcãs Ocidentais para que a Europa pudesse

exportar estabilidade e não importar instabilidade.

Para responder às questões suscitadas pelos parlamentares, interveio Pascual Navarro, Secretário de

Estado dos Assuntos Europeus do Governo espanhol, que focou as diferentes prioridades da Presidência

espanhola. Referiu que, quanto à Europa social, tinha a expectativa de que pudessem ser alcançados

progressos substanciais durante a Presidência belga, antes do final da legislatura parlamentar europeia em

junho de 2024, sobre a reindustrialização destacou que tinha sido considerada como uma prioridade

fundamental e que a adoção da Lei das Matérias-Primas Críticas tinha sido um sucesso que contribuiu para

esse objetivo. Quanto ao Pacto Europeu sobre Migração e Asilo salientou os avanços alcançados pela

Presidência espanhola que tinha trabalhado afincadamente no sentido de uma solução europeia. Em relação à

crise no Médio Oriente, concordou com a posição equilibrada defendida nas últimas reuniões do Conselho

Europeu, e anunciou que seria adotada uma nova posição durante a reunião do Conselho Europeu de dezembro,

antes do final da Presidência espanhola. Sobre o alargamento, sublinhou que esperava que todos os processos

pendentes pudessem ser tratados de forma individualizada para cada candidato ou potencial candidato,

reconhecendo, em particular, os enormes progressos realizados pela Albânia no sentido da adesão e

encorajando a Macedónia do Norte e o Kosovo a resolverem as questões pendentes, tanto a nível interno como

na sua região. Relativamente à Ucrânia, o Secretário de Estado referiu que a Presidência espanhola iria adotar

as iniciativas necessárias para despoletar o início das negociações de adesão à UE.

Sessão II – O Pacto de Migração e Asilo da UE

Abriu a sessão Fernando Grande-Marlaska Gómez, Ministro dos Assuntos Internos de Espanha em

exercício, referindo que a Presidência espanhola do Conselho da UE se revestia de particular importância, uma

Interveio no debate o Sr. Presidente da Comissão de Assuntos Europeus, Deputado Luís Capoulas

Santos (PS) que felicitou o trabalho da Presidência espanhola e a pertinência das prioridades que

definiu. Saudou os esforços políticos alcançados no acordo provisório sobre o regulamento do restauro

da natureza, o acordo sobre a proposta de regulamento para garantir o aprovisionamento de matérias-

primas, o acordo de Parceria UE-OEACP, a Cimeira UE-CELAC e o esforço persistente para tentar

desbloquear o acordo UE-Mercosul. Destacou, também, o enfâse dado pela Presidência espanhola

às questões da educação, das competências, da igualdade e da não discriminação. Por fim, louvou os

esforços dedicados à necessária ajuda europeia e ao inquebrantável apoio à Ucrânia.

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vez que era a última presidência completa durante o atual ciclo legislativo europeu. Este facto colocou uma

pressão adicional para que as negociações em curso fossem concluídas o mais rapidamente possível, em

especial a política de migração, dada a sua particular importância no atual contexto. Destacou que a aprovação

do Pacto sobre a Migração e o Asilo era uma prioridade para a Presidência espanhola acrescentando que nem

todos poderiam ficar satisfeitos, contudo era necessário construir um compromisso com base nos princípios de

uma partilha justa de responsabilidades, bem como de solidariedade entre os Estados-Membros. Salientou que,

em setembro de 2023, tinha sido elaborado um roteiro que previa que as negociações de todas as iniciativas do

pacto deveriam estar concluídas antes do final do atual ciclo legislativo europeu. Resumidamente, informou

sobre os progressos registados nas negociações dos diferentes atos legislativos do pacto, tendo dado destaque

ao regulamento relativo à migração e asilo, que considerou ser a pedra angular do pacto, uma vez que

determinava qual o Estado-Membro da UE que ficaria responsável pela análise de um pedido de asilo. Alertou

que este era o momento certo para se chegar a um acordo final sobre o pacto e que a UE não podia dar-se ao

luxo de perder esta oportunidade, pelo que ambos os colegisladores tinham de chegar a um compromisso.

Recordou que o pacto não seria perfeito, mas deveria, pelo menos, ser eficaz, prático, justo e equilibrado,

concluindo que proporcionaria um quadro jurídico melhor do que o que existia atualmente e daria melhores

respostas à realidade atual.

Seguiu-se a intervenção, via remota, de Ylva Johansson, Comissária Europeia para os Assuntos Internos,

que salientou a necessidade de investir em vias e oportunidades legais para as pessoas virem para a UE.

Sublinhou a necessidade de lutar e combater o tráfico de migrantes, uma vez que as redes de tráfico humano

eram muito fortes, de cariz internacional e organizadas em estruturas de tipo mafioso, aditando que a Comissão

estava a trabalhar em nova legislação para combater estas redes. Salientou a importância das relações da UE

com países terceiros e a necessidade de uma cooperação mais estreita, mencionando os diálogos de alto nível

sobre migração e segurança com a Turquia. Comentou brevemente as negociações sobre o pacto em matéria

de migração e asilo, confirmando que as negociações do trílogo estavam em curso, bem como enalteceu o nível

de empenhamento dos colegisladores para chegarem a um acordo. Recordou que o pacto era um instrumento

importante para a prevenção de chegadas irregulares, promover processos mais rápidos e justos e com

regressos rápidos para aqueles que não eram elegíveis para asilo, concluindo com o reconhecimento das

dificuldades de se chegar a um acordo final sobre todos os restantes dossiers do pacto durante a Presidência

espanhola, considerando, no entanto, que tal objetivo era realista.

Ainda nesta sessão, participou o Primeiro Vice-Presidente do Parlamento Europeu, Othmar Karas, que

agradeceu à Presidência espanhola o facto de ter colocado o importante tema da migração na agenda da

COSAC, referindo que negar a complexidade destas múltiplas crises migratórias era o maior problema do debate

político contemporâneo e era preciso reconhecer que não havia respostas simples. Defendeu ainda que esta

complexidade devia ser explicada e debatida, mesmo que fosse impopular e cansativa. Recordou que, até 2015,

a UE tinha aprendido as lições certas com as crises, mas no que respeitava à política de migração, a UE tinha

falhado, evidenciando que esse fracasso não tinha sido apenas culpa das instituições da UE, mas também dos

Estados-Membros devido à sua falta de vontade política para uma solução europeia e à sua vontade de continuar

com uma manta de retalhos nacional que não funcionava. De seguida, delineou os quatro elementos centrais

da reforma: registo e rastreio harmonizados para evitar a duplicação de trabalho e ineficiências; procedimentos

de asilo eficientes nas fronteiras externas da UE para distinguir refugiados e trabalhadores migrantes; um

mecanismo de solidariedade para recolocar os requerentes de asilo de forma equitativa na UE; e um novo

regulamento relativo a crises e casos de força maior no domínio da migração e do asilo na UE. Referiu que, com

a entrada em vigor do novo pacto, seria criado na UE um sistema com um conjunto de regras comuns que

distribuiriam as responsabilidades e as tarefas de forma mais equitativa e que funcionaria também em tempos

de crise, contudo reconheceu que, para o futuro, era necessário muito mais. Concluiu referindo a necessidade

de a proteção das fronteiras externas da UE ser uma competência da UE e que a União fosse capaz de adotar,

a longo prazo, uma política de migração e integração coordenada.

No período de debate que se seguiu, os parlamentares destacaram a pertinência de se aprovar o Pacto sobre

Migração e Asilo o mais rapidamente possível, a necessidade de migração para a UE, nomeadamente para

responder às necessidades do mercado de trabalho e para resolver os problemas demográficos da UE, o perigo

da instrumentalização da migração e a utilização dos migrantes para desestabilizar a UE e a importância de dar

mais atenção, no debate, às causas profundas da migração.

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Para encerrar o debate, interveio Fernando Grande-Marlaska Gómez, que sublinhou o facto de a maioria

Interveio na presente sessão o Sr. Deputado Luís Capoulas Santos(PS) que referiu subscrever as

intervenções feitas pelo Sr. Ministro Marlaska Gómez e pelo Sr. Vice-Presidente Othmar Karas.

Destacou que era conhecido de todos o défice demográfico na Europa, com uma taxa de natalidade

muito reduzida, salientando que a Europa precisava de imigrantes para evitar a estagnação da sua

economia e para que o seu modelo de sociedade não colapsasse. Evidenciou que era um problema

que tinha de ser encarado com realismo político e com solidariedade para com os Estados-Membros

mais afetados, cujo esforço e trabalho desenvolvido nos últimos tempos aplaudia, desejando que

fosse possível alcançar um acordo político sobre o pacto ainda sob a égide da Presidência

espanhola. Destacou que este tema era vital para o futuro europeu, pois era dele que se alimentava

o discurso radical e antieuropeu que minava os alicerces da construção do projeto comum europeu

que propiciou a paz e prosperidade nos últimos 70 anos. Concluiu salientando que era o dever de

todos encontrar soluções efetivas, devendo mesmo constituir uma prioridade da ação política.

Interveio, igualmente nesta sessão, a Sr.ª Deputada Nathalie Oliveira(PS) que referiu o facto de as

políticas de rejeição de imigrantes nunca terem considerado duas dimensões determinantes para o

futuro das comunidades europeias, a da demografia e a do mercado laboral. Salientou que a estas

duas dimensões, para os defensores do Estado social, deveria ainda ser acrescentado um terceiro

elemento, as contribuições para a Segurança Social. Destacou ainda que, para além destas três

dimensões, importava enaltecer um outro pilar essencial, que eram as regras. Concluiu alertando

que países como a Grécia, Itália, Malta ou Espanha não podiam estar na linha da frente sem a

solidariedade dos demais Estados, uma vez que todos tinham o dever de ser leais aos princípios e

aos valores europeus da liberdade e do respeito da vida humana.

Interveio, também, nesta sessão a Sr.ª Deputada Maria Emília Apolinário(PSD) que referiu ser

este o maior desafio que a UE tinha pela frente e que teria de resolver sem egoísmos e com foco

numa Europa dos direitos humanos. Recordou que os fluxos migratórios eram milenares e sempre

tiveram muita influência na história da humanidade, considerando não ser viável parar o fenómeno

das migrações. Destacou que era preciso que o Pacto para a Migração e Asilo fosse uma realidade,

com dotação orçamental adequada, com responsabilidades partilhadas, com um quadro jurídico

sólido, capaz de proporcionar a clareza e a atenção necessárias para a confiança mútua, com regras

rigorosas e equitativas e com sérios programas de integração. Concluiu relevando a importância de

um acolhimento eficaz, não só por razões humanitárias, mas para evitar radicalizações, recordando

que a Europa dispensava populismos que resultavam da demissão da função integradora dos

Governos e que cresciam à base do medo e da desconfiança suscitada nos cidadãos face à

migração.

Interveio, ainda, nesta sessão, o Sr. Deputado Bruno Nunes(CH) que referiu o uso da justificação

da crise demográfica para a adoção de legislação no âmbito da migração, ao nível nacional e ao nível

europeu, aditando que esta atuação tinha despoletado um problema sério ao nível social, com um

choque cultural com consequências para a sociedade. Recordou que o ataque terrorista que ocorreu

em Atocha, Madrid, era uma consequência da política vigente de falta de controlo de fronteiras.

Salientou que a burocracia europeia não podia continuar a decidir algo que pertencia à

autodeterminação das nações. Referiu que esta posição não significava que fosse contra a Europa,

mas sim um europeísta, por defender as fronteiras e a Europa, destacando que não se podia

continuar a aceitar migrantes de culturas que não respeitavam as mulheres. Concluiu questionando

por que não fazer um referendo sobre o Pacto para o Asilo e Migrações.

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dos parlamentares ter apelado a um acordo imediato sobre o Pacto para a Migração e Asilo, reiterando que para

tal resultado era necessário flexibilidade e compromissos, manifestando grandes esperanças e enormes

expectativas quanto à obtenção de um acordo político na próxima reunião do trílogo. Concordou com a

importância da dimensão externa da política de migração e asilo da UE e afirmou que a UE devia continuar a

trabalhar com os países de origem e os países de trânsito para combater a migração irregular e o tráfico de

migrantes. Concluiu salientando que as pessoas deixavam os seus países de origem devido às alterações

climáticas, à fome, aos conflitos e às guerras, e não devido às regras e procedimentos de migração da UE.

Sessão III – Crise Energética e Transição Ecológica

Nicolás González Casares, Deputado ao Parlamento Europeu e relator sobre o estado da união da energia,

abriu esta sessão referindo que a crise energética surgiu num contexto marcado pela pandemia de COVID-19,

bem como devido à invasão da Ucrânia pela Rússia. Destacou que, como a Rússia era o principal fornecedor

de gás à Europa, através de gasodutos, a redução das importações europeias limitou o fluxo de capital que

chegava à Rússia, mas, por outro lado, tinha causado um aumento do preço do gás na Europa. Reconheceu

que, embora alguns países fossem mais dependentes do gás russo do que outros, todos os países europeus

tinham sido afetados, tendo sido obrigados a procurar fornecedores de gás alternativos e outras fontes de

energia. Destacou o principal objetivo da reforma do mercado da eletricidade, nomeadamente a redução da

volatilidade dos preços da eletricidade e a utilização de instrumentos que podiam ser mais úteis a médio e longo

prazo. Referiu, igualmente, que estavam a ser utilizados diferentes instrumentos para baixar os preços da

eletricidade para os consumidores e que a legislação que estava em discussão facilitaria a partilha de energia

entre particulares, empresas e instituições públicas. Concluiu sublinhando que as alterações climáticas eram um

dos mais importantes desafios comuns, alertando para os riscos colocados pelos discursos que negavam ou

minimizavam o seu impacto, destacando a necessidade de a Europa mostrar uma posição política empenhada

na luta contra as alterações climáticas.

Nesta sessão, interveio, também, Gunther Krichbaum, Deputado do Bundestag que salientou que muitos

Estados-Membros da UE já tinham visto o impacto das alterações climáticas, com terríveis inundações, ondas

de calor e secas, que estavam a ter um efeito negativo na agricultura e na sociedade em geral. Destacou que a

crise energética e os elevados preços da energia podiam ser vistos como uma oportunidade para fazer avançar

a transição para as energias renováveis, nomeadamente através do investimento em infraestruturas críticas,

incluindo as redes e ligações elétricas. Recordou, contudo, que a energia nuclear era efetivamente neutra em

termos de emissões de CO2, mas reconheceu que a eliminação dos resíduos nucleares não tinha ainda sido

aperfeiçoada, tendo alertado que a energia eólica, solar e hídrica não eram necessariamente as mais baratas,

mas tinham a grande vantagem de reduzir a dependência energética, ação que era essencial na procura de uma

autonomia estratégica aberta.

No período de debate que se seguiu, os parlamentares destacaram que a ligação entre a transição ecológica

e a transição digital era essencial, sendo que os aspetos sociais e económicos da transição ecológica não

podiam ser ignorados. Sublinharam que a necessidade de cooperação entre os Estados-Membros da UE nesta

matéria era crucial, devendo ser instaladas redes comuns com investimentos coletivos em infraestruturas

comuns. Recordaram que os cidadãos e os grupos mais vulneráveis não podiam ser deixados para trás no

processo de transição energética alertando que as soluções e obrigações decorrentes da transição energética

deviam ser acessíveis e exequíveis, a fim de não ignorar as necessidades de grupos como os idosos, as pessoas

com deficiência, as pequenas e médias empresas e os agricultores. Salientaram a importância de criar políticas

que tivessem em conta as energias renováveis e de apostar mais neste tipo de energias. Concluíram focando o

contexto geopolítico da crise energética, designadamente, a guerra na Ucrânia, que tinha obrigado a UE a tornar-

se mais independente em termos energéticos.

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Nas suas observações finais, Nicolás González Casares sublinhou que os desafios da crise climática

deviam ser enfrentados, destacando que a luta contra as alterações climáticas e a transição energética tornavam

necessária a descarbonização dos sistemas energéticos da UE. Além disso, afirmou que, se a situação se

mantivesse inalterada, haveria retrocessos em vez de avanços, pelo que a UE deveria ser ambiciosa e

desempenhar um papel de liderança. Por outro lado, Gunther Krichbaum, nas suas palavras finais, destacou

as inovações e a força da tecnologia alcançadas até à data, tendo apelado a uma maior investigação por parte

dos Estados-Membros sobre a transição energética e tecnologias como a captura e armazenamento de carbono.

Reunião dos Presidentes da COSAC

Susana Sumelzo deu início à discussão das propostas de texto dos contributos e conclusões, tendo por

base a versão do compromisso discutido na reunião da troica presidencial, com as alterações remetidas pelas

delegações, na qual participaram os Presidentes das Comissões dos Assuntos Europeus dos Parlamentos

nacionais. Em cumprimento do ponto 7.5 das regras de procedimento da COSAC, seguiu-se o período de

votação, tendo o texto dos contributos e das conclusões sido adotado por consenso.

Recordou, ainda, que a troica tinha decidido, por unanimidade, recomendar, aos Presidentes da COSAC, o

nome de Jakob Sjövall, do Parlamento sueco, para o cargo de membro permanente do Secretariado da COSAC,

tendo a sua nomeação sido confirmada para o período de 2024-2025. Por fim, felicitou Bruno Dias Pinheiro,

membro permanente cessante, pelo seu trabalho, dedicação e profissionalismo no Secretariado da COSAC

durante o mandato de 2022-2023, não só no apoio às presidências, mas também a todos os Parlamentos

nacionais.

Sessão IV – Situação na Ucrânia e as relações com a União Europeia

Juan Francisco Martínez Nuñez, Secretário-Geral para a Política de Defesa,referiu que se a Europa

Interveio na presente sessão o Sr. Deputado João Paulo Rebelo(PS), que sublinhou a importância

de a Europa assentar num projeto de solidariedade e de cooperação. Referiu que sempre que assim

era, a Europa alcançava mais, recordando a crise de 2008 onde muitos europeus tinham sofrido por

não ter havido uma resposta coesa da UE à crise. Destacou que, na área da energia, era essencial

que a cooperação europeia funcionasse, pelo que era importante que se encontrassem soluções de

conjunto. Recordou que Portugal tinha sido um País altamente dependente de energia, mas,

atualmente, devido a políticas públicas implementadas há mais de 10 anos, tinha um grau de

dependência menor, podendo mesmo ser parte da solução energética europeia, através das

interligações elétricas estabelecidas entre Portugal e Espanha. Concluiu referindo que o mecanismo

acordado entre Portugal e Espanha para controlo dos preços de energia tinha obtido bons resultados,

sendo um bom exemplo de cooperação entre Estados que deveria ser replicado a nível europeu.

Interveio, também, nesta sessão o Sr. Deputado Firmino Marques(PSD), que referiu as

consequências de um país sem ordenamento eficaz, uma vez que não bastava conhecer quais os

recursos que um determinado território oferecia, era necessário que o desenvolvimento não se

fizesse à custa do esgotamento ou da perda de qualidade desses recursos. Destacou que era

urgente uma aproximação da área do ordenamento com o ambiente, com a definição de critérios

ambientais prévios obrigatórios no tratamento da informação e da estruturação dos planos. Sublinhou

que o 6.º ciclo de diálogo com a Juventude na Europa tinha concluído que a estratégia até 2027

deveria centrar-se em três importantes eixos: envolver, ligar e capacitar. Aditou, ainda, que a

informação, o diálogo construtivo e uma Europa verde sustentável eram a base para o futuro dos

jovens europeus. Concluiu referindo que era crucial mobilizar instrumentos políticos, nesta área, a

nível da União, bem como ações a nível nacional, regional e local para assegurar o futuro de todos.

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continuasse a apoiar a Ucrânia esta poderia renascer em breve, contudo, a Ucrânia estava a fazer grandes

esforços para continuar a funcionar como país, devido ao conflito militar, e que a sua reconstrução seria difícil,

mas os ucranianos sabiam que as portas da Europa nunca mais se fechariam para eles. Destacou que a Ucrânia

iria ser pioneira da modernidade europeia, salientando que o papel da defesa seria extremamente útil para

trabalhar esta mudança, uma vez que as forças armadas eram um reflexo da sociedade que serviam. Com

efeito, sublinhou a exemplaridade das forças como um catalisador da verdadeira mudança, porque uniam os

cidadãos em torno de um projeto que era vital para todos e isso seria muito importante para a Ucrânia quando

saísse deste conflito armado. Referiu, também, que a UE estava a enfrentar um período de reflexão e de

reconfiguração, pois precisava de encontrar o seu lugar nesta nova ordem mundial, pelo que era essencial fazer

avançar a «Europa da defesa». Acrescentou que o facto de a Europa da defesa ser inerente ao projeto da União

era uma mensagem difícil de transmitir, havendo ainda alguma resistência, no entanto, destacou que a Ucrânia

iria ajudar a ultrapassar essa resistência, uma vez que o projeto europeu comum tinha de ser afastado das

nossas opiniões individuais, sendo necessário falar do que unia e não tanto do que o separava as nações

europeias. Concluiu manifestando a sua convicção de que a Ucrânia iria alcançar uma situação interna e

internacional de dignidade, liberdade e bem-estar que seria muito mais atrativa do que a que a Rússia tinha em

mente.

Seguiu-se a intervenção de Giuliomaria Terzi Di Sant’agata, Presidente da Comissão de Políticas da UE,

do Senado de Itália, que salientou a extraordinária unidade de objetivos que todos os Estados-Membros da UE

e os parceiros internacionais demonstraram no apoio à Ucrânia. Acrescentou que não podia haver uma paz justa

sem que todo o território ucraniano voltasse a estar sob o controlo total do Governo de Kiev, portanto, dentro

das suas fronteiras internacionalmente reconhecidas e no pleno respeito da sua soberania e integridade.

Confirmou o empenhamento inabalável da Europa em apoiar e promover o plano de paz em 10 pontos,

apresentado pelo Presidente Zelenskyy, que constituiu o elemento fundamental dos debates internacionais para

uma paz justa e duradoura na Ucrânia, destacando a importância de se avançar de forma decisiva na promoção

e implementação de pleno respeito das sanções contra a Rússia e contra todas as pessoas que cometeram

crimes e infligiram danos. Por fim, manifestou a sua satisfação com a proposta que a Comissão Europeia

apresentou ao Conselho Europeu, no sentido de iniciar as negociações de alargamento com a Ucrânia e a

Moldávia e de conceder o estatuto de candidato à Geórgia.

Ainda nesta sessão, participou como oradora Ivanna Klympush-Tsintsadze, Presidente da Comissão para

a Integração na UE do Parlamento da Ucrânia, que destacou que a Ucrânia tinha mostrado ao mundo a sua

coragem, a sua bravura, a sua determinação e a sua incrível resiliência, tendo acrescentado que a Ucrânia

estava a lutar por algo em que todos na Europa acreditavam, que era a liberdade de escolha, a democracia, o

direito de construir um país próspero baseado no Estado de direito, dentro das suas fronteiras reconhecidas e

onde a dignidade de cada pessoa era reconhecida. Apelou a um aumento de qualidade e quantidade dos

materiais entregues, pois só uma mobilização total dos recursos e das capacidades do mundo livre permitiria

derrotar a Rússia, alertando que esta derrota era imperativa, porque os ucranianos sonhavam em concentrar-

se exclusivamente na recuperação, na reconstrução, na transformação, na integração europeia e euro-atlântica

e nas políticas sociais, económicas e ambientais. Concluiu apelando aos Estados-Membros para que se

juntassem à Ucrânia na sua difícil e longa viagem, construindo em conjunto uma Europa livre, próspera,

democrática e forte, recordando que a Europa não estava a ajudar a Ucrânia por caridade ou piedade, estava a

fazer um investimento sério na sua própria segurança, permitindo uma Europa livre, completa, pacífica e unida.

No período de debate que se seguiu, os parlamentares demonstraram um apoio inabalável à Ucrânia, tendo

destacado a necessidade de aumentar a produção de defesa da Europa e a importância de acelerar o

alargamento. Salientaram que a agressão russa deixou claro que existia uma interdependência entre a margem

sul do Mediterrâneo e a União Europeia, no que respeitava aos fluxos migratórios, energia e comércio, aditando

que a Europa precisava de criar políticas comuns nestes domínios, apoiadas por recursos suficientes. Referiram

que o alargamento devia ser acompanhado por um aprofundamento do projeto da UE, assegurando a existência

de uma sociedade civil forte. Sublinharam a importância de tanto os futuros como os atuais Estados-Membros

aderirem aos princípios estabelecidos no artigo 2.º do Tratado UE, segundo o qual a União se fundava nos

valores do respeito pela dignidade humana. Apoiaram a ideia de se aumentarem as ferramentas e munições

ofensivas da Ucrânia, e não apenas as defensivas, abordaram a necessidade de se melhorar a capacidade de

defender os interesses da União Europeia e defenderam um aumento das sanções contra a Rússia.

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Nas intervenções finais, Juan Francisco Martínez Nuñez concordou com as observações gerais que foram

feitas e recordou que a Europa não era uma fortaleza, devendo ser construídas pontes à sua volta para evitar

não se fechar sobre si própria. Giuliomaria Terzi Di Sant’agata sublinhou que existia um certo consenso entre

todos os Estados-Membros de que o alargamento era um elemento fundamental para ultrapassar os desafios

que a Europa enfrentaria, em termos geopolíticos, e que podiam ser tomadas medidas rápidas e integradas para

combater a criminalidade organizada e a instrumentalização da migração pela Rússia.Ivanna Klympush-

Tsintsadze salientou que as conversações de paz só eram possíveis com aqueles que tinham, pelo menos,

uma sombra de respeito pela ordem internacional, recordando que Ucrânia era um Estado neutro e não alinhado

quando a Rússia a atacou em 2014.

Sessão V – Autonomia estratégica aberta e as relações com a América Latina

Nesta sessão interveio Juan Fernández Trigo, Secretário de Estado espanhol para a Ibero-América,

Caraíbas e para o Espanhol no Mundo, que iniciou a sua intervenção introduzindo o conceito de «autonomia

estratégica aberta», adotado pelo Conselho Europeu em outubro de 2020, e que foi uma das prioridades da

Presidência espanhola do Conselho da UE. Referiu que, ao promover a autonomia estratégica aberta, a UE

devia redobrar os seus esforços para reforçar o multilateralismo e estabelecer relações políticas e comerciais

com regiões como a América Latina e as Caraíbas (ALC). Reconheceu que a posição da América Latina sobre

a invasão ilegal da Ucrânia pela Rússia era complexa e algo ambivalente, uma vez que os países condenaram

a invasão, mas não se tratou de uma condenação ativa, acrescentando mesmo que o tema da Ucrânia tinha

sido um dos mais difíceis durante as recentes negociações entre a União Europeia e a Comunidade de Estados

Latino-Americanos e das Caraíbas (UE-CELAC). Concluiu referindo a importância de se aprofundarem as

relações económicas e comerciais com a região da ALC, a fim de reduzir a dependência da UE e de diversificar

as fontes de energia e de matérias-primas.

Carlos Malamud Rikles, analista sénior do Real Instituto Elcano, sublinhou o lugar central que a região

latino-americana teve nas prioridades da Presidência espanhola, à semelhança do que tinha acontecido nas

anteriores presidências do país. Salientou que, na atual situação política, a América Latina deveria continuar a

ser um tema importante na agenda das relações externas da UE, devido a vários fatores, nomeadamente as

consequências da pandemia de COVID-19 e da invasão da Ucrânia pela Rússia. Referiu que a procura da

autonomia estratégica da Europa exigia, pois, uma renovação das alianças do continente, sendo nesse processo

que a América Latina poderia desempenhar um papel central. Sublinhou a importância da América Latina para

a economia mundial, como um continente com numerosos recursos que seriam fundamentais para a transição

ecológica verde, como o lítio, bem como um grande potencial de produção de energias renováveis e importantes

reservas de biodiversidade e de água doce. Aludiu ao empenho da região no desenvolvimento económico

democrático como uma caraterística distintiva que devia ser realçada nos debates mundiais, embora a presença

da China no continente tivesse aumentado substancialmente nas últimas duas décadas. Contudo, destacou que

a UE continuava a ser o principal ator externo na região em numerosos domínios. Concluiu observando que,

caso o acordo Mercosul não fosse aprovado durante a atual Presidência espanhola, poderia ser mais difícil fazê-

Interveio no debate o Sr. Deputado Luís Capoulas Santos (PS), que recordou o longo período da

guerra na Ucrânia que atormentava todos que por ela eram afetados. Referiu que a Europa e os seus

aliados tinham respondido de forma concertada e firme no apoio à Ucrânia, não existindo outro caminho

que não a vitória do povo ucraniano. Destacou que a UE estava a ser agora confrontada com o conflito

no Médio Oriente, que servia diretamente os interesses da Rússia, cuja interligação não considerava

inocente. Referiu que se devia às vítimas do ataque do Hamas toda a solidariedade e apoio político e

diplomático, não se podendo ficar, contudo, indiferentes face ao número elevado de vítimas civis em

Gaza, provocado pelos ataques indiscriminados do exército israelita. Recordou que o direito

internacional e humano era tão importante na Ucrânia como em outro lugar do mundo, incluindo na

Faixa de Gaza, lamentando que o documento final dos contributos da LXX COSAC não tivesse sido

mais claro quanto a esta questão.

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lo durante as próximas presidências do Conselho da UE, alertando mesmo que a não conclusão do acordo seria

um erro estratégico que não só poria potencialmente em perigo a integração regional no Mercosul, mas também

enviaria um sinal negativo a outros potenciais parceiros comerciais com os quais a UE estava atualmente a

negociar acordos comerciais.

No debate que se seguiu, os parlamentares sublinharam a importância de reforçar a autonomia estratégica

aberta da União Europeia para fazer face aos numerosos desafios geopolíticos que a UE atualmente enfrentava.

Salientaram que a autonomia estratégica aberta era crucial para que a UE fosse um ator geopolítico ativo no

meio da concorrência crescente, em especial, entre os EUA e a China. Destacaram a essencialidade do reforço

das relações comerciais com a América Latina e as Caraíbas, por ser essencial para diversificar o

aprovisionamento da União Europeia em fontes de energia e de matérias-primas essenciais. Referiram que a

origem de recursos e a redução da dependência da União Europeia de fornecedores externos pouco fiáveis

deveriam contribuir para reforçar a resiliência e a competitividade da economia europeia, bem como para

promover a sua reindustrialização. Concluíram salientando que era importante para a UE definir o seu papel

geopolítico através da promoção dos seus valores.

Nas intervenções finais, Juan Fernández Trigo referiu ser essencial estabelecer laços com parceiros que

partilhassem os interesses e as aspirações da UE, como era o caso dos países latino-americanos, mas que

também se desejava instituições fortes, um Estado de direito e uma sociedade civil dinâmica, aditando que a

cooperação económica entre a UE e a América Latina devia promover condições de trabalho dignas e formais,

reforçando os sistemas de saúde e o investimento e comércio para apoiar as populações desses países para

que pudessem aspirar a um melhor nível de vida e não fossem obrigadas a emigrar. Carlos Malamud Rikles

concluiu afirmando que a América Latina e as Caraíbas não deviam ser vistas como um continente a explorar,

mas sim como um continente com o qual a União Europeia mantinha relações históricas profundas.

Sessão de encerramento: Adoção dos Contributos e das Conclusões da LXX COSAC

O encerramento foi efetuado por Susana Sumelzo que aludiu aos textos dos Contributos e das Conclusões

da LXX Reunião da COSAC, tal como discutidos e aprovados pelos Presidentes na noite anterior, que foram

previamente distribuídos a todas as delegações e foram adotados por consenso, não tendo sido apresentada

qualquer alteração durante a sessão plenária.

Em seguida, informou todas as delegações de que, nos termos do artigo 9.3 do Regulamento Interno da

COSAC, os Presidentes nomearam, por recomendação da troica presidencial, Jakob Sjövall, do Parlamento

sueco, como membro permanente do Secretariado da COSAC para o período de 2024-2025, tendo ainda

agradecido a Bruno Dias Pinheiro, membro permanente cessante, pelo seu trabalho no Secretariado da COSAC

durante o mandato de 2022-2023.

Interveio, ainda, Eliane Tillieux, Copresidente do Comité Consultivo Federal para os Assuntos Europeus da

Interveio no debate o Sr. Deputado Bruno Nunes (CH), que referiu que a atual conjuntura política

possibilitou esta oportunidade de aprofundar as relações comerciais, contudo, o seu partido entendia

que tal oportunidade poderia criar uma concorrência desleal ao mercado europeu. Recordou que

existiam regimes totalitários e ditatoriais na América Latina, como a Venezuela, com os quais

considerava que não se podia compactuar nem celebrar acordos. Sobre o acordo UE-Mercosul,

referiu que podia trazer benefícios, mas a médio prazo poderia causar um grave problema de

sobrevivência para as empresas europeias, porque se iria competir com baixos salários, fraca

qualidade, que iriam potenciar o apoio à imigração ilegal, bem como iria causar um dumping salarial

na Europa, reforçando que não se podia permitir que tal cenário ocorresse. Destacou que, apesar de

se ter afirmado que todos os países da América do Sul apoiavam a Ucrânia, tal não era verdade, pois

o presidente do Brasil apoiava a Rússia durante a invasão da Ucrânia, concluindo que não eram

parceiros confiáveis com quem pudessem desenvolver aquilo que era o roteiro para a autonomia

estratégica.

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12 DE JANEIRO DE 2024

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Câmara dos Representantes do Parlamento belga, que informou que o primeiro evento da Presidência belga do

Conselho da UE seria a reunião dos Presidentes da COSAC, a 14 e 15 de janeiro de 2024, tendo por temas o

pilar europeu dos direitos sociais e o futuro da UE após as eleições europeias de 2024. Referiu ainda que a

Bélgica iria organizar uma série de conferências interparlamentares noutras cidades que não a capital, com o

objetivo de aproximar a Europa dos seus cidadãos. Interveio também Gaëtan Van Goidsenhoven,

Copresidente do Comité Consultivo Federal para os Assuntos Europeus do Senado do Parlamento belga, que

referiu os temas a serem abordados durante a reunião plenária da COSAC, que decorreria no Parlamento

Europeu, em Bruxelas, a saber: o balanço do último mandato europeu e as perspetivas oferecidas pela nova

agenda estratégica do Conselho; a questão da política de género e da representação das mulheres nos

Parlamentos; a autonomia estratégica aberta, com especial destaque para a competitividade e a resiliência; e o

futuro da democracia e o lugar do Estado de direito.

A última intervenção da reunião foi efetuada por Francina Armengol Socías, Presidente do Parlamento

espanhol, que começou por referir as cinco sessões temáticas realizadas na LXX COSAC e observou que estas

correspondiam às várias prioridades da Presidência espanhola do Conselho da UE e do programa de trabalho

da Comissão Europeia para 2024. Aludiu, ainda, ao facto de o conflito no Médio Oriente ter sido debatido nesta

reunião, dada a sua relevância, apesar de não ter sido inicialmente previsto. Por último, desejou sucesso à nova

dimensão parlamentar da Presidência belga do Conselho da UE, recordando que a Presidência espanhola seria

a última presidência plena da atual legislatura, agradecendo a todos os contributos recebidos até à data e

também os novos contributos nos próximos meses, que permitirão à Presidência espanhola preparar algumas

conclusões comuns a dirigir ao Conselho antes do próximo ciclo institucional, em nome dos Parlamentos

nacionais.

Notas Finais

Além dos documentos referenciados, toda a documentação referente à reunião da COSAC, bem como a

gravação vídeo da conferência, podem ser encontrados em:

– Conference of Parliamentary Committees for Union Affairs of Parliaments of the European Union (COSAC)

– IPEX.eu

– LXX COSAC PLENARY MEETING – Parleu 2023

Assembleia da República, 11 de janeiro de 2024.

O Presidente da Comissão de Assuntos Europeus, Luís Capoulas Santos.

A DIVISÃO DE REDAÇÃO.

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