O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

SESSÃO N.° 26 DE 5 DE SETEMBRO DE 1905 13

meios regulares que nos levassem, já não digo a Magul, mas a Mataca pelos meios normaes.

Não o fez, e firmou-se na necessidade absoluta do caminho de ferro de Mossamedes á Chella, e como é indispensavel, materialmente, que elle esteja concluido a tempo de poder começar a transportar as tropas para o Humbe, a conclusão rigorosa a que se chega pela força das declarações do Sr. Ministro da Marinha, e em face d'ellas, é que, para o anno, tambem não teremos expedição.

as, Sr. Presidente, o Sr. Ministro da Marinha, creio eu, está perfeitamente illudido com a supposição de que até o fim de junho tem o caminho de ferro feito até a base do Chella.

Se S. Exa. o conseguir, verá então a que distancia elle se encontra do seu termo e convencer-se-ha de que nem ainda para o anno proximo poderá realizar a expedição. O Sr. Ministro da Marinha está perfeitamente illudido com tal supposição.

Se o Sr. Ministro da Marinha visse que a par da sua boa vontade em realizar a expedição havia a mesma decidida boa vontade de todos os seus collegas do Gabinete decerto que a expedição estaria agora começando as suas operações.

Não tenho, Sr. Presidente, a pretensão de apresentar-me como pratico.

O Sr. Ministro da Marinha podia começar este anno o abastecimento, mas podia não o concluir, deixá-lo em meio Pergunto: não será possivel, admittindo que não se possam iniciar as operações sem estar completo o caminho de ferro, ir abastecendo aquella região, e para o anno continuar o mesmo processo de abastecimento?

O Sr. Ministro da Marinha não se compenetrou bem da necessidade da situação e, Sr. Presidente, manifestamente orientou mal o, seu espirito e não serviu com acerto e zelo os interesses nacionaes.

Mas não é esse simplesmente o mal que advém, ha outro, e esse é o que resulta de se fazer a construcção de um caminho de ferro considerado inexploravel.

O caminho de ferro de Om,60 não é considerado um caminho de ferro exploravel.

Comprehende-se uma linha ferrea d'essa natureza para serviço de uma propriedade, ou para pequenos ramaes mas um caminho de ferro de occupação, de fomento, e de exploração, não se pode admittir nessas condições. (Apoiados).

Não ha duvida que os caminhos de ferro de 0m,60 são de construcção mais economica que a construcção de caminhos de ferro de 0m,75 ou de lm,7, mas depois de construido esse caminho de ferro as despesas de exploração são quasi iguaes. Note a Camara que tanto para uns como para outros é necessario quasi o mesmo pessoal, os mesmos guarda-freios, o mesmo pessoal de estações. As despesas de reparação de vias são tambem quasi as mesmas, de modo que se pode dizer que a exploração de um caminho de ferro de 0m,60 custa tanto como a de um caminho de ferro de lm,7. (Apoiados).

A construcção do caminho de ferro é muito difficil, por que a linha tem de subir uma elevada montanha em que será preciso fazer obras de elevado custo.

Bem pode acontecer que o caminho de ferro não tenha muita força e que os productos transportados estejam sujeitos á extraordinaria elevação de tarifas.

O caminho de ferro de Mossamedes nunca poderá ser um caminho de ferro de expansão economica.

O planalto de Mossamedes é extraordinariamente rico, sob o ponto de vista agricola. O seu clima é excellente e por isso é susceptivel de grande desenvolvimento agricola.

O trigo; o milho tem uma producção phantastica que nós, europeus, não estamos acostumados a ver. Esta extraordinaria riqueza tem de ficar ali localizada e não se pode aproveitar por falta de transporte e por isso tudo indica que um caminho de ferro, desde Mossamedes até ao planalto, podia contribuir para a sua riqueza.

Mas era um caminho de ferro que fosse proprio para a expansão agricola, e não um caminho de ferro de 0m,60.

Ora veja V. Exa. como é difficil aproveitar-se assim um caminho de ferro que nos vae custar 1.500:000$000 réis!

O Sr. Rodrigues Nogueira, illustre engenheiro e Deputado da maioria, leu um livro para mostrar que havia caminhos de ferro de 0m,60 de largura por diversas partes. Não conheço os caminhos de ferro a que S. Exa. se referiu, mas presumo que são caminhos de ferro antigos, porque por todos os technicos modernos esses caminhos de ferro de 0m,60 são considerados como não exploraveis. E a proposito d'estes caminhos de ferro quero trazer um exemplo que é moderno e que é absolutamente verdadeiro.

Em 29 de outubro de 1896 foi aberto á exploração, na fronteira da Rhodesia, um caminho de ferro de 0m,60, construido por uma empresa ingleza. Era um caminho de ferro de verdadeira penetração, na extensão de 350 kilometros, aproximadamente. Pois a breve trecho se reconheceu, se chegou á conclusão, de que tal caminho de ferro não satisfazia ás necessidades da região, e aquella empresa, que tinha empregado bastantes capitães n'aquella construcção, modificou-a completamente e construiu um caminho de ferro de lm,7.

Bem pois, muito bem disse é Sr. Brandão, isto é deitar dinheiro á rua.

Quer V. Exa. saber quanto gastou a Inglaterra com a construcção do caminho de ferro da Rhodesia? Gastou 850:000 libras ou sejam 21.000:000 francos. Como V. Exa. sabe, este caminho de ferro era tambem de 60 centimetros do largura. Pouco depois da sua inauguração, como decerto V. Exa. não desconhece, reconheceu-se que elle não podia servir, porque não attendia as necessidades da região.

Vou terminar porque não quero cansar a attenção da Camara alongando-me em mais considerações, mas sinto bastante não ter valor sufficiente para convencer o Sr. Ministro da Marinha de que é um erro gravissimo a construcção do caminho de ferro nas condições em que vae ser realizado.

Com estas palavras talvez, ao menos, leve a duvida ao espirito de S. Exa., e se assim acontecer, o que Deus permitta, S. Exa. antes de proseguir não deixará de consultar os competentes, nomeando-os em commissão, e pedir o veto dos que teem ideias modernas sobre o assumpto.

É este o pedido que faço a S. Exa., e se o attender não ha de ser censurado; ha de pelo contrario ser applaudido. (Apoiados).

(O orador não reviu).

O Sr. Diogo Peres (por parte, da commissão de obras publicas): - Mando para a mesa o parecer d'esta commissão sobre o projecto n.° 10-B.

O Sr. Vicente Madeira: - Vae ser breve, não só pelo adeantado da hora, mas porque os discursos produzidos pelos illustres Deputados de um e outro lado da Camara devem tê-la convencido de que é tempo de acabar com esta discussão.

Ha já tres sessões que se discute uma cousa que afinal nada tem que discutir, e isto com prejuizo de assumptos que prendem e devem prender a attenção da Camara.

Deve realmente produzir um desastrado effeito lá fora a noticia de que esta Camara desde quinta feira se vem ocupando de um assumpto sem nenhuma importancia.

Não está longe o inicio do debate e portanto não é difficil reconstitui-lo.