SESSÃO N.° 26 DE 5 DE SETEMBRO DE 1905 9
mento dos negocios publicos, e que, antigo titular da pasta da Marinha, tinha no assumpto competencia excepcional; pois S. Exa., lamentando o desastre de Cunene, pedia nesta Camara uma desforra immediata.
Era esta a affirmação feita por um antigo Ministro da Marinha e homem de excepcional competencia e responsabilidade. Tambem o Sr. Ministro da Marinha assim pensava, e tanto que o seu primeiro acto ao assumir a gerencia d'aquella pasta, acto que eu não posso tomar por um impulso de leviandade ou por desconhecimento dos negocios da sua pasta, foi convidar um illustre official a elaborar um plano de campanha e a assumir o commando da projectada expedição, para immediatamente bater o gentio e ir occupar a região alem Cunene.
Quem queria a desforra immediata era pois o partido progressista, era o Sr. Ministro da Marinha, era a imprensa de todos os partidos, era o sentimento do paiz, era o exercito, que exigia uma desforra completa e immediata. D'estes sentimentos, toda a gente o sabe, partilhava o partido regenerador.
E o que fez o Sr. Ministro da Marinha?
S. Exa. é sem duvida alguma um homem de talento (Apoiados}, um professor distinctissimo de uma das nossas escolas superiores, um profissional de renome, um parlamentar de largos recursos (Apoiados), mas, ao que parece, não estava preparado para a difficil pasta que lhe foi confiada.
Nunca vi nesta Camara o Sr. Conselheiro Moreira Junior tratar de questões ultramarinas; apenas lhe ouvimos uns discursos sobre o Banco Ultramarino. Não me lembro de mais.
S. Exa. nem no Parlamento, nem na imprensa, nem em publicações especiaes -affirmou as suas ideias ou os seus planos sobre assumptos coloniaes.
Pelo seu talento está S. Exa. bem á altura da gerencia de qualquer pasta. Professor distinctissimo e clinico abalisado, podia bem com os encargos da pasta do Reino. Financeiro aqui revelado em debates da especialidade, a ninguem surprehendia a entrada de S. Exa. nos Conselhos da Corôa, para a pasta da Fazenda, mas a sua entrada para a pasta da Marinha, cuja bagagem era pouco mais do que o seu grande talento, surprehendeu muita gente.
O Sr. Tavares Festas: - Que preparação tinha o Sr. Teixeira de Sousa para a pasta da Marinha?
O Orador: - Já esperava a invocação do precedente. Quando opposição, S. Exa. versando assumptos ultramarinos pouco mais faziam do que atacar o Sr. Teixeira de Sousa pela sua falta de preparação. E S. Exa. era um parlamentar antigo que se occupava de todos os assumptos.
O Sr. Cayolla (interrompendo): - Veja V. Exa. os registos parlamentares e nelles encontrará discursos do Sr. Ministro da Marinha sobre questões coloniaes.
(Ápartes).
O Sr. Presidente: - Peço que não interrompam o orador.
O Orador: - Eu sei defender-me, Sr. Presidente. O Sr. Ministro da Marinha levou para o Ministerio o seu grande talento, a sua grande aptidão e o seu trabalho; mas, francamente, a sua preparação para os assumptos especiaes d'aquella pasta não era muito grande, e se o era nunca ninguem lha conheceu. Estas palavras não significam menos respeito ou consideração por S. Exa., a cujo talento já fiz a merecida justiça.
Vamos agora ao Sr. Eduardo Costa.
S. Exa. é um official de competencia excepcional, e o Sr. Ministro da Guerra, que se senta ao lado do Sr. Ministro da Marinha, decerto corrobora esta minha opinião, de que aquelle distinctissimo official é um dos ornamentos do nosso estado maior.
O Sr. Eduardo Costa é um militar, cuja opinião é respeitada em assumptos coloniaes, é mesmo uma auctoridade, e pode affirmar-se, sem offensa para ninguem, que não temos melhor. Sobre isto não ha a mais pequena duvida.
Vou mostrar á camara qual a opinião que d'elle formava o antigo commissario regio da provincia de Moçambique que, pondo em relevo as qualidades d'esse official, dizia:
(Leu).
Ò Sr. Eduardo Costa é pois na opinião auctorizada d'aquelle illustre funccionario um dos mais considerados officiaes em materia colonial.
Alem da preparação para o serviço colonial, que já trazia como chefe do estado maior das campanhas da costa oriental, o Sr. Eduardo Costa exerceu a commissão de governador de Benguella, e foi interinamente governador geral de Angola. Quer dizer, S. Exa. á preparação do seu espirito juntava o conhecimento dos negocios da provincia e o conhecimento da região onde era chamado a desempenhar tão importante serviço.
Sem sombra de menos respeito e consideração pelo Sr. Ministro da Marinha, a competencia de S. Exa. para a organização de uma expedição colonial e para a opportunidade da sua realização sob o ponto de vista militar não se pode comparar com a do Sr. Eduardo Costa.
Acceitando a missão e promptificando se a fazer a expedição immediatamente, eu não acredito que o Sr. Eduardo Costa caminhasse para um desastre; S. Exa. não tomava as responsabilidades de um tal commando, sem ter previsto as difficuldades que adviriam. (Apoiados). É bastante conhecedor das campanhas coloniaes, bastante prudente e bastante patriota para não arriscar o prestigio do paiz, os brios do exercito e a vida dos seus camaradas a um desastre, que pudesse ser previsto.
Ninguem acredita que um espirito tão ponderado como tem esse official, com as responsabilidades de um nome tão considerado, acceitasse o commando de uma expedição tão importante sem prever todas as difficuldades que o Governo parece ter previsto mas ainda não mostrou. (Apoiados).
Ninguem acredita isso. (Apoiados).
As causas do adiamento foram necessariamente outras, que desconheço. E se assim não é, mande o Sr. Ministro o plano do Sr. Costa para a mesa para ser consultado pelos Srs. Deputados. Amam todos bastante o seu paiz para não revelarem o que o não possa ser revelado.
Ora eu vou provar a V. Exa. que se podia ter feito a campanha; e tiro a minha, conclusão de factos positivos, apresentados uns á Camara, outros fornecidos por informações de officiaes do exercito do reino e dos quadros de Angola que conhecem aquella região, e alguns dos quaes o Sr. Ministro da Marinha tambem naturalmente consultou, outros expostos em relatorios e trabalhos conhecidos, e ainda outros publicados pela imprensa.
Por todas estas informações e ainda pelos trabalhos de estatistica dos povos do sul de Angola eu concluo que todos os povos entre o Cunene e o Cnbango contra quem deviamos organizar a expedição podiam pôr em guerra 30:000 a 40:000 homens com 5:000 a 6:000 espingardas e alguns cavallos. Da experiencia das campanhas coloniaes e da opinião dos entendidos concluo que uma columna de 3:000 a 3:500 homens e alguns auxiliares era força sufficiente para bater o gentio do sul de Angola. Faço estes calculos summarios para não cansar a Camara.
De passagem direi que, pelos documentos officiaes que o Sr. Ministro da Marinha me enviou, a columna do capitão Aguiar era de 2:052 homens europeus e indigenas, numero sufficiente, senão para fazer a occupação, pelo me-