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166 ANNAES DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

car, pelo muito respeito e consideração que tive por elle e pela riqueza que o pai z lhe deve. Refiro-me ao Sr. José Isidoro Vianna.

Estando á testa d'essa empresa esse homem de uma coragem nunca abalada, com uma confiança espantosa nos beneficios e nos recursos d'aquella industria, e com um senso pratico admiravel, soube ver onde estava o defeito da exploração e a forma dê a melhorar. O facto é que as circunstancias vieram demonstrar, em todos os pontos, a maneira de ver d'aquelle admiravel administrador da companhia.

A prosperidade da empresa, devida aos esforços d'esse homem e sobretudo ao tino com que viu e reconheceu que não era possivel deixar n'um regimen de absoluta liberdade a exploração de uma industria d'esta ordem, sem interessar n'ella muita gente, porque podia vir: primeiro o abandono natural, proveniente do desleixo das administrações ; em segundo logar a concorrencia do estrangeiro; e em terceiro logar a tendencia que havia para reagir contra tudo quanto se suppunha que nas administrações seria apenas um espirito de ganancia.

Foi o admiravel acto com que elle descobriu que não havia maneira nenhuma de evitar a concorrencia do contrabando sem a determinação de zonas, todas conjugadas para que o contrabando aqui não entrasse. Mas não foi só isso que elle fez.

Era preciso outra cousa.

Elle descobriu que eram insufficientes aquelles 4:500 homens que o Estado punha ao serviço da companhia, e nomeou uma fiscalização que se tem feito notar pelos seus serviços, e foi devido a essa orientação que se póde dar disciplina e ordem aos trabalhos da exploração, e desde então conduzir bem a marcha progressiva da venda dos tabacos, que não parecia ser facil, como disse o Digno Par Sr. Dias Ferreira.

E a este respeito permitta-me a Camara uma divagação.

O Digno Par Sr. Dias Ferreira, a cuja autoridade e capacidade eu presto a mais inteira homenagem, enganou se redondamente com o facto dos vicios Os vicios, coitados, nos tempos que vão correndo estão, tambem muito ameaçados.

Elle é o progresso da hygiene, e toda a gente a pregar a necessidade da virtude.

E então os philantropos e as sociedades acodem de todos os lados a pugnar muito pelas virtudes, com o intuito de exterminar o vicio. Mas o vi cio é mais divertido que a virtude, é d'ahi que provém esta queda para a tristeza.

Assim a embriaguez é um vicio umas vezes divertido, outras tenebroso; esse vicio que tem sido combatido pelos medicos de todas as nações.

E lamento, Sr. Presidente, este facto, não pelo vicio, mas pelo Sr. Dias Ferreira, porque, sendo S. Exa. vinicultor de Collares, ha de encontrar mais difficuldades em vender os seus vinhos.

Com o tabaco pode ser que se venha a dar a mesma cousa. E senão vejamos : o avô e o pae do Sr. Dias Ferreira naturalmente tomaram rapé, e S. Exa., certamente, nem apertado por uma dor de cabeça, seria capaz de se soccorrer a este estimulante do nariz.

Portanto, eu devo dizer que alguma cousa se passa semelhante ao vicio da embriaguez e ao de tomar rapé, tão interessante e tão ponderado nas scenas galantes do Imperio, quando o Imperador commentava as suas phrases, pitadeando.

O rapé hoje está reduzido á mais infima condição, só fazendo uso d'elle alguma velha ou alguma beata escondida lá para a provincia.

Pobre rapé! Com o tabaco vae sendo a mesma cousa; não é só no estrangeiro, é tambem em Portugal.

No estrangeiro, pelas notas da régie hespanhola e francesa, vê-se que a venda do tabaco tem diminuido; e se tomarmos em conta a propaganda, que se faz nas familias, em que o pae impõe, não a antiga prohibição, mas o conselho salutar e amigo, e ao mesmo tempo a propaganda dos medicos, que, já descrendo dos alcaloides para combater os males produzidos pelo fumo, começam "a produzir maximas moraes, por todas estas circumstancias se vê que este vicio não pode resistir, e já em Portugal, desde 1904 para cá, se tem visto que ha um accentuado movimento decrescente, que seria bom que não continuasse, porque se continuar lá vão todas as esperanças do Sr. Dias Ferreira.

Já no anno passado, pelo relatorio da companhia e por outros documentos, se viu que a companhia teve uma diminuição de 220:0005000 réis, o que faz 2 por cento de rendimento.

Como ia dizendo, a organização da empresa foi devida á iniciativa d'esse homem que se chamou Isidoro Vianna, a quem presto inteira homenagem de justiça perante a Camara e perante o paiz, o qual foi, alem de um bom administrador, um zeloso patriota, amigo do seu paiz, e eu não me posso esquecer que este homem achou a morte no prazer que teve, quando viu realizados os seus esforços, para poder emprestar ao Governo, em condições vantajosas, o dinheiro necessario para pagar a indemnização de Berne.

Só quem o viu podia avaliar como aquelle velho, com um coração de joven, palpitava cheio de enthusiasmo ao voltar de Paris, com a certeza de poder acudir em óptimas condições ao Governo do seu paiz.

Foi devido a este homem que a companhia prosperou e progrediu, e, prosperando a companhia, prosperaram os interesses do Estado e dos operarios.

Sr. Presidente: a proposito dos operarios, devo dizer pela minha parte que me associo ao voto do Sr. Baracho, por todas as razões por S. Exa. apresentadas e mais uma.

Entendo que se deve tratar da aposentação dos operarios, por um sentimento de justiça.

Existindo nas leis portuguesas a reforma para a grande maioria dos funccionarios do Estado, não vejo motivo nenhum para que os operarios dos tabacos fujam a essa lei, sendo como são funccionarios do Estado.

Os operarios dos tabacos são hoje operarios dos tabacos, porque estão fabricando ao serviço da companhia.

Mas não são funccionarios empregados da companhia: são funccionarios do Estado que o Estado empregou, e cedeu á companhia, para lhes fabricarem os seus productos. Por consequencia, são funccionarios do Estado que devem ter as mesmas regalias da maioria dos funccionarios do Estado.

Se a companhia lhes paga é, decerto, emquanto estão ao serviço da industria que ella explora, mas são funccionarios do Estado.

Ora, como funccionarios do Estado ao serviço da companhia, ainda foi devido ao zelo d'esse homem que a situação dos operarios póde melhorar muitissimo de 1891 para cá.

Não quero cansar a Camara, mas basta dar um pequeno topico.

A situação dos operarios em 1891 era a seguinte:

(Leu).

Pois de 1891 até 1904 esse salario subiu de 608 réis a 902 réis por oito horas de trabalho.

Deste modo não corresponde isto, designadamente, ao que ganha cada operario: é preciso juntar a isto, que já representa um acrescimo de salario realizado durante a administração da companhia, de 53 e 18 por cento, o que os operarios teem, quer proveniente da partilha de lucros, quer proveniente do subsidio para a Caixa de Soccorros.

Foi ainda devido a essa administração, no que diz respeito á Caixa de Soccorros, que as medias de 1891 até 1903 subiram de:

(Leu).

Sr. Presidente: sem uma administração severa, sem uma administração honrada, isto não pode obter se. Essa administração severa, pondo de parte no-