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Mas, sr. presidente, o illuslre deputado fez mais; figurou a camara transacta como um instrumento dócil, de que o governo se tinha servido para alcançar d'ella as auctorisações sem limite: instrumento dócil que o governo tinha quebrado desde o momento que lhe não serviu; para ler outra camara que lhe appròvasse tndo quanto o governo praticou em virtude d'essas auctorisações; mas eu declaro que não faço nem aos illuslres deputados acluacs, nem aos anteriores representantes do paiz a injuria que lhes fez o illuslre depulado.
Sr. presidenle, acamara transacta não foi instrumento dócil dc nenhum gabinete. Se não sympathisou na sua maioria com o gabinete actual, acolheu-o, talvez no seu principio com aquella espécie de corlczania, com que os partidos poli-• ticos costumam tratar as administrações que acabam do subir ao poder, e que não lêem lido ainda actos por onde manifestem as suas tendências e a sua opinião politica; mas se o illustre deputado não duvidou dirigir-se por uma forma severa einjusla, no meu modo dever, aos membros da camara transacta, como era dc esperar, que elle não dirigisse maior ou mais grave injuria aos membros da camara actual.
Disse-se, sr. presidente, que o governo tinha dissolvido a camara para fazer uma maioria de amigos, e com essa maioria' dc amigos fazer passar todas as suas medidas, lodos os seus projectos, e converter em lei todos os seus pensamentos. Uma maioria dc amigos, sr. presidente! Pois não encontra o illustre deputado n'esta casa desmentida similhanle asserção? Pois não reconhece o illuslre depulado, e todos, amigos ou adversários, que esta camara sc compõe de caracteres independentes incapazes de se curvar á vontade do poder, dc aceitar a sua intimação e a sua influencia, quando essa influencia pretenda exercer-se por modo que seja nociva aos interesses do paiz, (Apoiados.) e quando elles não entendessem estar dc accordo com as suas idéas c pensamento? Se não fosse assim, o governo não se teria posto á frente da reforma politica mais importante, que se tem feito em Portugal, segundo a qual a influencia do governo não se pôde exercer, como sc exercia pela legislação anterior, dc que decerto não ha precedente na nossa historia politica.
Citaram-sc aqui lambem algumas palavras, que eu tinha dito n'esle logar e na sessão passada a respeito da dissolução. A administração fez uma declaração, c essa declaração não foi desmentida. O governo disse que não ía dissolver a camara dos deputados, por se lhe votar a auctorisação para a cobrança dos impostos. Significa islo porventura um compromisso indissolúvel, permanente c eterno, de não aconselhar a coroa a dissolução, quando o entendesse conveniente? (Apoiados.)
Sr. presidente, e o partido pessoal que se quiz crear! Lastimo que isto se dissesse, e quasi que não vale a pena responder a similhanle proposição. E que significa hoje em Portugal, e cm 1860, um partido pessoal d'cste ou cTaquelle minislro, d'csle ou d'aquclle individuo? Quem ha entre nós lodos que possa ter a pretensão, a vaidade louca de querer formar um partido pessoal? Laslimo a obsecacão de quem sc lembra de que é possivel ainda fazer nascer ou crear um partido pessoal? A ninguém pôde lembrar isso. Se alguma vez entre nós existiram partidos pessoaes, acabaram, e com elles os velhos partidos polilicos com as suas bandeiras exclusivas e com os seus meios de combate. A politica de hoje não é a negação, é a continuação da politica de tolerância c de conciliação que é a única possivel, c que nenhum homem, nenhuma ambição é já capaz, nem pódc ter forca possivel para a destruir cm Portugal. Os velhos partidos morreram, e morreram as necessidades que elles podiam significar. Não discutimos hoje qual foi ha muitas annos a bandeira politica á qual andámos agrupados; a bandeira politica é hoje uma só para lodos os portuguezes. O acto addicional que se fez em 1851 foi menos uma grande reforma politica, do que foi a arca de alliança que permilliu a todos os parlidos, c a todos os homens, sem renegarem as suas crenças, os seus partidos, de se abraçarem, de se entenderem, para cuidar de questões mais importantes, mais directamente interessantes ao bem do paiz, para cuidar dos grandes melhoramentos, das
questões administrativas, deixando de parte as questões politicas, que não linham já n'essa epocha rasão sulficienle para existir, e que depois d'clla seriam uma anomalia, um ana-chronismo.
Sr. presidente, disse-se =que é preciso muitasvezes, quasi sempre, maior coragem para ser maioria do que para ser opposição. = E é assim, mas não é pelos motivos que disse o nobre deputado. Não é preciso que as maiorias tenham coragem para obedecer aos caprichos do governo, porque obedecer aos caprichos do governo não é um aclo de coragem, é um aclo dc subserviência de quem'o pratica, e nenhum governo que se prese o exige; (Apoiados.) mas é preciso coragem ás maiorias e aos governos, porque os governos e as maiorias tèem a responsabilidade, c muitas vezes são obrigadas a arrostar conlra idéas mais ou menos justas, contra preconceitos muitas vezes lisonjeiros, conlra as paixões que se procuram excitar, conlra todos os meios cmfim que as opposições não costumam esquecer-se de explorar para chegar aos seus fins c intcnlos. Sr. presidente, aconselhando a dissolução da camara transacta á coroa, o gabinete não quiz formar uma maioria de amigos que lhe appròvasse e votasse tudo; mas o gabinete entendeu que podia c devia consultar o paiz pela lei mais livre, que jamais tinha sido promulgada cm Portugal; entendeu que podia e devia aconselhar que esse fosse consultado, não para ler uma maioria de adeptos, mas para que por essa lei, que importa uma grande e importante reforma politica, fossem eleitos deputados amantes do seu paiz, como creio que todos lêem sido; respeitadores de si mesmo, como de certo o são; senhores do seu voto c da sua consciência, como ninguém lhes pódc contestar, c que apreciem na mais ampla liberdade da sua consciência e independência os aclos do governo c os julguem como entenderem.
Sem me oceupar mais largamente de responder ás considerações do ilustre deputado a que me referi, passo agora não a tratar largamente do assumpto de fazenda, porque é esse^um objecto grave, -importante e serio que merece a altenção do parlamento, que deve ser maduramente examinado e discutido, e não é de certo incidentemente, não é n'uma discussão que em todas as cousas se locam e nada se aprofunda, nada se resolve, que pôde ser convenientemente discutido e tratado, mas não posso prescindir, visto que eslou com a palavra, de dar succinlas e ligeiras explicações sobre os pontos que tèem sido tocados n'csle debate.