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SESSÃO DE 12 DE JUNHO DE 1888 1001

drid, onde breve voltará a reassumir as funcções do se alto cargo, occupar-se-ha d'este negocio, se for preciso.

O sr. Visconde de Moreira de Rey: -Não exigis qualquer responsabilidade ao governo portuguez pelas palavras proferidas por um membro do governo hespanhol no parlamento da nação vizinha.

A nossa constituição politica garantia-nos a maxima liberdade e inviolabidade de opiniões no parlamento, direito este que usava amplamente e que muito applaudia, não podendo por isso contestar igual direito e igual liberdade de opiniões no parlamento de outra nação.

Não lhe fez a menor impressão de espanto ou de estranheza a leitura do telegramma e da mesma noticia nos jornaes, porque tudo aquillo diz muito menos do que na realidade pensam e sentem a nosso respeito os nossos vizinhos.

Nas conversas particulares que por vezes havia tido com homens importantes do reino vizinho, tem tido occasião de apurar bem ao certo a sua opinião a nosso respeito sob o ponto de vista de relações internacionaes. Com Portugal, não é possivel tratar a Hespanha seja o que for - eis a sua opinião franca a. nosso respeito e que nós, esta era a verdade, não cessavamos de justificar. Um bocado por preconceito já antigo, outro bocado por especulação politica das opposições, é certo que se um homem de juizo, pronuncia opinião sensata sobre qualquer assumpto internacional relativo á Hespanha, podia desde logo contar com a suspeita de iberico e como tal era denunciado á opinião; por isso naturalmente todos os ministros, ao tratarem com aquelle paiz, tremiam de receio; mas a primeira qualidade de um ministro era - não tremer. Inventaram-se os papões para assustar as creanças e creanças que nunca são homens nem mulheres.

Pensavam, pois, os nossos vizinhos que a unica politica a seguir para com Portugal era fazer de conta que Portugal não existia.

Se por parte da Hespanha, por exemplo, nos fossem offerecidas grandes vantagens, recusal-as-íamos pela suspeita de nos serem concedidas com intuitos ibericos, e, o ministro, que as acceitasse, seria apontado á execração publica.

Era já sabido que no parlamento tinha por uso manifestar com absoluta independencia as suas opiniões, que em quasi todas as questões discordam das de todos; succedia-lhe o mesmo com respeito ás nossas relações internacionaes com a Hespanha e, como não tinha o menor receio, nem do nosso nem d'aquelle paiz, nenhuma duvida tinha €m expor essa sua opinião. Vendo as difficuldades constantes e interminaveis que encontrâmos nas nossas relações com a nação vizinha, difficuldades com que luctam este e todos os nossas governos, sendo comtudo todos elles admiravelmente concordes no cuidado com que proclamam a excellencia ininterrupta das relações entre os dois paizes, collocados como estamos entre o territorio hespanhol e o oceano; não dava muito pela apregoada cordialidade affectuosa das relações entre os dois povos, e, situação definida e clara, não havia para nós em relação á Hespanha senão uma d'estas duas, ou separação absoluta, ou intima união, perfeito accordo, donde nos resultassem vantagens mais positivas e verdadeiras do que as que nos resultam da alliança com a Inglaterra

Acreditava que, apesar de pequeno como era, este paiz, se tivesse hoje os homens de outro tempo, ha muito já teria realisado a conquista da Hespanha, a que ella não opporia grandes difficuldades.

A empreza não seria de certo para esta, nem para a seguinte geração; comtudo as suas difficuldades não igualariam de certo as que a Prussia teve de superar para constiuir o grande imperio allemão, ou as que o Piemonte encontrou e venceu para realisar a unificação da Italia. O que não podia applaudir era a continuação d'este estado, em que incessantemente temos de defender graves interesses do paiz, apesar das apparencias affectuosas das relações com a Hespanha e com todos os paizes, que tanto jubilo causavam ao sr. ministro dos estrangeiros, que para provar a cordialidade das nossas relações com a Santa Sé e os nossos triumphos diplomaticos no oriente, vinha dizer á camara que o nosso bispo de Meliapor fôra convidado para um jantar e á mesa do banquete tivera o logar de honra, como, para por em evidencia agora as nossas boas relações com o paiz vizinho, vinha dizer cheio de jubilo que ainda, havia pouco, Portugal fôra por aquelle paiz convidado a tomar parte nas suas festas commemorativas do descobrimento da America.

Aconselhava o sr. ministro a negociar o tratado sem nenhuma especie de preoccupação derivada da nossa situação especial em relação á Hespanha; negociasse exactamente como se negociaria com a nossa fiel alliada Inglaterra, mas negociasse desassombradamente, ou então rompesse.

Desista do tratado, ou faça-o em condições vantajosas ou acceitaveis para o paiz, que não de origem a constantes reclamações de interesses feridos, que fatalmente viriam por fim a anullal-o para se inaugurar uma politica de represalias, que, por mais reciproca que fosse, não deixaria de ser funesta.

(O discurso do digno par será publicado na integra, logo que s. exa. restitua as notas respectivas.)

O sr. D. Miguel Coutinho: - Requeiro a v. exa. se digne consultar a camara sobre se quer passar á ordem do dia.

O sr. D. Luiz da Camara Leme: - A camara já votou que fosse concedida a palavra a todos os dignos pares que a pedissem sobre esta questão; e, portanto, não póde reconsiderar.

Nunca se fez similhante cousa.

Eu não pedi a palavra para tratar do assumpto, mas, em nome de todos os meus collegas que se inscreveram, protesto contra o requerimento do digno par. Esse requerimento importa abafar a discussão, depois de se ter resolvido dar-lhe a maior largueza, e é cousa que n'esta casa nunca se fez.

Por consequencia, peço a v. exa. que pergunte á camara se mantem a sua primeira resolução.

O sr. Presidente: - Eu proponho á camara o requemento tal qual foi formulado.

O sr. D. Miguel Coutinho: - Quando entrei na camara, já se havia procedido a uma votação, de que só agora tive conhecimento. Por isso retiro o meu requerimento. (Apoiados.)

O sr. Vaz Preto: - Vou ser muito breve; vou simplesmente ratificar os factos.

O sr. ministro dos negocios estrangeiros tem o pessimo costume, o pessimo systema de adulterar as palavras dos seus adversarios, de inventar o que lhe parece para depois discutir a seu bello prazer, combatendo, por assim dizer, moinhos de vento. Nada do que s. exa. impugnou eu disse.

O sr. ministro affirmou que eu tinha querido devassar as intenções do sr. Moret. Não foi assim.

Tenho muito respeito pelo sr. Moret como homem de letras e como orador; sou um dos seus admiradores ha muito tempo. Não discuti, não interpretei nem quiz interpretar as suas intenções; referi-me a um facto de que a imprensa fallou e sobre isso pedi explicações. Parece-me que estava no meu direito.

Fazendo considerações sobre o que disse o sr. ministro os negocios estrangeiros, acrescentei que talvez- o sr. Marianno de Carvalho podesse dar explicações a esse respeito, porque tinha relações intimas com o sr. Moret.

Todos sabem que o sr. Moret e o sr. Marianno de Caralho eram directores do caminho de ferro de Caceres.

O sr. Ministro da Fazenda (Marianno de Carvalho): - Eu nunca fui director do caminho de ferro de Caceres.