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uma das razões porque em Portugal, estamos privados de saber a fundo grande parte da nossa Historia; pois que havia um tal escrupulo em consentir que esses papeis antigos, podessem de qualquer modo, vir á luz pública, que se arriscavam antes a perdelos que a mostralos. Entre outras, a Casa da Ericeira, que tinha documentos de summa importancia, os perdeu no terramoto, e assim ficaram para sempre perdidos para a Historia, por não haverem cópias, nem se terem estampado. — Por isso o estabelecimento que a Commissão inculca vem a ser muito util, porque muitos papeis preciosos vão ser copiados, e guardados em uma Bibliotheca, que apezar de pública, não tem esse caracter completamente; e por isso não ficam subjeitos a serem roubados, nem dilacerados, como ás vezes me informaram ter acontecido na livraria da Universidade de Coimbra. As obras assim truncadas, nem sempre é possivel, ou facil substituir. Adoptando-se pois o additamento do Sr. Bispo Conde, alcançâmos a facilidade de começar um archivo publico, aonde appareçam Memorias-Historicas, e outros papeis interessantes; cuja falta tem feito com que a Nação Portugueza, tenha sido reputada como uma Nação de ignorantes; quando está muito longe de o ser. Eu sei que nos papeis, que pertenciam ao Conselho do Ultramar, á Junta dos Tres Estados, ao Desembargo do Paço, e outros Tribunaes extinctos, hão de apparecer documentos, que provem, que os conhecimentos dos Portuguezes não eram tão limitados como geralmente presumem os Estrangeiros.

O Sr. Marquez de S. Paio: — Não posso deixar de approvar o additamento proposto pelo Digno Par o Sr. Bispo Conde; com a intenção principal de que se publiquem os documentos que existem na Torre do Tombo, e dos quaes até agora se tem feito um monopolio: appareçam ao publico, e conheça-se o importantissimo objecto das Actas das antigas Côrtes, já que felizmente acabaram os motivos que as faziam pôr em esquecimento. Por tanto, torno a dizer, que approvo completamente o additamento proposto a este artigo.

O Sr. Conde da Taipa: — O Projecto em discussão tem por objecto o estabelecimento de uma Bibliotheca; porém seria muito mais amplo indicar a formação de uma Commissão Statistica, que decerto nada ha mais util, nem mais necessario em Portugal, assim como em todos os Governos Representativos, do que ter conhecimentos Statisticos, porque é do conhecimento do passado que se tiram regras para o futuro: em Inglaterra, ainda ha pouco, se creou uma Sociedade desta especie para conhecer de todas as Administrações em geral, e isto porque quando se appresenta qualquer objecto sobre que legislar, vai alli ver-se o que ha sobre elle, consultam-se todos os documentos, e acham-se os factos. Ora esta idéa do Sr. Bispo Conde é muito boa, porém precisa-se dar-lhe outra organisação, sendo objecto que aliàs merece um novo Projecto de Lei, sem que tenha nada com a livraria; assim se fez em Inglaterra ha dois annos, creando a Sociedade Statistica. Em Portugal legisla-se sempre ás cegas, e porque? Porque não ha Statisticas; porque tudo está amontoado nas Secretarias; e não se dão os documentos a ninguem, pois os Officiaes das Secretarias nem estão nesse costume, nem o podem estar em quanto se não der uma organisação judiciosa aos Ministerios.

(Aqui ha uma lacuna importante, e procedente de se desencaminhar ao Tachygrapho a nota onde estava escripta.)

Os Inglezes nas muitas tentativas que tem feito para conhecerem o interior da Africa, tem achado nomes Portuguezes, e vestigios de descobertas Portuguezas, de que ninguem tem conhecimento em Portugal, e de que de certo existem os documentos nos nossos archivos. É realmente para admirar que quando dr. todas as nações se tracta de adiantar ou rectificar os conhecimentos geographicos, Portugal ignore a existencia de mil documentos que possue, os quaes são da maior importancia não só para o adiantamento daquella sciencia, mas até para provar muitas asserções historicas a nosso respeito, das quaes muita gente de credito tem já duvidado. — Portanto, digo, que será bom passar agora esta Lei para o fim que foi proposta, quer dizer, para haver uma livraria nas Côrtes. Posteriormente terá muito bem entendido que uma Commissão appresente á Camara um Projecto de Lei, referido explicitamente á Statistica; e se ninguem aqui tomar esse trabalho, eu terei a honra de propôr á consideração da Camara alguma cousa sobre este assumpto.

O Sr. Sarmento: — Ainda que o Digno Par o Sr. Conde da Taipa não tivesse dado tantas provas do seu patriotismo, o que acaba de dizer seria uma nada equivoca do seu caracter verdadeiramente Nacional, que leva o coração do Digno Par para cousas extraordinarias. A Commissão tem conhecido por experiencia que o genio da Nação vai conforme aos desejos do Digno Par, mas nem sempre elles se preenchem, e uma prova disso é que ainda se não acabou obra alguma desde o primoroso Templo da Batalha até a construcção do magnifico Palacio da Ajuda: o mesmo edificio dentro do qual estamos presentemente, é uma prova addicional do que acabo de referir; porque quasi sempre andâmos com a imaginação, e pômos de parte a parte praticavel dos projectos. Por tanto a Commissão foi, por esta consideração, menos poetica, calculando só com os meios possiveis. Entretanto para o futuro talvez se possam preencher as vistas do Digno Par, determinando-se que este estabelecimento possa receber primores de artes, e com menos custo do que aquelles que se trazem da Grecia e do Egypto, como está acontecendo na Allemanha; são cousas que lhe tem custado grandes despezas, e que talvez nós podessemos obter muito baratas; porque emfim nunca nos lembrou comprar este ou aquella pedaço de marmore, no tempo em que tinhamos tantas relações com as nações do Oriente. Tem isto feito com que os nossos architectos concebessem nos seus desenhos monstros e cousas que não existem, em quanto nos outros Estados, aonde tem tido logar a importação de tantos fragmentos do gosto e pureza da annuidade, o progresso das Bellas-Artes tem sido muito consideravel, em quanto entre nós ellas estão unicamente dependentes dos talentos naturaes dos Portuguezes. Sem fazer mais alguma reflexão a este respeito, sómente observarei, que o mesmo Projecto poderá servir de alguma fórma para o fim indicado pelo Digno Par: os conhecimentos humanos vão agora tomando nova marcha, por isso mesmo que actual-