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APPENDICE A SESSÃO N.º 5 DE 15 DE JANEIRO DE 1898 64-A

Discurso do sr. deputado Oliveira Matos, que devia lêr-se a pag, 55, da sessão n.º 5 de 15 de Janeiro de 1898

O sr. Oliveira Matos: - Sr. presidente, eu tinha pedido hontem a palavra antes da ordem do dia, quando o meu illustre amigo e antigo parlamentar, o sr. Dantas Baracho, apresentou o seu requerimento sobre assumptos do ultramar e se levantou o incidente da srs. bispos pela sua demora na metropole, e no momento em que d'aquelle lado da camara se fizeram algumas considerações, que me pareceram menos justas e dignas de reparos, com relação a um respeitabilissimo prelado que bem merece d'esta camara e da patria, pelos relevantes serviços que tem prestado em Africa ao seu paiz e á causa da religião, e que não póde nem deve estar por fórma nenhuma, porque e não merece, incurso no numero d'aquelles, se os na, que porventura mereçam accusações ou censuras. Como deu a hora e se entrasse na ordem do dia sem eu poder usar da palavra na altura que desejava e para o que a pediria...

O sr. Ferreira de Almeida: - Ninguem fez censura a prelado nenhum. Estar v. exa. a repisar um assumpto, sobre que acabo de dar todas as explicações, é uma impertinencia!

O Orador: - Eu não estou a repisar, porque ainda mal comecei! Não sou impertinente, nem inconveniente, nem leviano, no que digo ou affirmo e sustento, n'este logar como em qualquer outro; e tenho o direito de dizer aquillo que entendo o quando o julgar opportuno, na defeza das minhas opiniões, como s. exa., sem que d'esse intento me possam desviar quaesquer interrupções mais ou menos intempestivas e arrogantes, que não tolerarei nem me intimidarão!

O sr. Ferreira de Almeida: - Peço a palavra.

O Orador: - Não desisto d'esse direito, nem enfraquecerei no seu exercicio diante de qualquer rasão infundada ou ameaça que se me apresente, formulada em termos menos rasoaveis, seja por quem for, que repellirei com toda a energia e dignidade de que sou capaz! Entenda-se bem!

Eu não disse uma unica palavra que podesse molestar e illustre deputado, nem que o auctorisasse a interromper-me, não direi indelicadamente, mas emfim, menos agradavelmente, parecendo já como que uma censura a inadmissivel palavra impertinencia da sua interrupção, pelos modos e tom irritante em que foi feita, muito mais dadas as nossas pouquissimas relações!

S. exa. acaba de dizer que eu me devia dar por satisfeito, e que não censurou prelado algum. Não é bem assim! Vou proval-o!

É preciso então explicar á camara a rasão do meu reparo e indignação de hontem, e o motivo por que então pedi a palavra quando s. exa. fallou, para que se não possa suppor que fui eu que inventei aggravos para ter que os explicar. E terei de o fazer de uma maneira mais ampla e calorosa do que tencionava, depois da irritante interrupção que me foi feita!

Disse s. exa. que não fizera censuras! Mas houve, entre outras phrases suas, uma ironia pungente, tão cruel como mal cabida quando se referiu directamente ao digno prelado de Meliapor o sr. D. Antonio Barroso, e alludindo às febres de Africa, de que elle era victima, as classificou de febres eleitoraes resultante da campanha de Barcellos! A referencia é tão descaroada como injusta, e póde dizer-se mesmo offensiva, para um prelado que tem mais de treze annos de serviços e permanencia em Africa e que por isso portanto em soffrido e está soffrendo. Fui seu companheiro do casa e mesa, por algum tempo, n'um hotel d'esta cidade, e tenho presenciado a assiduidade de cuidados do distincto medico e nosso illustre collega, o sr. dr. Moreira Junior, que o póde testemunhar, e que tão solicitamente o trata, empenhando-se em ver se restaura a sua deteriorada saude, fortalecendo o seu organismo tão depauperado!

Affirmo a v. exa. e á camara, que a insinuação politica de um facciosismo doentio e lamentavel, disfarçada em gracejo, é uma ironia cruel, immerecida e injustissima, que revolta - permitta-me v. exa. que o dia, sem offensiva - impropria do talento e dp caracter de v. exa.! Disse s. exa. «que o nobre prelado andava ausente do seu logar aonde devia estar, repito, e que não estava doente de febres de Africa, mas sim das febres da campanha eleitoral de Barcellos, que o prostraram», censurando assim sua permanencia na metropole!

Como particular amigo e admirador do sr. bispo de Meliapor, como representante da nação e como homem de bem que me prezo ser, esta phrase maguou-me profundamente e em minha consciencia entendi, que ouvindo-a n'este logar aonde o alvejado não tinha voz para se defender, a não devia deixar passar sem um energico protesto, pela maneira a meu ver desconsideradora como foi lançada.

Ella tem valor e significação accentuada dita por v. exa., homem de illustração, politico considerado que occupou ainda ha pouco um logar nos conselhos da corôa, exactamente na pasta do ministerio da marinha a que pertencem e por onde correm os assumptos ecclesiasticos do ultramar; e s. exa., faço-lhe a devida justiça, não negará da certo, que na sua passagem por esse ministerio não encontrou lá documento algum official que auctorisasse ninguem a amesquinhar, a poder ser menos agradavel, ou a deixar de considerar dignamente como o merece, o distincto bispo de Meliapor, aquelle prelado exemplar, virtuoso, intelligente e prostantissimo, a quem a nação e a causa da civilisação devem os mais relevantes serviços na Africa, (Apoiados) aonde tem passado com privações e rudes trabalhos o melhor tempo da sua vida, como missionario e como prelado! (Apoiados.)

É facil criticar e censurar os outros que por necessidade prolongam a sua ausencia da Africa, aos que lá não vão e cá estão na metropole muito bem descansados livres de perigos e gosando todos os confortos de uma regalada vida.

Cumprindo com o mau dever entendi em minha consciencia que não devia deixar passar, sem reparo, phrases e insinuações graciosas e de intuitos manifestamente politicos, que feriam tão injustamente quem não as merecia! (Apoiados.)

Alem de que, para mim, bispos e missionarios, padres como soldados, todos os que
generosamente se dedicam a servir a nação no ultramar, merecem respeito e consideração. (Apoiados.)

Todos os dias se estão n'esta assembléa, que é a primeira do paiz a glorificar com enthusiasmo e generosidade, e muito bem e com justiça, os heroes que com a espada e a espingarda levantam briosamente a honrosa tradição portugueza, o prestigio nacional abatido, reivindicando os nossos direitos, derrotando os nossos inimigos e marcando com o seu sangue a area dos nossos dominios! Porque não havemos de ter igual respeito e procedimento para com outros heroes não menos valorosos e prestantes, os soldados da religião, os bravos da milicia da paz e do Evangelho, que com a cruz, a sua prestigiosa arma, vão pelos sertões dentro pregando a fé e a crença, ensinando