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3184 I SÉRIE-NÚMERO 79

É este o tempo de dar resposta a um anseio perfeitamente caracterizado, de uma sociedade que reencontra em si própria as potencialidades do futuro desejado.

O Portugal futuro é um país
aonde o puro pássaro é possível

e as profundas crianças desenharão a giz [...]

Mas desenhem elas o que desenharem
é essa a forma do meu país.

Portugal será e lá serei feliz. [...]
Viva Portugal!

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o representante do CDS, Sr. Deputado Basílio Horta.

O Sr. Basílio Horta (CDS): -Sr. Presidente da República, Sr. Presidente da Assembleia da República, Sr. Primeiro-Ministro, Sr. Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Srs. Convidados, Srs. Deputados, minhas Senhoras e meus Senhores: Comemorar o 25 de Abril é consagrar, hoje, ainda e sempre, a liberdade.
É celebrar o reencontro de um povo, há cerca de 50 anos privado da liberdade, com o seu advento, numa formidável explosão de alegria, que invadiu primeiro o coração dos súbditos transformados em cidadãos e extravasou depois para as ruas e para as praças de todo o País.
É recordar a «poesia na rua», retratada pela grande Vieira da Silva no deslumbramento do homem que se sente renascer numa pátria ímpar, onde só teriam lugar a fraternidade e a paz.
É homenagear os homens generosos que, com coragem e risco, mas também com a simplicidade das flores com que calaram as espingardas - e essas flores podiam ter várias cores, e não apenas o vermelho e o laranja, que hoje, em exclusivo, ornamentam esta Assembleia -,...

Risos

...tornaram possível, assim, com essa simplicidade, o 25 de Abril.
Uns tinham dedicado toda a sua vida à causa da liberdade, mantendo intacta a chama da esperança no negrume das prisões ou nas noites intermináveis do desterro. Outros travam nesse dia a sua primeira batalha ou escolhem aí definitivamente o seu caminho, e fazem-no com o entusiasmo e com a fé de quem pertence às gerações que se crêem destinadas, no dizer da Albert Camus, a refazer o Mundo.
O CDS, meu partido de sempre e de que fui um dos mais humildes fundadores, criou raízes nestes admiráveis momentos.
Assumiu-se na diferença ideológica e programática e conseguiu, com inesmentível coragem e não pequenos sacrifícios, provar que em democracia o socialismo jamais poderia ser o único aliado da liberdade.
Quando a liberdade é tão natural como o ar que se respira, comemorar Abril é também recordar saudosamente todos os que depois da Revolução lutaram, sofreram e alguns até morreram para que hoje assim possa efectivamente ser. E aí, na primeira linha desses novos mártires da liberdade, estão militantes do meu partido, estão militantes do CDS, para quem a figura ímpar de Adelino
Amaro da Costa constitui um inesquecível exemplo e a sua acção um imperecível legado político e humano.
Estivesse ele fisicamente entre nós e não imputaria ao 25 de Abril a culpa do 11 de Março. E, se agora, neste clima de amnistia geral que sempre caracteriza as grandes comemorações, referimos os erros e os excessos do período pós-revolucionário simbolizados no 11 de Março, é porque se nos afigura importante reflectir sobre a forma como a pureza dos princípios éticos, a generosidade das intenções políticas e a correcção dos objectivos económicos e sociais podem, por incultura, sempre por ambição desmedida e sempre por mau entendimento do funcionamento das instituições democráticas, transformar-se em ameaça totalitária e em permanente crise económica e social.
Assim, ao lado da geração que fez a Revolução do 25 de Abril surgiu uma outra que assumiu a pesada responsabilidade, nos partidos, na Administração e no Governo, de, mantendo intacta a liberdade, corrigir os erros que outros cometeram. E conseguiram-no sem demagogia nem populismos fáceis, a maior parte das vezes no silencio dos gabinetes, longe das holofotes da televisão, rodeados das maiores dificuldades internas e externas, lutando contra incompreensões e interesses instalados, tomando possível, através da seriedade e competência da sua conduta, que melhores tempos viessem e outros acabassem por colher os frutos do seu discreto, mas corajoso e eficaz, trabalho.
V. Ex.ª, Sr. Presidente da República, que foi Primeiro-Ministro em governos constitucionais, sabe, por experiência própria, que assim foi e como é injusto hoje, no tempo de todas as facilidades, que possa haver alguém que, não tendo vivido esses momentos, nem se tendo comprometido em nenhuma dessas decisivas batalhas, se atribua o papel de julgador severo dos que antes abriram o caminho, apontaram o destino e tornaram possível o desfile triunfal: seria uma injustiça, para não dizer uma ingratidão.

Vozes do CDS, do PS, do PCP e do PRD: - Muito bem!

O Orador: - O CDS, que se honra de ter assumido responsabilidades políticas em vários governos da República, dirige a essas mulheres e homens, que souberam comprometer-se quando o compromisso era difícil mas indispensável à democracia e ao País, a essas mulheres e a esses homens que se repartem pelos partidos democráticos representados nesta Assembleia, uma palavra de apreço e de reconhecimento.
Sr. Presidente da República, Sr. Presidente da Assembleia da República, Srs. Deputados: O 25 de Abril de 1988 é comemorado quando pela primeira vez o eleitorado optou por uma maioria parlamentar e de governo de um só partido. Com efeito, desde 19 de Julho de 1987 que o PSD dispõe nesta Assembleia de uma maioria absoluta e, consequentemente, o País é governado por um executivo da inteira e exclusiva responsabilidade política daquele partido. O CDS, no integral acatamento da vontade popular, desde o primeiro momento que manifestou absoluto respeito pela maioria gerada em eleições livres e pelo governo monopartidário que com base nela foi constituído. E tomou esta atitude não apenas no cumprimento das mais elementares regras democráticas, mas com a convicção de quem sempre entendeu que os impasses e bloqueios da sociedade portuguesa só seriam ultrapassáveis com a formação de maiorias capazes de gerar e garantir a estabilidade política, a eficácia governativa e a coerência ideológica e programática.