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1002 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

O Orador: - Mas era director do caminho de ferro do do norte e leste.

Todos conhecem aquelle relatorio feito pelo sr. Marianno.

Todos sabem que o caminho de ferro de Astorga prejudica as linhas ferreas do Douro, Beira Alta e Beira Baixa.

São exactamente a companhia do norte e leste e os syndicatos a que está ligada que têem essa concessão.

Todos sabem das pretensões que têem havido para ser augmentado o subsidio aos ramaes de Salamanca, subvencionados pelo governo.

Pois não é sabido que vieram representantes dos bancos do Porto tratar d'essa questão? Eu recebi um pedido! e tenho o documento.

Já v. exa. vê que, alludindo eu simplesmente aos factos, dizer o sr. ministro que pretendi devassar as instruções do sr. Moret, a quem respeito como homem de letras e orador, conhecido como tal em toda a Europa, não é correcto. I

O sr. Moret póde dizer o que quizer, é responsavel pelo que diz, nada tenho com s. exa.

Ao sr. ministro dos negocios estrangeiros pergunto se aquellas palavras são ou não offensivas para Portugal?

A isto respondeu o sr. ministro que. esperassemos pela publicação official do discurso do sr. Moret. Pois esperemos; mas não digam que eu faço insinuações.

Não, sr. presidente, não faço insinuações; posso, sim, fazer accusações, nada mais.

O sr. ministro dos negocios estrangeiros tem um pessimo costume, e, se o não perder, tirará em resultado o ver-se desmentido, e emprego esta palavra porque, realmente não encontro outra mais expressiva.

O pessimo costume é o de adulterar o sentido das palavras dos seus adversarios e responder-lhes, não ao que ellas disseram, mas ao que s. exa. os faz dizer.

O sr. Ministro dos Negocios Estrangeiros (Barros Gomes): - Acho, sr. presidente, que não ha utilidade em que esta discussão se prolongue. (Apoiados.)

Isso, porém, não me impede de responder ao digno pai, e principalmente á ultima parte das suas observações.

Se eu tenho o pessimo costume de adulterar o sentido das palavras dos meus adversarios para responder ao que elles não disseram, mas ao que eu os faço dizer, sem accusar s. exa. do mesmo mal, posto que a palavra adulterar importe uma intenção, que eu não acceito, devo observar-lhe que já talvez hoje mesmo s. exa. tenha alterado, e profundamente, o sentido das minhas palavras.

O que, porém, devo declarar é que, se ás vezes, como diz o digno par, eu adultero o sentido das palavras dos meus adversarios, não é com o sentido de combater o que elles não disseram, mas sim será isso devido á falta da minha intelligencia, deficiencia de comprehensão, ou qualquer outra causa identica.

O sr. Barjona de Freitas: - Poucas palavras direi sobre o assumpto, sr. presidente, pois que, se o acho por um lado importante e melindroso, por outro o considero pueril.

Proferiram-se no parlamento da nação vizinha palavras que sem serem offensivas, não são, todavia, uma manifestação muito agradavel para Portugal.

Ora, era primeiro logar, o sr. Moret, ministro dos negocios estrangeiros de Hespanha, é um homem notabilissimo, um diplomata distincto e litterato abalisado, um notavel homem politico, não sendo por isso muito natural que commettesse uma leviandade e que não saiba manter as conveniencias diplomaticas.

Por outro lado, o sr. ministro dos negocios estrangeiros foi o primeiro a declarar terminantemente que entre Portugal e Hespanha havia as melhores relações, citando até, como prova d'isso, o facto das successivas prorogações do convénio de pesca, em que Portugal era e é interessado.

No entanto, o nosso representante em Hespanha não estava, nem está ainda no seu posto, o que, mesmo em relação ás negociações para o tratado, não é das cousas mais regulares. Isto em nada significa desejo, nem de pôr em duvida es meritos do sr. ministro e amesquinhar os seus esforços para obter a boa solução das negociações do tratado, e creio bem que, nem s. exa., nem o nosso digno representante tenham deixado de fazer tudo para manter inalteraveis as nossas relações com a Hespanha. Qual poderá, pois, ter sido o motivo das declarações do sr. Moret.

É certo que o nosso paiz está passando por uma crise agricola, e que este estado deve suscitar algumas difficuldades para a realisação do tratado; mas, se são estas ou não as verdadeiras difficuldades, isso é que se deve dizer á camara.

Por outro lado deve notar-se que, nem na imprensa dos diversos partidos, nem nas discussões das duas casas do parlamento, se têem creado embaraços para a bua solução d'este assumpto, e sendo assim, como ninguem póde pôr em duvida, como é que, sendo ministro dos estrangeiros em Hespanha um homem, que dispõe de tão notavel talento e de tão elevado merito, como é o sr. Moret, que tantas provas nos tem dado já da sua sympathia e dos seus intuitos amigaveis, e sendo nosso representante em Hespanha um dos homens do maior talento e experiencia nos negocios publicos o sr. conde do Casal Ribeiro, e como é que estando sentado n'aquellas cadeiras o sr. Barros Gomes, a quem não falta a maior competencia, e que de certo tem empregado todos os meios de que dispõe para levar este negocio a bom termo, como é que se podem explicar as palavrão proferidas pelo ministro dos estrangeiros da nação vizinha?

Deve haver alguma cousa que nós não sabemos, e essa alguma cousa é que eu desejo que quanto antes se saiba. (Apoiados.)

Sr. presidente, ha um facto que me fez uma corta impressão e é a declaração do sr. ministro dos negocios estrangeiros, de que ainda não tinha dado instrucções para Hespanha sobre este assumpto.

S. exa. é o primeiro a dizer-nos que não devemos ter confiança absoluta no telegrapho, nem nas informações dos jornaes, e que devemos esperar pela publicação do discurso do sr. Moret na folha official, e isto quer dizer um adiamento, quer dizer que esperemos e ao mesmo tempo que nos diz isto, deixa pendente este motivo de divergencia, que é preciso esclarecer, e não dá instrucções nenhumas á nossa, legação em Hespanha?

Ora esta resposta do sr. ministro não é acceitavel em todo o sentido; porque o declarar que o nosso ministro em Hespanha está ausente não é bastante, porque, como todos sabem, que deve ter ficado alguem que o represente, e senão ficou, então tem muita rasão o governo da nação vizinha para se mostrar resentido.

Sr. presidente, eu estou fazendo todas estas reflexões, mas devo declarar a v. exa. e á camara que em questões internacionaes estou sempre ao lado dos governos do meu paiz, o que não significa que todas as vezes que eu entenda em minha consciencia que devo fazer-lhes quaesquer observações sobre taes assumptos deixe de o fazer.

O sr. ministro dos negocios estrangeiros parece-me que tem andado devagar n'este assumpto, devia ter dado instrucções para Madrid, porque é necessario sabermos só ha outro motivo que para nos é desconhecido, que d'esse logar a um certo azedume que transparece nas palavras que originaram esta discussão.

Nós sabemos tambem que muitas vezes um ministro de qualquer paiz, por interesses diversos que se agitam no seu paia, vê-se embaraçado com instancias, a que nem sempre póde responder prompta e desafogadamente.

É certo que a Hespanha, segundo affirmou o sr. ministro dos negocios estrangeiros se mostrou benevola para com Portuga] prorogando os tratados de pesca,