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18 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

ram que podem predominar mais na politica portuguesa! (Apoiados da esquerda).

Apesar disto, não falta quem argua os dissidentes do trazerem a este debate, numa discussão prolongada e viva, uma nota de incompatibilidade com os principios monarchicos que professam. Esses que nos accusam não fazem a distincção necessaria que se estabeleceu já entre os defensores do regime, no qual a dissidencia se orgulha de occupar posições muito distanciadas de todos os outros agrupamentos, defendendo principios radicaes que considera inteiramente conciliáveis com este systema politico.

Os proprios republicanos, Sr. Presidente, reconhecem lealmente a possibilidade de haver na monarchia quem pretenda fazer essa tentativa, e se dispõem a não hostiliza-la, sem quebra dos seus principios, e desde que lealmente se proceda, disse o nestes periodos, com que concluiu o seu ultimo e notavel discurso, o illustre Deputado e eminente parlamentar Sr. Dr. Affonso Costa:

"Se ainda pode separar se da solidariedade monarchica um grupo homens rectos e virtuosos, que queiram resolver esta questão pela justiça e pela moral e inaugurar nestas bases uma nova monarchia, o partido republicano, sem quebra dos seus principios, offerece-lhes lealmente a sua collaboração".

Sr. Presidente: em qualquer outro pais, onde houvesse uma politica monarchica conscia das suas responsabilidades e defensora intelligente da sua situação, estas nobres e leaes palavras, que provam os elevados sentimentos patrioticos do illustre Deputado republicano, e do seu grande e poderoso partido, seriam acolhidas com alvoroço, e não com desconfiança, indifferença ou retrahimento, como succedeu no Parlamento Português. (Muitos apoiados da esquerda).

Ora, desse mal, Sr. Presidente, não enferma a dissidencia progressista. E já que o acaso da inscrição quis que eu seja o primeiro que, pela dissidencia progressista, use da palavra depois do Sr. Dr. Affonso Costa, na discussão deste projecto, não deixarei, Sr. Presidente, de registar a offerta de tal collaboração para que, em bases de justiça e de moralidade, se erga sobre os destroços da antiga monarchia, tragicamente derrubada na tarde de 1 de fevereiro, uma nova monarchia que seja essencialmente democratica, e dentro da qual o povo português possa, honrada e livremente, realizar muitas das suas nobres aspirações e o progresso a que tem direito. (Apoiados).

Não trahiram os seus principios, não faltaram á lealdade devida ao seu Rei, os monarchicos de Italia que, depois da morte trágica do Rei Humberto levantaram, sobre o tumultuar das paixões mais opyostas e mais impetuosas, uma monarchia radical a que preside a sympathica personalidade desse Rei que é um trabalhador infatigavel, intelligente e um convicto liberal: Victor Manuel III. (Muitos apoiados). Com os radicaes governa, com elles atravessou temerosas crises, e não pode comparar-se a effervescencia das correntes clericaos e socialistas da Italia, com o movimento politico entre nos, quer dos reaccionarios, quer dos partidos mais avançados.

É que na Italia comprehendeu-se a tempo que uma politica repressiva, contraria o espirito do nosso tempo é á evolução rapida do moderno direito publico, seria a ruina da monarchia, a desordem e o descredito d'aquelle grande povo. (Muitos apoiados). E Sr. Presidente, quando, por toda a parte, de um a outro extremo da Europa, a Liberdade leva a sua influencia fecunda, abrindo brecha formidavel no cezarismo russo, conquistando os socialistas uma larga representação no Parlamento Allemão, chamando Eduardo VII. aos seus Conselhos da Coroa representantes do partido do trabalho, consolidando-se em França a politica radical de Clemericeau, e criando se em Espanha obstaculos invenciveis á orientação conservadora do illustre homem de Estado que hoje preside ao seu Governo, não será decerto era Portugal, Sr. Presidente, affirmo-o, que resuscitará o poder pessoal do Rei, poder que deve considerar-se amortalhado na ditadura que teve ha cinco meses tão funesto epilogo!

Querem os dissidentes uma monarchia nova. Ser-lhes-hia mais facil o accesso integrando-se nos moldes gastos da antiga politica portuguesa. Bastar-lhes-hia encorporarem se nas longas tilas dos que cortejam o Paço e divinizarem, na sua adoração extatica, os chefes dos velhos partidos. Com é esforço de que teem dado provas, com a tenacidade de que dispõem, e com o vigor que a muitos d'elles se não contestará, a subida seria rápida e pouco extenuante. Nada ha mais commodo do que o monarchismo e o partidarismo incondicionaes!

Os dissidentes porem, Sr. Presidente, não seguiram esse caminho. Nada os fará entrar n'elle! Nem as desilusões, nem as violencias, nem as perseguições, nem os odios, nem as seducções do poder, nem a tentação deslumbrante do mando e das honrarias.

Se amanhã se repetisse a politica que dominou neste pais desde 10 de maio de 1907 até ao cair da tarde de 1 de fevereiro de lt08, a attiiude dos dissidentes seria a mesma que então foi ao lado da lei contra o Rei, ao lado da liberdade contra o despotismo!

Se nesse embate a monarchia tivesse que succumbir, ella que ficasse por terra. Porque tudo seria preferivel á ignominia de tal tyrannia! (Apoiados da esquerda).

Quem assim fala, Sr. Presidente, e eu tenho a certeza de que assim pensa toda a dissidencia, riem faz a corte ao Rei, nem busca popularidade entre os republicanos, visto que lhes não occulta os principios que professa.

Se daqui viesse o largo ostracismo do poder, os dissidentes preferilo-hiam a uma transigencia servil que os deshonrava.

A sua collaboração só pode ser pedida e comedida para uma obra politica rasgadamente democratica, que alcance na politica portuguesa não a acalmação artificial que se fez no principio deste reinado, mas aquella profunda tranquilidade, que não exclue as luctas politicas pelos principios que uns e outros defendam, mas que permittirá o estudo retido e a solução acertada de tantas questões economicas que interessam é nação. (Apoiados da esquerda).

É assim que os dissidentes, Sr. Presidente, comprehendem a monarchia nova á que se referiu o Sr. Dr. Affonto Costa.

Querem os dissidentes congregar, para larguissimas reformas, todas as forças democraticas do país. Ficando os republicanos com os seus principios, e nos os dissidentes, como monarchicos, com a sua causa, distinguir-se-hão porque uns consideram inevitavel a mudança de instituições, outros julgam que não é preciso arrostar com as eventualidades d'essa transformação politica para se conquistarem os effeitos praticos de um radicalismo intelligentemente comprehendido.

Pouco importa aos dissidentes que assim, os confundam com os republicanos. Confundir-se não querem com os serventuarios de uma instituição que abandonariam no dia em que se tornasse absolutista e que combateriam, por todas as formas, se ousasse tocar outra vez nas liberdades populares, que estão confiadas á guarda é á honra de cidadãos, que não são vassallos de um Rei, e de cuja soberana vontade depende a existencia de um Throno. (Apoiados da esquerda).

Se os dissidentes assim servem, para elles chegará cedo a sua hora de governo. Se não servem, elles conquistarão, contra todos, o poder, pelo seu legitimo esforço, durante meses, durante armos, numa luta sem treguas, e até que essa hora haja chegado. Nem teem pressas, nem hesitações.

Sr. Presidente: estou profundamente convencido de que a monarchia do Rei D. Carlos teria tido mais feliz destino,