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SESSÃO N.° 26 DE 5 DE SETEMBRO DE 1905 11

festações audaciosas e theatraes, tão cheias de brilho como inuteis, e ver apenas com prudencia, habilidade e tenacidade aquillo que pode dispensar em força. E, se amanhã lhe disserem que o seu procedimento de hoje contrasta com as suas palavras, quando na opposição negue, porque não ha incoherencia nem contradicção onde ha conformidade de modos de ver.

Na opposição o dever de S. Exa. era ser violento para accusar o Governo, ser energico para o corrigir; mas no poder tem de ser prudente, cauteloso e habil.

O dever é o mesmo, mas tem dois aspectos diversos.

Se o Sr. Ministro da Marinha entender que deve mandar uma nova expedição, não se deixe seduzir com o prazo de quatro mezes que a outra levou a preparar; faça-o cautelosamente, com vagar. Se, porém, ainda nesta altura, houver meio de evitar qualquer expedição, melhor será. O que o Governo havia de gastar com ella, melhor o empregará continuando a construcção do caminho de ferro ao planalto, continuando na execução da obra que já iniciou, limpando fontes, abrindo communicações, rompendo estradas, edificando abrigos; tudo isso para que, se alguma vez for realmente necessaria uma expedição, o soldado portuguez, debaixo do sol de Africa, tenha onde mitigar a sede e, quando ferido, não se veja na contingencia de ser pensado com farrapos de enxergão.

O dinheiro que se gasta em preparativos militares é melhor que fique improductivo. Gaste o Sr. Ministro da Marinha dinheiro em fortes e preparativos militares, mas não faça guerras emquanto puder fazer administração.

E, se no dia em que sair do Governo S. Exa. não puder juntar mais uma lantejoula ao teu prestigio, porque d'ella não precisa, e não tiver alcançado mais uma victoria sob a sua gerencia, não tenha pena d'isso. No nosso paiz, em que ha falta de muita cousa, e em que as provas de leviandade são cada vez maiores, ainda ha uma opinião que pensa e pesa; e, pelos applausos d'essa, troque S. Exa. vantajosamente os applausos da multidão. Aquelles decerto hão de ser-lhe muito mais gratos.

(O discurso a que este extracto se refere será publicado na integra quando S. Exa. restituir as notas tachygraphicas).

O Sr. Mario Monteiro: - Sr. Presidente: é com a maior satisfação que dirijo ao illustre Deputado que acaba de falar, o Sr. Diogo Peres, as minhas mais sinceras e cordiaes felicitações pela sua notavel estreia. Isto, Sr. Presidente, não quer dizer que concorde, nem de leve, com a exposição da doutrina e de ideias que S. Exa. apresentou.

O illustre Deputado começou por dizer que vindo pela primeira vez a esta casa do Parlamento encontrou estranhezas que de certa maneira o abalaram.

Ora justamente S. Exa. é que veio aqui dar motivo para estranhezas.

O illustre Deputado, que ao iniciar a sua vida parlamentar devia trazer para a tribuna palavras de justiça e de sentimentos generosos, começou o seu discurso por ser extraordinariamente injusto para com a opposição do partido regenerador.

Se porventura queremos que a obra do Parlamento portuguez seja proficua, sincera e verdadeiramente aproveitavel para o progresso da civilização d'este paiz, é absolutamente necessario que uns aos outros façamos justiça, e que despidos de qualquer consideração, seja de que ordem for, ponhamos sempre acima de tudo a justiça e a verdade. (Apoiados).

Ora a justiça e a verdade mandam dizer que no desastre do Cunene tanta responsabilidade cabe ao partido regenerador como ao partido progressista, quer dizer, não cabe a nenhum; a justiça e a verdade mandara dizer que, se porventura alguma responsabilidade ha que se possa imputar a alguem, certamente não é ao partido regenerador. De resto, o tribunal que se acha reunido para apreciar as circumstancias em que o desastre se deu, e quaes as responsabilidades dos que nelle intervieram, dirá a quem cabem essas responsabilidades:

Se nós todos que nos encontramos aqui dentro e aquelles que se acham lá fora, se o Parlamento e o paiz, teem a convicção de que o Ministerio regenerador cumpriu o seu dever, por que razão vem S. Exa., que pelo facto de ser novo deve ser justo, accusá-lo?

Da parte do illustre Deputado progressista que me antecedeu no uso da palavra, não houve senão o proposito em casa engendrado de vir para esta discussão despertar a nota politica.

S. Exa., que é novo no Parlamento, não devia ter este habito de vir provocar os representantes do partido contrario, mas S. Exa. não fez senão provocar o partido regenerador. (Apoiados}.

Da parte do illustre Deputado houve tambem o desejo de vir fazer um discurso extraordinario e estravagante.

Pois porque pertencemos á humanidade, não deixamos de pertencer a uma nacionalidade? Então não haviamos de tirar a desforra d'aquelles que nos massacraram?

Se nós nos devemos impulsionar apenas pela razão pratica, pelo egoismo das cousas, que ligação, que amor, que affectuosidade pode haver entre os filhos de um mesmo paiz?

Não é o sentimentalismo, o amor da patria ferido pelo massacre soffrido que nos obriga a pedir a expedição?

Não é só o conhecimento pratico das cousas, é tambem o conhecimento dos altos interesses do paiz, é a convicção absoluta de que, se porventura não tirarmos a desforra condigna, o nosso dominio em Africa pode perigar.

Timbro em todas as situações da minha vida em ser justo para com todos.

Ao Sr. Ministro da Marinha, que é meu adversario politico, que apenas conheço d'esta Camara, não posso deixar de dizer que muito o aprecio, que muito o louvo, que em muita estima tenho as suas altas e elevadas qualidades de homem, de parlamentar e de estadista, reconhecendo-lhe acima de tudo energia, caracter, firmeza de vontade, vivacidade, crença e fé. Devo mesmo dizer que apesar de S. Exa. se ter manifestado tão aguerrido no principio d'este debate, até certo ponto tão injusto para comnosco, que lhe dirigimos perguntas com o alto fim de sermos esclarecidos num assunto de tanta importancia para o paiz, apesar d'isso, repito, encantou-me. E encantou-me, porque gosto sempre de, em todas as occasiões, ver um homem de crença, de convicção, e pela attitude de S. Exa., faço-lhe a justiça de acreditar que effectivamente tenho deante de mim um homem que sente verdadeiramente o que é o amor da patria. (Apoiados).

Feita esta justiça ao caracter, á elevação de sentimentos, ao patriotismo e saber do Sr. Ministro da Marinha, deixe-me V. Exa., Sr. Presidente, entrar na apreciação das circumstancias em que nos achamos, com relação á questão do Cunene, para dizer, com igual desassombro e sinceridade, que no meu entender o Sr. Ministro da Marinha tem errado nesta questão.

Se é certo que em todos os assumptos que se discutem no Parlamento procuro sempre pesar as minhas palavras na balança da mais rigorosa justiça, se é certo que eu procuro sempre zelar os interesses do nosso paiz, certo é tambem que este meu proposito mais se accentua quando se discutem operações militares.

Neste assumpto especial não se acha só empenhada a dignidade e os interesses do paiz, acha-se tambem em jogo a vida do Governo.

O estado da questão, em toda a sua simplicidade, é esta:

Estamos todos de accordo na necessidade de se desaggravar a offensa feita á nossa bandeira, depois do desastre que causou no paiz verdadeiro assombro e infinita estra-