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12 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

nheza, por termos já chegado á convicção, verdadeiramente falsa, de que nas guerras de Africa tinhamos invulnerabilidade, mercê dos felizes acontecimentos anteriores.

Nesta occasiao, quando houve conhecimento de tal desastre, a opposição progressista nesta Gamara, pela voz de um dos seus mais vehementes oradores, exigiu do Governo a desforra immediata do aggravo soffrido á nossa bandeira.

Não quero fazer a injuria de suppor, e muito menos dizer, que os que então faziam essa exigencia pretendiam que a desforra fosse feita sem ser devidamente preparada. O que diziam era que o Governo não descurasse o assumpto, não descansasse, que empregasse todos os meios ao seu alcance para, quando fosse possivel, se tirar a desforra.

Isto foi affirmado pelo partido progressista tanto no Parlamento como na imprensa. Creio que o proposito de todos não era que a desforra fosse tirada ás cegas, mas que se preparasse como devia ser.

Caiu o Ministerio regenerador, e da parte do illustre Ministro da Marinha todos os actos se praticaram com tanto amor, com tanta intensidade de resolução, demonstrando tanta dedicação pela causa publica, na organização de uma expedição, que por toda a parte se ouviam applausos.

Encarregou S. Exa. um official do nosso exercito, que não conheço senão de nome, mas que de todos os lados tenho ouvido dizer que é competentissimo, de organizar esse plano de operações. Muitos officiaes se apresentaram de boa vontade para irem ás ordens d'esse official na expedição, mas, Sr. Presidente, com grande surpresa para todos, depois do Sr. Ministro da Marinha levar ao Conselho de Ministros esse plano de operações, tomou-se uma resolução extraordinaria: ficava adiada sine die a operação a realizar contra os cuamatas.

Decorreram largos meses, e até hoje ainda não houve ensejo de perguntar qual a razão por que mudaram de ideias, porque divergem da altitude tomada ao principio, porque não querem agora que seja feita a expedição e a adiam indefinidamente.

, Sr. Presidente, queremos mostrar que a nossa altitude continua a ser a mesma, de accordo com os nossos principios, sobre a necessidade absoluta de se fazer essa expedição.

Eu reputo que ha motivos de alta ordem social que nos obrigam a realizar a expedição o mais breve possivel:

Primeiro, a necessidade de se affirmar perante o gentio a força das nossas armas, contendo-o dentro dos limites em que se deve conter. Os factos que o Sr. Ministro da Marinha relatou, de alguns actos de rebeldia praticados pelo gentio cuamata, servem para demonstrar que o estado do gentio é de completa e perpetua rebellião. (Apoiados).

Sr. Presidente: precisamos tambem de attender a que se vae civilizando, se vae esclarecendo cada vez mais o espirito do preto. Note V. Exa. que não é raro ouvir-se dizer a mesma doutrina de Monroe: "A America é para os americanos; A Africa, é para os africanos, pretos!" A civilização, o progresso e a cultura intellectual chegam a toda a parte; ha de ser difficil penetrar a civilização no cerebro rombo da raça preta, mas lá ha de chegar; e se não a tivermos cercado de todas as circumstancias de predominio, necessariamente seremos expulsos da Africa.

Mas. Sr. Presidente, ha uma outra razão pela qual temos necessidade de affirmar perante o mundo que temos a aptidão colonial indispensavel, justa e legitima para continuarmos a manter, na nossa posse, como actualmente existe.

Sr. Presidente: estamos numa epoca de civilização, em que não se pode invocar, para se fundamentar o dominio e a posse de terrenos coloniaes, o direito historico.

Foi tempo em que bastava para a fundamentar a legitimidade e a revindicação de dominio, a allegação de direito. Actualmente, Sr. Presidente, é preciso fundamentá-lo com a posse effectiva, é preciso firmá-lo com o poder, é preciso que haja a chancella das nossas armas e é preciso que mantenhamos sempre o predominio da nossa vontade por actos rapidos e effectivos. (Apoiados).

Precisamos lembrar-nos de que ainda não ha muitos annos foi proclamada como verdadeira e legitima uma doutrina um pouco curiosa, extravagante, mas que se refere ás nações vivas e moribundas. Foi um estadista de grande nome que affirmou essa doutrina.

Precisamos de lembrar-nos que na conferencia de Berlim temos que nos defrontar com outras potencias, e precisamos provar qual a razão por que ainda queremos ter na nossa posse as colonias africanas.

Precisamos assegurar o nosso dominio de maneira effectiva e pratica, para dentro em pouco não estarmos sujeitos a graves conflictos com uma nação poderosa.

Ha pouco tempo vi no Jornal das Colonias que a Allemanha ia reunir extraordinariamente o seu Parlamento, a pedir-lhe o credito de 100 milhões de marcos, sendo esse dinheiro destinado a fazer o transporte immediato para a Africa de 30:000 homens, que, juntos com os 20:000 homens que ali se encontram, formarão um exercito de 50:000 homens para combater os herreros. O Parlamento vae reunir, os creditos serão votados; os homens partirão municiados, armados e commandados por todos esses elementos que ha de mais superior nas organizações militares.

Não pode duvidar se do resultado. Os herreros hão de ser necessariamente batidos, perseguidos, e como tem sido grave a offensa que teem feito á Allemanha e grandes os prejuizos soffridos, ha de haver a vingança, a perseguição, o exterminio. É claro que a nossa colonia do Angola será invadida pelos herreros, levando após si triumphantes os allemães; os limites não se acham bem definidos, e então comprehende-se que difficuldades podem levantar-se para nós se não estiver ali assegurado o nosso dominio e se tivermos de entrar numa questão de limites com a poderosa Allemanha. (Apoiados).

Por todas estas razões se tem affirmado a absoluta necessidade de se effectuar a expedição militar. (Apoiados).

Já vê o illustre Deputado que me precedeu no uso da palavra que não é sómente o desejo de vingança, ha razões de ordem social e politica que se prendem com a manutenção da nossa soberania.

O Sr. Ministro da Marinha e os que o defendera estão de accordo comnosco num ponto, mas divergem noutro. Concordam com a necessidade de se effectuar a expedição, divergem no adiamento d'ella, e em recorrerem ao caminho de ferro, como elemento absolutamente indispensavel para o transporte de tropas, não tendo havido ainda para nós a demonstração de que S. Exa. tenha razão.

Por seu lado S. Exa. diz que tinha visto o plano de operações apresentado pelo Sr. Eduardo Costa, que reputava indispensavel que se não perdesse tempo para a organização da expedição se se queria que ella se realizasse este anno, porque era preciso transpor o Cunene em junho. E eu não posso admittir que este distincto militar, tão conhecedor de assumptos d'esta natureza, desde que visse que era impossivel que no corrente anno só realizasse a expedição, não o dissesse claramente.

Não ha duvida, portanto, que da parte do illustre official, encarregado da elaboração do plano, havia a crença de que podia realizar a expedição, e o Sr. Ministro da Marinha seria logico se demonstrasse que não possuia os